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Pré-fabricação e montagem manual caracterizam os projetos
habitacionais criados por Lelé para o programa Minha Casa, Minha
Vida
Estrutura metálica e argamassa armada compõem proposta de Lelé para o projeto
Minha Casa, Minha Vida, e contempla edificações em encostas

Por Cláudia Estrela Porto




                                            SLIDE SHOW   DESENHOS   FICHA TÉCNICA




A notícia correu: Lelé foi convidado pela presidenta Dilma Roussef para rever e
apresentar uma solução ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Conhecido
pela Rede Sarah de Hospitais e Tribunais de Contas da União, um dos maiores
especialistas brasileiros na pré-fabricação apresentou, então, a proposta de um projeto
facilmente exequível, no qual une invenção, funcionalidade, baixo custo e estética.

Embora tenha inicialmente detalhado propostas para duas regiões de favelas de Salvador
- a urbanização de Pernambués, com ocupação mista de apartamentos e casas
geminadas, e o conjunto habitacional para Cajazeiras -, as soluções podem ser adaptadas
a qualquer parte do País. "O programa tem de levar em conta as diversas tipologias
brasileiras, típicas de cada lugar, inclusive topográficas. No caso de Salvador, a
topografia dificulta muito a implantação de um prédio convencional, conforme está sendo
feito", explica. Desenvolvida e apresentada em janeiro, a proposta está ainda à espera
da superação de entraves burocráticos para ser implementada.

Até aqui, as propostas do Minha Casa, Minha Vida não contemporizavam as construções
em encostas, e recebem críticas pela baixa qualidade e pelo custo elevado. São
realizadas por construtoras contratadas pela Caixa, que se responsabilizam pela entrega
dos imóveis concluídos e legalizados. O programa Minha Casa, Minha Vida foi criado pelo
então presidente Lula em 2009 com o intuito de construir 1 milhão de moradias, e meta
de erguer 400 mil unidades habitacionais no triênio 2009/2011 nas capitais estaduais e
respectivas regiões metropolitanas, e municípios com população igual ou superior a 50
mil habitantes. As unidades habitacionais, depois de concluídas, são vendidas sem
arrendamento prévio às famílias que possuem renda familiar mensal até 1.395 reais. O
projeto, no entanto, não tem respondido bem à demanda.

Após a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, onde centenas de pessoas
morreram devido ao deslizamento de terra provocado pelas chuvas, Dilma Roussef
convocou Lelé para trazer novas soluções, baseadas no programa funcional estabelecido
pela Caixa Econômica Federal, com prédios de quatro pavimentos sem elevador e
apartamentos econômicos com área útil de 39,60 m2.

Lelé apresentou dois projetos. O primeiro, com 40 apartamentos, para terrenos planos e
utilizando a tecnologia da construção, com uma minifábrica. "Mas não nos agrada pura e
simplesmente fazer o prédio sem levar em conta o entorno. Esta primeira proposta teria
uma praça com playground", detalha Lelé.

O outro projeto, para Pernambués, inclui prédios e casas geminadas. Os dois projetos
têm por princípio construtivo uma estrutura mista metálica com argamassa armada. Esta
estrutura mista trabalha unida. Todas as peças, inclusive as metálicas, são montadas
manualmente. "A peça mais pesada, uma laje que vence 2,70 m de vão, pesa 86 kg, o
que permite que duas pessoas a montem manualmente", explica Lelé. O sistema foi
desenvolvido para evitar equipamentos como o bate-estaca, que o terreno não
suportaria. "Você não pode estaquear, não pode colocar guindaste, grua, nada. Então,
tudo tem de ser na mão, inclusive a estrutura metálica", explica.
A primeira fase é constituída de elementos em argamassa. A estrutura metálica se
integra, na concretagem, à argamassa armada da segunda fase. Com isso, consegue-se
enxugar a estrutura. "Só como comparação: a Usiminas, que vai fornecer os perfis, fez
uma proposta com o máximo de economia, conseguindo chegar a 27 kg/m2 de estrutura
metálica. Conseguimos, com o sistema misto, 19 kg/m2. Se considerarmos o preço da
unidade de 40 m2, 28 mil reais, teríamos por volta de 700 reais o metro quadrado
construído", explica Lelé.

Esta proposta, além das unidades habitacionais, inclui creche, escola, área de lazer.
"Habitação não é só o lugar onde você mora, é um conjunto de coisas que fazem você
sobreviver, inclusive o trabalho. Em Salvador, onde a economia informal tem um peso
forte, é impossível pensar em uma proposta como essa sem levar em consideração todos
os parâmetros", avalia.

Para não levar os moradores para longe, o objetivo é escolher terrenos livres, ao lado
das favelas. "O terreno ao lado de Pernambués, uma favela gigantesca que já está
comendo os terrenos pela beirada, é livre. O que estamos propondo: nas encostas,
dividir em dois tipos de implantação. Uma implantação mais simples, já na cumeada,
onde o terreno é plano. E nas encostas usar um tipo de implantação que permite
apartamentos de um, dois, três, quatro andares, da forma que é feito atualmente pelos
moradores." A proposta é cópia fiel da implantação usada nas favelas, em que cada
unidade se amplia verticalmente para se ajustar a eventuais mudanças do respectivo
programa familiar.

Lelé pretende realizar o projeto pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat, sem
fins lucrativos, que criou há dois anos em Salvador, cujo objetivo, além da pesquisa, é a
realização de obras públicas com a pré-fabricação. Segundo Lelé, um programa de
abrangência nacional como este requer industrialização e qualidade, o que só se
consegue com tecnologia. E disso, ele entende.



Proposta Construtiva

Execução industrializada com estrutura mista em argamassa armada e chapas dobradas
de aço SAC 300.

Pré-lajes e paredes executadas em argamassa armada.

Argamassa estrutural de segunda fase após a montagem das pré-lajes polida logo após a
fundição.

Argamassa armada produzida em miniusinas montadas no canteiro.

Divisórias externas com painéis duplos isolados entre si por lâminas de isopor.

Divisórias entre apartamentos com painéis duplos isolados entre si por lâminas de lã de
rocha.

Divisórias internas dos apartamentos em painéis duplos.

Transporte manual dos componentes de argamassa armada - peso máximo 70 kg.

Montagem da estrutura preferencialmente soldada.

Parede sanitária visitável.

Fiações visitáveis e executadas independentemente da montagem.

Acabamento das paredes e tetos sem pintura.

Esquadrias externas em chapas pré-pintadas de aço ou alumínio, dependendo da região
da implantação.



ENTREVISTA - João Filgueiras Lima,
Lelé

Por Cláudia Estrela Porto


Como foi seu trabalho para o Minha Casa, Minha Vida?


Fiz uma análise do programa para o caso de Salvador, onde a topografia

dificulta muito a implantação de um prédio convencional, conforme está
sendo feito. Além do mais, é uma violência terrível retirar uma população

sem poder aquisitivo que vive, melhor dizendo, sobrevive, graças ao

comércio informal, do local onde mora, mesmo que seja uma favela feia, e colocá-la a 40 km de distância, onde se consegue um terreno plano para fazer

um prédio. É uma violência, porque ela já tem as crianças nas escolas, há toda uma fórmula de vida. Habitação não é unicamente o espaço que você
um prédio. É uma violência, porque ela já tem as crianças nas escolas, há toda uma fórmula de vida. Habitação não é unicamente o espaço que você

habita, são as coisas todas que criam a sua vivência local, o trabalho que você tem, a escola de seu filho.


A proposta não é tirar as pessoas do local, é refazer, com o apoio de uma fábrica. Estamos propondo uma urbanização com creche, escola, posto de

saúde, próximo ao local onde as famílias vivem. Assim não haverá quebra na rotina da vida dessas pessoas, elas continuarão com o trabalho ao lado.


De que forma a fábrica trabalharia?


As casas têm de ser bem-feitas, industrializadas. Montaríamos uma miniusina em cada local, para atender a uma demanda de 300 unidades e uma

população de 2 a 2,5 mil pessoas. A minifábrica, que pode ser desmontável e transportada para outro local, tem capacidade para fazer 40 apartamentos

em 45 dias. As unidades devem ser flexíveis, para que possam crescer de acordo com o programa de necessidade de cada um. No programa atual de

Minha Casa, Minha Vida se constrói uma unidade típica de 30 m2, 40 m2, e todos os membros da família têm de caber ali, sem levar em conta suas

necessidades.


Qual é o sistema construtivo?


Um sistema misto de aço com argamassa armada. Todo o sistema é uma espécie de palafita, distribuindo as habitações pelos patamares. As encostas de

Salvador têm uma boa estabilidade, desde que você não faça movimento de terra. É o que eles fazem na favela: enfiam estacas de concreto, às vezes até

de madeira, e constroem as casas como se fossem palafitas. Nas encostas eles não fazem movimento de terra, porque são muito íngremes. Em uma

encosta com a declividade de Salvador, se cortar ou aterrar, destrói-se a estrutura do terreno.


São construções com até quatro pavimentos, como as que eles constroem hoje, e até com uma pequena oficina no quarto nível, pois essa população vive

do que produz em casa. A proposta contempla a forma de vida que eles adotam hoje, dando-lhes conforto. O bondinho sobre trilhos, por exemplo, leva os

moradores morro acima, evita que eles subam 40 metros feito cabritos.


Quanto tempo levaria para ser construído?


Montei um módulo mínimo de fábrica que permite fazer 40 unidades do tamanho médio, que corresponde a um apartamento de dois quartos, em 45 dias.
Essa fábrica pode ser duplicada facilmente. Basta dispor de um terreno um pouco maior, sem acréscimo de equipamentos. Ela custa 220 mil reais, e com

os mesmos 220 mil reais você só precisa aumentar o número de fôrmas. Se você dobrar as fôrmas que custam 40 mil reais, totalizando 260 mil reais, você

dobra a produção para 80 unidades. Então, na proposta de construir 300 unidades com uma minifábrica, em seis meses você monta um tipo de
superquadra como as de Brasília.


Quanto custaria?


Atualmente, o programa Minha Casa, Minha Vida é desenvolvido pelas construtoras - o preço inicial era de 46 mil reais para uma habitação de 40 m2.

Eles já pediram para aumentar para 52 mil reais, e agora estão pedindo para aumentar para 70 mil reais, dizendo que a infraestrutura puxa o preço para

cima.


Já o custo para a habitação de 40 m2 que estamos propondo, o preço de custo, sem BDI, sem lucro, é de 28 mil reais, e sem infraestrutura. No protótipo

de dois apartamentos para Cajazeiras, incluindo uma praça e playground para as crianças, se incluirmos o preço da fábrica e da infraestrutura, as unidades

saem por 46 mil reais. Se adotarmos este preço, o valor das 40 unidades seria de 1.840.000 reais. Mas conseguimos diminuir este custo. Vejamos: 40

unidades a 28 mil reais cada, sai 1.120.000 reais. A fábrica custa 220 mil reais, a infraestrutura e a praça, 250 mil reais, totalizando 1.590.000 reais.

Sobram 250 mil reais. Há algumas despesas não computadas, mas ainda fica abaixo de 1.840.000 reais. Ou seja: sobra dinheiro para outras construções.

Fiz, inclusive, arrimos para criar áreas planas para as crianças brincarem.


A presidenta já aprovou?


Sim, desde janeiro, e está se empenhando ao máximo para a viabilização. Mas há o problema do repasse de verba da Caixa Econômica para o Instituto
Habitat, já que se trata de uma instituição sem fins lucrativos. Se fôssemos uma construtora, não haveria problema, tudo poderia ser feito mediante

contrato. Não interessa ao Instituto Habitat se transformar em empresa construtora, e sim fazer pesquisa. A sobrevivência de uma construtora é baseada

no lucro. O Instituto tem como objetivo a pesquisa arquitetônica e a construção, conforme vínhamos fazendo todos esses anos no CTRS.


As pessoas da comunidade poderiam trabalhar para fazer as suas próprias moradias, ou é necessário mão de
obra qualificada?


A gente qualifica a mão de obra num instante. A qualificação é pequena, porque, a rigor, trata-se de um jogo de armar que se aprende com rapidez. Lógico

que há os instrutores. O que estamos propondo é a racionalização da construção nos mínimos detalhes, nada é improvisado. Um tipo de construção que vai

se multiplicando e que pode ser repassada para qualquer pessoa, e para as empresas.


Há a possibilidade de expansão da moradia?


É fundamental. Você pode ter uma moradia mínima, desde que seja também flexível. Estou propondo um espaço de 40 m2, que eu gostaria inclusive de

mobiliar. A flexibilidade permite uma melhor utilização do espaço, que pode se adequar às necessidades dos moradores.


O projeto difere muito se construído na região plana ou nas encostas?


Não, é o mesmo projeto. O mesmo elemento, o mesmo componente, a mesma estrutura. Não tem modificação, a fábrica executa os dois sistemas, não

importando o tipo de terreno. Mesmo nas encostas, pelo fato de ter muitos pilares metálicos, o sistema é leve, você pode fazer tudo com fundação direta.

O mesmo para as construções na área plana.


O princípio básico é não criar aterros, deixar o terreno como está. Se lá em cima você tem sempre uma pequena área plana, então você faz blocos. A

implantação nas encostas é feita por patamares sucessivos, interligados por escadarias drenantes e elevador em plano inclinado, integrado aos transportes

urbanos. O bondinho já foi criado e testado, e liga a cumeada ao vale, chegando à plataforma de acesso às casas. Esse é o elevador que fizemos na Rede
Sarah. Não tem mistério: é pendurado lá em cima, os trilhos vencem o vão.


Qual a grande dificuldade para a implantação?


A empresa que vai construir, que vai receber essa tecnologia, esse projeto, não tem autonomia para criar, de repente, o sistema de transporte. Irá construir
A empresa que vai construir, que vai receber essa tecnologia, esse projeto, não tem autonomia para criar, de repente, o sistema de transporte. Irá construir

algo, mas não tem autonomia para chamar um morador e dizer que a sua casa será substituída. Pressupõe-se que o setor público esteja organizado para

isso. Precisa existir alguém que diga ao cara que ele vai ser realocado, que vai morar melhor, há a necessidade de ajustar o programa de cada casa e tem
a questão da venda dos apartamentos. O esquema administrativo dificulta tudo, está desestruturado, não tem poder para fazer nada, a burocracia impera.


Se o sistema for implantado em Salvador onde já existem barracos, os moradores não teriam de sair do sítio,

não é?


É o que eu estou propondo. Nestes locais você tem áreas verdes acopladas. Para a urbanização de Pernambués, por exemplo, existe uma área verde que

não está sendo usada. É perto da favela. Constrói-se ali, transfere-se a população, e segue construindo. Começa por uma área onde não tem ninguém e
transfere os assentamentos na favela já construída. Há muitas áreas, é facílimo. É só você pegar uma faixa pequena e começar a realocar, e ir andando, ir

andando.




OUR HOME, OUR LIFE

Lelé was invited by President Dilma Roussef to renew and present a solution to the Minha Casa, Minha Vida
(My Home, My Life) housing program. Even though he had originally detailed proposals for two slum regions
in Salvador - the Pernambués urbanization, with mixed occupation of apartments and townhouses, and the
Cajazeiras housing complex -, the solutions may be adapted to any part of the country. The proposal is still
awaiting bureaucratic obstacles in order to start. Lelé presented two projects. The first one, with 40
apartments, is to be used in flat lots. The other project has as constructive principle a mixed metallic structure
with reinforced mortar. This mixed structure operates united. All the parts, including the metallic ones, are
assembled manually. "The heaviest part, a slab covering a 2.70 m span, weighs 86 kilos, allowing two workers
to assemble it manually", explains Lelé. The first phase consists of mortar elements. The metallic structure
integrates itself, during concreting, to the second phase's reinforced mortar. This proposal, in addition to the
housing units, includes a day care center, a school, and a leisure area. "Home is not only where you live, it is a
complex of things that make you happy, including work. It is impossible to think of a proposal without taking
all the parameters into consideration", she says.

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Lelé propõe projeto habitacional para encostas com estrutura mista

  • 1. Pré-fabricação e montagem manual caracterizam os projetos habitacionais criados por Lelé para o programa Minha Casa, Minha Vida Estrutura metálica e argamassa armada compõem proposta de Lelé para o projeto Minha Casa, Minha Vida, e contempla edificações em encostas Por Cláudia Estrela Porto SLIDE SHOW DESENHOS FICHA TÉCNICA A notícia correu: Lelé foi convidado pela presidenta Dilma Roussef para rever e apresentar uma solução ao programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Conhecido pela Rede Sarah de Hospitais e Tribunais de Contas da União, um dos maiores especialistas brasileiros na pré-fabricação apresentou, então, a proposta de um projeto facilmente exequível, no qual une invenção, funcionalidade, baixo custo e estética. Embora tenha inicialmente detalhado propostas para duas regiões de favelas de Salvador - a urbanização de Pernambués, com ocupação mista de apartamentos e casas geminadas, e o conjunto habitacional para Cajazeiras -, as soluções podem ser adaptadas a qualquer parte do País. "O programa tem de levar em conta as diversas tipologias brasileiras, típicas de cada lugar, inclusive topográficas. No caso de Salvador, a topografia dificulta muito a implantação de um prédio convencional, conforme está sendo feito", explica. Desenvolvida e apresentada em janeiro, a proposta está ainda à espera da superação de entraves burocráticos para ser implementada. Até aqui, as propostas do Minha Casa, Minha Vida não contemporizavam as construções em encostas, e recebem críticas pela baixa qualidade e pelo custo elevado. São realizadas por construtoras contratadas pela Caixa, que se responsabilizam pela entrega dos imóveis concluídos e legalizados. O programa Minha Casa, Minha Vida foi criado pelo então presidente Lula em 2009 com o intuito de construir 1 milhão de moradias, e meta de erguer 400 mil unidades habitacionais no triênio 2009/2011 nas capitais estaduais e respectivas regiões metropolitanas, e municípios com população igual ou superior a 50 mil habitantes. As unidades habitacionais, depois de concluídas, são vendidas sem arrendamento prévio às famílias que possuem renda familiar mensal até 1.395 reais. O projeto, no entanto, não tem respondido bem à demanda. Após a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, onde centenas de pessoas morreram devido ao deslizamento de terra provocado pelas chuvas, Dilma Roussef convocou Lelé para trazer novas soluções, baseadas no programa funcional estabelecido pela Caixa Econômica Federal, com prédios de quatro pavimentos sem elevador e apartamentos econômicos com área útil de 39,60 m2. Lelé apresentou dois projetos. O primeiro, com 40 apartamentos, para terrenos planos e utilizando a tecnologia da construção, com uma minifábrica. "Mas não nos agrada pura e simplesmente fazer o prédio sem levar em conta o entorno. Esta primeira proposta teria uma praça com playground", detalha Lelé. O outro projeto, para Pernambués, inclui prédios e casas geminadas. Os dois projetos têm por princípio construtivo uma estrutura mista metálica com argamassa armada. Esta estrutura mista trabalha unida. Todas as peças, inclusive as metálicas, são montadas manualmente. "A peça mais pesada, uma laje que vence 2,70 m de vão, pesa 86 kg, o que permite que duas pessoas a montem manualmente", explica Lelé. O sistema foi desenvolvido para evitar equipamentos como o bate-estaca, que o terreno não suportaria. "Você não pode estaquear, não pode colocar guindaste, grua, nada. Então, tudo tem de ser na mão, inclusive a estrutura metálica", explica.
  • 2. A primeira fase é constituída de elementos em argamassa. A estrutura metálica se integra, na concretagem, à argamassa armada da segunda fase. Com isso, consegue-se enxugar a estrutura. "Só como comparação: a Usiminas, que vai fornecer os perfis, fez uma proposta com o máximo de economia, conseguindo chegar a 27 kg/m2 de estrutura metálica. Conseguimos, com o sistema misto, 19 kg/m2. Se considerarmos o preço da unidade de 40 m2, 28 mil reais, teríamos por volta de 700 reais o metro quadrado construído", explica Lelé. Esta proposta, além das unidades habitacionais, inclui creche, escola, área de lazer. "Habitação não é só o lugar onde você mora, é um conjunto de coisas que fazem você sobreviver, inclusive o trabalho. Em Salvador, onde a economia informal tem um peso forte, é impossível pensar em uma proposta como essa sem levar em consideração todos os parâmetros", avalia. Para não levar os moradores para longe, o objetivo é escolher terrenos livres, ao lado das favelas. "O terreno ao lado de Pernambués, uma favela gigantesca que já está comendo os terrenos pela beirada, é livre. O que estamos propondo: nas encostas, dividir em dois tipos de implantação. Uma implantação mais simples, já na cumeada, onde o terreno é plano. E nas encostas usar um tipo de implantação que permite apartamentos de um, dois, três, quatro andares, da forma que é feito atualmente pelos moradores." A proposta é cópia fiel da implantação usada nas favelas, em que cada unidade se amplia verticalmente para se ajustar a eventuais mudanças do respectivo programa familiar. Lelé pretende realizar o projeto pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat, sem fins lucrativos, que criou há dois anos em Salvador, cujo objetivo, além da pesquisa, é a realização de obras públicas com a pré-fabricação. Segundo Lelé, um programa de abrangência nacional como este requer industrialização e qualidade, o que só se consegue com tecnologia. E disso, ele entende. Proposta Construtiva Execução industrializada com estrutura mista em argamassa armada e chapas dobradas de aço SAC 300. Pré-lajes e paredes executadas em argamassa armada. Argamassa estrutural de segunda fase após a montagem das pré-lajes polida logo após a fundição. Argamassa armada produzida em miniusinas montadas no canteiro. Divisórias externas com painéis duplos isolados entre si por lâminas de isopor. Divisórias entre apartamentos com painéis duplos isolados entre si por lâminas de lã de rocha. Divisórias internas dos apartamentos em painéis duplos. Transporte manual dos componentes de argamassa armada - peso máximo 70 kg. Montagem da estrutura preferencialmente soldada. Parede sanitária visitável. Fiações visitáveis e executadas independentemente da montagem. Acabamento das paredes e tetos sem pintura. Esquadrias externas em chapas pré-pintadas de aço ou alumínio, dependendo da região da implantação. ENTREVISTA - João Filgueiras Lima, Lelé Por Cláudia Estrela Porto Como foi seu trabalho para o Minha Casa, Minha Vida? Fiz uma análise do programa para o caso de Salvador, onde a topografia dificulta muito a implantação de um prédio convencional, conforme está sendo feito. Além do mais, é uma violência terrível retirar uma população sem poder aquisitivo que vive, melhor dizendo, sobrevive, graças ao comércio informal, do local onde mora, mesmo que seja uma favela feia, e colocá-la a 40 km de distância, onde se consegue um terreno plano para fazer um prédio. É uma violência, porque ela já tem as crianças nas escolas, há toda uma fórmula de vida. Habitação não é unicamente o espaço que você
  • 3. um prédio. É uma violência, porque ela já tem as crianças nas escolas, há toda uma fórmula de vida. Habitação não é unicamente o espaço que você habita, são as coisas todas que criam a sua vivência local, o trabalho que você tem, a escola de seu filho. A proposta não é tirar as pessoas do local, é refazer, com o apoio de uma fábrica. Estamos propondo uma urbanização com creche, escola, posto de saúde, próximo ao local onde as famílias vivem. Assim não haverá quebra na rotina da vida dessas pessoas, elas continuarão com o trabalho ao lado. De que forma a fábrica trabalharia? As casas têm de ser bem-feitas, industrializadas. Montaríamos uma miniusina em cada local, para atender a uma demanda de 300 unidades e uma população de 2 a 2,5 mil pessoas. A minifábrica, que pode ser desmontável e transportada para outro local, tem capacidade para fazer 40 apartamentos em 45 dias. As unidades devem ser flexíveis, para que possam crescer de acordo com o programa de necessidade de cada um. No programa atual de Minha Casa, Minha Vida se constrói uma unidade típica de 30 m2, 40 m2, e todos os membros da família têm de caber ali, sem levar em conta suas necessidades. Qual é o sistema construtivo? Um sistema misto de aço com argamassa armada. Todo o sistema é uma espécie de palafita, distribuindo as habitações pelos patamares. As encostas de Salvador têm uma boa estabilidade, desde que você não faça movimento de terra. É o que eles fazem na favela: enfiam estacas de concreto, às vezes até de madeira, e constroem as casas como se fossem palafitas. Nas encostas eles não fazem movimento de terra, porque são muito íngremes. Em uma encosta com a declividade de Salvador, se cortar ou aterrar, destrói-se a estrutura do terreno. São construções com até quatro pavimentos, como as que eles constroem hoje, e até com uma pequena oficina no quarto nível, pois essa população vive do que produz em casa. A proposta contempla a forma de vida que eles adotam hoje, dando-lhes conforto. O bondinho sobre trilhos, por exemplo, leva os moradores morro acima, evita que eles subam 40 metros feito cabritos. Quanto tempo levaria para ser construído? Montei um módulo mínimo de fábrica que permite fazer 40 unidades do tamanho médio, que corresponde a um apartamento de dois quartos, em 45 dias. Essa fábrica pode ser duplicada facilmente. Basta dispor de um terreno um pouco maior, sem acréscimo de equipamentos. Ela custa 220 mil reais, e com os mesmos 220 mil reais você só precisa aumentar o número de fôrmas. Se você dobrar as fôrmas que custam 40 mil reais, totalizando 260 mil reais, você dobra a produção para 80 unidades. Então, na proposta de construir 300 unidades com uma minifábrica, em seis meses você monta um tipo de superquadra como as de Brasília. Quanto custaria? Atualmente, o programa Minha Casa, Minha Vida é desenvolvido pelas construtoras - o preço inicial era de 46 mil reais para uma habitação de 40 m2. Eles já pediram para aumentar para 52 mil reais, e agora estão pedindo para aumentar para 70 mil reais, dizendo que a infraestrutura puxa o preço para cima. Já o custo para a habitação de 40 m2 que estamos propondo, o preço de custo, sem BDI, sem lucro, é de 28 mil reais, e sem infraestrutura. No protótipo de dois apartamentos para Cajazeiras, incluindo uma praça e playground para as crianças, se incluirmos o preço da fábrica e da infraestrutura, as unidades saem por 46 mil reais. Se adotarmos este preço, o valor das 40 unidades seria de 1.840.000 reais. Mas conseguimos diminuir este custo. Vejamos: 40 unidades a 28 mil reais cada, sai 1.120.000 reais. A fábrica custa 220 mil reais, a infraestrutura e a praça, 250 mil reais, totalizando 1.590.000 reais. Sobram 250 mil reais. Há algumas despesas não computadas, mas ainda fica abaixo de 1.840.000 reais. Ou seja: sobra dinheiro para outras construções. Fiz, inclusive, arrimos para criar áreas planas para as crianças brincarem. A presidenta já aprovou? Sim, desde janeiro, e está se empenhando ao máximo para a viabilização. Mas há o problema do repasse de verba da Caixa Econômica para o Instituto Habitat, já que se trata de uma instituição sem fins lucrativos. Se fôssemos uma construtora, não haveria problema, tudo poderia ser feito mediante contrato. Não interessa ao Instituto Habitat se transformar em empresa construtora, e sim fazer pesquisa. A sobrevivência de uma construtora é baseada no lucro. O Instituto tem como objetivo a pesquisa arquitetônica e a construção, conforme vínhamos fazendo todos esses anos no CTRS. As pessoas da comunidade poderiam trabalhar para fazer as suas próprias moradias, ou é necessário mão de obra qualificada? A gente qualifica a mão de obra num instante. A qualificação é pequena, porque, a rigor, trata-se de um jogo de armar que se aprende com rapidez. Lógico que há os instrutores. O que estamos propondo é a racionalização da construção nos mínimos detalhes, nada é improvisado. Um tipo de construção que vai se multiplicando e que pode ser repassada para qualquer pessoa, e para as empresas. Há a possibilidade de expansão da moradia? É fundamental. Você pode ter uma moradia mínima, desde que seja também flexível. Estou propondo um espaço de 40 m2, que eu gostaria inclusive de mobiliar. A flexibilidade permite uma melhor utilização do espaço, que pode se adequar às necessidades dos moradores. O projeto difere muito se construído na região plana ou nas encostas? Não, é o mesmo projeto. O mesmo elemento, o mesmo componente, a mesma estrutura. Não tem modificação, a fábrica executa os dois sistemas, não importando o tipo de terreno. Mesmo nas encostas, pelo fato de ter muitos pilares metálicos, o sistema é leve, você pode fazer tudo com fundação direta. O mesmo para as construções na área plana. O princípio básico é não criar aterros, deixar o terreno como está. Se lá em cima você tem sempre uma pequena área plana, então você faz blocos. A implantação nas encostas é feita por patamares sucessivos, interligados por escadarias drenantes e elevador em plano inclinado, integrado aos transportes urbanos. O bondinho já foi criado e testado, e liga a cumeada ao vale, chegando à plataforma de acesso às casas. Esse é o elevador que fizemos na Rede Sarah. Não tem mistério: é pendurado lá em cima, os trilhos vencem o vão. Qual a grande dificuldade para a implantação? A empresa que vai construir, que vai receber essa tecnologia, esse projeto, não tem autonomia para criar, de repente, o sistema de transporte. Irá construir
  • 4. A empresa que vai construir, que vai receber essa tecnologia, esse projeto, não tem autonomia para criar, de repente, o sistema de transporte. Irá construir algo, mas não tem autonomia para chamar um morador e dizer que a sua casa será substituída. Pressupõe-se que o setor público esteja organizado para isso. Precisa existir alguém que diga ao cara que ele vai ser realocado, que vai morar melhor, há a necessidade de ajustar o programa de cada casa e tem a questão da venda dos apartamentos. O esquema administrativo dificulta tudo, está desestruturado, não tem poder para fazer nada, a burocracia impera. Se o sistema for implantado em Salvador onde já existem barracos, os moradores não teriam de sair do sítio, não é? É o que eu estou propondo. Nestes locais você tem áreas verdes acopladas. Para a urbanização de Pernambués, por exemplo, existe uma área verde que não está sendo usada. É perto da favela. Constrói-se ali, transfere-se a população, e segue construindo. Começa por uma área onde não tem ninguém e transfere os assentamentos na favela já construída. Há muitas áreas, é facílimo. É só você pegar uma faixa pequena e começar a realocar, e ir andando, ir andando. OUR HOME, OUR LIFE Lelé was invited by President Dilma Roussef to renew and present a solution to the Minha Casa, Minha Vida (My Home, My Life) housing program. Even though he had originally detailed proposals for two slum regions in Salvador - the Pernambués urbanization, with mixed occupation of apartments and townhouses, and the Cajazeiras housing complex -, the solutions may be adapted to any part of the country. The proposal is still awaiting bureaucratic obstacles in order to start. Lelé presented two projects. The first one, with 40 apartments, is to be used in flat lots. The other project has as constructive principle a mixed metallic structure with reinforced mortar. This mixed structure operates united. All the parts, including the metallic ones, are assembled manually. "The heaviest part, a slab covering a 2.70 m span, weighs 86 kilos, allowing two workers to assemble it manually", explains Lelé. The first phase consists of mortar elements. The metallic structure integrates itself, during concreting, to the second phase's reinforced mortar. This proposal, in addition to the housing units, includes a day care center, a school, and a leisure area. "Home is not only where you live, it is a complex of things that make you happy, including work. It is impossible to think of a proposal without taking all the parameters into consideration", she says.