O documento discute a vida e obra de Zamenhof no contexto dos movimentos literários do século XIX. Aponta que Zamenhof viveu durante um período de grande diversidade de movimentos literários simultâneos na Europa, como Realismo, Era Vitoriana e Existencialismo. Suas traduções se inserem nesse contexto moderno e diversificado, demonstrando a modernidade do esperanto criado por Zamenhof.
1. Traduções de Zamenhof:
no limiar do futuro!
Pequeno ensaio sobre as traduções de
Zamenhof dentro do contexto dos movimentos
literários mundiais
Zamenhof foi o
precursor do
esperanto, autor de
‘inkunabloj’1
, de
obras do período
inicial da língua,
antes do
florescimento literário propriamente dito... Nada
mais errado!!! Essa interpretação falsa, forçada,
que tenta tirar de Zamenhof sua autoridade
lingüística incontestável sobre o esperanto, sua
modernidade ou contemporaneidade, é uma
falácia nascida dentro do próprio movimento
esperantista, usada por autores desavisados, ou
mesmo deslumbrados consigo mesmos —já que
pretendem ‘evoluir’2
o esperanto—, que tentam
‘vendê-la’ aos esperantistas em geral. A fim de
combater essas idéias falsas, sem querer
somente levantar polêmica, ao contrário,
querendo didaticamente recolocar a obra de
Zamenhof em seu devido lugar3
, este pequeno
ensaio visa confrontar o período de vida de
1
1
2. Zamenhof com alguns movimentos literários de
sua época, atestando sua modernidade, além
de permitir situar suas traduções no contexto
de textos e autores mais conhecidos da
literatura mundial.
Nota 1: Livro medieval impresso.
Nota 2: Esse 'evoluir' significa de fato modificar
a essência da língua, p.ex. acrescentando regras
gramaticais desnecessárias (a Plena Gramatiko/
Gramática Completa é exatamente isso —
completa!—) e usando imensa quantidade de
neologismos dispensáveis ao invés de compostos
(mais próprios ao idioma, à sua necessidade de
economia vocabular para ser um instrumento
eficiente como segunda língua de todo habitante
do Planeta Terra).
Nota 3: A obra de Zamenhof é a fonte e
essência mesma do esperanto, a língua
internacional por excelência segundo o projeto
original de Zamenhof, que nasceu moderna e não
é um projeto, é uma língua pronta, com suas
características próprias, modelarmente usada por
Zamenhof em sua obra significativa de traduções
e originais—
Zamenhof é a essência do esperanto, como
língua e como movimento. Foi Zamenhof quem
definiu o que é e como funciona a Língua
Internacional, e sua vida e obra se inserem num
2
3. 2
contexto moderno4
,
das origens mesmas
do nosso mundo
contemporâneo.
Mas, infelizmente,
principalmente a
partir da década de
70, vários autores
esperantistas,
bastante difundidos
até, têm escrito
muito, em quantidade, mas sem qualidade,
adentrando-se por caminhos pessoalistas, com
arroubos de ‘evoluir’ o esperanto, é certo, mas
de fato desvirtuando a língua internacional e
seus objetivos, conforme definidos por
Zamenhof no Fundamento de Esperanto e em
suas demais obras. Grosso modo, a língua
internacional tem um sistema aglutinante de
criação de novos vocábulos —não podemos
simplesmente abarrotar a língua com
neologismos—, e regras gramaticais definidas
pela Plena Gramatiko —não podemos inventar
regras à vontade do freguês (em língua
nenhuma!)—, num sistema lingüístico único no
Planeta, que permite o acesso de todas as
camadas da sociedade tanto à linguagem
cotidiana quanto ao vernáculo da língua.
É claro que todos têm direito à sua opinião
3
4. 3
—e continuam
com esse
direito,
mesmo com
as
considerações
contrárias
feitas por
outros—, mas
será que, à
mercê dos
gurus de
ocasião, o
esperanto vai se tornar uma multiplicidade de
dialetos, sem unidade? Será que a língua vai se
emaranhar nos caminhos dos ‘preciosismos’ —
gramática e vocabulário raros e rebuscados—,
dos ‘modismos’ —usos copiando essa ou aquela
língua nacional, ou mesmo ‘criações’
(invenções) pessoais—, dos ‘modernismos’ —
mudanças visando a ‘(pseudo-)evolução’ da
língua—? Ou se complicar, também, devido a
supostas necessidades da ‘linguagem poética’ e
outras desculpas mais —sempre mudanças e
mais mudanças, novidades e mais novidades
fora do padrão estabelecido por Zamenhof—,
como querem os autores do PIV5
, da PAG5
, e
muitos, mas muitos outros moderninhos —num
nível de dificuldade e complexidade vocabulares
4
5. e gramaticias crescentes e completamente
inúteis, pra não dizer grandemente prejudiciais,
pois ao final eles somente transpõem ao
esperanto os excessos e complicações das
línguas nacionais—?
Ou será que a coisa é assim mesmo: a
partir de sua ‘popularização’, o esperanto estará
sujeito a interpretações as mais diversas, ao
uso por indivíduos e grupos os mais diversos,
que poderão estar interessados mais em
modismos, idéias particulares, preciosimos,
modernismos, enfim, em caprichos pessoais e
querer fazer escola ao invés de estudar a fundo a
língua nos seus fundamentos, nas suas
aplicações de instrumento eficiente de
comunicação entre todas as camadas da
sociedade, de todos os povos, de todas as
culturas do Planeta Terra —e isso, em todos os
tempos, passados e futuros—? Acho que esta
última alternativa é a correta: tudo o que vai
parar nas mãos da Humanidade, tudo o que se
vulgariza, sofre com os desejos, peculiaridades,
arbítrios e descaminhos dessa mesma
Humanidade.
Nota 4: Observação didática (i): estou usando o
termo 'moderno' para me referir ao mundo atual,
contemporâneo, e não à Idade Moderna, com
término em 1800 (1789, Revolução Francesa).
5
6. 4
Nota 5: PIV: Plena
Ilustrita Vortaro, PAG:
Plena Analiza
Gramatiko. Estas
obras, ao invés de
'evoluir' o esperanto,
acabam transpondo
ao mesmo os
excessos e
complexidades das
línguas nacionais.
Mas, da mesma
forma como temos
profetas pra tudo
nesse mundo —e
cada um vai
escolher seu guru
particular de acordo
com seus pendores—, esse texto se insere num
contexto de volta às origens, estudando,
usando e ensinando ou divulgando o
esperanto segundo a idéia original do
gênio Zamenhof. É um 'alerta didático' para
que saibamos o caminho a seguir no
aprendizado e uso do esperanto original,
autêntico, verdadeiramente internacional.
Assim, havendo estudado o esperanto original,
segundo o padrão fornecido pelas traduções-
6
7. modelo de Zamenhof, indivíduos com formação
diversa, p.ex. um simples turista, um homem
de negócios, um tecnólogo, um médico, das
mais diversas procedências, quando em viagem
a um país estrangeiro (ou mesmo pela Internet)
poderão conversar entre si, e com pessoas as
mais diversas, no aeroporto, nos centros de
informação turística, nos restaurantes, no
comércio, na rua, num hospital. Isso porque
estarão seguindo um padrão, uma norma
verdadeiramente internacional, fornecida pelas
regras da Plena(!) Gramatiko, pelos vocábulos
fundamentais do Universala Vortaro e
compostos formados com estes, e pelo
exemplos vivos e bem desenvolvidos de
literatura da Fundamenta Krestomatio, das
Fabeloj de Andersen, de Marta etc. (para
iniciantes: Ekzercaro), que permitem a todos os
indivíduos falantes do esperanto —de todas as
classe sociais, de todos os povos— o acesso às
nuances da língua, aos detalhes da fala —
dentro da unidade da língua—, sem ter que
passar décadas estudando preciosismos de
gramática e vocabulário ciclópico e
complicado.
Isso posto, vamos ao trabalho: mostrar o
mundo literário onde Zamenhof se insere, e as
7
8. 5
Fundamento de Esperanto
Deklaracio de Bulonjo-sur-maro
Lingvaj Respondoj
La Esperantisto
Artikoloj/Tezoj
Originalajhoj/Broshuroj
Fundamenta Krestomatio
Proverbaro Esperanta
Fabeloj de Andersen
Hamleto
Georgo Dandin
Ifigenio en Taurido
La Batalo de l’ vivo
La Rabeno de Bahharahh
La Gimnazio
La Rabistoj
La Revizoro
Marta
Malnova Testamento
escolhas
literárias
de
Zamenhof
para suas
traduções
-modelo
do
esperanto
. Vem,
agora,
uma
pergunta:
você já
leu a
Fundamenta Krestomatio? La Batalo de l’ Vivo?
Hamleto? Marta? Fabeloj de Andersen? Se não,
eis uma
sugestão: assim que acabar de ler esse
pequeno ensaio, não pare, continue e leia as
obras de Zamenhof (Fig. 5). Ou melhor,
estude-as com atenção: leia, anote o
vocabulário desconhecido ou interessante, faça
frases que você usaria com esse vocabulário,
revise de tempos em tempos. Mas preste
atenção principalmente nos compostos, naquele
pequeno prefixo ou sufixo, ou mesmo radical
usado como prefixo, que fazem toda a diferença
nos textos em esperanto —ekkrii: começar a
8
9. gritar, i.e. exclamar; elteni: ‘segurar de dentro’,
isto é, suportar; resopiro: suspiro, anelo
repetido, i.e., saudade—, num sistema de
palavras compostas que permite traduzir um
texto a partir da língua original com todas suas
nuances sem ter que introduzir na língua
toneladas de neologismos. Através dessas
leituras de Zamenhof você vai mergulhar
pessoalmente nesse mundo fantástico da
literatura em esperanto original, autêntico, que
nos traz diretamente dos originais as idéias, a
trama, os detalhes pretendidos pelo autor —
sem complicações—.
Agora, mesmo sem ter lido todas essas
obras vamos, inicialmente, colocar o tempo de
vida de Zamenhof no contexto literário mundial.
Para isso, vamos utilizar um quadro sinóptico
dos movimentos literários, em inglês, disponível
na internet (www.online-literature.com/periods/
timeline.php), repetido ao final deste texto. Por
que em inglês? De fato, poderia ser em
qualquer língua, já que o esperanto é um meio
de comunicação entre todas as culturas do
Planeta, e, portanto, se insere em qualquer
contexto. E não escolhi exatamente o inglês,
escohi esse quadro, por sua disposição, com uma
escala de tempo e indicações dos movimentos
em cores, com alguns autores e obras bem
9
10. 6
(Figura repetida de maneira mais clara ao final)
conhecidos, o que é bem didático, bem
adequado para os objetivos deste texto.
(Mesmo se você não souber inglês, certamente
10
11. poderá identificar movimentos e autores/obras
por analogia com o português.)
Observemos, então, que o tempo de vida de
Zamenhof (1859-1917) se situa numa época
que poderíamos considerar como o limiar, o
marco inicial do nosso mundo moderno, ou
melhor, contemporâneo6
: o século XIX7
. De
fato, a partir de 1800 —de acordo com as datas
para os movimentos nos países de língua
inglesa8
—, logo após o Iluminismo (1700-
1800), a Europa começa a experimentar não
somente a alternância de movimentos
importantes, como foram o Renascimento, o
Iluminismo, o Romantismo, que se sucediam,
mas agora a cultura européia —e o mundo
intelectual que a segue— experimenta uma
multiplicidade de movimentos simultâneos.
Assim, enquanto o Romantismo (iniciado em
1800) mostra sua força, o Realismo aparece
(1820), e logo em seguida a era Vitoriana
(1837), o Existencialismo (1850), Naturalismo
(1870) e outros. Obviamente temos outros
movimentos literários, outras datas e
especificidades através do Planeta, mas esses
movimentos europeus são os que mais nos
interessam por estarem no contexto social e
histórico de Zamenhof. Nesse contexto, durante
a infância de Zamenhof (1859-1870), o
11
12. Romantismo deixa de ter adeptos (produção)
importantes, mas o Realismo, a era Vitoriana, o
Existencialismo estão em pleno
desenvolvimento. E vão continuar até os
últimos dias de Zamenhof (a era Vitoriana, aqui
considerada em seu aspecto de movimento
literário, deixa de ter produção considerável um
pouco antes, em 1900).
Nota 6: Observação didática (ii): a Idade
Moderna termina com a Revolução Francesa, em
1789, quando começa a Idade Contemporânea.
V. nota 4.
Nota 7: Para ser mais preciso, a grande
variedade de movimentos literários simultâneos a
que irei me referir se situa a partir de 1830 ou
1840, com o início da era Vitoriana e o
Transcedentalismo, e vai até aproximadamente
1920, com o fim ('oficial') do Realismo e do
Naturalismo, ou seja, grande parte do século XIX
e comecinho do século XX. Mas considero que o
marco mais importante é de fato o século XIX,
referência de muitas mudanças que têm efeito
sobre nosso mundo atual, e que continuam,
adentram-se pelo século XX e XXI. Zamenhof
viveu bem no meio desse burburinho de novas
idéias!
Nota 8: Observação didática (iii): As datas de
início e término de um determinado movimento
literário mudam sensivelmente de acordo com os
12
13. 7 Exposição Paris 1889.
países, dependendo da época em que autores
desse país tenham aderido a esse ou aquele
movimento, lançado em outras terras.
13
14. Ou seja, Zamenhof viveu num mundo em
intensa transformação —o século XIX (e início
do século XX)—, cheio de novas idéias, dentro
do qual as artes e as ciências se modificaram
intensamente, em grau nunca antes visto na
história da Humanidade, onde os movimentos
literários não se sucediam simplesmente, mas
se multiplicavam. As idéias não só da literatura,
mas da ciência, desenvolvidas no século XIX,
são o limiar do mundo atual, sua origem. São a
essência do futuro da Humanidade, que —
hoje— é uma continuidade de idéias e
tecnologias lançadas em grande quantidade no
século XIX —muitas lançadas anteriormente, é
certo, mas concretizadas ou finalmente
desenvolvidas a partir do século XIX—. As obras
de autores que viveram nessa época, e até
mesmo suas correntes literárias, continuam a
influenciar o mundo até hoje, em pleno século
XXI, que em muitas áreas nada mais é que uma
continuação da idéias efervescentes e
revolucionárias do século XIX —entre elas a
concretização dos antigos ideais de língua
internacional, tornados realidade pelo gênio
lingüístico de Zamenhof—.
Mas, voltemos às idéia literárias. Após nos
14
15. 8 Primeiro vôo do mais pesado que o ar: em
1906, avião 14-bis de Santos Dumont.
darmos conta, mesmo que superficialmente, de
que Zamenhof viveu numa época de novas
idéias, de mudanças e simultaneidade de
movimentos literários, devemos, agora, analisar
suas escolhas literárias. Sim, porque, tendo
vivido nesse mundo rico em idéias, no limiar do
mundo atual —ou melhor, do futuro, que está
sendo feito com as idéias revolucionárias
lançadas ou finalmente materializadas naquela
época, como p.ex. o vôo do mais pesado que o
ar— , para sabermos quais dessas idéias mais
influenciaram Zamenhof devemos verificar suas
escolhas de tradução. Se não, incorreremos no
vício de muitos esperantistas de ficar afirmando
‘Zamenhof era assim, pensava isso, queria
15
16. aquilo’ sem bases concretas, construindo
fantasias sobre Zamenhof sem indicar fatos
comprobatórios do que falamos. Vamos, então,
listar e comentar um pouco, sob diversos
aspectos, as obras traduzidas por Zamenhof,
obras de sua escolha (mesmo sob influência de
outros), que vão nos dizer algo sobre suas
escolhas pessoais dentro desse contexto
literário efervescente em que viveu —ou até
mesmo antes dele, como veremos—, e analisar
o que nos legou como herança para compor a
bibliografia fundamental do esperanto. Essa
bibliografia (ou pelo menos alguns itens), diga-
se de passagem, é obrigatória para o estudo do
esperanto, da mesma forma como estudamos
os principais autores da nossa língua materna,
de diferentes épocas, apreciando os diferentes
estilos, mantendo e cultivando a linguagem
culta contida nas obras clássicas e bons
autores.
Consideremos, inicialmente, que, quanto a
gêneros literários clássicos, Zamenhof traduziu
textos narrativos —La Batalo de l’ Vivo
(Dickens), La Habeno de Baĥaraĥ (Heine), La
Gimnazio (Aleihem), Marta (Orzeszko)—, líricos
—diversos poemas na Fundamenta Krestomatio
(Mickiewicz, Goethe, Heine e outros), que
incluem Hamleto (Shakespeare)— e
16
17. 9 Selo russo de 2009.
(Ревизор: Revizoro)
dramáticos —
Hamleto
(Shakespeare), La
Revizoro (Gogol), La
Rabistoj (Schiller),
Ifigenio en Taŭrido
(Goethe), Georgo
Dandin (Molière)—.
Como sub-gêneros,
ou classificações até
um pouco informais,
temos tragédia —
Hamleto—, comédia
satírica —Georgo
Dandin, La Revizoro—
, romance e contos
— La Batalo de l’ Vivo,
La Habeno de
Baĥaraĥ (rakonto),
Marta (rakonto), La Gimnazio (rakonto) —,
teatro —Hamleto, Ifigenio en Taŭrido, Georgo
Dandin, La Revizoro, La Rabistoj—, literatura
religiosa —Malnova Testamento—, infantil —
Fabeloj de Andersen— e ‘popular’ —Proverbaro
Esperanta (Marko Zamenhof)—.
Sob a perspectiva da localização das obras
no tempo, temos textos antigos —Malnova
Testamento—, renascentistas —Hamleto,
17
18. Georgo Dandin—, e contemporâneos,
pertencentes ao Romantismo —precursores:
Ifigenio en Taŭrido, La Rabistoj; mais recentes
à sua época: La Habeno de Baĥaraĥ—,
Realismo —La Revizoro—, era Vitoriana —La
Batalo de l’ Vivo—, Positivismo (polonês) —
Marta—.
Sob aspectos variados, podemos dizer que
algumas obras são ‘universais’ em seu
conteúdo —Hamleto: drama complexo, com
assassinato, infidelidade, aparição de espírito,
loucura; La Revizoro: sobre corrupção de
servidores de um estado; Georgo Dandin: sátira
da vida pessoal, diferença de classes,
infidelidade conjugal—, outras bem locais ou
regionais —La Rabeno de Baĥaraĥ: drama da
vida dos judeus na Idade Média; La Gimnazio:
monólogo muito comovente e divertido de um
bom chefe de família—, outras obras se ligam
mais à crítica social —La Rabistoj: luta entre
dois irmãos, entre o bem e o mal, poder
econômico e revolução; La Revizoro; Georgo
Dandin—, à denúncia de problemas das
minorias —La Rabeno de Baĥaraĥ; Marta:
condição extrememente desfavorável da mulher
no mundo do trabalho no século XIX—, algumas
são obras mais leves —La Batalo de l’ Vivo:
uma história de amor, fuga, renúncia, final
18
19. 10 "George Dandin" de Molière montada (em
francês) en 2006 pela associação "Théatrémolo"
de Saint Philbert de Grand Lieu.
feliz—, outras mais profundas —Malnova
Testamento—, ou mesmo essencialmente
infantis ou juvenis e por isso ricamente
fantasiosas —Fabeloj—, ou, ainda, com
objetivos didáticos —Fundamenta
Krestomatio, Esperanta Proverbaro—.
Com relação a vocabulário, temos uma
obra riquíssima em descrições de emoções,
ações, paisagens, reais e imaginárias, com
abundância de detalhes —as Fabeloj (4
volumes)—, uma obra de introspecção e análise
psicológica —Marta (em linguagem modelar do
esperanto vernáculo)—, obras com temas
19
20. trágicos —Hamleto, La Rabeno de Baĥaraĥ,
Marta—, cômicos —La revizoro, Georgo Dandin
—, romance —La Batalo de l’ Vivo, Marta, La
Rabeno de Baĥaraĥ—, frases ou provérbios
populares —Esperanta Proverbaro—. A
construção de frases e o estilo acompanham os
temas indicados para o vocabulário, observando
que, no entanto, em todas as obras temos
exemplos de frases típicas ou modelares da
língua. Como detalhe, observemos que temos
construção de frases e até uso de palavras
especiais em La Revizoro, “frases às vezes não
compreensíveis à primeira vista” (Lingvaj
Respondoj), principalmente no personagem
Osip que tem um estilo de pessoa inculta
(‘malklera’). Zamenhof fez assim para de
alguma forma manter o estilo do original, nesse
caso necessário para manter as características
de estilo na tradução (ver detalhes em: ‘Pri la
Esperanta stilo’ (Respondo 25), ‘Lingvaj
Respondoj’).
As indicações acima às vezes repetem
algumas obras, e às vezes não mencionam
outras, mas o intuito é mostrar a variedade, sob
diversos aspectos, das obras traduzidas
deixadas por Zamenhof, que às vezes se
enquadram em mais de uma classificação, ou
não.
20
21. 11 Bildo por 'Heinrich Heine, Der
Rabbi von Bacherach' (germane),
1922/1923, Max Liebermann.
Como uma
‘tese’ particular
vou, agora,
reunir as
traduções de
Zamenhof em
determinados
grupos, ligados
a alguns
movimentos/
conceitos
literários —
principalmente
aos diretamente
relacionados às
obras usadas em
suas traduções,
mas também a
outros
movimentos—, para tentar identificar alguma
metodologia dentro destas escolhas de
Zamenhof. Não posso afirmar que ele teve os
objetivos quantitativos e qualitativos indicados
a seguir, mas são indicações do resultado final
de suas escolhas sobre o universo de obras
disponíveis: se não escolheu exatamente assim,
o resultado final, quantitativo e qualitativo,
21
22. parece ser o indicado.
Inicialmente, com relação à ‘herança
cultural’ contida nos movimentos literários, ou
cultuada por estes, e depois deixada para todos
nós, Zamenhof escolheu duas obras
contemporâneas suas —Marta, de sua
juventude, que, aliás, é obra madura do
vernáculo do esperanto, e La Gimnazio,
contemporânea ao lançamento do Unua Libro,
obra de conteúdo social-local—. Orzeszko,
autora de Marta, está ligada ao Positivismo, e
assim grosso modo Marta dá uma idéia das
preocupações sociais do Realismo-Naturalismo
da época.
Além de Marta, Zamenhof escolheu, ainda,
duas outras obras nesse contexto realista-
naturalista —La Revizoro e La Rabeno de
Baĥaraĥ—, um pouco anteriores. São quatro
obras representativas das correntes realistas-
naturalistas, que tratam dos problemas,
anseios, das dificuldades e angústias de povos,
classes, minorias, de uma maneira direta (sem
‘romantismo’). Lembremo-nos de que
Zamenhof pertencia a uma minoria, o povo
judeu, perseguida e mesmo assassinada por
seus costumes e haveres (confira em La Rabeno
de Baĥaraĥ) e mais, tinha entranhado em si a
consciência, ou o sentimento da extrema
22
23. 12 Interior com mulher passando a
ferro e criança costurando, Albert
Neuhuys (1844–1914). (Meio
similar àquele de 'Marta')
necessidade de
uma língua
comum como
premissa básica
para o
entendimento
entre todos os
povos. Assim,
não é de se
estranhar essa
sensível
preocupação com
a temática
realista-
naturalista, de
cunho social, em
suas escolhas de
traduções.
Mas, nem
tudo é guerra e,
ao lado daquelas obras, temos La Batalo de l'
Vivo, representativa da era Vitoriana, obra
amena, comparada às demais, contemporânea
(em seu original) a La Revizoro e La Rabeno
de Baĥaraĥ. Se colocarmos as temáticas do
Realismo-Naturalismo num mesmo grupo,
apesar de serem diversas entre si em vários
23
24. aspectos, e as opusermos às obras vitorianas,
poderemos, em seguida, considerar os
românticos como possuindo uma temática mais
próxima à vitoriana9,10
, e aí teremos, então,
mais duas obras similares a La batalo de
l´Vivo, que são os exemplares românticos
Ifigenio en Taŭrido e La Rabistoj. Ou seja,
temos um conjunto de três obras com tema
Vitoriano-Romântico. Essas obras —7 até
agora— estão no contexto do limiar do mundo
contemporâneo, a partir de 1800 até 1900 ou
pouco mais, e, de forma bem compacta,
representam as principais temáticas literárias
que continuarão a se desenvolver até os tempos
atuais. Se contarmos as Fabeloj de Andersen,
em 4 volumes (originais publicado de 1815 a
1842), teremos outro conjunto de obras desse
‘limiar’ do mundo moderno, dessa feita com
literatura infantil, caindo ainda no gosto da
juventude e dos adultos, com traços de
romantismo, mas também naturalismo,
realismo fantástico, quem sabe existencialismo
e ainda sentimento de religiosidade —‘mix’ da
genialidade e personalidade de Andersen,
excelente como obra didática para expressões
as mais diversas em esperanto como já
observei, ou seja, uma escolha perfeita de
Zamenhof para a bibliografia básica da língua—.
24
25. 13 Estátua da 'Sereiazinha'
(Fábulas de Andersen) em
Copenhague.
Em
resumo, essas
8 obras (11
volumes) são
uma amostra
da herança
cultural
literária
deixada por
Zamenhof
para a
literatura em
esperanto,
tomada dos
movimentos
literários do
limiar do
mundo
moderno, a
saber:
a) temática
realista-
naturalista —4 obras: Marta, La Gimnazio, La
Revizoro, La Rabeno de Baĥaraĥ—,
b) temática vitoriana-romântica —3 obras:
La batalo de l´Vivo, Ifigenio en Taŭrido, La
Rabistoj, c) temática infanto-juvenil bem
diversificada (romantismo, naturalismo,
realismo fantástico, religiosidade) —uma obra
25
26. (4 volumes): Fabeloj de Andersen. Temos,
então, uma extensa base moderna em nossa
bibliografia básica, moderna tanto com relação
aos temas desenvolvidos quanto à linguagem
utilizada ou mesmo necessária para desenvolver
esses temas.
Nota 9: Realmente o Romantismo e o ideal
Vitoriano são diversos, mas um ponto comum
entre eles é justamente o conceito popular de
'romântico', e ninguém pode negar que La Batalo
de l' Vivo tem seu caráter romântico. Veja a nota
10 a seguir.
Nota 10: Observemos, sob outro aspecto, que
Ifigenio en Taǔrido e La Rabistoj contêm temas
mais relacionados a crítica e problemas sociais,
apesar de seus arroubos românticos, do que a
temas amenos ou romanescos como em La
Batalo de l’ Vivo. O mesmo é válido para Georgo
Dandin, ou mesmo Hamleto, que são críticas
sociais a certos temas e épocas. Então temos
uma outra tese: Zamenhof escolheu um
conjunto maior de temas 'sociais' para suas
traduções, cheios de conflitos e crítica
social, composto por Marta, La Gimnazio, La
Revizoro, La Rabeno de Baĥaraĥ, Ifigenio en
Taŭrido, La Rabistoj, Georgo Dandin, Hamleto,
considerando-se, no entanto, que La Revizoro e
Georgo Dandin são comédias, oposto a um
conjunto menor de obras mais leves,
composto por La Batalo de l’ Vivo, Fabeloj,
26
27. Proverbaro, Fundamenta Krestomatio,
ressalvando-se que algumas das ‘fabeloj’ são
bem tenebrosas. Eis mais um ponto a localizar
Zamenhof no limiar do futuro, onde temos
(atualmente) uma grande quantidade de autores
e obras voltados para a análise e crítica da
sociedade e seus costumes, apesar de não ser
pequena a quantidade de obras amenas, como o
que se encontra geralmente nos romances ao
gosto da juventude, ou mesmo popular, e nos
seriados televisivos e filmes cinematográficos.
Agora, vamos recuar para um passado
anterior ao século XIX. Como herança cultural,
acabamos de ver que Zamenhof nos legou uma
literatura básica moderna, contemporânea,
realista-social, romântica, de 1800 a 1900. E
antes disso? Zamenhof foi mais além? E quais
foram suas escolhas? Resposta: Sim, Zamenhof
foi bem mais além (na realidade, já vimos isso
mais acima), e suas escolhas foram de clássicos
universais e um texto antigo de ampla difusão
no Planeta! Zamenhof não ficou restrito ao seu
século, ao moderno, mas nos legou,
inicialmente, um pequeno exemplário de duas
obras renascentistas (1500-1670), clássicos11
de alcance mundial, que não saem do
imaginário nem do uso da literatura mundial.
Assim, do mundo renascentista temos Hamleto
27
28. 15 Cartaz de apresenta-ção
de Hamlet em 2004, grupo
teatral ‘le cubitus’, na França.
14 ‘Visão de Hamlet’,
1893, de Pedro Américo.
(Shakespeare) e Georgo Dandin (Molière).
Apesar de Hamleto ter temática medieval, e
Molière atualmente se restringir um pouco a
ambientes mais acadêmicos, essas duas obras
são de autores clássicos11
na literatura mundial.
Impensável deixar um legado sem uma obra de
Shakespeare, sem um exemplar de Molière. Em
seguida, bem mais além, datando de ... 300 a
28
29. 100 anos antes de Cristo, ou no primeiro século
da Era Cristã, que são as supostas datas das
versões da Bíblia Hebraica, usada para a
tradução da Igreja Católica... bem,
controvérsias de datas à parte, temos o
Malnova Testamento da Bíblia, texto
especialíssimo, com seu linguajar típico e seu
conteúdo sagrado para muitos povos. Trata-se
também de uma obra imprescindível a um
legado literário, no mínimo é um dos livros mais
difundidos na história da Humanidade.
Acrescentemos, assim, às temáticas
anteriores: d) temática renascentista —2
obras: Hamleto e Georgo Dandin, e) texto
antigo —uma obra (extensa): Malnova
Testamento. Observe que não temos, a rigor,
nenhuma obra medieval, porém consideremos
que Hamleto se passa num período medieval,
ou seja, de alguma forma temos uma relação
com esse período.
Nota 11: Observação didática (iv): ‘clássico’ não
se refere ao Classicismo, mas está sendo usado
no sentido popular de obra ou autor que
permanece como modelo mesmo séculos após
sua publicação.
Com essa tradução (Malnova
Testamento), fechando a variável tempo,
29
30. 16 Pergaminho com o Velho
Testamento.
Zamenhof distribuiu
sua produção por
um período de 1800
a 2100 anos,
dependendo da
datação do Velho
Testamento, com
exemplares de
clássicos mundiais,
regionais e locais,
com conjuntos de
duas ou três obras
de uma mesma
tendência ou
temática —
renascentista,
realista-naturalista,
vitoriano-romântica
etc.—, e com ao menos um exemplar de teatro
(na verdade, vários), tragédia, comédia,
romance, conto, poesia, texto antigo, religioso-
histórico. Ufa! quer mais? E ainda tem!
Continuaremos a seguir.
Resta, ainda, uma observação sobre duas
obras. Inicialmente, ao lado do Malnova
Testamento, se assim posso ousar, coloco o
Proverbaro Esperanta —tradução de
30
31. ‘Frazeologio rusa-pola-franca-germana’ de
Marko Zamenhof, pai de Zamenhof—, uma obra
também à parte, singular, por conter a
‘sabedoria’ popular (“Venas proverbo el popola
la cerbo”) de diferentes povos, coletada pelo pai
de Zamenhof. O Malnova Testamento contém
um tratado de sabedoria religiosa, além da
história ou trajetória do povo judeu, e o
Proverbaro um tratado da sabedoria popular.
Ambos importantes heranças em esperanto,
legadas por Zamenhof, o mestre dos mestres, e
o maior do populares. Em seguida, lembremos
da Fundamenta Krestomatio, que contém
uma coletânea de textos-modelo, a serem
estudados e analisados por quem queira se
tornar um ‘bom autor’ em esperanto, segundo o
próprio Zamenhof coloca em seu prefácio. Aí
temos pequenos textos originais e traduzidos,
de Zamenhof e vários outros esperantistas. A
Fundamenta Krestomatio também é uma
obra contemporânea, seus textos são similares,
p.ex., aos interesses dos livros atuais e das
obras cinematográficas e televisivas modernas,
contendo tanto ‘short stories’ (história curtas
típicas do inglês, mas de grande divulgação na
cultura contemporânea) quanto temas variados
—fábulas e lendas, anedotas, contos (‘short
stories’) com histórias de amor, mistério,
policial, temas da vida e ciências (calendário,
31
32. 17 Livraria no Congresso Universal
de Esperanto de 2008.
relógio de Sol, cupinzeiro, conjuntivite), onde
temos curiosidades como seguir pegadas,
grafologia, receitas de cola de porcelana,
informações sobre vegetarianismo, geografia
(Califórnia, Austrália) e história (Alexandre da
Macedônia, viagem de Colombo), biolologia (a
voz humana, o mar Morto)— e mostra
Zamenhof como revisor e editor. Sim,
Zamenhof foi editor e revisor, revisou também
dicionários, e foi consultor da Kolekto
Aprobita (Kolekto Esperanta, aprobita de Dr-o
Zamenhof, editora Hachette), que tentava
apresentar obras com a chancela do mestre,
não para serem superiores, mas para manterem
32
33. a unidade da língua.
Aí está outra faceta importante do gênio de
Zamenhof, o cuidado com a unidade de língua e
estilo, sem negar as particularidades de cada
um, mas mantendo-se padrões de uso modelar,
internacional, estes sim a serem seguidos. A
‘Kolekto Aprobita’ é um ótimo exemplo de
textos particulares, com o estilo de cada um,
mas seguindo um padrão geral —a norma culta
da língua—.
E você achava que Zamenhof simplesmente
deixou o esperanto a mercê das vontades de
todos nós, usuários sem a genialidade de um
mestre, presos aos nossos costumes nacionais
arraigados, míopes e mesquinhos quando
precisamos de mudanças de hábito? Não,
Zamenhof deixou o ‘Fundamento de Esperanto’
como Lei, e esta produção significativa em
originais e traduções como modelos de língua
e estilo a serem estudados e seguidos,
obviamente segundo o gosto e habilidades de
cada um, segundo cada época, cada movimento
literário, mas sem adulterar a essência, o
caráter da língua12
. Agora, resta-nos, nos
momentos de lucidez, seguir esses guias,
estudar profundametne estes modelos —
diretamente de Zamenhof ou revisados por
ele—, para produzirmos um linguajar num
padrão realmente internacional.
33
34. 18 Congresso Universal: pequena mostra de pessoas de
línguas e culturas bem diversas.
Essas duas últimas obras poderíamos incluir
em f) temática didático-popular —diversas
obras: Proverbaro Esperanta, Fundamenta
Krestomatio, Dicionários ‘aprovados’ por
Zamenhof, Kolekto Aprobita (diversos
livretos)—. Temática bem extensa e diversa, ao
considerarmos os livretos da Kolekto Aprobita.
Nota 12: Lembremo-nos de uma frase famosa,
resposta de Vitor Hugo que se tornou uma
‘divisa’ (Réponse à un acte d'accusation, 1834)
34
35. para se libertar das restrições do classicismo e
dar asas à sua verve romântica: "Guerra à
retórica e paz à sintaxe". Ou seja, mudemos
nosso estilo, mas respeitemos a língua em sua
essência. E a essência do esperanto inclui o uso
de vocábulos compostos para descrever o
mundo, a realidade à nossa volta, sem abarrotar
a língua com neologismos, e o uso da Plena
Gramatiko, sem acréscimos de regras moldadas
segundo essa ou aquela língua nacional.
Finalmente, vê-se que o projeto de
traduções de Zamenhof cobre uma grande
variedade de gêneros, estilos, épocas, autores,
temáticas, conteúdo. Uma seleção por um lado
até pequena —se considerarmos somente as
obras diretamente de Zamenhof, são 13 obras
de tradução13
— mas por outro lado riquíssima
em variedade de conteúdo e estilo. Somente
um gênio com a capacidade de concisão de
Zamenhof poderia produzir uma obra tão
compacta, e ao mesmo tempo tão significativa
em seu conteúdo variadíssimo. Se os
esperantistas estudassem mais e
sistematicamente as obras de Zamenhof,
metade dos neologismos inúteis que vemos por
aí desapareceriam, pois somente quem não deu
atenção p.ex. ao vocabulário riquíssimo e
detalhadíssimo das Fabeloj, imediatamente
35
36. 19
compreensível sem muita
consulta ao dicionário,
pode querer usar ou
mesmo ensinar ‘spekti’ ao
invés de ‘rigardi’, ‘inventi’
ao invés de ‘elpensi’,
‘ekspliki’ ao invés de
‘klarigi’, ‘spuroj’ ao invés
de ‘postesignoj’, etc.,
etc., etc.
Nota 13: Observemos que
há vários originais na
Fundamenta Krestomatio. Alguém poderia
argumentar, ainda, que algumas obras são de
fato sensivelmente extensas, como o Malnova
Testamento e as Fabeloj.
Como informação adicional, eis a lista das
obras traduzidas por Zamenhof ou com
traduções suas/ sob sua revisão e suas
datas de publicação: -1891: Batalo de l’
Vivo. -1894: Hamleto. -1903: Fundamenta
Krestomatio. -1905-07: Proverbaro Esperanta (3
volumes). -1907: La Revizoro. -1908: Georgo
Dandin; Ifigenio en Taŭrido; La Rabistoj. 1909:
La Habeno de Baĥaraĥ; La Gimnazio. -1910:
Marta. -1907~1915: Malnova Testamento. -1889
(Virineto de Maro)~1917: Fabeloj (4 volumes).
Não incluo na lista nem no quadro sinóptico
os dicionários aprovados nem a Kolekto Aprobita,
por não serem diretamente da lavra de
36
37. Zamenhof que, p.ex., corrigiu ele mesmo alguns
textos da Fundamenta Krestomatio. Mas são uma
fonte extra de conteúdo no mínimo ‘aprovado’
por Zamenhof. (Dicionários não entram no
contexto desse pequeno ensaio.)
Os principais originais de Zamenhof
são: -1887: Internacia Lingvo: Antaŭparolo kaj
Plena Lernolibro (também chamaddo de 'Unua
Libro'). -1888: Dua Libro de l’ Lingvo Internacia;
Aldono al la Dua Libro de l’ Lingvo Internacia. -
1889~1895: La Esperantisto (revista). -1894:
Ekzercaro de la lingvo Esperanto, Universala
Vortaro de la Lingvo Internacia. -1900: Esenco
kaj Estonteco de la Ideo de Lingvo
Internacia. -1903: Fundamenta
Krestomatio. -1905: Fundamento de
Esperanto. -1905~1912: Dirkursoj en Universalaj
Kongresoj. -Lingvaj Respondoj (publicação
póstuma, coletânea de artigos).
As escolhas de Zamenhof, sua herança
deixada em traduções ao esperanto, têm,
então, esse caráter: amplo no tempo, variado
em estilo, em temática, que vai do local,
regional, até o universal, e quantitativamente
acessível ao comum dos falantes, que podem
ler e estudar praticamente toda sua obra sem
gastar dezenas de anos para isso14
. E, ao serem
traduzidos para o esperanto, mesmo o local-
regional acaba se tornando universal, já que foi
37
38. 20
traduzido para a língua
internacional e, a partir
daí, está ao dispor de
toda a Humanidade, para
que possa ler, usufruir, e
refletir sobre esses
pequenos tesouros de
literatura —modelos
práticos de língua, para a
unidade planetária do
esperanto—.
Nota 14: Obervemos que,
para se chegar a um nível
vernáculo no esperanto,
vamos ter de ‘investir’ de um a dois anos de
estudo regular, além do nível básico. Por outro
lado, para se chegar ao nível básico, o cidadão
comum de qualquer nacionalidade, alfabetizado,
com um nível de conhecimento similar aos
primeiros 8 anos de estudo na escola, vai
necessitar de um ano de estudos (em média). No
entanto, esse nível básico inclui uma proficiência
considerável comparado às línguas nacionais —
conversação sobre temas do dia-a-dia,
correspondência pessoal—. Observemos, no
entanto, que precisamos de continuidade,
regularidade, estudar de duas a três vezes por
semana, durante os períodos indicados. Melhor
mais vezes e menos tempo, do que menos vezes
e mais tempo, pois nossa memória trabalha com
38
39. repetição (confira em 'Marta' os esforços em vão
de nossa heroína, para recordar suas lições de
francês, numa situação de necessidade
premente). Adultos somente alfabetizados, ou
com pouco estudo formal, vão variar bastante na
relação tempo necessário versus proficiência
atingida, segundo sua habilidade em estudar. Em
todo caso, dada a regularidade, lógica e intuitição
do esperanto, podemos esperar para esse último
indivíduo (com pouco estudo formal) um período
de até dois anos para o conhecimento básico
referido acima, i.e., até o dobro do tempo de um
indivíduo de cultura escolar regular, e de até três
anos para nível avançado —ler obras do
vernáculo, ou então especializadas, técnicas—,
i.e. até um a dois anos a mais que o de cultura
regular. Mas tudo com estudo regular, contínuo.
Pessoas não alfabetizadas, ou com dificuldades
sensíveis na aprendizagem, certamente vão levar
um tempo maior, e necessitar metodologias
didáticas para auxílio na compreensão e
memorização. Mas certamente vão atingir níveis
de aprendizado bem melhores do que numa
língua estrangeira, lembrando que, segundo
afirmativas de esperantistas da área, o esperanto
poderá até ajudá-las na aquisição de novos
conhecimentos lingüísticos.
Palavras de ordem da unidade lingüística
planetária do esperanto: estudemos a obra
de Zamenhof, aprendamos o que é e como
39
40. 21
funciona a
Língua
Internacional
em suas
traduções e
também
originais —p.ex.
as obras de
referência
fundamentais
de Zamenhof, como Fundamento de
Esperanto, Esenco kaj Estonteco de la Ideo
de Lingvo Inernacia, Lingvaj Respondoj,
seus prefácios (p.ex. na Fundamenta
krestomatio)—, antes de emitirmos
opiniões sobre qualquer assunto relativo
ao que seja ou não a Língua Internacional.
Aprender o esperanto até que é fácil, ensinar
suas regras e vocabulário básicos também, mas
propor ‘melhoras’, ‘avanços’, ‘modernização’ do
esperanto... Hmmm, meio difícil. Somente com
o estudo sério da obra de Zamenhof é que
teremos uma noção do ‘espírito da língua’, do
balanço entre, de um lado, palavras do
Universala Vortaro e compostos destas —
esmagadora maioria— e, do outro, neologismos
—quantidade sensivelmente menor, somente o
estritamente necessário—, e ainda distinguindo,
na tradução, o essencial —o significado, o
40
41. movimento das idéias, descrições e ações do
texto— do não-essencial —culto à forma pela
forma, às palavras ‘bonitas’, ‘difíceis’,
geralmente de origem latina ou grega, mas
também do francês, ou inglês, comum no
vernáculo das línguas nativas—. E, como tentei
monstrar nesse ligeiro ensaio, a obra deixada
por Zamenhof é tão moderna e atual quanto a
obra de Eça de Queirós, Machado de Assis,
Dostoyevsky, Tolstói, Tchékov, Vitor Hugo,
Émile Zola, Gustave Flaubert, Júlio Verne, Guy
de Maupassant, Henrik Ibsen, Henryk
Sienkiewicz, Edgard Allan Poe, Charles Dickens,
Lewis Carrol, Mark Twain, Robert Lewis
Stevenson, Oscar Wild, Bernard Shaw, Conan
Doyle, citando vários autores não traduzidos
por ele mas comuns a brasileiros (Este texto foi
produzido dentro do contexto do movimento
esperantista no Brasil, contexto cultural do
autor do texto).
Ainda neste contexto de obras antigas no
tempo mas bastante utilizadas —lidas,
estudadas— nos tempos atuais, eu poderia
estender estas listas por séculos a fio, que
encontraríamos autores atualíssimos,
moderníssimos, indispensáveis ao pensamento
moderno, como Pascal, Leibnitz, Descartes, ...
O incrível é ter de convencer esperantistas
do valor literário inestimável e obrigatório
41
42. de Zamenhof. Zamenhof foi um dos gênios da
Humanidade, e espero que esse pequeno ensaio
tenha contribuído para colocar as idéias de
muitos em ordem, para que não sucumbam a
apelos de 'modernidade' quando alguém quiser
deixar de lado Zamenhof para tentar impor
novidades que julgam mais importantes que a
obra do gênio da comunicação internacional.
Leia Zamehof, estude seu vocabulário e estilo,
usufrua do conteúdo de Marta, Georgo Dandin,
... e ganhará um 'instinto' sobre o esperanto
‘nativo’, autêntico, original, verdadeiramente
internacional. E sem ter que gastar anos de
estudo ou vastos recursos monetários.
22
42
43. Zamenhof está aí, na internet, de graça, ao seu
alcance, e com a leituras de suas obras em
pouco tempo você poderá ter conhecimentos de
esperanto tirados de obras mestras da língua:
as traduções modelares de Zamenhof.
Após as observações feitas acima, podemos
mesmo dizer que Zamenhof, um dos gênios do
‘limiar do moderno’, escolheu obras que
transcendem o conceito de tempo, são clássicos
intemporais, como Hamleto, Georgo Dandin, La
Rabistoj, Fabeloj de Andersen, Ifigenio en
Taǔrido. E após ler a obra de Zamenhof, o que
você vai começar a fazer daqui a pouco, vai
descobrir que Marta, La Habeno de Baĥaraĥ, La
Gimnazio, La Batalo de l' Vivo são igualmente
clássicos, disponibilizados ao mundo por sua
tradução ao esperanto. Zamenhof obviamente
não participou do Modernismo, que se inicia
oficialmente em 1910, mas sua obra se situa no
limiar do moderno, do contemporâneo. Então,
desconfie de quem quer modernizar o que já
nasceu moderno, e ‘curta’ a obra de Zamenhof,
atualíssma e moderna, indispensável como
modelo unificador do esperanto, como padrão
internacional. E mantendo seu esperanto no
contexto deste padrão internacional, você
também se sentirá sempre no limiar do futuro,
pois terá nas mãos uma linguagem com um
mecanismo externamente simples15
mas
43
44. 23
internamente, intrinsecamente poderoso, capaz
de compreender o passado, lidar com o
presente e se comunicar com o futuro!
Nota 15: Mecanismo 'extermamente simples': os
vocábulos compostos são simples porque trazem,
em si mesmos, a chave para sua 'decodificação',
ao contrário de vocábulos simples, que devem
ser memorizados em sua forma e significado,
p.ex.: -iv) fluir, jorrar × flui, ekflui; -iii) rir, sorrir,
44
45. gargalhar × ridi, rideti, ridegi; -i) falar, conversar,
discutir × paroli, interparoli, priparoli; -ii) gritar,
bradar, vociferar, clamar, exclamar × krii, kriegi,
kolerkriegi, kriprotesti, ekkrii. 'Internamente
poderoso': com os 2.640 radicais do Universala
Vortaro podemos construir de 10.452 a 23.660
palavras simples e compostos destas. Com os
6.900 radicais do Plena Vortaro, dicionário
clássico e autorizado do esperanto, podemos
construir de 50.908 a 58.181 (valor moderado)
palavras simples e compostos destas. Nesse
último caso, 51.000 a 58.000 palavras é um
quantitativo análogo ao vernáculo das nossas
línguas nacionais (em português temos
aproximadamente 100.000 palavras no
vernáculo, que correspondem aos 51.000 a
58.000 do vernáculo 'otimizado' do esperanto).
Luiz Claudio Oliveira
Uberlândia/ Divinópolis/ Belo Horizonte - Minas
Gerais!
p.s.: Um aviso: este ‘ensaio’ não é acadêmico,
muito pelo contrário, está a nível
amador(íssimo), pois meus conhecimentos de
literatura são provenientes de manuais a nível
do ensino médio, no máximo graduação, com
algumas (bem poucas) leituras de textos mais
especializados. Como sempre, espero que
outros com maior conhecimento se apercebam
45
46. da pobreza de referências, no movimento
esperantista, de estudos sistemáticos sobre as
obras de Zamenhof, estudadas no contexto da
língua internacional, e não importantdo
conceitos dessa ou de outra língua para tentar
moldar o esperanto ao gosto particular dessa ou
daquela cultura —todos falam, todos propõem,
mas ninguém mostra que estudou a obra básica
do esperanto, i.e., as obras de Zamenhof, em
sua essência, em sua propostas, em suas
características distintas das outras línguas—.
Desabafo final: O esperanto de Zamenhof —i.e.,
as regras gramaticais da Plena Gramatiko, com
detalhes explicados nas Lingvaj Respondoj,
mais os radicais do Universala Vortaro e
compostos destes, usados em abundância,
complementados por neologismos realmente
necessários, usados com parcimônia, mais o
estilo preconizado nos Ekzercaro e usado
modelarmente nas suas demais obras, algumas
vistas acima—, este esperanto de Zamenhof,
dizia eu, foi o necessário e suficiente para
traduzir todos esses clássicos, tratados, etc.
dispersos por um período de 1800 a 2100 anos
da hisória literária da Humanidade. Então,
porque tanto boçalismo, tanta futilidade, tanto
‘modernismo’, tanto falta de visão de muitos
esperantistas, querendo 'evoluir' a língua
46
47. modelar de Zamenhof, padrão internacional?
Será que não conseguem mesmo enxergar a
genialidade do sistema de gramática
minimalista e vocabulário aglutinante? Ou são
só caprichos pessoais, de querer fazer ‘grandes
obras’, que são de fato pastichões inúteis e
complicados das línguas nacionais? Muitos
esperantistas acabam sendo, de fato,
analfabetos funcionais no esperanto, pois
desconhecem completamente os princípios
básicos da língua, expostos no Fundamento e
nas obras modelares de Zamenhof (que nunca
estudaram a fundo). E mais, acabam sendo
reformistas por vício, pois têm verdadeira
fixação aos preciosismos e complexidades de
suas línguas nativas (vade retro!). Assim,
desconhecem as necessidades prementes da
gramática mínima e do processo de formação
vocabular aglutinante para o perfeito
funcionamento da Língua Internacional, que
deve ser acessivel a todas as camadas da
sociedade, e isso tanto em seus registros de
língua familiar quanto na língua do vernáculo
(‘grande literatura’). Veja que o Malnova
Testamento e Marta, obras clássicas, além das
Fabeloj de Andersen são compreensíveis com
um tempo e esforços mínimos. Isso sim é
genialidade, e não esses pretensiosos
pastichões, de pretensos intelectuais baldos de
47
48. critérios, baldos de estudos sobre a língua
autêntica de Zamenhof, e cheios de presunção.
Você acha que encher dicionário com palavras
copiadas do latim, do francês, ou de outra
língua européia, mais prefixos do grego, vai
ajudar a traduzir as nuances das línguas
asiáticas, do árabe, dos inúmeros dialetos
chineses, das várias línguas do subcontinente
indiano? Acha realmente que, com os 15.250
verbetes do PIV, o dobro de raízes do Plena
Vortaro16
, mais complicações introduzidas em
significados originais, vamos solucionar o
problema de uma segunda língua entre os
povos melhor que Zamenhof? Sinto muito, mas
isso não funciona. Isso não é língua
internacional, isso é capricho de intelectualóides
sem critério. Então, tenha critério: estude a
fundo as obras de Zamenhof, e verá a
verdadeira solução da questão de uma língua
internacional.
Nota 16: Temos 2.640 radicais fundamentais,
i.e. do Universala Vortaro. Com estes radicais
fundamentais, podemos construir de 10.452 a
23.660 palavras simples e compostos destas. O
Plena Vortaro, dicionário clássico e autorizado do
esperanto, tem 6.900 radicais: 2.666 radicais
“fundamentais” (incluindo o texto do Fundamento
de Esperanto) + 1.759 radicais acadêmicos
(neologismos “oficializados” pelas listas
48
49. acadêmicas, até a sexta lista) + 1.294 radicais
não fundamentais nem “oficializados” usados por
Zamenhof + aproximadamente 1.180
neologismos da equipe do PV. Com estes radicais
do Plena Vortaro, que poderíamos chamar de
matriz acadêmico-fundamental, podemos
construir de 50.908 a 58.181 (valor moderado)
palavras simples e compostos destas. Confira o
modelo para esses quantitativos na série
“Esperanto Fundamental”
(http://esperantofundamental.blogspot.com.br/).
Esse último número —51.000 a 58.000 palavras
simples e compostas— poderíamos chamar de
um valor ‘otimizado’ para o vernáculo do
esperanto. Em português temos
aproximadamente 100.000 palavras no
vernáculo, que correspondem às 51.000 a
58.000 do vernáculo 'otimizado' do esperanto.
Esses quantitativos crescentes —2.640
radicais fundamentais, 6.900 da matriz
acadêmico-fundamental— devem ser
memorizados ou pelo menos reconhecidos por
cada indivíduo falante da língua. E isso sem
muita consulta ao dicionário. Nas línguas
nacionais, um indivíduo de cultura média
conhece de 3.000 a 6.000 ‘palavras’ (dados da
língua alemã), ou seja, se com os radicais
fundamentais construímos de 10.452 a 23.660
‘palavras’, então o esperanto fundamental é
quantitativamente mais do que suficiente para a
cultura média. Para situações com maiores
‘nuances’, p.ex. a literatura vernácula, temos a
49
50. matriz acadêmico-fundamental, 6.900 radicais,
que já não caberão na memória de grande parte
da população, que, então, terá de consultar mais
e mais o dicionário. Mas ainda é um valor
otimizado: reconhecer muitos dos 6.900 radicais
e decodificar o significado das possíveis 51.000 a
58.000 palavras.
E porque não aumentar ainda mais a
‘capacidade’ desses radicais acadêmicos, como
faz o PIV? Porque isso de fato só complica, não
ajuda. Nossa mente tem limites. Encher
dicionários com neologismos é fácil, difícil é
colocar essas palavras na mente das pessoas, ou
pelo menos torná-los reconhecíveis sem muito
esforço. Isso porque já temos de lidar com
nossas línguas nacionais, que não são
‘otimizadas’ e ‘ocupam’ um espaço muito grande
na memória. Então, como recomendava
Zamenhof, ao nos dirigirmos às pessoas em
cartas, mensagens, conversações, devemos nos
esforçar para usar os radicais fundamentais, que
nosso interlocutor poderá mais facilmente
compreeender. E, como dito acima, para
situações com maiores ‘nuances’, esforcemo-nos
por usar a matriz acadêmico-fundamental.
‘Enriquecer’ o esperanto com neologismos é
‘empobrecer’ sua capacidade como instrumento
realmente eficiente para a comunicação entre
todos os indivíduos de todas al culturas do
planeta, é voltar ao problema dos dicionários
ciclópicos das línguas nacionais. E dobrar a
quantidade de radicais do PV (como fez o PIV)
50
51. não muda nada frente ao milhões de palavras
das centenas de línguas do planeta,
diversíssimas entre si. Somente o sistema de
aglutinação de raízes é capaz de resolver essa
situação —tradução de milhões de
palavras/termos das mais diversas línguas, com
seus significados—, pois descreve idéias novas
através da composição de idéias conhecidas:
elpensi, subaĉeti, klarigi. Isso sim é capaz de
traduzir as idéias expressas por todas as culturas
do Planeta.
51
52. :el 1603 (Hamlet, Shakepeare)
a:el 1836 (Der Revisor,
Gogol)
b:el 1668 (George Dandin, Molière)
c:el 1779 (Iphigenie auf Tauris,Goetthe)
d:el 1781 (Die Räuber, Schiller)
e:el 1840 (Der Rabbi von Bacherachr, Heine)
:el 1835 ...72 (Eventyr, Andersen)
:el 300 a.K. aŭ 100 p.K (MalnovaTestamento, Diversaj Aŭtoroj)
53. 1887: Unua libro. 1891: Batalo de l’ Vivo. 1894: Hamleto.
1903: Fundamenta Krestomatio. 1905: Fundamento de Esperanto.
1905-07: Proverbaro Esperanta. 1907-10: a-La Revizoro, b-Georgo Dandin, c-Ifi-
genio en Taŭrido, d-La Rabistoj, e-La Habeno de Baĥaraĥ, f-La Gimnazio, g-Marta.
1887
1917
Ĉefa Literatura Verkaro* de Zamenhof
(†1859-‡1917): (*: originala kaj tradukita)
1915: Malnova Testamento. ~1917: Fabeloj.
:el 1846 (The Battle of Life, Dickens)
f: el 1890? (Sholem Aleichem, La Gimnazio)
g:el 1873 (Marta, Eliza Orzeszko)
:el 1835 ...72 (Eventyr, Andersen)