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Fundamentos Epistemológicos da Medicina
2. O CONHECIMENTO
Luiz Salvador de Miranda Sá Jr.
A ciência é grande, mas a inteligência do homem
cava cada vez mais fundo.
Maimônides, médico judeu cordobês (1135-1204)
Introdução
Qualquer animal desfruta da possibilidade de se dar conta do local em que está e da
situação em que existe ali, naquela parte da natureza no exato limite de suas
possibilidades sensoriais e motoras. Mas só o Homem tem capacidade de conhecer a
si mesmo e o mundo à sua volta cada vez mais ampla, profunda e corretamente tem
sido um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento da humanidade e de
cada ser humano. Saber como se conhece e divulgar este saber tem sido um dos
desafios mais fascinantes dos que estimulam a atividade das pessoas que se
interessam por desvendar os mistérios do mundo desde as épocas mais remotas.
Este trabalho compõe parte desse esforço.
O que é Conhecimento
Como sucede a muitas palavras substantivas portuguesas terminadas em ão e em
mento, a expressão conhecimento guarda uma curiosa ambigüidade que é própria dessa
categoria vocabular: signifca ao mesmo tempo, uma ação ou processo e seu resultado.
1
A palavra conhecimento contém dois sentidos complementares mas distintos e ambos
devem ser sabidos por quem estuda a matéria.
Primeiro, o como conhecer, oconhecimento entendido comu procedimento de
conhecer, isto é, o modo como se dá a apropriação pelo sujeito das qualidades do
objeto, isto é, significa também o processo de conhecer; e
Segundo, o conhecimento-resultado, o saber o quê, que significa o resultado desse
processo cognitivo, o conhecimento que o sujeito cognoscente incorporou ao se
apropriar de informações referentes ao objeto conhecido.
O conhecimento-processo de conhecer, doravante denominado apenas conhecimento (é
uma expressão originada do verbo latim, cognoscere = conhecer) costuma ser definido
como a apropriação pelo sujeito (cognoscente) de propriedades e qualidades do objeto
(conhecido), o que sempre está associada a alguma convicção de que aquilo que se
conhece é uma expressão da verdade. Tal convicção de realidade é diferente no
conhecimento comum, de um lado, e no conhecimento científico e filosófico, do outro.
O conhecimento é uma forma superior e cracterísica de interação e adaptação humana
à realidade externa e interna. O conhecimento. Sob qualquer de suas formas. não é
concebido como um fenômeno elementar ou unitário e indivisível. Analisado e, sua
primeira forma, podem ser diferenciadas nele algumas modalidades importantes de
saber que, apesar de conservarem suas característica gerais, podem ser especificadas
por suas peculiaridades conceituais e factuais.
Do segundo ponto de vista – o conhecimento resultado do procedimento de conhecer –
é possível diferenciar alguns aspectos particulares do conhecimento; como os aspectos
psicológicos, os fisiológicos e os sócio-culturais. Aqui, neste texto, leva-se em conta,
principalmente, a dimensão epistemológica (ou gnosiológica) do conhecimento e sua
possibilidade de chegar à verdade (sua eficácia como instrumento cognitivo válido e
fidedigno).
2
Os antepassados dos humanos começaram a existir no mundo como os demais seres
da natureza. Não viviam apenas na natureza, viviam exclusivamente da natureza e
para a natureza, mudando a forma de seu corpo e seu funcionamento para se
adaptarem às exigências naturais como sucede com todos os demais seres vivos. E tal
qual sucede com os demais seres que vivem na, da e para a natureza. Situação na
qual, há de se admitir, revelou notável desvantagem quando se compara suas
possibilidades animais com os demais seres desta série biológica. O processo
evolutivo que lhes assegurou existir com nova qualidade, foi o que os libertou desta
dita.
O processo denominado de hominização inclui a mudança estrutural e também uma nova
realidade ambiental – o ambiente social, a sociedade humana em suas muitas
manifestações (pares afetivos, famílias, comunidades, ambientes laborais, associativos
ou outros).
O conhecimento pode ser entendido como uma das formas mais importantes do ser
humano se relacionar com o mundo à sua volta, se adaptar a ele e de empregá-lo para
satisfazer suas necessidades. Por isto, parece muito importante saber como isto se dá.
Saber se existe mesmo o conhecimento, como ele se dá e quais são as possibilidades
reais de uma pessoa conhecer e como isto se dá.
As respostas a estas perguntas são fornecidas pela Filosofia através da Teoria do
Conhecimento e pela Psicologia, atrávés do estudo da capacidade cognitiva e da
Psicologia da Aprendizagem.
Quase todos concordam que as manifestações mais primitivas do conhecimento se
originaram de um atributo muito primitivo uma necessidade de conhecer - a
curiosidade. Conhecer é bem mais que uma necessidade objetiva, é importante
necessidade subjetiva. Os seres humanos necessitam conhecer, tanto quanto
necessitam pensar, sentir e agir. Pois, necessitam explicar e entender as tudo o que
desperta seu interesse pois isso lhe dá segurança. Enquanto não conseguem explicar
3
factual ou logicamente alguma coisa ou acontecimento, inventam explicações
fantásticas empregando o pensamento mágico.
A elaboração mágico-superticiosa foi a maneira mais elementar que o ser humano
primitivo inventou para expressar sua necessidade de conhecer. O espírito curioso,
quando não sabe, inventa e sempre surge alguém que acredita no inventado. Por isso,
pode-se supor com bastante facilidade que a capacidade de conhecer e elaborar
inteligentemente os dados conhecidos, que pode ser denominada cognoscibilidade
inteligente, seja uma marca característica da humanidade e um marco de sua
hominização na luta permanente do homem e da humanidade sobreviverem e se
desenvolverem como indivíduos e como espécie.
Pois, praticmente todos os outros animais se mostram capazes de conhecer e
reconhecer construtos como atributos ou outras informações sobre o concreto nas
coisas materiais com as quais entram em contato no desenrrolar de sua existência. No
entanto, o conhecimento simbólico, referente a informações abstratas, parece ser
apanágio humano. Somente ele tem a capacidade de experimentar esta atividade
simbólica. A capacidade de abstrair e operar mentalmente com símbolos de símbolos é
uma qualidade tipicamente humana. E a de operar de tal maneira que possam
entender e empregar esta capacidade em seu próprio proveito e nas relações com os
demais. Esta capacidade, como sucede aos demais atributos animais ou de
humanidade estão distribuídos desigualmente nas pessoas. Umas, são mais bem
dotados e outras, menos.
Conhecimento, Gnosiologia e Epistemologia
A Gnosiologia ou Teoria do Conhecimento é o estudo sistemático que constitui o ramo
mais geral da teoria do conhecimento ou seja, é a disciplina filosófica que abrange o
estudo de todas as modalidades do conhecimento. Isto é, os elementos de significação
do conhecimento são chamados gerais quando não se referem só ao conhecimento
científico ou ao filosófico mas abrande o conhecimento comum. Isto porque o
4
conhecimento vulgar educado deve estar dirigido por pressupostos lógicos e
inteligentes, além de organização eficiente que o delimitem e possibilitem saber quando
pode ser tido como verdadeiro e identificar o porquê de sua veracidade e probabilidade
de ser verdadeiro.
A designação de cienciologia para designar a ciência filosófica que estuda o
conhecimento científico se deveu à sua apropriação por uma tendência
supersticiosa, além de explícita e radicalmente anticientífica.
A Gnosiologia estuda o conhecimento desde a capacidade humana de conhecer o
mundo e a si mesmo; além de estudar os mecanismos lógicos que lhe permitem
elaborar e acumular seu acervo cognitivo. Neste sentido particular, faz-se inseparável
da psicologia da aprendizagem, da história das idéias e da sociologia do conhecimento.
Estas e muitas outras disciplinas que contribuem para a elaboração do conhecimento
humano. Conhecimento que pode assumir formas bastante numerosas. Aqui cuida-se
particularmente do conhecimento médico, dos fenômenos que interferem em sua
elaboração e aquisição e das possíveis aplicações da teoria do conhecimento nele.
Esta distinção entre Gnosiologia (teoria do conhecimento) e Epistemologia (teoria
do conhecimento científico) coloca em foco algumas situações interessantes para
quem pretende se debruçar sobe a estrutura do conhecimento médico. Trata-se do
fato das ciências médicas terem menor alcance que as necessidades da prática dos
médicos, isto é, a ciência explica menos que a necessidade dos doentes. O que há se
ser objeto de estudo noutra ocasião.
É disto que se pretende tratar neste texto, ainda que de modo inteiramente sem
pretenßão. Sua maior pretensão se limita a servir de apoio aos estudantes que se
iniciam nestes estudos, especialmente os aprendizes de médicos, que
tradicionalmente fogem destas matérias, devido a seu caráter abstrato e por
considerá-las demasiado distantes de seu campo de interesse. E esta tendência deve
ser afrontada a todo custo. Pois constitui importante fator de alienação dos
médicos.
O conhecimento médico deve ser entendido sempre uma modalidade de conhecimento
científico sobre os enfermos, as enfermidades e os recursos para intervir em benefício
dos seres humanos; especialmente no que interessa à profilaxia e ao diagnóstico das
enfermidades e ao tratamento e à reabilitação dos enfermos.
5
Desde sua origem, o conhecimento médico vem sendo elaborado como manifestação
importante da atividade cognitiva humana acerca das doenças e dos doentes, sendo
pouco provável que qualquer cultura tenha negligenciado dele. E, talvez por isso, tenha
sido um dos precursores da atividade científica e um de seus motivadores mais
influentes. Contudo, dentre todas as outras formas de conhecimento científico, o
conhecimento médico é (e deve ser) o mais exigido em termos de rigor ético e cientíco,
tanto em sua investigação quanto em sua aplicação prática. Principalmente por conta
da vulnerabilidade do paiente, por conta de sua condição de enfermo e de sua
dependência do médico.
É bastante possível afirmar que, ao menos até o século XX, que o conhecimento
científico se vem mantendo como vanguarda do que há de mais avançado dos
processos culturais (ao mesmo tempo individual e social) pelos quais os seres
humanos conhecem a natureza, a sociedade e a humanidade do mundo em que
habitam. Assim, conhecendo-as, poderem transformá-las de modo a melhor atender
às suas necessidades. Pois, diferentemente dos outros seres vivos que só podem se
adaptar modificando sua estrutura e seu funcionamento para adaptar seus
organismos às mudanças nas exigências do meio, os humanos também têm a
possibilidade de mudar o meio (natural e social) para ajustá-lo às suas necessidades.
Mesmo àquelas necessidades mais recentes, as psicossociais, reconhecidas como
necessidades resultantes da evolução das necessidades naturais, as mais primitivas.
O conhecimento médico iniciou e prossegue sendo um ramo importante do
conhecimento humano e só isto bastaria para justificar o estudo atento de seu
conteúdo e de sua estrutura. Ao menos pelos médicos. A possibilidade humana para
conhecer costuma ser denominada capacidade cognitiva ou cognição e seu produto, o
conhecimento.
Por cognição designa-se a reunião de todos os processos integrantes da ação subjetiva
que permitem conhecer e se diferencia do intelecto ou inteligência, que é uma de suas
dimensões, porque existem formas automáticas de conhecer que se mostram bastante
independentes das operações intelectuais que possibiluatm o raciocínio.
O processamento intelectual é uma das fontes do conhecimento (outra, são as
informações sensoriais e dos demais atributos psicológicos como a memória) e o
conhecimento constitui a base fundamental de toda atividade racional dos seres
6
humanos, atividade que os diferencia de todos demais seres da série animal. Neste
sentido particular, a atividade inteligente e o pensamento inteligente devem se
consideradas como categorias essenciais ao entendimento da existência humana e
seu desempenho cognitivo, notadamente pela capacidade de resolver problemas e
de inferir novos conhecimentos a partir dos já conhecidos. O conceito de cognição
foi invocado pelos neocondutistas para substituir os de inteligência e intelecto, que
lhes parecia muito amplo e inexato. Porém, hoje, passou a padecer dos mesmos
defeitos. Muitos deles usam conceito de cognição como sinônimo de intelecto.
Ainda que a cognição envolva praticamente todas as qualidades psíquicas,
notadamente a senso-percepção, a atenção, a memória, o pensamento inteligente e
a memória. Mas também há que empregue o conceito de cognição para mencionar
os fenômenos psíquicos da esfera impressivo-gnósica ou como sinônimo de
aprendizagem ou referente ao conhecimento, como se emprega aqui.
A configuração formal do conhecimento médico não difere em nada do conhecimento
em geral. A não ser ao que se refere às peculiridades de seu objeto e aos métodos e
técnicas especificamente adequados a ele. Por isto, no que é essencial, o
conhecimento médico não deve ser diferenciados das outras modalidade do conhecer,
especialmente das modalidades de conhecer cientificamente, pois o conhecimento
médico deve ser científico. Por isto, o conhecimento médico pode ser definido como a
modalidade do conhecimento preferencialmente científico que se refere ao que se sabe
e ao que se procura saber sobre as enfermidades e os enfermos e sobre as relações
que existem entre eles; tudo dirigido para o objetivo de ajudar as pessoas afetadas ou
ameaçada por enfermidades. Com o tempo e a evolução da Gnosiologia como teoria
geral do conhecimento, enquando se identifica em seu interior um ramo mais exigente,
a Teoria do Conhecimento Científico ou Epistemologia. O que se detalhará mais
adiante neste texto. No entanto, deve-se ressaltar que os termos Gnosiologia (teoria
geral do conhecimento) e Epistemologia (teoria do conhecimento científico) se refere
ao conhecimento processos cognitivos, mecanismos lógicos e psicológicos para
conhecer e não, ao conhecimento resultado, ao acervo de conhecimentos obtidos com
esses processos. Cada tipo particular de conhecimento constitui objeto de uma ciência
partucular.
Há quem denomine a Epistemologia de cienciologia ou cientologia, fato inconveniente
7
porque este conceito, como já se mencionou, é usado por uma atividade mágico-
supersticiosa para designar uma religião. Religião que exerce certa influência na
cultura norte-americana e que, por sinal, sustenta virulenta campanha anticientífica,
anti-médica e anti-psiquiátrica, que também recebe a aprovação de diversas
tendências políticas anarquistas e detergentes.
Senso Comum sobre o Conhecimento
Na linguagem vulgar conhecer é sinônimo de saber algo sobre alguma coisa; aí o
conhecimento guarda relação com os processos de saber, ter ciência de algo com
diferentes graus de extensão, minudência e de convicção; informar-se e conceber,
além do conhecer com ter algum contacto, saber de que ou de quem se trata. Na maior
parte dos dicionários, define-se conhecimento como o ato ou o efeito de conhecer.
Seus sentidos figurados incluem: aprendizagem, entendimento, compreensão,
inteligência, razão natural. Utilizada no plural, conhecimentos, a palavra quase sempre
se refere a ciência, saber sabedoria, prática da vida, experiência, cultura, erudição,
sapiência. A palavra conhecimento chegou ao idioma português e às demais línguas
românicas através do latim. Especificamente, através do verbo latino cognoscere, que
significa conhecer.
Etimologicamente, a palavra conhecimento foi formada pela junção de duas palavras.
Como prefixo, a preposição latina co, cum (que em português assumiu o, o
significado de com, junto a, perto de, ao lado de – em colega, co-presidente,
companheiro); e, como raíz de palavra, pelo substantivo gnoscere, vindo da palava
grega genesis, que quer dizer gênese, origem, proveniência, nascimento.
Caso se empregue rigor etimológico, conhecer quer dizer co-nascer, nascer com, nascer
junto. Neste sentido particular, nascer junto se refere à experiência de se descobrir
numa unidade originária com o que está sendo mencionado na palavra-raiz, o que os
gregos chamaram de alétheia, isto é, o modo de ser da verdade objetiva.
1
Nascer com
querendo dizer e experiência subjetiva que reflete as características de um objeto
objetivou subjetivo do sujeito. Portanto, caso se empregue o termo com o necessário
rigor etimologico, contata-se que o verbo conhecer significa nascer-junto ou
1
http://www.enciclopedia.com.br/med2000/pedia98a/filo79ps.htm
8
compartilhar a mesma origem, sentido que se conserva muito evidente na forma
francesa desta palavra, que é con-naître (co-nascer, compartilhar o nascimento).
A palavra também pode ter uma conotação comercial. Conhecimento aqui também
tem o sentido particular e comercial de registro formal de uma mercadoria
transportada, o documento que descreve a mercadoria; mas não é o caso aqui.
Como não se dá o caso de outra conotação qualquer que a palavra conhecimento
possa ter.
Recursos para Conhecer:
No processo de conhecimento intervêm as sensações diretas, o pensamento
inteligente e mais os recursos indiretos de conhecer (aparelhos ópticos, de gravação
sonora, recursos de mensuração e outros) e os processos mentais que ampliam as
possibilidades cognitivas (senso-percepção, atenção, memória, pensamento
inteligente, imaginação, capacidade verbal). Ainda que não seja desprezível a
influência de fatores afetivos e volitivos.
O conhecimento pode advir das sensações, da experiência mais ou menos elaborada
ou do raciocínio. Cada uma dessas três fontes de conhecimento ocasionou o
surgimento de uma tendência doutrinária que a pretende exclusiva em seu mister: o
sensualismo, o pragmatismo e o racionalismo. Aqui se sustenta que cada uma destas
doutrinas contém uma vertente da verdade, inclusive da verdade científica
Definição Científica de Conhecimento
Como acontece com muitos objetos do conhecimento científico, o próprio
conhecimento deve ser adequadamente difinido para facilitar seu estudo, pois é a partir
da definição de seus termos que se pode raciocinar adequadamete sobre alguma
coisa, assim como sem uma definição adequada de de de seus objetos ou fenômenos
mais essenciais não pode haver progresso em qualquer atividade científica.
Uma definição aceitável de conhecimento pode ser a que se segue. O conhecimento
pode ser consiste na apropriação pelo sujeito (cognoscente) de qualidades do objeto
9
(conhecido), que sempre está associada a alguma convicção de que aquilo se trata da
verdade. Esta apropriação se faz sempre pela elaboração de um construção mental
(um construto) que leva em conta não apenas os dados recebidos neste processo, mas
sua interação com todo o conteúdo restante da consciência, com a experiência
passada e a expectativa de futuro. A atividade cognitiva médica aspira a ser uma
modalidade cada vez mais científica, ainda que receba muita influência do
conhecimento vulgar e do conhecimento filosófico. Todo conhecimento traz implícita,
por definição, uma certa convicção em ele corresponde à verdade. Mesmo que seja
objetivamente falso.
Aqui há uma contradição ontológica a ser considerada: uma mesma proposção pode
ser tida como conhecimento ou uma pessoa e ter negado seu caráter de conheciemnto
por outra. Devendo-se ressaltar que, a rigor, um conhecimento falso não é
conhecimento, é uma crença, uma ilusão, uma fantasia, um dogma. O que implica no
entendimento do termo verdade com duas dimensões – uma, subjetiva (a impressão
subjetiva de verdade) e outra, objetiva ( asim chamada verdade objetiva). No entanto,
como a informação falsa pode ser tida como verdadeira (o que acontece muito), isto
justifica a noção de conhecimento falso. Embora, pareça estar havendo aqui, uma
confusão entre juízo e conhecimento. Tudo isto aconselha evitar a expressão
conhecimento falso, sendo melhor, informação falsa, convicção falsa. Para que uma
informação possa ser tida como conhecimento, é necessário que seu agente a tenha
por verdadeiro, precisa ter uma convicção mínima de que se trata de uma verdade. Se
não o for, e isto ficar comprovado no futuro, daí em diante, deixa de ser tida como
conhecimento.
O mínimo que se pode esperar dos intelectuais e cientistas profissionais, que vivem
do que conhecem e do que aprenderam a fazer, é ter boa noção da estrutura do
conhecimento, por isto, se deve esperar que este assunto interesse a todos quantos
se preparam para a atividade científica. Principalmente os médicos, que jamais
devem se conformar em serem técnicos ou tecnólogos, isto é, meros aplicadores
de tecnologia. O que implica conhecer o conhecimento que produz e aplica.
1
Todo conhecimento se inicia na possibilidade de reconhecer o objeto conhecido, e se
amplia e se enriquece na medida em que se pode saber e explicar mais e mais sobre
aquela coisa, além de poder prever os fenômenos que se darão com ela. O seu
conteúdo de verdade é o que há de mais essencial em todo conhecimento.
Para alguns psicólogos, o conceito de conhecimento se confunde com a noção de
aprendizagem, ainda que sejam bem fenôenos bem diferentes, ainda que
convergentes. Uma corrente psicológica que está estudando muito atentamente o
conhecimento é a chamada Psicología Cognitiva, assim chamada pelo destaque que
dá a este aspecto da atividade mental. Do ponto de vista cognitivista, o conhecimento
representa:
a) a conservação e a recuperação de alguma experiência do sujeito;
b) a renovação do processo fisiológico estimulo – resposta, como base da atvidade
neuro-píquica;
c) além de permitir entender o organismo como realidade ativa e atuante.
Aí se destaca a importância de reconhecer a excitação e a inibição, os dois
processos neurais mais elementares como igualmente ativos. E o reflexo como
padrão de atividade nervosa. Nesta perspectiva, reconhece-se que as principais
formas assumidas pela atividade cognitiva são a percepção, a atenção, a imaginação,
a memória, o pensamento inteligente e a linguagem. Piaget e Chomski são
influências importantes na investigação. Mas, não se deve ignorar a contribuição de
Walon, Leontiev e Luria, dentre outros. A propósito, convém lembra que Piaget foi
o primeiro a definir o conhecimento como uma modalidade particular de relação
entre o sujeito e o objeto, intervindo neste processo diversas influências puramente
biológicas e adaptativas às imposições do meio, além de elementos do tipo lógico-
formal, que são elaborados nas funções psíquicas cognitivas.
Outros autores, como Freud, destacaram a influência dos fatores afetivos. Entre os
pedagogos, desde Bloom, tem-se o conhecimento como o primeiro e mais
importante dos objetivos educacionais a serem perseguidos em toda atividade
docente.
1
Classificação do Conhecimento
Do ponto de vista de sua exatidão, confiabilidade e validade, além da qualidade de seu
objeto e dos métodos que usa, reconhece-se desde há muito três modalidades mais
importantes de conhecimento:
- o conhecimento comum (senso comum),
- o conhecimento científico e
- o conhecimento filosófico.
Há quem pretenda uma quarta categoria de manifestações do conhecimento, o que
denominam conhecimento religioso. No entanto, seundo os critérios aqui empegados
para caracterizar os fenômenos de crença e conhecimento, o que alguns chamam de
“conhecimento“ religioso é, na verdade, outra modalidade de crença, mais
precisamente uma fé à qual se atribui qualidade cognitiva para ampliar sua
respeitabilidade.
O conhecimento científico e o conhecimento filosófico se originaram do conhecimento
comum através dos mitos, de outros recursos imaginários e da superstição. Enquanto o
conhecimento científico se estruturou através do desenvolvimento da razão,
especialmente da lógica, enquanto a ciência, além de empregar a lógica
subsidiariamente se baseou sobretudo na investigação empírica. Invistigação que se
iniciou pela observação sistemática e continuou por meio da investigação
metodicamente conduzida.
Existem vários e diferentes significados que são atribuídos à palavra crença. Pode
significar convicção sem verificação, qualquer que seja sua origem ou mecanismo de
sua aquisição. Pois, neste caso, crenças seriam todos os conteúdos psíquicos aos
quais o agente atribui veracidade. Aqui, usa-se crença como modalidade de
convicção caracterizada pela confiança na verdade que uma informação não
verificada possa conter. E, como se viu, aqui, se usa conhecimento quando o teor de
verdade de uma proposição pode ser verificado, seja logicamente na demonstração
ou factualmente na comprovação. Isto é que se pode denominar conhecimento.
Quando não, trata-se de fé ou crença com sentido restrito.
1
Classicamente, diferenciava-se o conhecimento sensível (obtido a objetivamente partir
das sensações também denominado conhecimento objetivo) do conhecimento lógico
ou conhecimento subjetivo (obtido a partir do raciocínio lógico, do processo subjetivo
de processar mentalmente as idéias). Igualmente, diferenciava-se o conhecimento
teórico do conhecimento prático, como se fossem qualidades diferentes do saber.
Ambas as diferenciações são erradas, estes dois pares de conceitos se referem a
aspectos diferentes de uma mesma coisa: o conhecimento por meio de canais
cognitivos diferentes.
Não se pode omitir a relação entre o conhecimento e a consciência; nem do carácter
comportamental dos conteúdos e processos cognitivos, porque são fenômenos de
reação imediata ou mediata a um estímulo ou a um conjunto deles; nem, muito menos,
sua utilidade imediata e mediata.
Em sua origem bastante remota, as palavras conhecimento, filosofia e ciência se
referiam a uma só atividade, tendo todos idêntica significação. No início, havia uma só
maneira de conhecer e este conhecimento podia ser denominado de diversas
maneiras. Depois, com o tempo e aperfeiçoamento dos procedimentos para conhecer,
os sentidos de conhecimento, filosofia e ciência foram se individualizando e cada uma
destas atividades assumiu o sentido que correspondia a seu papel como procedimento
cognitivo e como instrumento de desenvolvimento individual e coletivo.
A tal ponto se misturaram as raízes destes três processos e seus conceitos
respectivos, que hoje é impossível saber razoavelmente sobre qualquer um destes
fenômenos interligados sem conhecer os outros dois ou sem fazer referência a eles.
Por isto, a seguir, há de se fazer uma breve revisão de cada um destes termos,
procurando identificar suas possíveis relações recíprocas, sobretudo no que diz
respeito a suas implicações na teoria da Medicina.
Adiante, se há de mostrar como o conhecimento, a filosofia e a ciência,
apesar de sua origem comum, se diferenciaram; e como cada um destes tipos
de conhecimento tem hoje um significado específico perfeitamente distintos
1
dos demais. Não obstante, também se há de verificar como seus sentidos são
atualmente complementares e interdependentes apesar de distintos.
Conhecimento Comum (ou vulgar)
O conhecimento comum (ou senso vulgar, ou senso comum) é sempre mais ou menos
espontâneo, impreciso, assistemático e casual porque não resulta de programação
científica; trata-se de um procedimento mental superficial e associativo, auto-
contraditório e acrítico, fragmentário e ametódico, tanto do ponto de vista de sua
aquisição, quanto de sua ordenação. Mas, sobretudo, não dispõe de instrumentos
confiáveis de auto-avaliar-se, de auto-criticar-se nem de retificar-se. O senso-comum é
dirigido pelas características formais e pela aparência e impressão superficial das
coisas e se refere a objetos específicos; mescla elementos de opinião e crença,
misturando dados cognitivos e afetivos; mas se caracteriza, acima de tudo, por não ter
compromisso com o rigor, a exatidão, a comprobabilidade ou a veracidade. O
conhecimento comum é predominantemente subjetivo e mesmo quando se refere a
fatos objetivos, sofre decisiva influência da subjetividade de seu agente. O
conhecimento comum é acrítico, não inclui a dúvida, nem qualquer outro critério de
verdade; é heterogêneo e contraditório consigo mesmo, não persegue a coerência de
sua informações entre si ou com o restante do conhecimento e não se dirige pela
confrontação com a realidade e valoriza mais os elementos qualitativos que os
quantitativos.
Tudo isto acontece, mesmo no senso comum culto. Porque existe senso
comum em todas as pessoas, independente de suas aptidões intelectuais e de
seu repertório de conhecimentos, fenômenos individuais em que está
apoiado.
Cada pessoa elabora e manifesta seu senso comum de acordo com suas
próprias possibilidades, seus interesses e suas necessidades. O senso comum
de alguém depende do seu patrimônio de informações e da sua capacidade
intelectual, mas também depende de suas necesidades subjativas (amor,
respeito, prestígio, poder) e objetivas (dinheiro, bens de consumo,
propriedades, posição e trânsito social).
Todas as pessoas, intelectuais, os artistas e os cientistas são sempre mais ou
1
menos influenciados pelo conhecimento vigente, pelo senso comum de sua
época, de sua cultura, e sua sub-cultura, de sua ideologia e dos interesses de
sua classe social.
Existe notável correspondência entre os aspectos subjetivos (conceitos e juízos) do
conhecimento comum e seus aspectos objetivos (palavras, linguagem).
O registro mental do resultado da experiência assistemática, ainda que intensa e
intensiva, que é típica do conhecimento vulgar, resulta em conclusões muito
enganadoras; e isto tem se revelado muito na Medicina, tanto na construção do
conhecimento sobre as patologias quanto na indicação e avaliação dos recursos
terapêuticos. O conhecimento comum difere principalmente do conhecimento científico
que, de certa maneira, é seu oposto. No conhecimento comum, a verossimilhança
(maior ou menor convicção de verdade, potencial de veracidade) se reduz a uma
impressão inteiramente subjetiva; a pessoa que experimenta o conhecimento tem uma
certa convicção de sua verossimilitude, que pode ser maior ou menor, mas não pode
demonstrá-la ou comprová-la.
A noção de conhecimento vulgar, conhecimento comum ou conhecimento
popular não tem qualquer conotação pejorativa, nem encerra qualquer
implicação elitista, discriminadora ou anti-popular. Ainda que, eventualmente,
possa ser empregada com esta intenção. Mas aqui se emprega apenas para
significar conhecimento mais ou meno espontâneo, assistemático e acrítico.
Uma manifestação inicial da capacidade cognitiva humana.
O conceito de conhecimento vulgar, senso comum ou conhecimento comum
significa exclusivamente conhecimento que não é científico nem filosófico (por
sua estrutura ou pela metodologia da qual se originou. Sua confiabilidade e
validade mais baixas decorrem dos procedimentos empregados nele e não em
sua procedência.
O conhecimento comum é assistemático, subjetivo, acrítico, heterogêneo, impreciso e
auto-contraditório; dirige-se pela aparência e pela forma das coisas que pretende
conhecer; está isento de rigor, de exatidão e de precisão; não dispõe de mecanismos
de comprovação ou controle de sua aquisição; por isto, seu critério de verdade se
resume a uma impressão subjetiva de verossimilitude.
1
Mesmo na universidade, existe um conhecimento comum inculto que soma a
todos estes defeitos uma incapacidade para uso do idioma (tanto sintática,
quanto fonética e, principalmente, semântica), o que ainda complica muito
mais a situação da cognoscibilidade científica e de construção do
conhecimento.
O senso comum pode ser equivocadamente confundido coma sabedoria
popular por aqueles que têm no povo, mesmo ignorante e carente, a única
fonte de verdade e de conhecimento confiável. Assim como a esperteza,
inteligência prática, é confundida com a inteligência abstrata. Mas esta
deformação política pode ser empregada para esconder ou para enfeitar a
estupidez.
A convicção na veracidade que existe no conhecimento comum pode ser
extremamente arraigada; como acontece na fé e na confiança nos dogmas religiosos
ou políticos, por exemplo, que podem mobilizar extrema convicção em quem as cultiva,
mas que não lhes permite comunicar esta confiança inteligentemente a outrem. Mas é
preciso ter presente que, em princípio, o conhecimento comum se manifesta como
crenças e dogmas, quando o caráter afetivo-ideológico predominante. O caráter
assistemático implícito na aquisição do conhecimento vulgar e em sua estrutura lógica,
o fato de se constituir, muitas vezes, unicamente de memorização mecânica e a
natureza subjetiva da impressão ou noção de veracidade produzida por este tipo de
conhecimento, por maior que seja, são características essenciais suas.
O conhecimento comum pode ser verdadeiro, mas não é provado ou verificado,
comprovável ou verificável; pois, quando isto acontece, ele se converte em
conhecimento científico. O conhecimento comum inclui o mito, a magia (inclusive o
pensamento religioso como todas as outras superstições), as ideologias (falsa
consciência induzida por interesses objetivos ou secundários) e as fantasias neuróticas
(induzidas por interesses subjetivos ou primários). Embora parte do conhecimento
comum, em seu interior deve-se caracterizar as crenças e os mitos. Porque, embora
todo senso comum seja muito vulnerável às ideologias e à repercussões na
consciência das necessidades subjetivas, os mitos e nas crenças mágico-
supersticiosas constituem os fenômenos são mais evidentes e, por isto, determinam
1
convicções as mais arraigadas.
Deve-se diferenciar o conhecimento vulgar culto das impressões e
expressões cognitivas das pessoas incultas, sejam ricas ou pobres, analfabetas
ou portadoras de diplomas de cursos superiores. Até bons professores
universitários, peritos em certas áreas do conhecimento científico, podem
revelar notável incultura quando tratam de temas que não são os seus,
mesmo em áreas limítrofes.
Outro aspecto do senso comum é a influência de fatores que combinam traços
ideológicos e psicopatológicos, como as crenças mágico-supersticiosas mais ou menos
dogmáticas. mas sempre alienadoras. Crenças fundamentadas no pensamento mágico
e a serviços de de conteúdos neuróticos fóbicos, anancásticos, fanáticos. Tais
motivações impulsionam mais do que se costuma pensar as crenças superstiosas, que
muitos denominam conhecimento religioso e o têm por equiparado ao conhecimento
científico e ao filosófico. Destaca-se a influência ideológica materializada nas
manifestações de falsa consciência, relacionadas com a satisfação de necessidades
materiais de quem as idealiza e as cultiva. As crenças ideológicas dos patrões são
diferentes das dos empregados, como as dos fazendeiros e dos sem-terra, dos
credores e dos devedores).
Conhecimento Filosófico
Para muitos, o conhecimento filosófico deve ser considerado uma terceira forma radical
e rigorosa de conhecimento, distinto do conhecimento vulgar e do científico; um
conhecimento valorativo de objetos não sujeitos à observação ou à experimentação,
que abrange a totalidade universal e, até, as causas e conseqüências últimas. Para
outros, os que consideram a Filosofia como uma atividade cognitiva científica, uma
ciência formal, o conhecimento filosófico é inseparável do conhecimento científico, é
uma de suas modalidades, apenas sua forma mais abrangente. O conhecimento
filosófico, definido como ciência das generalidades, se caracteriza pela extensão
ilimitada de seu objeto. Generaliza sobre tudo o que existe. O conhecimento filosófico é
o mais extenso e válido possível e sempre deve ser empregado em benefício da
1
humanidade.
A Filosofia é o ramo do conhecimento que se ocupa da essência e do valor de todas as
coisas que existem no mundo, todas as coisa do mundo todo. Enquanto cada ciência
tem por objeto uma parcela limitada do mundo e generaliza para aquela parcela,
porque as leis e os princípios que desvenda são válidos apenas para seu objeto, a
filosofia generaliza e descobre leis e princípios válidos para tudo o que existe. O
conhecimento filosófico é essencialmente racional, lógico e se refere a tudo o que
existe, e por sso deve ser aplicável a todas as coisas da natureza, da sociedade e do
Homem. Enquanto o conhecimento de cada ciência se refere particularmente aos
objetos e fenômenos contidos no âmbito de seu objeto de estudo. Para exemplificar, a
Física trata dos fenômenos e objetos físicos, a Química dos objetos e fenômenos de
seu campo.
Neste trabalho, embora se considere as diferenças verificadas no método de
estudo e no resultado dos conhecimentos filosófico e científico, o
conhecimento filosófico costuma se cada vez mais freqüentemente
mencionado como um tipo particular de conhecimento científico (ciência das
generalidades ou uma ciência formal, ao lado da lógica e das matemáticas),
uma vez que comparando as duas estruturas cognitivas não se encontra
qualquer diferença essencial e fundamental entre elas, além do grau de
generalização alcançado por suas conclusões.
Cada ciência particular generaliza sobre seu objeto; a Filosofia generaliza sobre tudo o
que existe no universo. Do ponto de vista ontológico, as ciências se distinguem da
Filosofia apenas pela abrangência de suas conclusões e pelo alcance de suas
generalizações. Por isto, o conhecimento filosófico pode ser considerado como um tipo
de conhecimento científico. Bunge encara a Filosofia como uma ciência formal, como a
matemática e a lógica. Entretanto, parece ser bastante defensável considerar a
Filosofia como um terceiro tipo de conhecimento, simultaneamente distinto do
conhecimento vulgar e da ciência, como faz a maior parte dos estudiosos que tratam
do assunto.
Desde os tempos antigos, os primeiros filósofos tinham a Filosofia como um tipo
1
especial de saber a serviço da humanidade. Uma das formas de estabelecer este saber
reside na possibilidade de estruturar regras de comportamento para o convívio social e
para a obtenção do conhecimento científico. O método científico, com o sentido de
caminho ou de melhor caminho, é o traço que melhor diferencia o conhecimento
científico das demais formas de conhecer. A Filosofia é um ramo superior do
conhecimento que estabelece as diretrizes e o controle sobre a estrutura de obtenção
do conhecimento e sobre seu emprego e interesse social, através da ontologia, da
metodologia, da lógica, da epistemologia e das disciplinas axiológicas (principalmente a
ética).
Conhecimento Científico
O conhecimento científico representa o momento mais evoluído do processo humano
de conhecer o mundo com mais certeza naquilo que está conhecendo. Esta
característica de informação mais fidedigna, válida e verossímil em cada momento da
evolução civilizatória é o principal traço do conhecimento científico frente às demais
formas de conhecer. Ainda que não seja completo, absoluto ou definitivo como querem
os adeptos do cientificismo. No presente, deve-se denominar conhecimento científico ao
conhecimento estruturado e verificado acerca de um objeto cognitivo definido, adquirido
sistematicamente voltado para avançar para além das características da sua aparência,
buscando os elementos essenciais dos objetos ou fenômenos para os quais se dirige;
nas ciências, o estabelecimento da causalidade deve fugir a toda explicação aparente e
superficial; mas também é assinalado pela capacidade cada vez mais critica e
autocrítica.
Cada ciência particular ou disciplina científica constitui uma teoria ou em um sistema de
teorias a cerca do seu objeto (porque cada ciência se carateriza exatamente pelo seu
objeto). O conhecimento científico está voltado para categorias particulares de objetos.
Mas teorias que contêm uma massa crítica de informações verificadas por métodos e
procedimentos reconhecidos como validos e confiáveis pela comunidade de cientistas
1
e filósofos da ciência.
O conhecimento científico, na medida em que é a forma mais aperfeiçoada de
conhecer, se estrutura da forma para o conteúdo, da aparência para a essência, da
simplicidade para a complexidade e dos casos particulares para generalidades cada
vez mais amplas, ainda que o que se conhece sobre conteúdo, essência e
complexidade enriqueça o processo de saber e o que se sabe sobre a forma, a
aparência e as formas mais simples, num processo permanente de retroalimentação
cognitiva.
A palavra ciência se origina do latim scientia que, por sua vez, deriva do verbo scire que
quer dizer conhecer, saber.
A diferenciação que se fez do conhecimento científico e do conhecimento comum (e do
conhecimento filosófico ) é relativamente recente, como se mostra adiante. Mais
adiante no capítulo específico sobre a ciência, o tema é estudado com mais detalhes.
Cada momento da evolução civilizatória da humanidade produziu o melhor
conhecimento científico que era possível naquela época, tanto em termos de
confiabilidade (ou fidedignidade, que é a confiança que merece em relação às
possibilidades da época) e de validade (grau de correspondência daquele
conhecimento com a realidade).
O conhecimento científico é essencialmente explicativo, embora possa embora possa
ter que se ater a uma etapa descritiva enquanto não restar outra alternativa mais eficaz
e deve ser preferentemente quantitativo, ainda que não recuse a elaboração
qualitativa; todo conhecimento científico deve referir-se sempre a um objeto definido,
homogêneo e estudável objetivamente; seus achados devem ser obtidos sempre por
meios que admitem o controle da qualidade de seusresultados, em termos de
confiabilidade e validade (ver estes termos adiante).
Por tudo isto, o conhecimento científco resulta em um conjunto teórico harmônico de
2
conceitos, categorias, leis e princípios que formam um sistema teórico e lógico sujeitos
à verificabilidade formal ou empírica da verdade semântica ou sintática que contenham
através da comprobabilidade ou verificação pela falsicabilidade e deve ser
racionalmente sistematizado, o que significa que o acervo de conhecimentos
científicos, em geral, e o elenco de informações, de cada ciência específica, devem
resultar em um sistema de enunciados coerentes entre si e correspondentes com a
realidade.
Senso Comum e Conhecimento Científico
Não há descontinuidade qualitativa entre os diferentes tipos de conhecimento, como o
conhecimento vulgar e o conhecimento científico, até porque o conhecimento científico
de uma geração costuma ser o senso comum das seguintes. A diferença conceitual,
mas não objetiva (pois não existe por si mesma mas resulta de uma valoração), é uma
convenção decorrente do avanço do conceito de ciência e das possibilidades dos
critérios e procedimentos práticos vigentes para o estabelecimento da verdade. A cada
passo da evolução do conceito de ciência, amplia-se sua diferença do conhecimento
comum. A credibilidade e a verossimilhança do conhecimento científico separam-no do
conhecimento vulgar. A maior credibilidade do conhecimento científico resulta de dois
mecanismos conhecidos como confiabilidade e validade.
A confiabilidade (ou fidedignidade) e a validade, dos meios de sua obtenção e dos
resultados obtidos, são traços diferenciais essenciais entre o conhecimento vulgar e o
conhecimento científico.
Tal como acontece com o conhecimento filosófico, existe uma certa oposição
do conhecimento comum ao conhecimento científico que se traduz em uma
ideologia que subestima as linguagens científica e filosófica (como jargão
científico, por exemplo) e sua avaliação como conhecimento pedante.
No mesmo sentido, mas com direção inversa, dá-se a dificuldade que têm os
médicos e outros profissionais de saúde para se comunicarem com seus
pacientes porque empregam a terminologia científica que parece ininteligível
para seus interlocutores ou, o que é bem pior, é interpretada com sentido
2
bem diferente da intenção com que foi produzida.
Em princípio, o conhecimento científico deve merecer maior confiança que o
conhecimento comum porque pode (e deve) estabelecer o grau de verossimilitude de
seus enunciados e porque não há conhecimento mais verossímil. Em cada momento
da história da humanidade, a ciência que pode produzir (com suas possibilidades e
limitações), fornece o conhecimento mais confiável e mais preciso sobre o mundo.No
início da civilização, o conhecimento era de um só tipo.
A história da ciência mostra que o limite entre o conhecimento científico e o vulgar tem
sido diferente em cada período histórico e resulta muito fortemente da correlação
existente entre as possibilidades da metodologia científica e a necessidade social da
ciência e dos conhecimento e técnicas que ela produz. A primeira diferenciação foi o
conhecimento vulgar educado, com seus termos bem definidos.
O conhecimento científico se diferencia também pela objetividade de seus critérios de
verdade que, exatamente por isto, devem estar ao alcance de todos. A verossimilhança
ou verossimilitude (grau de probabilidade de veracidade) do conhecimento científico
pode ser estabelecida com alguma precisão e comunicada de forma convincente, sem
qualquer apelo afetivo.
Existem procedimentos estatísticos padronizados (como o qui2
) empregados
para determinar o grau de verossimilhança de um procedimento e estes
procedimento se aperfeiçoam com o tempo e o avanço do conhecimento
científico e metodológico (isto é, do conhecimento filosófico).
Conhecimento Direto e Indireto
O conhecimento pode ser direto e indireto.
A noção de conhecimento direto se confunde com a de conhecimento sensorial.
Enquanto o conhecimento indireto resulta de um cálculo, um raciocínio, de uma
inferência lógica. O conhecimento direto é aquele que é dado pela experiência senso-
perceptiva do sujeito que conhece.
2
Conhecimento Autoconexo e Heteroconexo
Do ponto de vista bio-psico-individual, pode-se constatar a existência de duas
modalidades qualitativamente diferentes de conhecimento: a primeira, que Paul M.
Churchland
2
denomina de conhecimento autoconexo, que se refere ao conhecimento
como experiência consciente (pela qual se conhecem as cores, os odores; experências
que explicam por que uma percepção elementar, como a de uma cor ou um odor, pode
evocar inteiramente toda uma experiência anterior mais complexa, inclusive o contexto
afetivo em que ele se dera.
A segunda, que Churchland denominou conhecimento heteroconexo indica algo
situado fora do campo da experiência sensoperceptiva (a concepção da sensação do
passar do tempo ou de voar por ejemplo.
Conhecimento Imediato e Mediato
Conhecer é mais que atividade mental e operação intelectual, a capacidade de
conhecer existe como propriedade humana, caracterítica essencial sua que,
inicialmente, conhece apenas com seus sentidos e seu raciocínio. Depois, constrói
instrumentos que ampliam suas possibilidades perceptivas e racionais, de modo a
aumentar sua possibilidade de conhecer, conservar e utilizar o conhecimento
previamente adquirido. .
O conhecimento pode ser mediato e imediato (o conhecimento recém adquirido e a
bagagem das informações que a pessoa sabe). O conhecimento direto provém dos
sentidos, o indireto, do racicínio e de isntrumenos auxiliares da sensibilidade e do
pensamento.
O conhecimento se expressa por meios de informações que podem ser elaboradas por
quem as produz e comunicadas aos demais. Tal comunicação se denomina
comunicação científica e está submetida a regras estritas. Originalmente, o
2
No livro The engine of the reason, the seat of the soul, MIT Press, 1995)
2
conhecimento só existia na consciência das pessoas que o tivesse memorizado. Só
com a invenção da escrita, que ele pode se tornar um fenômeno inteira ou
predominantemente social, intersubjetivo e, até, extra-subjetivo (porque passou a poder
existir latentemente nos registros escritos, mesmo depois que tivesse desaparecido há
muito a última pessoa que o tivesse conhecido. .
Os recursos técnicos auxiliares da cognição (gravadores, material fotográfico e de
filmar, microscópios, telescópios, instrumentaos radiológicos, tomógrafos, detectores
de radiação, computadores) podem propiciar, permitir, registrar, conservar, facilitar ou
ampliar as possibilidades do conhecimento. Eles próprios não conhecem coisa alguma,
nem podem conhecer. Como acontece com as ciência, elas nada conhecem ou
afirmam, isto fazem os que as conhecem e as praticam.
Há muito tempo se pode inferir que as pessoas conhecem muito mais do que sua
consciência lhes mostra na sua mente; quer se trate do conhecimento ou do mundo
à sua volta, quer se trate do conhecimento de si mesmo, de seu corpo e de sua
mente, do auto-conhecimento.
O Sujeito e o Objeto do Conhecimento
Todo conhecimento existe como uma interação especial entre dois polos: o polo do
sujeito que conhece e o opolo do do objeto do conhecimento, aquilo que estiver sendo
conhecido conhecido naquele processo.
O sujeito, o ser cognoscente e o objeto do conhecimento estes são os dois
componentes do ato ou processo cognitivo. Esta relação é elaborada, intermediada e
modulada por fatores ambientais, fisiológicos e psicossociais. O conhecimento, repita-
se, manifesta-se como uma modalidade especial de relação entre o sujeito e o objeto.
A relação cognoscente.
Como já se verificou, ao longo deste capítulo, o verbo conhecer, em todas as suas
modulações, deve ser entendido como apropriação pelo sujeito cognoscente de
informações acerca de um objeto, o objeto conhecido, e a incorporação daquelas
2
informações à sua bagagem cognitiva.
Neste processo, depois de tudo isto considerado, denomina-se
- sujeito cognoscente ou sujeito do conhecimento à pessoa que conhece;
- objeto conhecido ou objeto do conhecimento, àquilo que se conhece no
procedimento ou processo cognitivo; sendo que
- no autoconhecimento, dá-se a síntese do sujeito e do objeto do processo de
conhecer.
Devendo-se dizer que o mecanismo básico de conhecer o mundo objetivo é análogo ao
empregado no auto conhecimento, o conhecimento subjetivo. Esta apropriação se faz
sempre pela elaboração de uma construção mental (um construto) que leva em conta
os dados recebidos neste processo e sua interação com todo o conteúdo restante da
consciência, com a experiência passada e a expectativa de futuro.
No auto conhecimento, dá-se a síntese do sujeito e do objeto do processo de conhecer.
Devendo-se dizer que o mecanismo básico de conhecer o mundo objetivo é análogo ao
empregado no auto conhecimento, o conhecimento subjetivo, o conhecimento de si
mesmo. Exatamente pela mesma razão, não se denomina conhecimento (ou cognição)
às crenças que não forem elaboradas como cognições. Outro aspecto da diferenciação
essencial se faz a partir do critério de veracidade usado em cada um destes fenômenos
psicológicos, além das manifestações afetivas que acompanham a demonstração ou
comprovação de sua invericidade.
O conhecimento científico está permanentemente submetido aos recursos mais
exigentes possíveis de comprovação de sua veracidade. A convicção de veracidade no
conhecimento vulgar é buscada, mas de modo assistemático e metodologicamente
insuficiente. Nas crenças, não existe nenhum esforço de comprovação de veracidade
(de validade nem de fidedignidade ou confiabilidade). Por tudo isso, denomina-se
2
cognição à capacidade de conhecer e conhecer-se; conhecer o mundo e conhecer a si
mesmo empregando recursos perceptivos e inteligentes. Enquanto se denomina dogma
ou crença ao fenômeno subjetivo que toma a forma de convicção e que está
fundamentado em uma base afetiva, estruturando-se a partir processos afetivo-
psicológicos ou ideológicos, há muito tempo, reconhecida como processo subjetivo
arracional e incomprovável.
A falta de apoio sensorial ou racional para uma dada convicção é a marca essencial
para reconhecer uma crença. Sua base afetiva pode ser negada (inclusive por ser
desconhecida) mas existe sempre.
O que não é conhecido é ignorado enquanto não se o conhece. Por isto, pode-se
afirmar que todo conhecimento se inicia na cognoscibilidade, ou seja na possibilidade
de se conhecer a coisa conhecida; procede em um primeiro contacto direto ou onfireto
com a coisa a conhecer; amplia-se e se enriquece na medida em que se pode saber
mais e explicar mais e mais sobre aquela coisa, além de poder prever os fenômenos
que se darão com ela e se completa na possibilidade de reconhecer a coisa conhecida
como objeto do conhecimento.
O seu conteúdo de verdade de um conhecimento, isto é, a convicção que mobilize no
sujeito cognoscente é o que há de mais essencial em todo conhecimento. O primeiro
elemento da possibilidade de conhecer, reside na integridade das estruturas funcionais
que o realizam.
Os instrumentos da apreensão direta da informação (a atividade senso-perceptiva) e
da apreensão indireta (o pensamento inteligente) são o ponto de partida do
conhecimento. A memória, incumbe-se de sua conservação e recuperação. O
reconhecimento (gnosia) é o elemento psicológico responsável pelo
reconhecimento da imagem mental com o que for a previamente conhecido.
Recorde-se que, pela própria definição de conhecimento, o sujeito que o realiza
sempre reconhece a informaçãon recuperada naquele processo como sendo
verdadeira. O que se dá pela ação do reconhecimento. Entretanto, há que se utilize da
2
expressão conhecimento falso ou falso conhecimento. Devendo-se ressaltar que, a
rigor, um conhecimento falso não é conhecimento, é uma crença, uma ilusão, uma
fantasia, um dogma ou qualquer outra coisa. Menos um conhecimento. No entanto,
como a informação falsa pode ser tida como verdadeira (o que acontece muito), isto
justifica a noção de conhecimento falso. Embora, pareça que muitos estão fazendo,
neste ponto, uma certa confusão entre o que seria um juízo e o que deve ser um
conhecimento. Tudo isto aconselha evitar a expressão conhecimento falso, sendo
melhor mencionar ilusão mnêmica, informação falsa, convicção falsa, juízo falso,
impressão falsa de conhecer.
Para que uma informação ou uma elaboração mental qualquer possa ser tida como
sendo um conhecimento, é necessário que seu agente a tenha por verdadeira. No
plano psicológico, quando se trata do conhecimento acerca da subjetividade de quem o
experimenta, o agente do conhecimento precisa ter alguma convicção, ainda que
mínima, de que aquilo que ele pensa ou crê saber que se trata de uma verdade. Se
não o for, e isto ficar comprovado no futuro, daí em diante, deixa de ser tida como
conhecimento.
Muita informação costuma ser tida como conheciemnto, até que seja verificada como
falsa pelo seu agente que, então, deve descaracterizá-la como conhecimento. O que
não sucede quando se considera o conhecimento objetivo. Principalmente porque,
embora o conhecimento racional seja verificado por demonstração lógica, a convicção
presente no conhecimento objetivo se verifica por comprovação prática, a comprovação
da correspondência entre o conhecimento e os objetos ou fatos que se refere. Por tudo
isto, não se deve denominar conhecimento (ou cognição) às crenças incomprovadas
por que jamais foram verificadas ou, o que é bastante pior, aquelas que são
comprovadamente falsas. E a diferenciação essencial se faz a partir do critério de
veracidade usado em cada um destes fenômenos psicológicos e nos recursos de
verificação usados para aferi-las.
2
O conhecimento científico deve estar permanentemente submetido aos recursos mais
exigentes possíveis de comprovação de sua veracidade, por isto a comprobabilidade é
uma de suas características essenciais. Enquanto a convicção de veracidade no
conhecimento vulgar é buscada, mas de modo assistemático e metodologicamente
insuficiente. Nas crenças acientíficas, não existe nenhum esforço de comprovação de
veracidade (de validade) nem de confiabilidade.
O mínimo que se pode esperar de intelectuais e cientistas, profissionais, agentes
sociais que vivem do que conhecem e do que aprenderam a fazer com técnicidade; e
que fazem-no com o propósito de construir informações e conhecimentos válidos e
confiáveis, é ter uma boa noção do que seja a estrutura do conhecimento. Por isto,
deve-se esperar que este assunto interesse a todos quantos se preparam para exercer
alguma atividade científica. Seja produzindo conhecimento científico, seja avaliando a
qualidade dessa produção.
Para os médicos, este compromisso com o conhecimento verificado é particularmente
importante. Porque o médico não tem o direito de submeter seus pacientes a suas
crenças, supersticiosas ou não, se houver a possibilidade de empegar conhecimento
verificado. Mesmo se não haja conhecimento devidamente verificado para atender a
uma necessidade clínica do paaciente, o médico deve expor porque não emprega algo
comprovado, suas ventagens e desvantagesm suas possibilidades e limitações. Se
esta proposição se mostrar suficientemente válida no que respeita a qualquer atividade
científica, encontrará ainda maior validade quando se tratar do conheciemento médico,
por causa de sua responsabilidade. Do conhecimento elaborado para ajudar as
pessoas a se libertarem do sofrimento, da enfermidade, da incapacidade e da morte
evitável.
Um dos aspectos que a ciência moderna considera essencial para a validade do
conhecimento consiste na separação que deve haver entre o sujeito e o objeto da
cogitação e da investigação científicas; - a objetividade científica e técnica, primeira
exigência metodológica da investigaão científica, da qual se tratará em outro momento
2
deste trabalho.
Os positivistas e os materialistas convergem nesta opinião que se manifesta na
necessidade de estabelecer regras para assegurar a objetividade científica de quem
investiga e de quem aplica o conhecimento científico.
Objetividade não deve ser confundida com objetivismo. O objetivismo é um
reducionismo sistemático ao objetivo, sempre acompanhado da negação da
subjetividade ou sua subestimação.
Conhecimento: Processo e Resultado
Aquilo que se denomina conhecimento, procedimento de conhecer ou o resultado deste
processo cognitivo) não é um ato simples nem um processo unívoco ou um processo
unitário com uma única qualidade de resultado de sua atividade.
Como já ficou claro na definição de conhecimento usada acima, dela, pode-se inferir
sem dificuldade que conhecer algo é um procedimento lógico e sócio-psicológico. Mas
é ambém um processo mental de natureza predominantemente cognitiva pelo qual
alguém (que é chamado o sujeito do conhecimento, o ser cognoscente, aquele que
conhece) capta, introjeta e assimila em sua mente (através do chamado processo de
apropriação cognitiva), os atributos de uma coisa qualquer (que é chamada de objeto
do conhecimento). Realiza tudo isso de modo a poder reconhecê-la em outras
circunstâncias e utilizar sua noção na construção de juízos e raciocínios.
O reconhecimento é o selo do conhecimento, pois só há conhecimento quando a
informação é reconhecida.
O conhecimento é modalidade particular de relação entre o sujeito que conhece e um
objeto a conhecer ou já conhecido. O conhecimento é sempre uma ação subjetiva
humana, ao menos no sentido com que se emprega aqui, que se apropria de alguma
informação sobre algo ou sobre alguma ou pessoa. Conhecer é uma atividade mental,
os recursos técnicos que o auxiliam em sua atividade (microscópios, telescópios,
2
tomógrafos, computadores) são recursos para conhecer, podem propiciar, permitir ou
facilitar o conhecimento. Não conhecem. Eles próprios não conhecem coisa alguma.
As pessoas conhecem muito mais do que sua consciência lhes mostra na sua mente,
quer se trate do conhecimento ou do mundo à sua volta, quer se trate de auto-
conhecimento.
O conhecimento existe como tipo particular de relação do ser humano com o mundo
que o circunda e consigo mesmo. Uma interação entre o sujeito cognoscente e o objeto
conhecido; uma ação subjetiva humana, ao menos no sentido com que se emprega
aqui, que se apropria de alguma informação sobre algo, inclusive sobre si. Essa forma
de relação dos seres humanos com o mundo pode ser chamada de cognitiva porque se
concretiza no conhecimento que produz. Uma relação especial através do
conhecimento. O objetivo mais importante de tal relação é se assegurar que que aquilo
que se conhece corresponde à verdade objetiva. Pode ser considerado como
verdadeiro. Com isso, o sujeito cognoscente pode usar o que conhece em seu
processo permanente de se adaptar ao mundo, de se defender dos riscos, de aumentar
seu conforto, sua segurança e se assegurar maior probabilidade de sobreviver com o
maior bem-estar que lhe for possível. Inicialmente, o ser humano necessita conhecer
para atender às suas necessidades imediatas e urgentes. Depois, as mais distantes.
Do ponto de vista semântico, o conceito de conhecimento envolve duas dimensões
inseparáveis: o conhecimento-processo de conhecer uma coisa e o conhecimento-
produto deste processo (o acervo de conhecimento, os fatos conhecidos). Muitas vezes
se confundem três fenômenos diversos que se expressam sobre a mesma
denominação: o conhecimento (cognição, atividade mental impressivo-gnósica); com a
ação do pensamento inteligente (intelecto, raciocínio, inteligência); e a capacidade
psicológica de conhecer o que deve ser evitado porque o segundo é mais amplo que o
primeiro e, ainda que eventualmente possa contê-lo, isto não acontece sempre.
O conhecimento procedimento cognitivo, é o processo psicológico-individual de se
3
apropriar das qualidades de uma coisa (ciência-atividade cognitiva); mas, também
podem se denominar de conhecimento às informações resultantes desta atividade
cognitiva (o conhecimento-resultado, o saber acumulado, o patrimônio de informações
de uma pessoa ou de uma cultura). Como acontece a todas as condutas e qualidades
humanas que podem ser consideradas essenciais, a possibilidade de conhecer (e o
conhecimento dela resultante) surgiram e se desenvolveram para satisfazer às suas
necessidades. Culminaram com a necessidade de conhecer e necessidade de
aprender para melhorar suas possibilidades de adaptação e sobrevivência.
A necessidade de conhecer para prever, para planejar e para agir com eficiência,
eficácia e efetividade. A ciência, como modalidade especial de conhecimento, o
conhecimento científico, constitui o momento mais refinado do desenvolvimento
cognitivo que possibilita o conhecimento do mundo e de si mesmo. Tal conhecimento
não é o melhor por ser científico; é chamado científico porque é o melhor. A cada
momento da História, denomina-se como científica a maneira mas fidedigna e mais
válida para conhecer que então se conhece.
Ao mesmo tempo que se pode conceber o conhecimento como processo para
conhecer (o conhecimento centrado no sujeito), também se denomina conhecimento às
informações e capacidade aprendidas, que são o resultado deste processo; isto é, ao
conhecimento adquirido no processo de conhecer, ao cabedal ou o acervo dos fatos
conhecidos por alguém, daquilo que ele sabe inclusive daquilo que se sabe fazer
(conhecimento centrado no objeto). Porque, também se denomina conhecimento
(saber ou, ainda que um tanto pedantemente, saberes, como está muito na moda em
certos círculos de novos-ricos da ciência) ao acervo de informações que resulta do
processo de conhecer, o patrimônio de conhecimento de quem conhece.
Analogamente, pode-se empregar a expressão “conhecimento coletivo“ como o acervo
de conhecimento das pessoas que integram uma coletividade.
O conhecimento-resultado, ou seja, o patrimônio de informações, capacidades,
3
habilidades e outras coisas sabidas por alguém, aquilo que pode ser denominado
conhecimento-resultado do processo de conhecer de um indivíduo; o conhecimento
acumulado na consciência de quem conhece, não pode ser concebido como um
agregado mais ou menos caótico de dados, um amontoado mais ou menos
desorganizado de informações e outros conteúdos cognitivos na mente da pessoa que
conhece, do sujeito cognoscente.
Quando se diz que alguém tem muito conhecimento sobre alguma coisa, está
empregando este segundo sentido do termo para referir a quantidade de
informações que se tem sobre alguma coisa, sempre uma pessoa concreta, um
indivíduo específico o a um conhecimento compartilhado simultaneamente por
diversas pessoas.
Neste sentido particular, quando é aplicado a uma entidade coletiva (a Medicina, a
ciência, a igreja, a cultura) trata-se sempre uma metáfora ou de outra figura de
linguagem usada para ilustrar a informação; quando se aplica ao conhecimento
compartilhado por uma coletividade qualquer (nós três temos este conhecimento), a
informação diz respeito ao conhecimento de cada um dos componentes deste coletivo.
Pode-se dizer, sem sacrifício da verdade, que o único juízo aplicável a uma
coletividade composta por um grande número de idivíduos é aquele que a designa.
A consciência social, como a consciência individual, contém variadas crenças,
conceitos, juízios, atitudes e ideologias. Mas este conteúdos não são conhecimentos,
com sentido estrito, ainda que um conhecimento possa ser compartilhado por todas as
pessoas em uma entidade coletiva. Quando uma informação deste tipo é assimilada
pela consciência social, assume uma dessas formas acima mencionadas.
Conhecimento, no sentido de saber, consiste na soma dos conhecimentos de uma
agente cognoscente.
“Em português, como em outras línguas românicas, as palavras que terminam em
-mento e -ção, como conhecimento ou informação, sempre detêm uma ambigüidade
que lhes é própria, porquanto mantêm dois significados simultâneos, posto que
costumam significar tanto um processo, uma ação, uma atividade ou procedimento
3
construtivo, como pode se referir ao resultado deste processo, atividade ou
procedimento”, como diz TSUKÂNOV. 3
Em alemão, os conceitos Erkenntnis (conhecimento, tanto como processo
psicológico, quanto como dado da teoria do conhecimento, epistemologia ou
gnosiologia) e Wissen (saber, acervo mais ou menos estruturado de informações)
têm significados diferentes. Em francês, a mesma diferenciação pode ser verificada
entre os conceitos de connaissance e savoir. Em russo, poznáie significa o processo
do conhecimento; e znáie quer dizer o conhecimento como resultado daquele
processo. Na língua inglesa, na prática, knowledge guarda mais analogia com Wissen
que com Erkenntnis, embora, às vezes, seja utilizado com este derradeiro sentido.
De qualquer maneira, quando se estuda o conhecimento, deve-se diferenciar o
patrimônio de conhecimento de alguém (que valoriza principalmente seus dotes
senso-percepção e de memória), de sua maior ou menor capacidade para aprender,
assimilar, conservar e desenvolver o aprendido.
O conhecimento, com esta sua dupla identidade, a de processo de conhecer e coisa
conhecida, é o fenômeno simultaneamente psicológico, lógico, sociológico e filosófico
(especificamente gnosiológico) pelo qual as pessoas manifestam a possibilidade de se
apropriar das qualidades de um objeto de sua percepção e cogitação e fazer isto com
alguma convicção a imagem mental que este fao gera corresponde à verdade. Ainda
que se denomine conhecimento tanto a capacidade de conhecer quanto o resultado
desta atividade cognitiva, isto é, o ato ou processo de elaborar e assimilar o
conhecimento. Isto é. o conhecimento processo e o conhecimento resultado deste
processamento mental. Tanto como fenômeno psicológico quanto sociológico ou
gnosiológico, a capacidade humana para conhecer se origina em três qualidades
humanas herdadas de espécies ancestrais, muito comuns e inteiramente
desprentenciosas: a curiosidade, a desconfiança e a aptidão para conhecer e
reconhecer o mundo e a si mesmo.
O patrimônio de informações de alguém, aquilo que pode ser denominado o
conhecimento-resultado do processo de conhecer, porque resultante do procedimento
cognitivo – o conhecimento-processo, não pode ser concebido como um agregado
caótico de dados, um amontoado mais ou menos desorganizado de informações.
3
Tsukânov, O., Comunicação Pessoal, 1993.
3
O conhecimento, neste sentido de patrimônio ou acervo de informações de alguém,
constitui-se como um sistema subjetivo de carácter lógico-psicológico e é justamente
sua sistematicidade que lhe garante o máximo de eficiência e operabilidade (por isto, é
reconhecida como um penhor de sua cientificidade).
A noção de patrimônio cognitivo de uma pessoa pode dar a impressão falsa de ser
uma atividade mecânica de acumulação mais ou menos passiva de informações na
memória. Isto não corresponde à realidade, o processo de conhecer não deve ser
entendido como a acumulação mais ou menos mecânica de informações mnêmicas e
dados sensoriais ou, mesmo, como um reflexo automáticos da realidade (como a
imagem de um espelho ou a gravação em um dispositivo qualquer de registro
sonoro).
O conhecimento, entendido como ato ou processo de conhecer, deve ser tido como um
processo mental mais ou menos complexo e ativo que exige uma estrutura lógico-
racional dinâmica, capaz de elaborar inteligentemente os conteúdos fornecidos pela
sensorialidade e conservá-los sem sacrifício de sua integridade.
Nisto se radica o processamento sistêmico do pensamento inteligente embutido na
noção de organização racional e de processamento lógico de informações (o
conhecimento como sistema lógico e como elaboração inteligente).
A recepção, a elaboração, a assimilação, a conservação e a recuperação dos dados de
conhecimento parecem se dar em um só processo funcional integrado, sem que se
possa mostrar uma diferença significativa em cada uma dessas etapas ou níveis
funcionais. O conhecimento é inseparável da recepção, do registro, do processamento
inteligente e da utilização racional do que é conhecido.
Quando se estuda os processos e procedimentos empregados pelos humanos para
conhecer, verifica-se que quanto mais se conhecer sobre uma coisa qualquer, quanto
mais amplo e verdadeiro for o que se sabe sobre ela, mais numerosos, melhores e
mais confiáveis serão os juízos e raciocínios que se poderão construir com aquilo que
se conhece. Da mesma maneira, quanto mais estruturado e melhor organizado for o
procedimento de conhecer, mais eficiente será seu resultado prático. Como, aliás,
3
acontece com o desempenho de todas as estruturas operacionais, qualquer que for sua
natureza e sua utilidade.
Estes elementos de significação do conhecimento são gerais, não se referem só ao
conhecimento científico e filosófico, porque até o conhecimento vulgar deve estar
dirigido por pressupostos lógicos e inteligentes, além de organização eficiente que o
delimitem e possibilitem saber quando pode ser tido como verdadeiro e identificar o
porquê de sua veracidade e probabilidade de ser verdadeiro.
O termo conhecimento como resultado do procedimento de conhecer pode se referir a
duas coisas distintas enre si, mas que devem ser bem diferenciadas:
- o ato, procedimento ou o processo de conhecer (aptidões, capacidades e
processamento gnosiológico seja lógico ou psicológico) e
- o seu resultado (o saber, o conhecimento resultante do emprego do processo
cognitivo).
Este caráter dual do conhecimento, ser um ato (o ato de conhecer) e o efeito deste ato,
é característica primordial sua. O conhecimento processo trata-se um processamento
lógico e sócio-psicológico complexo, de natureza predominantemente cognitiva.
Conhecer é o processo pelo qual alguém (o sujeito do conhecimento, aquele que
conhece) capta, introjeta e assimila em sua mente (através do chamado processo de
apropriação cognitiva), os atributos de uma coisa qualquer (que é chamada de objeto
do conhecimento), de modo a poder reconhecê-la em outras circunstâncias e utilizar
sua noção na construção de juízos, raciocínios e projetos de investigação.
A curiosidade que faz desejar saber e a desconfiança que aponta para a necessidade
de segurança e leva a reconhecer, avaliar, evitar ou livrar-se de situações de risco (que
implica em exercer certo domínio, controle das de si mesmo e das circunstâncias
determinantes do risco).
3
A segunda das raízes do conhecimento é o resultado das necessidades humanas – é
preciso conhecer para satisfazê-las. Como acontece a todas as demais espécies vivas.
A esta se soma a detenção de aptidões psicológicas que permitem aos humanos
conhecer a si mesmo e ao mundo à sua volta, especialmente as funções superiores da
cognição, da afetividade e da psicomotricidade. Por tudo isto que se mostrou acima,
quando se estuda o conhecimento, qualquer tipo de conhecimento, inclusive o
conhecimento médico, deve-se diferenciar o patrimônio de conhecimento de alguém
(que valoriza principalmente seus dotes senso-percepção e de memória), de sua maior
ou menor capacidade para aprender, assimilar, conservar, desenvolver e empregar o
aprendido.
Como estrutura composta por informações, capacidades e habilidades objetivas e
subjetivas, o conhecimento resulta em síntese de elementos objetivos e subjetivos e
envolve componentes da objetividade e da subjetividade; por exemplo, existe íntima
relação entre o conhecimento e a senso-percepção, bem como entre o conhecimento,
o pensamento e a memória. Contudo, conhecer não se reduz completamente à mera
apreensão da realidade imediata, nem da memorização automática, porque nele
intervêm outros fenômenos cognitivos, afetivos e psicomotores que interagem com
aquela. Igualmente existe muita relação entre o processo de conhecer em um momento
dado e o que já se conhecia com anterioridade. O conhecimento novo amplia, atualiza
e retifica o anterior. Igualmente existe muita relação entre o processo de conhecer e o
que se conhece, bem como entre o objeto do conhecimento e os recursos metológicos
e metódicos para conhecer. E envolve também a possibilidade de prever
acontecimentos futuros, o que em Medicina caracteriza o prognóstico. Como já se
menionou existem pensadores que situam o motor principal (ou exclusivo) do
conhecimento na sensorialidade; outros, na capacidade associativa ou na inteligência;
outros, na memória; outros, na psicomotricidade e mais outros, na afetividade. Para
muitos, o conhecimento é processo exclusivamente consciente; para outros, é
essencialmente inconsciente (senão nos elementos aparentes de sua estrutura, ao
3
menos em sua motivação). Em todos estes casos, todos parecem ter uma parte da
razão, todos estes aspectos são manifestaçòes parciais do processo de conhecer e issi
não pode nem deve ser ignorado por quem pretende entender o tema.
Em Filosofia, o termo coisa pode ter a mesma significação que apresenta no
vocabulário comum; pode querer dizer tudo o que existe e que pode ser pensado,
qualquer objeto ou fenômeno (qualquer modificação que acontece aos objetos);
uma coisa pode ser objetiva ou subjetiva, concreta ou abstrata; enfim, qualquer
elemento da realidade objetiva ou subjetiva. Mas também há quem utilize o termo
coisa mais restritamente, apenas para objetos materiais, dotadas de extensão,
excluindo as abstrações e os fenômenos que ocorrem aos objetos, por mais reais
que possam ser. Entende-se, aqui, por real um atributo que não se resume à
aparência ou um dado subjetivo, quer dizer tudo o que tem existência objetiva e tal
existência independente de seu observador. A realidade existe independente do
observador. Os fenômenos subjetivos devem ser considerados como reais, na
medida em que se manifestem objetivamente, sejam objetiváveis, ainda que
secundariamente; como acontece com os fenômenos psíquicos que são objetivados
na conduta (por exemplo, pelas palavras, mímica e outros comportamentos
objetivos observáveis). Realidade é o substantivo que designa uma coisa real (tal
como foi caracterizada logo acima).
Conhecimento e Convicção
Recorde-se que a definição convencionada e aceita aqui para conhecimento inclui a
exigência de que haja convicção de veracidade sobre o seu conteudo. A aquisição do
conhecimento consiste no processo funcional de apreensão, elaboração e conservaçao
ativas de informações sobre uma coisa qualquer. Informações de qualquer qualidade e
com qualquer grau de confiabilidade, que mobilize qualquer convicção. Conhecimento
que pode se apresentar sob a forma de uma imagem perceptiva, uma apreensão, uma
noção antecipada, um conceito elaborado ou outro componente qualquer da
consciência que possa ser processado logicamente e assimilado pela mente do sujeito
como uma imagem da memória (representação), possível de ser evocada
posteriormente e reconhecida como verdadeira.
Isto é, todo conhecimento, em última análise, consiste na apreensão pelo sujeito de
qualidades do objeto, sempre acompanhada de alguma certeza de verdade. Por isto,
3
todo conhecimento está, sempre e de alguma maneira, associado a algum grau de
convicção de verdade da coisa conhecida, porque quem conhece é capaz de
reconhecer como verdadeiro o seu conhecimento. Por definição, todo conhecimento
implica necessaiamente em alguma certeza de que ao menos um certo grau verdade
esteja contido nele. Convicção que se expressa pelo reconhecimento da
correspondência daquilo com a realidade, com a logicidade de um raciocínio ou com a
correção de uma convenção. Todo conhecimento implica em convicção de que seja
verdadeiro. Nisso, principalmente, diferencia-se o conhecimento como uma crença
particular. Crença, com o significado limitado de algo em que se acredita, algo que
mobiliza uma certa convicção. Muitos fenomenistas, por causa de sua negação da
eficácia cognitiva da percepção e da razão, definem o que aqui se chama conhecimento
como uma crença que pode ser verificada (por meio de uma demonstração lógica, de
uma comprovação factual ou da comparação com a convenção que o tenha
estabelecido).
Como se vê, recusam o conceito realista e materialista de conhecimento (e mudam
seu nome para crença). Enquanto chamam de fé o que outros denominam crença.
Deste ponto de vista estrito, a fé (inclusive a religiosa, mas não apenas ela) é uma
crença que não pode ser verificada como racional ou empiricamente, nem
comparada com uma convenção. Por isso, desde sua origem perdida no tempo, o
conhecimento se opõe à fé porque a remove das consciências.
Porque existem crenças que não podem ser verificadas por inviabilidade
metodológica, convém que não sejam tidas como conhecimento enquanto essa
situação perdurar.
Parece importante afirmar que o grau de convicção que alguém alimente por um
conteúdo mental qualquer não é suficiente para fazê-lo passar por um
conhecimento (nem, muito menos por uma conhecimento científico). Ambos, fé e
conhecimento podem apresentar qualquer grau de convicção. Pode haver convicção
muito arraigada, uma fé muito firme, que não possa ser denominada de
conhecimento por ser inverificável.
Nem toda convicção, mesmo intensa e muito carregada de afetividade pelo sujeito
provém da correspondência com a verdade de uma experiência psico-sensorial
vivida, de um raciocínio bem elaborado, de uma convenção aceita. Muita convicção
se origina na credulidade, que consiste na capacidade de acreditar em algo
independente de comprovação ou demonstração.
3
No plano psicológico estas crenças decorrem de interesses objetivos ou subjetivos.
Enquanto no plano psicopatológico, os exemplos mais comuns são os delírios e as
obsessões.
Por isso, muitas pessoas denominam fé à convicção sem a verificação, seja de sua
correspondência com a realidade, seja com a racionalidade lógica do sua obtenção, ou
seja de seu caráter convencionado. Isto é, seja a verdade factual, a verdade lógica ou a
verdade convencional (axiomática) e verdade narrativa (influenciada pela
subjetividade). A convicção da realidade de uma informação depende de sua
correspondência com a realidade ou da tendência do sujeito acreditar nela. Pois, o grau
de motivação para crer é um dos componentes estruturais mais eficazes da
credulidade.
Quanto maior o interesse de alguém crer em alguma coisa, tanto mais elevada a
possibilidade daquili se realizar. Muito frequentemente, o fenômeno da psicologia
individual encerrado da tendência a acreditar (creduldade).
O que não deve ser confundido com credibilidade que é a confiação que uma proposição
ou uma teoria merece das pessoas.
Graus de Convicção nas Informações
Desde Aristóteles, se conhece que o ato ou processo de conhecer se faz em etapas,
mesmo que possa parecer instantâneo, qundo estas etapas se encadeiam muito
rapidamente. O conhecimento pode ser definido como uma estrutura de informações,
de capacidades e de habilidades que coexistem com a noção de manter a coerência
internamente quando àquela estrutura cognitiva e, além disso, consistente em sua
relação com a realidade objetiva ou subjetiva que pretende refletir. Desta maneira, a
partir dessa possibilidade de utilizar um critério de verdade, é possível diferenciar as
simples crenças das convicções provindas do conhecimento.
Ainda para Aristóteles, o pensamento seguia o seguinte caminho da busca do
conhecimento da verdade na apropriação de conhecimento sobre um objeto até então
3
desconhecido ou mal conhecido: ignorância, dúvida, opinião ou impressão e certeza.
Classificação que se aplica tanto ao conhecimento de objetos e fenômenos que
existem fora do sujeito cognoscente, como para o auto-conhecimento, ainda que esses
duas modalidades de conhecer possam guarder algumas características diferenciadas.
Como também se aplica ao conhecimento de qualquer objeto.
A palavra crença tem diversas significações e nuances de significado. O conhecimento
de alguém é, por definição, uma crença para quem conhece porque o sujeito
cognoscente crê que aquela proposição ou aquele sistema proposicional coresponde à
verdade. Não obstante, a palavra crença pode ser empregada para significar a
conviccão sem fundamento factual ou logico e com conteúdo mágico, supersticioso,
religioso. Neste sentido, não se pode chamar o conhecimento de crença.
O conhecimento se diferencia das crenças da fé e do pensamento mágico-mítico-
religioso (formas particulares de fé) cujos resultados não podem ser chamados de
dados do conhecimento, ainda que componham o patrimônio de certezas de muitas
pessoas e sejam potencialmente capazes de exercer influência na propulsão, direção e
modulação de seus comportamentos (inclusive as atitudes cognitivas, afetivas e
referentes à conduta interpessoal). Sabe-se que as crenças da fé exercem papel
motivador muito importante nos comportamentos e que correspondem a necessidades
psicológicas ou ideológicas sempre mais ou menos valiosas para quem as experimenta
e cultiva. As crenças da fé (ou dogmas) são conteúdos mentais de natureza
predominatemente afetiva e não cognitiva, embora se expressem como conceitos,
juízos e raciocínios como o conhecimento. E porque são fenômenos afetivos, se
consolidam, se ampliam e se enraízam em função de sua estutura de moivação e não
pelo convencimento provindo da razão, da convenção utilitária ou de outra modalidade
de consenso.
Costuma-se discutir se o conhecimento se limita a uma atividade da consciência,
uma representação mental de seu sujeito, que incluiu uma imagem do objeto, ou se
o processo de conhecer se dá pela incorporação e assimilação pelo sujeito de
4
algumas características do objeto.
E, neste segundo caso, o fato de conhecer, determina uma transformação em quem
conhece. Pois, ao conhecer alguma coisa, o sujeito daquele conhecimento fica, de
alguma maneira acrescentado com aquele conhecimento e, assim, modificado por
ele e por sua inclusão na consciência.
Estrutura do Conhecimento
Ao se avaliar a estrutura do conhecimento-processo para conhecer em-se como
verdadeiro que conhecimento se faz pela superposição do resultado da atividade de
diversas estruturas mentais cognitivas interdependentes e complementares, as quais
se associam as estruturas afetivas. Do ponto de vista de sua estrutura, o conhecimento
é uma realidade simultaneamente psicológica e lógica, subjetiva e objetiva, natural e
cultural; mas constitui sempre um acontecimento real (ainda que subjetivo e abstrato)
que se materializa e se concretiza geralmente em um dado verbal, mas pode ser
objetivado por qualquer outro comportamento e representado de muitas maneiras. O
conhecimento se realiza pela superposição de duas modalidades de estruturas
interdependentes. O conhecimento depende da integridade anátomo-fisiológica do
organismo (e não apenas do cérebro) e da interação de duas estruturas cognitivas:
uma estrutura lógica e, simultaneamente, um estrutura psicológica.
Contudo, é preciso destacar que tais qualidades psicológicas por si sós não
possibilitam o conhecimento. A concretização o procedimento de conhecer
depende da integridade anátomo-fisiológica do cérebro mas não só das estruturas
cerebrais impressivo-gnósicas e intelectuais; mas do organismo inteiro (e não
apenas do cérebro) e da interação de duas estruturas cognitivas: uma estrutura
lógica e, simultaneamente, um estrutura psicológica.
Como depende também do funcionamento das outras estruturas somáticas que são,
direta ou indiretamente, responsáveis pelo desempenho funcional das funções
psicológicas e disfunções psicopatológicas.
Todo conhecimento é uma estrutura cognitiva lógica composta por três tipos de
elementos: as percepções, os conceitos, os juízos e as conclusões obtidas através dos
raciocínios.
4
No plano psicológico, a estrutura cognitiva se manifesta em três tipos de processos: a
sensopercepção, a capacidade conceitual, a capacidade de ajuizar e a capacidade de
raciocinar. As imagens perceptivas, os conceitos, os juízos, os raciocínios e as
imagens mnêmicas, são os dados da consciência são os seus elementos mais
importantes.
Contudo, deve-se destacar a importância da memória para o conhecimento em suas
três dimensões – a fixação, a evocação e o reconhecimento, todas essenciais para a
cognição.
Do ponto de vista estritamente racional, todo conhecimento é uma estrutura cognitiva
lógica composta por três tipos de elementos: os conceitos, os juízos e as conclusões
obtidas através dos raciocínios. No plano psicológico, a estrutura cognitiva se
manifesta em três tipos de processos: a capacidade conceitual, a capacidade de ajuizar
e a capacidade de raciocinar. Os conceitos são simultaneamente processos lógicos e
atributos psicológicos. Procedem da capacidade conceitual que é um atributo
psicológico. Embora esses dois fenômenos sejam, frequentemente nomeados
indistintamente como conceitos, convêm diferenciaá-los. Ao menos no discurso técnico
científico.
O conceito é uma idéia que sintetiza as propriedades mais essenciais de alguma coisa,
da coisa ou da idéia conceituada; constitui uma síntese lógica que encerra uma idéia
descritiva ou explicativa sobre aquela coisa. A capacidade conceitual se revela na
produção dos conceitos e na capacidade de estabelecer relações conceituais.
A capacidade conceitual é um atributo psicológico que expressa a possibilidade do ser
humano estabelecer relações entre idéias, como as idéias de um objeto conceitual e
seus atributos; depois, tem a possibilidade de escolher daqueles atributos, quais o mais
geral e mais essencial para sua caracterização. O fundamento da capacidade
conceitual é a capacidade de relacionar conceitos entre si. A capacidade conceitual se
revela na produção dos conceitos e na capacidade de estabelecer relações
4
conceituais. Os conceitos expressam a possibilidade de relacionar uma coisa com seus
atributos e a capacidade de escolher qual o atributo lhe é mais geral e mais essencial
para representar todos os demais e este atributo passa a representar toda a coisa
conceituada.
Como expressões da capacidade conceitual, os conceitos expressam a possibilidade
de relacionar uma coisa com seus atributos e a capacidade de escolher qual o atributo
lhe é mais geral e mais essencial para representar todos os demais e este atributo
passa a representar toda a coisa conceituada. Existem conceitos comuns e conceitos
científicos (que são conceitos que podem ter sido originalmente comuns, mas que
foram deliberada e sistematicamente aperfeiçoados para se tornarem os mais exatos,
fidedignos e válidos que for possível elaborar em um dado momento). E, deve-se
vincar, a exatidão, a validade e a fidedignidade são os únicos elementos diferenciais
que devem ser tidos como importantes para diferenciar entre os conceitos científicos e
os conceitos do conhecimento vulgar. A disciplina com a qual os conceitos são
elaborados e formulados assinalam a qualidade inicial mais importante da conceituação
científica.
Tal qual o conceito, o juízo é fenômeno simultaneamente lógico e psicológico que
resulta da dimensão asseverativa do pensamento inteligente - a capacidade de julgar -
e se concretiza através processo psíquico do pensamento: a possibilidade de atribuir
qualidades a um conceito.
A capacidade mental de produzir juízos reesulta no segundo nível de complexidade da
estrutura do pensamento inteligente, o primeiro é a capacidade conceitual. A
capacidade de julgar evidencia a capacidade de relacionar dois conceitos, atribuindo ou
negando um deles ao outro.
Considerando-se os conceitos como os dados lógicos mais elementares, os juízos
são o segundo grau desta estrutura de complexidade, porque os juízos são
estruturas compostas por dois conceitos. O sujeito e o objeto do juízo. O juízo,
mesmo um juízo de valor, não é bom ou mal do ponto de vista da filosofia e da
ciência, como muitos supõem, mas expressa uma verdade ou um erro, isto é, deve
4
ser considerado falso ou verdadeiro. Os juízos são expressos por proposições ou
proposições cientificas (que são juízos elaborados com o maior rigor e a maior
precisão possíveis). As proposições são orações ou frases com sentido completo.
Nenhum juízo pode ser elaborado sem uma base conceitual verbal, nem pode se
exteriorizar senão envolucrado por palavras.
Como os conceitos, existem juízos científicos e não científicos. Os juízos científicos
denominam-se proposições ou proposições científicas. As proposições científicas,
modalidades particulares de juízos científicos, consoante seu potencial de
generalização, se expressam por leis e princípios (as proposições mais gerais daquele
campo).
As leis naturais traduzem a conexão interna essencial, regular e estável dos fenômenos
da natureza em seu desenvolvimento necessário; no mesmo sentido, as leis da
natureza permitem antecipar, com certeza, o curso de um processo natural.
Os princípios científicos são proposições ou juízos científicos de grande abrangência que
impõem diretrizes gerais ao estudo de um determinado ramo de atividade humana
bastante amplo ou de uma certa disciplina científica, (porque alcança todos os
componentes de seu objeto).
A correlação entre as leis e os princípios científicos é análoga àquela que se dá entre
conceitos e categorias mo plano dos conceitos. Nas ciências da natureza, as leis são
leis naturais; nas ciências sociais, leis sociais.
Do ponto de vista psicopedagógico, quando se estudam os processos
fisio-psicológicos e os procedimentos metodológicos e lógicos
empregados pelos humanos para conhecer, verifica-se que quanto mais
se conhece sobre alguma coisa e quanto mais amplo e verdadeiro for o
que se sabe dela, mais numerosos, melhores e mais confiáveis serão os
juízos e raciocínios que podem ser construídos com o que se conhece.
Principalmente quando este conhecimento é confirmado por provas
confiáveis de verificação factual ou lógica.
Da mesma maneira, quanto mais estruturado e melhor organizado for o
procedimento de conhecer, mais eficiente será seu resultado prático.
4
Como, aliás, acontece com o desempenho de todas as estruturas
operacionais, qualquer que for sua natureza e sua utilidade.
Quando se estuda com cuidado, deve-se procurar distinguir os juízos (fenômenos
lógicos) da capacidade de julgar ou de ajuizar (que é atributo psicológico humano).
A capacidade de ajuizar consiste em uma qualidade psicológica que possibilita aos
humanos aperfeiçoar a capacidade conceitual e relacionar dois conceitos de forma
assseverativa; isto é, afirmando ou negando um deles em relação ao outro.
O raciocínio ou a conclusão racional resulta do encadeamento lógico de juízos, conceitos,
categorias e outros conteúdos do pensamento que permitam à consciência chegar a
conclusões fidedignas e válidas, além de inteligentes. Isto é, o procedimento racional
possibilita o descobrimento de fatos verdadeiros até então desconhecidos a partir
daquilo que já se conhecia anteriormente.
Os raciocínios são procedimentos lógicos e psicológicos resultantes da atividade
racional capaz de promover a elaboração lógica das idéias. As formas mais
elementares do raciocínio são:
- o raciocínio indutivo, quando se conclui acerca do que é geral, a partir do
conhecimento acerca de casos particulares;
- o raciocínio dedutivo, quando o conhecimento acerca do geral permite concluir
sobre um caso particular; e
- o raciocínio analógico, quando se conclui sobre um caso particular, através da
comparação com outro caso particular.
Além de processos psicológicos, a indução e a dedução são categorias lógicas
chamadas dialéticas (como acontece com a análise e a síntese, a abstração e a
concreção) porque constituem uma unidade inseparável apesar de sua aparente
contradição. Assim como os conceitos são o produto da capacidade conceitual e os
juízos do julgamento (ou capacidade de julgar), os raciocínios produzem a lógica.
Os raciocínios são procedimentos lógicos da atividade racional. Suas formas mais
4
elementares são: o raciocínio indutivo, quando se conclui acerca do que é geral, a
partir do conhecimento acerca de casos particulares; o raciocínio dedutivo, quando
o conhecimento do geral permite concluir sobre um caso particular; e o raciocínio
analógico, quando se conclui sobre um caso particular, através da comparação com
outro caso particular.
Além de processos psicológicos, a indução e a dedução são categorias lógicas
chamadas dialéticas (como a análise e a síntese, a abstração e a concreção) porque
constituem uma unidade inseparável apesar da aparente contradição de seus
componentes.
Assim como os conceitos são o produto da capacidade conceitual e os juízos do
julgamento (ou capacidade de julgar), os raciocínios produzem a lógica.
A capacidade de raciocinar ou capacidade de concluir é o processo psicológico que permite
aos seres humanos relacionar conceitos e juízos e tirar conclusões que antes lhe eram
desconhecidas.
Também é preciso diferenciar o raciocínio (atributo lógico) da capacidade de raciocinar
(condição psicológica). A capacidade de ajuizar ou capacidade de julgar consiste na
qualidade psicológica que possibilita aos humanos aperfeiçoar sua capacidade
conceitual ao relacionar dois conceitos de forma assseverativa, ampliando sua
possibilidade de conhecer o mundo e atuar sobre ele; isto acontece, afirmando ou
negando um deles ao outro. A capacidade de raciocinar ou de concluir logicamente, por
sua vez, consiste no processo psicológico que permite aos seres humanos relacionar
conceitos e juízos e tirar conclusões que antes lhe eram desconhecidas. Junto com a
senso-percepção, a imaginação, a memória, aafetividade, apsicomotricidade e a
consciência, estes atributos psicológicos constituem o nível essencialmente cognitivo
do trabalho mental.
Os processos psicológicos representados pela capacidade conceitual, a capacidade
de ajuizar e a capacidade de raciocinar compõem uma importante estrutura
psicológica denominada de pensamento inteligente. Na prática, os processos lógico-
psicológicos de conceituar, ajuizar e raciocinar compõe uma estrutura sistêmica de
complexidade crescente, na qual os conceitos são os processos mais elementares e
4
os raciocínios, os mais complexos.
O pensamento inteligente se compõe sempre de uma estrutura mais ou menos
complexa de conceitos, juízos e raciocínios que constituem um dos mais importantes
atributos de adaptação que os seres humanos podem empregar para se adaptar às
exigências de sua vida. O pensamento inteligente se manifesta através de um conjunto
de atributos lógicos e psicológicos conhecidos como as qualidades do pensamento.
Quando se estuda o pensamento inteligente, verifica-se que a qualidade do processo
de raciocinar depende, basicamente. de um conjunto de qualidades do pensamento
que garantem seu desempenho e o resultado obtido.
As qualidades mais essenciais identificadas no pensamento inteligente são:
= a) amplitude que diz respeito à possibilidade de racionar com um número variável de
questões;
= b) profundidade que vai desde considerações sobre a aparência, até a ponderação
das qualidades essenciais e das causas últimas;
= c) independência que se expressa pela fuga aos esquemas e padrões
preestabelecidos, e da influência catatímica ou dos interesses;
= d) flexibilidade, capacidade para buscar novos meios e novos caminhos para
solucionar um problema lógico;
= e) consecutividade, manifesta a ordem e sistematização da atividade mental.
O pensamento inteligente opera baseado em um certo número de processos lógicos
conhecidos como operações racionais. As operações racionais, em última análise, são
processos lógicos empregados como padrões de elaboração inteligente para elaborar
raciocínios e produzir conclusões. Tais operações racionais manejam um conjunto de
instrumentos racionais mais elementares, as categorias lógicas. As categorias lógicas
que configuram os mecanismos mais elementares e mais importantes do pensamento
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  • 1. Fundamentos Epistemológicos da Medicina 2. O CONHECIMENTO Luiz Salvador de Miranda Sá Jr. A ciência é grande, mas a inteligência do homem cava cada vez mais fundo. Maimônides, médico judeu cordobês (1135-1204) Introdução Qualquer animal desfruta da possibilidade de se dar conta do local em que está e da situação em que existe ali, naquela parte da natureza no exato limite de suas possibilidades sensoriais e motoras. Mas só o Homem tem capacidade de conhecer a si mesmo e o mundo à sua volta cada vez mais ampla, profunda e corretamente tem sido um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento da humanidade e de cada ser humano. Saber como se conhece e divulgar este saber tem sido um dos desafios mais fascinantes dos que estimulam a atividade das pessoas que se interessam por desvendar os mistérios do mundo desde as épocas mais remotas. Este trabalho compõe parte desse esforço. O que é Conhecimento Como sucede a muitas palavras substantivas portuguesas terminadas em ão e em mento, a expressão conhecimento guarda uma curiosa ambigüidade que é própria dessa categoria vocabular: signifca ao mesmo tempo, uma ação ou processo e seu resultado. 1
  • 2. A palavra conhecimento contém dois sentidos complementares mas distintos e ambos devem ser sabidos por quem estuda a matéria. Primeiro, o como conhecer, oconhecimento entendido comu procedimento de conhecer, isto é, o modo como se dá a apropriação pelo sujeito das qualidades do objeto, isto é, significa também o processo de conhecer; e Segundo, o conhecimento-resultado, o saber o quê, que significa o resultado desse processo cognitivo, o conhecimento que o sujeito cognoscente incorporou ao se apropriar de informações referentes ao objeto conhecido. O conhecimento-processo de conhecer, doravante denominado apenas conhecimento (é uma expressão originada do verbo latim, cognoscere = conhecer) costuma ser definido como a apropriação pelo sujeito (cognoscente) de propriedades e qualidades do objeto (conhecido), o que sempre está associada a alguma convicção de que aquilo que se conhece é uma expressão da verdade. Tal convicção de realidade é diferente no conhecimento comum, de um lado, e no conhecimento científico e filosófico, do outro. O conhecimento é uma forma superior e cracterísica de interação e adaptação humana à realidade externa e interna. O conhecimento. Sob qualquer de suas formas. não é concebido como um fenômeno elementar ou unitário e indivisível. Analisado e, sua primeira forma, podem ser diferenciadas nele algumas modalidades importantes de saber que, apesar de conservarem suas característica gerais, podem ser especificadas por suas peculiaridades conceituais e factuais. Do segundo ponto de vista – o conhecimento resultado do procedimento de conhecer – é possível diferenciar alguns aspectos particulares do conhecimento; como os aspectos psicológicos, os fisiológicos e os sócio-culturais. Aqui, neste texto, leva-se em conta, principalmente, a dimensão epistemológica (ou gnosiológica) do conhecimento e sua possibilidade de chegar à verdade (sua eficácia como instrumento cognitivo válido e fidedigno). 2
  • 3. Os antepassados dos humanos começaram a existir no mundo como os demais seres da natureza. Não viviam apenas na natureza, viviam exclusivamente da natureza e para a natureza, mudando a forma de seu corpo e seu funcionamento para se adaptarem às exigências naturais como sucede com todos os demais seres vivos. E tal qual sucede com os demais seres que vivem na, da e para a natureza. Situação na qual, há de se admitir, revelou notável desvantagem quando se compara suas possibilidades animais com os demais seres desta série biológica. O processo evolutivo que lhes assegurou existir com nova qualidade, foi o que os libertou desta dita. O processo denominado de hominização inclui a mudança estrutural e também uma nova realidade ambiental – o ambiente social, a sociedade humana em suas muitas manifestações (pares afetivos, famílias, comunidades, ambientes laborais, associativos ou outros). O conhecimento pode ser entendido como uma das formas mais importantes do ser humano se relacionar com o mundo à sua volta, se adaptar a ele e de empregá-lo para satisfazer suas necessidades. Por isto, parece muito importante saber como isto se dá. Saber se existe mesmo o conhecimento, como ele se dá e quais são as possibilidades reais de uma pessoa conhecer e como isto se dá. As respostas a estas perguntas são fornecidas pela Filosofia através da Teoria do Conhecimento e pela Psicologia, atrávés do estudo da capacidade cognitiva e da Psicologia da Aprendizagem. Quase todos concordam que as manifestações mais primitivas do conhecimento se originaram de um atributo muito primitivo uma necessidade de conhecer - a curiosidade. Conhecer é bem mais que uma necessidade objetiva, é importante necessidade subjetiva. Os seres humanos necessitam conhecer, tanto quanto necessitam pensar, sentir e agir. Pois, necessitam explicar e entender as tudo o que desperta seu interesse pois isso lhe dá segurança. Enquanto não conseguem explicar 3
  • 4. factual ou logicamente alguma coisa ou acontecimento, inventam explicações fantásticas empregando o pensamento mágico. A elaboração mágico-superticiosa foi a maneira mais elementar que o ser humano primitivo inventou para expressar sua necessidade de conhecer. O espírito curioso, quando não sabe, inventa e sempre surge alguém que acredita no inventado. Por isso, pode-se supor com bastante facilidade que a capacidade de conhecer e elaborar inteligentemente os dados conhecidos, que pode ser denominada cognoscibilidade inteligente, seja uma marca característica da humanidade e um marco de sua hominização na luta permanente do homem e da humanidade sobreviverem e se desenvolverem como indivíduos e como espécie. Pois, praticmente todos os outros animais se mostram capazes de conhecer e reconhecer construtos como atributos ou outras informações sobre o concreto nas coisas materiais com as quais entram em contato no desenrrolar de sua existência. No entanto, o conhecimento simbólico, referente a informações abstratas, parece ser apanágio humano. Somente ele tem a capacidade de experimentar esta atividade simbólica. A capacidade de abstrair e operar mentalmente com símbolos de símbolos é uma qualidade tipicamente humana. E a de operar de tal maneira que possam entender e empregar esta capacidade em seu próprio proveito e nas relações com os demais. Esta capacidade, como sucede aos demais atributos animais ou de humanidade estão distribuídos desigualmente nas pessoas. Umas, são mais bem dotados e outras, menos. Conhecimento, Gnosiologia e Epistemologia A Gnosiologia ou Teoria do Conhecimento é o estudo sistemático que constitui o ramo mais geral da teoria do conhecimento ou seja, é a disciplina filosófica que abrange o estudo de todas as modalidades do conhecimento. Isto é, os elementos de significação do conhecimento são chamados gerais quando não se referem só ao conhecimento científico ou ao filosófico mas abrande o conhecimento comum. Isto porque o 4
  • 5. conhecimento vulgar educado deve estar dirigido por pressupostos lógicos e inteligentes, além de organização eficiente que o delimitem e possibilitem saber quando pode ser tido como verdadeiro e identificar o porquê de sua veracidade e probabilidade de ser verdadeiro. A designação de cienciologia para designar a ciência filosófica que estuda o conhecimento científico se deveu à sua apropriação por uma tendência supersticiosa, além de explícita e radicalmente anticientífica. A Gnosiologia estuda o conhecimento desde a capacidade humana de conhecer o mundo e a si mesmo; além de estudar os mecanismos lógicos que lhe permitem elaborar e acumular seu acervo cognitivo. Neste sentido particular, faz-se inseparável da psicologia da aprendizagem, da história das idéias e da sociologia do conhecimento. Estas e muitas outras disciplinas que contribuem para a elaboração do conhecimento humano. Conhecimento que pode assumir formas bastante numerosas. Aqui cuida-se particularmente do conhecimento médico, dos fenômenos que interferem em sua elaboração e aquisição e das possíveis aplicações da teoria do conhecimento nele. Esta distinção entre Gnosiologia (teoria do conhecimento) e Epistemologia (teoria do conhecimento científico) coloca em foco algumas situações interessantes para quem pretende se debruçar sobe a estrutura do conhecimento médico. Trata-se do fato das ciências médicas terem menor alcance que as necessidades da prática dos médicos, isto é, a ciência explica menos que a necessidade dos doentes. O que há se ser objeto de estudo noutra ocasião. É disto que se pretende tratar neste texto, ainda que de modo inteiramente sem pretenßão. Sua maior pretensão se limita a servir de apoio aos estudantes que se iniciam nestes estudos, especialmente os aprendizes de médicos, que tradicionalmente fogem destas matérias, devido a seu caráter abstrato e por considerá-las demasiado distantes de seu campo de interesse. E esta tendência deve ser afrontada a todo custo. Pois constitui importante fator de alienação dos médicos. O conhecimento médico deve ser entendido sempre uma modalidade de conhecimento científico sobre os enfermos, as enfermidades e os recursos para intervir em benefício dos seres humanos; especialmente no que interessa à profilaxia e ao diagnóstico das enfermidades e ao tratamento e à reabilitação dos enfermos. 5
  • 6. Desde sua origem, o conhecimento médico vem sendo elaborado como manifestação importante da atividade cognitiva humana acerca das doenças e dos doentes, sendo pouco provável que qualquer cultura tenha negligenciado dele. E, talvez por isso, tenha sido um dos precursores da atividade científica e um de seus motivadores mais influentes. Contudo, dentre todas as outras formas de conhecimento científico, o conhecimento médico é (e deve ser) o mais exigido em termos de rigor ético e cientíco, tanto em sua investigação quanto em sua aplicação prática. Principalmente por conta da vulnerabilidade do paiente, por conta de sua condição de enfermo e de sua dependência do médico. É bastante possível afirmar que, ao menos até o século XX, que o conhecimento científico se vem mantendo como vanguarda do que há de mais avançado dos processos culturais (ao mesmo tempo individual e social) pelos quais os seres humanos conhecem a natureza, a sociedade e a humanidade do mundo em que habitam. Assim, conhecendo-as, poderem transformá-las de modo a melhor atender às suas necessidades. Pois, diferentemente dos outros seres vivos que só podem se adaptar modificando sua estrutura e seu funcionamento para adaptar seus organismos às mudanças nas exigências do meio, os humanos também têm a possibilidade de mudar o meio (natural e social) para ajustá-lo às suas necessidades. Mesmo àquelas necessidades mais recentes, as psicossociais, reconhecidas como necessidades resultantes da evolução das necessidades naturais, as mais primitivas. O conhecimento médico iniciou e prossegue sendo um ramo importante do conhecimento humano e só isto bastaria para justificar o estudo atento de seu conteúdo e de sua estrutura. Ao menos pelos médicos. A possibilidade humana para conhecer costuma ser denominada capacidade cognitiva ou cognição e seu produto, o conhecimento. Por cognição designa-se a reunião de todos os processos integrantes da ação subjetiva que permitem conhecer e se diferencia do intelecto ou inteligência, que é uma de suas dimensões, porque existem formas automáticas de conhecer que se mostram bastante independentes das operações intelectuais que possibiluatm o raciocínio. O processamento intelectual é uma das fontes do conhecimento (outra, são as informações sensoriais e dos demais atributos psicológicos como a memória) e o conhecimento constitui a base fundamental de toda atividade racional dos seres 6
  • 7. humanos, atividade que os diferencia de todos demais seres da série animal. Neste sentido particular, a atividade inteligente e o pensamento inteligente devem se consideradas como categorias essenciais ao entendimento da existência humana e seu desempenho cognitivo, notadamente pela capacidade de resolver problemas e de inferir novos conhecimentos a partir dos já conhecidos. O conceito de cognição foi invocado pelos neocondutistas para substituir os de inteligência e intelecto, que lhes parecia muito amplo e inexato. Porém, hoje, passou a padecer dos mesmos defeitos. Muitos deles usam conceito de cognição como sinônimo de intelecto. Ainda que a cognição envolva praticamente todas as qualidades psíquicas, notadamente a senso-percepção, a atenção, a memória, o pensamento inteligente e a memória. Mas também há que empregue o conceito de cognição para mencionar os fenômenos psíquicos da esfera impressivo-gnósica ou como sinônimo de aprendizagem ou referente ao conhecimento, como se emprega aqui. A configuração formal do conhecimento médico não difere em nada do conhecimento em geral. A não ser ao que se refere às peculiridades de seu objeto e aos métodos e técnicas especificamente adequados a ele. Por isto, no que é essencial, o conhecimento médico não deve ser diferenciados das outras modalidade do conhecer, especialmente das modalidades de conhecer cientificamente, pois o conhecimento médico deve ser científico. Por isto, o conhecimento médico pode ser definido como a modalidade do conhecimento preferencialmente científico que se refere ao que se sabe e ao que se procura saber sobre as enfermidades e os enfermos e sobre as relações que existem entre eles; tudo dirigido para o objetivo de ajudar as pessoas afetadas ou ameaçada por enfermidades. Com o tempo e a evolução da Gnosiologia como teoria geral do conhecimento, enquando se identifica em seu interior um ramo mais exigente, a Teoria do Conhecimento Científico ou Epistemologia. O que se detalhará mais adiante neste texto. No entanto, deve-se ressaltar que os termos Gnosiologia (teoria geral do conhecimento) e Epistemologia (teoria do conhecimento científico) se refere ao conhecimento processos cognitivos, mecanismos lógicos e psicológicos para conhecer e não, ao conhecimento resultado, ao acervo de conhecimentos obtidos com esses processos. Cada tipo particular de conhecimento constitui objeto de uma ciência partucular. Há quem denomine a Epistemologia de cienciologia ou cientologia, fato inconveniente 7
  • 8. porque este conceito, como já se mencionou, é usado por uma atividade mágico- supersticiosa para designar uma religião. Religião que exerce certa influência na cultura norte-americana e que, por sinal, sustenta virulenta campanha anticientífica, anti-médica e anti-psiquiátrica, que também recebe a aprovação de diversas tendências políticas anarquistas e detergentes. Senso Comum sobre o Conhecimento Na linguagem vulgar conhecer é sinônimo de saber algo sobre alguma coisa; aí o conhecimento guarda relação com os processos de saber, ter ciência de algo com diferentes graus de extensão, minudência e de convicção; informar-se e conceber, além do conhecer com ter algum contacto, saber de que ou de quem se trata. Na maior parte dos dicionários, define-se conhecimento como o ato ou o efeito de conhecer. Seus sentidos figurados incluem: aprendizagem, entendimento, compreensão, inteligência, razão natural. Utilizada no plural, conhecimentos, a palavra quase sempre se refere a ciência, saber sabedoria, prática da vida, experiência, cultura, erudição, sapiência. A palavra conhecimento chegou ao idioma português e às demais línguas românicas através do latim. Especificamente, através do verbo latino cognoscere, que significa conhecer. Etimologicamente, a palavra conhecimento foi formada pela junção de duas palavras. Como prefixo, a preposição latina co, cum (que em português assumiu o, o significado de com, junto a, perto de, ao lado de – em colega, co-presidente, companheiro); e, como raíz de palavra, pelo substantivo gnoscere, vindo da palava grega genesis, que quer dizer gênese, origem, proveniência, nascimento. Caso se empregue rigor etimológico, conhecer quer dizer co-nascer, nascer com, nascer junto. Neste sentido particular, nascer junto se refere à experiência de se descobrir numa unidade originária com o que está sendo mencionado na palavra-raiz, o que os gregos chamaram de alétheia, isto é, o modo de ser da verdade objetiva. 1 Nascer com querendo dizer e experiência subjetiva que reflete as características de um objeto objetivou subjetivo do sujeito. Portanto, caso se empregue o termo com o necessário rigor etimologico, contata-se que o verbo conhecer significa nascer-junto ou 1 http://www.enciclopedia.com.br/med2000/pedia98a/filo79ps.htm 8
  • 9. compartilhar a mesma origem, sentido que se conserva muito evidente na forma francesa desta palavra, que é con-naître (co-nascer, compartilhar o nascimento). A palavra também pode ter uma conotação comercial. Conhecimento aqui também tem o sentido particular e comercial de registro formal de uma mercadoria transportada, o documento que descreve a mercadoria; mas não é o caso aqui. Como não se dá o caso de outra conotação qualquer que a palavra conhecimento possa ter. Recursos para Conhecer: No processo de conhecimento intervêm as sensações diretas, o pensamento inteligente e mais os recursos indiretos de conhecer (aparelhos ópticos, de gravação sonora, recursos de mensuração e outros) e os processos mentais que ampliam as possibilidades cognitivas (senso-percepção, atenção, memória, pensamento inteligente, imaginação, capacidade verbal). Ainda que não seja desprezível a influência de fatores afetivos e volitivos. O conhecimento pode advir das sensações, da experiência mais ou menos elaborada ou do raciocínio. Cada uma dessas três fontes de conhecimento ocasionou o surgimento de uma tendência doutrinária que a pretende exclusiva em seu mister: o sensualismo, o pragmatismo e o racionalismo. Aqui se sustenta que cada uma destas doutrinas contém uma vertente da verdade, inclusive da verdade científica Definição Científica de Conhecimento Como acontece com muitos objetos do conhecimento científico, o próprio conhecimento deve ser adequadamente difinido para facilitar seu estudo, pois é a partir da definição de seus termos que se pode raciocinar adequadamete sobre alguma coisa, assim como sem uma definição adequada de de de seus objetos ou fenômenos mais essenciais não pode haver progresso em qualquer atividade científica. Uma definição aceitável de conhecimento pode ser a que se segue. O conhecimento pode ser consiste na apropriação pelo sujeito (cognoscente) de qualidades do objeto 9
  • 10. (conhecido), que sempre está associada a alguma convicção de que aquilo se trata da verdade. Esta apropriação se faz sempre pela elaboração de um construção mental (um construto) que leva em conta não apenas os dados recebidos neste processo, mas sua interação com todo o conteúdo restante da consciência, com a experiência passada e a expectativa de futuro. A atividade cognitiva médica aspira a ser uma modalidade cada vez mais científica, ainda que receba muita influência do conhecimento vulgar e do conhecimento filosófico. Todo conhecimento traz implícita, por definição, uma certa convicção em ele corresponde à verdade. Mesmo que seja objetivamente falso. Aqui há uma contradição ontológica a ser considerada: uma mesma proposção pode ser tida como conhecimento ou uma pessoa e ter negado seu caráter de conheciemnto por outra. Devendo-se ressaltar que, a rigor, um conhecimento falso não é conhecimento, é uma crença, uma ilusão, uma fantasia, um dogma. O que implica no entendimento do termo verdade com duas dimensões – uma, subjetiva (a impressão subjetiva de verdade) e outra, objetiva ( asim chamada verdade objetiva). No entanto, como a informação falsa pode ser tida como verdadeira (o que acontece muito), isto justifica a noção de conhecimento falso. Embora, pareça estar havendo aqui, uma confusão entre juízo e conhecimento. Tudo isto aconselha evitar a expressão conhecimento falso, sendo melhor, informação falsa, convicção falsa. Para que uma informação possa ser tida como conhecimento, é necessário que seu agente a tenha por verdadeiro, precisa ter uma convicção mínima de que se trata de uma verdade. Se não o for, e isto ficar comprovado no futuro, daí em diante, deixa de ser tida como conhecimento. O mínimo que se pode esperar dos intelectuais e cientistas profissionais, que vivem do que conhecem e do que aprenderam a fazer, é ter boa noção da estrutura do conhecimento, por isto, se deve esperar que este assunto interesse a todos quantos se preparam para a atividade científica. Principalmente os médicos, que jamais devem se conformar em serem técnicos ou tecnólogos, isto é, meros aplicadores de tecnologia. O que implica conhecer o conhecimento que produz e aplica. 1
  • 11. Todo conhecimento se inicia na possibilidade de reconhecer o objeto conhecido, e se amplia e se enriquece na medida em que se pode saber e explicar mais e mais sobre aquela coisa, além de poder prever os fenômenos que se darão com ela. O seu conteúdo de verdade é o que há de mais essencial em todo conhecimento. Para alguns psicólogos, o conceito de conhecimento se confunde com a noção de aprendizagem, ainda que sejam bem fenôenos bem diferentes, ainda que convergentes. Uma corrente psicológica que está estudando muito atentamente o conhecimento é a chamada Psicología Cognitiva, assim chamada pelo destaque que dá a este aspecto da atividade mental. Do ponto de vista cognitivista, o conhecimento representa: a) a conservação e a recuperação de alguma experiência do sujeito; b) a renovação do processo fisiológico estimulo – resposta, como base da atvidade neuro-píquica; c) além de permitir entender o organismo como realidade ativa e atuante. Aí se destaca a importância de reconhecer a excitação e a inibição, os dois processos neurais mais elementares como igualmente ativos. E o reflexo como padrão de atividade nervosa. Nesta perspectiva, reconhece-se que as principais formas assumidas pela atividade cognitiva são a percepção, a atenção, a imaginação, a memória, o pensamento inteligente e a linguagem. Piaget e Chomski são influências importantes na investigação. Mas, não se deve ignorar a contribuição de Walon, Leontiev e Luria, dentre outros. A propósito, convém lembra que Piaget foi o primeiro a definir o conhecimento como uma modalidade particular de relação entre o sujeito e o objeto, intervindo neste processo diversas influências puramente biológicas e adaptativas às imposições do meio, além de elementos do tipo lógico- formal, que são elaborados nas funções psíquicas cognitivas. Outros autores, como Freud, destacaram a influência dos fatores afetivos. Entre os pedagogos, desde Bloom, tem-se o conhecimento como o primeiro e mais importante dos objetivos educacionais a serem perseguidos em toda atividade docente. 1
  • 12. Classificação do Conhecimento Do ponto de vista de sua exatidão, confiabilidade e validade, além da qualidade de seu objeto e dos métodos que usa, reconhece-se desde há muito três modalidades mais importantes de conhecimento: - o conhecimento comum (senso comum), - o conhecimento científico e - o conhecimento filosófico. Há quem pretenda uma quarta categoria de manifestações do conhecimento, o que denominam conhecimento religioso. No entanto, seundo os critérios aqui empegados para caracterizar os fenômenos de crença e conhecimento, o que alguns chamam de “conhecimento“ religioso é, na verdade, outra modalidade de crença, mais precisamente uma fé à qual se atribui qualidade cognitiva para ampliar sua respeitabilidade. O conhecimento científico e o conhecimento filosófico se originaram do conhecimento comum através dos mitos, de outros recursos imaginários e da superstição. Enquanto o conhecimento científico se estruturou através do desenvolvimento da razão, especialmente da lógica, enquanto a ciência, além de empregar a lógica subsidiariamente se baseou sobretudo na investigação empírica. Invistigação que se iniciou pela observação sistemática e continuou por meio da investigação metodicamente conduzida. Existem vários e diferentes significados que são atribuídos à palavra crença. Pode significar convicção sem verificação, qualquer que seja sua origem ou mecanismo de sua aquisição. Pois, neste caso, crenças seriam todos os conteúdos psíquicos aos quais o agente atribui veracidade. Aqui, usa-se crença como modalidade de convicção caracterizada pela confiança na verdade que uma informação não verificada possa conter. E, como se viu, aqui, se usa conhecimento quando o teor de verdade de uma proposição pode ser verificado, seja logicamente na demonstração ou factualmente na comprovação. Isto é que se pode denominar conhecimento. Quando não, trata-se de fé ou crença com sentido restrito. 1
  • 13. Classicamente, diferenciava-se o conhecimento sensível (obtido a objetivamente partir das sensações também denominado conhecimento objetivo) do conhecimento lógico ou conhecimento subjetivo (obtido a partir do raciocínio lógico, do processo subjetivo de processar mentalmente as idéias). Igualmente, diferenciava-se o conhecimento teórico do conhecimento prático, como se fossem qualidades diferentes do saber. Ambas as diferenciações são erradas, estes dois pares de conceitos se referem a aspectos diferentes de uma mesma coisa: o conhecimento por meio de canais cognitivos diferentes. Não se pode omitir a relação entre o conhecimento e a consciência; nem do carácter comportamental dos conteúdos e processos cognitivos, porque são fenômenos de reação imediata ou mediata a um estímulo ou a um conjunto deles; nem, muito menos, sua utilidade imediata e mediata. Em sua origem bastante remota, as palavras conhecimento, filosofia e ciência se referiam a uma só atividade, tendo todos idêntica significação. No início, havia uma só maneira de conhecer e este conhecimento podia ser denominado de diversas maneiras. Depois, com o tempo e aperfeiçoamento dos procedimentos para conhecer, os sentidos de conhecimento, filosofia e ciência foram se individualizando e cada uma destas atividades assumiu o sentido que correspondia a seu papel como procedimento cognitivo e como instrumento de desenvolvimento individual e coletivo. A tal ponto se misturaram as raízes destes três processos e seus conceitos respectivos, que hoje é impossível saber razoavelmente sobre qualquer um destes fenômenos interligados sem conhecer os outros dois ou sem fazer referência a eles. Por isto, a seguir, há de se fazer uma breve revisão de cada um destes termos, procurando identificar suas possíveis relações recíprocas, sobretudo no que diz respeito a suas implicações na teoria da Medicina. Adiante, se há de mostrar como o conhecimento, a filosofia e a ciência, apesar de sua origem comum, se diferenciaram; e como cada um destes tipos de conhecimento tem hoje um significado específico perfeitamente distintos 1
  • 14. dos demais. Não obstante, também se há de verificar como seus sentidos são atualmente complementares e interdependentes apesar de distintos. Conhecimento Comum (ou vulgar) O conhecimento comum (ou senso vulgar, ou senso comum) é sempre mais ou menos espontâneo, impreciso, assistemático e casual porque não resulta de programação científica; trata-se de um procedimento mental superficial e associativo, auto- contraditório e acrítico, fragmentário e ametódico, tanto do ponto de vista de sua aquisição, quanto de sua ordenação. Mas, sobretudo, não dispõe de instrumentos confiáveis de auto-avaliar-se, de auto-criticar-se nem de retificar-se. O senso-comum é dirigido pelas características formais e pela aparência e impressão superficial das coisas e se refere a objetos específicos; mescla elementos de opinião e crença, misturando dados cognitivos e afetivos; mas se caracteriza, acima de tudo, por não ter compromisso com o rigor, a exatidão, a comprobabilidade ou a veracidade. O conhecimento comum é predominantemente subjetivo e mesmo quando se refere a fatos objetivos, sofre decisiva influência da subjetividade de seu agente. O conhecimento comum é acrítico, não inclui a dúvida, nem qualquer outro critério de verdade; é heterogêneo e contraditório consigo mesmo, não persegue a coerência de sua informações entre si ou com o restante do conhecimento e não se dirige pela confrontação com a realidade e valoriza mais os elementos qualitativos que os quantitativos. Tudo isto acontece, mesmo no senso comum culto. Porque existe senso comum em todas as pessoas, independente de suas aptidões intelectuais e de seu repertório de conhecimentos, fenômenos individuais em que está apoiado. Cada pessoa elabora e manifesta seu senso comum de acordo com suas próprias possibilidades, seus interesses e suas necessidades. O senso comum de alguém depende do seu patrimônio de informações e da sua capacidade intelectual, mas também depende de suas necesidades subjativas (amor, respeito, prestígio, poder) e objetivas (dinheiro, bens de consumo, propriedades, posição e trânsito social). Todas as pessoas, intelectuais, os artistas e os cientistas são sempre mais ou 1
  • 15. menos influenciados pelo conhecimento vigente, pelo senso comum de sua época, de sua cultura, e sua sub-cultura, de sua ideologia e dos interesses de sua classe social. Existe notável correspondência entre os aspectos subjetivos (conceitos e juízos) do conhecimento comum e seus aspectos objetivos (palavras, linguagem). O registro mental do resultado da experiência assistemática, ainda que intensa e intensiva, que é típica do conhecimento vulgar, resulta em conclusões muito enganadoras; e isto tem se revelado muito na Medicina, tanto na construção do conhecimento sobre as patologias quanto na indicação e avaliação dos recursos terapêuticos. O conhecimento comum difere principalmente do conhecimento científico que, de certa maneira, é seu oposto. No conhecimento comum, a verossimilhança (maior ou menor convicção de verdade, potencial de veracidade) se reduz a uma impressão inteiramente subjetiva; a pessoa que experimenta o conhecimento tem uma certa convicção de sua verossimilitude, que pode ser maior ou menor, mas não pode demonstrá-la ou comprová-la. A noção de conhecimento vulgar, conhecimento comum ou conhecimento popular não tem qualquer conotação pejorativa, nem encerra qualquer implicação elitista, discriminadora ou anti-popular. Ainda que, eventualmente, possa ser empregada com esta intenção. Mas aqui se emprega apenas para significar conhecimento mais ou meno espontâneo, assistemático e acrítico. Uma manifestação inicial da capacidade cognitiva humana. O conceito de conhecimento vulgar, senso comum ou conhecimento comum significa exclusivamente conhecimento que não é científico nem filosófico (por sua estrutura ou pela metodologia da qual se originou. Sua confiabilidade e validade mais baixas decorrem dos procedimentos empregados nele e não em sua procedência. O conhecimento comum é assistemático, subjetivo, acrítico, heterogêneo, impreciso e auto-contraditório; dirige-se pela aparência e pela forma das coisas que pretende conhecer; está isento de rigor, de exatidão e de precisão; não dispõe de mecanismos de comprovação ou controle de sua aquisição; por isto, seu critério de verdade se resume a uma impressão subjetiva de verossimilitude. 1
  • 16. Mesmo na universidade, existe um conhecimento comum inculto que soma a todos estes defeitos uma incapacidade para uso do idioma (tanto sintática, quanto fonética e, principalmente, semântica), o que ainda complica muito mais a situação da cognoscibilidade científica e de construção do conhecimento. O senso comum pode ser equivocadamente confundido coma sabedoria popular por aqueles que têm no povo, mesmo ignorante e carente, a única fonte de verdade e de conhecimento confiável. Assim como a esperteza, inteligência prática, é confundida com a inteligência abstrata. Mas esta deformação política pode ser empregada para esconder ou para enfeitar a estupidez. A convicção na veracidade que existe no conhecimento comum pode ser extremamente arraigada; como acontece na fé e na confiança nos dogmas religiosos ou políticos, por exemplo, que podem mobilizar extrema convicção em quem as cultiva, mas que não lhes permite comunicar esta confiança inteligentemente a outrem. Mas é preciso ter presente que, em princípio, o conhecimento comum se manifesta como crenças e dogmas, quando o caráter afetivo-ideológico predominante. O caráter assistemático implícito na aquisição do conhecimento vulgar e em sua estrutura lógica, o fato de se constituir, muitas vezes, unicamente de memorização mecânica e a natureza subjetiva da impressão ou noção de veracidade produzida por este tipo de conhecimento, por maior que seja, são características essenciais suas. O conhecimento comum pode ser verdadeiro, mas não é provado ou verificado, comprovável ou verificável; pois, quando isto acontece, ele se converte em conhecimento científico. O conhecimento comum inclui o mito, a magia (inclusive o pensamento religioso como todas as outras superstições), as ideologias (falsa consciência induzida por interesses objetivos ou secundários) e as fantasias neuróticas (induzidas por interesses subjetivos ou primários). Embora parte do conhecimento comum, em seu interior deve-se caracterizar as crenças e os mitos. Porque, embora todo senso comum seja muito vulnerável às ideologias e à repercussões na consciência das necessidades subjetivas, os mitos e nas crenças mágico- supersticiosas constituem os fenômenos são mais evidentes e, por isto, determinam 1
  • 17. convicções as mais arraigadas. Deve-se diferenciar o conhecimento vulgar culto das impressões e expressões cognitivas das pessoas incultas, sejam ricas ou pobres, analfabetas ou portadoras de diplomas de cursos superiores. Até bons professores universitários, peritos em certas áreas do conhecimento científico, podem revelar notável incultura quando tratam de temas que não são os seus, mesmo em áreas limítrofes. Outro aspecto do senso comum é a influência de fatores que combinam traços ideológicos e psicopatológicos, como as crenças mágico-supersticiosas mais ou menos dogmáticas. mas sempre alienadoras. Crenças fundamentadas no pensamento mágico e a serviços de de conteúdos neuróticos fóbicos, anancásticos, fanáticos. Tais motivações impulsionam mais do que se costuma pensar as crenças superstiosas, que muitos denominam conhecimento religioso e o têm por equiparado ao conhecimento científico e ao filosófico. Destaca-se a influência ideológica materializada nas manifestações de falsa consciência, relacionadas com a satisfação de necessidades materiais de quem as idealiza e as cultiva. As crenças ideológicas dos patrões são diferentes das dos empregados, como as dos fazendeiros e dos sem-terra, dos credores e dos devedores). Conhecimento Filosófico Para muitos, o conhecimento filosófico deve ser considerado uma terceira forma radical e rigorosa de conhecimento, distinto do conhecimento vulgar e do científico; um conhecimento valorativo de objetos não sujeitos à observação ou à experimentação, que abrange a totalidade universal e, até, as causas e conseqüências últimas. Para outros, os que consideram a Filosofia como uma atividade cognitiva científica, uma ciência formal, o conhecimento filosófico é inseparável do conhecimento científico, é uma de suas modalidades, apenas sua forma mais abrangente. O conhecimento filosófico, definido como ciência das generalidades, se caracteriza pela extensão ilimitada de seu objeto. Generaliza sobre tudo o que existe. O conhecimento filosófico é o mais extenso e válido possível e sempre deve ser empregado em benefício da 1
  • 18. humanidade. A Filosofia é o ramo do conhecimento que se ocupa da essência e do valor de todas as coisas que existem no mundo, todas as coisa do mundo todo. Enquanto cada ciência tem por objeto uma parcela limitada do mundo e generaliza para aquela parcela, porque as leis e os princípios que desvenda são válidos apenas para seu objeto, a filosofia generaliza e descobre leis e princípios válidos para tudo o que existe. O conhecimento filosófico é essencialmente racional, lógico e se refere a tudo o que existe, e por sso deve ser aplicável a todas as coisas da natureza, da sociedade e do Homem. Enquanto o conhecimento de cada ciência se refere particularmente aos objetos e fenômenos contidos no âmbito de seu objeto de estudo. Para exemplificar, a Física trata dos fenômenos e objetos físicos, a Química dos objetos e fenômenos de seu campo. Neste trabalho, embora se considere as diferenças verificadas no método de estudo e no resultado dos conhecimentos filosófico e científico, o conhecimento filosófico costuma se cada vez mais freqüentemente mencionado como um tipo particular de conhecimento científico (ciência das generalidades ou uma ciência formal, ao lado da lógica e das matemáticas), uma vez que comparando as duas estruturas cognitivas não se encontra qualquer diferença essencial e fundamental entre elas, além do grau de generalização alcançado por suas conclusões. Cada ciência particular generaliza sobre seu objeto; a Filosofia generaliza sobre tudo o que existe no universo. Do ponto de vista ontológico, as ciências se distinguem da Filosofia apenas pela abrangência de suas conclusões e pelo alcance de suas generalizações. Por isto, o conhecimento filosófico pode ser considerado como um tipo de conhecimento científico. Bunge encara a Filosofia como uma ciência formal, como a matemática e a lógica. Entretanto, parece ser bastante defensável considerar a Filosofia como um terceiro tipo de conhecimento, simultaneamente distinto do conhecimento vulgar e da ciência, como faz a maior parte dos estudiosos que tratam do assunto. Desde os tempos antigos, os primeiros filósofos tinham a Filosofia como um tipo 1
  • 19. especial de saber a serviço da humanidade. Uma das formas de estabelecer este saber reside na possibilidade de estruturar regras de comportamento para o convívio social e para a obtenção do conhecimento científico. O método científico, com o sentido de caminho ou de melhor caminho, é o traço que melhor diferencia o conhecimento científico das demais formas de conhecer. A Filosofia é um ramo superior do conhecimento que estabelece as diretrizes e o controle sobre a estrutura de obtenção do conhecimento e sobre seu emprego e interesse social, através da ontologia, da metodologia, da lógica, da epistemologia e das disciplinas axiológicas (principalmente a ética). Conhecimento Científico O conhecimento científico representa o momento mais evoluído do processo humano de conhecer o mundo com mais certeza naquilo que está conhecendo. Esta característica de informação mais fidedigna, válida e verossímil em cada momento da evolução civilizatória é o principal traço do conhecimento científico frente às demais formas de conhecer. Ainda que não seja completo, absoluto ou definitivo como querem os adeptos do cientificismo. No presente, deve-se denominar conhecimento científico ao conhecimento estruturado e verificado acerca de um objeto cognitivo definido, adquirido sistematicamente voltado para avançar para além das características da sua aparência, buscando os elementos essenciais dos objetos ou fenômenos para os quais se dirige; nas ciências, o estabelecimento da causalidade deve fugir a toda explicação aparente e superficial; mas também é assinalado pela capacidade cada vez mais critica e autocrítica. Cada ciência particular ou disciplina científica constitui uma teoria ou em um sistema de teorias a cerca do seu objeto (porque cada ciência se carateriza exatamente pelo seu objeto). O conhecimento científico está voltado para categorias particulares de objetos. Mas teorias que contêm uma massa crítica de informações verificadas por métodos e procedimentos reconhecidos como validos e confiáveis pela comunidade de cientistas 1
  • 20. e filósofos da ciência. O conhecimento científico, na medida em que é a forma mais aperfeiçoada de conhecer, se estrutura da forma para o conteúdo, da aparência para a essência, da simplicidade para a complexidade e dos casos particulares para generalidades cada vez mais amplas, ainda que o que se conhece sobre conteúdo, essência e complexidade enriqueça o processo de saber e o que se sabe sobre a forma, a aparência e as formas mais simples, num processo permanente de retroalimentação cognitiva. A palavra ciência se origina do latim scientia que, por sua vez, deriva do verbo scire que quer dizer conhecer, saber. A diferenciação que se fez do conhecimento científico e do conhecimento comum (e do conhecimento filosófico ) é relativamente recente, como se mostra adiante. Mais adiante no capítulo específico sobre a ciência, o tema é estudado com mais detalhes. Cada momento da evolução civilizatória da humanidade produziu o melhor conhecimento científico que era possível naquela época, tanto em termos de confiabilidade (ou fidedignidade, que é a confiança que merece em relação às possibilidades da época) e de validade (grau de correspondência daquele conhecimento com a realidade). O conhecimento científico é essencialmente explicativo, embora possa embora possa ter que se ater a uma etapa descritiva enquanto não restar outra alternativa mais eficaz e deve ser preferentemente quantitativo, ainda que não recuse a elaboração qualitativa; todo conhecimento científico deve referir-se sempre a um objeto definido, homogêneo e estudável objetivamente; seus achados devem ser obtidos sempre por meios que admitem o controle da qualidade de seusresultados, em termos de confiabilidade e validade (ver estes termos adiante). Por tudo isto, o conhecimento científco resulta em um conjunto teórico harmônico de 2
  • 21. conceitos, categorias, leis e princípios que formam um sistema teórico e lógico sujeitos à verificabilidade formal ou empírica da verdade semântica ou sintática que contenham através da comprobabilidade ou verificação pela falsicabilidade e deve ser racionalmente sistematizado, o que significa que o acervo de conhecimentos científicos, em geral, e o elenco de informações, de cada ciência específica, devem resultar em um sistema de enunciados coerentes entre si e correspondentes com a realidade. Senso Comum e Conhecimento Científico Não há descontinuidade qualitativa entre os diferentes tipos de conhecimento, como o conhecimento vulgar e o conhecimento científico, até porque o conhecimento científico de uma geração costuma ser o senso comum das seguintes. A diferença conceitual, mas não objetiva (pois não existe por si mesma mas resulta de uma valoração), é uma convenção decorrente do avanço do conceito de ciência e das possibilidades dos critérios e procedimentos práticos vigentes para o estabelecimento da verdade. A cada passo da evolução do conceito de ciência, amplia-se sua diferença do conhecimento comum. A credibilidade e a verossimilhança do conhecimento científico separam-no do conhecimento vulgar. A maior credibilidade do conhecimento científico resulta de dois mecanismos conhecidos como confiabilidade e validade. A confiabilidade (ou fidedignidade) e a validade, dos meios de sua obtenção e dos resultados obtidos, são traços diferenciais essenciais entre o conhecimento vulgar e o conhecimento científico. Tal como acontece com o conhecimento filosófico, existe uma certa oposição do conhecimento comum ao conhecimento científico que se traduz em uma ideologia que subestima as linguagens científica e filosófica (como jargão científico, por exemplo) e sua avaliação como conhecimento pedante. No mesmo sentido, mas com direção inversa, dá-se a dificuldade que têm os médicos e outros profissionais de saúde para se comunicarem com seus pacientes porque empregam a terminologia científica que parece ininteligível para seus interlocutores ou, o que é bem pior, é interpretada com sentido 2
  • 22. bem diferente da intenção com que foi produzida. Em princípio, o conhecimento científico deve merecer maior confiança que o conhecimento comum porque pode (e deve) estabelecer o grau de verossimilitude de seus enunciados e porque não há conhecimento mais verossímil. Em cada momento da história da humanidade, a ciência que pode produzir (com suas possibilidades e limitações), fornece o conhecimento mais confiável e mais preciso sobre o mundo.No início da civilização, o conhecimento era de um só tipo. A história da ciência mostra que o limite entre o conhecimento científico e o vulgar tem sido diferente em cada período histórico e resulta muito fortemente da correlação existente entre as possibilidades da metodologia científica e a necessidade social da ciência e dos conhecimento e técnicas que ela produz. A primeira diferenciação foi o conhecimento vulgar educado, com seus termos bem definidos. O conhecimento científico se diferencia também pela objetividade de seus critérios de verdade que, exatamente por isto, devem estar ao alcance de todos. A verossimilhança ou verossimilitude (grau de probabilidade de veracidade) do conhecimento científico pode ser estabelecida com alguma precisão e comunicada de forma convincente, sem qualquer apelo afetivo. Existem procedimentos estatísticos padronizados (como o qui2 ) empregados para determinar o grau de verossimilhança de um procedimento e estes procedimento se aperfeiçoam com o tempo e o avanço do conhecimento científico e metodológico (isto é, do conhecimento filosófico). Conhecimento Direto e Indireto O conhecimento pode ser direto e indireto. A noção de conhecimento direto se confunde com a de conhecimento sensorial. Enquanto o conhecimento indireto resulta de um cálculo, um raciocínio, de uma inferência lógica. O conhecimento direto é aquele que é dado pela experiência senso- perceptiva do sujeito que conhece. 2
  • 23. Conhecimento Autoconexo e Heteroconexo Do ponto de vista bio-psico-individual, pode-se constatar a existência de duas modalidades qualitativamente diferentes de conhecimento: a primeira, que Paul M. Churchland 2 denomina de conhecimento autoconexo, que se refere ao conhecimento como experiência consciente (pela qual se conhecem as cores, os odores; experências que explicam por que uma percepção elementar, como a de uma cor ou um odor, pode evocar inteiramente toda uma experiência anterior mais complexa, inclusive o contexto afetivo em que ele se dera. A segunda, que Churchland denominou conhecimento heteroconexo indica algo situado fora do campo da experiência sensoperceptiva (a concepção da sensação do passar do tempo ou de voar por ejemplo. Conhecimento Imediato e Mediato Conhecer é mais que atividade mental e operação intelectual, a capacidade de conhecer existe como propriedade humana, caracterítica essencial sua que, inicialmente, conhece apenas com seus sentidos e seu raciocínio. Depois, constrói instrumentos que ampliam suas possibilidades perceptivas e racionais, de modo a aumentar sua possibilidade de conhecer, conservar e utilizar o conhecimento previamente adquirido. . O conhecimento pode ser mediato e imediato (o conhecimento recém adquirido e a bagagem das informações que a pessoa sabe). O conhecimento direto provém dos sentidos, o indireto, do racicínio e de isntrumenos auxiliares da sensibilidade e do pensamento. O conhecimento se expressa por meios de informações que podem ser elaboradas por quem as produz e comunicadas aos demais. Tal comunicação se denomina comunicação científica e está submetida a regras estritas. Originalmente, o 2 No livro The engine of the reason, the seat of the soul, MIT Press, 1995) 2
  • 24. conhecimento só existia na consciência das pessoas que o tivesse memorizado. Só com a invenção da escrita, que ele pode se tornar um fenômeno inteira ou predominantemente social, intersubjetivo e, até, extra-subjetivo (porque passou a poder existir latentemente nos registros escritos, mesmo depois que tivesse desaparecido há muito a última pessoa que o tivesse conhecido. . Os recursos técnicos auxiliares da cognição (gravadores, material fotográfico e de filmar, microscópios, telescópios, instrumentaos radiológicos, tomógrafos, detectores de radiação, computadores) podem propiciar, permitir, registrar, conservar, facilitar ou ampliar as possibilidades do conhecimento. Eles próprios não conhecem coisa alguma, nem podem conhecer. Como acontece com as ciência, elas nada conhecem ou afirmam, isto fazem os que as conhecem e as praticam. Há muito tempo se pode inferir que as pessoas conhecem muito mais do que sua consciência lhes mostra na sua mente; quer se trate do conhecimento ou do mundo à sua volta, quer se trate do conhecimento de si mesmo, de seu corpo e de sua mente, do auto-conhecimento. O Sujeito e o Objeto do Conhecimento Todo conhecimento existe como uma interação especial entre dois polos: o polo do sujeito que conhece e o opolo do do objeto do conhecimento, aquilo que estiver sendo conhecido conhecido naquele processo. O sujeito, o ser cognoscente e o objeto do conhecimento estes são os dois componentes do ato ou processo cognitivo. Esta relação é elaborada, intermediada e modulada por fatores ambientais, fisiológicos e psicossociais. O conhecimento, repita- se, manifesta-se como uma modalidade especial de relação entre o sujeito e o objeto. A relação cognoscente. Como já se verificou, ao longo deste capítulo, o verbo conhecer, em todas as suas modulações, deve ser entendido como apropriação pelo sujeito cognoscente de informações acerca de um objeto, o objeto conhecido, e a incorporação daquelas 2
  • 25. informações à sua bagagem cognitiva. Neste processo, depois de tudo isto considerado, denomina-se - sujeito cognoscente ou sujeito do conhecimento à pessoa que conhece; - objeto conhecido ou objeto do conhecimento, àquilo que se conhece no procedimento ou processo cognitivo; sendo que - no autoconhecimento, dá-se a síntese do sujeito e do objeto do processo de conhecer. Devendo-se dizer que o mecanismo básico de conhecer o mundo objetivo é análogo ao empregado no auto conhecimento, o conhecimento subjetivo. Esta apropriação se faz sempre pela elaboração de uma construção mental (um construto) que leva em conta os dados recebidos neste processo e sua interação com todo o conteúdo restante da consciência, com a experiência passada e a expectativa de futuro. No auto conhecimento, dá-se a síntese do sujeito e do objeto do processo de conhecer. Devendo-se dizer que o mecanismo básico de conhecer o mundo objetivo é análogo ao empregado no auto conhecimento, o conhecimento subjetivo, o conhecimento de si mesmo. Exatamente pela mesma razão, não se denomina conhecimento (ou cognição) às crenças que não forem elaboradas como cognições. Outro aspecto da diferenciação essencial se faz a partir do critério de veracidade usado em cada um destes fenômenos psicológicos, além das manifestações afetivas que acompanham a demonstração ou comprovação de sua invericidade. O conhecimento científico está permanentemente submetido aos recursos mais exigentes possíveis de comprovação de sua veracidade. A convicção de veracidade no conhecimento vulgar é buscada, mas de modo assistemático e metodologicamente insuficiente. Nas crenças, não existe nenhum esforço de comprovação de veracidade (de validade nem de fidedignidade ou confiabilidade). Por tudo isso, denomina-se 2
  • 26. cognição à capacidade de conhecer e conhecer-se; conhecer o mundo e conhecer a si mesmo empregando recursos perceptivos e inteligentes. Enquanto se denomina dogma ou crença ao fenômeno subjetivo que toma a forma de convicção e que está fundamentado em uma base afetiva, estruturando-se a partir processos afetivo- psicológicos ou ideológicos, há muito tempo, reconhecida como processo subjetivo arracional e incomprovável. A falta de apoio sensorial ou racional para uma dada convicção é a marca essencial para reconhecer uma crença. Sua base afetiva pode ser negada (inclusive por ser desconhecida) mas existe sempre. O que não é conhecido é ignorado enquanto não se o conhece. Por isto, pode-se afirmar que todo conhecimento se inicia na cognoscibilidade, ou seja na possibilidade de se conhecer a coisa conhecida; procede em um primeiro contacto direto ou onfireto com a coisa a conhecer; amplia-se e se enriquece na medida em que se pode saber mais e explicar mais e mais sobre aquela coisa, além de poder prever os fenômenos que se darão com ela e se completa na possibilidade de reconhecer a coisa conhecida como objeto do conhecimento. O seu conteúdo de verdade de um conhecimento, isto é, a convicção que mobilize no sujeito cognoscente é o que há de mais essencial em todo conhecimento. O primeiro elemento da possibilidade de conhecer, reside na integridade das estruturas funcionais que o realizam. Os instrumentos da apreensão direta da informação (a atividade senso-perceptiva) e da apreensão indireta (o pensamento inteligente) são o ponto de partida do conhecimento. A memória, incumbe-se de sua conservação e recuperação. O reconhecimento (gnosia) é o elemento psicológico responsável pelo reconhecimento da imagem mental com o que for a previamente conhecido. Recorde-se que, pela própria definição de conhecimento, o sujeito que o realiza sempre reconhece a informaçãon recuperada naquele processo como sendo verdadeira. O que se dá pela ação do reconhecimento. Entretanto, há que se utilize da 2
  • 27. expressão conhecimento falso ou falso conhecimento. Devendo-se ressaltar que, a rigor, um conhecimento falso não é conhecimento, é uma crença, uma ilusão, uma fantasia, um dogma ou qualquer outra coisa. Menos um conhecimento. No entanto, como a informação falsa pode ser tida como verdadeira (o que acontece muito), isto justifica a noção de conhecimento falso. Embora, pareça que muitos estão fazendo, neste ponto, uma certa confusão entre o que seria um juízo e o que deve ser um conhecimento. Tudo isto aconselha evitar a expressão conhecimento falso, sendo melhor mencionar ilusão mnêmica, informação falsa, convicção falsa, juízo falso, impressão falsa de conhecer. Para que uma informação ou uma elaboração mental qualquer possa ser tida como sendo um conhecimento, é necessário que seu agente a tenha por verdadeira. No plano psicológico, quando se trata do conhecimento acerca da subjetividade de quem o experimenta, o agente do conhecimento precisa ter alguma convicção, ainda que mínima, de que aquilo que ele pensa ou crê saber que se trata de uma verdade. Se não o for, e isto ficar comprovado no futuro, daí em diante, deixa de ser tida como conhecimento. Muita informação costuma ser tida como conheciemnto, até que seja verificada como falsa pelo seu agente que, então, deve descaracterizá-la como conhecimento. O que não sucede quando se considera o conhecimento objetivo. Principalmente porque, embora o conhecimento racional seja verificado por demonstração lógica, a convicção presente no conhecimento objetivo se verifica por comprovação prática, a comprovação da correspondência entre o conhecimento e os objetos ou fatos que se refere. Por tudo isto, não se deve denominar conhecimento (ou cognição) às crenças incomprovadas por que jamais foram verificadas ou, o que é bastante pior, aquelas que são comprovadamente falsas. E a diferenciação essencial se faz a partir do critério de veracidade usado em cada um destes fenômenos psicológicos e nos recursos de verificação usados para aferi-las. 2
  • 28. O conhecimento científico deve estar permanentemente submetido aos recursos mais exigentes possíveis de comprovação de sua veracidade, por isto a comprobabilidade é uma de suas características essenciais. Enquanto a convicção de veracidade no conhecimento vulgar é buscada, mas de modo assistemático e metodologicamente insuficiente. Nas crenças acientíficas, não existe nenhum esforço de comprovação de veracidade (de validade) nem de confiabilidade. O mínimo que se pode esperar de intelectuais e cientistas, profissionais, agentes sociais que vivem do que conhecem e do que aprenderam a fazer com técnicidade; e que fazem-no com o propósito de construir informações e conhecimentos válidos e confiáveis, é ter uma boa noção do que seja a estrutura do conhecimento. Por isto, deve-se esperar que este assunto interesse a todos quantos se preparam para exercer alguma atividade científica. Seja produzindo conhecimento científico, seja avaliando a qualidade dessa produção. Para os médicos, este compromisso com o conhecimento verificado é particularmente importante. Porque o médico não tem o direito de submeter seus pacientes a suas crenças, supersticiosas ou não, se houver a possibilidade de empegar conhecimento verificado. Mesmo se não haja conhecimento devidamente verificado para atender a uma necessidade clínica do paaciente, o médico deve expor porque não emprega algo comprovado, suas ventagens e desvantagesm suas possibilidades e limitações. Se esta proposição se mostrar suficientemente válida no que respeita a qualquer atividade científica, encontrará ainda maior validade quando se tratar do conheciemento médico, por causa de sua responsabilidade. Do conhecimento elaborado para ajudar as pessoas a se libertarem do sofrimento, da enfermidade, da incapacidade e da morte evitável. Um dos aspectos que a ciência moderna considera essencial para a validade do conhecimento consiste na separação que deve haver entre o sujeito e o objeto da cogitação e da investigação científicas; - a objetividade científica e técnica, primeira exigência metodológica da investigaão científica, da qual se tratará em outro momento 2
  • 29. deste trabalho. Os positivistas e os materialistas convergem nesta opinião que se manifesta na necessidade de estabelecer regras para assegurar a objetividade científica de quem investiga e de quem aplica o conhecimento científico. Objetividade não deve ser confundida com objetivismo. O objetivismo é um reducionismo sistemático ao objetivo, sempre acompanhado da negação da subjetividade ou sua subestimação. Conhecimento: Processo e Resultado Aquilo que se denomina conhecimento, procedimento de conhecer ou o resultado deste processo cognitivo) não é um ato simples nem um processo unívoco ou um processo unitário com uma única qualidade de resultado de sua atividade. Como já ficou claro na definição de conhecimento usada acima, dela, pode-se inferir sem dificuldade que conhecer algo é um procedimento lógico e sócio-psicológico. Mas é ambém um processo mental de natureza predominantemente cognitiva pelo qual alguém (que é chamado o sujeito do conhecimento, o ser cognoscente, aquele que conhece) capta, introjeta e assimila em sua mente (através do chamado processo de apropriação cognitiva), os atributos de uma coisa qualquer (que é chamada de objeto do conhecimento). Realiza tudo isso de modo a poder reconhecê-la em outras circunstâncias e utilizar sua noção na construção de juízos e raciocínios. O reconhecimento é o selo do conhecimento, pois só há conhecimento quando a informação é reconhecida. O conhecimento é modalidade particular de relação entre o sujeito que conhece e um objeto a conhecer ou já conhecido. O conhecimento é sempre uma ação subjetiva humana, ao menos no sentido com que se emprega aqui, que se apropria de alguma informação sobre algo ou sobre alguma ou pessoa. Conhecer é uma atividade mental, os recursos técnicos que o auxiliam em sua atividade (microscópios, telescópios, 2
  • 30. tomógrafos, computadores) são recursos para conhecer, podem propiciar, permitir ou facilitar o conhecimento. Não conhecem. Eles próprios não conhecem coisa alguma. As pessoas conhecem muito mais do que sua consciência lhes mostra na sua mente, quer se trate do conhecimento ou do mundo à sua volta, quer se trate de auto- conhecimento. O conhecimento existe como tipo particular de relação do ser humano com o mundo que o circunda e consigo mesmo. Uma interação entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido; uma ação subjetiva humana, ao menos no sentido com que se emprega aqui, que se apropria de alguma informação sobre algo, inclusive sobre si. Essa forma de relação dos seres humanos com o mundo pode ser chamada de cognitiva porque se concretiza no conhecimento que produz. Uma relação especial através do conhecimento. O objetivo mais importante de tal relação é se assegurar que que aquilo que se conhece corresponde à verdade objetiva. Pode ser considerado como verdadeiro. Com isso, o sujeito cognoscente pode usar o que conhece em seu processo permanente de se adaptar ao mundo, de se defender dos riscos, de aumentar seu conforto, sua segurança e se assegurar maior probabilidade de sobreviver com o maior bem-estar que lhe for possível. Inicialmente, o ser humano necessita conhecer para atender às suas necessidades imediatas e urgentes. Depois, as mais distantes. Do ponto de vista semântico, o conceito de conhecimento envolve duas dimensões inseparáveis: o conhecimento-processo de conhecer uma coisa e o conhecimento- produto deste processo (o acervo de conhecimento, os fatos conhecidos). Muitas vezes se confundem três fenômenos diversos que se expressam sobre a mesma denominação: o conhecimento (cognição, atividade mental impressivo-gnósica); com a ação do pensamento inteligente (intelecto, raciocínio, inteligência); e a capacidade psicológica de conhecer o que deve ser evitado porque o segundo é mais amplo que o primeiro e, ainda que eventualmente possa contê-lo, isto não acontece sempre. O conhecimento procedimento cognitivo, é o processo psicológico-individual de se 3
  • 31. apropriar das qualidades de uma coisa (ciência-atividade cognitiva); mas, também podem se denominar de conhecimento às informações resultantes desta atividade cognitiva (o conhecimento-resultado, o saber acumulado, o patrimônio de informações de uma pessoa ou de uma cultura). Como acontece a todas as condutas e qualidades humanas que podem ser consideradas essenciais, a possibilidade de conhecer (e o conhecimento dela resultante) surgiram e se desenvolveram para satisfazer às suas necessidades. Culminaram com a necessidade de conhecer e necessidade de aprender para melhorar suas possibilidades de adaptação e sobrevivência. A necessidade de conhecer para prever, para planejar e para agir com eficiência, eficácia e efetividade. A ciência, como modalidade especial de conhecimento, o conhecimento científico, constitui o momento mais refinado do desenvolvimento cognitivo que possibilita o conhecimento do mundo e de si mesmo. Tal conhecimento não é o melhor por ser científico; é chamado científico porque é o melhor. A cada momento da História, denomina-se como científica a maneira mas fidedigna e mais válida para conhecer que então se conhece. Ao mesmo tempo que se pode conceber o conhecimento como processo para conhecer (o conhecimento centrado no sujeito), também se denomina conhecimento às informações e capacidade aprendidas, que são o resultado deste processo; isto é, ao conhecimento adquirido no processo de conhecer, ao cabedal ou o acervo dos fatos conhecidos por alguém, daquilo que ele sabe inclusive daquilo que se sabe fazer (conhecimento centrado no objeto). Porque, também se denomina conhecimento (saber ou, ainda que um tanto pedantemente, saberes, como está muito na moda em certos círculos de novos-ricos da ciência) ao acervo de informações que resulta do processo de conhecer, o patrimônio de conhecimento de quem conhece. Analogamente, pode-se empregar a expressão “conhecimento coletivo“ como o acervo de conhecimento das pessoas que integram uma coletividade. O conhecimento-resultado, ou seja, o patrimônio de informações, capacidades, 3
  • 32. habilidades e outras coisas sabidas por alguém, aquilo que pode ser denominado conhecimento-resultado do processo de conhecer de um indivíduo; o conhecimento acumulado na consciência de quem conhece, não pode ser concebido como um agregado mais ou menos caótico de dados, um amontoado mais ou menos desorganizado de informações e outros conteúdos cognitivos na mente da pessoa que conhece, do sujeito cognoscente. Quando se diz que alguém tem muito conhecimento sobre alguma coisa, está empregando este segundo sentido do termo para referir a quantidade de informações que se tem sobre alguma coisa, sempre uma pessoa concreta, um indivíduo específico o a um conhecimento compartilhado simultaneamente por diversas pessoas. Neste sentido particular, quando é aplicado a uma entidade coletiva (a Medicina, a ciência, a igreja, a cultura) trata-se sempre uma metáfora ou de outra figura de linguagem usada para ilustrar a informação; quando se aplica ao conhecimento compartilhado por uma coletividade qualquer (nós três temos este conhecimento), a informação diz respeito ao conhecimento de cada um dos componentes deste coletivo. Pode-se dizer, sem sacrifício da verdade, que o único juízo aplicável a uma coletividade composta por um grande número de idivíduos é aquele que a designa. A consciência social, como a consciência individual, contém variadas crenças, conceitos, juízios, atitudes e ideologias. Mas este conteúdos não são conhecimentos, com sentido estrito, ainda que um conhecimento possa ser compartilhado por todas as pessoas em uma entidade coletiva. Quando uma informação deste tipo é assimilada pela consciência social, assume uma dessas formas acima mencionadas. Conhecimento, no sentido de saber, consiste na soma dos conhecimentos de uma agente cognoscente. “Em português, como em outras línguas românicas, as palavras que terminam em -mento e -ção, como conhecimento ou informação, sempre detêm uma ambigüidade que lhes é própria, porquanto mantêm dois significados simultâneos, posto que costumam significar tanto um processo, uma ação, uma atividade ou procedimento 3
  • 33. construtivo, como pode se referir ao resultado deste processo, atividade ou procedimento”, como diz TSUKÂNOV. 3 Em alemão, os conceitos Erkenntnis (conhecimento, tanto como processo psicológico, quanto como dado da teoria do conhecimento, epistemologia ou gnosiologia) e Wissen (saber, acervo mais ou menos estruturado de informações) têm significados diferentes. Em francês, a mesma diferenciação pode ser verificada entre os conceitos de connaissance e savoir. Em russo, poznáie significa o processo do conhecimento; e znáie quer dizer o conhecimento como resultado daquele processo. Na língua inglesa, na prática, knowledge guarda mais analogia com Wissen que com Erkenntnis, embora, às vezes, seja utilizado com este derradeiro sentido. De qualquer maneira, quando se estuda o conhecimento, deve-se diferenciar o patrimônio de conhecimento de alguém (que valoriza principalmente seus dotes senso-percepção e de memória), de sua maior ou menor capacidade para aprender, assimilar, conservar e desenvolver o aprendido. O conhecimento, com esta sua dupla identidade, a de processo de conhecer e coisa conhecida, é o fenômeno simultaneamente psicológico, lógico, sociológico e filosófico (especificamente gnosiológico) pelo qual as pessoas manifestam a possibilidade de se apropriar das qualidades de um objeto de sua percepção e cogitação e fazer isto com alguma convicção a imagem mental que este fao gera corresponde à verdade. Ainda que se denomine conhecimento tanto a capacidade de conhecer quanto o resultado desta atividade cognitiva, isto é, o ato ou processo de elaborar e assimilar o conhecimento. Isto é. o conhecimento processo e o conhecimento resultado deste processamento mental. Tanto como fenômeno psicológico quanto sociológico ou gnosiológico, a capacidade humana para conhecer se origina em três qualidades humanas herdadas de espécies ancestrais, muito comuns e inteiramente desprentenciosas: a curiosidade, a desconfiança e a aptidão para conhecer e reconhecer o mundo e a si mesmo. O patrimônio de informações de alguém, aquilo que pode ser denominado o conhecimento-resultado do processo de conhecer, porque resultante do procedimento cognitivo – o conhecimento-processo, não pode ser concebido como um agregado caótico de dados, um amontoado mais ou menos desorganizado de informações. 3 Tsukânov, O., Comunicação Pessoal, 1993. 3
  • 34. O conhecimento, neste sentido de patrimônio ou acervo de informações de alguém, constitui-se como um sistema subjetivo de carácter lógico-psicológico e é justamente sua sistematicidade que lhe garante o máximo de eficiência e operabilidade (por isto, é reconhecida como um penhor de sua cientificidade). A noção de patrimônio cognitivo de uma pessoa pode dar a impressão falsa de ser uma atividade mecânica de acumulação mais ou menos passiva de informações na memória. Isto não corresponde à realidade, o processo de conhecer não deve ser entendido como a acumulação mais ou menos mecânica de informações mnêmicas e dados sensoriais ou, mesmo, como um reflexo automáticos da realidade (como a imagem de um espelho ou a gravação em um dispositivo qualquer de registro sonoro). O conhecimento, entendido como ato ou processo de conhecer, deve ser tido como um processo mental mais ou menos complexo e ativo que exige uma estrutura lógico- racional dinâmica, capaz de elaborar inteligentemente os conteúdos fornecidos pela sensorialidade e conservá-los sem sacrifício de sua integridade. Nisto se radica o processamento sistêmico do pensamento inteligente embutido na noção de organização racional e de processamento lógico de informações (o conhecimento como sistema lógico e como elaboração inteligente). A recepção, a elaboração, a assimilação, a conservação e a recuperação dos dados de conhecimento parecem se dar em um só processo funcional integrado, sem que se possa mostrar uma diferença significativa em cada uma dessas etapas ou níveis funcionais. O conhecimento é inseparável da recepção, do registro, do processamento inteligente e da utilização racional do que é conhecido. Quando se estuda os processos e procedimentos empregados pelos humanos para conhecer, verifica-se que quanto mais se conhecer sobre uma coisa qualquer, quanto mais amplo e verdadeiro for o que se sabe sobre ela, mais numerosos, melhores e mais confiáveis serão os juízos e raciocínios que se poderão construir com aquilo que se conhece. Da mesma maneira, quanto mais estruturado e melhor organizado for o procedimento de conhecer, mais eficiente será seu resultado prático. Como, aliás, 3
  • 35. acontece com o desempenho de todas as estruturas operacionais, qualquer que for sua natureza e sua utilidade. Estes elementos de significação do conhecimento são gerais, não se referem só ao conhecimento científico e filosófico, porque até o conhecimento vulgar deve estar dirigido por pressupostos lógicos e inteligentes, além de organização eficiente que o delimitem e possibilitem saber quando pode ser tido como verdadeiro e identificar o porquê de sua veracidade e probabilidade de ser verdadeiro. O termo conhecimento como resultado do procedimento de conhecer pode se referir a duas coisas distintas enre si, mas que devem ser bem diferenciadas: - o ato, procedimento ou o processo de conhecer (aptidões, capacidades e processamento gnosiológico seja lógico ou psicológico) e - o seu resultado (o saber, o conhecimento resultante do emprego do processo cognitivo). Este caráter dual do conhecimento, ser um ato (o ato de conhecer) e o efeito deste ato, é característica primordial sua. O conhecimento processo trata-se um processamento lógico e sócio-psicológico complexo, de natureza predominantemente cognitiva. Conhecer é o processo pelo qual alguém (o sujeito do conhecimento, aquele que conhece) capta, introjeta e assimila em sua mente (através do chamado processo de apropriação cognitiva), os atributos de uma coisa qualquer (que é chamada de objeto do conhecimento), de modo a poder reconhecê-la em outras circunstâncias e utilizar sua noção na construção de juízos, raciocínios e projetos de investigação. A curiosidade que faz desejar saber e a desconfiança que aponta para a necessidade de segurança e leva a reconhecer, avaliar, evitar ou livrar-se de situações de risco (que implica em exercer certo domínio, controle das de si mesmo e das circunstâncias determinantes do risco). 3
  • 36. A segunda das raízes do conhecimento é o resultado das necessidades humanas – é preciso conhecer para satisfazê-las. Como acontece a todas as demais espécies vivas. A esta se soma a detenção de aptidões psicológicas que permitem aos humanos conhecer a si mesmo e ao mundo à sua volta, especialmente as funções superiores da cognição, da afetividade e da psicomotricidade. Por tudo isto que se mostrou acima, quando se estuda o conhecimento, qualquer tipo de conhecimento, inclusive o conhecimento médico, deve-se diferenciar o patrimônio de conhecimento de alguém (que valoriza principalmente seus dotes senso-percepção e de memória), de sua maior ou menor capacidade para aprender, assimilar, conservar, desenvolver e empregar o aprendido. Como estrutura composta por informações, capacidades e habilidades objetivas e subjetivas, o conhecimento resulta em síntese de elementos objetivos e subjetivos e envolve componentes da objetividade e da subjetividade; por exemplo, existe íntima relação entre o conhecimento e a senso-percepção, bem como entre o conhecimento, o pensamento e a memória. Contudo, conhecer não se reduz completamente à mera apreensão da realidade imediata, nem da memorização automática, porque nele intervêm outros fenômenos cognitivos, afetivos e psicomotores que interagem com aquela. Igualmente existe muita relação entre o processo de conhecer em um momento dado e o que já se conhecia com anterioridade. O conhecimento novo amplia, atualiza e retifica o anterior. Igualmente existe muita relação entre o processo de conhecer e o que se conhece, bem como entre o objeto do conhecimento e os recursos metológicos e metódicos para conhecer. E envolve também a possibilidade de prever acontecimentos futuros, o que em Medicina caracteriza o prognóstico. Como já se menionou existem pensadores que situam o motor principal (ou exclusivo) do conhecimento na sensorialidade; outros, na capacidade associativa ou na inteligência; outros, na memória; outros, na psicomotricidade e mais outros, na afetividade. Para muitos, o conhecimento é processo exclusivamente consciente; para outros, é essencialmente inconsciente (senão nos elementos aparentes de sua estrutura, ao 3
  • 37. menos em sua motivação). Em todos estes casos, todos parecem ter uma parte da razão, todos estes aspectos são manifestaçòes parciais do processo de conhecer e issi não pode nem deve ser ignorado por quem pretende entender o tema. Em Filosofia, o termo coisa pode ter a mesma significação que apresenta no vocabulário comum; pode querer dizer tudo o que existe e que pode ser pensado, qualquer objeto ou fenômeno (qualquer modificação que acontece aos objetos); uma coisa pode ser objetiva ou subjetiva, concreta ou abstrata; enfim, qualquer elemento da realidade objetiva ou subjetiva. Mas também há quem utilize o termo coisa mais restritamente, apenas para objetos materiais, dotadas de extensão, excluindo as abstrações e os fenômenos que ocorrem aos objetos, por mais reais que possam ser. Entende-se, aqui, por real um atributo que não se resume à aparência ou um dado subjetivo, quer dizer tudo o que tem existência objetiva e tal existência independente de seu observador. A realidade existe independente do observador. Os fenômenos subjetivos devem ser considerados como reais, na medida em que se manifestem objetivamente, sejam objetiváveis, ainda que secundariamente; como acontece com os fenômenos psíquicos que são objetivados na conduta (por exemplo, pelas palavras, mímica e outros comportamentos objetivos observáveis). Realidade é o substantivo que designa uma coisa real (tal como foi caracterizada logo acima). Conhecimento e Convicção Recorde-se que a definição convencionada e aceita aqui para conhecimento inclui a exigência de que haja convicção de veracidade sobre o seu conteudo. A aquisição do conhecimento consiste no processo funcional de apreensão, elaboração e conservaçao ativas de informações sobre uma coisa qualquer. Informações de qualquer qualidade e com qualquer grau de confiabilidade, que mobilize qualquer convicção. Conhecimento que pode se apresentar sob a forma de uma imagem perceptiva, uma apreensão, uma noção antecipada, um conceito elaborado ou outro componente qualquer da consciência que possa ser processado logicamente e assimilado pela mente do sujeito como uma imagem da memória (representação), possível de ser evocada posteriormente e reconhecida como verdadeira. Isto é, todo conhecimento, em última análise, consiste na apreensão pelo sujeito de qualidades do objeto, sempre acompanhada de alguma certeza de verdade. Por isto, 3
  • 38. todo conhecimento está, sempre e de alguma maneira, associado a algum grau de convicção de verdade da coisa conhecida, porque quem conhece é capaz de reconhecer como verdadeiro o seu conhecimento. Por definição, todo conhecimento implica necessaiamente em alguma certeza de que ao menos um certo grau verdade esteja contido nele. Convicção que se expressa pelo reconhecimento da correspondência daquilo com a realidade, com a logicidade de um raciocínio ou com a correção de uma convenção. Todo conhecimento implica em convicção de que seja verdadeiro. Nisso, principalmente, diferencia-se o conhecimento como uma crença particular. Crença, com o significado limitado de algo em que se acredita, algo que mobiliza uma certa convicção. Muitos fenomenistas, por causa de sua negação da eficácia cognitiva da percepção e da razão, definem o que aqui se chama conhecimento como uma crença que pode ser verificada (por meio de uma demonstração lógica, de uma comprovação factual ou da comparação com a convenção que o tenha estabelecido). Como se vê, recusam o conceito realista e materialista de conhecimento (e mudam seu nome para crença). Enquanto chamam de fé o que outros denominam crença. Deste ponto de vista estrito, a fé (inclusive a religiosa, mas não apenas ela) é uma crença que não pode ser verificada como racional ou empiricamente, nem comparada com uma convenção. Por isso, desde sua origem perdida no tempo, o conhecimento se opõe à fé porque a remove das consciências. Porque existem crenças que não podem ser verificadas por inviabilidade metodológica, convém que não sejam tidas como conhecimento enquanto essa situação perdurar. Parece importante afirmar que o grau de convicção que alguém alimente por um conteúdo mental qualquer não é suficiente para fazê-lo passar por um conhecimento (nem, muito menos por uma conhecimento científico). Ambos, fé e conhecimento podem apresentar qualquer grau de convicção. Pode haver convicção muito arraigada, uma fé muito firme, que não possa ser denominada de conhecimento por ser inverificável. Nem toda convicção, mesmo intensa e muito carregada de afetividade pelo sujeito provém da correspondência com a verdade de uma experiência psico-sensorial vivida, de um raciocínio bem elaborado, de uma convenção aceita. Muita convicção se origina na credulidade, que consiste na capacidade de acreditar em algo independente de comprovação ou demonstração. 3
  • 39. No plano psicológico estas crenças decorrem de interesses objetivos ou subjetivos. Enquanto no plano psicopatológico, os exemplos mais comuns são os delírios e as obsessões. Por isso, muitas pessoas denominam fé à convicção sem a verificação, seja de sua correspondência com a realidade, seja com a racionalidade lógica do sua obtenção, ou seja de seu caráter convencionado. Isto é, seja a verdade factual, a verdade lógica ou a verdade convencional (axiomática) e verdade narrativa (influenciada pela subjetividade). A convicção da realidade de uma informação depende de sua correspondência com a realidade ou da tendência do sujeito acreditar nela. Pois, o grau de motivação para crer é um dos componentes estruturais mais eficazes da credulidade. Quanto maior o interesse de alguém crer em alguma coisa, tanto mais elevada a possibilidade daquili se realizar. Muito frequentemente, o fenômeno da psicologia individual encerrado da tendência a acreditar (creduldade). O que não deve ser confundido com credibilidade que é a confiação que uma proposição ou uma teoria merece das pessoas. Graus de Convicção nas Informações Desde Aristóteles, se conhece que o ato ou processo de conhecer se faz em etapas, mesmo que possa parecer instantâneo, qundo estas etapas se encadeiam muito rapidamente. O conhecimento pode ser definido como uma estrutura de informações, de capacidades e de habilidades que coexistem com a noção de manter a coerência internamente quando àquela estrutura cognitiva e, além disso, consistente em sua relação com a realidade objetiva ou subjetiva que pretende refletir. Desta maneira, a partir dessa possibilidade de utilizar um critério de verdade, é possível diferenciar as simples crenças das convicções provindas do conhecimento. Ainda para Aristóteles, o pensamento seguia o seguinte caminho da busca do conhecimento da verdade na apropriação de conhecimento sobre um objeto até então 3
  • 40. desconhecido ou mal conhecido: ignorância, dúvida, opinião ou impressão e certeza. Classificação que se aplica tanto ao conhecimento de objetos e fenômenos que existem fora do sujeito cognoscente, como para o auto-conhecimento, ainda que esses duas modalidades de conhecer possam guarder algumas características diferenciadas. Como também se aplica ao conhecimento de qualquer objeto. A palavra crença tem diversas significações e nuances de significado. O conhecimento de alguém é, por definição, uma crença para quem conhece porque o sujeito cognoscente crê que aquela proposição ou aquele sistema proposicional coresponde à verdade. Não obstante, a palavra crença pode ser empregada para significar a conviccão sem fundamento factual ou logico e com conteúdo mágico, supersticioso, religioso. Neste sentido, não se pode chamar o conhecimento de crença. O conhecimento se diferencia das crenças da fé e do pensamento mágico-mítico- religioso (formas particulares de fé) cujos resultados não podem ser chamados de dados do conhecimento, ainda que componham o patrimônio de certezas de muitas pessoas e sejam potencialmente capazes de exercer influência na propulsão, direção e modulação de seus comportamentos (inclusive as atitudes cognitivas, afetivas e referentes à conduta interpessoal). Sabe-se que as crenças da fé exercem papel motivador muito importante nos comportamentos e que correspondem a necessidades psicológicas ou ideológicas sempre mais ou menos valiosas para quem as experimenta e cultiva. As crenças da fé (ou dogmas) são conteúdos mentais de natureza predominatemente afetiva e não cognitiva, embora se expressem como conceitos, juízos e raciocínios como o conhecimento. E porque são fenômenos afetivos, se consolidam, se ampliam e se enraízam em função de sua estutura de moivação e não pelo convencimento provindo da razão, da convenção utilitária ou de outra modalidade de consenso. Costuma-se discutir se o conhecimento se limita a uma atividade da consciência, uma representação mental de seu sujeito, que incluiu uma imagem do objeto, ou se o processo de conhecer se dá pela incorporação e assimilação pelo sujeito de 4
  • 41. algumas características do objeto. E, neste segundo caso, o fato de conhecer, determina uma transformação em quem conhece. Pois, ao conhecer alguma coisa, o sujeito daquele conhecimento fica, de alguma maneira acrescentado com aquele conhecimento e, assim, modificado por ele e por sua inclusão na consciência. Estrutura do Conhecimento Ao se avaliar a estrutura do conhecimento-processo para conhecer em-se como verdadeiro que conhecimento se faz pela superposição do resultado da atividade de diversas estruturas mentais cognitivas interdependentes e complementares, as quais se associam as estruturas afetivas. Do ponto de vista de sua estrutura, o conhecimento é uma realidade simultaneamente psicológica e lógica, subjetiva e objetiva, natural e cultural; mas constitui sempre um acontecimento real (ainda que subjetivo e abstrato) que se materializa e se concretiza geralmente em um dado verbal, mas pode ser objetivado por qualquer outro comportamento e representado de muitas maneiras. O conhecimento se realiza pela superposição de duas modalidades de estruturas interdependentes. O conhecimento depende da integridade anátomo-fisiológica do organismo (e não apenas do cérebro) e da interação de duas estruturas cognitivas: uma estrutura lógica e, simultaneamente, um estrutura psicológica. Contudo, é preciso destacar que tais qualidades psicológicas por si sós não possibilitam o conhecimento. A concretização o procedimento de conhecer depende da integridade anátomo-fisiológica do cérebro mas não só das estruturas cerebrais impressivo-gnósicas e intelectuais; mas do organismo inteiro (e não apenas do cérebro) e da interação de duas estruturas cognitivas: uma estrutura lógica e, simultaneamente, um estrutura psicológica. Como depende também do funcionamento das outras estruturas somáticas que são, direta ou indiretamente, responsáveis pelo desempenho funcional das funções psicológicas e disfunções psicopatológicas. Todo conhecimento é uma estrutura cognitiva lógica composta por três tipos de elementos: as percepções, os conceitos, os juízos e as conclusões obtidas através dos raciocínios. 4
  • 42. No plano psicológico, a estrutura cognitiva se manifesta em três tipos de processos: a sensopercepção, a capacidade conceitual, a capacidade de ajuizar e a capacidade de raciocinar. As imagens perceptivas, os conceitos, os juízos, os raciocínios e as imagens mnêmicas, são os dados da consciência são os seus elementos mais importantes. Contudo, deve-se destacar a importância da memória para o conhecimento em suas três dimensões – a fixação, a evocação e o reconhecimento, todas essenciais para a cognição. Do ponto de vista estritamente racional, todo conhecimento é uma estrutura cognitiva lógica composta por três tipos de elementos: os conceitos, os juízos e as conclusões obtidas através dos raciocínios. No plano psicológico, a estrutura cognitiva se manifesta em três tipos de processos: a capacidade conceitual, a capacidade de ajuizar e a capacidade de raciocinar. Os conceitos são simultaneamente processos lógicos e atributos psicológicos. Procedem da capacidade conceitual que é um atributo psicológico. Embora esses dois fenômenos sejam, frequentemente nomeados indistintamente como conceitos, convêm diferenciaá-los. Ao menos no discurso técnico científico. O conceito é uma idéia que sintetiza as propriedades mais essenciais de alguma coisa, da coisa ou da idéia conceituada; constitui uma síntese lógica que encerra uma idéia descritiva ou explicativa sobre aquela coisa. A capacidade conceitual se revela na produção dos conceitos e na capacidade de estabelecer relações conceituais. A capacidade conceitual é um atributo psicológico que expressa a possibilidade do ser humano estabelecer relações entre idéias, como as idéias de um objeto conceitual e seus atributos; depois, tem a possibilidade de escolher daqueles atributos, quais o mais geral e mais essencial para sua caracterização. O fundamento da capacidade conceitual é a capacidade de relacionar conceitos entre si. A capacidade conceitual se revela na produção dos conceitos e na capacidade de estabelecer relações 4
  • 43. conceituais. Os conceitos expressam a possibilidade de relacionar uma coisa com seus atributos e a capacidade de escolher qual o atributo lhe é mais geral e mais essencial para representar todos os demais e este atributo passa a representar toda a coisa conceituada. Como expressões da capacidade conceitual, os conceitos expressam a possibilidade de relacionar uma coisa com seus atributos e a capacidade de escolher qual o atributo lhe é mais geral e mais essencial para representar todos os demais e este atributo passa a representar toda a coisa conceituada. Existem conceitos comuns e conceitos científicos (que são conceitos que podem ter sido originalmente comuns, mas que foram deliberada e sistematicamente aperfeiçoados para se tornarem os mais exatos, fidedignos e válidos que for possível elaborar em um dado momento). E, deve-se vincar, a exatidão, a validade e a fidedignidade são os únicos elementos diferenciais que devem ser tidos como importantes para diferenciar entre os conceitos científicos e os conceitos do conhecimento vulgar. A disciplina com a qual os conceitos são elaborados e formulados assinalam a qualidade inicial mais importante da conceituação científica. Tal qual o conceito, o juízo é fenômeno simultaneamente lógico e psicológico que resulta da dimensão asseverativa do pensamento inteligente - a capacidade de julgar - e se concretiza através processo psíquico do pensamento: a possibilidade de atribuir qualidades a um conceito. A capacidade mental de produzir juízos reesulta no segundo nível de complexidade da estrutura do pensamento inteligente, o primeiro é a capacidade conceitual. A capacidade de julgar evidencia a capacidade de relacionar dois conceitos, atribuindo ou negando um deles ao outro. Considerando-se os conceitos como os dados lógicos mais elementares, os juízos são o segundo grau desta estrutura de complexidade, porque os juízos são estruturas compostas por dois conceitos. O sujeito e o objeto do juízo. O juízo, mesmo um juízo de valor, não é bom ou mal do ponto de vista da filosofia e da ciência, como muitos supõem, mas expressa uma verdade ou um erro, isto é, deve 4
  • 44. ser considerado falso ou verdadeiro. Os juízos são expressos por proposições ou proposições cientificas (que são juízos elaborados com o maior rigor e a maior precisão possíveis). As proposições são orações ou frases com sentido completo. Nenhum juízo pode ser elaborado sem uma base conceitual verbal, nem pode se exteriorizar senão envolucrado por palavras. Como os conceitos, existem juízos científicos e não científicos. Os juízos científicos denominam-se proposições ou proposições científicas. As proposições científicas, modalidades particulares de juízos científicos, consoante seu potencial de generalização, se expressam por leis e princípios (as proposições mais gerais daquele campo). As leis naturais traduzem a conexão interna essencial, regular e estável dos fenômenos da natureza em seu desenvolvimento necessário; no mesmo sentido, as leis da natureza permitem antecipar, com certeza, o curso de um processo natural. Os princípios científicos são proposições ou juízos científicos de grande abrangência que impõem diretrizes gerais ao estudo de um determinado ramo de atividade humana bastante amplo ou de uma certa disciplina científica, (porque alcança todos os componentes de seu objeto). A correlação entre as leis e os princípios científicos é análoga àquela que se dá entre conceitos e categorias mo plano dos conceitos. Nas ciências da natureza, as leis são leis naturais; nas ciências sociais, leis sociais. Do ponto de vista psicopedagógico, quando se estudam os processos fisio-psicológicos e os procedimentos metodológicos e lógicos empregados pelos humanos para conhecer, verifica-se que quanto mais se conhece sobre alguma coisa e quanto mais amplo e verdadeiro for o que se sabe dela, mais numerosos, melhores e mais confiáveis serão os juízos e raciocínios que podem ser construídos com o que se conhece. Principalmente quando este conhecimento é confirmado por provas confiáveis de verificação factual ou lógica. Da mesma maneira, quanto mais estruturado e melhor organizado for o procedimento de conhecer, mais eficiente será seu resultado prático. 4
  • 45. Como, aliás, acontece com o desempenho de todas as estruturas operacionais, qualquer que for sua natureza e sua utilidade. Quando se estuda com cuidado, deve-se procurar distinguir os juízos (fenômenos lógicos) da capacidade de julgar ou de ajuizar (que é atributo psicológico humano). A capacidade de ajuizar consiste em uma qualidade psicológica que possibilita aos humanos aperfeiçoar a capacidade conceitual e relacionar dois conceitos de forma assseverativa; isto é, afirmando ou negando um deles em relação ao outro. O raciocínio ou a conclusão racional resulta do encadeamento lógico de juízos, conceitos, categorias e outros conteúdos do pensamento que permitam à consciência chegar a conclusões fidedignas e válidas, além de inteligentes. Isto é, o procedimento racional possibilita o descobrimento de fatos verdadeiros até então desconhecidos a partir daquilo que já se conhecia anteriormente. Os raciocínios são procedimentos lógicos e psicológicos resultantes da atividade racional capaz de promover a elaboração lógica das idéias. As formas mais elementares do raciocínio são: - o raciocínio indutivo, quando se conclui acerca do que é geral, a partir do conhecimento acerca de casos particulares; - o raciocínio dedutivo, quando o conhecimento acerca do geral permite concluir sobre um caso particular; e - o raciocínio analógico, quando se conclui sobre um caso particular, através da comparação com outro caso particular. Além de processos psicológicos, a indução e a dedução são categorias lógicas chamadas dialéticas (como acontece com a análise e a síntese, a abstração e a concreção) porque constituem uma unidade inseparável apesar de sua aparente contradição. Assim como os conceitos são o produto da capacidade conceitual e os juízos do julgamento (ou capacidade de julgar), os raciocínios produzem a lógica. Os raciocínios são procedimentos lógicos da atividade racional. Suas formas mais 4
  • 46. elementares são: o raciocínio indutivo, quando se conclui acerca do que é geral, a partir do conhecimento acerca de casos particulares; o raciocínio dedutivo, quando o conhecimento do geral permite concluir sobre um caso particular; e o raciocínio analógico, quando se conclui sobre um caso particular, através da comparação com outro caso particular. Além de processos psicológicos, a indução e a dedução são categorias lógicas chamadas dialéticas (como a análise e a síntese, a abstração e a concreção) porque constituem uma unidade inseparável apesar da aparente contradição de seus componentes. Assim como os conceitos são o produto da capacidade conceitual e os juízos do julgamento (ou capacidade de julgar), os raciocínios produzem a lógica. A capacidade de raciocinar ou capacidade de concluir é o processo psicológico que permite aos seres humanos relacionar conceitos e juízos e tirar conclusões que antes lhe eram desconhecidas. Também é preciso diferenciar o raciocínio (atributo lógico) da capacidade de raciocinar (condição psicológica). A capacidade de ajuizar ou capacidade de julgar consiste na qualidade psicológica que possibilita aos humanos aperfeiçoar sua capacidade conceitual ao relacionar dois conceitos de forma assseverativa, ampliando sua possibilidade de conhecer o mundo e atuar sobre ele; isto acontece, afirmando ou negando um deles ao outro. A capacidade de raciocinar ou de concluir logicamente, por sua vez, consiste no processo psicológico que permite aos seres humanos relacionar conceitos e juízos e tirar conclusões que antes lhe eram desconhecidas. Junto com a senso-percepção, a imaginação, a memória, aafetividade, apsicomotricidade e a consciência, estes atributos psicológicos constituem o nível essencialmente cognitivo do trabalho mental. Os processos psicológicos representados pela capacidade conceitual, a capacidade de ajuizar e a capacidade de raciocinar compõem uma importante estrutura psicológica denominada de pensamento inteligente. Na prática, os processos lógico- psicológicos de conceituar, ajuizar e raciocinar compõe uma estrutura sistêmica de complexidade crescente, na qual os conceitos são os processos mais elementares e 4
  • 47. os raciocínios, os mais complexos. O pensamento inteligente se compõe sempre de uma estrutura mais ou menos complexa de conceitos, juízos e raciocínios que constituem um dos mais importantes atributos de adaptação que os seres humanos podem empregar para se adaptar às exigências de sua vida. O pensamento inteligente se manifesta através de um conjunto de atributos lógicos e psicológicos conhecidos como as qualidades do pensamento. Quando se estuda o pensamento inteligente, verifica-se que a qualidade do processo de raciocinar depende, basicamente. de um conjunto de qualidades do pensamento que garantem seu desempenho e o resultado obtido. As qualidades mais essenciais identificadas no pensamento inteligente são: = a) amplitude que diz respeito à possibilidade de racionar com um número variável de questões; = b) profundidade que vai desde considerações sobre a aparência, até a ponderação das qualidades essenciais e das causas últimas; = c) independência que se expressa pela fuga aos esquemas e padrões preestabelecidos, e da influência catatímica ou dos interesses; = d) flexibilidade, capacidade para buscar novos meios e novos caminhos para solucionar um problema lógico; = e) consecutividade, manifesta a ordem e sistematização da atividade mental. O pensamento inteligente opera baseado em um certo número de processos lógicos conhecidos como operações racionais. As operações racionais, em última análise, são processos lógicos empregados como padrões de elaboração inteligente para elaborar raciocínios e produzir conclusões. Tais operações racionais manejam um conjunto de instrumentos racionais mais elementares, as categorias lógicas. As categorias lógicas que configuram os mecanismos mais elementares e mais importantes do pensamento 4