A construção da Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro causou grandes transtornos e demolições de edifícios históricos. A abertura da avenida fazia parte de um plano de obras para desafogar o trânsito da cidade e exigiu a derrubada de igrejas, praças e quarteirões inteiros. Após anos de obras e demolições, a avenida foi inaugurada em 1944.
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
1. A Construção da Avenida Presidente
Vargas
(O Antes, o Durante e o Depois)
Quem hoje passa pela movimentada Avenida Presidente Vargas,
no Rio de Janeiro, não faz ideia dos transtornos ocorridos por
ocasião da construção da vasta avenida .
A abertura da avenida era parte de um amplo Plano de Obras
levado a efeito na gestão do Prefeito Henrique Dodsworth,
encomendado ao engenheiro Édison Passos, Secretário de Viação,
com o objetivo de desafogar o trânsito da cidade.
2. • Grandes foram as dificuldades enfrentadas para a sua
realização: a oposição dos proprietários dos imóveis que
estavam em seu traçado; a extinção de logradouros públicos
como o Largo do Capim; o Largo de São Domingos; a famosa
Praça Onze, da qual hoje existe um simples arremedo; uma
grande parte da Praça da República que foi, também,
eliminada para a passagem do leito da nova avenida; a
destruição de importantes edificações como o Paço
Municipal, sede da Prefeitura, assim como a comoção
provocada no espírito religioso e tradicionalista de muitos
pela demolição de diversos templos, dentre os quais as igrejas
de São Pedro, do Bom Jesus do Calvário, de Nossa Senhora
da Conceição e a Capela de São Domingos. Cogitou-se, até
mesmo, de pôr abaixo a Igreja da Candelária, a qual só foi
preservada ao se decidir que ela permaneceria dentro da
própria avenida.
3. Construída entre os anos de 1732 e 1740, a Igreja de São
Pedro dos Clérigos era ornamentada com obras do Mestre
Valentim e tinha um estilo único na cidade: o corpo era em
rotunda, com quatro arcos, e o zimbório (espécie de domo)
copiava os templos romanos. Foi feita uma tentativa de
removê-la para outro lugar. No entanto, bastou os operários
iniciarem as escavações dos alicerces da igreja para que o
“Foi assim, de fato, desabasse.
templo simplesmente pela simples e obstinada preocupação de
pôr-se o eixo da nova Avenida Presidente Vargas em rigoroso
alinhamento com a Avenida do Mangue, que se obteve do
Presidente da República cancelar a inscrição daqueles
monumentos nos Livros do Tombo, despojando-nos, feita
abstração dos outros, da joia singular da arquitetura sacra, que
era a Igreja de São Pedro”, assim descreve o historiador Gastão
Cruls em seu livro “Aparências do Rio de antiga designação do
Observação: Avenida do Mangue era a Janeiro”.
trecho da atual Avenida Presidente Vargas desde a Praça
Onze até a Avenida Francisco Bicalho.
4. Foram demolidos os quarteirões que formavam o lado par da
Rua General Câmara e o ímpar da Rua de São Pedro, fundindo
as duas em uma só via. Da mesma maneira, também as ruas
Visconde de Itaúna e Senador Eusébio, ao longo do Canal do
Mangue, também se fundiram numa só para a construção da
avenida.
A Rua General Câmara era tradicionalmente conhecida como
Rua do Sabão e a designação devia-se à localização em um de
seus trechos do armazém de sabão aonde a população do Rio
colonial ia se abastecer desse produto, no tempo em que o
monopólio de fabricá-lo e vendê-lo pertencia, sempre, a um
amigo do Rei português ou a um de seus ministros. Esse nome
serviu para designá-la até 1870, quando a Câmara Municipal
Quando seu nome para General Câmara, em do Campo ao
mudou ofoi aberta outra em continuação, além homenagem de
Santana, foi denominada pelo povo com a do de Lopez,
vencedor do combate do Serro Corá que, de Ruamorte Sabão da
Cidade à Guerra do Paraguai.
pôs fim Nova, também rebatizada de Visconde de Itaúna após
o seu prolongamento até a Ponte dos Marinheiros.
5. • A centenária Rua de São Pedro se desenvolveu a partir da
igreja nela construída pela Irmandade dos Clérigos de São
Pedro ou de São Pedro dos Clérigos, rica e bela como
poucas havia no país. A rua se estendia desde a altura da
Candelária até o Campo de Santana (Praça da República).
• Tal qual a Rua do Sabão, ao ser aberta outra além do
Campo, como continuação dela, o povo que tanto a queria,
a denominou Rua de São Pedro da Cidade Nova. Anos
mais tarde, ao ser prolongada até a altura da atual Ponte
dos Marinheiros, teve o nome alterado para Senador
Eusébio.
• A Avenida Presidente Vargas foi, enfim, inaugurada no
dia 7 de setembro de 1944 quando, pela primeira vez, nela
se realizou o desfile militar comemorativo da
Independência do Brasil e que contou com a presença,
entre outras autoridades, do próprio homenageado na
6. Sob os acordes plangentes de “Sons de Carrilhões”, de autoria
de João Pernambuco, em exímia execução de Dilermando Reis,
como que a lamentar o silêncio imposto aos sinos que dobravam
em diversas igrejas demolidas para a abertura da ampla
avenida, apresento algumas fotos retratando o seu espaço ,
antes, durante e após a construção.
21. Largo de São Domingos – A Igreja e o Largo se
localizavam onde hoje é a Av. Presidente Vargas, em
frente à Av. Passos. O largo fazia esquina com a Rua
22. Igreja de São Domingos situada no largo de mesmo
nome
23. Igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida
para a abertura da Av. Presidente Vargas.
24. Igreja de São Pedro dos Clérigos (Foto de
Marc Ferrez)
25. A Praça da República, em 1905, Com a Escola Rivadávia
Correa ao Fundo
(Este é o espaço hoje ocupado pelo Panteon do Duque de
26. O Paço Municipal, sede da Prefeitura, demolido para a
abertura da Avenida Presidente Vargas (foto de 1893-
28. Largo do Capim – Situava-se entre as ruas Gen. Câmara, de São
Pedro e dos Andradas. Em 1790, a municipalidade determinou
que ali fosse estabelecido um local para a forragem dos animais
de montaria, carruagens e veículos de carga, surgindo, assim, a
denominação de Largo do Capim. Em 1925, o seu nome foi
alterado para Praça Lopes Trovão que perdurou até 1943,
30. Obras de abertura da Av. Presidente Vargas ,
vendo-se o extinto Largo de São Domingos e
as suas árvores.
31. Obras de pavimentação da Av. Presidente Vargas, vendo-se,
ao fundo, a Praça da República ainda no seu trajeto.
32. Rua Senador Eusébio, cruzamento com a Rua de Santana,
com várias edificações já demolidas (Ao fundo, vê-se o
prédio da Central do Brasil ainda sem o seu característico
33. Rua Senador Eusébio em fase de demolição para a
abertura da Av. Presidente Vargas (Ao fundo, vê-se
parte da Praça da República)
1943
36. Rua Visconde de Itaúna em fase de demolição para a
abertura da Av. Presidente Vargas (Vê-se o prédio da
Central do Brasil ainda sem o relógio e, ao fundo, parte
37. Praça 11 de Junho – O Processo de Demolição - 1943
38. Esquina da Av. Presidente Vargas com a Praça da República
(atente-se, à esquerda do prédio, a Casa de Deodoro até hoje
40. Vista panorâmica da Av. Presidente Vargas . À esquerda,
vê-se parte do edifício do atual Comando Militar do Leste
(antigo Ministério da Guerra); aEscola Rivadávia Correa;
ao fundo, a Igreja da Candelária e, à direita da foto, parte
da Praça da República (Fotografia tirada, provavelmente,
47. Referências Bibliográficas:
-Aparências do Rio de Janeiro, de Gastão Cruls
- História das Ruas do Rio, de Brasil Gerson
- Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, de Vivaldo
Coaracy
- Sites diversos disponíveis na Internet
- Fundo Musical: Sons de Carrilhões, Autoria de João
Pernambuco
Interpretação de Dilermando Reis