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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
PROF. ANTONIO JOSÉ
INTRODUÇÃO
A política engloba uma grande variedade de atividades, a partir de eleições governamentais, cujas
eleições é um esforço envidado dos candidatos que da mídia em geral se utilizam, conduzindo a efeito os
planos e projetos junto aos seus assessores, com vistas a atingir os eleitores.. Para cada uma destas
ações, há considerações éticas e consequências. Este anteprojeto suscita o seguinte problema: Até que
ponto podem os movimentos populares serem fatores corroborativos para o exercício da ética e da
cidadania na política nacional? Outras questões podem ser aqui aludidas, tais como: Até que ponto a
política é compatível com a ética? A política pode ser eficiente se incorporar a ética? Não seria puro
moralismo exigir que a política considere os valores éticos?
Atualmente, o cenário internacional marcado pelo processo de globalização da economia e a
fragilização dos Estados nacionais, coloca uma nova pauta de questões para o poder local, projetando-o
no debate político sobre as alternativas de organização do Estado. Este ano teremos eleições municipais
em todo o país. São principalmente os municípios que mantém contato cotidiano com a população, que
estão desafiados a enfrentar mudanças qualitativas nos métodos de gestão pública. Adotar um novo
paradigma de administração pública significa revolucionar por dentro a máquina do Estado, como se
organiza e como se presta o serviço público, colocando no centro o cidadão. A reforma administrativa
voltada à afirmação da cidadania supõe a implementação de mecanismos e canais de participação
popular, contrapondo-se a tendência de privatização e de esvaziamento do espaço público. Nesse sentido,
a modernização do poder público implica na participação da sociedade na definição das políticas de
governo. Dr. Fábio Konder Comparato, jurista e professor da USP, faz a seguinte assertiva sobre o
assunto:
Em suma – e aí está o cerne da questão - , se toda a ação política, como vimos, deve ter por
finalidade o bem comum do povo, seria um grosseiro absurdo que o próprio povo fosse em
permanência excluído da função de julgar a justiça ou injustiça das políticas postas em prática,
bem como de fazer atuar a responsabilidade dos governantes que realizaram, sobretudo quando
estes devem a sua posição de mando à eleição popular.1
A construção de uma nova cultura política democrática, que supere os vícios do autoritarismo,
do paternalismo e do clientelismo na relação entre Estado e sociedade, não pressupõe a defesa da
participação como direito fundamental da cidadania; pressupõe uma nova ética no trato da coisa
pública, tanto dos governantes como da sociedade civil, centrada na responsabilidade social, no
reconhecimento da diversidade cultural e da pluralidade política dos atores sociais.
1. RELEVÂNCIA E CONTEMPORANEIDADE DA ÉTICA
O assunto se apresenta relevante por suas várias nuances e matizes presentes na vida política
nacional, demonstrados no cotidiano dos meios de comunicação de massa e da mídia em geral. Quando
se trata da relação entre ética e política não há respostas fáceis. Há mesmo quem considere que esta é
uma falsa questão, em outras palavras, que ética e política são como a água e o vinho: não se misturam.
Quem pensa assim, adota uma postura que nega qualquer vínculo da política com a moral: os fins
justificam os meios. O realismo político, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos
políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o
indivíduo do coletivo. Esta concepção sobre a relação ética e política desconsidera que a moral também é
um fator social e como tal não pode se restringir ao santuário da consciência dos indivíduos. Em outras
1
COMPARATO, Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, Editora Companhia das Letras, 2006, p. 660.
1
palavras, embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da
sociedade (um exemplo disso é a adoção dos diversos "códigos de ética"). Ou seja, não leva em conta
que a política nega ou afirma certa moral e que, em última instância, a política também é avaliada pelo
comportamento e entendimento moral das pessoas. Aliás, se a política almeja legitimidade não pode,
entre outros fatores, dispensar o consenso da consciência dos cidadãos, sobre a qual repousa a
democracia. Em todos estes casos, trata-se de problemas ético-práticos que se apresentam diante de nós,
nas relações efetivas, reais, entre indivíduos ou grupos. Trata-se de problemas cuja solução não concerne
somente à pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas, os quais sofrerão as
conseqüências da sua decisão e da sua ação. As conseqüências podem afetas a um indivíduo ou a vários
indivíduos ou grupos sociais. Enfim, as conseqüências podem afetar a uma comunidade inteira, ou até
mesmo toda uma nação.
Toda a sociedade humana cria padrões de comportamento para os seus concidadãos, os quais
servem de parâmetros ou normas geralmente aceitas, as quais fazem parte do senso comum de
determinado povo, nação, etnia ou cultura, os quais podemos chamar de “Convenções Sociais.” Há
valores ou convenções sociais que são mais pertencentes a um específico povo ou cultura. Há outros
tipos de convenções sociais que são universais ou supra-culturais (trans-cultural). Ou seja, estão
presentes em todos os povos, etnias e culturas humanas, tais como: 1) O respeito à vida; 2) O respeito
aos pais e aos idosos. Caminhando na contramão das “Convenções Sociais”, podemos encontrar o
movimento “niilista”. O “niilismo” é uma tendência de viver a vida no campo da negação de todos os
parâmetros de comportamentos; contra todos os valores morais; contra todos os princípios fixos,
absolutos, dogmáticos em permanentes.
1. CONCEITUANDO A ÉTICA
Nas relações cotidianas entre indivíduos, surgem continuamente problemas como estes:
A) Devo cumprir a promessa X que fiz ao meu amigo Y, embora hoje perceba que o
cumprimento da aludida promessa me causará certos danos e prejuízos?
B) Devo sempre dizer a verdade ou há ocasiões em que devo mentir?
C) Podemos considerar bom o homem que se mostra caridoso com o mendigo que bate à sua
porta, e, durante o dia – como patrão – explora impiedosamente os operários e os empregados da sua
empresa?
D) Se um indivíduo procura fazer o bem e as conseqüências de suas ações são prejudiciais
àqueles que pretendia favorecer, porque lhes causará mais prejuízo do que benefício, devemos julgar que
age corretamente de um ponto de vista moral, quaisquer que tenham sido os efeitos de sua ação?
E) Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas na segunda guerra mundial, os soldados que
os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados?
F) Os soldados nazistas deviam executar as ordens de extermínio emanadas de seus superiores?
A ética poderá dizer, em geral, o que é um comportamento pautado por normas ou em que
consiste o fim – o bom – visado pelo comportamento moral, do qual faz parte o comportamento
individual ou de um grupo. Definir o que é o “bom” não é um problema ético-moral simples, cuja
solução cairá ao indivíduo em cada caso particular, mas a um problema geral normativo, de cuja solução
ou princípio o cristão se possa valer nas mais diversas circunstâncias.
Hartmann, em sua obra “Ethics”, faz o seguinte comentário sobre o lugar da ética no campo da
filosofia:
Os problemas éticos são objeto de uma atenção especial na filosofia grega. Ao naturalismo dos
filósofos do primeiro período (os pré-socráticos), sucede uma preocupação com os problemas do
homem, e sobretudo, com os problemas políticos e morais. As novas condições que se
apresentam no século V a.C., em muitas cidades gregas – e especialmente em Atenas, com a
democratização da vida política e o desenvolvimento de uma intensa vida pública, deram origem
à filosofia política e moral.2
2
HARTMANN, Nicolai. Ethics. London, England: George Allen and Unwin Ltd., 1973, p. 89.
2
A ética é um dos seis ramos tradicionais da filosofia, onde ocupou papel importante, desde o
começo. A Ética como um sistema da Filosofia. A Ética é um dos seis sistemas tradicionais da filosofia.
A. Ética: a conduta ideal do indivíduo.
B. Política: a conduta ideal do estado.
C. Lógica: o raciocínio que guia o pensamento.
D. Gnosiologia: a teoria do conhecimento.
E. Estética: A teoria das belas-artes.
F. Metafísica: teoria sobre a verdadeira natureza da existência. Existem filosofias modernas
como da ciência, da história, da industria, do espírito, etc.
1.1. A ORIGEM DA ÉTICA
A ética originou-se (provavelmente) com o primeiro homo sapiens. Antes do início da
filosofia ocidental, as religiões demonstraram uma preocupação com a retidão da conduta humana.
Ilustrações: as doutrinas do julgamento, recompensa, reencarnação, etc. Os filósofos pré-socráticos se
envolveram em considerações éticas. Anaximandro compreendeu que o processo cósmico é
essencialmente um sistema que incorpora justiça, injustiça e reparação. Sócrates (450 A.C.) é
considerado o pai da ética como um sistema filosófico. As primeiras escolas éticas se originaram dos
discípulos dele.
A palava “Ética” origina-se do termo grego, ethos = “disposição, hábito, modo de ser”, enquanto
forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. Já a palavra “Moral”, procede do latim “mos” ou
“moris”, que vem a significar “vontade, costume, uso, regra”, no sentido de conjunto de normas ou
regras adquiridas por hábito. A Ética. “A teoria da natureza do bem e como ele pode ser alcançado”. “A
filosofia de julgamentos morais que declaram a conduta boa, má, certa ou errada. Isto é, o que deve ou
não ser feito”. A definição mais simples, mas expressiva é: A ética é a conduta ideal do individuo.
Comparato, em sua magna obra Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, apresenta-
nos o seguinte conceito:
Na língua grega, o termo ethos (ηθοs), indicam, inicialmente, a maneira de ser ou os hábitos de
uma pessoa; a segunda, os usos e costumes vigentes numa sociedade. Na etimologia, portanto,
encontramos as duas vertentes clássicas da reflexão ética: a subjetiva, centrada em torno do
comportamento individual, e a objetiva, fundada no modo coletivo de vida. Essas duas vertentes
foram cumpridas e exploradas pelo pensamento grego. Na primeira delas, a individual, a regra de
vida proposta foi a virtude; na segunda, a lei.3
1.2. O PORQUE DA ÉTICA
A. Uma necessidade da sociedade. Ilustração: Aristóteles. O alvo da ética é a conduta ideal do
homem, baseada no desenvolvimento de sua virtude especial. Virtude = função dentro da sociedade, para
o bem do indivíduo e da sociedade.
B. Uma necessidade metafísica. Tiquismo contra teleologia. No grego, tuche significa chance,
caos; telos significa finalidade, desígnio. Kant, por exemplo, rejeitou o principio do tiquismo para evitar
a noção de caos. Filosoficamente, devemos escolher entre caos e desígnio, e a nossa ética será governada
pela escolha. O argumento moral dele argumentava que a alma deve existir para permitir um julgamento
certo, pois neste mundo, a justiça raramente se faz. Deus deve existir para julgar e recompensar de modo
justo, porque, neste mundo, isto raramente acontece.
C. Uma necessidade individual. Realmente, é uma questão urgente, porque tudo que fazemos é
auto e/ou heterojulgado (avaliado). Ilustração: Platão. O problema ético é a tensão entre o ideal e a
conduta defeituosa. Segundo a definição de Aristóteles, todas as instituições humanas, de ensino, da
política, do estado, etc., são ramos da ética, porque todas têm alguma coisa a ver com a atuação do
homem dentro da sociedade.
3
COMPARATO, Op. Cit., p. 96.
3
1.4. A Ética e a Gnosiologia
É impossível separar estes dois sistemas. O que você acha sobre como podemos saber das coisas,
determinará, em boa parte, seus conceitos étnicos.
Ilustrações: Racionalismo. O homem, por natureza, é um ser que sabe, sem uma investigação
empírica. Portanto, os princípios éticos podem ser descobertos pela razão. Sócrates tinha fé nesta
suposição. O racionalismo tem a tendência de ser religioso, portanto, os princípios éticos, supostamente
descobertos pela razão, serão religiosos. Misticismo: o conhecimento é um dom de Deus. Portanto, os
padrões éticos são predeterminados pela mente divina. Empirismo: somente a experiência (tentativas de
saber, erros, adaptações) pode determinar os princípios éticos, porque não existe qualquer conhecimento
sem experiência humana. A experiência se baseia nas percepções dos sentidos. A ética,
conseqüentemente, é uma questão pragmática e relativa, sendo que o conhecimento do homem é
governado pelo fluxo das vicissitudes da experiência. Conclusão: A ética é humana, não divina.
1.5. A Ética e a Metafísica
É impossível separar estes dois sistemas. O que você acha sobre a natureza da existência
determinará, essencialmente como você analisa os problemas éticos. Ilustrações: Deus existe, julga e
recompensa? Será que realmente existem pecados mortais como a Igreja fala. A ira, a cobiça, a inveja, a
glutonaria, a lascívia, o orgulho e a preguiça realmente são ofensas sérias como a Igreja declara? A
doutrina da Igreja sobre os pecados mortais é negócio sério. A Igreja tem autoridade para falar estas
coisas?
2. Categorias Principais da Ética
2.1. A Ética Formal
Esta ética também se chama rigorista ou teísta: 1. Declara que existem princípios eternos,
imutáveis, divinos (ou exigências absolutas na natureza ou da lei natural). 2. A aplicação dos princípios
eternos é universal. Não existe uma ética para mim, e outra pra você. 3. É uma ética a priori, não
posteriori. Os valores da ética são inatos, baseados num conhecimento inato. 4. Bases. A intuição, o
racionalismo, o misticismo, a sobrenaturalidade, a justiça absoluta, a teleologia e o idealismo.
2.2. A Ética Relativa ( da situação)
A. A conduta ideal pode ser estabelecida somente através da experiência humana. Ela não
é imposta por uma força exterior, não humana (se tal força existe).
B. A ética é uma experiência ou ciência humana, não um ramo da teologia.
C. Os princípios éticos têm aplicação aqui e agora, não antigamente e para sempre.
D. A conduta ideal (se existe tal coisa), necessariamente varia de um individuo para o
outro dependendo das circunstancias (situações) pessoais e culturais envolvidas.
E. A ética está sempre em estado de fluxo. Os padrões éticos, necessariamente, se
modificam com o tempo e com as exigências diversas de culturas diferentes.
F. A ética é relativa, isto é, sempre sujeita a mudanças. Não existem padrões fixos,
imutáveis ou universais. O que funciona vem pra mim é bom pra mim. O que funciona pra mim, pode
não funcionar para outras pessoas.
G. Todos os princípios éticos são a posteriori.
H. Bases: O empirismo, o pragmatismo, o positivismo, o materialismo, o humanismo, a
ciência.
4
2.3. A Ética dos Valores
Este sistema é um meio-termo entre o apriorismo (ética formal) e o empirismo (ética
relativa).
A. Procura excluir o relativismo radical, mas ao mesmo tempo, ensina que os valores e
imperativos não são vazios, abstratos ou sem significado. Os valores éticos devem ser comprovados na
experiência humana para serem reais.
B. Os valores éticos são constantes e duradouros, mas não eternamente fixos.
C. Eles não são sujeitos às vicissitudes da experiência humana diária. Eles têm valor em si
mesmos: são intrinsecamente valiosos. A consciência humana sabe, intuitivamente (ou racionalmente) os
verdadeiros valores. Ilustrações: a lei do amor é uma constante. Todas as religiões e filosofias honram
este principio. Até Schopenhauer, no seu pessimismo, achou um lugar para a simpatia, outro nome do
amor. Quase todos os sistemas acham que algum conceito de justiça é necessário para qualquer função
razoável de uma sociedade.
D. Os valores tornam-se deveres que devem ser praticados como parte inerente da conduta
ideal.
E. Bases: O racionalismo, a intuição, o misticismo (para alguns estudiosos), o empirismo
(que não é considerado inerentemente contrário ao racionalismo). É aqui neste mundo, onde venço ou
sou derrotado.
3. Os Bens da Ética (alvos da conduta ideal)
3.1. Segundo os conceitos alistados:
A. Egoísmo: O homem, por natureza, é radicalmente egoísta e procura somente o que é
bom para ele, como um indivíduo. O filantropo, o soldado e o herói ajudam outras pessoas por razões
egoístas.
B. Altruísmo: O homem é capaz de ações incondicionalmente altruístas. A natureza
espiritual do homem é uma garantia disto. A lei do amor é uma parte intrínseca da natureza humana.
C. Hedonismo: (de hedoné; em grego, prazer) A única coisa que vale, afinal, é o prazer.
Os prazeres podem ser físicos, mentais ou espirituais. Este sistema procura o máximo de prazer
acompanhado com o mínimo de dor. Aspectos da ética hedonista: a) Todo prazer é intrinsecamente bom;
b) somente o prazer do bem é intrinsecamente bom; c) A bondade de um ato ou experiência depende do
proporcional ou quantidade do prazer que contém.
D. Eudemonismo: (de “eudaimonia” da língua grega, que vem a significar “felicidade”).
A felicidade é o alvo da conduta ideal. Para Platão, a maior felicidade possível para o homem seria a
volta do mundo dos Universais. Para Aristóteles, a perfeita realização de virtude (função) do individuo,
naturalmente traz uma felicidade considerável. Para a Igreja, a felicidade maior será alcançada na visão
beatífica (que vede).
E. Sobrenaturalidade: O homem não existe e nem vive diariamente, por si mesmo. Ele
não é sua própria causa. Sua existência serve para glorificar a Deus. O que acontece a ele é relativamente
indiferente se Deus for glorificado. – Secundariamente, aquele que vive para Deus, alcança (e alcançará)
uma felicidade particular, afinal. Este afinal pode ser distante, mas é seguro.
F. Naturalismo (humanismo): O único objeto da conduta ideal é o próprio homem. Esta
conduta acompanha a evolução da raça e é determinada a posteriori.
G. Utilitarismo e Pragmatismo: Princípios aliados ao naturalismo. O que é útil é bom: o
que não é útil é ruim. O que funciona (é prático) é bom; o que não funciona é ruim. A praticabilidade de
qualquer coisa deve ser comprovada através de um processo de tentativas e erros, com os ajustamentos
apropriados.
5
4. ÉTICA PRÉ-SOCRÁTICA
4.1. Pitágoras
Pitágoras (587-522 a.C.) matemático que conheceu toda a ciência de seu tempo, incluindo
a geometria, astronomia, música e medicina. Ensinou que tudo tem seu número (uma numerologia
antiga), antecipando que de forma elementar, a teoria atômica. Ele acreditava na esferidade da terra.
Idéias Éticas
A. A alma é transcendente; B. Uma justiça absoluta será realizada afinal pela divindade
(ética rigorista, teísta); C. O homem participa do drama cósmico e é responsável pelos seus atos e ações.
4.2. Píndaro (528-438 a.C.), o maior dos líricos corais da Grécia antiga.
Vejamos algumas de suas idéias:
A. Em seu texto Olímpios II, ele postula o conceito interessante de que este mundo e o
vindouro são, reciprocamente, lugares de recompensa e castigo.
B. Ensinava a reencarnação com uma perspectiva ética: A libertação dos ciclos é
adquirida se uma pessoa vive um total de seis vidas rigorosamente justas e úteis.
C. A bem-aventurança imortal espera aquele que houver vivido seis vezes de forma
vitoriosa.
D. Enquanto o corpo de todos os homens é sujeito a morte todo-poderosa, a imagem da
vida (a alma) vive para sempre, porque só ela vem dos deuses.
4.3. Xenófanes
Idéias éticas:
A. Criticou rigorosamente a tudo: o culto dos esportes, a glorificação da força física, o vestuário das
mulheres, as jóias de ostentação, o uso de perfumes, a opulência dos jantares ricos, as bebidas, os deuses
imorais da religião e mitologia gregas, a riqueza e suntuosidade dos templos.
B. Atacou os textos escritos por Homero e Hesíodo (dois grandes escritores gregos).
C. Ridicularizou os deuses formados na imagem dos homens, afirmando que cada nação fazia os seus
deuses-ídolos, com as mesmas características de suas raças ou etnias.
D. Ensinou que o homem é responsável por suas próprias ações e atitudes.
E. Ensinou um certo tipo de monoteísmo panteísta.
4.4. Anaximandro (612-545 a.C.)
Foi aluno de Tales e seu sucessor na escola de Mileto. Apesar de não representar em seus
pensamentos e ensinos uma filosofia ética, compreendia eticamente que o processo cósmico da
humanidade é um processo que incorpora a justiça, a injustiça e a reparação.
4.5. Protágoras (480-410 a.C.)
Ele foi o maior dos sofistas, os primeiros professores a saírem ensinando pelas cidades gregas e
vendendo seus conhecimentos de diversas disciplinas. Vejamos de forma sumarizada as suas
proposições:
A) Sua Gnosiologia: promoveu o ceticismo. A única verdade que um homem pode perceber vem
das percepções. Todavia, elas são enganadoras e não podem ser os padrões fixos de uma suposta verdade
absoluta.
B) Seu Pragmatismo: A única verdade possível para os homens é o que é prático e funcional.
C) Seu Relativismo: O homem é a medida de todas as coisas. Cada homem tem sua própria
verdade. Não existem padrões fixos e extra-humanos.
D) Seu Particularismo: O único padrão da moralidade é o interesse de cada um, ou seja, seu
interesse particular.
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4;6. Sócrates (470-400 a.C.)
Sócrates foi o pai da ética filosófica ocidental. Filho de Sadrônico (escultor) e de Fenáreta
(parteira), tornou-se um parteiro de idéias. Chamou seu trabalho de Maiêutica (que significa o trabalho
da parteira, oriundo da palavra grega µαια). Começou na profissão do pai, porém, diz-se que ele mudou
seu interesse para a filosofia pelo oráculo de Delfos que mandou: Compõe a música. A isto ele
interpretou metaforicamente: música igual a filosofia, porque filosofia era tida como a mais bela música.
Devemos nos lembrar que na Grécia antiga, a filosofia era vista como a religião mais pura.
Bases Fundamentais da Ética Socrática
A) Reagiu contra o ceticismo e o relativismo dos sofistas4
. O ceticismo, segundo ele, prejudica
a busca pelo conhecimento e enfraquece a moralidade. Mais tarde, Santo Agostinho (340-430 d.C.),
filósofo e teólogo, falou do ceticismo como uma escuridão espiritual que destrói a fé e que não deixa os
homens encontrar a verdade. A fé, contrariamente, prepara o solo para a cultivação da verdade.
B) É possível, realmente, adquirir o conhecimento. Falácias de pensamento e erros de conduta
resultam de concepções falsas da verdade. Ilustração: O ato de matar pessoas ou até animais representa
uma fuga da verdade.
C) A verdade absoluta é escondida: 1) pela ignorância humana, 2) pelo conhecimento parcial,
3) pelas perversões ou idéias falsas.
D) Sua antropologia: Tinha idéias dogmáticas nessa área. Dizia ele: O conhecimento é possível
e necessário. Concordava com a inscrição do templo de Apolo, na Grécia: “Conhece-te a ti mesmo”.
E) Sua Gnosiologia: Ensinava que conhecimento do homem precisava incluir estes princípios:
dualismo; a mente universal; a verdade nasce inerentemente no homem, isto é, as idéias são inatas; a
imortalidade, a justiça, afinal será feita: fé absoluta no triunfo da justiça, da verdade e da bondade; a
existência do Espírito Divino, uma crença exigida pelo desígnio no mundo (teleologia); a alma e sua
sobrevivência após a morte, ou seja, depois da morte biológica.
F) Sua Idéia do Universal: O universal mais alto é a bondade. Outras virtudes deveriam ser
vistas como sub-categorias desta.
G) Sua Idéia de Hedonismo: Segundo Sócrates, a conduta ideal é inerentemente prazerosa. O
homem justo alcança um bem-estar que as vicissitudes da vida não podem abalar. Ele sobre uma
hierarquia de prazeres: espirituais, mentais, e finalmente físicos.
H) Sua Teleologia: Segundo Sócrates, existem dons dos deuses, como a luz, a comida, o ar, a
chuva, etc. Todos estes elementos cooperam juntos para sustentar a vida, portanto, o desígnio é um fator
operante na nossa vida. A teleologia implica na existência de um Poder Divino, uma força ativa na vida
humana. Assim, o argumento teleológico, em favor da existência de Deus, nasceu na filosofia.
I) Sua Idéia sobre o Homem como um ser Bidimensional: Segundo Sócrates o homem é uma
criatura bidimensional. A ética, portanto, viria de sua dimensão superior com forças e entidades super-
humanas. A ética pervertida vem da dimensão inferior do mero homem cujos valores podem ser
pervertidos.
J) Sua Idéia sobre a Imortalidade: Era uma crença, mas não um dogma de Sócrates. Acreditava
em uma recompensa justa, e também na necessidade do castigo adequado para julgar atos perversos. O
homem justo é recompensado; o homem injusto é castigado, afinal. Portanto, é melhor e racional, viver
de forma justa. Ensinava a doutrina da virtude pela virtude por causa da virtude, ou seja, que a virtude é
sua própria recompensa, a despeito dos resultados finais de qualquer ação.
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
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Segundo NOWELL-SMITH, em sua obra “Ethics”, (London, England, Penguin Books, 1994, p. 54), “Constituíram um
movimento intelectual na Grécia Antiga, no século V a.C. O sofista reagiu contra o saber do mundo porque o considerava
estéril. Eles se transformaram em mestres que ensinavam principalmente a arte de convencer, ou retórica. Mas a sua arte de
persuadir era desenvolvida e transmitida, pondo em dúvida não só a tradição, mas também a existência de verdades e
normas universalmente válidas. Para eles, não existia nem a verdade, nem o erro, e as normas - poderem humanas – eram
transitórias. Protágoras caiu no relativismo ou subjetivismo (tudo é relativo ao sujeito, (ao “homem, medida de todas as
coisas”), e Górgias sustentava que era impossível saber o que existia realmente e o que não existia.”
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CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
PROF. ANTONIO JOSÉ
SEGUNDA AULA:
“O PENSAMENTO FILOSÓFICO E ÉTICO
DE PLATÃO (428-347 a.C.)”
A natureza da atividade filosófica segundo Platão. A atividade filosófica é realizada para
descobrir o sistema da realidade que é inerentemente imutável. Para a realização desta descoberta, a
filosofia deve olhar além das aparências vacilantes das nossas percepções. A busca deve ser governada
com a precisão da matemática e deve alcançar, afinal, o universal do bem, que é o auge dce todo o
conhecimento e atividade humanos. Sendo que o bem é o maior de todos os universais, e de fato, a fonte
de todos, toda a atividade é em última análise ética. O alvo do conhecimento é o valor, não
simplesmente, o saber.
A Atividade Literária de Platão
Ele escreveu 36 obras, as quais são consideradas autênticas. Os primeiros diálogos (Apologia,
Crito, Eutifron, Fédon) refletem as idéias de Sócrates; os outros desenvolvem as idéias do próprio Platão.
Sócrates era essencialmente ético, mas, além da ética, |Platão desenvolveu elaborados sistemas de
gnosiologia, estética, metafísica e política. As raízes da lógica se encontram em sua dialética. Sua
academia, estabelecida em 387 D.C. foi a primeira universidade da Europa. A filosofia básica desta
escola promoveu: 1) A necessidade da inquirição para alcançar o conhecimento., Platão acreditava na
interdependência inerente das disciplinas. As disciplinas da escola de Platão incluíram todo tipo de
conhecimento: as ciências naturais, astronomia, zoologia, biologia, matemática, dialética e retórica.
Aquela escola produziu os melhores cientistas, matemáticos, filósofos, políticos e advogados daquela
época na Grécia antiga.
Elementos da Gnosiologia de Platão:
Considerações Preliminares
Nenhum sistema da ética pode ser entendido sem considerar os elementos da metafísica e da
gnosiologia do filósofo sendo estudado. Se eu acho o verdadeiro conhecimento e a verdade sobre o
homem e Deus impossíveis, mantendo uma atitude cética, certamente, não vou levar muito seriamente as
regras fixas da ética. Se eu não acredito em um Deus que exige certo tipo de conduta dos homens, então
construirei um sistema ético pragmático e totalmente humano. Se acredito em verdades fixas e eternas,
então construirei a partir delas, as minhas idéias éticas. Se sou teísta, acreditando que Deus tem interesse
na conduta humana e estabelece regras para governar isto, então meu sistema ético vai refletir minha
teologia. A metafísica, a gnosiologia e a ética são integralmente relacionadas.
O Diagrama Ético de Platão
Apresentaremos aqui, da forma categorizada, o diagrama ético de Platão:
1) O Um da filosofia pré-socrática é o bem ou a beleza, como Platão demonstra em seu livro
“Banquete”.
2) Os universais representam uma hierarquia de valores, e são, ao mesmo tempo entidades iguais
a um realismo radical.
3) Em seu diálogo “Leis”, Platão advoga que Deus substitui os universais e eles tornam-se
atributos divinos.
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4) O homem é um ser bi-dimensional. Seu corpo tem afinidade com a matéria e seu espírito com
os universais. Pelas percepções o homem conhece o mundo de fluxo; com a mente, o mundo universal,
imutável. O mundo do fluxo (isto é, o mundo material) é menos real.
5) O verdadeiro homem é imaterial e já existia no mundo, antes de sua peregrinação no mundo
inferior. A alma é uma faísca de Deus e é auto-existente.
6) O mundo físico e material é uma imitação do mundo superior.
7) A unidade da existência: A hierarquia dos universais combina perfeitamente em uma
existência absoluta, transcendente e de perfeita harmonia.
8) O mundo universal é o lar do espírito.
9) A participação da alma no mundo físico e material, segundo Platão, resultou em? fraqueza;
desejo de experimentar; perversão.
10) A participação da alma no mundo material foi uma queda.
11) O problema da ética, é a tentativa de reverter a queda e voltar para o lar.
12) Somente o espírito libertado do obstáculo, prisão e sepulcro do corpo, poderia entender a
verdadeira natureza da realidade. Portanto, a morte é, potencialmente, e realmente, a nossa amiga.
Elementos e Caracterização da Ética Platônica
A Natureza da Ética Platônica:
A) É uma ética formal ou rigorista.
B) O problema ético: O homem como ser racional, não material e bidimensional, deve agir neste
mundo, buscando a conduta ideal deste ser.
C) O significado e valor da vida humana são envolvidos na questão maior da natureza no mundo,
que inclui um futuro além da morte biológica.
D) O que se chama – vida – é espiritual. O mundo dos fenômenos é passageiro e não deve atrair a
nossa demais a nossa atenção. Os prazeres e vantagens do mundo têm suas utilidades, mas não podem
ser o alicerce de uma vida humana. O corpo humano é mero veículo do espírito.
A Alma e Sua Dimensão Sagrada
A) A alma é a essência da vontade, possui auto-movimento. Esta ênfase platônica pode ser
comparada com a conotação do primeiro motor de Aristóteles.
B) A alma é um fragmento da eternidade que está voltando para o seu lar. Esta volta depende da
conduta ideal. A alma se lembra de sua terra nativa e tem saudades. O corpo serve de sepulcro e a prisão
da alma.
C) O princípio da morte deve funcionar todos os dias. Morremos para os vícios e vivemos para o
espírito. Cada dia deve ser uma pequena morte para os apetites do corpo. A morte biológica separa o
corpo do espírito. A pequena morte diária, anula a influência dos apetites do corpo para deixar o espírito
seguir seus ideais.
D) A alma remida, depois de muitas reencarnações, contemplará os Universais (o Deus de
Platão), e será absorvida na Realidade Última.
E) Para Platão, a reencarnação é uma realidade e um dos meios da purificação gradual do
espírito.
A Composição da Alma e a Ética
Para Platão, a alma representa uma tricotomia: O racional, o ânimo e o vegetal.
A) O racional é o espírito puro. A parte racional age segundo ideais nobres.
B) O ânimo (a vontade) é o seu aliado.
C) A parte vegetal da alma é aliada ao corpo e seus apetites.
9
D) Quando a parte racional consegue dominar o corpo e seus apetites, o homem é moderado, e
auto-controlado. Mas quando a parte vegetal domina, o homem é descontrolado, injusto, pecaminoso.
E) O homem que tem uma tensão entre a parte vegetal e racional, é um homem injusto, e está
sujeito a repetidas reencarnações.
F) O homem que tem resolvido suas tensões, sendo controlado essencialmente pela parte
racional, está perto do fim de seus ciclos terrenos,e pronto para voltar ao seu lar de perfeita beleza,
harmonia e justiça.
Para Platão, toda lei tem um fundamento transcendente, que é a própria divindade. Deus é a
"norma das normas, medida das medidas" (ibid, p. 1341). Na República, o princípio universal supremo
é a idéia do Bem, que agora, nas Leis, acaba por coincidir com a própria mente divina. A divindade se
apresenta como o legislador dos legisladores, mantendo com o homem uma relação eminentemente
pedagógica: assim como toda boa fonte sempre faz jorrar águas saudáveis, Deus sempre prescreve o que
é justo; Ele é, portanto, o "pedagogo universal" (ibid, p. 1343). O governo proposto por Platão em As
Leis é um sistema que combina elementos da aristocracia e da democracia. A administração do Estado é
exercida por diferentes escalões de funcionários, acima dos quais figura o Conselho Noturno, composto
pelos servidores mais idosos e notáveis. Este Conselho não é eleito pelos cidadãos, mas seus membros
podem ter sido escolhidos, por via eletiva, para ocupar os cargos públicos que antes exerciam. As
principais funções do Conselho Noturno são:
1. desenvolver estudos filosóficos visando a mais completa compreensão das leis que regem o
Estado
2. Fazer intercâmbio com filósofos de outras cidades a fim de aprimorar as leis existentes em
"Magnésia"
3. Zelar para que os princípios filosóficos e legais respeitados pelos conselheiros no exercício de
suas funções se difundam para o conjunto dos cidadãos.
Segundo Jaeger (op. cit.), embora surpreendente em alguns aspectos, a proposta político-
pedagógica de Platão não se modifica substancialmente em relação a que fora apresentada na República
porque os conselheiros cumprem papéis análogos aos dos guardiães: são os supremos defensores e os
principais difusores da virtude. Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o
verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade das opiniões, tendo
como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, "ver a imagem fundamental, universal e imutável
das coisas: a idéia".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JAEGER, Werner. Paidéia – A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
PLATÃO. La République. Paris: Garnier-Flammarion, 1966.
______. The Laws. London: Peguin Books, 1975.
BIBLIOGRAFIA
ANDRADE, Rachel Gazolla de. Platão: O Cosmo, o Homem e a Cidade. Petrópolis: Vozes, 1993.
CHATELET, François. El pensamiento de Platón. Barcelona: Nueva Colección Labor, 1973.
KOYRÉ, Alexandre. Introduction à la Lecture de Platon. Paris: Gallimard, 1962.
OLIVEIRA, Renato José de. Utopia e Razão: pensando a formação ético-política do homem
contemporâneo. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
PROF. ANTONIO JOSÉ.
TERCEIRA AULA:
“A ÉTICA EM ARISTÓTELES”
Elementos da Ética Aristotélica
Introdução Biográfica
Filósofo grego (384-322 A.C.). Nasceu em Estagira, na Macedônia, filho de Nicômaco, médico
do rei. Com dezoito anos ingressou na academia de Platão, tendo sido por ele chamado de “intelecto”.
Ali Aristóteles estudou durante cerca de vinte anos. Por ocasião da morte de Platão, um parente deste, e
rival de Aristóteles, foi nomeado para chefiar a academia e Aristóteles decidiu deixar a cidade de Atenas.
Tornou-se então tutor de Alexandre, o Grande, filho de Filipe, rei da Macedônia. Em 333 A.C., ele
regressou a Atenas e fundou o seu Liceu. O rei Alexandre prestou-lhe apoio moral e financeiro. Contudo,
quando o rei Alexandre morreu, em 323 A.C., houve uma onda de antemacedonismo, e Aristóteles teve
que abandonar novamente Atenas, receoso que o matassem ou o condenassem à morte. Ele veio a
morrer no ano de 322 A.C.
Seus Escritos
1) “No Campo da Lógica”; 2) “Organon e as Categorias”; 3) “Sobre Refutações aos Sofistas”; 4)
“Física”; 5) “Sobre os Céus”; 6) “Geração e Corrupção”; 7) “História dos Animais”; 8) “Sobre as
Partes dos Animais”; 9) “Sobre o Movimento dos Animais”; 10) “Sobre a Progressão dos Animais”;
11) “Sobre a Alma”; 12) “Metafísica”; 13) “Magna Moralis”; 14) “Constituição de Atenas”; 15)
“Retórica e Poética”; 16) “Ética a Nicômaco”.
A Felicidade
A) A felicidade se realiza pela forma de um ser social que cumpre o seu papel ou dever, através
de uma realização absoluta para o bem de um todo, e não somente de forma particulariza.
B) Para a realização máxima do dever, cada pessoa precisa descobrir e desenvolver a virtude.
Virtude é igual a função. Cada pessoa deve cumprir bem sua função na sociedade ou na polis.
C) O homem justo é aquele que desenvolve ao máximo as virtudes inerentes na natureza
humana.. O dever de cada indivíduo é de desenvolver ao máximo a sua função, e isto é o alvo da vida.
Exemplo: Todos os membros do corpo tem uma função especial ou específica, mas todos cooperam para
promover a ação e o bem-estar da totalidade. Todas as atividades humanas representam virtudes
potenciais.
O Bem Supremo
A) A virtude da intelectualidade é o bem supremo. A intelectualidade, na expressão mais elevada e
nobre é a contemplação.
B) Todas as ciências são instrumentos da contemplação. Os meios principais da contemplação são as
belas artes(a estética), as ciências, a ética, as qualidade de prudência, sabedoria, iniciativa e razão.
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O Caminho da Virtude
A) Também como expressão da confluência, na obra de Aristóteles, de toda tradição anterior de reflexão
sobre “as coisas humanas” é a doutrina da virtude como um extremo que está no meio.
B) A definição aristotélica da virtude como um estado habitual de decisão, que consiste no justo meio
relativo a nós cuja norma é a regra moral, isto é, aquela mesma que daria o sábio, traduz uma
extraordinária simbiose de três aspectos: A) objetivos; B) o justo meio; C) Subjetivos. Tudo isto é
relativo a nós, na doutrina da virtude moral.
Diagrama das Doze Virtudes de Aristóteles
Vícios de Deficiência O meio-termo Áureo Vícios de Excesso
1. Covardia 1. Coragem 1. Imprudência
2. Apatia 2. Moderação 2. Licenciosidade
3. Liberalidade 3. Liberdade 3. Prodigalidade
4. Baixeza 4. Magnificência 4. Vulgaridade
5. Servilidade 5. Magnimidade 5. Vaidade
6. Falta de diligência 6. Diligência 6. Excesso de ambição
7. Falta total de gênio 7. Gentileza 7. Irascibilidade
8. Depreciação 8. Auto-Avaliação 8. Ostentação
9. Rustilidade, grosseria 9. Sabedoria no falar 9. tagarelice
10. Espírito Contencioso 10. Amizade 10. Lisonja, Demagogia
11. Insensatez 11. Modéstia 11. Timidez
12. Malignidade 12. Inocência, pureza 12. Inveja
Características da Ética de Aristóteles apresentadas
Em seu livro “Ética a Nicômaco”
Conforme as palavras de Perine, em sua obra “Quatro lições sobre a Ética de Aristóteles:
“A “Ética a Nicômaco” está inserida na literatura mundial, como uma das mais extraordinárias e
prodigiosas obras que o gênero humano já produziu”.5
Desta forma, faremos aqui alusão a algumas características do pensamento de Aristóteles
presentes nesta magnífica obra e sua visão sobre o homem.
A) Em primeiro lugar, a compreensão de que o homem é a sua alma. Isso posto, leva a uma
compreensão do corpo como instrumento e não como obstáculo para a alma, estabelecendo assim uma
relação de interesse e de proveito entre os dois. O homem é, portanto, visto como um composto de
5
PERINE, Marcelo. Quatro Lições da Ética de Aristóteles. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2006, p. 11.
12
desejo razoável e de razão desejante. Aqui está o fundamento da moral de Aristóteles, quer pode ser
resumido assim: “é porque nós somos o nosso espírito, e porque o corpo é para nós um outro, que toda a
moral consiste em viver a vida do espírito e não a vida deste outro”.6
B) Uma segunda característica da antropologia de Aristóteles na qual se recolhe toda a tradição
anterior é a sua concepção da felicidade como um bem que é o fim de tudo o que está relacionado com as
“coisas humanas”. Aristóteles empenha-se, desde o início da sua reflexão, em mostrar que a felicidade é
o bem que todos buscam na vida e, assim, é o fim ao qual deve tender toda a nossa vida.
C) Em terceiro lugar, ele apresenta a felicidade como um dever, porque o homem só é feliz quando
realiza o fim para o qual existe, o fim que lhe prescreve a razão (Deus) como tarefa de ser do homem.
Com efeito, a tarefa de um ser é aquela para a qual ele é feito e que, sendo o seu fim, define a sua
essência.
Sua Argumentação Teleológica
A) Para que qualquer coisa suceda, ou seja levada a bom termo, deve haver movimento.
B) Se existe movimento deve haver um movedor Primário, ou seja, uma causa primária do
movimento. Esta entidade chama-se Movedor Primário ou inabalável.
C) Trata-se de uma força cosmológica. Na realidade, o Deus da concepção de Aristóteles
seria uma força impessoal.
D) Este Movedor Inabalável, chamado Deus, é a forma pura, existe independente da matéria,
move todas as coisas, sem ser movido por elas.
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
6
R. A. GAUTHIER. La Morale d’Aristote. Paris, PUF, 1963, p. 45.
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CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
Prof. Antonio José
Assunto temático da aula:
A QUESTÃO ÉTICA E OS CONCEITOS DE
“FINITUDE E INFINITUDE”
Introdução
O TERMO: A Palavra portuguesa vem do latim “finis”, “fim”, referindo-se a qualquer coisa que
tenha fronteiras, fins ou limitações. A palavra finitude, usada no sentido básico que é comum tanto para
a teologia quanto a filosofia. A finitude é tida como aquela substância que não pode existir por ela
mesma e nem através dela.
Muitos filósofos defendem a tese de que não possuímos conceitos do infinito, visto que a nossa
experiência, neste mundo, é sempre finita, limitada. Assim, o termo “infinito” significaria, na verdade,
“grandíssimo”, “muitíssimo”, etc. O finito é o nosso conceito básico, de tal modo que só pensamos em
infinito quando não podemos ver o fim de qualquer tipo de série. Portanto, afirma-se que a palavra
infinito alude à nossa incapacidade de compreender uma série. Alguns têm-se utilizado da palavra
“infinito” a fim de referirem à totalidade de alguma coisa.
A palavra “Infinito” vem do latim, “in”, “não”, e “finis”, “limite”, “fim”. Às vezes envolve as
idéias de interminavelmente grande, permanentemente dotado de indescritível magnitude, sem limites
no tempo e no espaço. Dentro do infinito cabem considerações sobre séries infinitas e sobre algum ser
infinito como algo tão grande a ponto de ser incomensurável, sem limites, todo abrangente, absoluto.
Mas, outras vezes, apenas exageramos na linguagem por pleonasmo, como quando dissemos: “Ele foi
infinitamente paciente sobre a questão”. Também podemos pensar no infinitamente numeroso que não
podemos contar.
1 - A IDEIA DE “FINITUDE” E “INFINITUDE”
NA FILOSOFIA
Devemos esclarecer que a filosofia moderna tem mostrado a “infinitude” como um termo
negativo, e não positivo, se insistirmos na ênfase e definição primária de “finitude” como um número
infinito, o espaço infinito, um poder infinito, etc.
Assegura-se que não temos qualquer experiência com qualquer tipo de “infinitude”. A mente
humana é incapaz de conceber uma série infinita, o espaço infinito, o poder infinito, etc. Portanto o que
se quer dizer por “infinitude” é algo muito grande, muito numeroso, muito extenso, muito poderoso, etc.
Em outras palavras, a palavra “infinito” passa a ser apenas um sinônimo de “muito” e “imenso”, de uma
maneira incalculável para nós. Mas, quando designamos algo de “infinito”, para além dessas
especificações, então estamos apenas propondo uma proposição negativa. Por exemplo, dentro desse
contexto, quando chamamos “Deus” de “infinito”, na realidade não sabemos o que isso significa. Isso
posto, ou estamos dizendo que Deus é muito grande, muito poderoso, etc., ou estamos dizendo que
“Deus está acima de minhas categorias de intelecção”. Portanto, empresta-se o termo “infinito” a
qualquer objeto sobre o qual não temos coisa alguma de conclusivo para dizer, embora sintamos que
estamos abordando algo verdadeiramente grande ou extenso.
14
No pensamento platônico, contudo, finitude poderia referir-se a maneira distorcida em que a
substância poderia refletir ou participar de suas formas. Finitude e temporalidade são virtualmente
sinônimos em tal visão.
Anaximandro, filósofo pré-socrático, ao tentar explicar o elemento do qual todos os demais se
derivam, postulou o conceito do “apeiron”, ou seja, “ilimitado”; e assim inventou uma forma de
infinitude. Parte de seu ensino parece ter consistido em especulações sobre o tempo e o espaço infinitos.
Outros filósofos pré-socráticos, tais como Pitágoras, Anaxágoras, Empédocles, Demócrito e
Heráclito, referiram-se à interminabilidade do espaço e do tempo. Zeno de Eléa, procurou mostrar que
os conceitos de “infinitude” colocam-nos em meio a paradoxos e dilemas sem solução.
Aristóteles (384-322 a.C) procurou definir o termo “infinito”. Ele falava sobre infinitude em
potencial, na questão da divisibilidade infinita, bem como sobre infinitude mediante indeterminada
adição. Ele discursava sobre “infinita” série da causas, pondo-a no lugar da primeira causa. O tempo é
apresentado como uma forma de série “infinita” , porquanto incorpora uma série sem fim.
O conceito de “infinitude” subentende –um Ser Infinito-, cujas propriedades seriam
independência, eternidade e potencialidades tais que pudessem causar movimentos, pondo todas as
demais coisas em atividade. Aristóteles ensinava que Deus, ou o motor imóvel, era a causa primária de
toda a existência finita. Ele é a realidade total, e a Ele falta toda e qualquer potencialidade; de outra
forma haveria a necessidade de alguma coisa prévia a Ele para torná-lO real. A concretização de alguma
coisa potencial envolve mudança. Visto que Deus é pura realidade, Ele deve ser imutável, eterno e
imaterial, porque a matéria é uma forma de potência. Sendo imaterial, dizia Aristóteles, Ele é uma
mente, não depende de objetos externos para a reflexão, mas contempla Sua própria existência perfeita.
Ele declarou que seu deus, esse Movedor Inabalável, é a causa de todas as coisas. E todas as
coisas seriam movidas pelo Movedor Inabalável “sendo amadas por ele”. Aristóteles indicava com isso
alguma força cósmica que, poeticamente, ele denominava de “amor”. A metafísica de Aristóteles, por
outro lado, concebia o finito como aquilo que requereria uma causa final completamente ativa para
nortear isto em torno da total realização de sua própria forma.
Para Aristóteles, isso não precisaria resvalar para a desvalorização do mundo material como se
fosse um todo carente, mas, pelo contrário, o conceito da “participação ou da unidade” poderia ser
interpretado também como marca do existente de maneira finita.
A filosofia colocara, pela descoberta do Ser pensado como imóvel (Parmênides, fragmento 8), a
pedra fundamental para a distinção entre uma esfera própria do “ente que é verdadeiramente”, que foi
pensado como em si eterno, infinito, imutável, necessário e perfeito, e o mundo do ente finito que se
considerou como em si limitado, mutável, dependente e imperfeito e que somente em virtude de sua
participação naquele Ser infinito é que se podia conceber como existente.
O mundo do infinito determinava-se mais precisamente como esfera puramente espiritual, ao
passo que se via o princípio da “finitude” precisamente na materialidade. Como pensar, porém, a
harmonia e ordenação das duas esferas entre si?
Platão (427-347 a.C.) fala do conceito da participação do “finito” do infinito, e, ainda mais forte
e complexo, o conceito de Aristóteles da unidade substancial da forma imaterial e do elemento material
em todo ente finito.
O neoplatonismo absorveu os conceitos de “infinitude”, discutidos por Platão, aplicando-os a
Deus, o possuidor da “real infinitude”, ao mesmo tempo em que a matéria teria apenas “infinitude” em
potencial. A alma individual voltaria ser absorvida pelo “infinito”.
René Descartes (1596-1650) afirmava que a idéia de “infinitude” pertence à mente humana
como uma intuição inata, anterior mesmo aos conceitos de “finitude”. Ele supunha que uma idéia sobre
qualquer coisa alicerça-se sobre a mesma idéia, mas existente em forma ilimitada no Ser divino. Em
outras, palavras, o “finito” só encontra sua razão de ser no “infinito” que o originou.
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), como um característico filósofo do século dezessete,
tentou reformar o escolasticismo sob a luz de uma nova ciência física. Em sua Monadologia (1720),
Leibniz afirma que matéria consiste de átomos, mas argumenta que além dos átomos físicos divisíveis, e
15
por baixo deles, estão átomos metafísicos indivisíveis. A estes centros espirituais de força ele chamou
de “mônadas”. Estas mônadas são independentes entre si, mas são levadas a uma organização racional
mediante uma harmonia predeterminada, planejada pela mente e vontade de Deus. Seu sistema permitia
que ele defendesse as provas tradicionais da existência de Deus e sustentasse alguns princípios
escolásticos que haviam sido atacados por outros filósofos.
Ele dizia que somente uma mente “infinita” poderia apreciar a total pluralidade das coisas nelas
mesmas; uma mente “finita” os percebe parcialmente, até quanto podem ser percebidos no ser físico de
um corpo organizado de membros. A mente finita conhece o universo, até onde este é expressado em
seu corpo. Portanto, o Ser divino ao qual o universo obedece e depende para existir, possui a natureza
de escolhas ou decretos.
As coisas finitas, se elas existem, precisam adequar-se à dependência da natureza divina. Para
ele, a mente finita nada mais é do que uma sucessão de operação pessoal de percepções, idéias ou
representações. Com isto, ele quer indicar a falha de nosso poder de analisar a ordem do mundo.
Leibniz estava simplesmente analisando a natureza e achou-a ser um sistema de mútua representação;
ele estava analisando a mútua representação e achou-a ser sua natureza intrinsecamente pré-
estabelecida, e portanto, dependente de Deus. Embora fosse um racionalista, Leibniz denunciou a
filosofia de Spinoza, denunciando-a como um ataque contra a imortalidade pessoal e por não deixar
lugar para o propósito e a criatividade divinos. Leibniz considerava Deus como um Ser livre e racional,
um Ser que poderia Ter criado qualquer tipo de mundo que desejasse.
Desde os séculos dezessete, e particularmente desde a crítica de Imanuel Kant (1724-1804) ao
que ele chamou de teologia metafísica, a doutrina da criação tem sofrido grandes ataques e a doutrina
da trindade tem sofrido um tipo de limbo, pelo menos no mundo filosófico. Como resultado, a filosofica
e trágica idéia de finitude tem sido assimilada por muitos pensadores.
Imanuel Kant situava o conceito de “infinitude” entre suas antinomias, ou seja, leis ou
pressupostos que são contraditórios e irreconciliáveis (primeira antinomia: Crítica da Razão Pura,
1781). A palavra “antinomia” significa “contra a lei”. Duas conclusões opostas, ambas as quais parecem
válidas quando vistas independentemente, entram em choque, quando postas em confronto. Assim, o
determinismo e o livre-arbítrio são antinomias; e a “infinitude” e “finitude” também o são. A palavra
antinomia é um vocábulo antigo para o que chamaríamos de paradoxo ou contradição. De acordo com
Kant, não podemos pensar no mundo empírico como um “dado todo”, visto que dessa premissa segue-
se, com igual necessidade, a asserção e a negação da infinita divisibilidade do espaço e do tempo.
Assim, poderia defender-se um mundo “finito” ou outro um mundo “infinito”, um Deus “finito” ou um
Deus “infinito”, um universo causado e um universo sem qualquer causa.
Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), o termo “infinito” aplica-se com razão ao
Absoluto, à totalidade da existência, ao passo que o termo “finito” aplica-se a qualquer parte do
Absoluto ou totalidade da existência. Ele falava em termos de processos. O verdadeiro “infinito” é a
síntese do abstrato e do concreto, do universal e do particular. Hegel foi o mais influente dos idealistas
alemães. Na opinião dele, apenas a mente é real: tudo o mais é a expressão da mente. A filosofia veio a
ser um tipo de teologia para Hegel, porque via toda a realidade como expressão do Absoluto, que é
Deus. Tudo quanto existe é expressão da mente divina.
De acordo com Hegel, a significância da criatura finita, e particularmente do homo religiosus,
descansa como em um movimento dentro de Deus. George Hegel apontou na sua filosofia da religião e
da história para o problema do mal como sendo um problema espiritual da finitude. Por um lado,
opinava Hegel, o espírito do homem, precisamente porque só pode tornar-se consciente de si mesmo no
finito, precisaria captar sua própria finitude, com infinita energia, no ato de se tornar consciente. As
interpretações sobre Hegel variam grandemente. Muitos consideram que seu cristianismo “filozofizado”
é herético, um tipo de panteísmo. Para outros, o sistema de Hegel é uma tentativa sincera de articular a
verdade cristã na linguagem filosófica.
Uma atitude semelhante para com o finito é expresso na concepção de Martin Heidegger
(1889-1976) da existência humana como algo completamente dentro do poder da morte, e totalmente
dependente de significância sob o conhecimento da morte como sua possibilidade suprema. Heidegger
esboçou sua hermenêutica existencial, segundo a qual a existência do homem projetava-se visando a um
possível seu mundo juntamente com as circunstâncias relacionais do ente finito. Ele concentrava-se na
16
revelação da existência dentro das suas expressões históricas. Seu alvo era desvendar aquilo que estava
oculto dentro da temporalidade da nossa existência.
Em seu livro “Being and Time” (Existência e Tempo), Heidegger caracteriza como inautêntica a
existência de todos os dias. Segundo ele, nós achamos jogados em nosso mundo, em nosso universo
mental. Cada um de nós, nosso eu e nosso mundo são inseparáveis. Como resultado, não é possível
descobrir a vida genuína. Para Heidegger, há um único estado de ânimo que leva os seres humanos ao
genuíno conhecimento de si mesmo e para longe da traição a si mesmo: este é o pavor. Em lugar de nos
concentrarmos em objetos específicos no nosso mundo, devemos desenvolver um senso do nada
enfrentando a estrutura da nossa finita existência no mundo.
Embora Heidegger não fosse um teólogo, expressava preocupação religiosa nos seus escritos. Há
um constante enfoque em nossa “finitude e morte”. A consciência da morte leva à autêntica existência.
Desenvolvemos nosso senso do nada ao enfrentarmos a morte: a plenitude é achada na “existência para
a morte”. A morte chega a nós como indivíduos; ao enfrentá-la, não nos perdemos na multidão. Além
disso, a nossa vida desenvolve uma unidade quando focalizamos seu fim.
2 - O USO DOS TERMOS “FINITUDE” E “INFINITUDE”
NA FÉ CRISTÃ
Deve-se reconhecer, não obstante, que no contraste de finitude e infinitude, no pensamento grego
está contida a idéia da “infinita resignação” em todo finito. O finito carecia do caráter de absoluto,
faltava-lhe a perfeição do infinito. Ele era, na linguagem da filosofia cristã, apenas ser criado e não ser
divino. Dentro dos conceitos teológicos, somente Deus é infinito. Todas as outras coisas e seres são
limitados, ou seja, são finitos. Isso posto, na linguagem teológica, “finito” representa a existência de
todas as coisas criadas.
Que afinal existia ser criado devia-se, em consequência deste enfoque e em conformidade com a
interpretação cristã ulterior, à tríplice ação de transcendência da parte de Deus, que, (1) transcende
existencialmente de maneira infinita de todo ser criado; (2) transcende ontologicamente entre as
realidades das perfeições de Deus em si infinitas e o ser criado finito; (3) transcende como ser
independente e imutável da criatura finita e mutável. Em outras palavras, todo ente finito existente é
marcado por contingência natural do seu existir, na sua natureza e na sua existência individual, e só
existe em virtude do absoluto poder criador de Deus enquanto ente infinito.
No platonismo, a visão teológica da criatura inclui o reconhecimento da distorção essencial da
criatura. Só dentro do contexto das doutrinas da trindade e da criação pode esta queda ser reconhecida
como significante.
Em contrapartida a estes postulados, o entendimento teológico distintivo de finitude foi
enfatizado primacialmente por Agostinho, teólogo da Patrística (354-430), em sua concepção de
finitude ou servilidade da criatura, conceitos inseridos em suas famosas obras Confissões e “De
Trinitate”. O gênio de Agostinho tornou-se possível através do longa e dolorosa luta da Igreja para
articular a doutrina trinitária e a completa significância do axioma teológico “Creatio ex nihilo”, o qual
ele tão devotadamente trabalhou e elaborou.
A doutrina Cristã da criação ex nihilo posiciona a própria pessoa como essencialmente criatura,
como finita ou dependente de Deus. Diferentemente de Aristóteles que derivou as boas qualidades do
finito de sua aproximação da perfeição divina ou divino ser, Agostinho derivou as boas qualidades da
criatura da luz criativa de Deus, do seu amor comunicável, não de sua perfeição. Numa visão similar,
Agostinho deriva a vitalidade e a forma da criatura da mesma fonte, mas é a crença que em Deus como
triuno, como a fonte do ser, o logos e amor, que habilita Deus a criar ex nihilo. Para Agostinho, Só é
possível obter uma realística visão da criatura, somente se o poder (Deus), o logos (o Filho) e a
qualidade relacional e comunicativa (O Espírito Santo) estiverem envolvidos na luz criativa.
Nos escritos de Tomás de Aquino ( 1225-1274) encontramos uma adaptação das idéias de
Aristóteles. Assim como Aristóteles, O centro da metafísica de Aquino é a distinção entre essência e a
existência em todos os seres finitos. Aristóteles tinha distinguido entre a realidade e a potencialidade.
Assim, a premissa central do pensamento é: “o ato passivo”. Só Deus é ato puro (ou atualidade) sem
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forma. Somente Deus é existência. Tudo o mais tem existência. A essência de Deus é idêntica à Sua
existência, existir é da essência dEle. Deus é um ser necessário. Ele não pode não existir. Nem é possível
que Deus se altere, visto que ele não tem potencialidade para ser outra coisa senão Ele mesmo. Ele é
“infinito”, visto que um ato puro como tal, é ilimitado, e não tem potencialidade para limitá-lo.
Aquino acreditava que em Deus é que residiria toda “infinitude”, positiva e absoluta. Por ocasião
da criação houve uma “infinitude” potencial. Deus é chamado em “Summa Theologica” de “infinito
oceano do Ser”, e todas as criaturas razão de sua existência nele, podendo vir a participar de seu Ser, por
meio da redenção em Cristo. Deus criou o mundo do nada (ex nihilo). O tempo não existia antes de Deus
criar – somente a eternidade. Devemos conhecer o aspecto finito de toda criatura e aplicar o significado
de Deus de modo ilimitado.
A metafísica ocidental de cunho cristão pertinentemente ressaltava que todo ente finito recebeu
sua existência, seu valor e sua dignidade mediante a ação criadora de Deus. Contudo, estava fundado na
tensão deste enfoque cristão o pendor de uma outra ênfase, a filosófica, que podia caracterizar o mundo,
em virtude de sua finitude e materialidade, como em si inconsistente, impotente, cheio de sofrimento e
mau em si, a se confrontar deste posicionamento ateísta com toda a teologia cristã, como se ela
constituísse desprezo para com o mundo.
O teólogo e Filósofo Soren Kierkegaard introduziu na teologia os conceitos psicológicos de
ansiedade e desespero, e, d’alguma forma, preparou o caminho para o tratamento que o teólogo Paul
Tillich (1886-1965) deu de finitude, quando à ansiedade é atribuída uma raiz ontológica. Tillich define
finitude como uma combinação da existência e da não-existência. Para Ele, a ansiedade é uma das
marcas irrefutáveis de finitude.
Paul Tillich sugere que nós façamos a distinção de três tipos de ansiedade de acordo com as três
direções nas quais inexistência ameaça a existência. A consciência dessa tríplice de ameaça é a
ansiedade aparecendo em três formas: ansiedade por causa da morte (ansiedade da morte), por causa do
vazio e falta de significado (ansiedade da falta de significado) e ansiedade por causa da culpa e
condenação (ansiedade da condenação).
Tillich observa que a ansiedade da morte cresce com o crescimento da individualização da
sociedade, e que as culturas mais coletivas são menos abertas, ou seja, sofrem menos deste tipo
de ansiedade. O termo “destino” para este grupo de ansiedades, afirma Tillich, enfoca um
elemento que é comum a todos eles; Seu caráter contingente, sua imprevisibilidade e a
impossibilidade de mostrar seu significado e propósito.
A morte permanece por trás do fato e suas contingências, não somente no momento de perda
quando alguém cortado de sua existência, mas também em cada momento dentro da existência. È a
impressão da transitoriedade universal e a experiência da morte na consciência sempre latente de nosso
próprio ter que morrer que produz ansiedade, e a ansiedade é finitude, segundo pensava Ele.
Tillich argumenta que Deus deve ser considerado o fundamento da existência, sendo conhecido
pelo homem com a preocupação última. É mediante a participação desse fundamento da existência que
o homem recebe a sua própria existência. O homem deve enfrentar a inexistência. Quando ele assim
fizer, e corajosamente se firmar diante da inexistência, ele expressará a preocupação última. A “nova
Existência” para o homem é Jesus Cristo. Quando Jesus Se sacrificou na cruz, tornou-se transparente
para o fundamento da existência, isto é, o Cristo, a “Nova Existência”.
3- A “FINITUDE” E “INFINITUDE” E A
QUESTÃO DO MAL FÍSICO
É difícil exagerar a importância da doutrina do homem. Naturalmente, tem sempre sido verdade
que uma das mais importantes questões a qual o filósofo endereça a ele mesmo é, “o que é o homem”?
Em um dos seus diálogos, Platão caracteriza o seu mestre, Sócrates, como um homem obstinado com
uma idéia central em sua procura pela sabedoria: “conhecer ele mesmo”.
Hoje, todavia, esta questão acerca do homem está sendo interpelada com uma nova urgência.
Existem algumas razões para isso. Uma é que, desde Imamnuel Kant, o problema da epistemologia
(Como nós conhecemos e nos conhecemos) tem se tornado primacialmente relevante, enquanto que o
18
problema da ontologia (O Que é o Ser Supremo) tem se tornado secundário. O surgimento do
existencialismo como uma filosófica, teológica e literária maneira de pensar, tem trazido uma nova
ênfase.
Agora, contudo, o humanismo está em apuros. As duas grandes guerras mundiais, adicionadas as
atrocidades levadas a efeito pelo regime nazista, pelos sérvios na Bósnia, pelos tutis e hutus na África,
pelos talibãs no Afeganistão, tudo isso tem em muito abalado a crença humanista na bondade básica do
homem e na significância das virtudes e valores inatos do homem.
Em contrapartida, tem aparecido uma nova onda de “nihilismo” (a rejeição total da moralidade,
da tradição, da autoridade e da ordem social), negando todos os valores humanos e falando da falta de
significado da vida.
Entre os fatores que ameaçam os valores humanos hoje estão os seguintes: A crescente
supremacia da tecnologia; o crescimento dos métodos de produção em massa; o profundo impacto da
mídia sobre a massa. Estas entre muitas outras, são forças que tendem a despersonalizar a humanidade.
Novos desenvolvimentos nas áreas da biologia, psicologia e sociologia crescem a possibilidade da
manipulação das massas somente por alguns. Práticas tais como inseminação artificial, bebês de
proveta, aborto, controle químico do comportamento, eutanásia, engenharia genética, tem servido para
levantar questões acerca da dignidade da vida humana. Além de tudo isso, há de se adicionar ainda
questões como “racismo, o problema da alienação, o problema da igualdade entre os sexos, o crescente
desrespeito a quaisquer tipos de autoridade, a profunda disparidade social, e a aviltante situação humana
em muitas partes do mundo. Diante de tudo o que vimos, nós podemos enxergar claramente porque a
questão “O que é o homem?” tem adquirido uma nova urgência hoje.
O problema do homem tem, portanto, se tornado um dos mais cruciais problemas de nossos dias.
Filósofos estão lutando com o aludido problema; sociólogos estão tentando compreendê-lo; psicólogos
e psiquiatras estão enfrentando-o; etnicistas e ativistas sociais estão tentando resolvê-lo. Cineastas,
novelistas e dramaturgos estão também preocupados com a mesma questão. Virtualmente, cada filme
contemporâneo, novela e peça teatral, trata com a questão, “o que é o homem?”
O que alguém pensa acerca do ser humano é de determinante significância para o seu programa
de ação. O projeto marxista foi alicerçado na concepção que possuíam acerca do homem. O recente
movimento feminista é também embasado em um certo entendimento da pessoa humana,
particularmente da relação entre homem e mulher.
Pode-se distinguir vários tipos de antropologias, cada uma com pontos de vista distintos:
1) A antropologia idealística considera o ser humano como sendo basicamente “espírito”.
Para os seus apologistas, o corpo físico é estranho à sua real natureza. Acha-se esta visão
na antiga filosofia grega. De acordo com Platão, o que era real acerca do homem era o seu
intelecto ou razão, e que continuava após a morte do corpo.
2) Mais comum ainda em nossos dias é o conceito antropológico oposto ao anterior. Na
perspectiva dessa posição, o homem é composto de elemento material; sua mente, emoção,
e vida espiritual são simplesmente sub-produtos dessa estrutura material. Por exemplo, a
visão Marxista da determinação da história, descansa sob uma visão materialista e
naturalista da natureza humana. Para o Marxismo, o homem é simplesmente um produto da
natureza. Os seres humanos são partes de uma estrutura social; o mal levanta-se e surge
desta estrutura e pode ser eliminada somente pela mudança da referida estrutura. O
indivíduo não é primariamente responsável pelo mal que ele possa fazer, a sociedade sim;
o ser humano não é importante como indivíduo; ele é importante somente como membro
da sociedade.
3) Um outro tipo de antropologia materialista muito influente hoje, subjaz inserido nos
escritos de B. F. Skinner. Em seu livro “Beyond Freedom and Dignity” Skinner mantém
que a idéia que o ser humano é responsável por seu comportamento, está alicerçado em
uma tradição que não é mais aceita cientificamente. A determinação do comportamento
precisa ser mudado para o que ele chama de “homem autônomo” para o meio ambiente.
Não existe no homem nem liberdade nem dignidade. A atividade humana é totalmente
determinada pelo meio ambiente; se o meio ambiente fosse perfeitamente conhecido, o
comportamento humano seria completamente previsível.
19
CONCLUSÃO
Muitos antigos filósofos e pensadores viram na materialidade a causa principal para as variadas
carências existentes no mundo, e na verdade inúmeros sistemas religiosos e filosóficos defenderam esta
concepção. Exemplificando, as doutrinas hindus de redenção do bramanismo e do budismo tentaram
romper com a causalidade retributiva do carma (defendido por outros) e libertar de um mundo finito,
que em consequência da prisão da materialidade exterior é tido como profundamente marcado pela
doença, pobreza e morte.
Ainda outros afirmam que a finitude de todo ente que existe materialmente, vê-se em inúmeros
seres individuais que, levados pela fome e em luta pelo espaço necessário para existir, hostilizam-se e
matam-se entre si. Afirmam que a finitude de todo ente que existe materialmente torna-se, desta
maneira, na prática da morte por todos os seres vivos em virtude da falta de espaço e alimento,
instrumento de limitada manutenção da vida; a carência ontológica da finitude amplia-se assim nos
males físicos, a que os seres individuais se vêem necessariamente expostos. O pessimismo imanente
que se associa a semelhante visão do mundo pode ir ao ponto de negar a priori a possibilidade da
criação do mundo material por Deus, divindade absoluta, e brandir o caráter de carência do mundo
como um argumento em prol do ateísmo.
Torna-se, de certa forma mais aguda, a problemática da finitude na questão da origem do mal
moral. A antropologia cristã sempre sublinhou a importância da ação livre do homem, e assim entender
o mal moral como ato responsável do homem. Muitos pensadores afirmam que o enredamento nas
carências e impasses da materialidade já obriga a existência humana a ações que a tornam
objetivamente culpada.
O posicionamento hostil ao corpo, presente em vários movimentos religiosos ascéticos, esteve
em parte, marcada sobretudo pelo medo de que a vontade moral pudesse, pelo excesso do impulso, vir a
ficar apegada ao finito e assim viesse a ser seduzida pelo pecado (as ordens monásticas medievais, por
exemplo).
Todo ente que existe materialmente surge no tempo e perece no tempo, e este doloroso
antagonismo de devir parece apontar, de maneira mais clara, para a carência do mundo material. Além
disso, a matéria traz consigo o limite de tudo o que existe, finitamente, no tempo e no espaço.
OBRAS CONSULTADAS
Bahm, Archie J. 1988. Polarity, Dialectic, and Organicity.
Albuquerque, New Mexico, U.S. A.: World Books.
Berkhof, Louis. 1977. Systematic Theology. Grand Rapids,
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Christian Think. Ann Harbor, Michigan: Servan Books.
Calvin, John. 1975. Institutes of the Christian Religion.
Atlanta, Georgia, U.S.A.: John Knox Press.
Caygil, Howard. 1996. A Kant dictionary. Cambridge, England:
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Erickson, Millard J. 1988. Christian Theology. Grand Rapids,
MI., U.S.A.: Baker Book House Company.
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Frank, Erich. 1945. Philosophical Understanding and
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Geisler, Norman. 1980. Introduction to Philosophy, A
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Religion. Los Angeles, Ca., U.S.A.: University of
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CA., U.S.A.: University of California Press.
Tillic, Paul. 1963. The Courage to Be. London, England:
Yale University Press.
21
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
Prof. Antonio José
Assunto Temático:
“UMA ANÁLISE ÉTICO-SOCIOLÓGICA, HISTÓRICA
E ANTROPOLÓGICA DAS RELIGIÕES”
O que é a religião? Tem havido muitas definições a respeito. Alguns descrevem-na simplesmente
como a crença em seres espirituais. Outros tentaram obter definições mais completas, em termos de
crenças ou de descrição de práticas.
A palavra latina Religio significa algo realizado com uma atenção minuciosa ou escrupulosa
para o detalhe, e desse uso passou a designar o que entendemos por religião, devido ao modo como
eram feitos os sacrifícios nos tempos antigos. A palavra pode também ser derivada do verbo de origem
latina Religare, significando juntar duas coisas próximas uma da outra, o que nos revela algo muito
importante sobre as religiões. As religiões unem as pessoas em práticas e crenças comuns; aproximam-
nas em um objetivo de vida. Esse objetivo de vida pode ser também a “vida” nos sentido mais literal,
uma vez que as religiões são o mais antigo sistema de proteção conhecido, que habilita as pessoas a
terem filhos e criá-los até a idade adulta.
O que significa a religião? Quase tudo, porque as religiões dizem respeito a totalidade da vida - e
à morte – do ser humano. Por milhares de anos as pessoas têm buscado o sentido e a verdade de sua
própria natureza e do universo, as religiões, que lidam com a totalidade da vida e da morte resultam em
parte dessa busca. Mesmo as ciências naturais eram antigamente, essencialmente religiosas; somente
nos últimos trezentos anos a religião e a ciência se separaram como de conhecimento. Vê-se as religiões
hoje como comunidades de pessoas que compartilham práticas e crenças (geralmente em um Deus ou
deuses), que se reúnem em construções especiais para o culto ou meditação e que vivenciam o mundo
de maneira especial. Sabe-se que mais de três quartos (75%) da população mundial considera-se
pertencente a uma religião, independentemente do pouco ou muito que a pratiquem.
Então, o que significa ser religioso? Significa tantas coisas para pessoas tão diferentes que
freqüentemente uns contradizem os outros.
1) Pode significar a crença de que Deus é a fonte e a finalidade da vida (como de fato o
é);
2) Pode significar amar o próximo como a si mesmo ou excomunga-lo para um destino
pior do que a morte;
3) Pode significar consultar bruxos (as) em buscas de sabedoria, ou queima-las vivas;
4) Pode significar obedecer à risca aos mandamentos e preceitos de determinada religião,
ou se ver totalmente livres dos mesmos;
5) Pode significar recolher-se ao silêncio (os quakers), ou manifestar a glossolalia (os
movimentos evangélicos carismáticos);
6) Pode-se requerer a raspagem do cabelo para o noviciado em algumas religiões), ou a
exigência de que eles nunca será cortado;
7) Pode significar ir à mesquita na sexta-feira, à sinagoga aos sábados, ou a um templo
cristão no domingo;
8) Pode significar orar, rezar meditar, levitar, entrar em transe e êxtase; Pode significar
construir a Catedral de São Pedro em Roma, de São Paulo em Londres, a mesquita de
Omar de Jerusalém, os templos budistas do Nepal, Tailândia e Japão;
9) Pode significar viajar longas distâncias para visitar lugares sagrados em Aparecida do
Norte, Em Fátima, Portugal, em Lourdes, na França, ir a Meca, ir a Jerusalém, ou
caminhar 900 quilômetros a pé numa peregrinação no caminho de San Tiago de
Compostela, na Espanha;
22
10) Pode significar engajar-se em guerra santa contra os muçulmanos como sucedeu nas
cruzadas (séculos IX-XII) ou participar da guerra santa dos muçulmanos (jihads)
contra os infiéis (os judeus e os cristãos);
11) Pode significar Pode significar abster-se de alimentação chegando ao extremo estado
de inanição, ou até mesmo se auto-imolar ou se auto-sacrificar por uma determinada
causa;
12) Pode significar a inspiração para a criação de uma música religiosa, a
13) Produção da arte religiosa de imagens e ícones, símbolos e poesias, nos lugares mais
longínquos da terra.
1. - A RELIGIÃO E A CULTURA
Na perspectiva dos antropólogos, os antigos cultos de deusas e deusas eram importantes naquela
época antiga, porque, proporcionavam uma cultura comum a todos de um determinado clã, comunidade,
cidade, região, ou nação, nos quais símbolos e histórias eram cultivados, e a aprovação ou reprovação em
vistos de acordo com o parâmetro das leis religiosas daquele povo, cujos valores eram por todos
compartilhados.
Tanto a cultura como o culto vêm da mesma palavra latina Cultus, que quer dizer adoração a um
Deus ou deuses, ou a um certo ser supremo. Cultura e crença em num sentido mais elevado,
constituem o próprio fundamento da cultura. A religião e a cultura caminham juntas a milhares de anos,
cada uma delas influenciando uma à outra, em menor ou maior grau. As religiões com seus diferentes
padrões de crença e prática, são os mais antigos sistemas culturais de proteção da sociedade e da
família.
As leis religiosas determinavam e ainda determinam o que os indivíduos poderiam ou não
comer; quem o indivíduo poderia ou não desposar; que tipos de comportamento sexual poderiam ou não
ser permitidos. A religião foi e tem sido por muito tempo o melhor sistema que os seres humanos
podem divisar para assegurar a sobrevivência da raça e da espécie humana.
Tudo isso explica porque os seres humanos necessitam de proteção e porque necessitam
assegurar-se de que o conhecimento herdado em uma geração passará aa seguinte. As religiões são
sistemas organizados de preservar a informação e passa-la de êxodo ração a outra (VER ÊXODO 6:6, 7.
SALMO 78:3, 4).
Os modos de organização das religiões variam enormemente. Algumas são fortemente
organizadas com hierarquias de autoridade e controle (como o Catolicismo Romano), outras são
frouxamente organizadas, sem quaisquer tipos de estruturas. As organizações religiosas em suas
estruturas de lideranças, evocam especialistas religiosos chamados de “pastores, padres, freiras, bispos,
arcebispos, cardeais, papas, xamãs, gurus, rabinos, etc. A lista é quase infinita.
2. - A RELIGIÃO COMO HISTÓRIA
Grande parte das informações, contudo, são colocadas em palavras, e as palavras em narrativas,
as quais são de suma importância em todas as religiões. De fato, as religiões têm sido vistas como
grandes contos que as pessoas aprendem e traduzem, segundo a biografia de suas próprias vidas. Mas há
muito mais nas religiões, além das narrativas, que auxiliam as pessoas a fazerem isso: liturgias, festivais
e peregrinações são caminhos óbvios pelos quais os caminhos de uma religião são traduzidos para a vida
pessoal. Assim como as histórias transmitidas pela tradição oral, as religiões também produzem textos.
Destes, alguns são vistos como revelações provenientes e autoritativos do próprio Deus pelas religiões
que os adotam. Exemplos: A bíblia para nós os cristãos, A Tora (para os Judeus), O alcorão (para os
muçulmanos), O Vedas (a escritura hindu), Etc. O fato de que os textos tidos como sagrados pelas
diversas religiões que não são cristãs, não se harmonizarem e até mesmo se contradizerem, reforça a
divisão radical entre as religiões. Assim, há muito que se aprender no que tange ao passado das religiões.
Elas têm estado sempre presentes no processo de mudança e transformação em todos os tempos.
3. - A religião numa Perspectiva
Antropológica
23
Os antropólogos descrevem as crenças e práticas religiosas tal como se lhes deparam nas
comunidades vivas. A religião ajuda a unificar um povo através de uma experiência e de explicação de
vida que são compartilhadas. Fornece um padrão para os comportamentos, muitas vezes em respostas
aos riscos da vida. A antropologia é o estudo do comportamento humano: a religião, como padrão de
comportamento, como se tratasse de qualquer outra atividade da vida humana (assim pensam a maioria
dos antropólogos). Posteriormente aos anos de 1950, os antropólogos voltaram a atenção ao papel da
religião como expressão da estrutura das idéias, valores e crenças de uma determinada sociedade.
Como área de estudos antropológicos, a religião proporcionou uma grande contribuição para a
obtenção de um conhecimento mais vasto acerca dos diversos povos do mundo, principalmente, no que
tange as tribos inóspitas e mais primitivas. Os antropólogos desde há muito tempo, têm se dedicado a
estudar as mais diferentes formas de religião, porque sentem-se eles interessados em relacionar a ciência
antropológica com a religião e seu progresso. Enquanto no século XIX, os estudiosos se sentiam felizes
por combinar as idéias antropológicas coma s relacionadas com a mente humana, no século XX a mente
foi isolada e sujeita a uma atenção especial e por parte dos psicólogos. Sigmund Freud baseou-se
fortemente na antropologia evolucionista, em especial nas famosas Conferências sobre a Religião dos
Semitas, de William Robertson Smith (1889), mas o seu desejo era demonstrar como o subjacente poder
da mente humana, misturado a uma espécie de energia sexual denominada libido, provocava um atitude
de figura divina que tinha as suas origens na relação da criança como seu o seu humano. Freud concluiu
também que as posições religiosas já não tinham utilidade para o homem, tal como demonstrou com
clareza no seu livro “O Futuro de Uma Ilusão” (1927). Nesta sua obra, a projeção religiosa é vista
como ilusão, com a mente humana afastando o homem da verdade e da realidade, fato, portanto, a
lamentar.
O psicólogo Willliam James adotou uma atitude bem mais positiva para com o papel da religião.
Em sua obra “As Variedades da Experiência Religiosa” (1902), deu uma completa descrição das
experiências religiosas de várias pessoas, comparando e fazendo contrastar aquilo a que chamava de
“religião de mente só” com a das “almas doentes”. Para William James, a religião tinha valor para ajudar
o homem a viver uma vida positiva e corajosa. Em outras palavras, dizia ele, a religião ajuda o homem a
aceitar a si mesmo e ás suas condições de vida, em vez de se deixar cair prisioneiro das enfermidades da
vida. Tudo isso seria uma vantagem positiva para o homem, motivo pelo qual William James não via a
religião como uma ilusão (visão Freudiana) sem futuro real, tal como Freud a descrevia.
4 - A Religião numa Perspectiva
Sociológica
Observa-se no domínio da sociologia da religião, as grandes contribuições que fizeram no início
do século: Emile Durkheim, Bronislaw Malinowki e Max Weber e Sigmund Freud com a sua obra
“Totem e Tabu”. Num ponto de vista, todos eles estão de acordo (menos Freud), que a religião é um
fenômeno característico de todas as sociedades humanas passadas, presentes e futuras. Os racionalistas
afirmavam que a religião cega os seus asseclas. Votaire, filósofo francês do século XVIII, “a religião
cultiva a ignorância entre os seus fiéis, e que a credulidade do povo faz a ciência dos líderes religiosos,
conduzindo o povo a uma sentimentalidade passiva.” Karl Marx falava “do suspiro da criatura
oprimida”. Para estes, a religião não devem ser tratadas nem como as imagens longínquas de um ideal
inacessível, nem como a projeção delirante de desejos que buscam no imaginário uma realização
ilusória. A tradição racionalista tratou o rito religioso por muito tempo, como um ato desprovido de
sentido. Entretanto, isso não basta, afirma Malinowski (1884-1942), procurar o sentido do rito na
motivação do homo religiosus que tenta dominar sua angústia na religião, ou diante dos mistérios
impenetráveis de sua condição. O sentido do rito, diz Malinowski, não está em sua eficácia instrumental.
O rito não propicia ao fiel apenas a catharsis de sua angústia por comportamentos substitutivos. A
realização do rito reforça e restaura a solidariedade de grupo – desde que seja tomada a sério e
considerada estrita obrigação.
A variante conservadora dessa posição é que a religião é boa para o povo. A contribuição da
sociologia consiste em tratar a também como um fato social, isto é como um fato humano. Na
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perspectiva de Emile Durkheim (1858-1917) não é em si nem boa nem má, contudo, ela serve como um
elemento de contenção do caos da sociedade humana, minorando e atenuando a violência. A experiência
religiosa encarna-se no tecido da ação social, dando-lhe sentido, embora transcenda-a a ponto de, às
vezes, negar-lhe, como em certas formas de ascetismo e de misticismo, qualquer validade, se não mesmo
a realidade. Durkheim afirmava não ter dúvidas de que as religiões ocidentais, estavam ultrapassadas,
principalmente o catolicismo, mas que o sagrado continua a constituir uma categoria universal da
experiência humana. Em suma: “a religião é um sistema solidário de crenças relativas a coisas sagradas,
isto é, separadas, proibidas”, afirmava Durkheim. Uma de suas mais importantes obras foi: As Formas
Elementares da Vida Religiosa”.
Já o sociólogo Max Weber (1864-1920), em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo, trata das especulações da teoria agostiniana e calvinista sobre a graça, não mais como se
pertencessem ao universo das idéias, mas como um ingrediente essencial à constituição e à manutenção
da civilização moderna. O ensinamento da sociologia Weberiana é duplo:
Em primeiro lugar, ela mostra a importância das orientações religiosas no funcionamento das
sociedades modernas. Weber recusa assim as formas mais ingênuas do evolucionismo que vê na religião
uma forma, por assim dizer, subdesenvolvida da consciência coletiva.
Em segundo lugar, o fenômeno religioso é visto como não se reduzindo a uma experiência
subjetiva somente, vivida por indivíduos particularmente dotados de certas exigências existenciais. O
protestantismo (principalmente o calvinismo para Weber), é tanto uma forma de organização da
sociedade religiosa, como um projeto religioso sobre como dever organizar-se a sociedade leiga.
O peso do puritanismo é considerado também na formação das instituições democráticas,
sobretudo no caso da democracia americana. Tocqueville salientou que os colonos do May Flower
(navio que trouxe os peregrinos para a América) haviam decidido fundar, nos ermos do novo mundo,
uma sociedade de acordo com o ensino bíblico. É por isso que a noção de Lei é tão central na concepção
puritana. A fonte dessa Lei está em Deus.
Por muito tempo, os teólogos têm sustentado a posição que o fato religioso escapa às influências
da ciência positiva. Os teólogos sempre se opuseram aos herdeiros da tradição racionalista, que
acreditavam explicar o fato religioso pela ignorância ou pelos impulsos de uma afetividade cega.
A teologia começa com dois pressupostos teológicos:
1) Deus existe;
2) Deus se revela a si mesmo em sua Divina Palavra.
No século XIX por influência do liberalismo teológico, a religião tomou o lugar de Deus como o
objeto da teologia. A fé nas Escrituras como uma autoritativa revelação de Deus foi desacreditada.
Friedrich Schleiermachar procurou salvaguardar o caráter científico da teologia pela introdução de um
novo método: O sentimento religioso do homem substitui a palavra de Deus como a fonte da teologia.
5. - Vários tipos de ateismo religioso
1) Ateísmo dogmático: nega categoricamente que exista um Divino SER;
2) Ateísmo cético: Afirma que a mente humana é incapaz de determinar se existe ou não existe um
Deus;
3) Deus é a personificação de uma mera idéia abstrata: Deus como um “símbolo”.
4) Deus como um ser impessoal: O panteismo.
5) Deus como um algo completamente imanente e impessoal: Sob a influência do panteísmo,
identificando Deus com o mundo criado.
6) Deus é finito e pessoal: a idéia de transformar o Deus da Bíblia, inserindo-o na categoria e galeria
dos deuses dos povos como simplesmente mais um deles, é uma idéia tão antiga quanto o politeísmo
e o henoteísmo
7) Moderno humanismo: Deus é o espírito da humanidade, o senso de totalidade, o alvo étnico e racial.
8) Augusto Comte: Desde Comte tem havido a tendência de personificar a ordem social da
humanidade como um todo e para adorar essa personificação.
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Premissas conceituais:
A) Deus é a totalidade das relações que constituem toda ordem social da crescente humanidade;
B) Deus é nosso conceito, nascido da experiência social com o nosso espaço cósmico, com o qual
nós estamos relacionados;
C) Deus é aquela qualidade da sociedade humana que dá suporte e enriquecimento a sociedade;
D) A palavra “Deus” é um símbolo para designar o universo em sua capacidade ideal de formação.
E) Para os cristãos: Para os teólogos, o ateísmo não é um estado natural do homem. As nações que
se tornaram atéias, ateizaram a sociedade pela força e coação. Segundo os teólogos, o ser
humano nasce teísta e a sociedade o torna-o ateu.
5 - AS RELIGIÕES E AS PROVAS RACIONAIS
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
1) O argumento ontológico: Este argumento tem sido apresentado por Anselmo e Descartes.,
tendo a sua mais influente e perfeita forma em Anselmo. Ele argumenta que o homem já nasce com
a idéia de um Ser absoluto perfeito. Hegel afirmava ser este o mais forte argumento sobre a
existência de Deus.
2) O argumento Cosmológico: ele aparece em várias formas, mas em suma, afirma-se que
“todas as coisas existentes no mundo têm uma causa adequada, e portanto, o próprio universo
precisa ter uma causa adequda.” David Hume o chamou de lei da causa ela mesma em questão, e
Kant sublinhou que cada coisa existente tem uma causa adequada.
3) O argumento Teleológico: Este é um argumento causal e é realmente uma extensão do
argumento anterior (o cosmológico). Pode assim ser sumarizado: O mundo em toda parte ao redor,
revela inteligência, ordem, harmonia, e propósito, e isto implica na existência de um ser
supremamente inteligente outorgou inteligência, harmonia, e propósito a toda as coisas. Ele mostra
que o mundo contém inteligência e desígnio e logo, o mundo requer um designador.
4) O argumento Moral: Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e dali inferiu a
existência de alguém que, como legislador da lei e juiz, tem o absoluto direito de governar o
homem. Para Kant, este argumento é superior aos demais argumentos. Alguns argumentam que a
disparidade freqüentemente observada entre a conduta moral do homem e a prosperidade dos
injustos na presente vida, requer necessariamente um ajustamento futuro e um justo juiz.
5) O argumento Histórico ou Etnológico: Em suma, este argumento tem a seguinte forma:
Entre todos os povos da terra existe um senso do divino, o qual revela ele mesmo ser um valor supra-
cultural. Desde que isto é um fenômeno universal, ele precisa pertencer a íntima e intrínseca natureza do
homem. E se a natureza do homem o guia para a adoração religiosa, isto pode somente encontrar
explanação no mais alto Ser que tem constituído o homem um ser religioso.
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CURSO DE ARQUITETURA
DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA
Prof. Antonio José
Assunto Temático:
1. A FILOSOFIA DA RELIGIÃO E OS MÚLTIPLOS
TIPOS DE RELIGIÃO
A filosofia da religião não é uma defesa das crenças religiosas, antes, é um exame filosófico das
crenças religiosas e suas implicações na sociedade e no mundo. A filosofia da religião tal como é
compreendida, consiste apenas na análise filosófica dos informes religiosos. A história da religião
acompanha a história da humanidade. Onde estiver o ser humano, aí estará, igualmente, a religião.
Vejamos, inicialmente, a visão da religião no pensamento dos filósofos:
1. Heráclito (500 A.C) criticou as superstições da antiga religião dos gregos.
2. Xenófanes (500 A.C) criticou o politeísmo dos gregos, com seus deuses caracterizados por
uma baixa moralidade, e procurou promover um antigo monoteísmo entre o povo.
3. Sócrates (450 A.C) abordou principalmente as questões éticas, as quais são extremamente
importantes para a fé religiosa, e declarou sua fé em Deus e na alma.
4. Platão (400 A.C) idealizou um nobre sistema religioso. Sua filosofia estava eivada de
padrões e crenças espirituais. Seu dualismo foi de alguma forma emulado pelo pensamento
cristão, influenciando vários teólogos da era patrística, principalmente algumas de suas
idéias sobre a alma. Seus conceitos sobre as Idéias ou Universais proveram e coincidiram
com muitos atributos tradicionalmente atribuídos a Deus, como infinitude, eternidade, vida
fora do tempo, vida fora do espaço, onipotência, onipresença e outros. Ele misturava suas
idéias com noções orientais a respeito da alma, da reencarnação e da responsabilidade
(Karma). Platão também fez o contraste entre o meramente perere (existência para sempre) e
o eterno (participação na natureza divina). Além disso, ele trouxe à tona a qualidade da vida
divina, ultrapassando em muito a idéia da vida interminável. Ele concebia um drama sagrado
da alma, a qual busca purificação e espiritualização, o que tem influenciado a muitos
pensadores. Os primeiros pais da igreja, mormente os de tradição grega, foram, de alguma
forma, influenciados por ele. O neoplatonismo, um movimento religioso da era patrística,
esta em parte alicerçado no pensamento platônico.
5. Os apologistas cristãos (era patrística) estavam divididos entre o uso da filosofia e da razão.
Tertuliano e seu seguidores rejeitaram totalmente o uso de meios racionais e filosóficos para
o entendimento e desenvolvimento do pensamento cristão. Por outro lado, Justino Mártir,
Clemente, Orígenes e seus seguidores encontravam muito uso para a filosofia da religião, -
considerando os melhores aspectos da filosofia, como o pensamento filosófico de Platão.
Alguns teólogos da patrística o tinham como um mestre-escola que tendia por conduzir os
gregos a Cristo, da mesma maneira que a lei de Moisés teve essa função para os Judeus.
Naturalmente, eu creio que essa possibilidade de ver Platão como um Moisés, não procede e
nem é verdadeira e legítima para os cristãos.
6. Muitos filósofos do período iluminista supunham que a religião não era dotada de qualquer
conhecimento certo, e que se quisermos ter tal conhecimento teremos que nos voltar para a
ciência. E, segundo eles, quando fazemos isso, abandonamos a religião, por ser ele uma
inquirição inferior, afirmavam. Muitos opinavam que o cristianismo era uma superstição. A
verdade é que muitos assumiram uma visão geral bastante baixa quanto a religião.
7. Immanuel Kant, filósofo alemão, não podia encontrar apoio para a fé religiosa em suas
proposições derivadas da experiência (empirismo), mas descobria certa justificação para as
principais crenças religiosas em seus postulados, que ele fazia derivar da razão, da intuição e
das experiências. Kant negava os argumentos racionais em favor da existência de Deus, mas
27
apoiava a crença na existência de Deus sobre bases morais. Ele também defendia a existência
da alma, como algo necessário para qualquer sistema religioso coerente.
8. O positivismo lógico negava qualquer valor nas proposições metafísicas, fazendo da ciência
o seu deus. Ora, a ciência está limitada à percepção dos sentidos e suas manipulações.
9. Soren Kiekegaard e os existencialistas percebiam muito desespero no mundo, enquanto que
o homem estaria perdido em seu supremo livre-arbítrio. Os existencialistas ateus não viam
como o homem poderia sair desse desespero, contudo o existencialistas cristãos como
Kiekegaard, notavam veredas de escape, como a missão de Cristo e a significação dele.
10. Friedrich Schleiermacher vinculava a religiosidade das pessoas, aos seus sentimentos de
dependência de Deus.
2. – Os Tipos de Religião
1. Animista: Espíritos, desencarnados ou não, servem de base para as crenças e os atos
praticados pelo animismo. Fica entendida a proximidade do mundo dos espíritos, os quais
podem encarnar-se em pessoas, coisas ou objetos. Tais espíritos seriam bons ou maus,
podendo ajudar ou prejudicar ativamente os seres humanos.
2. Panteísmo: A palavra panteísmo se deriva dos termos gregos “pan”, que significa tudo, e
“theos”, - que significa Deus. Panteísmo significa que Deus é tudo e tudo é Deus. Segundo
essa crença, nada existe além de Deus. Deus abrange tudo em sua própria existência. Ainda
segundo o panteísmo “na eternidade do passado existia algo chamado Ser impessoal,
inconsciente, sem vontade ou poder de escolher, nem matéria nem espírito, mas tendo a
potencialidade de ambos. Este Ser desenvolveu-se, pela lei da necessidade, transformando-se
no universo tal qual existe hoje, ele tem estado a desenvolver-se e continuará a faze-lo ad
infinitum. Esse Deus impessoal chegou ao seu desenvolvimento mais elevado e alcançou a
consciência no homem. E assim, o universo é Deus e Deus é o universo, e o homem é a mais
elevada forma existencial de Deus. Em suma, ensina-se que não existe um Deus pessoal
separado da personalidade do homem. (OBS: O movimento da “Nova Era”, se caracteriza
como um movimento panteísta. Esse movimento enfatiza a impessoalidade de Deus. A
Ênfase é: “Descubra o deus que há em você. Você pode todas as coisas.”
3. Legalista: O principal elemento religioso, nessas religiões, é algum código legal que
governa todos os aspectos da vida do indivíduo. Esse código geralmente é concebido como
divinamente inspirado; o bem é prometido àqueles que obedecem (algumas vezes esse bem é
a própria salvação, um tipo de salvação pelas obras); é prometida a punição àqueles que
desobedecem ao código legal aceito.
4. Ritualista: Nessas religiões acredita-se que ritos e cerimônias agradam as divindades
(Deus), e que aqueles que observam tais coisas (cerimônias e ritos) serão beneficiados. Esse
ritos, com freqüência, simbolizam crenças importantes, ou então costumes e expectações
futuras dos adoradores. As artes ocultas e as fés religiosas antigas, operavam com base em
ritos e encantamentos, como se essas coisas servissem para controlar os espíritos, fazendo-os
atuar para o bem das pessoas, e para malefício dos inimigos dos adoradores (Ex. O assim
chamado de culto afro-brasileiro, como a umbanda, quimbanda e seus ritos).
5. Sacramentalista: Nessas religiões, os sacramentos ocupam um lugar preponderante na
vida dos adoradores, sendo os sacramentos vistos como meios de graça divina, através dos
quais Deus veicula também suas bênçãos. A Igreja Católica, e ainda, as Igrejas evangélicas
Históricas e outras evangélicas, tendem a ver os sacramentos ou ordenanças do batismo e da
Santa como meios de graça. Naturalmente, para nós, os cristãos, não há necessariamente,
nada errado nesta crença e nesta postura cristã.
6. Natural: A revelação divina, ou é rejeitada com fundamento para essa religiões, ou recebe
uma posição meramente secundária. Para essas religiões, Deus ter-se-ia manifestado na
natureza, mostrando-se ativo nas faculdades racionais e intuitivas do homem. Portanto,
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Ética e participação política

  • 1. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA PROF. ANTONIO JOSÉ INTRODUÇÃO A política engloba uma grande variedade de atividades, a partir de eleições governamentais, cujas eleições é um esforço envidado dos candidatos que da mídia em geral se utilizam, conduzindo a efeito os planos e projetos junto aos seus assessores, com vistas a atingir os eleitores.. Para cada uma destas ações, há considerações éticas e consequências. Este anteprojeto suscita o seguinte problema: Até que ponto podem os movimentos populares serem fatores corroborativos para o exercício da ética e da cidadania na política nacional? Outras questões podem ser aqui aludidas, tais como: Até que ponto a política é compatível com a ética? A política pode ser eficiente se incorporar a ética? Não seria puro moralismo exigir que a política considere os valores éticos? Atualmente, o cenário internacional marcado pelo processo de globalização da economia e a fragilização dos Estados nacionais, coloca uma nova pauta de questões para o poder local, projetando-o no debate político sobre as alternativas de organização do Estado. Este ano teremos eleições municipais em todo o país. São principalmente os municípios que mantém contato cotidiano com a população, que estão desafiados a enfrentar mudanças qualitativas nos métodos de gestão pública. Adotar um novo paradigma de administração pública significa revolucionar por dentro a máquina do Estado, como se organiza e como se presta o serviço público, colocando no centro o cidadão. A reforma administrativa voltada à afirmação da cidadania supõe a implementação de mecanismos e canais de participação popular, contrapondo-se a tendência de privatização e de esvaziamento do espaço público. Nesse sentido, a modernização do poder público implica na participação da sociedade na definição das políticas de governo. Dr. Fábio Konder Comparato, jurista e professor da USP, faz a seguinte assertiva sobre o assunto: Em suma – e aí está o cerne da questão - , se toda a ação política, como vimos, deve ter por finalidade o bem comum do povo, seria um grosseiro absurdo que o próprio povo fosse em permanência excluído da função de julgar a justiça ou injustiça das políticas postas em prática, bem como de fazer atuar a responsabilidade dos governantes que realizaram, sobretudo quando estes devem a sua posição de mando à eleição popular.1 A construção de uma nova cultura política democrática, que supere os vícios do autoritarismo, do paternalismo e do clientelismo na relação entre Estado e sociedade, não pressupõe a defesa da participação como direito fundamental da cidadania; pressupõe uma nova ética no trato da coisa pública, tanto dos governantes como da sociedade civil, centrada na responsabilidade social, no reconhecimento da diversidade cultural e da pluralidade política dos atores sociais. 1. RELEVÂNCIA E CONTEMPORANEIDADE DA ÉTICA O assunto se apresenta relevante por suas várias nuances e matizes presentes na vida política nacional, demonstrados no cotidiano dos meios de comunicação de massa e da mídia em geral. Quando se trata da relação entre ética e política não há respostas fáceis. Há mesmo quem considere que esta é uma falsa questão, em outras palavras, que ética e política são como a água e o vinho: não se misturam. Quem pensa assim, adota uma postura que nega qualquer vínculo da política com a moral: os fins justificam os meios. O realismo político, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo. Esta concepção sobre a relação ética e política desconsidera que a moral também é um fator social e como tal não pode se restringir ao santuário da consciência dos indivíduos. Em outras 1 COMPARATO, Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, Editora Companhia das Letras, 2006, p. 660. 1
  • 2. palavras, embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade (um exemplo disso é a adoção dos diversos "códigos de ética"). Ou seja, não leva em conta que a política nega ou afirma certa moral e que, em última instância, a política também é avaliada pelo comportamento e entendimento moral das pessoas. Aliás, se a política almeja legitimidade não pode, entre outros fatores, dispensar o consenso da consciência dos cidadãos, sobre a qual repousa a democracia. Em todos estes casos, trata-se de problemas ético-práticos que se apresentam diante de nós, nas relações efetivas, reais, entre indivíduos ou grupos. Trata-se de problemas cuja solução não concerne somente à pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas, os quais sofrerão as conseqüências da sua decisão e da sua ação. As conseqüências podem afetas a um indivíduo ou a vários indivíduos ou grupos sociais. Enfim, as conseqüências podem afetar a uma comunidade inteira, ou até mesmo toda uma nação. Toda a sociedade humana cria padrões de comportamento para os seus concidadãos, os quais servem de parâmetros ou normas geralmente aceitas, as quais fazem parte do senso comum de determinado povo, nação, etnia ou cultura, os quais podemos chamar de “Convenções Sociais.” Há valores ou convenções sociais que são mais pertencentes a um específico povo ou cultura. Há outros tipos de convenções sociais que são universais ou supra-culturais (trans-cultural). Ou seja, estão presentes em todos os povos, etnias e culturas humanas, tais como: 1) O respeito à vida; 2) O respeito aos pais e aos idosos. Caminhando na contramão das “Convenções Sociais”, podemos encontrar o movimento “niilista”. O “niilismo” é uma tendência de viver a vida no campo da negação de todos os parâmetros de comportamentos; contra todos os valores morais; contra todos os princípios fixos, absolutos, dogmáticos em permanentes. 1. CONCEITUANDO A ÉTICA Nas relações cotidianas entre indivíduos, surgem continuamente problemas como estes: A) Devo cumprir a promessa X que fiz ao meu amigo Y, embora hoje perceba que o cumprimento da aludida promessa me causará certos danos e prejuízos? B) Devo sempre dizer a verdade ou há ocasiões em que devo mentir? C) Podemos considerar bom o homem que se mostra caridoso com o mendigo que bate à sua porta, e, durante o dia – como patrão – explora impiedosamente os operários e os empregados da sua empresa? D) Se um indivíduo procura fazer o bem e as conseqüências de suas ações são prejudiciais àqueles que pretendia favorecer, porque lhes causará mais prejuízo do que benefício, devemos julgar que age corretamente de um ponto de vista moral, quaisquer que tenham sido os efeitos de sua ação? E) Com respeito aos crimes cometidos pelos nazistas na segunda guerra mundial, os soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados? F) Os soldados nazistas deviam executar as ordens de extermínio emanadas de seus superiores? A ética poderá dizer, em geral, o que é um comportamento pautado por normas ou em que consiste o fim – o bom – visado pelo comportamento moral, do qual faz parte o comportamento individual ou de um grupo. Definir o que é o “bom” não é um problema ético-moral simples, cuja solução cairá ao indivíduo em cada caso particular, mas a um problema geral normativo, de cuja solução ou princípio o cristão se possa valer nas mais diversas circunstâncias. Hartmann, em sua obra “Ethics”, faz o seguinte comentário sobre o lugar da ética no campo da filosofia: Os problemas éticos são objeto de uma atenção especial na filosofia grega. Ao naturalismo dos filósofos do primeiro período (os pré-socráticos), sucede uma preocupação com os problemas do homem, e sobretudo, com os problemas políticos e morais. As novas condições que se apresentam no século V a.C., em muitas cidades gregas – e especialmente em Atenas, com a democratização da vida política e o desenvolvimento de uma intensa vida pública, deram origem à filosofia política e moral.2 2 HARTMANN, Nicolai. Ethics. London, England: George Allen and Unwin Ltd., 1973, p. 89. 2
  • 3. A ética é um dos seis ramos tradicionais da filosofia, onde ocupou papel importante, desde o começo. A Ética como um sistema da Filosofia. A Ética é um dos seis sistemas tradicionais da filosofia. A. Ética: a conduta ideal do indivíduo. B. Política: a conduta ideal do estado. C. Lógica: o raciocínio que guia o pensamento. D. Gnosiologia: a teoria do conhecimento. E. Estética: A teoria das belas-artes. F. Metafísica: teoria sobre a verdadeira natureza da existência. Existem filosofias modernas como da ciência, da história, da industria, do espírito, etc. 1.1. A ORIGEM DA ÉTICA A ética originou-se (provavelmente) com o primeiro homo sapiens. Antes do início da filosofia ocidental, as religiões demonstraram uma preocupação com a retidão da conduta humana. Ilustrações: as doutrinas do julgamento, recompensa, reencarnação, etc. Os filósofos pré-socráticos se envolveram em considerações éticas. Anaximandro compreendeu que o processo cósmico é essencialmente um sistema que incorpora justiça, injustiça e reparação. Sócrates (450 A.C.) é considerado o pai da ética como um sistema filosófico. As primeiras escolas éticas se originaram dos discípulos dele. A palava “Ética” origina-se do termo grego, ethos = “disposição, hábito, modo de ser”, enquanto forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem. Já a palavra “Moral”, procede do latim “mos” ou “moris”, que vem a significar “vontade, costume, uso, regra”, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A Ética. “A teoria da natureza do bem e como ele pode ser alcançado”. “A filosofia de julgamentos morais que declaram a conduta boa, má, certa ou errada. Isto é, o que deve ou não ser feito”. A definição mais simples, mas expressiva é: A ética é a conduta ideal do individuo. Comparato, em sua magna obra Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo Moderno, apresenta- nos o seguinte conceito: Na língua grega, o termo ethos (ηθοs), indicam, inicialmente, a maneira de ser ou os hábitos de uma pessoa; a segunda, os usos e costumes vigentes numa sociedade. Na etimologia, portanto, encontramos as duas vertentes clássicas da reflexão ética: a subjetiva, centrada em torno do comportamento individual, e a objetiva, fundada no modo coletivo de vida. Essas duas vertentes foram cumpridas e exploradas pelo pensamento grego. Na primeira delas, a individual, a regra de vida proposta foi a virtude; na segunda, a lei.3 1.2. O PORQUE DA ÉTICA A. Uma necessidade da sociedade. Ilustração: Aristóteles. O alvo da ética é a conduta ideal do homem, baseada no desenvolvimento de sua virtude especial. Virtude = função dentro da sociedade, para o bem do indivíduo e da sociedade. B. Uma necessidade metafísica. Tiquismo contra teleologia. No grego, tuche significa chance, caos; telos significa finalidade, desígnio. Kant, por exemplo, rejeitou o principio do tiquismo para evitar a noção de caos. Filosoficamente, devemos escolher entre caos e desígnio, e a nossa ética será governada pela escolha. O argumento moral dele argumentava que a alma deve existir para permitir um julgamento certo, pois neste mundo, a justiça raramente se faz. Deus deve existir para julgar e recompensar de modo justo, porque, neste mundo, isto raramente acontece. C. Uma necessidade individual. Realmente, é uma questão urgente, porque tudo que fazemos é auto e/ou heterojulgado (avaliado). Ilustração: Platão. O problema ético é a tensão entre o ideal e a conduta defeituosa. Segundo a definição de Aristóteles, todas as instituições humanas, de ensino, da política, do estado, etc., são ramos da ética, porque todas têm alguma coisa a ver com a atuação do homem dentro da sociedade. 3 COMPARATO, Op. Cit., p. 96. 3
  • 4. 1.4. A Ética e a Gnosiologia É impossível separar estes dois sistemas. O que você acha sobre como podemos saber das coisas, determinará, em boa parte, seus conceitos étnicos. Ilustrações: Racionalismo. O homem, por natureza, é um ser que sabe, sem uma investigação empírica. Portanto, os princípios éticos podem ser descobertos pela razão. Sócrates tinha fé nesta suposição. O racionalismo tem a tendência de ser religioso, portanto, os princípios éticos, supostamente descobertos pela razão, serão religiosos. Misticismo: o conhecimento é um dom de Deus. Portanto, os padrões éticos são predeterminados pela mente divina. Empirismo: somente a experiência (tentativas de saber, erros, adaptações) pode determinar os princípios éticos, porque não existe qualquer conhecimento sem experiência humana. A experiência se baseia nas percepções dos sentidos. A ética, conseqüentemente, é uma questão pragmática e relativa, sendo que o conhecimento do homem é governado pelo fluxo das vicissitudes da experiência. Conclusão: A ética é humana, não divina. 1.5. A Ética e a Metafísica É impossível separar estes dois sistemas. O que você acha sobre a natureza da existência determinará, essencialmente como você analisa os problemas éticos. Ilustrações: Deus existe, julga e recompensa? Será que realmente existem pecados mortais como a Igreja fala. A ira, a cobiça, a inveja, a glutonaria, a lascívia, o orgulho e a preguiça realmente são ofensas sérias como a Igreja declara? A doutrina da Igreja sobre os pecados mortais é negócio sério. A Igreja tem autoridade para falar estas coisas? 2. Categorias Principais da Ética 2.1. A Ética Formal Esta ética também se chama rigorista ou teísta: 1. Declara que existem princípios eternos, imutáveis, divinos (ou exigências absolutas na natureza ou da lei natural). 2. A aplicação dos princípios eternos é universal. Não existe uma ética para mim, e outra pra você. 3. É uma ética a priori, não posteriori. Os valores da ética são inatos, baseados num conhecimento inato. 4. Bases. A intuição, o racionalismo, o misticismo, a sobrenaturalidade, a justiça absoluta, a teleologia e o idealismo. 2.2. A Ética Relativa ( da situação) A. A conduta ideal pode ser estabelecida somente através da experiência humana. Ela não é imposta por uma força exterior, não humana (se tal força existe). B. A ética é uma experiência ou ciência humana, não um ramo da teologia. C. Os princípios éticos têm aplicação aqui e agora, não antigamente e para sempre. D. A conduta ideal (se existe tal coisa), necessariamente varia de um individuo para o outro dependendo das circunstancias (situações) pessoais e culturais envolvidas. E. A ética está sempre em estado de fluxo. Os padrões éticos, necessariamente, se modificam com o tempo e com as exigências diversas de culturas diferentes. F. A ética é relativa, isto é, sempre sujeita a mudanças. Não existem padrões fixos, imutáveis ou universais. O que funciona vem pra mim é bom pra mim. O que funciona pra mim, pode não funcionar para outras pessoas. G. Todos os princípios éticos são a posteriori. H. Bases: O empirismo, o pragmatismo, o positivismo, o materialismo, o humanismo, a ciência. 4
  • 5. 2.3. A Ética dos Valores Este sistema é um meio-termo entre o apriorismo (ética formal) e o empirismo (ética relativa). A. Procura excluir o relativismo radical, mas ao mesmo tempo, ensina que os valores e imperativos não são vazios, abstratos ou sem significado. Os valores éticos devem ser comprovados na experiência humana para serem reais. B. Os valores éticos são constantes e duradouros, mas não eternamente fixos. C. Eles não são sujeitos às vicissitudes da experiência humana diária. Eles têm valor em si mesmos: são intrinsecamente valiosos. A consciência humana sabe, intuitivamente (ou racionalmente) os verdadeiros valores. Ilustrações: a lei do amor é uma constante. Todas as religiões e filosofias honram este principio. Até Schopenhauer, no seu pessimismo, achou um lugar para a simpatia, outro nome do amor. Quase todos os sistemas acham que algum conceito de justiça é necessário para qualquer função razoável de uma sociedade. D. Os valores tornam-se deveres que devem ser praticados como parte inerente da conduta ideal. E. Bases: O racionalismo, a intuição, o misticismo (para alguns estudiosos), o empirismo (que não é considerado inerentemente contrário ao racionalismo). É aqui neste mundo, onde venço ou sou derrotado. 3. Os Bens da Ética (alvos da conduta ideal) 3.1. Segundo os conceitos alistados: A. Egoísmo: O homem, por natureza, é radicalmente egoísta e procura somente o que é bom para ele, como um indivíduo. O filantropo, o soldado e o herói ajudam outras pessoas por razões egoístas. B. Altruísmo: O homem é capaz de ações incondicionalmente altruístas. A natureza espiritual do homem é uma garantia disto. A lei do amor é uma parte intrínseca da natureza humana. C. Hedonismo: (de hedoné; em grego, prazer) A única coisa que vale, afinal, é o prazer. Os prazeres podem ser físicos, mentais ou espirituais. Este sistema procura o máximo de prazer acompanhado com o mínimo de dor. Aspectos da ética hedonista: a) Todo prazer é intrinsecamente bom; b) somente o prazer do bem é intrinsecamente bom; c) A bondade de um ato ou experiência depende do proporcional ou quantidade do prazer que contém. D. Eudemonismo: (de “eudaimonia” da língua grega, que vem a significar “felicidade”). A felicidade é o alvo da conduta ideal. Para Platão, a maior felicidade possível para o homem seria a volta do mundo dos Universais. Para Aristóteles, a perfeita realização de virtude (função) do individuo, naturalmente traz uma felicidade considerável. Para a Igreja, a felicidade maior será alcançada na visão beatífica (que vede). E. Sobrenaturalidade: O homem não existe e nem vive diariamente, por si mesmo. Ele não é sua própria causa. Sua existência serve para glorificar a Deus. O que acontece a ele é relativamente indiferente se Deus for glorificado. – Secundariamente, aquele que vive para Deus, alcança (e alcançará) uma felicidade particular, afinal. Este afinal pode ser distante, mas é seguro. F. Naturalismo (humanismo): O único objeto da conduta ideal é o próprio homem. Esta conduta acompanha a evolução da raça e é determinada a posteriori. G. Utilitarismo e Pragmatismo: Princípios aliados ao naturalismo. O que é útil é bom: o que não é útil é ruim. O que funciona (é prático) é bom; o que não funciona é ruim. A praticabilidade de qualquer coisa deve ser comprovada através de um processo de tentativas e erros, com os ajustamentos apropriados. 5
  • 6. 4. ÉTICA PRÉ-SOCRÁTICA 4.1. Pitágoras Pitágoras (587-522 a.C.) matemático que conheceu toda a ciência de seu tempo, incluindo a geometria, astronomia, música e medicina. Ensinou que tudo tem seu número (uma numerologia antiga), antecipando que de forma elementar, a teoria atômica. Ele acreditava na esferidade da terra. Idéias Éticas A. A alma é transcendente; B. Uma justiça absoluta será realizada afinal pela divindade (ética rigorista, teísta); C. O homem participa do drama cósmico e é responsável pelos seus atos e ações. 4.2. Píndaro (528-438 a.C.), o maior dos líricos corais da Grécia antiga. Vejamos algumas de suas idéias: A. Em seu texto Olímpios II, ele postula o conceito interessante de que este mundo e o vindouro são, reciprocamente, lugares de recompensa e castigo. B. Ensinava a reencarnação com uma perspectiva ética: A libertação dos ciclos é adquirida se uma pessoa vive um total de seis vidas rigorosamente justas e úteis. C. A bem-aventurança imortal espera aquele que houver vivido seis vezes de forma vitoriosa. D. Enquanto o corpo de todos os homens é sujeito a morte todo-poderosa, a imagem da vida (a alma) vive para sempre, porque só ela vem dos deuses. 4.3. Xenófanes Idéias éticas: A. Criticou rigorosamente a tudo: o culto dos esportes, a glorificação da força física, o vestuário das mulheres, as jóias de ostentação, o uso de perfumes, a opulência dos jantares ricos, as bebidas, os deuses imorais da religião e mitologia gregas, a riqueza e suntuosidade dos templos. B. Atacou os textos escritos por Homero e Hesíodo (dois grandes escritores gregos). C. Ridicularizou os deuses formados na imagem dos homens, afirmando que cada nação fazia os seus deuses-ídolos, com as mesmas características de suas raças ou etnias. D. Ensinou que o homem é responsável por suas próprias ações e atitudes. E. Ensinou um certo tipo de monoteísmo panteísta. 4.4. Anaximandro (612-545 a.C.) Foi aluno de Tales e seu sucessor na escola de Mileto. Apesar de não representar em seus pensamentos e ensinos uma filosofia ética, compreendia eticamente que o processo cósmico da humanidade é um processo que incorpora a justiça, a injustiça e a reparação. 4.5. Protágoras (480-410 a.C.) Ele foi o maior dos sofistas, os primeiros professores a saírem ensinando pelas cidades gregas e vendendo seus conhecimentos de diversas disciplinas. Vejamos de forma sumarizada as suas proposições: A) Sua Gnosiologia: promoveu o ceticismo. A única verdade que um homem pode perceber vem das percepções. Todavia, elas são enganadoras e não podem ser os padrões fixos de uma suposta verdade absoluta. B) Seu Pragmatismo: A única verdade possível para os homens é o que é prático e funcional. C) Seu Relativismo: O homem é a medida de todas as coisas. Cada homem tem sua própria verdade. Não existem padrões fixos e extra-humanos. D) Seu Particularismo: O único padrão da moralidade é o interesse de cada um, ou seja, seu interesse particular. 6
  • 7. 4;6. Sócrates (470-400 a.C.) Sócrates foi o pai da ética filosófica ocidental. Filho de Sadrônico (escultor) e de Fenáreta (parteira), tornou-se um parteiro de idéias. Chamou seu trabalho de Maiêutica (que significa o trabalho da parteira, oriundo da palavra grega µαια). Começou na profissão do pai, porém, diz-se que ele mudou seu interesse para a filosofia pelo oráculo de Delfos que mandou: Compõe a música. A isto ele interpretou metaforicamente: música igual a filosofia, porque filosofia era tida como a mais bela música. Devemos nos lembrar que na Grécia antiga, a filosofia era vista como a religião mais pura. Bases Fundamentais da Ética Socrática A) Reagiu contra o ceticismo e o relativismo dos sofistas4 . O ceticismo, segundo ele, prejudica a busca pelo conhecimento e enfraquece a moralidade. Mais tarde, Santo Agostinho (340-430 d.C.), filósofo e teólogo, falou do ceticismo como uma escuridão espiritual que destrói a fé e que não deixa os homens encontrar a verdade. A fé, contrariamente, prepara o solo para a cultivação da verdade. B) É possível, realmente, adquirir o conhecimento. Falácias de pensamento e erros de conduta resultam de concepções falsas da verdade. Ilustração: O ato de matar pessoas ou até animais representa uma fuga da verdade. C) A verdade absoluta é escondida: 1) pela ignorância humana, 2) pelo conhecimento parcial, 3) pelas perversões ou idéias falsas. D) Sua antropologia: Tinha idéias dogmáticas nessa área. Dizia ele: O conhecimento é possível e necessário. Concordava com a inscrição do templo de Apolo, na Grécia: “Conhece-te a ti mesmo”. E) Sua Gnosiologia: Ensinava que conhecimento do homem precisava incluir estes princípios: dualismo; a mente universal; a verdade nasce inerentemente no homem, isto é, as idéias são inatas; a imortalidade, a justiça, afinal será feita: fé absoluta no triunfo da justiça, da verdade e da bondade; a existência do Espírito Divino, uma crença exigida pelo desígnio no mundo (teleologia); a alma e sua sobrevivência após a morte, ou seja, depois da morte biológica. F) Sua Idéia do Universal: O universal mais alto é a bondade. Outras virtudes deveriam ser vistas como sub-categorias desta. G) Sua Idéia de Hedonismo: Segundo Sócrates, a conduta ideal é inerentemente prazerosa. O homem justo alcança um bem-estar que as vicissitudes da vida não podem abalar. Ele sobre uma hierarquia de prazeres: espirituais, mentais, e finalmente físicos. H) Sua Teleologia: Segundo Sócrates, existem dons dos deuses, como a luz, a comida, o ar, a chuva, etc. Todos estes elementos cooperam juntos para sustentar a vida, portanto, o desígnio é um fator operante na nossa vida. A teleologia implica na existência de um Poder Divino, uma força ativa na vida humana. Assim, o argumento teleológico, em favor da existência de Deus, nasceu na filosofia. I) Sua Idéia sobre o Homem como um ser Bidimensional: Segundo Sócrates o homem é uma criatura bidimensional. A ética, portanto, viria de sua dimensão superior com forças e entidades super- humanas. A ética pervertida vem da dimensão inferior do mero homem cujos valores podem ser pervertidos. J) Sua Idéia sobre a Imortalidade: Era uma crença, mas não um dogma de Sócrates. Acreditava em uma recompensa justa, e também na necessidade do castigo adequado para julgar atos perversos. O homem justo é recompensado; o homem injusto é castigado, afinal. Portanto, é melhor e racional, viver de forma justa. Ensinava a doutrina da virtude pela virtude por causa da virtude, ou seja, que a virtude é sua própria recompensa, a despeito dos resultados finais de qualquer ação. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 4 Segundo NOWELL-SMITH, em sua obra “Ethics”, (London, England, Penguin Books, 1994, p. 54), “Constituíram um movimento intelectual na Grécia Antiga, no século V a.C. O sofista reagiu contra o saber do mundo porque o considerava estéril. Eles se transformaram em mestres que ensinavam principalmente a arte de convencer, ou retórica. Mas a sua arte de persuadir era desenvolvida e transmitida, pondo em dúvida não só a tradição, mas também a existência de verdades e normas universalmente válidas. Para eles, não existia nem a verdade, nem o erro, e as normas - poderem humanas – eram transitórias. Protágoras caiu no relativismo ou subjetivismo (tudo é relativo ao sujeito, (ao “homem, medida de todas as coisas”), e Górgias sustentava que era impossível saber o que existia realmente e o que não existia.” 7
  • 8. CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA PROF. ANTONIO JOSÉ SEGUNDA AULA: “O PENSAMENTO FILOSÓFICO E ÉTICO DE PLATÃO (428-347 a.C.)” A natureza da atividade filosófica segundo Platão. A atividade filosófica é realizada para descobrir o sistema da realidade que é inerentemente imutável. Para a realização desta descoberta, a filosofia deve olhar além das aparências vacilantes das nossas percepções. A busca deve ser governada com a precisão da matemática e deve alcançar, afinal, o universal do bem, que é o auge dce todo o conhecimento e atividade humanos. Sendo que o bem é o maior de todos os universais, e de fato, a fonte de todos, toda a atividade é em última análise ética. O alvo do conhecimento é o valor, não simplesmente, o saber. A Atividade Literária de Platão Ele escreveu 36 obras, as quais são consideradas autênticas. Os primeiros diálogos (Apologia, Crito, Eutifron, Fédon) refletem as idéias de Sócrates; os outros desenvolvem as idéias do próprio Platão. Sócrates era essencialmente ético, mas, além da ética, |Platão desenvolveu elaborados sistemas de gnosiologia, estética, metafísica e política. As raízes da lógica se encontram em sua dialética. Sua academia, estabelecida em 387 D.C. foi a primeira universidade da Europa. A filosofia básica desta escola promoveu: 1) A necessidade da inquirição para alcançar o conhecimento., Platão acreditava na interdependência inerente das disciplinas. As disciplinas da escola de Platão incluíram todo tipo de conhecimento: as ciências naturais, astronomia, zoologia, biologia, matemática, dialética e retórica. Aquela escola produziu os melhores cientistas, matemáticos, filósofos, políticos e advogados daquela época na Grécia antiga. Elementos da Gnosiologia de Platão: Considerações Preliminares Nenhum sistema da ética pode ser entendido sem considerar os elementos da metafísica e da gnosiologia do filósofo sendo estudado. Se eu acho o verdadeiro conhecimento e a verdade sobre o homem e Deus impossíveis, mantendo uma atitude cética, certamente, não vou levar muito seriamente as regras fixas da ética. Se eu não acredito em um Deus que exige certo tipo de conduta dos homens, então construirei um sistema ético pragmático e totalmente humano. Se acredito em verdades fixas e eternas, então construirei a partir delas, as minhas idéias éticas. Se sou teísta, acreditando que Deus tem interesse na conduta humana e estabelece regras para governar isto, então meu sistema ético vai refletir minha teologia. A metafísica, a gnosiologia e a ética são integralmente relacionadas. O Diagrama Ético de Platão Apresentaremos aqui, da forma categorizada, o diagrama ético de Platão: 1) O Um da filosofia pré-socrática é o bem ou a beleza, como Platão demonstra em seu livro “Banquete”. 2) Os universais representam uma hierarquia de valores, e são, ao mesmo tempo entidades iguais a um realismo radical. 3) Em seu diálogo “Leis”, Platão advoga que Deus substitui os universais e eles tornam-se atributos divinos. 8
  • 9. 4) O homem é um ser bi-dimensional. Seu corpo tem afinidade com a matéria e seu espírito com os universais. Pelas percepções o homem conhece o mundo de fluxo; com a mente, o mundo universal, imutável. O mundo do fluxo (isto é, o mundo material) é menos real. 5) O verdadeiro homem é imaterial e já existia no mundo, antes de sua peregrinação no mundo inferior. A alma é uma faísca de Deus e é auto-existente. 6) O mundo físico e material é uma imitação do mundo superior. 7) A unidade da existência: A hierarquia dos universais combina perfeitamente em uma existência absoluta, transcendente e de perfeita harmonia. 8) O mundo universal é o lar do espírito. 9) A participação da alma no mundo físico e material, segundo Platão, resultou em? fraqueza; desejo de experimentar; perversão. 10) A participação da alma no mundo material foi uma queda. 11) O problema da ética, é a tentativa de reverter a queda e voltar para o lar. 12) Somente o espírito libertado do obstáculo, prisão e sepulcro do corpo, poderia entender a verdadeira natureza da realidade. Portanto, a morte é, potencialmente, e realmente, a nossa amiga. Elementos e Caracterização da Ética Platônica A Natureza da Ética Platônica: A) É uma ética formal ou rigorista. B) O problema ético: O homem como ser racional, não material e bidimensional, deve agir neste mundo, buscando a conduta ideal deste ser. C) O significado e valor da vida humana são envolvidos na questão maior da natureza no mundo, que inclui um futuro além da morte biológica. D) O que se chama – vida – é espiritual. O mundo dos fenômenos é passageiro e não deve atrair a nossa demais a nossa atenção. Os prazeres e vantagens do mundo têm suas utilidades, mas não podem ser o alicerce de uma vida humana. O corpo humano é mero veículo do espírito. A Alma e Sua Dimensão Sagrada A) A alma é a essência da vontade, possui auto-movimento. Esta ênfase platônica pode ser comparada com a conotação do primeiro motor de Aristóteles. B) A alma é um fragmento da eternidade que está voltando para o seu lar. Esta volta depende da conduta ideal. A alma se lembra de sua terra nativa e tem saudades. O corpo serve de sepulcro e a prisão da alma. C) O princípio da morte deve funcionar todos os dias. Morremos para os vícios e vivemos para o espírito. Cada dia deve ser uma pequena morte para os apetites do corpo. A morte biológica separa o corpo do espírito. A pequena morte diária, anula a influência dos apetites do corpo para deixar o espírito seguir seus ideais. D) A alma remida, depois de muitas reencarnações, contemplará os Universais (o Deus de Platão), e será absorvida na Realidade Última. E) Para Platão, a reencarnação é uma realidade e um dos meios da purificação gradual do espírito. A Composição da Alma e a Ética Para Platão, a alma representa uma tricotomia: O racional, o ânimo e o vegetal. A) O racional é o espírito puro. A parte racional age segundo ideais nobres. B) O ânimo (a vontade) é o seu aliado. C) A parte vegetal da alma é aliada ao corpo e seus apetites. 9
  • 10. D) Quando a parte racional consegue dominar o corpo e seus apetites, o homem é moderado, e auto-controlado. Mas quando a parte vegetal domina, o homem é descontrolado, injusto, pecaminoso. E) O homem que tem uma tensão entre a parte vegetal e racional, é um homem injusto, e está sujeito a repetidas reencarnações. F) O homem que tem resolvido suas tensões, sendo controlado essencialmente pela parte racional, está perto do fim de seus ciclos terrenos,e pronto para voltar ao seu lar de perfeita beleza, harmonia e justiça. Para Platão, toda lei tem um fundamento transcendente, que é a própria divindade. Deus é a "norma das normas, medida das medidas" (ibid, p. 1341). Na República, o princípio universal supremo é a idéia do Bem, que agora, nas Leis, acaba por coincidir com a própria mente divina. A divindade se apresenta como o legislador dos legisladores, mantendo com o homem uma relação eminentemente pedagógica: assim como toda boa fonte sempre faz jorrar águas saudáveis, Deus sempre prescreve o que é justo; Ele é, portanto, o "pedagogo universal" (ibid, p. 1343). O governo proposto por Platão em As Leis é um sistema que combina elementos da aristocracia e da democracia. A administração do Estado é exercida por diferentes escalões de funcionários, acima dos quais figura o Conselho Noturno, composto pelos servidores mais idosos e notáveis. Este Conselho não é eleito pelos cidadãos, mas seus membros podem ter sido escolhidos, por via eletiva, para ocupar os cargos públicos que antes exerciam. As principais funções do Conselho Noturno são: 1. desenvolver estudos filosóficos visando a mais completa compreensão das leis que regem o Estado 2. Fazer intercâmbio com filósofos de outras cidades a fim de aprimorar as leis existentes em "Magnésia" 3. Zelar para que os princípios filosóficos e legais respeitados pelos conselheiros no exercício de suas funções se difundam para o conjunto dos cidadãos. Segundo Jaeger (op. cit.), embora surpreendente em alguns aspectos, a proposta político- pedagógica de Platão não se modifica substancialmente em relação a que fora apresentada na República porque os conselheiros cumprem papéis análogos aos dos guardiães: são os supremos defensores e os principais difusores da virtude. Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade das opiniões, tendo como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, "ver a imagem fundamental, universal e imutável das coisas: a idéia". REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JAEGER, Werner. Paidéia – A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995. PLATÃO. La République. Paris: Garnier-Flammarion, 1966. ______. The Laws. London: Peguin Books, 1975. BIBLIOGRAFIA ANDRADE, Rachel Gazolla de. Platão: O Cosmo, o Homem e a Cidade. Petrópolis: Vozes, 1993. CHATELET, François. El pensamiento de Platón. Barcelona: Nueva Colección Labor, 1973. KOYRÉ, Alexandre. Introduction à la Lecture de Platon. Paris: Gallimard, 1962. OLIVEIRA, Renato José de. Utopia e Razão: pensando a formação ético-política do homem contemporâneo. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998. 10
  • 11. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA PROF. ANTONIO JOSÉ. TERCEIRA AULA: “A ÉTICA EM ARISTÓTELES” Elementos da Ética Aristotélica Introdução Biográfica Filósofo grego (384-322 A.C.). Nasceu em Estagira, na Macedônia, filho de Nicômaco, médico do rei. Com dezoito anos ingressou na academia de Platão, tendo sido por ele chamado de “intelecto”. Ali Aristóteles estudou durante cerca de vinte anos. Por ocasião da morte de Platão, um parente deste, e rival de Aristóteles, foi nomeado para chefiar a academia e Aristóteles decidiu deixar a cidade de Atenas. Tornou-se então tutor de Alexandre, o Grande, filho de Filipe, rei da Macedônia. Em 333 A.C., ele regressou a Atenas e fundou o seu Liceu. O rei Alexandre prestou-lhe apoio moral e financeiro. Contudo, quando o rei Alexandre morreu, em 323 A.C., houve uma onda de antemacedonismo, e Aristóteles teve que abandonar novamente Atenas, receoso que o matassem ou o condenassem à morte. Ele veio a morrer no ano de 322 A.C. Seus Escritos 1) “No Campo da Lógica”; 2) “Organon e as Categorias”; 3) “Sobre Refutações aos Sofistas”; 4) “Física”; 5) “Sobre os Céus”; 6) “Geração e Corrupção”; 7) “História dos Animais”; 8) “Sobre as Partes dos Animais”; 9) “Sobre o Movimento dos Animais”; 10) “Sobre a Progressão dos Animais”; 11) “Sobre a Alma”; 12) “Metafísica”; 13) “Magna Moralis”; 14) “Constituição de Atenas”; 15) “Retórica e Poética”; 16) “Ética a Nicômaco”. A Felicidade A) A felicidade se realiza pela forma de um ser social que cumpre o seu papel ou dever, através de uma realização absoluta para o bem de um todo, e não somente de forma particulariza. B) Para a realização máxima do dever, cada pessoa precisa descobrir e desenvolver a virtude. Virtude é igual a função. Cada pessoa deve cumprir bem sua função na sociedade ou na polis. C) O homem justo é aquele que desenvolve ao máximo as virtudes inerentes na natureza humana.. O dever de cada indivíduo é de desenvolver ao máximo a sua função, e isto é o alvo da vida. Exemplo: Todos os membros do corpo tem uma função especial ou específica, mas todos cooperam para promover a ação e o bem-estar da totalidade. Todas as atividades humanas representam virtudes potenciais. O Bem Supremo A) A virtude da intelectualidade é o bem supremo. A intelectualidade, na expressão mais elevada e nobre é a contemplação. B) Todas as ciências são instrumentos da contemplação. Os meios principais da contemplação são as belas artes(a estética), as ciências, a ética, as qualidade de prudência, sabedoria, iniciativa e razão. 11
  • 12. O Caminho da Virtude A) Também como expressão da confluência, na obra de Aristóteles, de toda tradição anterior de reflexão sobre “as coisas humanas” é a doutrina da virtude como um extremo que está no meio. B) A definição aristotélica da virtude como um estado habitual de decisão, que consiste no justo meio relativo a nós cuja norma é a regra moral, isto é, aquela mesma que daria o sábio, traduz uma extraordinária simbiose de três aspectos: A) objetivos; B) o justo meio; C) Subjetivos. Tudo isto é relativo a nós, na doutrina da virtude moral. Diagrama das Doze Virtudes de Aristóteles Vícios de Deficiência O meio-termo Áureo Vícios de Excesso 1. Covardia 1. Coragem 1. Imprudência 2. Apatia 2. Moderação 2. Licenciosidade 3. Liberalidade 3. Liberdade 3. Prodigalidade 4. Baixeza 4. Magnificência 4. Vulgaridade 5. Servilidade 5. Magnimidade 5. Vaidade 6. Falta de diligência 6. Diligência 6. Excesso de ambição 7. Falta total de gênio 7. Gentileza 7. Irascibilidade 8. Depreciação 8. Auto-Avaliação 8. Ostentação 9. Rustilidade, grosseria 9. Sabedoria no falar 9. tagarelice 10. Espírito Contencioso 10. Amizade 10. Lisonja, Demagogia 11. Insensatez 11. Modéstia 11. Timidez 12. Malignidade 12. Inocência, pureza 12. Inveja Características da Ética de Aristóteles apresentadas Em seu livro “Ética a Nicômaco” Conforme as palavras de Perine, em sua obra “Quatro lições sobre a Ética de Aristóteles: “A “Ética a Nicômaco” está inserida na literatura mundial, como uma das mais extraordinárias e prodigiosas obras que o gênero humano já produziu”.5 Desta forma, faremos aqui alusão a algumas características do pensamento de Aristóteles presentes nesta magnífica obra e sua visão sobre o homem. A) Em primeiro lugar, a compreensão de que o homem é a sua alma. Isso posto, leva a uma compreensão do corpo como instrumento e não como obstáculo para a alma, estabelecendo assim uma relação de interesse e de proveito entre os dois. O homem é, portanto, visto como um composto de 5 PERINE, Marcelo. Quatro Lições da Ética de Aristóteles. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2006, p. 11. 12
  • 13. desejo razoável e de razão desejante. Aqui está o fundamento da moral de Aristóteles, quer pode ser resumido assim: “é porque nós somos o nosso espírito, e porque o corpo é para nós um outro, que toda a moral consiste em viver a vida do espírito e não a vida deste outro”.6 B) Uma segunda característica da antropologia de Aristóteles na qual se recolhe toda a tradição anterior é a sua concepção da felicidade como um bem que é o fim de tudo o que está relacionado com as “coisas humanas”. Aristóteles empenha-se, desde o início da sua reflexão, em mostrar que a felicidade é o bem que todos buscam na vida e, assim, é o fim ao qual deve tender toda a nossa vida. C) Em terceiro lugar, ele apresenta a felicidade como um dever, porque o homem só é feliz quando realiza o fim para o qual existe, o fim que lhe prescreve a razão (Deus) como tarefa de ser do homem. Com efeito, a tarefa de um ser é aquela para a qual ele é feito e que, sendo o seu fim, define a sua essência. Sua Argumentação Teleológica A) Para que qualquer coisa suceda, ou seja levada a bom termo, deve haver movimento. B) Se existe movimento deve haver um movedor Primário, ou seja, uma causa primária do movimento. Esta entidade chama-se Movedor Primário ou inabalável. C) Trata-se de uma força cosmológica. Na realidade, o Deus da concepção de Aristóteles seria uma força impessoal. D) Este Movedor Inabalável, chamado Deus, é a forma pura, existe independente da matéria, move todas as coisas, sem ser movido por elas. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 6 R. A. GAUTHIER. La Morale d’Aristote. Paris, PUF, 1963, p. 45. 13
  • 14. CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA Prof. Antonio José Assunto temático da aula: A QUESTÃO ÉTICA E OS CONCEITOS DE “FINITUDE E INFINITUDE” Introdução O TERMO: A Palavra portuguesa vem do latim “finis”, “fim”, referindo-se a qualquer coisa que tenha fronteiras, fins ou limitações. A palavra finitude, usada no sentido básico que é comum tanto para a teologia quanto a filosofia. A finitude é tida como aquela substância que não pode existir por ela mesma e nem através dela. Muitos filósofos defendem a tese de que não possuímos conceitos do infinito, visto que a nossa experiência, neste mundo, é sempre finita, limitada. Assim, o termo “infinito” significaria, na verdade, “grandíssimo”, “muitíssimo”, etc. O finito é o nosso conceito básico, de tal modo que só pensamos em infinito quando não podemos ver o fim de qualquer tipo de série. Portanto, afirma-se que a palavra infinito alude à nossa incapacidade de compreender uma série. Alguns têm-se utilizado da palavra “infinito” a fim de referirem à totalidade de alguma coisa. A palavra “Infinito” vem do latim, “in”, “não”, e “finis”, “limite”, “fim”. Às vezes envolve as idéias de interminavelmente grande, permanentemente dotado de indescritível magnitude, sem limites no tempo e no espaço. Dentro do infinito cabem considerações sobre séries infinitas e sobre algum ser infinito como algo tão grande a ponto de ser incomensurável, sem limites, todo abrangente, absoluto. Mas, outras vezes, apenas exageramos na linguagem por pleonasmo, como quando dissemos: “Ele foi infinitamente paciente sobre a questão”. Também podemos pensar no infinitamente numeroso que não podemos contar. 1 - A IDEIA DE “FINITUDE” E “INFINITUDE” NA FILOSOFIA Devemos esclarecer que a filosofia moderna tem mostrado a “infinitude” como um termo negativo, e não positivo, se insistirmos na ênfase e definição primária de “finitude” como um número infinito, o espaço infinito, um poder infinito, etc. Assegura-se que não temos qualquer experiência com qualquer tipo de “infinitude”. A mente humana é incapaz de conceber uma série infinita, o espaço infinito, o poder infinito, etc. Portanto o que se quer dizer por “infinitude” é algo muito grande, muito numeroso, muito extenso, muito poderoso, etc. Em outras palavras, a palavra “infinito” passa a ser apenas um sinônimo de “muito” e “imenso”, de uma maneira incalculável para nós. Mas, quando designamos algo de “infinito”, para além dessas especificações, então estamos apenas propondo uma proposição negativa. Por exemplo, dentro desse contexto, quando chamamos “Deus” de “infinito”, na realidade não sabemos o que isso significa. Isso posto, ou estamos dizendo que Deus é muito grande, muito poderoso, etc., ou estamos dizendo que “Deus está acima de minhas categorias de intelecção”. Portanto, empresta-se o termo “infinito” a qualquer objeto sobre o qual não temos coisa alguma de conclusivo para dizer, embora sintamos que estamos abordando algo verdadeiramente grande ou extenso. 14
  • 15. No pensamento platônico, contudo, finitude poderia referir-se a maneira distorcida em que a substância poderia refletir ou participar de suas formas. Finitude e temporalidade são virtualmente sinônimos em tal visão. Anaximandro, filósofo pré-socrático, ao tentar explicar o elemento do qual todos os demais se derivam, postulou o conceito do “apeiron”, ou seja, “ilimitado”; e assim inventou uma forma de infinitude. Parte de seu ensino parece ter consistido em especulações sobre o tempo e o espaço infinitos. Outros filósofos pré-socráticos, tais como Pitágoras, Anaxágoras, Empédocles, Demócrito e Heráclito, referiram-se à interminabilidade do espaço e do tempo. Zeno de Eléa, procurou mostrar que os conceitos de “infinitude” colocam-nos em meio a paradoxos e dilemas sem solução. Aristóteles (384-322 a.C) procurou definir o termo “infinito”. Ele falava sobre infinitude em potencial, na questão da divisibilidade infinita, bem como sobre infinitude mediante indeterminada adição. Ele discursava sobre “infinita” série da causas, pondo-a no lugar da primeira causa. O tempo é apresentado como uma forma de série “infinita” , porquanto incorpora uma série sem fim. O conceito de “infinitude” subentende –um Ser Infinito-, cujas propriedades seriam independência, eternidade e potencialidades tais que pudessem causar movimentos, pondo todas as demais coisas em atividade. Aristóteles ensinava que Deus, ou o motor imóvel, era a causa primária de toda a existência finita. Ele é a realidade total, e a Ele falta toda e qualquer potencialidade; de outra forma haveria a necessidade de alguma coisa prévia a Ele para torná-lO real. A concretização de alguma coisa potencial envolve mudança. Visto que Deus é pura realidade, Ele deve ser imutável, eterno e imaterial, porque a matéria é uma forma de potência. Sendo imaterial, dizia Aristóteles, Ele é uma mente, não depende de objetos externos para a reflexão, mas contempla Sua própria existência perfeita. Ele declarou que seu deus, esse Movedor Inabalável, é a causa de todas as coisas. E todas as coisas seriam movidas pelo Movedor Inabalável “sendo amadas por ele”. Aristóteles indicava com isso alguma força cósmica que, poeticamente, ele denominava de “amor”. A metafísica de Aristóteles, por outro lado, concebia o finito como aquilo que requereria uma causa final completamente ativa para nortear isto em torno da total realização de sua própria forma. Para Aristóteles, isso não precisaria resvalar para a desvalorização do mundo material como se fosse um todo carente, mas, pelo contrário, o conceito da “participação ou da unidade” poderia ser interpretado também como marca do existente de maneira finita. A filosofia colocara, pela descoberta do Ser pensado como imóvel (Parmênides, fragmento 8), a pedra fundamental para a distinção entre uma esfera própria do “ente que é verdadeiramente”, que foi pensado como em si eterno, infinito, imutável, necessário e perfeito, e o mundo do ente finito que se considerou como em si limitado, mutável, dependente e imperfeito e que somente em virtude de sua participação naquele Ser infinito é que se podia conceber como existente. O mundo do infinito determinava-se mais precisamente como esfera puramente espiritual, ao passo que se via o princípio da “finitude” precisamente na materialidade. Como pensar, porém, a harmonia e ordenação das duas esferas entre si? Platão (427-347 a.C.) fala do conceito da participação do “finito” do infinito, e, ainda mais forte e complexo, o conceito de Aristóteles da unidade substancial da forma imaterial e do elemento material em todo ente finito. O neoplatonismo absorveu os conceitos de “infinitude”, discutidos por Platão, aplicando-os a Deus, o possuidor da “real infinitude”, ao mesmo tempo em que a matéria teria apenas “infinitude” em potencial. A alma individual voltaria ser absorvida pelo “infinito”. René Descartes (1596-1650) afirmava que a idéia de “infinitude” pertence à mente humana como uma intuição inata, anterior mesmo aos conceitos de “finitude”. Ele supunha que uma idéia sobre qualquer coisa alicerça-se sobre a mesma idéia, mas existente em forma ilimitada no Ser divino. Em outras, palavras, o “finito” só encontra sua razão de ser no “infinito” que o originou. Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), como um característico filósofo do século dezessete, tentou reformar o escolasticismo sob a luz de uma nova ciência física. Em sua Monadologia (1720), Leibniz afirma que matéria consiste de átomos, mas argumenta que além dos átomos físicos divisíveis, e 15
  • 16. por baixo deles, estão átomos metafísicos indivisíveis. A estes centros espirituais de força ele chamou de “mônadas”. Estas mônadas são independentes entre si, mas são levadas a uma organização racional mediante uma harmonia predeterminada, planejada pela mente e vontade de Deus. Seu sistema permitia que ele defendesse as provas tradicionais da existência de Deus e sustentasse alguns princípios escolásticos que haviam sido atacados por outros filósofos. Ele dizia que somente uma mente “infinita” poderia apreciar a total pluralidade das coisas nelas mesmas; uma mente “finita” os percebe parcialmente, até quanto podem ser percebidos no ser físico de um corpo organizado de membros. A mente finita conhece o universo, até onde este é expressado em seu corpo. Portanto, o Ser divino ao qual o universo obedece e depende para existir, possui a natureza de escolhas ou decretos. As coisas finitas, se elas existem, precisam adequar-se à dependência da natureza divina. Para ele, a mente finita nada mais é do que uma sucessão de operação pessoal de percepções, idéias ou representações. Com isto, ele quer indicar a falha de nosso poder de analisar a ordem do mundo. Leibniz estava simplesmente analisando a natureza e achou-a ser um sistema de mútua representação; ele estava analisando a mútua representação e achou-a ser sua natureza intrinsecamente pré- estabelecida, e portanto, dependente de Deus. Embora fosse um racionalista, Leibniz denunciou a filosofia de Spinoza, denunciando-a como um ataque contra a imortalidade pessoal e por não deixar lugar para o propósito e a criatividade divinos. Leibniz considerava Deus como um Ser livre e racional, um Ser que poderia Ter criado qualquer tipo de mundo que desejasse. Desde os séculos dezessete, e particularmente desde a crítica de Imanuel Kant (1724-1804) ao que ele chamou de teologia metafísica, a doutrina da criação tem sofrido grandes ataques e a doutrina da trindade tem sofrido um tipo de limbo, pelo menos no mundo filosófico. Como resultado, a filosofica e trágica idéia de finitude tem sido assimilada por muitos pensadores. Imanuel Kant situava o conceito de “infinitude” entre suas antinomias, ou seja, leis ou pressupostos que são contraditórios e irreconciliáveis (primeira antinomia: Crítica da Razão Pura, 1781). A palavra “antinomia” significa “contra a lei”. Duas conclusões opostas, ambas as quais parecem válidas quando vistas independentemente, entram em choque, quando postas em confronto. Assim, o determinismo e o livre-arbítrio são antinomias; e a “infinitude” e “finitude” também o são. A palavra antinomia é um vocábulo antigo para o que chamaríamos de paradoxo ou contradição. De acordo com Kant, não podemos pensar no mundo empírico como um “dado todo”, visto que dessa premissa segue- se, com igual necessidade, a asserção e a negação da infinita divisibilidade do espaço e do tempo. Assim, poderia defender-se um mundo “finito” ou outro um mundo “infinito”, um Deus “finito” ou um Deus “infinito”, um universo causado e um universo sem qualquer causa. Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), o termo “infinito” aplica-se com razão ao Absoluto, à totalidade da existência, ao passo que o termo “finito” aplica-se a qualquer parte do Absoluto ou totalidade da existência. Ele falava em termos de processos. O verdadeiro “infinito” é a síntese do abstrato e do concreto, do universal e do particular. Hegel foi o mais influente dos idealistas alemães. Na opinião dele, apenas a mente é real: tudo o mais é a expressão da mente. A filosofia veio a ser um tipo de teologia para Hegel, porque via toda a realidade como expressão do Absoluto, que é Deus. Tudo quanto existe é expressão da mente divina. De acordo com Hegel, a significância da criatura finita, e particularmente do homo religiosus, descansa como em um movimento dentro de Deus. George Hegel apontou na sua filosofia da religião e da história para o problema do mal como sendo um problema espiritual da finitude. Por um lado, opinava Hegel, o espírito do homem, precisamente porque só pode tornar-se consciente de si mesmo no finito, precisaria captar sua própria finitude, com infinita energia, no ato de se tornar consciente. As interpretações sobre Hegel variam grandemente. Muitos consideram que seu cristianismo “filozofizado” é herético, um tipo de panteísmo. Para outros, o sistema de Hegel é uma tentativa sincera de articular a verdade cristã na linguagem filosófica. Uma atitude semelhante para com o finito é expresso na concepção de Martin Heidegger (1889-1976) da existência humana como algo completamente dentro do poder da morte, e totalmente dependente de significância sob o conhecimento da morte como sua possibilidade suprema. Heidegger esboçou sua hermenêutica existencial, segundo a qual a existência do homem projetava-se visando a um possível seu mundo juntamente com as circunstâncias relacionais do ente finito. Ele concentrava-se na 16
  • 17. revelação da existência dentro das suas expressões históricas. Seu alvo era desvendar aquilo que estava oculto dentro da temporalidade da nossa existência. Em seu livro “Being and Time” (Existência e Tempo), Heidegger caracteriza como inautêntica a existência de todos os dias. Segundo ele, nós achamos jogados em nosso mundo, em nosso universo mental. Cada um de nós, nosso eu e nosso mundo são inseparáveis. Como resultado, não é possível descobrir a vida genuína. Para Heidegger, há um único estado de ânimo que leva os seres humanos ao genuíno conhecimento de si mesmo e para longe da traição a si mesmo: este é o pavor. Em lugar de nos concentrarmos em objetos específicos no nosso mundo, devemos desenvolver um senso do nada enfrentando a estrutura da nossa finita existência no mundo. Embora Heidegger não fosse um teólogo, expressava preocupação religiosa nos seus escritos. Há um constante enfoque em nossa “finitude e morte”. A consciência da morte leva à autêntica existência. Desenvolvemos nosso senso do nada ao enfrentarmos a morte: a plenitude é achada na “existência para a morte”. A morte chega a nós como indivíduos; ao enfrentá-la, não nos perdemos na multidão. Além disso, a nossa vida desenvolve uma unidade quando focalizamos seu fim. 2 - O USO DOS TERMOS “FINITUDE” E “INFINITUDE” NA FÉ CRISTÃ Deve-se reconhecer, não obstante, que no contraste de finitude e infinitude, no pensamento grego está contida a idéia da “infinita resignação” em todo finito. O finito carecia do caráter de absoluto, faltava-lhe a perfeição do infinito. Ele era, na linguagem da filosofia cristã, apenas ser criado e não ser divino. Dentro dos conceitos teológicos, somente Deus é infinito. Todas as outras coisas e seres são limitados, ou seja, são finitos. Isso posto, na linguagem teológica, “finito” representa a existência de todas as coisas criadas. Que afinal existia ser criado devia-se, em consequência deste enfoque e em conformidade com a interpretação cristã ulterior, à tríplice ação de transcendência da parte de Deus, que, (1) transcende existencialmente de maneira infinita de todo ser criado; (2) transcende ontologicamente entre as realidades das perfeições de Deus em si infinitas e o ser criado finito; (3) transcende como ser independente e imutável da criatura finita e mutável. Em outras palavras, todo ente finito existente é marcado por contingência natural do seu existir, na sua natureza e na sua existência individual, e só existe em virtude do absoluto poder criador de Deus enquanto ente infinito. No platonismo, a visão teológica da criatura inclui o reconhecimento da distorção essencial da criatura. Só dentro do contexto das doutrinas da trindade e da criação pode esta queda ser reconhecida como significante. Em contrapartida a estes postulados, o entendimento teológico distintivo de finitude foi enfatizado primacialmente por Agostinho, teólogo da Patrística (354-430), em sua concepção de finitude ou servilidade da criatura, conceitos inseridos em suas famosas obras Confissões e “De Trinitate”. O gênio de Agostinho tornou-se possível através do longa e dolorosa luta da Igreja para articular a doutrina trinitária e a completa significância do axioma teológico “Creatio ex nihilo”, o qual ele tão devotadamente trabalhou e elaborou. A doutrina Cristã da criação ex nihilo posiciona a própria pessoa como essencialmente criatura, como finita ou dependente de Deus. Diferentemente de Aristóteles que derivou as boas qualidades do finito de sua aproximação da perfeição divina ou divino ser, Agostinho derivou as boas qualidades da criatura da luz criativa de Deus, do seu amor comunicável, não de sua perfeição. Numa visão similar, Agostinho deriva a vitalidade e a forma da criatura da mesma fonte, mas é a crença que em Deus como triuno, como a fonte do ser, o logos e amor, que habilita Deus a criar ex nihilo. Para Agostinho, Só é possível obter uma realística visão da criatura, somente se o poder (Deus), o logos (o Filho) e a qualidade relacional e comunicativa (O Espírito Santo) estiverem envolvidos na luz criativa. Nos escritos de Tomás de Aquino ( 1225-1274) encontramos uma adaptação das idéias de Aristóteles. Assim como Aristóteles, O centro da metafísica de Aquino é a distinção entre essência e a existência em todos os seres finitos. Aristóteles tinha distinguido entre a realidade e a potencialidade. Assim, a premissa central do pensamento é: “o ato passivo”. Só Deus é ato puro (ou atualidade) sem 17
  • 18. forma. Somente Deus é existência. Tudo o mais tem existência. A essência de Deus é idêntica à Sua existência, existir é da essência dEle. Deus é um ser necessário. Ele não pode não existir. Nem é possível que Deus se altere, visto que ele não tem potencialidade para ser outra coisa senão Ele mesmo. Ele é “infinito”, visto que um ato puro como tal, é ilimitado, e não tem potencialidade para limitá-lo. Aquino acreditava que em Deus é que residiria toda “infinitude”, positiva e absoluta. Por ocasião da criação houve uma “infinitude” potencial. Deus é chamado em “Summa Theologica” de “infinito oceano do Ser”, e todas as criaturas razão de sua existência nele, podendo vir a participar de seu Ser, por meio da redenção em Cristo. Deus criou o mundo do nada (ex nihilo). O tempo não existia antes de Deus criar – somente a eternidade. Devemos conhecer o aspecto finito de toda criatura e aplicar o significado de Deus de modo ilimitado. A metafísica ocidental de cunho cristão pertinentemente ressaltava que todo ente finito recebeu sua existência, seu valor e sua dignidade mediante a ação criadora de Deus. Contudo, estava fundado na tensão deste enfoque cristão o pendor de uma outra ênfase, a filosófica, que podia caracterizar o mundo, em virtude de sua finitude e materialidade, como em si inconsistente, impotente, cheio de sofrimento e mau em si, a se confrontar deste posicionamento ateísta com toda a teologia cristã, como se ela constituísse desprezo para com o mundo. O teólogo e Filósofo Soren Kierkegaard introduziu na teologia os conceitos psicológicos de ansiedade e desespero, e, d’alguma forma, preparou o caminho para o tratamento que o teólogo Paul Tillich (1886-1965) deu de finitude, quando à ansiedade é atribuída uma raiz ontológica. Tillich define finitude como uma combinação da existência e da não-existência. Para Ele, a ansiedade é uma das marcas irrefutáveis de finitude. Paul Tillich sugere que nós façamos a distinção de três tipos de ansiedade de acordo com as três direções nas quais inexistência ameaça a existência. A consciência dessa tríplice de ameaça é a ansiedade aparecendo em três formas: ansiedade por causa da morte (ansiedade da morte), por causa do vazio e falta de significado (ansiedade da falta de significado) e ansiedade por causa da culpa e condenação (ansiedade da condenação). Tillich observa que a ansiedade da morte cresce com o crescimento da individualização da sociedade, e que as culturas mais coletivas são menos abertas, ou seja, sofrem menos deste tipo de ansiedade. O termo “destino” para este grupo de ansiedades, afirma Tillich, enfoca um elemento que é comum a todos eles; Seu caráter contingente, sua imprevisibilidade e a impossibilidade de mostrar seu significado e propósito. A morte permanece por trás do fato e suas contingências, não somente no momento de perda quando alguém cortado de sua existência, mas também em cada momento dentro da existência. È a impressão da transitoriedade universal e a experiência da morte na consciência sempre latente de nosso próprio ter que morrer que produz ansiedade, e a ansiedade é finitude, segundo pensava Ele. Tillich argumenta que Deus deve ser considerado o fundamento da existência, sendo conhecido pelo homem com a preocupação última. É mediante a participação desse fundamento da existência que o homem recebe a sua própria existência. O homem deve enfrentar a inexistência. Quando ele assim fizer, e corajosamente se firmar diante da inexistência, ele expressará a preocupação última. A “nova Existência” para o homem é Jesus Cristo. Quando Jesus Se sacrificou na cruz, tornou-se transparente para o fundamento da existência, isto é, o Cristo, a “Nova Existência”. 3- A “FINITUDE” E “INFINITUDE” E A QUESTÃO DO MAL FÍSICO É difícil exagerar a importância da doutrina do homem. Naturalmente, tem sempre sido verdade que uma das mais importantes questões a qual o filósofo endereça a ele mesmo é, “o que é o homem”? Em um dos seus diálogos, Platão caracteriza o seu mestre, Sócrates, como um homem obstinado com uma idéia central em sua procura pela sabedoria: “conhecer ele mesmo”. Hoje, todavia, esta questão acerca do homem está sendo interpelada com uma nova urgência. Existem algumas razões para isso. Uma é que, desde Imamnuel Kant, o problema da epistemologia (Como nós conhecemos e nos conhecemos) tem se tornado primacialmente relevante, enquanto que o 18
  • 19. problema da ontologia (O Que é o Ser Supremo) tem se tornado secundário. O surgimento do existencialismo como uma filosófica, teológica e literária maneira de pensar, tem trazido uma nova ênfase. Agora, contudo, o humanismo está em apuros. As duas grandes guerras mundiais, adicionadas as atrocidades levadas a efeito pelo regime nazista, pelos sérvios na Bósnia, pelos tutis e hutus na África, pelos talibãs no Afeganistão, tudo isso tem em muito abalado a crença humanista na bondade básica do homem e na significância das virtudes e valores inatos do homem. Em contrapartida, tem aparecido uma nova onda de “nihilismo” (a rejeição total da moralidade, da tradição, da autoridade e da ordem social), negando todos os valores humanos e falando da falta de significado da vida. Entre os fatores que ameaçam os valores humanos hoje estão os seguintes: A crescente supremacia da tecnologia; o crescimento dos métodos de produção em massa; o profundo impacto da mídia sobre a massa. Estas entre muitas outras, são forças que tendem a despersonalizar a humanidade. Novos desenvolvimentos nas áreas da biologia, psicologia e sociologia crescem a possibilidade da manipulação das massas somente por alguns. Práticas tais como inseminação artificial, bebês de proveta, aborto, controle químico do comportamento, eutanásia, engenharia genética, tem servido para levantar questões acerca da dignidade da vida humana. Além de tudo isso, há de se adicionar ainda questões como “racismo, o problema da alienação, o problema da igualdade entre os sexos, o crescente desrespeito a quaisquer tipos de autoridade, a profunda disparidade social, e a aviltante situação humana em muitas partes do mundo. Diante de tudo o que vimos, nós podemos enxergar claramente porque a questão “O que é o homem?” tem adquirido uma nova urgência hoje. O problema do homem tem, portanto, se tornado um dos mais cruciais problemas de nossos dias. Filósofos estão lutando com o aludido problema; sociólogos estão tentando compreendê-lo; psicólogos e psiquiatras estão enfrentando-o; etnicistas e ativistas sociais estão tentando resolvê-lo. Cineastas, novelistas e dramaturgos estão também preocupados com a mesma questão. Virtualmente, cada filme contemporâneo, novela e peça teatral, trata com a questão, “o que é o homem?” O que alguém pensa acerca do ser humano é de determinante significância para o seu programa de ação. O projeto marxista foi alicerçado na concepção que possuíam acerca do homem. O recente movimento feminista é também embasado em um certo entendimento da pessoa humana, particularmente da relação entre homem e mulher. Pode-se distinguir vários tipos de antropologias, cada uma com pontos de vista distintos: 1) A antropologia idealística considera o ser humano como sendo basicamente “espírito”. Para os seus apologistas, o corpo físico é estranho à sua real natureza. Acha-se esta visão na antiga filosofia grega. De acordo com Platão, o que era real acerca do homem era o seu intelecto ou razão, e que continuava após a morte do corpo. 2) Mais comum ainda em nossos dias é o conceito antropológico oposto ao anterior. Na perspectiva dessa posição, o homem é composto de elemento material; sua mente, emoção, e vida espiritual são simplesmente sub-produtos dessa estrutura material. Por exemplo, a visão Marxista da determinação da história, descansa sob uma visão materialista e naturalista da natureza humana. Para o Marxismo, o homem é simplesmente um produto da natureza. Os seres humanos são partes de uma estrutura social; o mal levanta-se e surge desta estrutura e pode ser eliminada somente pela mudança da referida estrutura. O indivíduo não é primariamente responsável pelo mal que ele possa fazer, a sociedade sim; o ser humano não é importante como indivíduo; ele é importante somente como membro da sociedade. 3) Um outro tipo de antropologia materialista muito influente hoje, subjaz inserido nos escritos de B. F. Skinner. Em seu livro “Beyond Freedom and Dignity” Skinner mantém que a idéia que o ser humano é responsável por seu comportamento, está alicerçado em uma tradição que não é mais aceita cientificamente. A determinação do comportamento precisa ser mudado para o que ele chama de “homem autônomo” para o meio ambiente. Não existe no homem nem liberdade nem dignidade. A atividade humana é totalmente determinada pelo meio ambiente; se o meio ambiente fosse perfeitamente conhecido, o comportamento humano seria completamente previsível. 19
  • 20. CONCLUSÃO Muitos antigos filósofos e pensadores viram na materialidade a causa principal para as variadas carências existentes no mundo, e na verdade inúmeros sistemas religiosos e filosóficos defenderam esta concepção. Exemplificando, as doutrinas hindus de redenção do bramanismo e do budismo tentaram romper com a causalidade retributiva do carma (defendido por outros) e libertar de um mundo finito, que em consequência da prisão da materialidade exterior é tido como profundamente marcado pela doença, pobreza e morte. Ainda outros afirmam que a finitude de todo ente que existe materialmente, vê-se em inúmeros seres individuais que, levados pela fome e em luta pelo espaço necessário para existir, hostilizam-se e matam-se entre si. Afirmam que a finitude de todo ente que existe materialmente torna-se, desta maneira, na prática da morte por todos os seres vivos em virtude da falta de espaço e alimento, instrumento de limitada manutenção da vida; a carência ontológica da finitude amplia-se assim nos males físicos, a que os seres individuais se vêem necessariamente expostos. O pessimismo imanente que se associa a semelhante visão do mundo pode ir ao ponto de negar a priori a possibilidade da criação do mundo material por Deus, divindade absoluta, e brandir o caráter de carência do mundo como um argumento em prol do ateísmo. Torna-se, de certa forma mais aguda, a problemática da finitude na questão da origem do mal moral. A antropologia cristã sempre sublinhou a importância da ação livre do homem, e assim entender o mal moral como ato responsável do homem. Muitos pensadores afirmam que o enredamento nas carências e impasses da materialidade já obriga a existência humana a ações que a tornam objetivamente culpada. O posicionamento hostil ao corpo, presente em vários movimentos religiosos ascéticos, esteve em parte, marcada sobretudo pelo medo de que a vontade moral pudesse, pelo excesso do impulso, vir a ficar apegada ao finito e assim viesse a ser seduzida pelo pecado (as ordens monásticas medievais, por exemplo). Todo ente que existe materialmente surge no tempo e perece no tempo, e este doloroso antagonismo de devir parece apontar, de maneira mais clara, para a carência do mundo material. Além disso, a matéria traz consigo o limite de tudo o que existe, finitamente, no tempo e no espaço. OBRAS CONSULTADAS Bahm, Archie J. 1988. Polarity, Dialectic, and Organicity. Albuquerque, New Mexico, U.S. A.: World Books. Berkhof, Louis. 1977. Systematic Theology. Grand Rapids, MI., U.S. A. : Eerdmans Publishing Company. Blamires, Harry. 1978. The Christian Mind: How Should a Christian Think. Ann Harbor, Michigan: Servan Books. Calvin, John. 1975. Institutes of the Christian Religion. Atlanta, Georgia, U.S.A.: John Knox Press. Caygil, Howard. 1996. A Kant dictionary. Cambridge, England: Blackwell Press. Erickson, Millard J. 1988. Christian Theology. Grand Rapids, MI., U.S.A.: Baker Book House Company. 20
  • 21. Frank, Erich. 1945. Philosophical Understanding and Religious Truth. London, England: Oxford University Press. Geisler, Norman. 1980. Introduction to Philosophy, A Cristian Perspective. Grand Rapids, MI., U.S.A.: Baker Book House company. Hegel, Georg Wilhelm Friedrich. Lectures on the Philosophy of Religion. Los Angeles, Ca., U.S.A.: University of California Press. Hoekema, Anthony A. 1986. Created in God’s Image. Grand Rapids, MI., U.S.A.: Erdmans Publishing Company. Kierkegaard, Soren. 1961. Christian Dircourses. New York, NY., U.S.A.: Oxford University Press. Sartre, Jean Paul. 1982. Critique of Dialetical Reason. London, England: The Theotford Press Limited. Sosa, Ernest. 1995. A Companion to Metaphysics. Los Angeles, CA., U.S.A.: University of California Press. Tillic, Paul. 1963. The Courage to Be. London, England: Yale University Press. 21
  • 22. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA Prof. Antonio José Assunto Temático: “UMA ANÁLISE ÉTICO-SOCIOLÓGICA, HISTÓRICA E ANTROPOLÓGICA DAS RELIGIÕES” O que é a religião? Tem havido muitas definições a respeito. Alguns descrevem-na simplesmente como a crença em seres espirituais. Outros tentaram obter definições mais completas, em termos de crenças ou de descrição de práticas. A palavra latina Religio significa algo realizado com uma atenção minuciosa ou escrupulosa para o detalhe, e desse uso passou a designar o que entendemos por religião, devido ao modo como eram feitos os sacrifícios nos tempos antigos. A palavra pode também ser derivada do verbo de origem latina Religare, significando juntar duas coisas próximas uma da outra, o que nos revela algo muito importante sobre as religiões. As religiões unem as pessoas em práticas e crenças comuns; aproximam- nas em um objetivo de vida. Esse objetivo de vida pode ser também a “vida” nos sentido mais literal, uma vez que as religiões são o mais antigo sistema de proteção conhecido, que habilita as pessoas a terem filhos e criá-los até a idade adulta. O que significa a religião? Quase tudo, porque as religiões dizem respeito a totalidade da vida - e à morte – do ser humano. Por milhares de anos as pessoas têm buscado o sentido e a verdade de sua própria natureza e do universo, as religiões, que lidam com a totalidade da vida e da morte resultam em parte dessa busca. Mesmo as ciências naturais eram antigamente, essencialmente religiosas; somente nos últimos trezentos anos a religião e a ciência se separaram como de conhecimento. Vê-se as religiões hoje como comunidades de pessoas que compartilham práticas e crenças (geralmente em um Deus ou deuses), que se reúnem em construções especiais para o culto ou meditação e que vivenciam o mundo de maneira especial. Sabe-se que mais de três quartos (75%) da população mundial considera-se pertencente a uma religião, independentemente do pouco ou muito que a pratiquem. Então, o que significa ser religioso? Significa tantas coisas para pessoas tão diferentes que freqüentemente uns contradizem os outros. 1) Pode significar a crença de que Deus é a fonte e a finalidade da vida (como de fato o é); 2) Pode significar amar o próximo como a si mesmo ou excomunga-lo para um destino pior do que a morte; 3) Pode significar consultar bruxos (as) em buscas de sabedoria, ou queima-las vivas; 4) Pode significar obedecer à risca aos mandamentos e preceitos de determinada religião, ou se ver totalmente livres dos mesmos; 5) Pode significar recolher-se ao silêncio (os quakers), ou manifestar a glossolalia (os movimentos evangélicos carismáticos); 6) Pode-se requerer a raspagem do cabelo para o noviciado em algumas religiões), ou a exigência de que eles nunca será cortado; 7) Pode significar ir à mesquita na sexta-feira, à sinagoga aos sábados, ou a um templo cristão no domingo; 8) Pode significar orar, rezar meditar, levitar, entrar em transe e êxtase; Pode significar construir a Catedral de São Pedro em Roma, de São Paulo em Londres, a mesquita de Omar de Jerusalém, os templos budistas do Nepal, Tailândia e Japão; 9) Pode significar viajar longas distâncias para visitar lugares sagrados em Aparecida do Norte, Em Fátima, Portugal, em Lourdes, na França, ir a Meca, ir a Jerusalém, ou caminhar 900 quilômetros a pé numa peregrinação no caminho de San Tiago de Compostela, na Espanha; 22
  • 23. 10) Pode significar engajar-se em guerra santa contra os muçulmanos como sucedeu nas cruzadas (séculos IX-XII) ou participar da guerra santa dos muçulmanos (jihads) contra os infiéis (os judeus e os cristãos); 11) Pode significar Pode significar abster-se de alimentação chegando ao extremo estado de inanição, ou até mesmo se auto-imolar ou se auto-sacrificar por uma determinada causa; 12) Pode significar a inspiração para a criação de uma música religiosa, a 13) Produção da arte religiosa de imagens e ícones, símbolos e poesias, nos lugares mais longínquos da terra. 1. - A RELIGIÃO E A CULTURA Na perspectiva dos antropólogos, os antigos cultos de deusas e deusas eram importantes naquela época antiga, porque, proporcionavam uma cultura comum a todos de um determinado clã, comunidade, cidade, região, ou nação, nos quais símbolos e histórias eram cultivados, e a aprovação ou reprovação em vistos de acordo com o parâmetro das leis religiosas daquele povo, cujos valores eram por todos compartilhados. Tanto a cultura como o culto vêm da mesma palavra latina Cultus, que quer dizer adoração a um Deus ou deuses, ou a um certo ser supremo. Cultura e crença em num sentido mais elevado, constituem o próprio fundamento da cultura. A religião e a cultura caminham juntas a milhares de anos, cada uma delas influenciando uma à outra, em menor ou maior grau. As religiões com seus diferentes padrões de crença e prática, são os mais antigos sistemas culturais de proteção da sociedade e da família. As leis religiosas determinavam e ainda determinam o que os indivíduos poderiam ou não comer; quem o indivíduo poderia ou não desposar; que tipos de comportamento sexual poderiam ou não ser permitidos. A religião foi e tem sido por muito tempo o melhor sistema que os seres humanos podem divisar para assegurar a sobrevivência da raça e da espécie humana. Tudo isso explica porque os seres humanos necessitam de proteção e porque necessitam assegurar-se de que o conhecimento herdado em uma geração passará aa seguinte. As religiões são sistemas organizados de preservar a informação e passa-la de êxodo ração a outra (VER ÊXODO 6:6, 7. SALMO 78:3, 4). Os modos de organização das religiões variam enormemente. Algumas são fortemente organizadas com hierarquias de autoridade e controle (como o Catolicismo Romano), outras são frouxamente organizadas, sem quaisquer tipos de estruturas. As organizações religiosas em suas estruturas de lideranças, evocam especialistas religiosos chamados de “pastores, padres, freiras, bispos, arcebispos, cardeais, papas, xamãs, gurus, rabinos, etc. A lista é quase infinita. 2. - A RELIGIÃO COMO HISTÓRIA Grande parte das informações, contudo, são colocadas em palavras, e as palavras em narrativas, as quais são de suma importância em todas as religiões. De fato, as religiões têm sido vistas como grandes contos que as pessoas aprendem e traduzem, segundo a biografia de suas próprias vidas. Mas há muito mais nas religiões, além das narrativas, que auxiliam as pessoas a fazerem isso: liturgias, festivais e peregrinações são caminhos óbvios pelos quais os caminhos de uma religião são traduzidos para a vida pessoal. Assim como as histórias transmitidas pela tradição oral, as religiões também produzem textos. Destes, alguns são vistos como revelações provenientes e autoritativos do próprio Deus pelas religiões que os adotam. Exemplos: A bíblia para nós os cristãos, A Tora (para os Judeus), O alcorão (para os muçulmanos), O Vedas (a escritura hindu), Etc. O fato de que os textos tidos como sagrados pelas diversas religiões que não são cristãs, não se harmonizarem e até mesmo se contradizerem, reforça a divisão radical entre as religiões. Assim, há muito que se aprender no que tange ao passado das religiões. Elas têm estado sempre presentes no processo de mudança e transformação em todos os tempos. 3. - A religião numa Perspectiva Antropológica 23
  • 24. Os antropólogos descrevem as crenças e práticas religiosas tal como se lhes deparam nas comunidades vivas. A religião ajuda a unificar um povo através de uma experiência e de explicação de vida que são compartilhadas. Fornece um padrão para os comportamentos, muitas vezes em respostas aos riscos da vida. A antropologia é o estudo do comportamento humano: a religião, como padrão de comportamento, como se tratasse de qualquer outra atividade da vida humana (assim pensam a maioria dos antropólogos). Posteriormente aos anos de 1950, os antropólogos voltaram a atenção ao papel da religião como expressão da estrutura das idéias, valores e crenças de uma determinada sociedade. Como área de estudos antropológicos, a religião proporcionou uma grande contribuição para a obtenção de um conhecimento mais vasto acerca dos diversos povos do mundo, principalmente, no que tange as tribos inóspitas e mais primitivas. Os antropólogos desde há muito tempo, têm se dedicado a estudar as mais diferentes formas de religião, porque sentem-se eles interessados em relacionar a ciência antropológica com a religião e seu progresso. Enquanto no século XIX, os estudiosos se sentiam felizes por combinar as idéias antropológicas coma s relacionadas com a mente humana, no século XX a mente foi isolada e sujeita a uma atenção especial e por parte dos psicólogos. Sigmund Freud baseou-se fortemente na antropologia evolucionista, em especial nas famosas Conferências sobre a Religião dos Semitas, de William Robertson Smith (1889), mas o seu desejo era demonstrar como o subjacente poder da mente humana, misturado a uma espécie de energia sexual denominada libido, provocava um atitude de figura divina que tinha as suas origens na relação da criança como seu o seu humano. Freud concluiu também que as posições religiosas já não tinham utilidade para o homem, tal como demonstrou com clareza no seu livro “O Futuro de Uma Ilusão” (1927). Nesta sua obra, a projeção religiosa é vista como ilusão, com a mente humana afastando o homem da verdade e da realidade, fato, portanto, a lamentar. O psicólogo Willliam James adotou uma atitude bem mais positiva para com o papel da religião. Em sua obra “As Variedades da Experiência Religiosa” (1902), deu uma completa descrição das experiências religiosas de várias pessoas, comparando e fazendo contrastar aquilo a que chamava de “religião de mente só” com a das “almas doentes”. Para William James, a religião tinha valor para ajudar o homem a viver uma vida positiva e corajosa. Em outras palavras, dizia ele, a religião ajuda o homem a aceitar a si mesmo e ás suas condições de vida, em vez de se deixar cair prisioneiro das enfermidades da vida. Tudo isso seria uma vantagem positiva para o homem, motivo pelo qual William James não via a religião como uma ilusão (visão Freudiana) sem futuro real, tal como Freud a descrevia. 4 - A Religião numa Perspectiva Sociológica Observa-se no domínio da sociologia da religião, as grandes contribuições que fizeram no início do século: Emile Durkheim, Bronislaw Malinowki e Max Weber e Sigmund Freud com a sua obra “Totem e Tabu”. Num ponto de vista, todos eles estão de acordo (menos Freud), que a religião é um fenômeno característico de todas as sociedades humanas passadas, presentes e futuras. Os racionalistas afirmavam que a religião cega os seus asseclas. Votaire, filósofo francês do século XVIII, “a religião cultiva a ignorância entre os seus fiéis, e que a credulidade do povo faz a ciência dos líderes religiosos, conduzindo o povo a uma sentimentalidade passiva.” Karl Marx falava “do suspiro da criatura oprimida”. Para estes, a religião não devem ser tratadas nem como as imagens longínquas de um ideal inacessível, nem como a projeção delirante de desejos que buscam no imaginário uma realização ilusória. A tradição racionalista tratou o rito religioso por muito tempo, como um ato desprovido de sentido. Entretanto, isso não basta, afirma Malinowski (1884-1942), procurar o sentido do rito na motivação do homo religiosus que tenta dominar sua angústia na religião, ou diante dos mistérios impenetráveis de sua condição. O sentido do rito, diz Malinowski, não está em sua eficácia instrumental. O rito não propicia ao fiel apenas a catharsis de sua angústia por comportamentos substitutivos. A realização do rito reforça e restaura a solidariedade de grupo – desde que seja tomada a sério e considerada estrita obrigação. A variante conservadora dessa posição é que a religião é boa para o povo. A contribuição da sociologia consiste em tratar a também como um fato social, isto é como um fato humano. Na 24
  • 25. perspectiva de Emile Durkheim (1858-1917) não é em si nem boa nem má, contudo, ela serve como um elemento de contenção do caos da sociedade humana, minorando e atenuando a violência. A experiência religiosa encarna-se no tecido da ação social, dando-lhe sentido, embora transcenda-a a ponto de, às vezes, negar-lhe, como em certas formas de ascetismo e de misticismo, qualquer validade, se não mesmo a realidade. Durkheim afirmava não ter dúvidas de que as religiões ocidentais, estavam ultrapassadas, principalmente o catolicismo, mas que o sagrado continua a constituir uma categoria universal da experiência humana. Em suma: “a religião é um sistema solidário de crenças relativas a coisas sagradas, isto é, separadas, proibidas”, afirmava Durkheim. Uma de suas mais importantes obras foi: As Formas Elementares da Vida Religiosa”. Já o sociólogo Max Weber (1864-1920), em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, trata das especulações da teoria agostiniana e calvinista sobre a graça, não mais como se pertencessem ao universo das idéias, mas como um ingrediente essencial à constituição e à manutenção da civilização moderna. O ensinamento da sociologia Weberiana é duplo: Em primeiro lugar, ela mostra a importância das orientações religiosas no funcionamento das sociedades modernas. Weber recusa assim as formas mais ingênuas do evolucionismo que vê na religião uma forma, por assim dizer, subdesenvolvida da consciência coletiva. Em segundo lugar, o fenômeno religioso é visto como não se reduzindo a uma experiência subjetiva somente, vivida por indivíduos particularmente dotados de certas exigências existenciais. O protestantismo (principalmente o calvinismo para Weber), é tanto uma forma de organização da sociedade religiosa, como um projeto religioso sobre como dever organizar-se a sociedade leiga. O peso do puritanismo é considerado também na formação das instituições democráticas, sobretudo no caso da democracia americana. Tocqueville salientou que os colonos do May Flower (navio que trouxe os peregrinos para a América) haviam decidido fundar, nos ermos do novo mundo, uma sociedade de acordo com o ensino bíblico. É por isso que a noção de Lei é tão central na concepção puritana. A fonte dessa Lei está em Deus. Por muito tempo, os teólogos têm sustentado a posição que o fato religioso escapa às influências da ciência positiva. Os teólogos sempre se opuseram aos herdeiros da tradição racionalista, que acreditavam explicar o fato religioso pela ignorância ou pelos impulsos de uma afetividade cega. A teologia começa com dois pressupostos teológicos: 1) Deus existe; 2) Deus se revela a si mesmo em sua Divina Palavra. No século XIX por influência do liberalismo teológico, a religião tomou o lugar de Deus como o objeto da teologia. A fé nas Escrituras como uma autoritativa revelação de Deus foi desacreditada. Friedrich Schleiermachar procurou salvaguardar o caráter científico da teologia pela introdução de um novo método: O sentimento religioso do homem substitui a palavra de Deus como a fonte da teologia. 5. - Vários tipos de ateismo religioso 1) Ateísmo dogmático: nega categoricamente que exista um Divino SER; 2) Ateísmo cético: Afirma que a mente humana é incapaz de determinar se existe ou não existe um Deus; 3) Deus é a personificação de uma mera idéia abstrata: Deus como um “símbolo”. 4) Deus como um ser impessoal: O panteismo. 5) Deus como um algo completamente imanente e impessoal: Sob a influência do panteísmo, identificando Deus com o mundo criado. 6) Deus é finito e pessoal: a idéia de transformar o Deus da Bíblia, inserindo-o na categoria e galeria dos deuses dos povos como simplesmente mais um deles, é uma idéia tão antiga quanto o politeísmo e o henoteísmo 7) Moderno humanismo: Deus é o espírito da humanidade, o senso de totalidade, o alvo étnico e racial. 8) Augusto Comte: Desde Comte tem havido a tendência de personificar a ordem social da humanidade como um todo e para adorar essa personificação. 25
  • 26. Premissas conceituais: A) Deus é a totalidade das relações que constituem toda ordem social da crescente humanidade; B) Deus é nosso conceito, nascido da experiência social com o nosso espaço cósmico, com o qual nós estamos relacionados; C) Deus é aquela qualidade da sociedade humana que dá suporte e enriquecimento a sociedade; D) A palavra “Deus” é um símbolo para designar o universo em sua capacidade ideal de formação. E) Para os cristãos: Para os teólogos, o ateísmo não é um estado natural do homem. As nações que se tornaram atéias, ateizaram a sociedade pela força e coação. Segundo os teólogos, o ser humano nasce teísta e a sociedade o torna-o ateu. 5 - AS RELIGIÕES E AS PROVAS RACIONAIS DA EXISTÊNCIA DE DEUS 1) O argumento ontológico: Este argumento tem sido apresentado por Anselmo e Descartes., tendo a sua mais influente e perfeita forma em Anselmo. Ele argumenta que o homem já nasce com a idéia de um Ser absoluto perfeito. Hegel afirmava ser este o mais forte argumento sobre a existência de Deus. 2) O argumento Cosmológico: ele aparece em várias formas, mas em suma, afirma-se que “todas as coisas existentes no mundo têm uma causa adequada, e portanto, o próprio universo precisa ter uma causa adequda.” David Hume o chamou de lei da causa ela mesma em questão, e Kant sublinhou que cada coisa existente tem uma causa adequada. 3) O argumento Teleológico: Este é um argumento causal e é realmente uma extensão do argumento anterior (o cosmológico). Pode assim ser sumarizado: O mundo em toda parte ao redor, revela inteligência, ordem, harmonia, e propósito, e isto implica na existência de um ser supremamente inteligente outorgou inteligência, harmonia, e propósito a toda as coisas. Ele mostra que o mundo contém inteligência e desígnio e logo, o mundo requer um designador. 4) O argumento Moral: Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e dali inferiu a existência de alguém que, como legislador da lei e juiz, tem o absoluto direito de governar o homem. Para Kant, este argumento é superior aos demais argumentos. Alguns argumentam que a disparidade freqüentemente observada entre a conduta moral do homem e a prosperidade dos injustos na presente vida, requer necessariamente um ajustamento futuro e um justo juiz. 5) O argumento Histórico ou Etnológico: Em suma, este argumento tem a seguinte forma: Entre todos os povos da terra existe um senso do divino, o qual revela ele mesmo ser um valor supra- cultural. Desde que isto é um fenômeno universal, ele precisa pertencer a íntima e intrínseca natureza do homem. E se a natureza do homem o guia para a adoração religiosa, isto pode somente encontrar explanação no mais alto Ser que tem constituído o homem um ser religioso. 26
  • 27. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CURSO DE ARQUITETURA DISCIPLINA: ÉTICA E CIDADANIA Prof. Antonio José Assunto Temático: 1. A FILOSOFIA DA RELIGIÃO E OS MÚLTIPLOS TIPOS DE RELIGIÃO A filosofia da religião não é uma defesa das crenças religiosas, antes, é um exame filosófico das crenças religiosas e suas implicações na sociedade e no mundo. A filosofia da religião tal como é compreendida, consiste apenas na análise filosófica dos informes religiosos. A história da religião acompanha a história da humanidade. Onde estiver o ser humano, aí estará, igualmente, a religião. Vejamos, inicialmente, a visão da religião no pensamento dos filósofos: 1. Heráclito (500 A.C) criticou as superstições da antiga religião dos gregos. 2. Xenófanes (500 A.C) criticou o politeísmo dos gregos, com seus deuses caracterizados por uma baixa moralidade, e procurou promover um antigo monoteísmo entre o povo. 3. Sócrates (450 A.C) abordou principalmente as questões éticas, as quais são extremamente importantes para a fé religiosa, e declarou sua fé em Deus e na alma. 4. Platão (400 A.C) idealizou um nobre sistema religioso. Sua filosofia estava eivada de padrões e crenças espirituais. Seu dualismo foi de alguma forma emulado pelo pensamento cristão, influenciando vários teólogos da era patrística, principalmente algumas de suas idéias sobre a alma. Seus conceitos sobre as Idéias ou Universais proveram e coincidiram com muitos atributos tradicionalmente atribuídos a Deus, como infinitude, eternidade, vida fora do tempo, vida fora do espaço, onipotência, onipresença e outros. Ele misturava suas idéias com noções orientais a respeito da alma, da reencarnação e da responsabilidade (Karma). Platão também fez o contraste entre o meramente perere (existência para sempre) e o eterno (participação na natureza divina). Além disso, ele trouxe à tona a qualidade da vida divina, ultrapassando em muito a idéia da vida interminável. Ele concebia um drama sagrado da alma, a qual busca purificação e espiritualização, o que tem influenciado a muitos pensadores. Os primeiros pais da igreja, mormente os de tradição grega, foram, de alguma forma, influenciados por ele. O neoplatonismo, um movimento religioso da era patrística, esta em parte alicerçado no pensamento platônico. 5. Os apologistas cristãos (era patrística) estavam divididos entre o uso da filosofia e da razão. Tertuliano e seu seguidores rejeitaram totalmente o uso de meios racionais e filosóficos para o entendimento e desenvolvimento do pensamento cristão. Por outro lado, Justino Mártir, Clemente, Orígenes e seus seguidores encontravam muito uso para a filosofia da religião, - considerando os melhores aspectos da filosofia, como o pensamento filosófico de Platão. Alguns teólogos da patrística o tinham como um mestre-escola que tendia por conduzir os gregos a Cristo, da mesma maneira que a lei de Moisés teve essa função para os Judeus. Naturalmente, eu creio que essa possibilidade de ver Platão como um Moisés, não procede e nem é verdadeira e legítima para os cristãos. 6. Muitos filósofos do período iluminista supunham que a religião não era dotada de qualquer conhecimento certo, e que se quisermos ter tal conhecimento teremos que nos voltar para a ciência. E, segundo eles, quando fazemos isso, abandonamos a religião, por ser ele uma inquirição inferior, afirmavam. Muitos opinavam que o cristianismo era uma superstição. A verdade é que muitos assumiram uma visão geral bastante baixa quanto a religião. 7. Immanuel Kant, filósofo alemão, não podia encontrar apoio para a fé religiosa em suas proposições derivadas da experiência (empirismo), mas descobria certa justificação para as principais crenças religiosas em seus postulados, que ele fazia derivar da razão, da intuição e das experiências. Kant negava os argumentos racionais em favor da existência de Deus, mas 27
  • 28. apoiava a crença na existência de Deus sobre bases morais. Ele também defendia a existência da alma, como algo necessário para qualquer sistema religioso coerente. 8. O positivismo lógico negava qualquer valor nas proposições metafísicas, fazendo da ciência o seu deus. Ora, a ciência está limitada à percepção dos sentidos e suas manipulações. 9. Soren Kiekegaard e os existencialistas percebiam muito desespero no mundo, enquanto que o homem estaria perdido em seu supremo livre-arbítrio. Os existencialistas ateus não viam como o homem poderia sair desse desespero, contudo o existencialistas cristãos como Kiekegaard, notavam veredas de escape, como a missão de Cristo e a significação dele. 10. Friedrich Schleiermacher vinculava a religiosidade das pessoas, aos seus sentimentos de dependência de Deus. 2. – Os Tipos de Religião 1. Animista: Espíritos, desencarnados ou não, servem de base para as crenças e os atos praticados pelo animismo. Fica entendida a proximidade do mundo dos espíritos, os quais podem encarnar-se em pessoas, coisas ou objetos. Tais espíritos seriam bons ou maus, podendo ajudar ou prejudicar ativamente os seres humanos. 2. Panteísmo: A palavra panteísmo se deriva dos termos gregos “pan”, que significa tudo, e “theos”, - que significa Deus. Panteísmo significa que Deus é tudo e tudo é Deus. Segundo essa crença, nada existe além de Deus. Deus abrange tudo em sua própria existência. Ainda segundo o panteísmo “na eternidade do passado existia algo chamado Ser impessoal, inconsciente, sem vontade ou poder de escolher, nem matéria nem espírito, mas tendo a potencialidade de ambos. Este Ser desenvolveu-se, pela lei da necessidade, transformando-se no universo tal qual existe hoje, ele tem estado a desenvolver-se e continuará a faze-lo ad infinitum. Esse Deus impessoal chegou ao seu desenvolvimento mais elevado e alcançou a consciência no homem. E assim, o universo é Deus e Deus é o universo, e o homem é a mais elevada forma existencial de Deus. Em suma, ensina-se que não existe um Deus pessoal separado da personalidade do homem. (OBS: O movimento da “Nova Era”, se caracteriza como um movimento panteísta. Esse movimento enfatiza a impessoalidade de Deus. A Ênfase é: “Descubra o deus que há em você. Você pode todas as coisas.” 3. Legalista: O principal elemento religioso, nessas religiões, é algum código legal que governa todos os aspectos da vida do indivíduo. Esse código geralmente é concebido como divinamente inspirado; o bem é prometido àqueles que obedecem (algumas vezes esse bem é a própria salvação, um tipo de salvação pelas obras); é prometida a punição àqueles que desobedecem ao código legal aceito. 4. Ritualista: Nessas religiões acredita-se que ritos e cerimônias agradam as divindades (Deus), e que aqueles que observam tais coisas (cerimônias e ritos) serão beneficiados. Esse ritos, com freqüência, simbolizam crenças importantes, ou então costumes e expectações futuras dos adoradores. As artes ocultas e as fés religiosas antigas, operavam com base em ritos e encantamentos, como se essas coisas servissem para controlar os espíritos, fazendo-os atuar para o bem das pessoas, e para malefício dos inimigos dos adoradores (Ex. O assim chamado de culto afro-brasileiro, como a umbanda, quimbanda e seus ritos). 5. Sacramentalista: Nessas religiões, os sacramentos ocupam um lugar preponderante na vida dos adoradores, sendo os sacramentos vistos como meios de graça divina, através dos quais Deus veicula também suas bênçãos. A Igreja Católica, e ainda, as Igrejas evangélicas Históricas e outras evangélicas, tendem a ver os sacramentos ou ordenanças do batismo e da Santa como meios de graça. Naturalmente, para nós, os cristãos, não há necessariamente, nada errado nesta crença e nesta postura cristã. 6. Natural: A revelação divina, ou é rejeitada com fundamento para essa religiões, ou recebe uma posição meramente secundária. Para essas religiões, Deus ter-se-ia manifestado na natureza, mostrando-se ativo nas faculdades racionais e intuitivas do homem. Portanto, 28