Versão integral da edição n.º 64 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 17.12.2008.
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1. DIRECTOR JORGE CASTILHO
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Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Telef.: 309 801 277
ANO III N.º 64 (II série) 17 a 30 de Dezembro de 2008 1 euro (iva incluído)
O “novo” Mosteiro de Santa Clara-a-Velha
Reabre hoje ao público o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, um dos mais importantes monumentos de Coimbra, PÁG. 3
inundado pelo Mondego durante séculos, o que o viria a preservar de forma notável, como poderá ser apreciado pelos visitantes
JÓIA DE COIMBRA PRENDA DE NATAL NA SEXTA-FEIRA PGR INVESTIGA
Museu Adopte Entrega Venda
Machado um amigo do “Prémio de prédio
de Castro no Canil Robalo dos CTT
vai reabrir Municipal Cordeiro” de Coimbra
PÁG. 5 PÁG. 4 PÁG. 17 PÁG. 11
2. 2 NACIONAL 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008
Rotary Club de Coimbra/Olivais
recebeu visita do Governador
O Rotary Club de Coimbra/Olivais re- imbra, agradecendo a recepção caloro-
cebeu anteontem (segunda-feira), a visi- sa que lhe fora feita.
ta do Governador do Distrito Rotário a Recordou depois os objectivos do
que pertence, Henrique Maria Alves. movimento rotário internacional, cujo
Durante a visita foram tratadas diver- lema manda que se pense primeiro no
sas questões relacionadas com o movi- seu semelhante, e aludiu à obra que tem
mento rotário e, especificamente, com as sido levada a cabo em todo o Mundo,
acções de solidariedade que têm vindo a nomeadamente nos campos da saúde, do
ser desenvolvidas, e outras que estão pla- combate à fome, na defesa dos direitos
neadas, pelo Rotary Club de Coimbra/Oli- da criança. Destacou, como exemplo, o
vais, presidido por Maria Helena Goulão. combate à poliomielite, referindo, como
A encerrar a visita, efectuou-se o jan- curiosidade, que a comunidade muçulma-
tar de confraternização alusivo ao Na- na, ao contrário do que antes sucedia, já
tal, em que participou também o Gover- está a aceitar vacinas provenientes dos
nador e elementos de outros clubes ro- Estados Unidos da América.
tários. Henrique Maria Alves congratulou-se
Depois do ritual de saudação às ban- depois com a intensa actividade solidá-
deiras (Nacional, de Coimbra e do Clu- ria que o Rotary Club de Coimbra/Oli-
be anfitrião), a Presidente Maria Helena vais tem em curso, citando, como exem-
Goulão saudou os presentes, com desta- plo, os casos do apoio à Casa dos Po-
que para o Governador e sua Mulher, bres, à Escola da Pedrulha, ao Centro
referindo a acção de solidariedade que de Apoio à Terceira Idade de S. Marti-
esta última tem em curso, destinada a nho do Bispo.
angariar fundos para apoiar obras meri- Sublinhou, por último, que os membros
tórias em países africanos. do movimento rotário devem fazer o im-
O Governador Henrique Maria Alves possível para realizar os sonhos do seu Maria Helena Goulão, Presidente do Rotary Club de Coimbra/Olivais, José Ribeiro
Ferreira, do Rotary Club de Coimbra, Henrique Maria Alves, do Rotary Clube das
usou depois da palavra para manifestar semelhante, para assim concretizarem os
Antas-Porto e Governador do Distrito Rotário 1970, e Albertino Sousa, do Rotary
o seu regozijo por se encontrar em Co- seus próprios sonhos. Club de Coimbra/Olivais, na cerimónia de saudação às bandeiras
Governo concede
tolerância de ponto
a 24 de Dezembro
O Governo deliberou conceder tole- pacho do primeiro-ministro, José Sócra-
rância de ponto a 24 de Dezembro e, em tes, ontem divulgado.
alternativa, a 26 de Dezembro e 2 de No despacho, o chefe do Governo
Janeiro, aos funcionários e agentes do justifica que “é tradicional a deslocação
Estado, dos institutos públicos e dos ser- de muitas pessoas para fora dos seus
viços desconcentrados da Administração locais de residência no período natalí-
Central. cio, tendo em vista a realização de reu-
A tolerância de ponto consta num des- niões familiares”.
“É concedida tolerância de ponto no
próximo dia 24 de Dezembro e, em al-
ternativa, nos dias 26 de Dezembro ou
02 de Janeiro, aos funcionários e agen-
Director: Jorge Castilho tes do Estado, dos institutos públicos e
(Carteira Profissional n.º 99) dos serviços desconcentrados da admi-
nistração central”, refere o despacho do
Propriedade: Audimprensa
NIF: 501 863 109
primeiro-ministro.
Ficam excluídos da tolerância de pon-
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho to “os serviços e organismos que, por
ISSN: 1647-0540 razões de interesse público, devam man-
ter-se em funcionamento naquele perío-
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930
do em termos a definir pelo membro do
Composição e montagem: Audimprensa Governo competente”.
Rua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra
No entanto, os funcionários que terão
Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913 de estar a trabalhar nos dias de tolerân-
cia de ponto poderão beneficiar posteri-
e-mail: centro.jornal@gmail.com ormente de uma “equivalente dispensa
Impressão: CORAZE do dever de assiduidade (...) em dia ou
Oliveira de Azeméis
dias a fixar oportunamente” pelos res-
Depósito legal n.º 250930/06 pectivos “dirigentes máximos dos servi-
Tiragem: 10.000 exemplares ços e organismos”.
3. 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL 3
UM IMPONENTE MONUMENTO QUE O RIO MONDEGO SACRIFICOU
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha reabre hoje
Esquecido durante séculos, em ruínas desta altura já será possível uma visita à riquíssimo associado a Isabel de Ara- ológica do espaço se mantém intacta.
devido à invasão das águas do Monde- ruína e assistir à projecção do filme “Me- gão e a Inês de Castro”, sublinhou o A nível paisagístico, com o enquadra-
go, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, morial à Água”, ocorrendo a abertura arqueólogo. mento do Polis, a intervenção “foi trans-
em Coimbra, agora requalificado, vai ser oficial em data a anunciar mais tarde. Contar a história do mosteiro e das versal”, proporcionando sempre um olhar
hoje (quarta-feira) devolvido à cidade, Proporcionando uma viagem ao pas- freiras que nele viveram, numa perspec- sobre o mosteiro.
recriando o universo das monjas que o sado, ao universo das monjas que lá vi- tiva que não será apenas religiosa, é pos- Pensado para público e investiga-
habitaram ao longo da história. veram, o Mosteiro, agora devolvido à ci- sível graças aos imensos materiais reco- dores, o centro interpretativo consis-
Iniciado no final do Século XIII para dade no âmbito do projecto da Direcção- lhidos das escavações arqueológicas, te num edifício de mil metros quadra-
acolher as freiras clarissas, o convento Regional de Cultura do Centro, vai cons- num trabalho que envolveu especialistas dos, com funções museológicas, do-
feminino fundado pela Rainha Isabel de tituir mais um importante pólo de anima- das áreas da antropologia, arqueologia, tado de um auditório, salas de exposi-
Aragão, que o escolheu para passar o ção cultural e atracção turística. história de arte, biologia, engenharia e ções, uma loja e uma cafetaria volta-
resto da vida, travou ao longo dos sécu- Face à importância da ruína e dos “es- geologia, entre outras. da para o monumento (que será ex-
los uma batalha inglória com o alagamen- pólios riquíssimos” nela colectados por Mas os espólios recolhidos permitem plorada pelo Hotel Quinta das Lágri-
to provocado pelas cheias do Rio Mon- uma vasta equipa de especialistas de di- reproduzir também a origem das freiras, mas), num espaço onde o elemento
dego, que o arruinaram e levaram ao seu versas áreas e resolvido o problema do oriundas da nobreza, através, nomeada- água está sempre presente.
abandono. alagamento com a construção de uma mente, das campainhas de serviçais en- “O centro pretende acolher as pesso-
Objecto, desde 1991, de um ambicio- cortina periférica (uma estrutura enter- contradas, entre vários objectos, numa as numa perspectiva de acolhimento di-
so projecto de recuperação e valoriza- rada que permite proteger todo o recinto viagem à vida mundana da época. ferente, conjugando o passado e o pre-
ção da ordem dos 7,5 milhões de euros, e a área de reserva arqueológica), foi “Este projecto faz parte de um per- sente numa harmonia sumptuosa. Ten-
o Mosteiro abre hoje parcialmente ao decidido edificar um centro interpretati- curso de persistência, exigência e muita tou-se personificar os actores deste uni-
público, dotado com um moderno centro vo que vai acolher a “história do sítio” – paixão. Foi alterado constantemente face verso monástico, saber o que comiam, o
interpretativo – como revelou hoje à explicou Artur Côrte-Real. às especificidades do sítio. O objectivo que bebiam, dando a vivência da comu-
agência Lusa o coordenador da interven- “Para além do olhar sobre a beleza foi não danificar a ruína, minimizar os nidade e não centrando toda a história
ção, Artur Côrte-Real. plástica do monumento, queremos que efeitos da empreitada”, disse Artur Côr- na figura da Rainha Santa Isabel”, disse
Segundo este responsável, a partir os visitantes conheçam este universo te-Real, ao realçar que a potência arque- ainda Artur Côrte-Real.
ORIGINAL PRENDA DE NATAL POR APENAS 20 EUROS AUDIMPRENSA
Jornal “Centro”
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gueses, com reconhecimento mesmo rio passará a receber directamente em SA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO!
a nível internacional, estando repre-
sentado em colecções espalhadas por
vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO
com o seu traço peculiar e a incon-
fundível utilização de uma invulgar
paleta de cores, criou uma obra que
alia grande qualidade artística a um
profundo simbolismo.
De facto, o artista, para represen-
tar a Região Centro, concebeu uma
flor, composta pelos seis distritos que
integram esta zona do País: Aveiro,
Castelo Branco, Coimbra, Guarda,
Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é repre-
sentado por um elemento (remeten-
do para o respectivo património his-
tórico, arquitectónico ou natural).
A flor, assim composta desta for-
4. 4 MUNDO ANIMAL 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008
CAMPANHA “COIMBRA ADOPCÃO”
Um grande amigo como prenda de Natal
O Canil/Gatil Municipal de Coimbra pros- muito triste e tremendamente injusto). nas custam uns minutos na deslocação, para aranimal@gmail.com
segue uma campanha intitulada “Adop- Aproxima-se a época de Natal, e é sabi- escolher um companheiro (ou companhei- ou consultar o site
Cão”, com o seguinte lema: “Adoptem do como os tempos de crise que se atraves- ra) para a vida, que será sempre fiel e de www.cm-coimbra.pt/741.htm
um animal no Canil Municipal”. sam tornam mais complicada a aquisição uma enorme dedicação e em troca apenas Os dias e horas especificamente desti-
Trata-se de uma iniciativa muito meritó- de prendas, sobretudo para a miudagem. pede um pouco de atenção e de carinho. nados às adopções são os seguintes:
ria, que permite que pessoas que gostam de Ora a verdade é que um cão ou um gato O Canil/Gatil Municipal fica no Campo - segundas-feiras, das 14h30 às 16h30;
animais ali possam ir buscar um fiel compa- é sempre um presente bem recebido, desde do Bolão, Mata do Choupal, onde os ani- - quintas-feiras, das 10 às 12 horas.
nheiro, sem nada pagarem por isso. que a pessoa a quem ele se oferece goste mais esperam, ansiosos, por uma nova casa Excepcionalmente, também este
São muitos os cães (e também alguns de animais, não os encare como um brin- e uma nova família. sábado, das 14 às 18 horas.
gatos) que esperam que gente com bom quedo ou um objecto e tenha condições mí- Os interessados em obter mais informa- Abaixo vêem-se alguns dos bons aami-
coração os vá adoptar, tendo como recom- nimas para deles tratar convenientemente. ções podem ligar para o telemóvel 927 441 gos de 4 patas que estão à espera de que
pensa conquistarem um amigo para toda a Se for o caso, está encontrada uma ex- 888 (a qualquer hora), ou para o Canil/Gatl alguém queira aproveitar todo o carinho que
vida, já que estes animais rapidamente se celente forma de dar prendas de Natal de (das 9 às 17h30 dos dias úteis) através do têm para dar.
adaptam aos seus novos donos (que, para enorme valor (basta ver os preços nas lojas telefone 239 493 200. Se gosta de animais, não hesite! Faça feliz
além do mais, os estarão a poupar a um fim de animais!...), mas que no Canil/Gatil ape- Podem também enviar um e-mail para um destes que esperam por si.
A Flay foi entregue no Canil pela dona.
Tem dois bebes muito bonitos e é uma O BOB é um Dalmata adulto, com 8 anos,
A Cookie é uma cadelinha com cerca de excelente mãe. È também muito meiga e castrado, que foi entregue no canil pelo
1 ano, de porte pequeno, muito meiga e tem um olhar muito doce. È calminha e dono. Como todos os cães entregues no O TOMMY também foi abandonado
calminha. Tem a particularidade de ter deve ser uma boa cadela para ter em canil pelos donos é um pouco triste. é um cão muito engraçado, tem uns
um olho castanho e outro azul clarinho apartamento Mas que voltará a alegrar-se quando olhos
tiver novo dono muito bonitos e tem cerca de 1 ano de
idade
O MURPHY tem cerca de 2 anos de idade
foi encontrado abandonado e é muito
meigo
O Dominó é um cãozinho doce, de porte
pequeno, abandonado pelo dono no
Canil, e que provavelmente deve ter sido
vítima de maus-tratos, pois está quase
sempre triste e escondido. No entanto, é
super meigo, e quando ganha confiança
com as pessoas é muito brincalhão.
Precisa urgentemente de uma família
que tenha paciência com ele e que lhe
dê muito carinho
O RALPH foi encontrado abandonado e
estava muito magro, condição que ainda
mantêm embora já tenha melhorado.
Tem cerca de 2 anos e é muito meigo
A Guapa é uma cadelinha muito, muito
pequenina, que teve bebés e que já O SPEEDY é um podengo, estava
foram adoptados. Ela ainda espera que abandonado
alguém a adopte! È uma ternura, muito e tem 8 meses.
meiga e adora saltar para o nosso colo! É muito brincalhão e muito atento
Cativa qualquer pessoa a tudo o que se passa à sua volta
5. 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 COIMBRA 5
VAI REABRIR EM JANEIRO
Escavações no Museu Machado de Castro
trazem nova luz sobre período romano
Escavações no Museu Nacional de lógicos, e aprofundar o conhecimento do
Machado de Castro desvendaram novos Fórum claudiano e malha urbana envol-
dados sobre a Coimbra romana, de há vente.
2.000 anos atrás, que em Janeiro próxi- O projecto de arquitectura, da autoria
mo serão mostrados ao público. de Gonçalo Byrne, além de procurar uma
As pessoas vão poder passear pelas coerência entre o edifício do museu com
extensas galerias dos dois pisos do crip- as novas construções, procurou articu-
topórtico romano, que há dois milénios lar entre si um conjunto de preexistênci-
os cidadãos da Aeminium também utili- as arquitectónicas, desde o criptopórtico
zariam, para aproveitar da sua frescura romano até ao paço episcopal, passando
em dias muito calor. pelos vestígios românicos da igreja de São
Escavações realizadas no âmbito das João de Almedina e do seu claustro.
obras de requalificação e ampliação do O novo espaço edificado, que dupli-
museu, ao longo dos últimos dois anos, cará a área do museu, albergará galeri-
permitem agora reconstituir virtualmen- as de exposições, as reservas, uma ca-
te – e pela primeira vez – o que foi o fetaria-restaurante panorâmica, com
antigo fórum da época de Claudio, e re- acesso independente, e os serviços ad-
velar a sua monumentalidade. ministrativos, estes ligados por uma pas-
“Finalmente o criptopórtico vai ter a sagem sob uma rua.
projecção que merece, porque é um edi- Um dos espaços emblemáticos do
fício notável. Esta é sem dúvida uma Aspecto parcial do magnífico criptopórtico romano “novo” museu, além do criptopórtico ro-
das mais notáveis obras da arquitectu- versidade de Coimbra. mano, será a Capela do Tesoureiro, da
ra romana em Portugal que subsis- malha urbana da “Alta” da cidade. autoria de João de Ruão (século XVI),
Segundo o especialista, trata-se da Uma zona escavada revelou a parte
tem”, declarou à agência Lusa o ar- obra de um arquitecto, presumivelmente que foi trasladada nos anos 60 da antiga
queólogo Pedro Carvalho, coordenador externa do Fórum e permitiu aprofundar igreja de S. Domingos, na Rua da Sofia,
de Caius Sevius Lupus, muito engenho- o conhecimento as redes de água e de
das escavações. so, na forma de conceber o espaço. As onde hoje existe um centro comercial.
De grande monumentalidade, com esgotos romanas, com um condutor de Segundo a Directora do museu, Ana
duas galerias sobrepostas foram implan- grandes dimensões, “muito bem conser-
dois pisos e uma área de implantação de tadas no terreno submetendo-se a um de- Alcoforado, a nave da capela será exibi-
cerca de 2.800 metros quadrados, o crip- vada e articulada”, no qual uma pessoa da como uma peça de exposição, e como
senho geométrico, com medidas muito pode circular no seu interior, e para o qual
topórtico serviu para superar o declive certas, articulando formas e volumes, espaço onde serão mostrados os retábu-
da zona onde foi implantado o Fórum de ainda vazavam algumas habitações das los da renascença. A capela será envol-
“aliando as principais características da imediações do criptopórtico.
Aeminium, em meados do século I A. arquitectura romana, de edifícios muito vida pela escultura em pedra pré-româ-
C., assumindo-se como o centro social, A conduta de água iria entroncar no nica, românica e gótica.
robustos, muito funcionais, e ao mesmo antigo aqueduto romano, junto ao Jardim
político e cultural da civitas romana. Quando reabrir, o público poderá ain-
Botânico, que o rei D. Sebasti- da aceder a um conjunto de recursos
ão mandou reconstruir e hoje é baseados em novas tecnologias, para
popularmente conhecido como uma compreensão global do espólio do
“Arcos do Jardim”. museu, e para fomentar a interacção com
Foi ainda descoberta uma escolas.
fonte monumental que estaria Haverá audio-guias, para orientar os
implantada na fachada do Fó- visitantes nos percursos pelas exposi-
rum, e seria ladeada por uma ções, a possibilidade de visita virtual e
praça. Este e outros achados do um conjunto de informação em folhetos
período claudiano, em resulta- e publicações para mostrar a dimensão
do do projecto de requalificação do espólio, que a directora considera ser
do museu, vão estar visíveis a o segundo a nível nacional.
quem circular na rua. Após a reabertura parcial em Janeiro,
Com a abertura do cripto- ao longo de 2009 será executado o pro-
pórtico romano, em Janeiro, jecto museológico, com vista à reabertu-
será também inaugurada a ex- ra da totalidade dos espaços expositivos.
posição “De Fórum a Museu. Em 2010 deverá ficar concluído o audi-
Permanências”, que se man- tório do museu, na Igreja de S. João de
terá visitável até à reabertura Almedina.
total do museu, a dar conta dos Para 2011 já está a ser preparada uma
trabalhos arqueológicos reali- programação especial evocativa do cen-
zados e a explicar as obras de tenário da fundação do Museu Nacional
Ana Alcoforado num dos locais do Museu onde decorrem as obras requalificação e ampliação aí de Machado de Castro.
realizadas. Ana Alcoforado quer que o “novo”
“Foi possível encontrar mais estru- A requalificação do Museu Nacional museu seja “um espaço público de cida-
tempo muito belos”. de Machado de Castro, iniciada em Ou-
turas do criptopórtico e do Fórum de Os trabalhos arqueológicos aí realiza- dania, arte e cultura”, recriando as fun-
Aeminium, que nos permitem agora, tubro de 2006, englobou novas edifica- ções de fórum da Aeminium, de há 2000
dos no âmbito do projecto de requalifi- ções em zonas anexas, onde antigamen-
pela primeira vez, propor uma imagem cação e ampliação do arquitecto Gonça- anos atrás.
virtual do que seria o edifício romano te existiam casas de habitação, que ao
lo Byrne, possibilitaram um melhor co- longo dos anos foram sendo expropria-
há dois mil anos atrás”, revelou o ar- nhecimento do edifício e das suas muta- Texto de Francisco Fontes
queólogo, igualmente docente da Uni- das para desenvolver trabalhos arqueo- e fotos de Paulo Novais (Lusa)
ções ao longo do século, bem como da
6. 6 INTERNACIONAL 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008
A Casa Europeia 40 anos depois
veitada amiúde pela parte que se conside- tante politização da economia, reflectindo
ra vencedora da «guerra fria». Era impos- um baixo nível de confiança geral.
Fiodor Lukyanov * sível alterar formalmente as regras do jogo, Em terceiro lugar, a defesa da demo-
e o fosso entre a letra e o espírito continu- cracia e dos direitos do homem é uma gran-
Em 10 de Dezembro o Prémio Nobel ava a aumentar. de conquista do processo europeu. Para a
de Paz foi entregue a Martti Ahtisaari. O maioria dos países membros da OSCE, in-
ex-primeiro-ministro finlandês recebeu em HELSÍNQUIA-2 cluindo a Rússia, seria útil reafirmar o seu
Oslo este maior galardão político pelo seu apego a estes princípios. Mas a ideia de-
empenho na solução de conflitos locais em Moscovo encontra-se numa situação mocrática deve ser protegida não apenas
vários recantos do planeta. Mas, a opinião complexa. Depois da queda da URSS, a de atentados autoritários, mas também da
pública mundial entendeu o acto como um Rússia defendia o status quo, pois queria sua instrumentalização em nome de objec-
prémio especial pelo contributo do finlan- reter algo do património geopolítico. Via de tivos geopolíticos, o que acontece nomea-
dês para o caso do Kosovo. regra, os mais activos defensores do direi- damente sob a capa de «avanço da demo-
O Prémio Nobel de Paz é sempre um to internacional são os países que não po- cracia».
indicador da pulsação do sistema interna- dem alcançar os seus objectivos por meio Do ponto de vista do bem-estar geral, a
cional. A escolha deste ano é um sintoma de força, e vice-versa. iniciativa de Moscovo mereceria ser apoi-
muito característico: foi distinguido o plano Nos últmos dois anos, a Rússia, como ada. Mas surge a pergunta: será vantajoso
de solução que nunca chegou a ser aceite, se vê, evoluiu para o revisionismo: come- para a Rússia iniciar o processo Helsín-
ou seja, falhou, contribuindo para acções çou a alterar as regras vigentes. Moscovo quia-2? Aliás, o processo que levou para a
violadoras do direito internacional. Também critica duramente a OSCE, anunciou uma Acta Final da Conferência sobre Seguran-
criou um precedente prenhe de graves moratória sobre a participação no Tratado ça e Cooperação na Europa, assinada em
Martti Ahtisaari
consequências. O ano de 2008 decorreu sobre as Forças Convencionais na Euro- 1975, foi longo e atormentado.
sob o signo de reconhecimentos de inde- pa, recusou-se a ratificar o acordo para a
pendência ilegais: primeiro do Kosovo, e Carta Energética e reconheceu unilateral- uma confirmação abalizada dos acordos O OCIDENTE NÃO ESTÁ
depois da Abcásia e da Ossétia do Sul. Isto mente a independência de duas repúblicas conseguidos há quase 40 anos. PRONTO A DIALOGAR
é, foi violada a integridade territorial res- caucasianas. Moscovo insiste em alterar
pectivamente da Sérvia e da Geórgia. as regras do jogo e renovar a arquitectura A VELHA NOVA AGENDA A Rússia de hoje tem muito menos ins-
da segurança europeia. trumentos políticos que a ex-URSS. Mos-
ENTRE A LETRA No entanto, uma análise atenta da polí- Em primeiro lugar, trata-se do equilíbrio covo tem falta de aliados e a sua depen-
E O ESPÍRITO tica russa leva-nos a uma conclusão paro- e da confiança na esfera da segurança. dência dos factores externos é grande. A
doxal. Apesar dos gestos bruscos, Mosco- No ano passado fracassou a tentativa da eficácia do aparelho de gestão estatal e a
Um traço distintivo dos últimos anos tem vo continua a ser (a Abcásia e a Ossétia Rússia de promover um debate, no quadro rectaguarda socioeconómica deixam mui-
sido a crescente contradição entre as re- do Sul são apenas uma excepção) fiel da OSCE, sobre o problema do Tratado to a desejar.
gras internacionais, à primeira vista não adepto do status quo, mas daquele que já sobre as Forças Convencionais na Euro- Vale a pena, nesta situação, lutar por uma
contestadas, e os novos princípios usados não existe. Na verdade, a Rússia tenta pa. Os parceiros recusaram-se a fazê-lo revisão cardinal das regras do jogo, cor-
por alguns países nas suas acções reais. voltar aos princípios revistos de facto após pois a OSCE perdeu, faz muito, este as- rendo um risco de piorar, em vez de me-
Depois da «guerra fria», as instituições – a «guerra fria». pecto da sua actividade. Desde os anos lhorar, o status quo?
as organizações internacionais e as normas Pode-se afirmar que as ideias do Presi- 90, as grandes potências da Europa e os Que o planeta precisa de «uma nova
legais – quase não sofreram mudanças. dente Medvedev, avançadas este Verão em EUA afirmam que a NATO é a melhor ordem mundial», nunca surgida após a
Mas, estando formalmente em vigor, en- Berlim, são, de facto, uma repetição do garante da segurança do Velho Mundo. guerra fria, não há dúvidas. Mas existem
contram-se deformadas. Diluíram-se con- conteúdo da Acta Final da Conferência de Um outro problema são as fronteiras. dúvidas de que as grandes potências, no-
ceitos básicos tais como a soberania, a in- Helsínquia de1975. É verdade, porém, que De novo é precisa a sua confirmação,pois meadamente as ocidentais, têm a consci-
tegridade territorial, os critérios de uso de devido às divergências entre a base legal e o mapa europeu mudou por mais de uma ência disso e estarão prontas a encetar um
força. política real, estes princípios precisam de vez desde a Acta de Helsínquia. Entre os sério diálogo. Sem esta consciência é difí-
Apareceram, embora não consagrados uma nova legitimação. Nos anos decorri- países no espaço pós-soviético não há ne- cil, ou quase impossível, perspectivar ob-
pelo direito nternacional, novos conceitos dos desde então, o Velho Mundo mudou nhum (a Rússia inclusive) que possa afir- jectivos a longo prazo. Embora isto não deva
– intervenção humanitária, força suave irreconhecivelmente, sendo necessário res- mar que as suas fronteiras «são garanti- servir de obstáculo para fazer pequenas
(soft force) – que passaram a ser usados tituir inteiramente o famoso espírito de Hel- das, naturais e historicamente justificadas». obras no sistema ainda existente, a fim de
pelos grandes países. A maioria dos Esta- sínquia. Ou seja, encher com conteúdo os Em segundo lugar, a atmosfera político- evitar o seu desmoronamento descontro-
dos continuava a contestar a revisão da três cestos – o político-militar, o económi- económica na Grande Europa constitui um lado.
prática das relações internacionais, apro- co e o humanitário. A Europa precisa de fenómeno complexo: assiste-se a uma cons-
* in revista A Rússia na Política Global
7. 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 NACIONAL 7
ponto . por . ponto
Pão com manteiga
Por Sertório Pinho Martins
dito como para manter em 2009 dê por para cardíacos! pois. Porque uma vez acesos os rasti-
A cada parangona de mau-olhado so- onde der, pode passar a 3% no breve A coisa vai ficar feia no ano que aí lhos (professores, polícias, juízes, milita-
bre a nossa desgraça colectiva, que as espaço de uma entrevista de Teixeira dos vem e no que depois dele virá! Todas as res, estudantes, desempregados já sem
pitonisas e cartomantes da política dão à Santos – e lá vai para o cesto dos papéis instâncias responsáveis além-fronteiras nada a perder), o incêndio só vai parar
luz nos pasquins do costume e nas tele- um Orçamento que há 15 dias era into- o afirmam sem rebuço e com a cábula nas escadas da Assembleia da Repúbli-
visões de maus costumes, tremo só de cável e foi aprovado com gritos de júbilo bem decorada. Mas no nosso quintal ca ou no largo fronteiro ao palácio de
pensar em quatro tipos de leitores ou pela maioria parlamentar. O apoio às doméstico mora a ilusão fugaz, e as gran- Belém. E o saber lidar com uma situa-
ouvintes basbaques: os distraídos por empresas agora decidido em conselho de des decisões começam a ser feitas com ção que em 2009 vai piorar ainda mais,
natureza, os incrédulos por hábito, os ministros de afogadilho, é desmentido na os empurrões do poder que caiu na rua, não é tarefa fácil, muito menos para in-
desconfiados por sistema e os desenten- imprensa do dia seguinte com o título da pressão retesada das corporações continentes verbais e oportunistas da
didos do que lhes é metido pelos olhos bombástico de que esse apoio está reti- profissionais deixadas de fora do bodo política: faltam profissionais a sério, e
dentro. E todos juntos perfazem a maio- do às ordens de quem o tem à sua guar- oferecido à banca falida, e do ‘salve-se sobram amadores de opereta. E do lado
ria das vítimas inocentes da crise que da – mas no minuto seguinte decerto vai quem puder’ enquanto há avales dispo- das oposições o fala-baratismo é igual,
aterrou sobre todos nós, ainda por cima com um CDS à espera de boleia num
vítimas sem hipótese de escapar à praga governo onde o PS precise de novos
vinda de nenhures. Porque bem vistas “queijos limianos”, e o PSD se tornou
... a falta de confiança no sistema financeiro, os off-shores numa casa-sem-mão-onde-todos-ra-
as coisas, a falta de confiança no siste- montados e usados subterraneamente, as irresponsáveis
ma financeiro, os off-shores montados lham-e-nenhum-põe-travão. E, pasme-se,
aventuras bolsistas de particulares e públicos (públicos ninguém manda ninguém para casa, para
e usados subterraneamente, as irrespon-
impunes), os investimentos milionários em empresas não perder a face! E esta, hein? Um país
sáveis aventuras bolsistas de particula-
res e públicos (públicos impunes), os in-
falidas ou inexistentes, a cavalgada dos combustíveis já vale menos que um par de faces fora-
vestimentos milionários em empresas e respectiva cartelização dos preços (politicamente de-catálogo, ou mesmo que uma qual-
falidas ou inexistentes, a cavalgada dos consentida), as falências fraudulentas, o salvar quer cara de parvo que se preze e exiba
combustíveis e respectiva cartelização do afogamento (com o dinheiro dos contribuintes!) alguns emblema na lapela!
dos preços (politicamente consentida), as bancos afundados pelos próprios timoneiros, os projectos Muito provavelmente vão ter que es-
falências fraudulentas, o salvar do afo- megalómanos, as habilidades orçamentais para travestir perar por dias melhores as grandes bo-
gamento (com o dinheiro dos contribuin- das do TGV, do novo aeroporto e de ou-
uma tragédia com cores de esperança
tes!) alguns bancos afundados pelos pró- tras aventuras que jamais estariam em
em que ninguém já acredita... dúvida na agenda de ilusões de cada boca
prios timoneiros, os projectos megalóma-
nos, as habilidades orçamentais para tra- que se abre-e-fecha ao sabor da viração
vestir uma tragédia com cores de espe- – porque saber esperar também tem de
rança em que ninguém já acredita, os aparecer um desmentido de fonte ´pró- níveis e luz verde para fartar-vilanagem. caber no léxico político dos mais capa-
braços-de-ferro apenas para salvar fa- xima’ ou ‘autorizada’ a denunciar a ca- Ninguém “avalia” banqueiros e empre- zes e dos menos apressados. Mas essa
ces retalhadas pela teimosia fora-da-re- bala. O ministro da Agricultura afirma a sários mal-sucedidos (nem pede contas mudança de prioridades também irá com
alidade, o preço a pagar pela suprema- pés juntos que este ano pagará até ao a supervisores que não supervisam coi- certeza (e por fatalidade nossa) ser dita
cia de vaidades políticas sobre a triste fim do ano os subsídios de 2008 (os mes- sa-nenhuma), empunhando a mesma bi- à ralé com o mesmo ar compungido de
nudez do nosso quotidiano atolado em mos que no anterior só viram a luz do dia tola vesga e de freio apertado que os quem mudou o aeroporto da Ota para
becos sem saída, e tanto, tanto mar-chão seis meses depois), e os agricultores ge- professores vão ser obrigados a morder Alcochete com um simples estalar de
iludido de oceano sem fundo – todo este lados até aos ossos estão numa de ver- até ao aço frio da rendição. Como disse- falangetas. Ou talvez mesmo nem o seja,
ror de desgraças é obra (e que obra!) de para-crer o que vai suceder por exem- mos uma vez nesta coluna, o Estado anda e bastará tão só deixar cair o assunto no
meia dúzia de protegidos do sistema que plo com o RPU de 2008, quando reco- por maus pisos e nós vamos ter de andar esquecimento. Se no parlapié político há
se riem da impunidade que têm por se- meçarem as desculpas de que primeiro por pisos em mau estado durante pelo tanta coisa que morre sem sequer che-
gura. Porque a tempestade só há-de de- há verificações a fazer no terreno (à úl- menos dois anos. gar a viver, mais uma menos uma não
sabar sobre os distraídos, os incrédulos, tima hora, claro!). E a José Sócrates não A casa portuguesa não é farta que deve trazer melhoras ao défice das pro-
os desconfiados e os desentendidos! basta esfolar-se a tapar os rombos do baste para se dar ao luxo de ficar sem o messas esquecidas. Porque se assim não
A verdade de hoje, é mentira amanhã. barco, a correr o convés da popa à proa, pão de cada dia, porque a cairmos nessa fosse, que sentido tinha a nossa vida
A esperança de agora, é desencanto mais porque a marinhagem que tem à sua volta ravina, o passo seguinte é o inevitável monocórdica de pobres distraídos, incré-
logo. As balelas dos políticos, são o ca- enjoa com as ondas e já viaja amarrada casa-sem-pão-todos-ralham-e-ninguém- dulos, desconfiados e desentendidos do
dafalso das ilusões dos pobres de espíri- aos mastros. E como Cavaco não deixa- tem-razão. E daí à revolta de rua vai outro que está mesmo diante dos nossos olhos?
to que vêem luz em cada porta que se rá ir o bote ao fundo, e Manuel Alegre já passo – e a Grécia aqui tão perto a di- Que vai doer, lá isso vai! E há-de ser
abre-e-fecha no lapso de todas as ver- avisou que pode ir a votos por uma ‘nova zer-nos de que migalha insignificante se doloroso para aqueles a quem o pão cai
dades desmentidas. O défice de 2,2%, esquerda’, está na cara que 2009 não é faz outro Maio-de-68 quarenta anos de- sempre com a manteiga para baixo!
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8. 8 OPINIÃO 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008
co de uma nota de 50 escudos, talvez, mas gueses dos demais sectores, da banca aos PERGUNTAS SOBRE A CRISE
o facto era inquestionável: as prostitutas ti- carros, das minas aos têxteis, mendigam
nham deixado de existir. Como prova, havia milhões ao Estado e exibem a suprema pu- 1. Onde é que se traça a divisória entre
o tal decreto. (...) jança deste. O Estado está falido? Eis uma empresas a salvar pelo tesouro público, para
Ferreira Fernandes oportunidade para os contribuintes portugue- protecção “da imagem do Estado” (antes
DN 14/Dezembro/08 ses que não integram grupos de pressão apli- dizia-se “a bem da Nação”), e aquelas que,
carem devidamente as poupanças realiza- tristemente, morrerão sozinhas, sufocadas
DIREITOS HUMANOS das com a descida dos combustíveis. (...) por credores impacientes e trabalhadores
desesperados?
O Mundo celebrou o 60.° aniversário da Alberto Gonçalves (sociólogo) 2. Que critérios fundamentam essa sal-
Declaração Universal dos Direitos Huma- DN 7/Dezembro/08 vação ou perda? O número de assalaria-
nos, um dos textos internacionais, segura- dos? A antiguidade da instituição? O impac-
mente, mais importantes do século XX. Foi A IMAGEM DE CAVACO te social da sua existência, para indivíduos,
votado, com a abstenção dos países comu- famílias, regiões? A facturação? Os resul-
A “COMPONENTE HUMANA” nistas, em 10 de Dezembro de 1948, depois (...) Ao aceitar que lhe vedassem o tados de exploração? A importância fiscal?
da Mensagem ao Congresso, enviada por acesso à Assembleia Legislativa da Ma- 3. Quando falamos das perdas e prejuí-
A ideia de Guilherme Silva, do PSD, para Franklin Delano Roosevelt, em 6 de Janeiro deira – ainda por cima com explicações zos, há ou não que distinguir entre quantida-
resolver o problema das faltas dos deputa- de 1941, no auge da II Guerra Mundial – públicas de Jardim que resultavam num de e qualidade, ou, se quisermos, entre valo-
dos que, às sextas-feiras, assinam o ponto e intitulada Quatro Liberdades (liberdade de insulto soez a toda a oposição regional – res financeiros e circunstâncias? É que há
vão de fim-de-semana prolongado, estan- expressão do pensamento, liberdade de re- e ao vergar-se a convidar para um jan- um abismo entre a má gestão e a força
do-se nas tintas para a AR e para o que ali ligião, liberdade contra a miséria e liberdade tar de consolação os partidos preteridos, maior. Ou entre a infidelidade administrati-
se discute e decide, é de apoiar: passaria a contra o medo) – e da Carta das Nações, Cavaco Silva não representou os portu- va (art.º 244 do Código Penal), que se tra-
haver plenários só às terças, quartas ou quin- assinada em 6 de Junho de 1945, na cidade gueses, mas apenas o chefe local, os seus duz em prejuízo sério e violação grave e
tas (pois que as segundas ainda são fim-de- de S. Francisco.
semana). A Declaração Universal dos Direitos
A explicação de Guilherme Silva é que Humanos tem apenas 30 artigos mas é um
os deputados têm família, pelo que há no texto de uma concisão e clareza de concei-
caso “uma componente humana (…) res- tos extraordinárias, que marcou a cultura
peitável”. O PSD é um partido respeitador política da segunda metade do século XX e
não só da família como das tradições. Os que, no dizer de Robert Badinter, ex-presi-
deputados pirarem-se às sextas-feiras é uma dente do Tribunal Constitucional francês,
tradição parlamentar, e o PSD não poderia senador e membro do Comité de Apoio aos
ter no caso posição diferente da que teve Human Rights Watch, de Paris, exprime «a
em relação a Barrancos. O problema é que, dimensão moral do nosso tempo».
sabendo-se o que a casa gasta, o mais certo Houve, no entanto, desde início, dois pon-
é que os deputados comecem, depois, a bal- tos críticos relativamente à Declaração: o
dar-se às quintas, e quando deixar de haver primeiro, o facto de não ser vinculativa
plenários também às quintas, às quartas, e (como é hoje a Carta de Direitos insita no
depois às terças, e acabem ficando a sema- Tratado de Lisboa, se chegar a ser ratifica-
na inteira em casa com a família, coisa com do); o segundo, a prioridade dada pelo en-
uma “componente humana” inteiramente tão Bloco Soviético aos Direitos Económi-
respeitável, até porque a maior parte deles cos e Sociais, enquanto os americanos pri-
não faz falta nenhuma na AR e em casa vilegiaram sempre os Direitos Cívicos e
decerto faz. Políticos, o Direito à Propriedade e ao Livre
Manuel António Pina Mercado...
JN 12/Dezembro/08 Mário Soares
Visão
CÓLERA E PROSTITUIÇÃO
SITUAÇÃO MARAVILHOSA consciente de deveres de disposição, admi-
Robert Mugabe disse esta semana: “Es- incondicionais e a sua própria fraque- nistração e fiscalização de coisa alheia, e a
tou feliz por ter acabado com a cólera.” Ao (...) No Verão, o primeiro-ministro acha- za. Ao proferir, neste mesmo contex- mera consequência financeira de circuns-
mesmo tempo, a ONU fez outro balanço: a va a subida do preço dos combustíveis um to, um ditirambo incontido sobre as ex- tâncias externas alteradas. Ou ainda entre
cólera continua, já fez quase 800 mortos e “incentivo” ao uso dos transportes públicos. celências da governação local, reinci- erros administrativos, deficiências contabi-
16 mil pessoas estão na lista de espera. As Agora, acha que a descida representa uma diu, já não por encobrimento, mas por lísticas, imputáveis à impreparação, e deli-
duas declarações são produto de duas con- melhoria nos rendimentos dos portugueses, cumplicidade. Ao omitir qualquer de- tos, derivados do dolo em acção.
cepções filosóficas diferentes. Há os ho- que elegeram o eng. Sócrates e se vêem claração sobre esse carnaval da de- 4. Por outras palavras, nem todas as
mens de pouca fé, demasiado agarrados à governados pelo Pangloss de Voltaire, esse mocracia que foi a suspensão dos ple- empresas falidas possuem o crime como
ditadura dos factos – infelizmente a mais incurável optimista para quem tudo o que nários parlamentares da Madeira e a origem do desastre. Não deve, assim, exis-
alta instância internacional está cheia des- acontece é, por definição, benéfico. O exem- interdição física, levada a cabo por se- tir um saco único para colocar todos os ca-
ses cínicos. E, depois, há os visionários que plo do petróleo é apenas um indício da ma- guranças privados, do acesso de um sos de degenerescência. (...)
acreditam que o fim da cólera é quando o ravilhosa situação em que nos encontramos deputado eleito, sob a alegação de que
homem quiser. Mugabe é um desses. e da ainda mais maravilhosa situação a que estas coisas se resolvem melhor no si- Nuno Rogeiro
A direcção de um país dá a certos políti- nos arriscamos em breve. A economia eu- lêncio das chancelarias, ele entrou em JN 5/Dezembro/08
cos o exercício de um poder que os aparen- ropeia entrou oficialmente em recessão? contradição insanável com as ruidosas
ta a deuses: o decreto. Nos anos 60, Salazar Óptimo, pois mostra que os portugueses são mensagens ao país sobre as questões LIÇÃO INDIANA
aboliu a prostituição. Os homens de pouca tão europeus quanto os restantes. O euro do estatuto açoriano. Depois de tudo
fé de então também sorriram, a pretexto da cai face ao dólar? É bom para as exporta- isso, o Presidente já não está a defen- (...) Neste caso tudo leva a crer que a
suposta ineficácia da medida. Mas, na ver- ções nacionais. As exportações não saem der o regime, mas a sua própria ima- dezena de terroristas que perpetrou os aten-
dade, Salazar acabou com a prostituição: da cepa torta? Excelente: os portugueses gem pública. Ora o regime é que é o tados de Bombaim eram originários do Pun-
tendo decretado que as prostitutas acaba- podem prosperar através do investimento nosso problema. A defesa da imagem, jab paquistanês e visavam desestabilizar a
ram, elas acabaram. Talvez tenha continua- público. As obras públicas são sinónimo de sendo embora um direito, é com quem sociedade indiana a poucos meses de um
do a haver mulheres nas esquinas do Mar- “derrapagem” e prejuízo calado? Não im- julga precisar dela. (...) importante acto eleitoral naquele país.
tim Moniz, que subiam aos quartos das pen- porta, visto que estimulam a economia. O O que é inovador nestes atentados é o
sões manhosas com homens desconheci- estímulo restringe-se, quando muito, à cons- Nuno Brederode Santos facto de eles se terem prolongado por mais
dos, talvez tivessem relações sexuais a tro- trução civil? Perfeito, já que assim os portu- DN 7/Dezembro/08 de dois dias, assim contrastando com a na-
9. 17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008 OPINIÃO 9
tureza instantânea da generalidade dos aten- 1962 (vencimento mensal: 800$00), nunca De um Pai, que se chama Estado (...) jovem, blá-blá, adolescentes coitados, blá-
tados terroristas suicidários. Os seus agen- o vi, por exemplo, nas reuniões em casa de Pode ou não este Pai ter preferências blá. Os desempregados que assaltam lojas
tes não parecem ter sido uma célula agre- João Abel Manta, onde se discutia (Cardo- pelos seus filhos, tratando uns como fi- em países africanos ‘progressistas’ ou em
gada ocasionalmente, mas antes um grupo so Pires, Sttau Monteiro, Abelaira, Cutilei- lhos e outros como enteados? Pode ou Timor, esses, são ‘desordeiros’. Há um gla-
bem treinado, que se dedicou ao seu plane- ro) o tema da revista seguinte. Aliás, nos não este Estado-Pai tratar de forma de- mour do protesto consoante os desordeiros
amento durante bastante tempo, que con- últimos 40 anos, apenas por quatro ou cinco sigual os seus filhos, ajudando uns com usam lencinho palestiniano ou exibem ma-
duziu as operações complexas (ataques qua- vezes enxerguei a cara desagradável do garantias, que, se correrem mal, são pagas les pouco fotogénicos. No primeiro caso,
se simultâneos em sete pontos distintos de cavalheiro – que parece suscitar um temor por todos os enteados e não pelo consór- podem apedrejar os carros da polícia en-
Bombaim) com uma disciplina e uma preci- reverencial, para mim inexplicável, porque cio bancário? Ou seja por todos os cida- quanto bebem umas cervejas; no segundo,
são militares. o não receio, em nenhuma circunstância ou dãos que morrem lentamente asfixiados são apenas instrumentalizados pela miséria,
No mais a matriz destes atentados re- situação. Desejo, ainda, referir que Augusto com a carga brutal de impostos que pa- o que é pouco cool para as novas gerações.
produz algumas das consignas do terroris- Abelaira possuía grande coragem moral e gam e por empresas que este Pai não aju- A televisão gosta de promover o turismo do
mo global conotado com a Al-Qaeda: tenta- física, o que o levou a enfrentar a PIDE, dou e que estão em situação de falência. desacato. (...)
tiva de provocar o maior número possível com rara valentia. Do que nem todos se Aos enteados (reformados, pensionistas
de vítimas (falava-se de que almejavam cinco podem ufanar. Ponto final. Mas voltarei ao e funcionários públicos) pede-se sacrifício Francisco José Viegas
mil vítimas), destruição de símbolos da soci- assunto, acaso seja chamado à colação. e que apertem o cinto. Aos filhos banquei- Correio da Manhã 10/Dezembro/08
edade atacada (estação de caminhos-de- ros dá-se prémios pela gestão danosa.
ferrro, hotéis, hospitais, um centro judaico), Baptista-Bastos Embora a situação destes filhos endia- OS PATRIOTAS DO PSD
escolha de alvos plurinacionais (dos 200 DN 4/Dezembro/08 brados seja diferente, o caso do BPP, ban-
mortos há 30 estrangeiros de 13 nacionali- co privado, sem expressão na economia (...) Há no PSD um núcleo de patrio-
dades distintas) e o maior impacto mediáti- CONTO DE NATAL real do País, que se limitava a especular e tas indefectíveis disposto a fazer tudo
co possível. (...) a gerir fortunas, é escandaloso. para impedir que o partido leve a me-
O eng.º Sócrates resolveu antecipar- Se querem ajudar ajudem mas falem lhor nas eleições. Basta ouvi-los na te-
António Vitorino se ao Pai Natal e presentear-nos com a verdade e não inventem a desculpa do levisão ou na rádio durante alguns se-
DN 5/Dezembro/08 um anúncio: afinal, 2009 vai ser um ano risco sistémico. Qualquer pessoa de bem gundos, ou lê-los nos jornais ao longo
próspero e afortunado para todos nós. e com a Instrução Primária sabe que a de escassas linhas. É uma gente com
ELEIÇÃO DOS DEPUTADOS Diz ele, que as famílias portuguesas vão falência do BPP não comporta risco sis- alma de criada de servir que só sabe
ter melhores condições de vida. Como témico de contaminação do restante sec- dizer mal da patroa nas lojas da vizi-
Por entre o ruído provocado pelas faltas lhe diria o humorista Jô Soares, “só con- tor financeiro. nhança. Aposta muito mais venenosa-
dos deputados à sessão parlamentar de sex- mente na desagregação da imagem de
ta-feira passada, quase passou despercebi- Manuela Ferreira Leite e do PSD do que
do o colóquio promovido pelo grupo parla- o próprio PS. Está desesperada e dis-
mentar do PS em torno de um estudo aca- posta a tudo. Todas as semanas se ma-
démico sobre possíveis alterações a intro- nifesta, sob os pretextos mais idiotas e
duzir na lei eleitoral para a Assembleia da nas formulações mais ranhosas e rastei-
República. ras. E todas as semanas dispõe de larga
(...) Pelo tom do debate naquele colóquio, cobertura de uma comunicação social tão
a fazer fé nos parcos relatos vindos na im- prazenteira a anunciar as suas leituras,
prensa, ainda não será nesta Legislatura que quanto superficial e leviana a passar à
tal objectivo será atingido. margem do que é realmente importante
(...) Continuo a pensar que a melhor for- ou a analisar o fundo das questões. (...)
ma de personalização do voto passa pela
criação de círculos uninominais de candida- Vasco Graça Moura
tura, compatibilizando-os com círculos pro- DN 10/Dezembro/08
porcionais de apuramento, com base nos
quais se faria a distribuição dos mandatos A CRISE
pelos partidos, desta forma reconhecendo a
prevalência do princípio da representação (...) A verdade é que, tirando aque-
proporcional como determina a Constitui- les seis meses da década de 90 em que
ção. Reconheço, contudo, que o desenho chegaram uns milhões valentes vindos
de um tal modelo não seria isento de algu- taram p’ra você!” O que fica contaminado é a honra, da União Europeia, eu não me lembro
ma complexidade e que tal exigiria um es- A acreditar no primeiro-ministro, dir-se- a ética e a honestidade dos homens. de Portugal não estar em crise. Por
forço de explicação do novo sistema aos ia que vai sair a Lotaria de Natal às famí- Então os gestores e accionistas do isso, acredito que a crise do ano que
eleitores que poderia tornar mais imprevisí- lias portuguesas, que, e cito, “podem es- BPP não têm direito a fugir com os vem seja violenta. Mas creio que, se
vel o seu resultado final. (...) perar, em 2009, ganhar poder de compra”. seus dividendos e a continuar a morar uma crise quiser mesmo impressionar
Isto porque “podem esperar um melhor na quinta do patinho ‘feio’? os portugueses, vai ter de trabalhar a
António Vitorino rendimento disponível em 2009 que advi- Claro que sim, esta gente merece sério. Um crescimento zero, para nós,
DN 12/Dezembro/08 rá da baixa da Euribor” e “ver as suas que o Estado proteja as suas fortunas é amendoins. Pequenas recessões co-
despesas reduzidas com a gasolina, fruto privadas. mem os portugueses ao pequeno-almo-
TEXTO INDIGNO da baixa do preço do petróleo”. O povo ‘invejoso e ingrato’ é que ço. 2009 só assusta esses maricas da
Atendendo à quadra, gostaria de pe- assim não pensa. Só com escárnio se Europa que têm andado a crescer aci-
A propósito do falecimento do grande dir ao eng.º Sócrates o obséquio de não entende este golpe de mestre. ma dos 7 por cento. Quem nunca foi
editor Joaquim Figueiredo de Magalhães, o tratar “as famílias portuguesas” como in- além dos 2%, não está preocupado.
apenas concebível Vasco Pulido Valente capazes e de começar a falar-lhes com Rui Rangel (juiz) É tempo de reconhecer o mérito e
escreveu, no Público, um texto mais indig- seriedade. (...) Correio da Manhã 10/Dezembro/08 agradecer a governos atrás de gover-
no do que lhe é habitual. Entre omissões, nos que fizeram tudo o que era possível
mentiras e pequenas velhacarias, insulta a Teresa Caeiro DUPLICIDADE para não habituar mal os portugueses.
memória de Augusto Abelaira, intelectual Correio da Manhã 9/Dezembro/08 A todos os executivos que mantiveram
respeitado e admirado, de quem diz ter tido Há uma enorme duplicidade das televi- Portugal em crise desde 1143 até hoje,
a alcunha de “A Velha”. O Vasco PV de- FILHOS DA NAÇÃO sões quando exibem imagens de tumultos: muito obrigado. Agora, somos o povo
veria examinar a gravação das suas inter- há guerrilhas boas e guerrilhas más. Depen- da Europa que está mais bem prepara-
venções, na TVI, medonha encarnação do Do que venho hoje falar é de justiça de. Para a generalidade da Imprensa, os do para fazer face às dificuldades.
apodo que atribui ao grande romancista de social e de igualdade, é de justiça de um meninos que andam a destruir Atenas são
A Cidade das Flores. Quanto à revista Al- Pai, que distribui de forma desigual e ina- jovens e anarquistas em protesto. Ricardo Araújo Pereira
manaque, de que fui redactor a partir de dequada a sua bênção aos filhos. Lá vem a ladainha habitual: desemprego Visão
10. 10 CRÓNICA arte em café
17 A 30 DE DEZEMBRO DE 2008
A OUTRA FACE
DO ESPELHO Secam rosas no olhar…
José Henrique Dias*
jhrdias@gmail.com
O senhor tenha a bondade de me dar uma ajuda. Não
tenho ar de precisar? Isso diz o senhor. Olhe bem. Não sou
um caso de pobreza envergonhada, bem vê, está até algo
exposta, é mesmo extrema necessidade. Ouça-me, por fa-
vor. Como? Desculpe, pedi-lhe ajuda, o favor de me ouvir,
não lhe pedi opiniões sobre a minha aparência. Apresenta-
mo-nos como podemos. Como queremos, no meu caso.
Para que hei-de fazer a barba e cortar o cabelo? Não, não
sou desleixado. Se quer saber, fui até bem elegante, diziam.
Caprichava no vestir. Como caprichava no meu piano. Se
não tenho casa? Claro que tenho casa. Até muito confortá-
vel. Mas pense bem, meu senhor, se não for abusar da sua
paciência: acha mesmo que isto de estar na rua e pedir para que aprendeu a dizer isso com Agostinho da Silva. Vivemos pena, já não está aí, lhe disse que sou um sem-abrigo. Quem
ser ouvido, é despautério? Não, não se espante com as belos momentos. Um encantamento sinfónico revertido lou- perde o amor, e o amor acontece apenas uma vez quando
palavras. Tenho algumas fragilidades e este aspecto, esta- cura nos encontros nocturnos. Sabe o que resta de mim, acontece, fica desabrigado. Podemos arranjar imitações.
rei algo perturbado, mas sempre trabalhei com um vocabu- meu senhor? Ainda aí está? Já foi embora. De mim resta Se formos simples, podemos viver mesmo com alguma
lário vasto e diversificado. Sei pensar e conheço as pala- uma rosa seca dentro de um livro e talvez uma florita silves- harmonia. Mas não é, não pode ser aquilo que agora me
vras. Conheço-as por dentro. Despi muitas. Enrosquei-me tre que um dia apanhei para lhe dar e não havia mais nada está a queimar as palavras, me deixa a boca colada como
em outras tantas. Deixe-me dizer assim, se não ferir os na natureza que valesse o gesto da dádiva. Suspeito que as uma mordaça.
seus ouvidos: fiz amor com elas. Não gosto da expressão guardou. O senhor já foi embora mas eu preciso de continuar a
fazer amor. Gostava de poder dizer de outra maneira. Mais Tem graça, primeiro a língua fugiu para dávida. Cá estou falar, senão rebento, ou então mato, sim, eu agora já percebi
forte. As palavras foram sempre minhas companheiras. eu a torcer o pescoço às palavras. Se estivesse a escrever muito desvario de que as pessoas depois se arrependem.
Minhas amantes. Como o meu piano. Mas o piano, coitado, saía dávida pela certa. Depois emendava para o que se tem Há um tigre dentro de todos nós. Matar é fácil. Difícil é
teve um triste fim. Lancei-o ao mar. Onde ela gostava de por correcto. Se estivesse com ela começava o jogo das sobreviver à ideia de que alguém toca no que é o ar que
prender o olhar. Fez-se barco e viagem. Diluiu-se como os palavras na construção do poema. Dádiva-dá-vida-vidra- respiramos e ficamos sem ar. Digam-me senhores, todos
vincos dos seus pés na areia da praia. Nem o senhor imagi- da-irada-virada-iridiada-íris-adiada-ondeada-vida-irisada- os que estão agora a passar diante dos meus olhos, nesta
na como conheço as palavras e como tocava piano. O so- -enraizada-em-risada. Brincávamos. As palavras servem rua infinitamente branca como têm sido as minhas noites,
nho da minha vida, depois que a conheci, foi compor uma para pensarmos. Também para doerem. Às vezes rir. Ou digam se sabem responder…
obra para quatro mãos. As nossas. Com ela, naturalmente. morrer. Os esquizofrénicos inventam palavras. Ângelo de Então, não pode estar a fazer esse barulho. Vamos lá
Conseguimos. Uma bela peça. Celebrada por quem a ou- Lima um dia escreveu dorte. Onde há dor e morte. Era embora daqui. Tem família, homenzinho?
via. Chamava-lhe, quando a sentia a meu lado, com os de- poeta. Dizem que louco. Coisas dos médicos. Coletes de Homenzinho?! Homem. Escrevi livros, sou pianista, a
dos na carícia do cabelo, a minha jói… ó que disparate, ela forças nas palavras com neuroléticos na sintaxe. Assim se minha casa é um palácio que todos invejam, tenho uma
é que me chamava jóia rara. Durante algum tempo. Essas adormece a criatividade Assim se atormenta a poesia. Em biblioteca com mais de trinta mil volumes, falo quatro lín-
coisas passam. São como o sarampo, em criança. Esque- paredes sujas de hospícios e auspícios. guas e sei latim e grego, fiz conferências em universidades
cem. Só que sou mesmo um sem-abrigo. Tornei-me sem Ia falar dela. Pensei-a como a mais brilhante das mulhe- do mundo, concertos em todos os palcos, tenho uma co-
dar por isso um sem-abrigo. Durmo em pedaços de cartão res. A mais bela era com certeza, a meus olhos, é evidente. menda pela exemplaridade do meu exercício cívico e o se-
da memória nas arcadas do tempo que passa. Como uma Mas… moldar com jeito todas as potencialidades que a sua nhor, só porque tenho estas barbas e falo sozinho, acha que
trova. Sem que o esperasse, perdi a essência de sentir-me inteligência abria, elevá-la ao plano da criação, ensinar-lhe me pode chamar homenzinho? Não há homenzinhos, nesse
vivo. Amava. Não se ria. Percebe-se quando falei no piano. todos os mistérios das palavras, das mãos sobre o teclado, o tom, senhor guarda: há pessoas. Está a ouvir? Pessoas! Eu
Já observou bem um piano? Não, não: por dentro. As cor- soltar dos sons como se ouve o mar, o longe, os voos das apenas fiquei sem-abrigo porque escolhi que fosse assim.
das tensas. À espera de serem percutidas. Com leveza ou gaivotas, as canções do vento, os mistérios dos búzios, os Perdi de repente todo o jeito para viver.
intensidade. Soarem música. Até ao grito. Até à raiz do passos lentos na praia, o soltar das túnicas, como se ouve a Vamos lá acabar com a conversa e saia daqui.
nome. Miriam! A minha discípula judia. nudez e o deslumbramento… Coitado, é maluquinho. Se calhar ficou assim por causa
Acho que não percebeu a metáfora e está a pensar que Pois é, imagine que foi exactamente pelas palavras que de algum desgosto.
estou a ser ridículo. O senhor é mais ou menos jovem e acabei por perdê-la. Pela música das palavras que foi ab- Fala de mim? Não, minha senhora, fiquei assim por cau-
pensa que na minha idade não se ama. Como se engana. sorvendo. Pelas palavras da minha música. Alguém as viu sa de uma rosa seca dentro de um livro. Primeiro secam as
Ainda amo. Talvez fosse, talvez seja um tanto possessivo. ou as ouviu, aproximou-se e a verdade é que eu já não era flores, olham para elas e choram de emoção. Depois se-
Era. Quem ama de verdade é assim. Absorve tudo Amar é preciso. Estava gasto. Tudo já mais ou menos feito. E eu cam-nos a nós, olham, não nos vêem e voltam ao riso das
ter alguém dentro de nós. Arde. Ninguém apaga esse lume. não podia. O médico disse-me que era pouco o tempo, ou novas descobertas. De mão dada.
A faca não corta o fogo. Claro que leio Herberto Helder. todo o que teria estava infiltrado de sofrimento. Passei por Até o tempo inexorável de soltar as mãos e voltar tudo
Está a perceber porque sou um sem-abrigo? Não é por tudo o que era máquinas. Injectaram-me substâncias radio- ao princípio.
causa de não ter casa, expliquei-lhe, é o que estou a sentir. activas e mandaram-me para dentro de espécies de batís-
É um outro tecto que me falta. É a abóbada daquele sorriso. cafos individuais. Nuclear não, obrigado. Cantigas. Can-
As pessoas passam, vêem-me com este aspecto e, claro, tigas, não positrões. Ficava queimado. Por dentro. De mim
não me dão nada. Também não tenho pedido. Acha que se saía um odor verde. Quando o médico me chamou, procu-
pode dizer a alguém, tragam de volta a vida? rou ser amável, mas tinha um ar severo. Notei a prega do
O senhor é a primeira pessoa a quem peço. Apenas franzir da testa e algum embaraço. Depois falou com algu-
porque pensei juntar a minha solidão à possível solidarieda- ma pressa como para se livrar da derrota. Do turbilhão das
de que deambula. Não é como no Deus Lhe Pague do palavras retive metástases nos ossos. Já tinha lido o sufi-
Joracy Camargo. Ser rico de noite e mendigo de dia. Eu ciente para perceber o que estava a dizer-me. Foi nesse dia
não tenho absolutamente nada. Deixei tudo. Perdi tudo. A que pensei nela de uma outra maneira. Não podia condená-
minha alma esvaziou-se. Nem lágrimas tenho. Secaram. la a viver a minha tragédia. Não tive coragem para lhe
Estou condenado a estar vivo mais algum tempo e estou fazer mal, cheguei a pensar em fazer com que me odiasse,
aqui também para vê-la passar sem que me reconheça. mas não fui capaz. Pequenas patifarias apenas. Que ela foi
Quando tudo era belo e havia a obra a quatro mãos, gerindo por amor. Mas na verdade eu já não tinha lugar.
chamava-me meu poeta. Dizia meu poeta à solta. Creio Quem vai ao mar perde o lugar. Por isso, meu senhor, que * Professor universitário