SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 21
Downloaden Sie, um offline zu lesen
MARX E A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO:
                  UM DEBATE SOBRE MÉTODO E IDEOLOGIA
      (texto preliminar para apresentação no Seminário de Pesquisa do
                                           IE/UFRJ)



                                                                     Maria Mello de Malta1

                                                                             Rodrigo Castelo



    INTRODUÇÃO

    Quando toca o sinal que anuncia o final dos cursos de apresentação
    do pensamento de Marx, o Livro IV de O Capital ainda não foi lido e,
    muitas vezes, nem mesmo mencionado. Neste texto vamos abordar
    exatamente esta parte da referida obra – mais conhecida pelo título de
    Teorias da Mais-valia – pois acreditamos que compreender o trabalho
    de Marx em sua totalidade implica em entender o papel integrado de
    seu estudo crítico da história do pensamento econômico (HPE).

    O estudo do autor alemão da história do pensamento econômico
    (HPE) perpassa toda sua obra, especialmente depois de seu contato
    com o trabalho de Engels Esboço de uma Crítica da Economia Política
    publicado no primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães, de
    fevereiro de 1844. Naquele período se completou a convergência do
    que Lênin (1913) chamaria de as três fontes e as três partes
    integrantes do marxismo, o socialismo francês, a filosofia alemã e a
    economia política inglesa2.


1         Maria Mello de Malta e Rodrigo Castelo são ambos pesquisadores do LEMA/IE/UFRJ. Este
texto é baseado em aulas preparadas para o curso Economia Política Marxista, oferecido pelo LEMA no
âmbito do Programa Latino-americano de educação a distância (PLED). Os autores agradecem aos
companheiros Mauro Iasi (ESS/UFRJ e NEP 13 de maio) e Luis Carlos Scapi (NEP 13 de maio) pelo
debates acerca da temática apresentada a seguir, porém sem responsabiliza-los por quaisquer dos
problemas que possam ter permanecido no trabalho.
2        “A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens
uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reação, com toda a
defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no


                                                                                               1
Nesta época Marx realizou seu primeiro estudo de economia política.
 Este trabalho completo foi posteriormente publicado em 1932 sob o
 nome de Manuscritos Econômico-Filosóficos, também conhecidos como
 Manuscritos de Paris.

 A leitura dos Manuscritos é muito importante para a identificação do
 processo que articula a evolução do pensamento de Marx com seus
 estudos da HPE. É a partir da sua relação com os textos da economia
 política clássica que o autor alemão dá corpo, no campo das idéias, a
 sua percepção, já constituída por meio da prática política, do papel
 central que a categoria trabalho tem no entendimento da sociedade
 capitalista, elemento que marcará definitivamente sua obra.

 No seu trabalho de redação de O Capital, Marx se dedica longamente
 ao estudo dos autores clássicos e seus contemporâneos no campo da
 economia política. Neste processo elaborou um imenso manuscrito
 entre 1861 e 1863 onde constam as notas que foram referência para a
 construção de Teorias da Mais-Valia, bem como os temas que se
 transformaram nos livros I e III de O Capital.

 Teorias da Mais-Valia é a maior e mais elaborada parte do referido
 manuscrito, composto de 23 cadernos, com páginas numeradas de 1
 a 1472. Aquele trabalho, também publicado sob o título de Uma
 História do Pensamento Econômico, compreende os cadernos VI a XV e
 o XVIII, além de mais umas 40 páginas espalhadas pelos cadernos
 XX, XXI, XXII e XXIII (Rubin, 1929). Embora Marx tenha se dedicado,
 naquele manuscrito, de forma mais abrangente e mais completa
 exatamente a essa análise crítica das idéias dos economistas que lhe
 precederam ou eram seus contemporâneos, acabou destinando-a a
 ser o livro IV, o último, de O Capital.

 Esta decisão de Marx parece ter fortalecido uma interpretação usual
 de    que     a    economia         política     clássica      seria     algo    considerado

século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.
          Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas
três partes constitutivas.” (Lenin, 1913, p.1)


                                                                                               2
definitivamente superado por ele, e neste sentido uma HPE, como
aquele que ele realizara, que buscasse reconstituir criticamente os
caminhos lógicos dos economistas políticos clássicos, não passaria de
uma curiosidade de eruditos. É exatamente esta interpretação que
pretendemos questionar.




A CONSTRUÇÃO DA INTERPRETAÇÃO CINDIDA ENTRE A HPE DE
MARX E SUA OBRA

De nosso ponto de vista, a idéia de que Marx teria rechaçado as
contribuições científicas da economia política inglesa enquanto base,
ainda que crítica, para os seus desenvolvimentos teóricos, origina-se
muito mais da influência da interpretação dominante de que o
trabalho de história do pensamento econômico não é parte do corpo
de desenvolvimento os novos caminhos da ciência, do que proveniente
de um estudo aprofundado do papel da HPE de Marx na totalidade de
sua obra.

Porém, como já dissemos há elementos importantes na própria
história de publicação das obras de Marx que possam ter dado espaço
para   a    instalação   de   tal   interpretação   como   verdadeira.   Já
mencionamos a decisão de Marx em posicionar seu estudo de HPE
como o livro IV de O Capital, mas ainda podemos destacar outra
questões.

Mais um elemento de reforço a esta concepção se deu por conta da
forma pela qual Teorias da Mais-Valia fora publicada. A primeira
edição do livro IV foi feita por Kautsky entre 1905-1910, portanto
mais de dez anos depois da publicação do livro III e mais de quarenta
anos depois do livro I. Além de carregar o distanciamento temporal do
restante da obra, tal versão foi posteriormente muito criticada em
virtude de seu editor ter alterado a organização dos temas conforme
indicados por Marx; a versão kautskiana também continha erros de



                                                                         3
interpretação associados a incompreensão da caligrafia do autor,
supressões injustificáveis de passagens do manuscrito, erros de
tradução para o alemão de passagens registradas originalmente em
outras línguas e alterações na terminologia empregada por Marx.

Assim, uma nova publicação da obra se fez necessária. Porém esta só
ocorreu cinco décadas depois, a partir do trabalho de duas décadas
realizado por pesquisadores da ex-União Soviética que se dedicaram a
estudos e investigações daquele manuscrito. O objetivo deste projeto
era levar ao público a obra seguindo os originais deixados por Marx,
além de sua orientação básica de ordenar as idéias de acordo com o
lugar que ocupavam no desenvolvimento do processo histórico, o que
não coincide necessariamente com a cronologia dos autores e obras
considerados em seu estudo. Dessa forma, Teorias da Mais-Valia
ganhou sua versão russa completa entre 1954 e 1961, enquanto a
versão alemã apareceu entre 1956 e 1962, marcando uma distância
de quase um século entre estas versões e a publicação do livro I. Note-
se, também, que boa parte do debate crítico à obra marxiana já havia
sido desenvolvido quando se tornou pública a versão mais completa
do trabalho de Marx sobre HPE.

Os problemas na publicação de Teorias da Mais-Valia, seja pela
demora de sua publicação, seja pela forma de apresentação de seu
conteúdo, não são os únicos motivos pelos quais esta parte do
trabalho de Marx fora sistematicamente colocado em segundo plano.
A visão mais tradicional de HPE a trata, conforme já afirmamos, como
uma curiosidade de eruditos, um relato conclusivo de “erros
passados” e muitas vezes até “um apêndice incômodo que precisa ser
neutralizado” (Tolipan, 1982, p.5). Não raro, foi visto assim também o
trabalho de Marx sobre o tema.

No entanto, possuímos uma outra perspectiva sobre esta questão.
Consideramos que o conhecimento da HPE é essencial para uma
compreensão aprofundada da economia política, e ainda mais



                                                                    4
importante no que se refere ao sistema teórico desenvolvido pelo
revolucionário alemão. Não foi a toa que, antes de escrever a sua
própria teoria, Marx estudou meticulosamente uma rica literatura
econômica, produto do trabalho de várias gerações de economistas
europeus entre os séculos XVII e XIX. Desde sua primeira página, O
Capital é carregado de referências a autores anteriores a sua obra e a
cada passo de sua exposição, tanto em texto como em nota de rodapé,
Marx apresenta pensamentos valiosos de economistas importantes da
história do pensamento até então estabelecida. Independentemente do
quão rudimentar ou ingênua seja uma idéia econômica, Marx adota
uma postura diante daquelas obras de atenção completa e análise
diligente, valorizando-as como uma preciosa semente que possa ter
passado despercebida a uma primeira vista.

O tratamento atento e paciente que Marx deu a seus predecessores
não é para ser tomado como um capricho diletante de um especialista
em escritos econômicos antigos, mas como o caminho de acesso ao
seu laboratório do pensamento. A partir da publicação dos Grundrisse
– publicado em alemão entre 1939-1941 – e, particularmente, das
Teorias da Mais-Valia este caminho se abriu. Assim, somos capazes
de compreender como cada breve referência a Smith, Ricardo ou outro
economista que Marx distribuiu entre as notas de rodapé de O
Capital,   é   um   resumo   parcimonioso   de   pesquisas   altamente
detalhadas contidas naquela obra, o que as faz parte orgânica de seu
texto.

A partir desta perspectiva identificamos o quanto estava claro para
Marx o quão inseparável eram as tarefas de estudar os pensadores
anteriores e construir seu próprio sistema de pensamento. Podemos
ainda afirmar que o quanto mais profundamente penetrava no
trabalho dos clássicos, mais perto chegava de sua construção original.



O MÉTODO DE MARX PARA A HISTÓRIA DO PENSAMENTO
ECONÔMICO


                                                                   5
Ricardo Tolipan, um importante historiador brasileiro do pensamento
econômico, escreveu uma vez que fazer HPE é recuperar “o estímulo
acadêmico à imaginação teórica e à crítica irônica do dogma e deve-se
para isto analisar o modo de construção da ciência” (Tolipan, 1982,
p.10). Na leitura do trabalho de HPE de Marx podemos perceber esta
intenção.
O interesse de Marx era ir além do ponto de entender como as idéias
econômicas se desenvolvem a partir de sua própria lógica interna. Ele
quis conhecer os processos pelos quais certas formulações teóricas
foram sendo criadas em ambientes sociais específicos. Concebia o
conhecimento científico como um tipo de produto social, e rendeu-se
à importância de considerar os espaços concretos que organizavam
este conhecimento (Nunes e Bianchi, 1999).

Neste sentido, sua abordagem para estudar o pensamento econômico
constitui-se em encará-lo como resultado de um conjunto inseparável
de observação da realidade histórica e da visão de mundo sob a qual
esta observação se realiza. Sendo assim, não se pode operar com uma
distinção entre economia como análise pura e economia como visão
dos processos sociais da base material, sendo a primeira uma análise
isenta e a segunda aquela em que entram inevitavelmente tendências
e matizes ideológicos, tal como Schumpeter (1954) trabalha. “Tal
distinção não pode ser sustentada porque a teoria econômica, na
medida em que se pretende como afirmação substancial sobre as
relações reais da sociedade, não pode deixar de incorporar a intuição
histórica, a perspectiva e a visão social de mundo, em sua formulação
e no próprio ato de julgamento do seu grau de realismo” (Dobb, 1977,
p.52).

Desta forma, o seu método de pesquisa da HPE combina o estudo do
período histórico de referência (amplamente explorado no livro I de O
Capital) com um estudo da teoria econômica elaborada até então, de
modo a compreender a produção intelectual resultante destas
influências. Esta perspectiva tem como princípio o materialismo



                                                                  6
histórico, em contraponto com o idealismo hegeliano. O idealismo de
Hegel afirma ser possível existir idéias provenientes de um “espírito
absoluto” sem a necessidade de uma base material que as origine.
Marx, por sua vez, anota que as idéias de uma época são expressão
intelectual das relações sociais vigentes com todas as contradições e
as influências herdadas da história da política.

Em A Ideologia Alemã (1846) Marx e Engels apresentam um raciocínio
sintético que relaciona o pressuposto materialista com sua base
histórica, afirmando que foram “forçados a começar constatando que
o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de
toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver
para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo
comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O
primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que
permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria
vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição
fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de
anos deve ser cumprida todos os dias e todas as horas para manter os
homens vivos” (Marx e Engels, 1846, p.21). Donde concluem que a
existência precede a consciência.

Combinado com este pressuposto materialista está a lógica dialética,
esta sim incorporada de Hegel. A lógica de uma construção científica é
a forma de organizar o pensamento que a produz e nada impede que
argumentos científicos que sigam uma mesma lógica possam ter
pressupostos diferentes. A lógica dialética pretende superar a lógica
formal incorporando alguns de seus princípios. Por exemplo, a lógica
dialética   também trabalha    com identidade,     porém a     trabalha
enquanto identidade de contrários, ao invés da identidade como
contraponto à diferença, conforme faz a lógica formal (Iasi, 2007).

Interessa-nos, todavia, identificar alguns princípios gerais que
possam caracterizar a dialética. Em primeiro lugar, a lógica dialética



                                                                      7
busca o movimento próprio do objeto estudado, pois entende que para
se compreender qualquer objeto há que se captar seu movimento.
Uma forma não apenas é. Ela “era, é e tende a ser”, estando em
movimento    contínuo.   É   necessário   também    compreender       a
contradição presente em todos os objetos, pois é desta contradição
interna que depende o seu movimento. Portanto, toda estrutura é
uma união de contrários. Isto torna o movimento permanente, pois
cada forma traz em si o germe de sua superação, a sua contradição.
Desta maneira, cada forma pode ser ao mesmo tempo outra sem
deixar de ser o que é. Por isto pode ser representada como uma
identidade de contrários. Finalmente, o movimento se dá por
contradições que chegam a um ponto de ruptura no qual ocorre um
salto de qualidade. Neste momento surge uma nova forma, que
supera a antiga, mas carrega alguns de seus elementos, como
também se constitui em parte do germe que gerará a sua superação,
ou seja, sua negação. Note-se que esta última negação, será a
negação de uma negação da forma imediatamente anterior, portanto
uma negação da negação.

O próprio Marx já afirmou na famosa Introdução de 1857, que o
procedimento metodológico correto é iniciar a investigação pelo real,
pelo concreto, que é a pressuposição prévia e efetiva. No entanto,
afirma que   graças a     uma   observação mais atenta, tomamos
conhecimento de que este processo é incompleto. Não basta observar
o concreto para desvelar suas partes constituintes. Assim, se
analisarmos somente o real como se apresenta em sua aparência,
teríamos uma representação caótica do todo.

É necessário apreendermos intelectualmente o real. A questão reside
no método de apreensão da realidade concreta. Segundo Marx, o
cientista social dispõe do poder de abstração para analisar com
profundidade a realidade, chegar ao seu âmago constituinte. Desta
forma, passaríamos do concreto a abstrações cada vez mais tênues
até atingirmos as mais simples determinações. Ao chegarmos a este


                                                                  8
ponto teríamos que fazer a viagem de volta até chegarmos ao
concreto, agora não mais como uma representação caótica do todo,
porém como uma rica totalidade de determinações e relações diversas.
Neste caso, o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas
determinações, isto é, uma unidade do diverso.

Por isso o concreto aparece no pensamento como síntese, como
resultado e não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de
partida efetivo e, portanto o ponto de partida também da intuição e da
representação. No método exclusivamente analítico, usado pelos
economistas   políticos,   a   representação   plena   se   perde   em
determinações abstratas; no método dialético marxiano, que une
análise e síntese, as determinações abstratas conduzem à reprodução
do concreto, agora compreendido, por meio do pensamento.

Marx nos ensinou que foi por este motivo que os idealistas dialéticos,
como Hegel, caíram na ilusão de conceber o real como resultado do
pensamento, identificando na idéia a origem de tudo. Nesta visão, o
pensamento aprofundar-se-ia em si mesmo, de forma independente
da realidade, implicando que seria no campo ideal que ocorreriam as
grandes mudanças e os grandes movimentos. Alerta-nos, no entanto,
que caminhar no sentido da síntese, ou seja, do abstrato ao concreto,
é a maneira de proceder para se apropriar do concreto, para
representá-lo como concreto pensado, ou seja, para compreendê-lo.
Porém este não é, de modo nenhum, o caminho de determinação de
sua origem. A origem, o pressuposto, é a existência. É ela que
determina a essência.

Além do próprio trabalho de Marx, os textos, por exemplo, de Vladimir
Lênin (vários escritos), Henri Lefebvre (1969) e Lucien Goldman (1956)
sobre a dialética nos mostram uma variedade de formas de apresentá-
la. Não pretendemos dar origem a uma nova explicação à lógica
dialética, até porque todos os autores citados realizaram trabalhos
que jamais superaríamos. Nosso objetivo é fazer com que o leitor



                                                                    9
perceba como o próprio método de Marx abre o espaço para
incorporação da dimensão da história na elaboração da ciência. O
momento histórico existe em sua dupla face: a materialidade das
relações sociais e sua expressão superestrutural. Por isso afirma que
a cada tipo de apresentação das formas de produção e reprodução
material da existência humana correspondem formas específicas de
estruturação social, além de valores e formas de apreensão da
realidade.

Fazer a história do pensamento econômico é compreender as formas
de apreensão da realidade econômica estruturada em cada tempo
histórico, fundamentalmente embebida em valores da época. Sendo
assim, o autor alemão não apenas admite a presença da visão social
de mundo na elaboração da ciência econômica, como também a revela
inseparável desta.

Marx pretendeu explicitar as formas existentes, em sua época, da
expressão das relações de produção e reprodução da vida, como
histórica e socialmente determinadas, diferentemente do que fizeram
os economistas políticos clássicos, que as naturalizaram. De seu
ponto de vista, não é entendendo as formas de pensamento que se
entende a história, mas é compreendendo a história, movida pela luta
de classes, que se compreende as formas de pensamento.

Se o método de Marx se estrutura incorporando a história como parte
essencial de sua formulação, não há como ignorarmos o papel da
história do pensamento econômico na formulação crítica da economia
política clássica que Marx pretendeu realizar. A construção intelectual
de Marx é uma composição que segue seu método e que carrega
dentro de si a economia política inglesa, sem com isso se tornar parte
dela, pois lhe agrega contradições (teóricas, históricas e política) que
dão origem ao movimento de seu pensamento sobre economia política.



A QUESTÃO DA IDEOLOGIA


                                                                     10
Afirmamos até agora que, de acordo com o próprio método utilizado
por Marx, a história do pensamento econômico por ele elaborada é
parte componente de seu pensamento. Há ainda um outro caminho
de afirmação do mesmo ponto de vista que amplia nosso debate para
além do campo do marxismo, abrindo uma batalha no âmbito da
própria tradição da história do pensamento econômico.

A visão mais tradicional da história do pensamento econômico é
essencialmente referenciada em Schumpeter (1954) a partir de sua
separação analítica fundante dos possíveis caminhos para se estudar
a HPE. Na concepção de Schumpeter, a história da análise econômica
se refere à história da “evolução” dos modelos analíticos de base para
a teoria econômica; a história dos sistemas de economia política
considera   a   seqüência   temporal   dos   conjuntos   de   políticas
econômicas que os autores sustentam sob princípios normativos
unificadores; e finalmente a história do pensamento econômico seria a
soma total das opiniões e desejos referentes a assuntos econômicos,
especialmente relativos à política governamental, que correm pelo
espírito público em determinado tempo e espaço. A sua perspectiva
sustenta que a história da análise econômica concentra o que é
fundamental para o estudo da história da teoria, na medida em que é
um recorte “limpo” das influência ideológicas presentes nas outras
partes do pensamento econômico.

Além do que já está apontado quanto a construção do próprio método
de pesquisa de Marx o trabalho deste autor afirma abertamente uma
posição contrária a esta apresentada em Schumpeter (1954). No
clássico 18 de Brumário de Luis Bonaparte (1851), Marx afirma que
“os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como
querem, não fazem sob as circunstâncias de sua escolha e sim sob
aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas
pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como
um pesadelo o cérebro dos vivos” (Marx, 1851, p.21).
Coloca-se então a pergunta de como a tradição de todas as gerações



                                                                   11
mortas oprime os vivos. Apresenta-se, assim, a questão da ideologia
para o nosso debate.
Se a existência determina a consciência como é que mortos oprimem
vivos? O ponto é exatamente que as idéias não apenas existem, mas
se   materializam   na   forma   dos   elementos   da   superestrutura,
influenciando diretamente os elementos da base econômica. Ou seja,
as representações teóricas não são somente reflexo passivo da base
econômica, mas ajudam a determinar as configurações da própria
base.

A superestrutura política e jurídica e a consciência social são
representação muito concreta da forma histórica com que os seres
humanos se relacionam com a natureza e entre si. Apesar dos
elementos superestruturais serem uma expressão, uma               noção
determinada intelectualmente, de certa conjuntura histórica, também
a condicionam e, por longo tempo, perpetuam as formas de relação
dominantes naquele período histórico. O pensamento econômico faz
parte da consciência social de sua época e deve ser reconhecido
enquanto tal.

Na seção 15 do capítulo IV de Teorias da Mais-Valia, Marx escreve que
“para observar a conexão entre produção intelectual e a material, é
fundamental antes de tudo apreender esta não como categoria geral,
mas como forma histórica definida. Assim, por exemplo, ao modo de
produção capitalista corresponde a produção intelectual de espécie
diferente daquela do modo de produção medieval. Se não se concebe a
própria produção na forma histórica específica, é impossível entender
o que é característico na produção intelectual correspondente e a
interação entre ambas” (Marx, 1905, p.267, grifos no original).

É bastante evidente que os modos de produção duram mais tempo
que as vidas individuais dos seres humanos. O mesmo ocorre com
sua produção intelectual. Assim, mortos assombram vivos por meio
da reprodução dos sistemas de relações sociais que incluem estrutura
e superestrutura.



                                                                    12
Considerando estas observações de Marx, vale a pena fazermos uma
pequena digressão sobre a concepção de ideologia. Inicialmente
podemos dizer que a expressão ideologia é comumente considerada
um sinônimo para conjunto de idéias. Se ideologia é apenas um
conjunto   de    idéias,    se     quisermos   manter    nosso    pressuposto
materialista, coloca-se em questão quais são as relações sociais que
estão representadas neste conjunto de idéias.

A resposta mais comum é que as idéias são de uma época.
Expressam, portanto, um determinado período histórico. Como já
discutimos, a cada época histórica corresponde uma forma de
produzir e reproduzir relações sociais e a vida, porém é possível que
em cada época convivam formas diferentes de se realizar esta tarefa
social   fundamental.       Qual    então   será   a   forma   considerada    a
diferenciadora    e     a    definidora     daquele     período    específico?
Imediatamente pensamos: é claramente aquela maneira que for a
mais comum, a dominante. Assim, se a forma de produzir e
reproduzir a vida que representa uma época é aquela dominante,
também as idéias que a representarão serão as dominantes.

Levando em conta que a primeira forma de apresentação da
consciência social é o senso comum, fruto da alienação, por meio da
qual os indivíduos tomam as idéias instituídas como sua própria
consciência, então o conjunto de idéias dominantes de uma época se
torna sua ideologia, quando se utiliza da alienação para dominação. A
ideologia dominante é, portanto, a expressão ideal das relações
materiais dominantes.

Segundo Michael Löwy (1985), quando Marx encontra pela primeira
vez o termo ideologia nos debates da primeira metade do século XIX,
este está sendo usado no sentido de especulação metafísica que
ignorava a realidade. Ideologia ganha assim o sentido de ilusão, falsa
consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as
idéias aparecem como motor da vida real. Seria neste sentido que



                                                                             13
Marx utilizaria o termo em A Ideologia Alemã.

A partir desta conceituação Marx indica que o papel da ideologia é
formular concepções das relações sociais existentes nas quais elas
apareçam invertidas, naturalizá-las, obscurecer sua essência para
poder justificá-las, apresentando um interesse particular como
universal e criar o espaço para a manutenção da dominação. Para se
contrapor à ideologia, na concepção de nosso autor, existe a ciência. A
ciência teria o papel de compreender, revelar e historicizar as relações
sociais   existentes,   para     com   isso   desinverter   sua   forma   de
apresentação e abrir espaço para o questionamento da dominação.

No livro 18 de Brumário, Marx amplia o conceito de ideologia e fala
das formas ideológicas através das quais os indivíduos tomam
consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a
filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, entre outras. Löwy
nos diz que “para Marx, claramente, ideologia é um conceito
pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere à
consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia
dominante: as      idéias   da    classe   dominante   são   as   ideologias
dominantes na sociedade” (Löwy, 1985, p.12).

O conceito de ideologia segue um longo percurso na tradição marxista
e vai sendo modificado em cada nova acepção. Lênin e Gramsci são os
mais famosos autores marxistas que formulam novas concepções em
torno no termo ideologia. Neste sentido, não é simples abrir uma
discussão sobre ideologia em Marx sem se deixar influenciar pelo
andamento da discussão marxista. Afinal, estamos aqui afirmando
que a produção intelectual de cada época vai ser assombrada pelas
idéias e pela história que a precedeu e que lhes são contemporâneas.

Buscando respeitar o sentido que Marx deu ao termo ideologia,
gostaríamos aqui de usar um recurso didático estabelecendo dois
conceitos distintos para o nosso trabalho: ideologia e visão social de
mundo. O conceito de visão social de mundo se diferenciaria daquele


                                                                          14
de ideologia por não carregar em si o objetivo de dominação, porém
mantém a noção de historicidade e de perspectiva social em seu
significado. Neste sentido, ideologia e visão de mundo seriam
conceitos muito próximos, cuja única diferença seria o sentido de
dominação que o primeiro possuiria.

Tal recurso nos serve para afirmar que a Marx não escapa que a
ciência não tem como se separar da visão de mundo daquele que a
formula, sem implicar que todo cientista tenha um projeto de
dominação por trás de seu trabalho, ainda que alguns o possam ter.
Em sua crítica a Henri Storch, economista político francês da
primeira metade do século XIX, o posicionamento de nosso autor é
bem direto, pois afirma que:

                  “da forma específica da produção material resulta: 1)
                  determinada     estrutura   da   sociedade    e    2)
                  determinada relação dos homens com a natureza. As
                  duas determinam o governo e a visão intelectual dos
                  homens. Em conseqüência, também o gênero da
                  produção intelectual”. (Marx, 1905, p.267)

Neste contexto, Marx denuncia a incapacidade de Storch de
compreender a produção intelectual, até porque este autor a define
como associada às atividades profissionais relacionadas com a classe
dominante, sem compreender que estas últimas existem e se definem
especificamente naquela determinada estrutura histórica por ele
vivenciada. A partir disso Marx conclui que um historiador das idéias
que não concebe a própria produção material no domínio histórico e a
ultra-generaliza, priva-se da única base que o possibilitaria entender
os componentes ideológicos da classe dominante e ainda a produção
intelectual crítica a esta formação social.



A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO, POR KARL MARX




                                                                    15
O trabalho de HPE de Marx é revolucionário em sua época dada a
complexidade de seu método e a sua consciência de que boa parte da
produção intelectual sobre economia não passava de uma produção
ideológica que rompia o compromisso científico. Neste sentido, o
estudo detalhado de autores das mais variadas origens e influências
era o caminho para reconstituir a linha científica da economia
política. Por isso, Marx fez questão de diferenciar os economistas
políticos clássicos dos economistas vulgares. Esta diferenciação está
presente no posfácio da 2ª edição alemã e em algumas notas de
rodapé de O capital, porém é mais claramente exposta no item 5 do
Adendo à terceira parte de Teorias da Mais-Valia.
Neste ponto de seu trabalho o autor alemão está se questionando
sobre as formas de apresentação de como são formados os preços das
mercadorias pelos clássicos e pelos vulgares. Marx aponta que os
clássicos buscam a identificação da origem dos rendimentos do
capital, do trabalho e da terra no reino da produção. Neste processo
acabam por identificar contradições nas relações sociais e no próprio
pensamento por eles construído, enfrentando as dificuldades de se
produzir ciência. Os economistas vulgares procuraram dar uma
aparência suave ao processo por meio do qual surgem os diferentes
tipos de rendimento. Preferiram falar em juros, ao invés de lucros,
para desconectar a relação entre produção e o rendimento do capital.
Acabaram por intencionalmente se tornarem apologetas e realizaram
tentativas extenuantes de apagar a existência das idéias que
contivessem contradições. O caminho de distanciamento da ciência
vai se tornando tão evidente que autores como Frederic Bastiat,
contemporâneo de Ricardo, vão recorrer a explicações divinas para
dar conta da origem da renda da terra, bem como se utilizam de
argumentações morais e religiosas para explicar a diferença existente
na distribuição da propriedade privada. Com este tipo de recurso os
economistas    vulgares    rompem      inclusive    com   o   projeto
liberal/iluminista de construção de uma ciência cujo modo de
entendimento da ordem econômica e social pretendia expulsar


                                                                  16
definitivamente a explicação divina de seu seio.

Marx, porém, realizava uma obra de crítica à economia política, o que
significava que os economistas clássicos não estavam salvos da
virulência de seus argumentos. A questão da economia política
clássica estava em outro âmbito. Havia sim um compromisso em
explicar a realidade no trabalho daqueles autores. Porém, não
estavam interessados em verificar como cada uma daquelas formas
sociais que estudavam haviam se materializado da exata maneira em
que se apresentavam para eles. Todos aqueles autores tomavam cada
um dos objetos que analisavam como premissas dadas, pontos de
partida inquestionáveis. Assim, “a falha dos economistas clássicos era
que não concebiam a forma básica do capital, isto é, a produção
desenhada para se apropriar do trabalho de outras pessoas, como
uma forma histórica, mas como uma forma natural da produção
social; a análise levada a frente pelos próprios economistas clássicos
acabou por pavimentar o caminho para a refutação desta concepção.”
(Marx, 1905, p. 1538, grifos no original)

A preocupação principal da obra de história do pensamento
econômico de Marx não era um confronto dos métodos em si. A
abertura de Teorias da Mais-Valia já nos indica o corte analítico
crítico por meio do qual será feito o trabalho de HPE de Marx. Em sua
Observação Geral, que consta no início do livro IV de O Capital, afirma
que todos os economistas incorrem no erro de não examinarem a
mais-valia enquanto tal, pura, mas nas formas especiais de lucro e de
renda fundiária. Sendo assim, torna-se explícito que estudar o
pensamento econômico para Marx tinha como função compreender as
formulações teóricas anteriores com o objetivo de identificar seus
limites, fazer a crítica e desenvolver sua própria teoria neste processo
de estudo.

As   questões   que   buscou    estudar     nos   clássicos   podem   ser
identificadas na longa lista de capítulos e adendos, todos divididos em
inúmeros subitens, que formam o livro IV. Apesar dos 24 capítulos e


                                                                      17
26 adendos, os temas perseguidos por Marx são poucos e bem
articulados: a abordagem da origem e da distribuição da renda, do
lucro, dos juros e dos salários em articulação com a questão do valor,
bem como a concepção do processo de acumulação e com ela as
noções da composição orgânica do capital e da produtividade. Não é
coincidência que estes sejam os mesmos temas presentes nos três
primeiros livros de O Capital, nos quais Marx expõe a sua própria
explicação crítica para    a   produção e    reprodução do sistema
capitalista.

A pesquisa de HPE elaborada por Marx seguiu a estrutura teórico-
conceitual apresentada no pensamento econômico, primordialmente
científico, produzida entre os séculos XVII e XIX. Nela mapeou-se os
principais debates que Marx considerou fundamentais para construir
sua própria contribuição interpretativa e que são alguns dos
principais temas da economia política marxista até os dias atuais.

Teorias da Mais-Valia ganha este título porque busca identificar como
tantos autores se aproximaram da questão da mais-valia sem
identificá-la em sua complexidade. O conceito de excedente é a
primeira formulação que indica a presença de uma reprodução de
riqueza em volume maior que aquela que fora necessária para
produzi-la. Deste ponto de partida iniciam-se as questões sobre de
onde vem esta riqueza e, associada a ela, a pergunta sobre para quem
deve ir tal riqueza. As respostas a estas questões originárias do
projeto da economia política estão mapeadas desde as contribuições
de William Petty, dos fisiocratas e de David Hume passando, por
Adam Smith, James Steuart, chegando a David Ricardo, Rodbertus,
Thomas Malthus, Robert Torrens, James Mill e seu filho John Stuart
Mill. Nenhuma delas satisfaz a Marx, por isso se tornam sua
referência crítica.

Neste sentido, a proposta de leitura da HPE por Marx é parte
essencial de sua construção crítica. Estudar a forma de apreensão da
realidade capitalista expressa pelos cientistas sociais de sua época era


                                                                     18
o caminho de acesso à compreensão histórica dos problemas se sua
época. Sem abrir mão de ser um homem do seu tempo, Marx introduz
a contradição no pensamento dominante com que se confrontara e
constrói uma síntese única que se expressa em sua forma de
interpretação das relações sociais vigentes.



CONCLUSÃO

O Capital em seus quatro livros é o resultado do esforço de Marx de
propor uma nova leitura da realidade estrutural e superestrutural em
que vivia, abrindo a perspectiva de um questionamento das formas de
organização da produção e reprodução da vida no capitalismo e com
ela das idéias que a representam. Sua pesquisa da HPE é parte
constitutiva deste projeto, especialmente porque esta representa a
consciência e a ciência social do sistema que buscava compreender e
superar.

Esta compreensão integrada do trabalho de Marx torna fundamental
a tarefa de estudar a história do pensamento econômico elaborada
por ele, tanto para o entendimento contextualizado de sua obra,
quanto para inserí-lo de maneira adequada da HPE. Nosso autor é um
pensador do seu tempo, com os limites e as possibilidades que sua
visão de mundo abriram para ele. Também, como todo grande
cientista de seu tempo, contribuiu de maneira crítica para elaborar
uma interpretação do capitalismo. Tal interpretação permanece como
referência fundamental para compreender atualidade. Afinal, por mais
tempo que tenha passado entre a produção intelectual de Marx e os
dias de hoje, a ordem histórica vigente permanece sendo a ordem
capitalista.



BIBLIOGRAFIA
BHARADWAJ, K; Themes in value and distribution; classical theory
reappraised, Unwin Hyman, London, 1988.



                                                                   19
EAGLETON, T. (1991) Ideologia, Boitempo Editorial, Unesp Editora São
Paulo, 1997.
GAREGNANI, P. & PETRI, F.; Marxismo e Teoria Econômica hoje, in:
Hobsbawn, E., História do Marxismo, vol. 12, Paz e Terra, 1989.
GAREGNANI, P.; The Labour Theory of Value: ‘detour’ or technical
advance?, in: Caravele, G.A. (ed), Marx and the Modern Economic
Analysis: Values, Prices and Exploitation: The Future of Capitalism and
the History of Thought, Edward Elgar, 1991.
GOLDMAN, L (1956), Dialética e Cultura, Paz e Terra, 1967.
IASI, M.L. (2007) Ensaios sobre consciência e emancipação, São Paulo:
Expressão Popular.
KURZ, H.; Against the current: Sraffa’s unpublished manuscripts and
history of economic thought, The European Journal of History of
Economic Thought, Routlegde, London, 1998.
LEFÉBVRE, H. (1969), Lógica formal/ lógica dialética, Coleção
Perspectivas do Homem, Ed. Civilização Brasileira, 1979, 2ª edição.
LENIN, V. I (1913); As três fontes e as três partes constituintes do
Marxismo, 1ªEdição: Prosvechtchénie, nº 3, Março de 1913. In: Obras
Completas de LENIN, V.I., 5.edição .em russo, tomo 23, pp.40-48.,
utilizado        na          versão          encontrada           em
http://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/03/tresfont.htm
_________ (1915) Obras completas. Moscú: Progresso, v.29, 1986.
(“Resumen del libro de Hegel ‘Ciencia de la Logica’”, escrito en
septiembre-diciembre de 1914, p. 75 a 216) (“Resumen del libro de
Hegel ‘Lecciones sobre la filosofia de la Historia’”, escrito en 1915, p.281
a 291); (“Plan de la dialectica (logica) de Hegel”, escrito en 1915, p.298 a
303); (“Sobre el problema de la dialectica”, escrito en 1915, p.321 a 328).
LÖWY, M. (1985); Ideologias e ciência social: elementos para uma
análise marxista, São Paulo: Editora KONDER, L. (2002) A questão da
ideologia, São Paulo: Companhia das letras

MARX, K. (1844),       Manuscritos    econômico-filosóficos.   São   Paulo:
Boitempo, 2004.
_________ (1851), 18 de Brumário de Luis Bonaparte. 7ª edição. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2002.
_________ (1857), Para a Crítica da Economia Política, Coleção Os
Pensadores, Nova Cultural, São Paulo, 2005.
_________ (1859), A Contribution to the Critique of Political Economy,
traduzido para o inglês por Ryazanskaya, S.W. e editado por Dobb, M.,
Progress Publishers, Moscow, 1970.
________ (1867), O Capital: crítica da economia política, Coleção os
Economistas, Nova Cultural, São Paulo, 1985



                                                                        20
________ (1905), Teorias da Mais-valia: história crítica do pensamento
econômico,
Bertrand Brasil, 1987 traduzida da edição Russa de 1954.
________ (1939-41) Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie,
versão        em        inglês      disponível        no      site
http://www.marxists.org/archive/marx/works/1857/grundrisse/
MARX, K. E ENGELS, F. (1846), A ideologia Alemã, São Paulo: Martins
Fontes, 1989.
MEEK, R., Economia e Ideologia, Zahar, Rio de Janeiro, 1971.
NUNES, R; BIANCHI, A. M.(1999); Duas maneiras de contar a história
do pensamento econômico. In: Revista de Economia Contemporânea,
nº5, janeiro-junho de 1999. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de
Economia, p.93-114.
RICARDO, D. (1817), Versão de P.Sraffa (1951); Princípios de Economia
Política e Tributação, Coleção Os Economistas, Nova Cultural, 1986.
RICARDO, D. (1928), Versão de P.Sraffa (1951); Notas aos Princípios de
Economia Política de Malthus, Coleção Os Economistas, Nova Cultural,
1986.
RUBIN, I (1929), A history of economic thought, Pluto Press, 1979.
SCHUMPETER, J.A. (1954); History of Economic Analysis, George Allen
and Unwin, London, 1954.
SMITH, A. (1776); A Riqueza das Nações, Coleção Os Economistas, Nova
Cultural, 1986.
SRAFFA, P.(1951); Introdução in: RICARDO, D. (1817), Versão de
P.Sraffa (1951); Princípios de Economia Política e Tributação, Coleção
Os Economistas, Nova Cultural, 1986.
SRAFFA, P.(1960); Production of Commodities by Means of
Commodities, Cambridge University Press, Cambridge, 1960
TOLIPAN, R. (1982); A necessidade do pensamento econômico, Texto
para Discussão nº 3, Rio de Janeiro: Instituto de Economia, IE/UFRJ,
1982.




                                                                     21

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsA teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsCarlo Romani
 
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo cópia
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo   cópiaAnderson, perry. a crise da crise do marxismo   cópia
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo cópiaTAmires Iwanczuk
 
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismoGuérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismomoratonoise
 
Perry anderson A crise do marxismo
Perry anderson    A crise do marxismoPerry anderson    A crise do marxismo
Perry anderson A crise do marxismoDiego Benítez
 
Lukács, georg a teoria do romance
Lukács, georg   a teoria do romanceLukács, georg   a teoria do romance
Lukács, georg a teoria do romanceLuciéle Bernardi
 
O princípio esquecido i
O princípio esquecido   iO princípio esquecido   i
O princípio esquecido ibruna_barboza
 
Honneth, axel luta por reconhecimento
Honneth, axel   luta por reconhecimentoHonneth, axel   luta por reconhecimento
Honneth, axel luta por reconhecimentoDeyse Brandão
 
Introducão à filosofia de Marx
Introducão à filosofia de MarxIntroducão à filosofia de Marx
Introducão à filosofia de MarxMatheus Sampaio
 
Terry Eagleton - Marx e a critica literária
Terry Eagleton -  Marx e a critica literáriaTerry Eagleton -  Marx e a critica literária
Terry Eagleton - Marx e a critica literáriaCarlos Alberto Monteiro
 
Revolução Mexicana: um perfil político
Revolução Mexicana: um perfil políticoRevolução Mexicana: um perfil político
Revolução Mexicana: um perfil políticoAna Lod Ferreira
 
(Auto)crítica do marxismo weberiano
(Auto)crítica do marxismo weberiano(Auto)crítica do marxismo weberiano
(Auto)crítica do marxismo weberianoestevammoreira
 
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]Walter Sousa
 
Franrz fanon, um itinerário inelectual ortiz
Franrz fanon, um itinerário inelectual   ortizFranrz fanon, um itinerário inelectual   ortiz
Franrz fanon, um itinerário inelectual ortizRafael Marino
 
Os sujeitos historicos ee joao aldeia
Os sujeitos historicos ee joao aldeiaOs sujeitos historicos ee joao aldeia
Os sujeitos historicos ee joao aldeiaElisio Estanque
 
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowski
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowskiTradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowski
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowskiProfessor Belinaso
 
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Alessandro de Moura
 

Was ist angesagt? (20)

Revista Contra a Corrente. N. 6
Revista Contra a Corrente. N. 6Revista Contra a Corrente. N. 6
Revista Contra a Corrente. N. 6
 
A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsA teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
 
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo cópia
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo   cópiaAnderson, perry. a crise da crise do marxismo   cópia
Anderson, perry. a crise da crise do marxismo cópia
 
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismoGuérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
 
Perry anderson A crise do marxismo
Perry anderson    A crise do marxismoPerry anderson    A crise do marxismo
Perry anderson A crise do marxismo
 
Lukács, georg a teoria do romance
Lukács, georg   a teoria do romanceLukács, georg   a teoria do romance
Lukács, georg a teoria do romance
 
O princípio esquecido i
O princípio esquecido   iO princípio esquecido   i
O princípio esquecido i
 
Honneth, axel luta por reconhecimento
Honneth, axel   luta por reconhecimentoHonneth, axel   luta por reconhecimento
Honneth, axel luta por reconhecimento
 
Introducão à filosofia de Marx
Introducão à filosofia de MarxIntroducão à filosofia de Marx
Introducão à filosofia de Marx
 
Terry Eagleton - Marx e a critica literária
Terry Eagleton -  Marx e a critica literáriaTerry Eagleton -  Marx e a critica literária
Terry Eagleton - Marx e a critica literária
 
Revolução Mexicana: um perfil político
Revolução Mexicana: um perfil políticoRevolução Mexicana: um perfil político
Revolução Mexicana: um perfil político
 
Que Fazer?
Que Fazer?Que Fazer?
Que Fazer?
 
408 1842-5-pb
408 1842-5-pb408 1842-5-pb
408 1842-5-pb
 
Formações ideológicas na cultura brasileira - Alfredo Bosi.
Formações ideológicas na cultura brasileira - Alfredo Bosi.Formações ideológicas na cultura brasileira - Alfredo Bosi.
Formações ideológicas na cultura brasileira - Alfredo Bosi.
 
(Auto)crítica do marxismo weberiano
(Auto)crítica do marxismo weberiano(Auto)crítica do marxismo weberiano
(Auto)crítica do marxismo weberiano
 
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]
Adorno e a pós modernidade - 867-3357-1-pb[1]
 
Franrz fanon, um itinerário inelectual ortiz
Franrz fanon, um itinerário inelectual   ortizFranrz fanon, um itinerário inelectual   ortiz
Franrz fanon, um itinerário inelectual ortiz
 
Os sujeitos historicos ee joao aldeia
Os sujeitos historicos ee joao aldeiaOs sujeitos historicos ee joao aldeia
Os sujeitos historicos ee joao aldeia
 
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowski
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowskiTradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowski
Tradução da Introdução: Main Currents of Marxism de kolakowski
 
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
Trotski, Rosa Luxemburgo e o mito da “teoria leninista da organização”
 

Ähnlich wie Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…

Karl marx grundrisse (boitempo) completo
Karl marx   grundrisse (boitempo) completoKarl marx   grundrisse (boitempo) completo
Karl marx grundrisse (boitempo) completoUFAL
 
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonetIntrodução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonetMarcos Silvabh
 
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonetIntrodução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonetMarcos Silvabh
 
Grupo de Estudos Marx e o Direito
Grupo de Estudos Marx e o DireitoGrupo de Estudos Marx e o Direito
Grupo de Estudos Marx e o Direito654789
 
Marx e a Religião (Francisco Mota)
Marx e a Religião (Francisco Mota)Marx e a Religião (Francisco Mota)
Marx e a Religião (Francisco Mota)Jerbialdo
 
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...André Santos Luigi
 
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marx
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marxIntroducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marx
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marxUJS_Maringa
 
Herbert Marcuse e a Teoria Crítica
Herbert Marcuse e a Teoria CríticaHerbert Marcuse e a Teoria Crítica
Herbert Marcuse e a Teoria CríticaKarol Souza
 
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdfSuely Reis
 
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)Jerbialdo
 
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Edileia Mendes
 
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Edileia Mendes
 
Durkheim e a sociologia da educação no brasil
Durkheim e a sociologia da educação no brasilDurkheim e a sociologia da educação no brasil
Durkheim e a sociologia da educação no brasilNataly Souza
 
Pensadores da sociologia alêrocha
Pensadores da sociologia alêrochaPensadores da sociologia alêrocha
Pensadores da sociologia alêrochabreckenfeld
 
APRESENTAÇÃO.pptx
APRESENTAÇÃO.pptxAPRESENTAÇÃO.pptx
APRESENTAÇÃO.pptxRovani4237c
 
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand Russell
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand RussellA Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand Russell
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand RussellJorge Barbosa
 
Breve ensaio sobre o metodo dialetico
Breve ensaio sobre o metodo dialeticoBreve ensaio sobre o metodo dialetico
Breve ensaio sobre o metodo dialeticoAlexandre Protásio
 

Ähnlich wie Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol… (20)

Karl marx grundrisse (boitempo) completo
Karl marx   grundrisse (boitempo) completoKarl marx   grundrisse (boitempo) completo
Karl marx grundrisse (boitempo) completo
 
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonetIntrodução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
 
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonetIntrodução a filosofia de  marx        sergio lessa e ivo tonet
Introdução a filosofia de marx sergio lessa e ivo tonet
 
Grupo de Estudos Marx e o Direito
Grupo de Estudos Marx e o DireitoGrupo de Estudos Marx e o Direito
Grupo de Estudos Marx e o Direito
 
Marx e a Religião (Francisco Mota)
Marx e a Religião (Francisco Mota)Marx e a Religião (Francisco Mota)
Marx e a Religião (Francisco Mota)
 
As contribuições teórico metodológicas de E. P. thompson
As contribuições teórico metodológicas de E. P. thompsonAs contribuições teórico metodológicas de E. P. thompson
As contribuições teórico metodológicas de E. P. thompson
 
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...
MARTINS, Sueli Ap. As contribuições teórico-metodológicas de E. P. Thompson: ...
 
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marx
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marxIntroducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marx
Introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de marx
 
Herbert Marcuse e a Teoria Crítica
Herbert Marcuse e a Teoria CríticaHerbert Marcuse e a Teoria Crítica
Herbert Marcuse e a Teoria Crítica
 
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf
3.TextoIII_Indroducao_ao_metodo_da_teoria_social.pdf
 
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Karl Marx)
 
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
 
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
Livro netto-introducao ao metodo da teoria social ou introducao ao metodo de ...
 
Durkheim e a sociologia da educação no brasil
Durkheim e a sociologia da educação no brasilDurkheim e a sociologia da educação no brasil
Durkheim e a sociologia da educação no brasil
 
Pensadores da sociologia alêrocha
Pensadores da sociologia alêrochaPensadores da sociologia alêrocha
Pensadores da sociologia alêrocha
 
APRESENTAÇÃO.pptx
APRESENTAÇÃO.pptxAPRESENTAÇÃO.pptx
APRESENTAÇÃO.pptx
 
Ontologia
OntologiaOntologia
Ontologia
 
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand Russell
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand RussellA Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand Russell
A Filosofia Analítica da Linguagem de Bertrand Russell
 
Breve ensaio sobre o metodo dialetico
Breve ensaio sobre o metodo dialeticoBreve ensaio sobre o metodo dialetico
Breve ensaio sobre o metodo dialetico
 
Filosofia trabalho 32mp
Filosofia trabalho 32mpFilosofia trabalho 32mp
Filosofia trabalho 32mp
 

Kürzlich hochgeladen

O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfErasmo Portavoz
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?MrciaRocha48
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundonialb
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptxpamelacastro71
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveaulasgege
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamentalgeone480617
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdfDemetrio Ccesa Rayme
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasCasa Ciências
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basico
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basicoPRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basico
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basicoSilvaDias3
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaFernanda Ledesma
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfIedaGoethe
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxIsabelaRafael2
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfHenrique Pontes
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Kürzlich hochgeladen (20)

O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
 
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
Empreendedorismo: O que é ser empreendedor?
 
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundogeografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
geografia 7 ano - relevo, altitude, topos do mundo
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptxAula 1, 2  Bacterias Características e Morfologia.pptx
Aula 1, 2 Bacterias Características e Morfologia.pptx
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chaveAula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
Aula - 2º Ano - Cultura e Sociedade - Conceitos-chave
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino FundamentalCartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
Cartilha 1º Ano Alfabetização _ 1º Ano Ensino Fundamental
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
Geometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdfGeometria  5to Educacion Primaria EDU  Ccesa007.pdf
Geometria 5to Educacion Primaria EDU Ccesa007.pdf
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basico
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basicoPRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basico
PRIMEIRO---RCP - DEA - BLS estudos - basico
 
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão LinguísticaA Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
A Inteligência Artificial na Educação e a Inclusão Linguística
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdfDIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
DIA DO INDIO - FLIPBOOK PARA IMPRIMIR.pdf
 
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptxApostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
Apostila da CONQUISTA_ para o 6ANO_LP_UNI1.pptx
 
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdfBRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
BRASIL - DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS - Fund 2.pdf
 
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, CPAD, Como se Conduzir na Caminhada, 2Tr24.pptx
 

Marx e a história do pensamento econômico _ Um debate sobre método e ideol…

  • 1. MARX E A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO: UM DEBATE SOBRE MÉTODO E IDEOLOGIA (texto preliminar para apresentação no Seminário de Pesquisa do IE/UFRJ) Maria Mello de Malta1 Rodrigo Castelo INTRODUÇÃO Quando toca o sinal que anuncia o final dos cursos de apresentação do pensamento de Marx, o Livro IV de O Capital ainda não foi lido e, muitas vezes, nem mesmo mencionado. Neste texto vamos abordar exatamente esta parte da referida obra – mais conhecida pelo título de Teorias da Mais-valia – pois acreditamos que compreender o trabalho de Marx em sua totalidade implica em entender o papel integrado de seu estudo crítico da história do pensamento econômico (HPE). O estudo do autor alemão da história do pensamento econômico (HPE) perpassa toda sua obra, especialmente depois de seu contato com o trabalho de Engels Esboço de uma Crítica da Economia Política publicado no primeiro e único número dos Anais Franco-Alemães, de fevereiro de 1844. Naquele período se completou a convergência do que Lênin (1913) chamaria de as três fontes e as três partes integrantes do marxismo, o socialismo francês, a filosofia alemã e a economia política inglesa2. 1 Maria Mello de Malta e Rodrigo Castelo são ambos pesquisadores do LEMA/IE/UFRJ. Este texto é baseado em aulas preparadas para o curso Economia Política Marxista, oferecido pelo LEMA no âmbito do Programa Latino-americano de educação a distância (PLED). Os autores agradecem aos companheiros Mauro Iasi (ESS/UFRJ e NEP 13 de maio) e Luis Carlos Scapi (NEP 13 de maio) pelo debates acerca da temática apresentada a seguir, porém sem responsabiliza-los por quaisquer dos problemas que possam ter permanecido no trabalho. 2 “A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a superstição, com toda a reação, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no 1
  • 2. Nesta época Marx realizou seu primeiro estudo de economia política. Este trabalho completo foi posteriormente publicado em 1932 sob o nome de Manuscritos Econômico-Filosóficos, também conhecidos como Manuscritos de Paris. A leitura dos Manuscritos é muito importante para a identificação do processo que articula a evolução do pensamento de Marx com seus estudos da HPE. É a partir da sua relação com os textos da economia política clássica que o autor alemão dá corpo, no campo das idéias, a sua percepção, já constituída por meio da prática política, do papel central que a categoria trabalho tem no entendimento da sociedade capitalista, elemento que marcará definitivamente sua obra. No seu trabalho de redação de O Capital, Marx se dedica longamente ao estudo dos autores clássicos e seus contemporâneos no campo da economia política. Neste processo elaborou um imenso manuscrito entre 1861 e 1863 onde constam as notas que foram referência para a construção de Teorias da Mais-Valia, bem como os temas que se transformaram nos livros I e III de O Capital. Teorias da Mais-Valia é a maior e mais elaborada parte do referido manuscrito, composto de 23 cadernos, com páginas numeradas de 1 a 1472. Aquele trabalho, também publicado sob o título de Uma História do Pensamento Econômico, compreende os cadernos VI a XV e o XVIII, além de mais umas 40 páginas espalhadas pelos cadernos XX, XXI, XXII e XXIII (Rubin, 1929). Embora Marx tenha se dedicado, naquele manuscrito, de forma mais abrangente e mais completa exatamente a essa análise crítica das idéias dos economistas que lhe precederam ou eram seus contemporâneos, acabou destinando-a a ser o livro IV, o último, de O Capital. Esta decisão de Marx parece ter fortalecido uma interpretação usual de que a economia política clássica seria algo considerado século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês. Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas três partes constitutivas.” (Lenin, 1913, p.1) 2
  • 3. definitivamente superado por ele, e neste sentido uma HPE, como aquele que ele realizara, que buscasse reconstituir criticamente os caminhos lógicos dos economistas políticos clássicos, não passaria de uma curiosidade de eruditos. É exatamente esta interpretação que pretendemos questionar. A CONSTRUÇÃO DA INTERPRETAÇÃO CINDIDA ENTRE A HPE DE MARX E SUA OBRA De nosso ponto de vista, a idéia de que Marx teria rechaçado as contribuições científicas da economia política inglesa enquanto base, ainda que crítica, para os seus desenvolvimentos teóricos, origina-se muito mais da influência da interpretação dominante de que o trabalho de história do pensamento econômico não é parte do corpo de desenvolvimento os novos caminhos da ciência, do que proveniente de um estudo aprofundado do papel da HPE de Marx na totalidade de sua obra. Porém, como já dissemos há elementos importantes na própria história de publicação das obras de Marx que possam ter dado espaço para a instalação de tal interpretação como verdadeira. Já mencionamos a decisão de Marx em posicionar seu estudo de HPE como o livro IV de O Capital, mas ainda podemos destacar outra questões. Mais um elemento de reforço a esta concepção se deu por conta da forma pela qual Teorias da Mais-Valia fora publicada. A primeira edição do livro IV foi feita por Kautsky entre 1905-1910, portanto mais de dez anos depois da publicação do livro III e mais de quarenta anos depois do livro I. Além de carregar o distanciamento temporal do restante da obra, tal versão foi posteriormente muito criticada em virtude de seu editor ter alterado a organização dos temas conforme indicados por Marx; a versão kautskiana também continha erros de 3
  • 4. interpretação associados a incompreensão da caligrafia do autor, supressões injustificáveis de passagens do manuscrito, erros de tradução para o alemão de passagens registradas originalmente em outras línguas e alterações na terminologia empregada por Marx. Assim, uma nova publicação da obra se fez necessária. Porém esta só ocorreu cinco décadas depois, a partir do trabalho de duas décadas realizado por pesquisadores da ex-União Soviética que se dedicaram a estudos e investigações daquele manuscrito. O objetivo deste projeto era levar ao público a obra seguindo os originais deixados por Marx, além de sua orientação básica de ordenar as idéias de acordo com o lugar que ocupavam no desenvolvimento do processo histórico, o que não coincide necessariamente com a cronologia dos autores e obras considerados em seu estudo. Dessa forma, Teorias da Mais-Valia ganhou sua versão russa completa entre 1954 e 1961, enquanto a versão alemã apareceu entre 1956 e 1962, marcando uma distância de quase um século entre estas versões e a publicação do livro I. Note- se, também, que boa parte do debate crítico à obra marxiana já havia sido desenvolvido quando se tornou pública a versão mais completa do trabalho de Marx sobre HPE. Os problemas na publicação de Teorias da Mais-Valia, seja pela demora de sua publicação, seja pela forma de apresentação de seu conteúdo, não são os únicos motivos pelos quais esta parte do trabalho de Marx fora sistematicamente colocado em segundo plano. A visão mais tradicional de HPE a trata, conforme já afirmamos, como uma curiosidade de eruditos, um relato conclusivo de “erros passados” e muitas vezes até “um apêndice incômodo que precisa ser neutralizado” (Tolipan, 1982, p.5). Não raro, foi visto assim também o trabalho de Marx sobre o tema. No entanto, possuímos uma outra perspectiva sobre esta questão. Consideramos que o conhecimento da HPE é essencial para uma compreensão aprofundada da economia política, e ainda mais 4
  • 5. importante no que se refere ao sistema teórico desenvolvido pelo revolucionário alemão. Não foi a toa que, antes de escrever a sua própria teoria, Marx estudou meticulosamente uma rica literatura econômica, produto do trabalho de várias gerações de economistas europeus entre os séculos XVII e XIX. Desde sua primeira página, O Capital é carregado de referências a autores anteriores a sua obra e a cada passo de sua exposição, tanto em texto como em nota de rodapé, Marx apresenta pensamentos valiosos de economistas importantes da história do pensamento até então estabelecida. Independentemente do quão rudimentar ou ingênua seja uma idéia econômica, Marx adota uma postura diante daquelas obras de atenção completa e análise diligente, valorizando-as como uma preciosa semente que possa ter passado despercebida a uma primeira vista. O tratamento atento e paciente que Marx deu a seus predecessores não é para ser tomado como um capricho diletante de um especialista em escritos econômicos antigos, mas como o caminho de acesso ao seu laboratório do pensamento. A partir da publicação dos Grundrisse – publicado em alemão entre 1939-1941 – e, particularmente, das Teorias da Mais-Valia este caminho se abriu. Assim, somos capazes de compreender como cada breve referência a Smith, Ricardo ou outro economista que Marx distribuiu entre as notas de rodapé de O Capital, é um resumo parcimonioso de pesquisas altamente detalhadas contidas naquela obra, o que as faz parte orgânica de seu texto. A partir desta perspectiva identificamos o quanto estava claro para Marx o quão inseparável eram as tarefas de estudar os pensadores anteriores e construir seu próprio sistema de pensamento. Podemos ainda afirmar que o quanto mais profundamente penetrava no trabalho dos clássicos, mais perto chegava de sua construção original. O MÉTODO DE MARX PARA A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO 5
  • 6. Ricardo Tolipan, um importante historiador brasileiro do pensamento econômico, escreveu uma vez que fazer HPE é recuperar “o estímulo acadêmico à imaginação teórica e à crítica irônica do dogma e deve-se para isto analisar o modo de construção da ciência” (Tolipan, 1982, p.10). Na leitura do trabalho de HPE de Marx podemos perceber esta intenção. O interesse de Marx era ir além do ponto de entender como as idéias econômicas se desenvolvem a partir de sua própria lógica interna. Ele quis conhecer os processos pelos quais certas formulações teóricas foram sendo criadas em ambientes sociais específicos. Concebia o conhecimento científico como um tipo de produto social, e rendeu-se à importância de considerar os espaços concretos que organizavam este conhecimento (Nunes e Bianchi, 1999). Neste sentido, sua abordagem para estudar o pensamento econômico constitui-se em encará-lo como resultado de um conjunto inseparável de observação da realidade histórica e da visão de mundo sob a qual esta observação se realiza. Sendo assim, não se pode operar com uma distinção entre economia como análise pura e economia como visão dos processos sociais da base material, sendo a primeira uma análise isenta e a segunda aquela em que entram inevitavelmente tendências e matizes ideológicos, tal como Schumpeter (1954) trabalha. “Tal distinção não pode ser sustentada porque a teoria econômica, na medida em que se pretende como afirmação substancial sobre as relações reais da sociedade, não pode deixar de incorporar a intuição histórica, a perspectiva e a visão social de mundo, em sua formulação e no próprio ato de julgamento do seu grau de realismo” (Dobb, 1977, p.52). Desta forma, o seu método de pesquisa da HPE combina o estudo do período histórico de referência (amplamente explorado no livro I de O Capital) com um estudo da teoria econômica elaborada até então, de modo a compreender a produção intelectual resultante destas influências. Esta perspectiva tem como princípio o materialismo 6
  • 7. histórico, em contraponto com o idealismo hegeliano. O idealismo de Hegel afirma ser possível existir idéias provenientes de um “espírito absoluto” sem a necessidade de uma base material que as origine. Marx, por sua vez, anota que as idéias de uma época são expressão intelectual das relações sociais vigentes com todas as contradições e as influências herdadas da história da política. Em A Ideologia Alemã (1846) Marx e Engels apresentam um raciocínio sintético que relaciona o pressuposto materialista com sua base histórica, afirmando que foram “forçados a começar constatando que o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos deve ser cumprida todos os dias e todas as horas para manter os homens vivos” (Marx e Engels, 1846, p.21). Donde concluem que a existência precede a consciência. Combinado com este pressuposto materialista está a lógica dialética, esta sim incorporada de Hegel. A lógica de uma construção científica é a forma de organizar o pensamento que a produz e nada impede que argumentos científicos que sigam uma mesma lógica possam ter pressupostos diferentes. A lógica dialética pretende superar a lógica formal incorporando alguns de seus princípios. Por exemplo, a lógica dialética também trabalha com identidade, porém a trabalha enquanto identidade de contrários, ao invés da identidade como contraponto à diferença, conforme faz a lógica formal (Iasi, 2007). Interessa-nos, todavia, identificar alguns princípios gerais que possam caracterizar a dialética. Em primeiro lugar, a lógica dialética 7
  • 8. busca o movimento próprio do objeto estudado, pois entende que para se compreender qualquer objeto há que se captar seu movimento. Uma forma não apenas é. Ela “era, é e tende a ser”, estando em movimento contínuo. É necessário também compreender a contradição presente em todos os objetos, pois é desta contradição interna que depende o seu movimento. Portanto, toda estrutura é uma união de contrários. Isto torna o movimento permanente, pois cada forma traz em si o germe de sua superação, a sua contradição. Desta maneira, cada forma pode ser ao mesmo tempo outra sem deixar de ser o que é. Por isto pode ser representada como uma identidade de contrários. Finalmente, o movimento se dá por contradições que chegam a um ponto de ruptura no qual ocorre um salto de qualidade. Neste momento surge uma nova forma, que supera a antiga, mas carrega alguns de seus elementos, como também se constitui em parte do germe que gerará a sua superação, ou seja, sua negação. Note-se que esta última negação, será a negação de uma negação da forma imediatamente anterior, portanto uma negação da negação. O próprio Marx já afirmou na famosa Introdução de 1857, que o procedimento metodológico correto é iniciar a investigação pelo real, pelo concreto, que é a pressuposição prévia e efetiva. No entanto, afirma que graças a uma observação mais atenta, tomamos conhecimento de que este processo é incompleto. Não basta observar o concreto para desvelar suas partes constituintes. Assim, se analisarmos somente o real como se apresenta em sua aparência, teríamos uma representação caótica do todo. É necessário apreendermos intelectualmente o real. A questão reside no método de apreensão da realidade concreta. Segundo Marx, o cientista social dispõe do poder de abstração para analisar com profundidade a realidade, chegar ao seu âmago constituinte. Desta forma, passaríamos do concreto a abstrações cada vez mais tênues até atingirmos as mais simples determinações. Ao chegarmos a este 8
  • 9. ponto teríamos que fazer a viagem de volta até chegarmos ao concreto, agora não mais como uma representação caótica do todo, porém como uma rica totalidade de determinações e relações diversas. Neste caso, o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, isto é, uma unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como síntese, como resultado e não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto o ponto de partida também da intuição e da representação. No método exclusivamente analítico, usado pelos economistas políticos, a representação plena se perde em determinações abstratas; no método dialético marxiano, que une análise e síntese, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto, agora compreendido, por meio do pensamento. Marx nos ensinou que foi por este motivo que os idealistas dialéticos, como Hegel, caíram na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento, identificando na idéia a origem de tudo. Nesta visão, o pensamento aprofundar-se-ia em si mesmo, de forma independente da realidade, implicando que seria no campo ideal que ocorreriam as grandes mudanças e os grandes movimentos. Alerta-nos, no entanto, que caminhar no sentido da síntese, ou seja, do abstrato ao concreto, é a maneira de proceder para se apropriar do concreto, para representá-lo como concreto pensado, ou seja, para compreendê-lo. Porém este não é, de modo nenhum, o caminho de determinação de sua origem. A origem, o pressuposto, é a existência. É ela que determina a essência. Além do próprio trabalho de Marx, os textos, por exemplo, de Vladimir Lênin (vários escritos), Henri Lefebvre (1969) e Lucien Goldman (1956) sobre a dialética nos mostram uma variedade de formas de apresentá- la. Não pretendemos dar origem a uma nova explicação à lógica dialética, até porque todos os autores citados realizaram trabalhos que jamais superaríamos. Nosso objetivo é fazer com que o leitor 9
  • 10. perceba como o próprio método de Marx abre o espaço para incorporação da dimensão da história na elaboração da ciência. O momento histórico existe em sua dupla face: a materialidade das relações sociais e sua expressão superestrutural. Por isso afirma que a cada tipo de apresentação das formas de produção e reprodução material da existência humana correspondem formas específicas de estruturação social, além de valores e formas de apreensão da realidade. Fazer a história do pensamento econômico é compreender as formas de apreensão da realidade econômica estruturada em cada tempo histórico, fundamentalmente embebida em valores da época. Sendo assim, o autor alemão não apenas admite a presença da visão social de mundo na elaboração da ciência econômica, como também a revela inseparável desta. Marx pretendeu explicitar as formas existentes, em sua época, da expressão das relações de produção e reprodução da vida, como histórica e socialmente determinadas, diferentemente do que fizeram os economistas políticos clássicos, que as naturalizaram. De seu ponto de vista, não é entendendo as formas de pensamento que se entende a história, mas é compreendendo a história, movida pela luta de classes, que se compreende as formas de pensamento. Se o método de Marx se estrutura incorporando a história como parte essencial de sua formulação, não há como ignorarmos o papel da história do pensamento econômico na formulação crítica da economia política clássica que Marx pretendeu realizar. A construção intelectual de Marx é uma composição que segue seu método e que carrega dentro de si a economia política inglesa, sem com isso se tornar parte dela, pois lhe agrega contradições (teóricas, históricas e política) que dão origem ao movimento de seu pensamento sobre economia política. A QUESTÃO DA IDEOLOGIA 10
  • 11. Afirmamos até agora que, de acordo com o próprio método utilizado por Marx, a história do pensamento econômico por ele elaborada é parte componente de seu pensamento. Há ainda um outro caminho de afirmação do mesmo ponto de vista que amplia nosso debate para além do campo do marxismo, abrindo uma batalha no âmbito da própria tradição da história do pensamento econômico. A visão mais tradicional da história do pensamento econômico é essencialmente referenciada em Schumpeter (1954) a partir de sua separação analítica fundante dos possíveis caminhos para se estudar a HPE. Na concepção de Schumpeter, a história da análise econômica se refere à história da “evolução” dos modelos analíticos de base para a teoria econômica; a história dos sistemas de economia política considera a seqüência temporal dos conjuntos de políticas econômicas que os autores sustentam sob princípios normativos unificadores; e finalmente a história do pensamento econômico seria a soma total das opiniões e desejos referentes a assuntos econômicos, especialmente relativos à política governamental, que correm pelo espírito público em determinado tempo e espaço. A sua perspectiva sustenta que a história da análise econômica concentra o que é fundamental para o estudo da história da teoria, na medida em que é um recorte “limpo” das influência ideológicas presentes nas outras partes do pensamento econômico. Além do que já está apontado quanto a construção do próprio método de pesquisa de Marx o trabalho deste autor afirma abertamente uma posição contrária a esta apresentada em Schumpeter (1954). No clássico 18 de Brumário de Luis Bonaparte (1851), Marx afirma que “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem, não fazem sob as circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Marx, 1851, p.21). Coloca-se então a pergunta de como a tradição de todas as gerações 11
  • 12. mortas oprime os vivos. Apresenta-se, assim, a questão da ideologia para o nosso debate. Se a existência determina a consciência como é que mortos oprimem vivos? O ponto é exatamente que as idéias não apenas existem, mas se materializam na forma dos elementos da superestrutura, influenciando diretamente os elementos da base econômica. Ou seja, as representações teóricas não são somente reflexo passivo da base econômica, mas ajudam a determinar as configurações da própria base. A superestrutura política e jurídica e a consciência social são representação muito concreta da forma histórica com que os seres humanos se relacionam com a natureza e entre si. Apesar dos elementos superestruturais serem uma expressão, uma noção determinada intelectualmente, de certa conjuntura histórica, também a condicionam e, por longo tempo, perpetuam as formas de relação dominantes naquele período histórico. O pensamento econômico faz parte da consciência social de sua época e deve ser reconhecido enquanto tal. Na seção 15 do capítulo IV de Teorias da Mais-Valia, Marx escreve que “para observar a conexão entre produção intelectual e a material, é fundamental antes de tudo apreender esta não como categoria geral, mas como forma histórica definida. Assim, por exemplo, ao modo de produção capitalista corresponde a produção intelectual de espécie diferente daquela do modo de produção medieval. Se não se concebe a própria produção na forma histórica específica, é impossível entender o que é característico na produção intelectual correspondente e a interação entre ambas” (Marx, 1905, p.267, grifos no original). É bastante evidente que os modos de produção duram mais tempo que as vidas individuais dos seres humanos. O mesmo ocorre com sua produção intelectual. Assim, mortos assombram vivos por meio da reprodução dos sistemas de relações sociais que incluem estrutura e superestrutura. 12
  • 13. Considerando estas observações de Marx, vale a pena fazermos uma pequena digressão sobre a concepção de ideologia. Inicialmente podemos dizer que a expressão ideologia é comumente considerada um sinônimo para conjunto de idéias. Se ideologia é apenas um conjunto de idéias, se quisermos manter nosso pressuposto materialista, coloca-se em questão quais são as relações sociais que estão representadas neste conjunto de idéias. A resposta mais comum é que as idéias são de uma época. Expressam, portanto, um determinado período histórico. Como já discutimos, a cada época histórica corresponde uma forma de produzir e reproduzir relações sociais e a vida, porém é possível que em cada época convivam formas diferentes de se realizar esta tarefa social fundamental. Qual então será a forma considerada a diferenciadora e a definidora daquele período específico? Imediatamente pensamos: é claramente aquela maneira que for a mais comum, a dominante. Assim, se a forma de produzir e reproduzir a vida que representa uma época é aquela dominante, também as idéias que a representarão serão as dominantes. Levando em conta que a primeira forma de apresentação da consciência social é o senso comum, fruto da alienação, por meio da qual os indivíduos tomam as idéias instituídas como sua própria consciência, então o conjunto de idéias dominantes de uma época se torna sua ideologia, quando se utiliza da alienação para dominação. A ideologia dominante é, portanto, a expressão ideal das relações materiais dominantes. Segundo Michael Löwy (1985), quando Marx encontra pela primeira vez o termo ideologia nos debates da primeira metade do século XIX, este está sendo usado no sentido de especulação metafísica que ignorava a realidade. Ideologia ganha assim o sentido de ilusão, falsa consciência, concepção idealista na qual a realidade é invertida e as idéias aparecem como motor da vida real. Seria neste sentido que 13
  • 14. Marx utilizaria o termo em A Ideologia Alemã. A partir desta conceituação Marx indica que o papel da ideologia é formular concepções das relações sociais existentes nas quais elas apareçam invertidas, naturalizá-las, obscurecer sua essência para poder justificá-las, apresentando um interesse particular como universal e criar o espaço para a manutenção da dominação. Para se contrapor à ideologia, na concepção de nosso autor, existe a ciência. A ciência teria o papel de compreender, revelar e historicizar as relações sociais existentes, para com isso desinverter sua forma de apresentação e abrir espaço para o questionamento da dominação. No livro 18 de Brumário, Marx amplia o conceito de ideologia e fala das formas ideológicas através das quais os indivíduos tomam consciência da vida real. Ele as enumera como sendo a religião, a filosofia, a moral, o direito, as doutrinas políticas, entre outras. Löwy nos diz que “para Marx, claramente, ideologia é um conceito pejorativo, um conceito crítico que implica ilusão, ou se refere à consciência deformada da realidade que se dá através da ideologia dominante: as idéias da classe dominante são as ideologias dominantes na sociedade” (Löwy, 1985, p.12). O conceito de ideologia segue um longo percurso na tradição marxista e vai sendo modificado em cada nova acepção. Lênin e Gramsci são os mais famosos autores marxistas que formulam novas concepções em torno no termo ideologia. Neste sentido, não é simples abrir uma discussão sobre ideologia em Marx sem se deixar influenciar pelo andamento da discussão marxista. Afinal, estamos aqui afirmando que a produção intelectual de cada época vai ser assombrada pelas idéias e pela história que a precedeu e que lhes são contemporâneas. Buscando respeitar o sentido que Marx deu ao termo ideologia, gostaríamos aqui de usar um recurso didático estabelecendo dois conceitos distintos para o nosso trabalho: ideologia e visão social de mundo. O conceito de visão social de mundo se diferenciaria daquele 14
  • 15. de ideologia por não carregar em si o objetivo de dominação, porém mantém a noção de historicidade e de perspectiva social em seu significado. Neste sentido, ideologia e visão de mundo seriam conceitos muito próximos, cuja única diferença seria o sentido de dominação que o primeiro possuiria. Tal recurso nos serve para afirmar que a Marx não escapa que a ciência não tem como se separar da visão de mundo daquele que a formula, sem implicar que todo cientista tenha um projeto de dominação por trás de seu trabalho, ainda que alguns o possam ter. Em sua crítica a Henri Storch, economista político francês da primeira metade do século XIX, o posicionamento de nosso autor é bem direto, pois afirma que: “da forma específica da produção material resulta: 1) determinada estrutura da sociedade e 2) determinada relação dos homens com a natureza. As duas determinam o governo e a visão intelectual dos homens. Em conseqüência, também o gênero da produção intelectual”. (Marx, 1905, p.267) Neste contexto, Marx denuncia a incapacidade de Storch de compreender a produção intelectual, até porque este autor a define como associada às atividades profissionais relacionadas com a classe dominante, sem compreender que estas últimas existem e se definem especificamente naquela determinada estrutura histórica por ele vivenciada. A partir disso Marx conclui que um historiador das idéias que não concebe a própria produção material no domínio histórico e a ultra-generaliza, priva-se da única base que o possibilitaria entender os componentes ideológicos da classe dominante e ainda a produção intelectual crítica a esta formação social. A HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO, POR KARL MARX 15
  • 16. O trabalho de HPE de Marx é revolucionário em sua época dada a complexidade de seu método e a sua consciência de que boa parte da produção intelectual sobre economia não passava de uma produção ideológica que rompia o compromisso científico. Neste sentido, o estudo detalhado de autores das mais variadas origens e influências era o caminho para reconstituir a linha científica da economia política. Por isso, Marx fez questão de diferenciar os economistas políticos clássicos dos economistas vulgares. Esta diferenciação está presente no posfácio da 2ª edição alemã e em algumas notas de rodapé de O capital, porém é mais claramente exposta no item 5 do Adendo à terceira parte de Teorias da Mais-Valia. Neste ponto de seu trabalho o autor alemão está se questionando sobre as formas de apresentação de como são formados os preços das mercadorias pelos clássicos e pelos vulgares. Marx aponta que os clássicos buscam a identificação da origem dos rendimentos do capital, do trabalho e da terra no reino da produção. Neste processo acabam por identificar contradições nas relações sociais e no próprio pensamento por eles construído, enfrentando as dificuldades de se produzir ciência. Os economistas vulgares procuraram dar uma aparência suave ao processo por meio do qual surgem os diferentes tipos de rendimento. Preferiram falar em juros, ao invés de lucros, para desconectar a relação entre produção e o rendimento do capital. Acabaram por intencionalmente se tornarem apologetas e realizaram tentativas extenuantes de apagar a existência das idéias que contivessem contradições. O caminho de distanciamento da ciência vai se tornando tão evidente que autores como Frederic Bastiat, contemporâneo de Ricardo, vão recorrer a explicações divinas para dar conta da origem da renda da terra, bem como se utilizam de argumentações morais e religiosas para explicar a diferença existente na distribuição da propriedade privada. Com este tipo de recurso os economistas vulgares rompem inclusive com o projeto liberal/iluminista de construção de uma ciência cujo modo de entendimento da ordem econômica e social pretendia expulsar 16
  • 17. definitivamente a explicação divina de seu seio. Marx, porém, realizava uma obra de crítica à economia política, o que significava que os economistas clássicos não estavam salvos da virulência de seus argumentos. A questão da economia política clássica estava em outro âmbito. Havia sim um compromisso em explicar a realidade no trabalho daqueles autores. Porém, não estavam interessados em verificar como cada uma daquelas formas sociais que estudavam haviam se materializado da exata maneira em que se apresentavam para eles. Todos aqueles autores tomavam cada um dos objetos que analisavam como premissas dadas, pontos de partida inquestionáveis. Assim, “a falha dos economistas clássicos era que não concebiam a forma básica do capital, isto é, a produção desenhada para se apropriar do trabalho de outras pessoas, como uma forma histórica, mas como uma forma natural da produção social; a análise levada a frente pelos próprios economistas clássicos acabou por pavimentar o caminho para a refutação desta concepção.” (Marx, 1905, p. 1538, grifos no original) A preocupação principal da obra de história do pensamento econômico de Marx não era um confronto dos métodos em si. A abertura de Teorias da Mais-Valia já nos indica o corte analítico crítico por meio do qual será feito o trabalho de HPE de Marx. Em sua Observação Geral, que consta no início do livro IV de O Capital, afirma que todos os economistas incorrem no erro de não examinarem a mais-valia enquanto tal, pura, mas nas formas especiais de lucro e de renda fundiária. Sendo assim, torna-se explícito que estudar o pensamento econômico para Marx tinha como função compreender as formulações teóricas anteriores com o objetivo de identificar seus limites, fazer a crítica e desenvolver sua própria teoria neste processo de estudo. As questões que buscou estudar nos clássicos podem ser identificadas na longa lista de capítulos e adendos, todos divididos em inúmeros subitens, que formam o livro IV. Apesar dos 24 capítulos e 17
  • 18. 26 adendos, os temas perseguidos por Marx são poucos e bem articulados: a abordagem da origem e da distribuição da renda, do lucro, dos juros e dos salários em articulação com a questão do valor, bem como a concepção do processo de acumulação e com ela as noções da composição orgânica do capital e da produtividade. Não é coincidência que estes sejam os mesmos temas presentes nos três primeiros livros de O Capital, nos quais Marx expõe a sua própria explicação crítica para a produção e reprodução do sistema capitalista. A pesquisa de HPE elaborada por Marx seguiu a estrutura teórico- conceitual apresentada no pensamento econômico, primordialmente científico, produzida entre os séculos XVII e XIX. Nela mapeou-se os principais debates que Marx considerou fundamentais para construir sua própria contribuição interpretativa e que são alguns dos principais temas da economia política marxista até os dias atuais. Teorias da Mais-Valia ganha este título porque busca identificar como tantos autores se aproximaram da questão da mais-valia sem identificá-la em sua complexidade. O conceito de excedente é a primeira formulação que indica a presença de uma reprodução de riqueza em volume maior que aquela que fora necessária para produzi-la. Deste ponto de partida iniciam-se as questões sobre de onde vem esta riqueza e, associada a ela, a pergunta sobre para quem deve ir tal riqueza. As respostas a estas questões originárias do projeto da economia política estão mapeadas desde as contribuições de William Petty, dos fisiocratas e de David Hume passando, por Adam Smith, James Steuart, chegando a David Ricardo, Rodbertus, Thomas Malthus, Robert Torrens, James Mill e seu filho John Stuart Mill. Nenhuma delas satisfaz a Marx, por isso se tornam sua referência crítica. Neste sentido, a proposta de leitura da HPE por Marx é parte essencial de sua construção crítica. Estudar a forma de apreensão da realidade capitalista expressa pelos cientistas sociais de sua época era 18
  • 19. o caminho de acesso à compreensão histórica dos problemas se sua época. Sem abrir mão de ser um homem do seu tempo, Marx introduz a contradição no pensamento dominante com que se confrontara e constrói uma síntese única que se expressa em sua forma de interpretação das relações sociais vigentes. CONCLUSÃO O Capital em seus quatro livros é o resultado do esforço de Marx de propor uma nova leitura da realidade estrutural e superestrutural em que vivia, abrindo a perspectiva de um questionamento das formas de organização da produção e reprodução da vida no capitalismo e com ela das idéias que a representam. Sua pesquisa da HPE é parte constitutiva deste projeto, especialmente porque esta representa a consciência e a ciência social do sistema que buscava compreender e superar. Esta compreensão integrada do trabalho de Marx torna fundamental a tarefa de estudar a história do pensamento econômico elaborada por ele, tanto para o entendimento contextualizado de sua obra, quanto para inserí-lo de maneira adequada da HPE. Nosso autor é um pensador do seu tempo, com os limites e as possibilidades que sua visão de mundo abriram para ele. Também, como todo grande cientista de seu tempo, contribuiu de maneira crítica para elaborar uma interpretação do capitalismo. Tal interpretação permanece como referência fundamental para compreender atualidade. Afinal, por mais tempo que tenha passado entre a produção intelectual de Marx e os dias de hoje, a ordem histórica vigente permanece sendo a ordem capitalista. BIBLIOGRAFIA BHARADWAJ, K; Themes in value and distribution; classical theory reappraised, Unwin Hyman, London, 1988. 19
  • 20. EAGLETON, T. (1991) Ideologia, Boitempo Editorial, Unesp Editora São Paulo, 1997. GAREGNANI, P. & PETRI, F.; Marxismo e Teoria Econômica hoje, in: Hobsbawn, E., História do Marxismo, vol. 12, Paz e Terra, 1989. GAREGNANI, P.; The Labour Theory of Value: ‘detour’ or technical advance?, in: Caravele, G.A. (ed), Marx and the Modern Economic Analysis: Values, Prices and Exploitation: The Future of Capitalism and the History of Thought, Edward Elgar, 1991. GOLDMAN, L (1956), Dialética e Cultura, Paz e Terra, 1967. IASI, M.L. (2007) Ensaios sobre consciência e emancipação, São Paulo: Expressão Popular. KURZ, H.; Against the current: Sraffa’s unpublished manuscripts and history of economic thought, The European Journal of History of Economic Thought, Routlegde, London, 1998. LEFÉBVRE, H. (1969), Lógica formal/ lógica dialética, Coleção Perspectivas do Homem, Ed. Civilização Brasileira, 1979, 2ª edição. LENIN, V. I (1913); As três fontes e as três partes constituintes do Marxismo, 1ªEdição: Prosvechtchénie, nº 3, Março de 1913. In: Obras Completas de LENIN, V.I., 5.edição .em russo, tomo 23, pp.40-48., utilizado na versão encontrada em http://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/03/tresfont.htm _________ (1915) Obras completas. Moscú: Progresso, v.29, 1986. (“Resumen del libro de Hegel ‘Ciencia de la Logica’”, escrito en septiembre-diciembre de 1914, p. 75 a 216) (“Resumen del libro de Hegel ‘Lecciones sobre la filosofia de la Historia’”, escrito en 1915, p.281 a 291); (“Plan de la dialectica (logica) de Hegel”, escrito en 1915, p.298 a 303); (“Sobre el problema de la dialectica”, escrito en 1915, p.321 a 328). LÖWY, M. (1985); Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista, São Paulo: Editora KONDER, L. (2002) A questão da ideologia, São Paulo: Companhia das letras MARX, K. (1844), Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004. _________ (1851), 18 de Brumário de Luis Bonaparte. 7ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. _________ (1857), Para a Crítica da Economia Política, Coleção Os Pensadores, Nova Cultural, São Paulo, 2005. _________ (1859), A Contribution to the Critique of Political Economy, traduzido para o inglês por Ryazanskaya, S.W. e editado por Dobb, M., Progress Publishers, Moscow, 1970. ________ (1867), O Capital: crítica da economia política, Coleção os Economistas, Nova Cultural, São Paulo, 1985 20
  • 21. ________ (1905), Teorias da Mais-valia: história crítica do pensamento econômico, Bertrand Brasil, 1987 traduzida da edição Russa de 1954. ________ (1939-41) Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie, versão em inglês disponível no site http://www.marxists.org/archive/marx/works/1857/grundrisse/ MARX, K. E ENGELS, F. (1846), A ideologia Alemã, São Paulo: Martins Fontes, 1989. MEEK, R., Economia e Ideologia, Zahar, Rio de Janeiro, 1971. NUNES, R; BIANCHI, A. M.(1999); Duas maneiras de contar a história do pensamento econômico. In: Revista de Economia Contemporânea, nº5, janeiro-junho de 1999. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, p.93-114. RICARDO, D. (1817), Versão de P.Sraffa (1951); Princípios de Economia Política e Tributação, Coleção Os Economistas, Nova Cultural, 1986. RICARDO, D. (1928), Versão de P.Sraffa (1951); Notas aos Princípios de Economia Política de Malthus, Coleção Os Economistas, Nova Cultural, 1986. RUBIN, I (1929), A history of economic thought, Pluto Press, 1979. SCHUMPETER, J.A. (1954); History of Economic Analysis, George Allen and Unwin, London, 1954. SMITH, A. (1776); A Riqueza das Nações, Coleção Os Economistas, Nova Cultural, 1986. SRAFFA, P.(1951); Introdução in: RICARDO, D. (1817), Versão de P.Sraffa (1951); Princípios de Economia Política e Tributação, Coleção Os Economistas, Nova Cultural, 1986. SRAFFA, P.(1960); Production of Commodities by Means of Commodities, Cambridge University Press, Cambridge, 1960 TOLIPAN, R. (1982); A necessidade do pensamento econômico, Texto para Discussão nº 3, Rio de Janeiro: Instituto de Economia, IE/UFRJ, 1982. 21