1. P1 / TRABALHO FINAL
O JARDIM DA METRÓPOLE
CÓRREGO DA ÁGUA VERMELHA / ZONA LESTE DE
SÃO PAULO
ROTEIRO
1. BASES CONCEITUAIS
1.1 O JARDIM DA METRÓPOLE1
Poucas cidades foram capazes de dominar sua condição metropolitana,
apesar de todos os planos elaborados, não há porque pensar que
tenham tido êxito...
Metrópoles contemporâneas – grandes vazios resultantes da obsolescência
de antigas instalações industriais, alterações de sistemas de serviços,...,
GRANDES VAZIOS, (espaços vagos)
Busca de alternativas deve colocar questões mais globais, que reconhecem os
problemas ambientais, sem renunciar do potencial de uso desses espaços
vagos como espaços livres metropolitanos,
Objetivo: VERTEBRAR a metrópole a partir desses vazios gerados na ocupação
do território, como sistemas, disposição das novas infraestruturas, resolução de
problemas ambientais, necessidade de novos espaços livres......
um novo estrato constituído de vazios que tem dinâmicas próprias, onde os
cursos d’água, a vibração do solo, os processos ligados à vegetação possam ser
a chave para a compreensão da riqueza de cada lugar. O estrato livre consolida
a valorização dessas riquezas: nova ordem de atuações.
O novo estrato do qual falamos é o produto da acumulação de todos os espaços livres da nova cidade
metropolitana, desde os parques naturais aos parques urbanos, desde os rios às praias, desde os
corredores verdes às novas agriculturas metropolitanas, desde os bosques aos novos jardins temáticos,
desde os espaços que resolvam as problemáticas meio-ambientais aos entornos das grandes infra-
estruturas que necessitamos.
Este novo estrato quer refazer o terrain vague metropolitano para tratar de desenhar a nova geografia
da cidade. Trata-se de um estrato livre que pretende ajudar a definir um novo modelo de ordenação
territorial desde o que aqui denominamos jardim da metrópole.
A Consideração conjunta e inter-relacionada nos âmbitos metropolitanos das matrizes ecológicas
de Richard T. T. Forman, da reinterpretação contemporânea dos sistemas de parques de Frederick
1
. Conforme Enric Batlle em El Jardín de la metrópoli / Del paisaje romântico al espacio libre para uma ciudad
sostenible, Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2011.
1
2. Law Olmsted e dos espaços gerados desde a sustentabilidade como resposta aos problemas meio-
ambientais, constitui o embrião do nascimento do que aqui denominamos jardim da
metrópole.
As matrizes ecológicas, ordenadas segundo o modelo de Forman através da trilogia patch-corridor-
matrix, 2 são aplicáveis a qualquer território.
Os sistemas de espaços livres urbanos nasceram como desenvolvimento do modelo elaborado por
Olmsted nos primeiros system park. 3
Não obstante, os espaços disponíveis para formar parte desse novo sistema são também frágeis,
estão sujeitos a diferentes expectativas que podem fazer que resultem inutilizados como espaços
potenciais do jardim da metrópole. Trata-se de espaços que se consideram pendentes
de
urbanizar, ou que podem ser o melhor lugar para dispor as novas infraestruturas.
Também é nesses lugares onde a metrópole resolve seus problemas meio-ambientais,
ou onde tem que circular as energias que se consome.
Os entornos com valor agregado tratam de compatibilizar a existência do jardim da metrópole com
o desenvolvimento de novos assentamentos, o traçado de novas infra-estruturas, a implantação de
novos usos metropolitanos ou a necessidade de espaços destinados a resolver as problemáticas
meio-ambientais. Os entornos com valor agregado podem converter-se em novos fenômenos de
paisagem que atenderão tanto a Problemática concreta que se esteja resolvendo como o aumento da
qualidade dos espaços naturais próximos.
Talvez o destino final do que estamos tratando de definir se resuma na busca de um modelo para desenhar
o território metropolitano compreensível e coerente no qual nossa sociedade possa ver-se representada de
alguma maneira. Bernardo Secchi presume brilhantemente com as palavras seguintes: “Nos dizem depois
que também é importante interconectá-los com uns corredores porque assim as diferentes
espécies, botânicas e animais, podem emigrar de um lugar a outro, e que estas migrações
aumentam a biodiversidade. Aumentam a diversidade das espécies que se acham presentes em
cada uma dessas áreas, espécies botânicas e animais. E um aumento da biodiversidade redunda
em um aumento da capacidade de resistência do sistema ecológico para enfrentar-se com toda a
artificialidade que nós introduzimos, Eu não sei si é certo ou não... A mim me agrada o tema; as
migrações mesclam as espécies, aumentam a biodiversidade, aumentam a capacidade de
resistência... Agrada-me porque me parece uma grande metáfora social. Se nós nos mesclamos,
nos fazemos mais fortes todos... Mas sobre o que quero chamar a atenção é sobre isso; eu falei de
ponto, de linha e superfície. Começam a converter-se em uma linguagem minha, de arquiteto, de
pessoa que projeta um território. Começo a ver coisas que sei como manejar, materiais com os
quais trabalhar na construção de um projeto. Todos nossos projetos são composições feitas a base
desses elementos. É esse o aspecto que me interessa. Não usar o sistema ambiental só para conter
a expansão urbana ou para conter o consumo do solo da cidade, senão utilizá-lo ademais para dar
um desenho ao território onde se reconheça, talvez, seu último sentido. Talvez, na cidade
decimonônica nós conseguimos sentirmo-nos em casa porque encontramos uma cidade feita de
ruas, de calçadas, de pontos, de monumentos que restituíam a seu ponto justo a ordem urbana, e
era isso precisamente o que a cidade decimonônica pretendia. Talvez a sociedade da primeira parte
do nosso século, um pouco enamorada de todo o maquinismo, de todas as grandes obras de
engenharia, se reconhecia a si mesma nos grandes sistemas infra-estruturais. Talvez hoje nós não
podemos usar estes elementos para compreender a forma da cidade, que pelo contrário cresce, se
dispersa e se confunde por todas as partes, convertendo-se em um amálgama de objetos muito
heterogêneos. Mas podemos, pelo contrário, usar uma correta projeção do sistema ambiental,
ponto, linha e superfície do sistema ambiental, para conseguir desenhar o território. Com um
2
. Ver: Forman, Richard T. T., Land Mosaics. The Ecology of Landscapes and Regions, Cambridge University Press, Cambridge, 1995.
3
. Fein, Albert, op. Cit.
2
3. desenho compreensível, coerente, um desenho no qual nossa sociedade, de alguma forma, consiga
sentir-se representada”. 4
Os sistemas de drenagem do território são os corredores mais estáveis e contínuos, e os que têm
uma maior capacidade de recuperação ainda que totalmente degradados. 5
A matriz ecológica metropolitana poderá integrar em seu conjunto espaços de usos muito diversos,
como os espaços agrícolas compatíveis com os espaços livres e esportivos de alto valor natural.
Matriz ecológica metropolitana de Barcelona, Espanha.
Desenho da possível matriz ecológica metropolitana de Barcelona, a partir da superposição dos espaços que compõem o anel verde de Barcelona,
do conjunto das drenagens do território, os diversos corredores verdes, os diversos espaços agrários que podem ser potenciados e de alguns
entornos com valor agregado que poderiam ser incorporados.
Os novos sistemas verdes se constroem desde a idéia da recuperação das
conectividades perdidas, mas também abre a base que pode estabelecer cada um dos novos
espaços livres. Estes novos espaços livres – margem de cidade compacta ou interstício
metropolitano – não podem ser desenhados exclusivamente desde o programa local que os
possibilita, mas devem recolher e assumir o papel que lhes corresponda dentro de um suposto sistema
ideal. Estes espaços livres poderão formar parte de uma sucessão de espaços que tratem de estabelecer
alguma conectividade ou ser imprescindíveis para recuperar algum lugar natural
degradado. Estes novos parques também poderão vincular-se aos sistemas naturais que todavia se
encontrem no lugar ou aos novos sistemas naturais que se estabeleçam para fazer emergir os valores
ecológicos que antes se havia anulado.
Um sistema de espaços livres urbanos que se explicará desde essa dupla perspectiva, a de uns espaços
que se organizam como um sistema como meio de consolidar as conectividades, e uns espaços
construídos a partir de uns sistemas naturais potenciados ou recuperados.
Todo espaço não construído permite uniões urbanas e pode ser o apoio de uma união verde. É importante
analisar a grande quantidade de espaços livres infra-utilizados ou marginalizados como espaços
residuais, situados em áreas densamente povoadas. Estes espaços também são suscetíveis de
construir boas uniões verdes, e muitas vezes constituem as últimas possibilidades que ficam para
estabelecer percursos entre as partes construídas e os espaços naturais.
As dimensões de uma união verde como passeio são variáveis e dependerão sempre das disponibilidades
físicas ou das previsões urbanísticas. Uma união verde pode reduzir-se a um passeio de cinco metros
de largura ao longo de algumas centenas de metros, ou pode converter-se em um autêntico
corredor verde de largura suficiente e uns poucos quilômetros de comprimento. Não há regras
4
. Secchi, Bernardo “La práctica actual de la proyetación territorial” (conferência proferida no Máster de Projetação Urbanística da Universitat
Politécnica de Catalunya), em Eizaguirre, Xabier (ed.), La construcción del território disperso, Edicions UPC, Barcelona, 2001.
5
. Ver: Saunders, Denis A. E Hobbs, Richard J., The Role of Corridors, Surrey Beatty & Sons, Chipping Borton, 1991.
3
4. estritas, mas os espaços de mais de trinta metros de largura que garantissem a
continuidade ao longo do território começam a constituir umas vias eficientes.
As uniões verdes se entenderão basicamente como espaços
arborizados que também poderão
exercer funções de drenagem das águas da cidade. Será essencial a continuidade
dos percursos para pedestres e bicicletas, e, portanto, a boa resolução de todos os cruzamentos com o
resto das infraestruturas. As uniões verdes poderão ser simples passeios urbanos ou aproximarem-se ao
conceito de corredor ecológico, garantindo assim as continuidades naturais. A reconversão
desses espaços em drenagens vistos da cidade permite aproveitar a água da chuva para criar espaços
úmidos que passarão a formar parte do sistema de parques e do próprio sistema natural. As uniões verdes
são uma peça a mais do sistema de percursos urbanos das cidades.
O jardim da metrópole pretende, talvez de forma atrevida, ser uma opção cultural sobre a metrópole. Em
palavras de Manuel de Solà-Morales, 6 o jardim da metrópole também é um espaço unitário e aberto:
a imagem visível da continuidade da cidade. O novo estrato que constrói o jardim da metrópole é o
novo modelo de espaço livre para conseguir uma cidade sustentável, e pode chegar a ser a idéia
que condense e defina a nova forma da metrópole.
O estrato livre
O resultado é um mutante, um híbrido entre o urbano e o natural, o fim de uma tipologia (o parque
urbano) e o nascimento de um novo estrato (o estrato livre).
O estrato livre que estamos tratando de definir se constrói desde a utilização das tipologias
convencionais da paisagem – as margens de um rio, um bosque, um campo, um arvoredo, um
pântano, etc. – que, com ligeiros ajustes, podem promover efeitos significativos sem necessidade
de ter que eliminá-los ou encobri-los.
O estrato livre deve ser visto num mapa que tem que ser produzido e construído, que sempre pode
ser desmontado, alterado ou modificado, mas que deve conservar sua essência; um estrato
codificado desde a vitalidade que contem e pode chegar a ter um lugar, e que podemos redescobrir no
projeto de drenagens
do território, dos bosques da metrópole, das
agriculturas urbanas, das infra-estruturas verdes e dos jardins
temáticos.
As drenagens do território, os bosques da metrópole, as agriculturas urbanas, as infraestruturas
verdes, os jardins temáticos e os espaços da sustentabilidade são projetos imprescindíveis que
podem somar-se ao resto dos projetos da metrópole, com a vontade de transformar umas
paisagens agora obsoletas no conjunto do estrato livre.
Trata-se de lugares que poderiam ser como os de sempre – um riacho, um bosque, um campo, um
vertedouro e uma autopista, etc. –, mas que também poderiam ser novos motores da forma do
território, para assim deixar de ser o vazio, o espaço residual, o interstício ou a borda de uma
estrada e passar a ser umas novas paisagens, vigorosas, úteis, aproveitáveis e, porque não,
também igualmente belos.
O estrato livre é o jardim da metrópole.
6
. Sola-Morales, Manuel de, “Um nuevo Paseo de Gràcia”, op. Cit.
4
5. 1.2. CÓDIGO FLORESTAL / RURAL E URBANO
2. AÇÕES PROJETUAIS
A. ESTABELECIMENTO DE LIMITES / REMOÇÕES DE USOS
INDEVIDOS
B. CONECTIVIDADES LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS.
C. TEMAS:
CONTROLE DA VASÃO DAS ÁGUAS
(BACIAS DE CONTENSÃO).
REFLORESTAMENTO (BOSQUES)
AGRICULTURA
ESPORTES
JARDINS TEMÁTICOS
3. PADRÕES
2XVIAS 3m de largura
ESTACIONAMENTO LINEAR 2m de largura
CALÇADA PRINCIPAL 3,5m de largura / CALÇADA SECUNDÁRIA 2,5m
de largura
CICLOVIA 1,5 m de largura
4. BASES CARTOGRÁFICAS
GOOGLE EARTH / RECORTE DA ÁREA
SARA BRASIL / RECORTE DA ÁREA
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6. REGIÃO DA GRANDE SÃO PAULO / SITUAÇÃO DO RECORTE NA
METRÓPOLE
ATLAS AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO / MACRO
DRENAGEM DE SÃO PAULO / ÍNDICE DE BACIAS
5. REFERÊNCIAS
PLAYA VISTA PARK, MICHAEL MALTZAN, LOS ANGELES, REVISTA
DOMUS 952 NOV 2011
PRAÇA DA MÃE PRETA, HIS, JOSÉ PAULO DE BEM, CURSO
PROJETO VII, ARQUITETURA E PAISAGISMO, UNIVERSIDADE
BELAS ARTES, 2011.
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