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Freud e a Educação (Maria Cristina Kupfer) I – Freud, aluno e mestre.
Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 em Freiberg ( hoje Pribor), pequena
cidade da Morávia, que na época, pertencia à Áustria e hoje está anexada à
Tchecoslováquia. Seus pais eram judeus e a sua família bem numerosa. Era o mais
velho dos oito filhos do segundo casamento de seu pai. Já contava, ao nascer, com dois
meio-irmãos, mas era o preferido. Desde cedo, os pais esperavam que se tornasse um
grande homem o que fez Freud desenvolver sua autoconfiança e o desejo de saber. Sua
inteligência era constantemente desafiada estimulando-lhe desejo perene de
compreender as coisas. Os pais jamais mediram esforços nem sacrifícios para lhe
oferecer uma educação completa.
Tratava-se de um ensino cujos fundamentos eram as Humanidades. Atravessou a vida
escolar com sucesso saindo com amplos conhecimentos sobre as culturas grega e latina,
o aprendizado de várias línguas e com interesse pela arqueologia, que lhe fornecera, no
futuro, muitas metáforas (“a escavação das camadas profundas da mente”).
Dizia que a Educação foi sua ferramenta fundamental por três motivos:
_Ascensão social na Viena da época, já que era pobre e judeu.
_A Educação lhe permitiu penetrar num círculo de vienenses cultos.
_Precisava ter acesso aos domínios do conhecimento de seu tempo para acrescentar
algo.
As relações de um discípulo com seu mestre foram objeto de reflexões do próprio
Freud e sua idéia básica era a de que os professores herdam as inclinações carinhosas
ou agressivas antes dirigidas aos pais.
Assim que se formou Freud começou a trabalhar no laboratório de Fisiologia de Ernest
Brucke, uma pessoa que inspirava respeito. Abandonou o mestre, depois de 6 anos,
convencido por ele de que a pesquisa pura era adequada para aqueles que possuíam
melhores recursos financeiros. Ingressou, em seguida no Hospital Geral de Viena,
trabalhando em várias especialidades, destacando as relações com Meynert, um grande
especialista em anatomia do cérebro. Ao afirmar que a Histeria não era um mal
exclusivamente feminino, encontrou em Meynert uma grande resistência. Deixou-o
para trás passando a dedicar-se ao estudo das doenças nervosas, sendo seu próprio
mestre Em 1885, Freud foi a Paris para conhecer os trabalhos de Charcot, grande nome
da neuropatologia, o terceiro de seus mestres.
A superação das idéias de Charcot foi inevitável por causa do advento da Psicanálise,
com melhores caminhos para a tratamento da histeria. E mais uma vez se repete o
movimento freudiano de superação de abandono dos mestres.
Nos anos em que trabalhou no laboratório de Brucke, Freud conheceu Joseph Breuer,
um clínico geral de renome, 14 anos mais velho que ele e se tornaram grandes amigos.
Em 1896, escreveram uma obra conjunta: Estudos sobre a Histeria. No entanto,
discordavam num ponto: para Freud, a causa da histeria era de natureza sexual e com
isto Breuer não concordava, e aos poucos os dois foram se distanciando. Como queria
gerar conhecimento, Freud sabia ser necessário ser mestre de si mesmo, mas algo
inconsciente o impedia e para remover impedimentos dessa ordem é preciso um
analista. Encontrou-o na figura de Wilhelm Fliess, que desempenhou, sem o saber, o
papel de analista, investido de autoridade e confiança, porém, sem interpretar coisa
alguma. Nessa auto-análise concluiu que não precisava de professores; cabia ao seu
verdadeiro pai ajudá-lo. Assim, rompeu definitivamente com os antigos mestres
passando a ocupar ele próprio, um lugar de mestre, pôs fim à busca de um mestre-pai
e reencontrou a si mesmo. Entretanto, ser o próprio mestre não significava ocupar o
lugar do pai junto à sua mãe. Era preciso matar simbolicamente o pai, depois de
admitir a superioridade dele, para poder, em seguida, ser um criador.
A partir daí, Freud torna-se chefe de uma escola e organizador de uma instituição
voltada para a divulgação da Psicanálise e formação de analistas. Era um chefe
terrivelmente autoritário, sendo capaz de aprender com seus pacientes, mas romper
com quem o ameaçasse com idéias, que segundo ele, iriam desvirtuar a Psicanálise. Seu
magnetismo, brilho e inteligência, cegavam quem dele se aproximasse. A essa força de
atração entre ele e seus discípulos, Freud chamou de transferência.
II - Freud pensa na Educação.
No final do século XIX, predominavam as explicações orgânicas e psiquiátricas para
doenças como as esquizofrenias, as psicoses e a histeria. Os tratamentos eram:
eletroterapia, banhos, massagens, hidroterapia,, internação e hipnose. Pouco sabiam a
respeito de suas causas.
A histeria é que lhe chama a atenção pelo grande número de pacientes que o procuram
com vários sintomas: vômitos, alucinações visuais, contrações, paralisias parciais,
perturbação de visão, ataques nervosos e convulsões. Freud queria observar, analisar e
encontrar as origens daquilo.
No caso da histeria, a idéia incompatível é expulsa pelo “eu” e tornada inócua por sua
transformação somática. Freud chama isso de conversão.
Se as idéias incompatíveis são quase sempre de natureza sexual, então, o que há de
insuportável na sexualidade? Esta dúvida conduziu-o à Educação para averiguar qual
o seu papel na condenação da sexualidade, e daí a descoberta da sexualidade infantil.
É obvio que a moral transmitida pela Educação incute no indivíduo, noções de pecado
e vergonha que ele deve ter diante das práticas sexuais. Restava propor que a educação
não fizesse uso abusivo de sua autoridade porque a correção educativa, embora
necessária, nem por isso precisava ser excessiva.
1.As pulsões parciais.
Para entender a sexualidade infantil, Freud estudou as perversões. Descobriu que na
constituição dos seres humanos estão presentes práticas de natureza perversa, que irão
desaparecendo pela repressão, submetendo-se ao domínio das práticas genitais com
vistas à procriação. Algumas perversões (exibicionismo, curiosidade dirigida aos
órgãos genitais dos seus companheiros, prazer de sucção, prazer ligado à defecação),
que permanecem no adulto são o resultado dessas perversões parciais infantis que se
recusaram a cair sob o domínio da genitalidade.
A cada um desses aspectos perversos, presentes na sexualidade infantil, Freud chama
de pulsões parciais. Será uma pulsão dirigida ao próprio corpo, que não buscará um
outro corpo, como acontecerá por ocasião do desenvolvimento da genitalidade.
As pulsões parciais possuem caráter errático; o objeto pelo qual se satisfaz é indiferente
e intercambiável, logo pode se enveredar por caminhos socialmente úteis. É passível de
sublimação e para Freud a Educação terá papel primordial nesse processo.Eis aí o
ponto que interessa ao educador.
2. Sublimação e Educação.
Uma pulsão é dita sublimada quando se dirige a um alvo não-sexual visando objetos
socialmente valorizados. Nessa busca de um objeto pode haver uma dessexualização,
pois a energia (libido) continua a ser sexual, mas o objeto não o é mais. A antiga ânsia
sexual ainda se faz presente, só que de um modo mais brando, justificando a busca
daquela atividade sublimada.
As bases necessárias à sublimação são fornecidas pelas pulsões sexuais parciais e
claramente perversas. Uma ação educativa que “atacasse” essas pulsões, não só
fracassaria, mas também faria desaparecer a fonte de um “bem” e que “a tentativa de
supressão das pulsões parciais não só é inútil como pode gerar efeitos como a
neurose”.
Dizia Freud que sem perversão não há sublimação e sem sublimação não há cultura.
Pode ser identificado como o pedagogo clássico que via na criança um mal originário,
diferente de Rousseau que afirmava a existência de um bem natural, depois subvertido
pela cultura.
Resta, então, dirigir de forma mais proveitosa a energia que move tais pulsões,
transformando, por exemplo, a pulsão escópica em curiosidade intelectual,
desempenhando papel muito importante no desenvolvimento do desejo de saber.
Freud esperava que os próprios educadores construíssem seu método e criassem
modos de operação.
Freud afirma que a hostilidade da civilização, representada por uma educação
repressora, é semelhante à defesa que o eu levanta contra a pulsão sexual produzindo a
neurose. Também a Educação exagera e produz efeitos semelhantes. Freud chega a
afirmar qe há uma vocação da humanidade para a neurose.
Reich e Marcuse dão explicações políticas e afirmam que a repressão sexual é uma das
armas de que se serve a opressão política a fim de garantir a submissão das massas.
Millot conclui que as classes sociais no poder fazem uso, em benefício próprio, da
repressão já instalada por outros meios, pois há a possibilidade de a sublimação vir a
ser operada, controlada, de fora, já que não é, na verdade, um mecanismo ao alcance da
consciência.
Freud declara o seguinte: o educador é aquele que deve buscar, para seu educando, o
justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais.
3.A Educação Sexual das Crianças.
Nessa época em que Freud formula as relações entre cultura e sublimação, seu discurso
é otimista. Era consultado a respeito da melhor maneira de educar os filhos, e
respondia que as crianças devem receber educação sexual, assim que demonstrem
interesse pela questão. Pais e professores deveriam ser esclarecidos acerca da existência
da sexualidade infantil. Freud observava nos pais uma incompetência para esses
assuntos e, por isso, não devem se ocupar do esclarecimento sexual das crianças. Já
foram crianças e se esqueceram da sexualidade infantil; se esqueceram, é porque foram
reprimidos e as forças que reprimiram estão ainda atuando no sentido de não fazê-los
lembrar.
Também para o educador a infância não é mais acessível e por isso é necessário que ele
volte a fica bem com a criança que há dentro dele, através de uma análise.
As crianças costumam dar suas próprias explicações para as questões sexuais e como
nascem os bebês e que dependem dos momentos de desenvolvimento sexual em que se
encontram. Surgiram três tipos de explicações:
_ As crianças nascem pelo ânus da mãe;
_ Tanto os homens como as mulheres possuem pênis;
_ O coito é sempre de natureza agressiva e sádica.
III – A desilusão de Freud com a Educação.
Por que Freud afirmou que “a Educação é impossível?” Todas as suas idéias, sobre a
Educação, inspiradas pela Psicanálise foram por ele mesmo questionadas:
_O educador deve promover a sublimação, mas sublimação não se promove por ser
inconsciente.
_O educador deve esclarecer as crianças a respeito da sexualidade, se bem que elas não
darão ouvidos.
_O educador deve se reconciliar com a criança que há dentro dele, mas é uma pena que
ele tenha se esquecido de como é esta criança.
_E a conclusão: “A Educação é uma profissão impossível”.
1.O inconsciente.
Observamos que é com a idéia de inconsciente que esbarramos o tempo todo. Charcot,
observando as pacientes histéricas, dizia que havia uma divisão da consciência devida
a uma debilidade congênita de algumas mulheres. Para Freud, que aceitou essa
explicação, a divisão da consciência era fruto de forças psíquicas encontradas no
interior do psiquismo, o resultado da luta entre o “eu” e os impulsos de natureza
inconsciente. O aparecimento do sintoma neurótico era o modo como se resolvia o
conflito, pois esse era o disfarce que a pulsão se manifestava. Além dos sintomas,
Freud descobriu outras manifestações ao lado dos sintomas como os sonhos e os atos
falhos.
Os atos falhos (lapsos) são pequenas manifestações que emergem em nossa fala, sem
que nos demos conta e que pode revelar nossos mais íntimos segredos. Alguém que
fala pode expressar muito mais do que está querendo dizer.
Com essa descoberta a consciência foi desalojada da posição de comando que vinha
ocupando até então na Filosofia. A consciência não é mais o centro do nosso
psiquismo, não reina sobre a nossa vontade.
O aparelho psíquico se organiza sempre de modo a obter prazer e bem-estar, ou então,
no caso do sintoma, para obter o desprazer menor. A busca do prazer costuma ser cega
e é por isso que ao princípio do prazer opõe-se o princípio da realidade, que regula,
administra e dirige essa busca, funcionando como uma ligação do indivíduo com a
realidade e seus perigos. É o princípio da realidade que não permite que o indivíduo se
destrua achando os melhores meios para a obtenção do prazer considerando as
limitações impostas pela realidade.
Há sempre um conflito entre o “eu” dirigido pelo princípio da realidade (pulsões de
conservação) e de idéias incompatíveis dirigidas pelo princípio do prazer (pulsões
sexuais).
Freud supôs que o desprazer emanava do conflito entre as forças em oposição_as
pulsões sexuais versus as pulsões de autoconservação. Entretanto, há algo no
psiquismo que escapa ao princípio do prazer: a repetição (o neurótico repete sem
cansar, atos que lhe causam sofrimento) e Freud não conseguia entender como o
indivíduo conseguia encontrar prazer em seu permanente exercício. Entreviu a ação de
uma força irreprimível, independente do princípio de prazer e oposta a ele, sem
contudo, ser aliada ao princípio de realidade. Essa força tem um caráter mortal
barrando o caminho ao desenvolvimento porque a ação da repetição fixa, torna as
coisas permanentes e imutáveis, mostrando a Freud a “face da morte” em plena ação
entre as forças que atuam sobre a vida de um indivíduo.
Freud afirma existir em todo ser vivo uma tendência para retornar ao estado
inorgânico, pois a vida surgiu do não-vivo.
É tão grande a importância desse novo conceito que Freud é levado a formular a
dualidade pulsional em novas bases. A luta no interior do psiquismo não se dá mais
entre as pulsões do “eu” e as pulsões sexuais. Freud reúne ambas de um só lado, pois
elas agem a serviço da vida, de Eros, interessadas na conservação da espécie. Seu
inimigo é a pulsão de morte, interessada em conduzir o indivíduo à estabilidade, onde
nada se movimenta, a matéria está inerte _ como a morte.
2.Conseqüências para o pensamento de um educador.
Como criar um sistema pedagógico partindo de tais afirmações? As realidades do
inconsciente e da pulsão da morte não casam bem com a promoção de bem-estar e de
felicidade próprios da educação. Contudo, o que não pode ser esquecido é a idéia de
que tais forças, presentes no interior do psiquismo, escapam ao controle dos seres
humanos e, portanto, ao controle do educador. Poderíamos dizer, então, que a tarefa
de educar se vê dificultada pela ação do inconsciente? Por que Freud afirmou que a
Educação, a Política e a Psicanálise são tarefas impossíveis?
A Educação exerce seu poder através da palavra. Seu discurso, dirigido à consciência
tenta estimular os indivíduos a se conduzirem em uma direção por ela mesma
determinada. Da palavra extrai seu poder de convencimento e de submissão do
ouvinte a ela.
No entanto, a realidade do inconsciente ensina que a palavra escapa ao falante. Ao
falar, um político e um educador poderá se perder e revelar-se indo em uma direção
contrária àquela que seu “eu” havia determinado.
Ensina a Psicanálise que a palavra é ao mesmo tempo lugar de poder e submissão, de
força e de fraqueza, de controle e de descontrole. Com, então, educar sobre uma base
paradoxal? É que, para Freud, o domínio, a direção e o controle, que estão na base de
qualquer sistema pedagógico, jamais poderão ser integralmente alcançados.
Freud termina aqui com uma conclusão decepcionante: a Psicanálise não serve de
fundamento para a Pedagogia; não pode servir como princípio organizador de um
sistema ou de uma metodologia educacional.
Haverá, então, outro modo de a Psicanálise contribuir para um educador?
IV _ A Era Pós-freudiana.
Foram, pelo menos, três as direções tomadas pelos teóricos interessados no casamento
da Psicanálise com a Educação.
No início do século XX, na Suíça, Oskar Pfister e Hans Zulliger tentaram a criação de
uma disciplina, a Pedagogia Psicanalítica.
Outra tentativa foi a transmissão da teoria psicanalítica a pais e professores. Ana Freud
foi a principal representante desse grupo.
A terceira e mais moderna tenta transmitir a Psicanálise a todos os representantes da
cultura interessados em ampliar sua visão de mundo. Embora a expansão sobre a
cultura tenha sido grande, não chegou a atingir de modo significativo, a educação.
Karl Abraham, um dos discípulos de Freud foi quem formulou as fases do
desenvolvimento afetivo-emocional das crianças, se opondo em relação às descrições
pedagógicas basicamente cognitivas ou intelectuais.
A primeira parte da elaboração freudiana que caiu no domínio público foi o Complexo
de Édipo,descrevendo as relações afetivo-emocionais das crianças com seus pais. As
crianças que atravessam essa estrutura pré-fixada aprendem algo: como articular seu
desejo com uma lei humana universal que o regulamente: a lei do incesto. Aprendem a
ser um homem ou uma mulher, mesmo que um homem aprenda a ser uma mulher e
“prefira” esse papel ao que coincidiria com o seu sexo biológico.
Trata-se de uma estrutura, através da qual, o ser humano define-se como ser sexuado.
Mas não são meras imitações daquilo que fazem papai e mamãe. As identificações são
processos inconscientes e por isso não basta ensinar os pais como procederem diante
de seus filhos. Ele pode se tornar autoritário ou mesmo, se teve problemas com o
próprio pai, essas antigas relações atuarão de modo inconsciente.
V – O Casamento da Psicanálise com a Educação.
Oskar Pfister foi um pastor protestante que encontrou na Psicanálise um instrumento
auxiliar na educação de jovens, em Zurique. Iniciou um trabalho que viria colaborar
para a criação, mais tarde, da Psicanálise de Crianças. Pretendia usar a Psicanálise para
conduzir as forças inconscientes ao caminho do bem, sendo este definido nos termos
da religião que professava. Apoiava duas orientações bastante claras: O educador deve
funcionar como um analista perseguindo um fim moral.
Imaginava ser necessário colocar-se como modelo, promovendo uma identificação com
ele como ideal de vida e de pensamento. É nesse momento que a Pedagogia e a
Psicanálise se separam nitidamente, pois, como propiciar ao aluno a liberdade
associativa e a fala livre para ser interpretado se o fim é a moralidade bem comportada
e definida pelo educador?
Pfister propõe o casamento da Psicanálise com a Educação, ouvindo a manifestação
livre do inconsciente e, ao mesmo tempo produzindo seu representante moral. Devido
à incompatibilidade, esse casamento não durou muito.
Hans Zulliger, assim como Pfister, seu mestre, tem seu nome ligado à Psicanálise de
crianças, que praticou ao lado de suas atividades como mestre-escola. Conseguiu
algum sucesso liberando alguns alunos de suas inibições no campo da aprendizagem,
da hostilidade e da agressão, da falta de amizades, da incontinência noturna, dos
sentimentos de culpa provocados pela masturbação, assim como de roubos impulsivos
e de outros sintomas similares.
Zulliger, simplesmente psicanalisava seus alunos e prescrevia medidas a serem
tomadas pela escola. A prática da psicologia escola de hoje tem suas raízes no trabalho
de Zulliger, visivelmente mais clínico do que pedagógico. Não estamos diante de um
casamento da Psicanálise e Educação, mas de um “ajuntamento”. Seus estudos
contribuíram para a transformação de certas práticas, correntes na época, tais como os
castigos violentos.
Uma criança educada à base de castigos e confinamentos (celas pintadas de negro, sem
móveis e sem janelas) acabará por ceder, apenas para, logo depois, retomar seus
comportamentos agressivos, assim que se sentir livre de todos os constrangimentos.
A partir dos anos 50, as instituições para a reeducação de crianças com desvios de
comportamento começaram a se multiplicar. Ao menor sinal de problemas
“psicológicos”, a criança já era encaminhada para especialistas que bombardeavam o
aluno com tratamentos psicomotores, fonoaudiológicos, ludoterápicos e
psicopedagógicos, fazendo da análise um instrumento de dominação e seleção.
Em 1925 entra em cena, na Inglaterra, Melanie Klein, vinda da Alemanha a convite de
Ernest Jones. Uma das suas preocupações era dar ênfase à vida de fantasia das
crianças, assim conseguindo com que muitos pais e educadores ingleses suportassem
melhor suas manifestações sádicas e agressivas.
Catherine Millot é a psicanalista da atualidade que melhor representa a posição de
uma Psicanálise que não pode, de modo algum, casar-se com a Educação. A
Psicanálise, como um corpo de conhecimento, aceita o debate com a cultura, mas
aplicar, não. A única aplicação possível é na clínica psicanalítica.
Partindo desse pensamento, Millot dedicou-se ao estudo das relações entre Psicanálise
e Educação propondo três questões:
1. Pode haver uma educação analítica no sentido de a educação ter uma perspectiva
profilática em relação às neuroses?
2. Pode haver uma educação analítica no sentido de visar aos mesmos fins de um
tratamento psicanalítico (resolução do Complexo de Édipo e superação de
castração)?
3. Pode haver uma educação psicanalítica que se inspire no método psicanalítico e o
transponha para a relação pedagógica? A todas essas perguntas, Millot responde
com um “não”. A Educação a que se refere a primeira pergunta é a Educação pré-
escolar, a cargo dos pais.
O próprio Freud se mostrou, a princípio, entusiasmado, ao descobrir o papel da
repressão no desenvolvimento das neuroses. Supôs que uma educação menos
repressora evitaria as neuroses do mundo adulto (análise do pequeno Hans). No
entanto, passados trinta anos, confirmou que os conflitos psíquicos são inevitáveis
(castração e complexo de Édipo).
A resposta à segunda pergunta, também é negativa. Quando a criança chegasse à
educação regular, sua formação já estaria concluída.
Quanto à terceira pergunta, para justificar sua negativa, Millot diz que nenhuma teoria
pedagógica permite que se calculem os efeitos dos métodos postos em ação, pela
interferência do inconsciente do pedagogo e do educando. Não há como construir um
método pedagógico a partir do saber psicanalítico sobre o inconsciente, pois não há
método de controle do inconsciente.
Para que houvesse uma Educação Analítica, seria preciso que ela renunciasse àquilo
que a fundamenta, que é sua razão de ser. Precisaria deixar de ser Educação. Também
não seria possível que o pedagogo ocupasse o lugar do psicanalista, exercendo uma
influência analítica sobre a criança. Para isso teria que ter neutralidade e em Educação
isso é impossível e até mesmo desaconselhável.
Conhecer a impossibilidade de controlar o inconsciente pode levar a identificar nossos
verdadeiros limites e ficamos reduzidos á impotência.
A existência do inconsciente significa a renúncia a toda a construção civilizatória já que
esta está fundada na negação do inconsciente e na afirmação dos poderes da
consciência e da razão.
Finalmente, concluímos que é preciso buscar um ponto de equilíbrio em que o
educador possa se beneficiar do saber psicanalítico sem abandonar seu papel ou tentar
sistematizar esse saber em uma pedagogia psicanalítica.
Não se trata de transformar professores em analistas, pois são posições bastante
antagônicas entre si. Resta transmitir a Psicanálise ao educador, mas o objetivo não é a
aplicação desse conhecimento no trato com os alunos, e sim produzir efeitos na postura
do educador.
VI – A Aprendizagem segundo Freud.
O que poderia ser, para Freud, o fenômeno da aprendizagem? Sobre isso, não vamos
encontrar nenhum texto escrito por ele, pois suas preocupações eram
predominantemente clínicas, interessado que estava, em livrar as pessoas do peso das
neuroses.
Entretanto, por sua própria posição frente ao conhecimento, pensava nos
determinantes psíquicos que levam alguém a ser “desejante de saber”. O processo da
aprendizagem depende da razão que motiva a busca de conhecimento.
A criança que pergunta tanto está realmente interessada em saber como nascemos e
por que morremos, de onde viemos e para onde vamos.
Para Freud, um momento capital e decisivo na vida do ser humano é o momento da
descoberta daquilo que ele chama de diferença sexual anatômica, quando descobrem
que o mundo é composto de homens e mulheres; em seres com pênis e seres sem pênis.
Sentem que algo está faltando para alguém. Alguém perdeu algo, assim como já havia
perdido o seio, as fezes, etc. A descoberta da diferença sexual anatômica não depende
de sua observação, mas da passagem pelo Complexo de Édipo quando a menina se
define como mulher e o menino como homem.
A essa angústia Freud chamou de angústia de castração. É isso que faz a criança querer
saber. As primeiras investigações são sempre sexuais, segundo Freud, porque a criança
quer definir seu lugar no mundo, e esse lugar é um lugar sexual.
Esse lugar sexual é situado em relação aos pais, ao que eles esperam do filho, ao seu
desejo. Por que ele foi posto no mundo?
Ao final da época do conflito edipiano parte da investigação cai sob o domínio da
repressão e a outra parte “sublima-se” em “pulsão” de saber, associada a “pulsões de
domínio” e a “pulsões de ver”.
Isso significa que o desejo de saber associa-se com o dominar, o ver e o sublimar.
1.Sublimar
Para Freud, as investigações sexuais são reprimidas e não é a Educação a maior
responsável por isto. As crianças deixam de lado as questões sexuais por uma
necessidade própria e inerente à sua constituição. Não por ser “feio”, mas porque
precisam renunciar a um saber sobre a sexualidade, para daí proceder a um
deslocamento dos interesses sexuais para os não sexuais, desviando para isso, a energia
concentrada. Não deixam de perguntar porque a força de pulsão continua estimulando
estas crianças. Perguntam sobre outras coisas para poder continuar pensando em
questões fundamentais.
Freud diz ainda que essa investigação sexual sublimada se associa com a pulsão de
domínio e aí ele localizou a pulsão de morte. Saber associa-se com dominar. A
investigação sexual sublimada relaciona-se, também, com o ver. O visual não é um
elemento secundário nas pulsões sexuais. Na constituição da sexualidade um elemento
central é a fantasia da cena primária ou cena de relação sexual entre os pais, na qual
ela, a cena, é o objeto de uma visão imaginada pelo sujeito, chegando à fantasia de se
imaginar um dos seus personagens.
Essa pulsão sublimada transforma-se em pulsão de domínio, em “pulsão de saber”.
Transforma-se em curiosidade dirigida a outros objetos, de modo geral.
É importante ressaltar a filiação da curiosidade intelectual à curiosidade sexual, à
imagem fantasiada da cena primária.
Pode-se dizer que, para Freud, a mola propulsora do desenvolvimento intelectual é
sexual.
Entretanto, a criança não aprende sozinha. É preciso que haja um professor para que o
aprendizado se realize. O ato de ensinar pressupõe uma relação com outra pessoa, a
que ensina. Aprender é aprender com alguém.
Não importa o conteúdo ensinado (se é completamente verdadeiro ou não), o aluno
acredita no professor. E de onde eles extraem esse poder de convencimento, a sua
credibilidade?
Graças a isso o professor está revestido de uma importância especial e graças a ela, tem
grande influência sobre os alunos.
No decorrer do período de latência, são os professores que tomarão o lugar dos pais, e
em particular, do pai, e assim, herdarão os sentimentos que a criança dirigia a esse
último, por ocasião do complexo de Édipo.
A ênfase freudiana está concentrada nas relações afetivas entre professores e alunos,
relações que antes eram dirigidas ao pai. Posteriormente o próprio Freud declara que a
palavra afeto deixa de ter tanta importância.
É por isso que dizemos que, na perspectiva psicanalítica não se focalizam os conteúdos,
mas o campo que estabelece as condições para aprender. Em Psicanálise, dá-se a esse
campo o nome de transferência.
VII – Poder e Desejo – A transferência na relação professor-aluno.
A palavra transferência foi mencionada, por Freud, pela primeira vez no seu livro A
Interpretação dos Sonhos. Explicava que os acontecimentos do dia eram transferidos
para o sonho, onde apareciam modificados. Percebeu, em seguida que o paciente
transferia para o analista, antigas vivências com outras pessoas, relacionando-se com
ele como se fosse o pai, com medo de sua autoridade. Porém, em momento algum o
paciente percebia o que estava acontecendo. Era uma manifestação inconsciente que
passou a ser um bom instrumento de análise desse inconsciente.
Freud chega a afirmar que ela está presente, também na relação professor-aluno e o
que se transfere são as experiências primitivas com os pais.
Parafraseando Jacques-Alain Miller, em sua leitura do termo transferência, como ele
aparece em A Interpretação dos Sonhos, podemos dizer que na relação professoraluno,
a transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se aferra a um elemento
particular que é a pessoa do professor.
Transferir é então atribuir um sentido especial àquela figura determinada pelo desejo,
que pode ser o analista ou o professor, e que passam a ser depositários de algo que
pertence ao analisando ou ao aluno e passam a fazer parte de seu cenário inconsciente.
Sua fala é escutada através dessa especial posição que ocupam. Em virtude dessa
posse, estas figuras ficam carregadas de importância especial e é daí que emana o
poder que eles têm sobre o indivíduo.
Assim, em razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também a
transferência de poder.
1.O professor no lugar de transferência.
A História mostra que a tentação de abusar do poder é muito grande. O professor pode
subjugar o aluno e impor-lhe seus próprios valores e idéias, ou seja, impor-lhe seu
próprio desejo e fazendo-o sobrepor-se àquele que movia seu aluno a colocá-lo em
destaque. Daí cessa o poder desejante do aluno e ele poderá aprender conteúdos,
gravar informações, espelhar fielmente o conhecimento do professor, mas não sairá
desta relação como sujeito pensante.
Poderia o mestre anular seu desejo se é este que o impulsiona para a função de mestre?
O jogo é complicado, pois só o desejo do professor justifica o fato dele estar ali; e,
estando ali precisa renunciar a este desejo.
Eis aí porque se apóia a idéia de que a Educação é impossível.
VIII – Conclusão.
O encontro da Psicanálise com a Educação é um desafio. A realidade do inconsciente
nos ensina que não temos controle total sobre o que dizemos e muito menos sobre os
efeitos de nossas palavras sobre nosso ouvinte.
Por isso não se pode aplicar a Psicanálise. Por acreditar que o inconsciente introduz,
em qualquer atividade humana, o imponderável, o imprevisto, não há como criar uma
metodologia pedagógico-psicanalítica, pois, aí implicaria ordem, estabilidade e
previsibilidade.
O professor aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os
efeitos que produz sobre seus alunos. Deverá renunciar ao controle, e assim, estará
desocupando o lugar de poder que o aluno o coloca no início de uma relação
pedagógica.
A Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ver e de entender a
prática educativa, nada mais.
A Pedagogia precisa reprimir para ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada e
não sexualizada.
O professor pode ensinar, mas não esperar que os alunos mudarão seus modos de
pensar subjetivos. Eles ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o resto. O bom
professor aceitará isso sem desespero e sem tentar reprimir tais atividades, pois desta
maneira, no futuro, saberão pensar sozinhos. Matar simbolicamente o mestre para se
tornar o mestre de si mesmo, esta é uma lição que pode ser extraída da própria vida de
Freud.
O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível
o pensamento renovado, a criação e a geração de novos conhecimentos.
Não se pretende um convite ao laissez-faire; o objetivo é apontar caminhos, sugerindo
aos pedagogos que não se preocupem tanto com métodos que, muitas vezes,
constituem tentativas de inculcar, a todo custo, um conhecimento supervalorizado
pelos professores.
Ao professor, cabe apenas, o esforço de organizar, articular e tornar lógico seu campo
de conhecimento e transmiti-lo aos seus alunos.
A cada aluno cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir tudo que vem ao encontro de
seu desejo e que lhe fazem sentido e encontram eco nas profundezas de seu
inconsciente.

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Abordagem psicanalítica na educação

  • 1. Freud e a Educação (Maria Cristina Kupfer) I – Freud, aluno e mestre. Sigmund Freud nasceu no dia 6 de maio de 1856 em Freiberg ( hoje Pribor), pequena cidade da Morávia, que na época, pertencia à Áustria e hoje está anexada à Tchecoslováquia. Seus pais eram judeus e a sua família bem numerosa. Era o mais velho dos oito filhos do segundo casamento de seu pai. Já contava, ao nascer, com dois meio-irmãos, mas era o preferido. Desde cedo, os pais esperavam que se tornasse um grande homem o que fez Freud desenvolver sua autoconfiança e o desejo de saber. Sua inteligência era constantemente desafiada estimulando-lhe desejo perene de compreender as coisas. Os pais jamais mediram esforços nem sacrifícios para lhe oferecer uma educação completa. Tratava-se de um ensino cujos fundamentos eram as Humanidades. Atravessou a vida escolar com sucesso saindo com amplos conhecimentos sobre as culturas grega e latina, o aprendizado de várias línguas e com interesse pela arqueologia, que lhe fornecera, no futuro, muitas metáforas (“a escavação das camadas profundas da mente”). Dizia que a Educação foi sua ferramenta fundamental por três motivos: _Ascensão social na Viena da época, já que era pobre e judeu. _A Educação lhe permitiu penetrar num círculo de vienenses cultos. _Precisava ter acesso aos domínios do conhecimento de seu tempo para acrescentar algo. As relações de um discípulo com seu mestre foram objeto de reflexões do próprio Freud e sua idéia básica era a de que os professores herdam as inclinações carinhosas ou agressivas antes dirigidas aos pais. Assim que se formou Freud começou a trabalhar no laboratório de Fisiologia de Ernest Brucke, uma pessoa que inspirava respeito. Abandonou o mestre, depois de 6 anos, convencido por ele de que a pesquisa pura era adequada para aqueles que possuíam melhores recursos financeiros. Ingressou, em seguida no Hospital Geral de Viena, trabalhando em várias especialidades, destacando as relações com Meynert, um grande especialista em anatomia do cérebro. Ao afirmar que a Histeria não era um mal exclusivamente feminino, encontrou em Meynert uma grande resistência. Deixou-o para trás passando a dedicar-se ao estudo das doenças nervosas, sendo seu próprio mestre Em 1885, Freud foi a Paris para conhecer os trabalhos de Charcot, grande nome da neuropatologia, o terceiro de seus mestres. A superação das idéias de Charcot foi inevitável por causa do advento da Psicanálise, com melhores caminhos para a tratamento da histeria. E mais uma vez se repete o movimento freudiano de superação de abandono dos mestres. Nos anos em que trabalhou no laboratório de Brucke, Freud conheceu Joseph Breuer, um clínico geral de renome, 14 anos mais velho que ele e se tornaram grandes amigos. Em 1896, escreveram uma obra conjunta: Estudos sobre a Histeria. No entanto, discordavam num ponto: para Freud, a causa da histeria era de natureza sexual e com isto Breuer não concordava, e aos poucos os dois foram se distanciando. Como queria gerar conhecimento, Freud sabia ser necessário ser mestre de si mesmo, mas algo inconsciente o impedia e para remover impedimentos dessa ordem é preciso um
  • 2. analista. Encontrou-o na figura de Wilhelm Fliess, que desempenhou, sem o saber, o papel de analista, investido de autoridade e confiança, porém, sem interpretar coisa alguma. Nessa auto-análise concluiu que não precisava de professores; cabia ao seu verdadeiro pai ajudá-lo. Assim, rompeu definitivamente com os antigos mestres passando a ocupar ele próprio, um lugar de mestre, pôs fim à busca de um mestre-pai e reencontrou a si mesmo. Entretanto, ser o próprio mestre não significava ocupar o lugar do pai junto à sua mãe. Era preciso matar simbolicamente o pai, depois de admitir a superioridade dele, para poder, em seguida, ser um criador. A partir daí, Freud torna-se chefe de uma escola e organizador de uma instituição voltada para a divulgação da Psicanálise e formação de analistas. Era um chefe terrivelmente autoritário, sendo capaz de aprender com seus pacientes, mas romper com quem o ameaçasse com idéias, que segundo ele, iriam desvirtuar a Psicanálise. Seu magnetismo, brilho e inteligência, cegavam quem dele se aproximasse. A essa força de atração entre ele e seus discípulos, Freud chamou de transferência. II - Freud pensa na Educação. No final do século XIX, predominavam as explicações orgânicas e psiquiátricas para doenças como as esquizofrenias, as psicoses e a histeria. Os tratamentos eram: eletroterapia, banhos, massagens, hidroterapia,, internação e hipnose. Pouco sabiam a respeito de suas causas. A histeria é que lhe chama a atenção pelo grande número de pacientes que o procuram com vários sintomas: vômitos, alucinações visuais, contrações, paralisias parciais, perturbação de visão, ataques nervosos e convulsões. Freud queria observar, analisar e encontrar as origens daquilo. No caso da histeria, a idéia incompatível é expulsa pelo “eu” e tornada inócua por sua transformação somática. Freud chama isso de conversão. Se as idéias incompatíveis são quase sempre de natureza sexual, então, o que há de insuportável na sexualidade? Esta dúvida conduziu-o à Educação para averiguar qual o seu papel na condenação da sexualidade, e daí a descoberta da sexualidade infantil. É obvio que a moral transmitida pela Educação incute no indivíduo, noções de pecado e vergonha que ele deve ter diante das práticas sexuais. Restava propor que a educação não fizesse uso abusivo de sua autoridade porque a correção educativa, embora necessária, nem por isso precisava ser excessiva. 1.As pulsões parciais. Para entender a sexualidade infantil, Freud estudou as perversões. Descobriu que na constituição dos seres humanos estão presentes práticas de natureza perversa, que irão desaparecendo pela repressão, submetendo-se ao domínio das práticas genitais com vistas à procriação. Algumas perversões (exibicionismo, curiosidade dirigida aos órgãos genitais dos seus companheiros, prazer de sucção, prazer ligado à defecação), que permanecem no adulto são o resultado dessas perversões parciais infantis que se recusaram a cair sob o domínio da genitalidade. A cada um desses aspectos perversos, presentes na sexualidade infantil, Freud chama de pulsões parciais. Será uma pulsão dirigida ao próprio corpo, que não buscará um outro corpo, como acontecerá por ocasião do desenvolvimento da genitalidade.
  • 3. As pulsões parciais possuem caráter errático; o objeto pelo qual se satisfaz é indiferente e intercambiável, logo pode se enveredar por caminhos socialmente úteis. É passível de sublimação e para Freud a Educação terá papel primordial nesse processo.Eis aí o ponto que interessa ao educador. 2. Sublimação e Educação. Uma pulsão é dita sublimada quando se dirige a um alvo não-sexual visando objetos socialmente valorizados. Nessa busca de um objeto pode haver uma dessexualização, pois a energia (libido) continua a ser sexual, mas o objeto não o é mais. A antiga ânsia sexual ainda se faz presente, só que de um modo mais brando, justificando a busca daquela atividade sublimada. As bases necessárias à sublimação são fornecidas pelas pulsões sexuais parciais e claramente perversas. Uma ação educativa que “atacasse” essas pulsões, não só fracassaria, mas também faria desaparecer a fonte de um “bem” e que “a tentativa de supressão das pulsões parciais não só é inútil como pode gerar efeitos como a neurose”. Dizia Freud que sem perversão não há sublimação e sem sublimação não há cultura. Pode ser identificado como o pedagogo clássico que via na criança um mal originário, diferente de Rousseau que afirmava a existência de um bem natural, depois subvertido pela cultura. Resta, então, dirigir de forma mais proveitosa a energia que move tais pulsões, transformando, por exemplo, a pulsão escópica em curiosidade intelectual, desempenhando papel muito importante no desenvolvimento do desejo de saber. Freud esperava que os próprios educadores construíssem seu método e criassem modos de operação. Freud afirma que a hostilidade da civilização, representada por uma educação repressora, é semelhante à defesa que o eu levanta contra a pulsão sexual produzindo a neurose. Também a Educação exagera e produz efeitos semelhantes. Freud chega a afirmar qe há uma vocação da humanidade para a neurose. Reich e Marcuse dão explicações políticas e afirmam que a repressão sexual é uma das armas de que se serve a opressão política a fim de garantir a submissão das massas. Millot conclui que as classes sociais no poder fazem uso, em benefício próprio, da repressão já instalada por outros meios, pois há a possibilidade de a sublimação vir a ser operada, controlada, de fora, já que não é, na verdade, um mecanismo ao alcance da consciência. Freud declara o seguinte: o educador é aquele que deve buscar, para seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais. 3.A Educação Sexual das Crianças. Nessa época em que Freud formula as relações entre cultura e sublimação, seu discurso é otimista. Era consultado a respeito da melhor maneira de educar os filhos, e respondia que as crianças devem receber educação sexual, assim que demonstrem interesse pela questão. Pais e professores deveriam ser esclarecidos acerca da existência da sexualidade infantil. Freud observava nos pais uma incompetência para esses
  • 4. assuntos e, por isso, não devem se ocupar do esclarecimento sexual das crianças. Já foram crianças e se esqueceram da sexualidade infantil; se esqueceram, é porque foram reprimidos e as forças que reprimiram estão ainda atuando no sentido de não fazê-los lembrar. Também para o educador a infância não é mais acessível e por isso é necessário que ele volte a fica bem com a criança que há dentro dele, através de uma análise. As crianças costumam dar suas próprias explicações para as questões sexuais e como nascem os bebês e que dependem dos momentos de desenvolvimento sexual em que se encontram. Surgiram três tipos de explicações: _ As crianças nascem pelo ânus da mãe; _ Tanto os homens como as mulheres possuem pênis; _ O coito é sempre de natureza agressiva e sádica. III – A desilusão de Freud com a Educação. Por que Freud afirmou que “a Educação é impossível?” Todas as suas idéias, sobre a Educação, inspiradas pela Psicanálise foram por ele mesmo questionadas: _O educador deve promover a sublimação, mas sublimação não se promove por ser inconsciente. _O educador deve esclarecer as crianças a respeito da sexualidade, se bem que elas não darão ouvidos. _O educador deve se reconciliar com a criança que há dentro dele, mas é uma pena que ele tenha se esquecido de como é esta criança. _E a conclusão: “A Educação é uma profissão impossível”. 1.O inconsciente. Observamos que é com a idéia de inconsciente que esbarramos o tempo todo. Charcot, observando as pacientes histéricas, dizia que havia uma divisão da consciência devida a uma debilidade congênita de algumas mulheres. Para Freud, que aceitou essa explicação, a divisão da consciência era fruto de forças psíquicas encontradas no interior do psiquismo, o resultado da luta entre o “eu” e os impulsos de natureza inconsciente. O aparecimento do sintoma neurótico era o modo como se resolvia o conflito, pois esse era o disfarce que a pulsão se manifestava. Além dos sintomas, Freud descobriu outras manifestações ao lado dos sintomas como os sonhos e os atos falhos. Os atos falhos (lapsos) são pequenas manifestações que emergem em nossa fala, sem que nos demos conta e que pode revelar nossos mais íntimos segredos. Alguém que fala pode expressar muito mais do que está querendo dizer. Com essa descoberta a consciência foi desalojada da posição de comando que vinha ocupando até então na Filosofia. A consciência não é mais o centro do nosso psiquismo, não reina sobre a nossa vontade. O aparelho psíquico se organiza sempre de modo a obter prazer e bem-estar, ou então, no caso do sintoma, para obter o desprazer menor. A busca do prazer costuma ser cega
  • 5. e é por isso que ao princípio do prazer opõe-se o princípio da realidade, que regula, administra e dirige essa busca, funcionando como uma ligação do indivíduo com a realidade e seus perigos. É o princípio da realidade que não permite que o indivíduo se destrua achando os melhores meios para a obtenção do prazer considerando as limitações impostas pela realidade. Há sempre um conflito entre o “eu” dirigido pelo princípio da realidade (pulsões de conservação) e de idéias incompatíveis dirigidas pelo princípio do prazer (pulsões sexuais). Freud supôs que o desprazer emanava do conflito entre as forças em oposição_as pulsões sexuais versus as pulsões de autoconservação. Entretanto, há algo no psiquismo que escapa ao princípio do prazer: a repetição (o neurótico repete sem cansar, atos que lhe causam sofrimento) e Freud não conseguia entender como o indivíduo conseguia encontrar prazer em seu permanente exercício. Entreviu a ação de uma força irreprimível, independente do princípio de prazer e oposta a ele, sem contudo, ser aliada ao princípio de realidade. Essa força tem um caráter mortal barrando o caminho ao desenvolvimento porque a ação da repetição fixa, torna as coisas permanentes e imutáveis, mostrando a Freud a “face da morte” em plena ação entre as forças que atuam sobre a vida de um indivíduo. Freud afirma existir em todo ser vivo uma tendência para retornar ao estado inorgânico, pois a vida surgiu do não-vivo. É tão grande a importância desse novo conceito que Freud é levado a formular a dualidade pulsional em novas bases. A luta no interior do psiquismo não se dá mais entre as pulsões do “eu” e as pulsões sexuais. Freud reúne ambas de um só lado, pois elas agem a serviço da vida, de Eros, interessadas na conservação da espécie. Seu inimigo é a pulsão de morte, interessada em conduzir o indivíduo à estabilidade, onde nada se movimenta, a matéria está inerte _ como a morte. 2.Conseqüências para o pensamento de um educador. Como criar um sistema pedagógico partindo de tais afirmações? As realidades do inconsciente e da pulsão da morte não casam bem com a promoção de bem-estar e de felicidade próprios da educação. Contudo, o que não pode ser esquecido é a idéia de que tais forças, presentes no interior do psiquismo, escapam ao controle dos seres humanos e, portanto, ao controle do educador. Poderíamos dizer, então, que a tarefa de educar se vê dificultada pela ação do inconsciente? Por que Freud afirmou que a Educação, a Política e a Psicanálise são tarefas impossíveis? A Educação exerce seu poder através da palavra. Seu discurso, dirigido à consciência tenta estimular os indivíduos a se conduzirem em uma direção por ela mesma determinada. Da palavra extrai seu poder de convencimento e de submissão do ouvinte a ela. No entanto, a realidade do inconsciente ensina que a palavra escapa ao falante. Ao falar, um político e um educador poderá se perder e revelar-se indo em uma direção contrária àquela que seu “eu” havia determinado. Ensina a Psicanálise que a palavra é ao mesmo tempo lugar de poder e submissão, de força e de fraqueza, de controle e de descontrole. Com, então, educar sobre uma base
  • 6. paradoxal? É que, para Freud, o domínio, a direção e o controle, que estão na base de qualquer sistema pedagógico, jamais poderão ser integralmente alcançados. Freud termina aqui com uma conclusão decepcionante: a Psicanálise não serve de fundamento para a Pedagogia; não pode servir como princípio organizador de um sistema ou de uma metodologia educacional. Haverá, então, outro modo de a Psicanálise contribuir para um educador? IV _ A Era Pós-freudiana. Foram, pelo menos, três as direções tomadas pelos teóricos interessados no casamento da Psicanálise com a Educação. No início do século XX, na Suíça, Oskar Pfister e Hans Zulliger tentaram a criação de uma disciplina, a Pedagogia Psicanalítica. Outra tentativa foi a transmissão da teoria psicanalítica a pais e professores. Ana Freud foi a principal representante desse grupo. A terceira e mais moderna tenta transmitir a Psicanálise a todos os representantes da cultura interessados em ampliar sua visão de mundo. Embora a expansão sobre a cultura tenha sido grande, não chegou a atingir de modo significativo, a educação. Karl Abraham, um dos discípulos de Freud foi quem formulou as fases do desenvolvimento afetivo-emocional das crianças, se opondo em relação às descrições pedagógicas basicamente cognitivas ou intelectuais. A primeira parte da elaboração freudiana que caiu no domínio público foi o Complexo de Édipo,descrevendo as relações afetivo-emocionais das crianças com seus pais. As crianças que atravessam essa estrutura pré-fixada aprendem algo: como articular seu desejo com uma lei humana universal que o regulamente: a lei do incesto. Aprendem a ser um homem ou uma mulher, mesmo que um homem aprenda a ser uma mulher e “prefira” esse papel ao que coincidiria com o seu sexo biológico. Trata-se de uma estrutura, através da qual, o ser humano define-se como ser sexuado. Mas não são meras imitações daquilo que fazem papai e mamãe. As identificações são processos inconscientes e por isso não basta ensinar os pais como procederem diante de seus filhos. Ele pode se tornar autoritário ou mesmo, se teve problemas com o próprio pai, essas antigas relações atuarão de modo inconsciente. V – O Casamento da Psicanálise com a Educação. Oskar Pfister foi um pastor protestante que encontrou na Psicanálise um instrumento auxiliar na educação de jovens, em Zurique. Iniciou um trabalho que viria colaborar para a criação, mais tarde, da Psicanálise de Crianças. Pretendia usar a Psicanálise para conduzir as forças inconscientes ao caminho do bem, sendo este definido nos termos da religião que professava. Apoiava duas orientações bastante claras: O educador deve funcionar como um analista perseguindo um fim moral. Imaginava ser necessário colocar-se como modelo, promovendo uma identificação com ele como ideal de vida e de pensamento. É nesse momento que a Pedagogia e a Psicanálise se separam nitidamente, pois, como propiciar ao aluno a liberdade
  • 7. associativa e a fala livre para ser interpretado se o fim é a moralidade bem comportada e definida pelo educador? Pfister propõe o casamento da Psicanálise com a Educação, ouvindo a manifestação livre do inconsciente e, ao mesmo tempo produzindo seu representante moral. Devido à incompatibilidade, esse casamento não durou muito. Hans Zulliger, assim como Pfister, seu mestre, tem seu nome ligado à Psicanálise de crianças, que praticou ao lado de suas atividades como mestre-escola. Conseguiu algum sucesso liberando alguns alunos de suas inibições no campo da aprendizagem, da hostilidade e da agressão, da falta de amizades, da incontinência noturna, dos sentimentos de culpa provocados pela masturbação, assim como de roubos impulsivos e de outros sintomas similares. Zulliger, simplesmente psicanalisava seus alunos e prescrevia medidas a serem tomadas pela escola. A prática da psicologia escola de hoje tem suas raízes no trabalho de Zulliger, visivelmente mais clínico do que pedagógico. Não estamos diante de um casamento da Psicanálise e Educação, mas de um “ajuntamento”. Seus estudos contribuíram para a transformação de certas práticas, correntes na época, tais como os castigos violentos. Uma criança educada à base de castigos e confinamentos (celas pintadas de negro, sem móveis e sem janelas) acabará por ceder, apenas para, logo depois, retomar seus comportamentos agressivos, assim que se sentir livre de todos os constrangimentos. A partir dos anos 50, as instituições para a reeducação de crianças com desvios de comportamento começaram a se multiplicar. Ao menor sinal de problemas “psicológicos”, a criança já era encaminhada para especialistas que bombardeavam o aluno com tratamentos psicomotores, fonoaudiológicos, ludoterápicos e psicopedagógicos, fazendo da análise um instrumento de dominação e seleção. Em 1925 entra em cena, na Inglaterra, Melanie Klein, vinda da Alemanha a convite de Ernest Jones. Uma das suas preocupações era dar ênfase à vida de fantasia das crianças, assim conseguindo com que muitos pais e educadores ingleses suportassem melhor suas manifestações sádicas e agressivas. Catherine Millot é a psicanalista da atualidade que melhor representa a posição de uma Psicanálise que não pode, de modo algum, casar-se com a Educação. A Psicanálise, como um corpo de conhecimento, aceita o debate com a cultura, mas aplicar, não. A única aplicação possível é na clínica psicanalítica. Partindo desse pensamento, Millot dedicou-se ao estudo das relações entre Psicanálise e Educação propondo três questões: 1. Pode haver uma educação analítica no sentido de a educação ter uma perspectiva profilática em relação às neuroses? 2. Pode haver uma educação analítica no sentido de visar aos mesmos fins de um tratamento psicanalítico (resolução do Complexo de Édipo e superação de castração)? 3. Pode haver uma educação psicanalítica que se inspire no método psicanalítico e o transponha para a relação pedagógica? A todas essas perguntas, Millot responde
  • 8. com um “não”. A Educação a que se refere a primeira pergunta é a Educação pré- escolar, a cargo dos pais. O próprio Freud se mostrou, a princípio, entusiasmado, ao descobrir o papel da repressão no desenvolvimento das neuroses. Supôs que uma educação menos repressora evitaria as neuroses do mundo adulto (análise do pequeno Hans). No entanto, passados trinta anos, confirmou que os conflitos psíquicos são inevitáveis (castração e complexo de Édipo). A resposta à segunda pergunta, também é negativa. Quando a criança chegasse à educação regular, sua formação já estaria concluída. Quanto à terceira pergunta, para justificar sua negativa, Millot diz que nenhuma teoria pedagógica permite que se calculem os efeitos dos métodos postos em ação, pela interferência do inconsciente do pedagogo e do educando. Não há como construir um método pedagógico a partir do saber psicanalítico sobre o inconsciente, pois não há método de controle do inconsciente. Para que houvesse uma Educação Analítica, seria preciso que ela renunciasse àquilo que a fundamenta, que é sua razão de ser. Precisaria deixar de ser Educação. Também não seria possível que o pedagogo ocupasse o lugar do psicanalista, exercendo uma influência analítica sobre a criança. Para isso teria que ter neutralidade e em Educação isso é impossível e até mesmo desaconselhável. Conhecer a impossibilidade de controlar o inconsciente pode levar a identificar nossos verdadeiros limites e ficamos reduzidos á impotência. A existência do inconsciente significa a renúncia a toda a construção civilizatória já que esta está fundada na negação do inconsciente e na afirmação dos poderes da consciência e da razão. Finalmente, concluímos que é preciso buscar um ponto de equilíbrio em que o educador possa se beneficiar do saber psicanalítico sem abandonar seu papel ou tentar sistematizar esse saber em uma pedagogia psicanalítica. Não se trata de transformar professores em analistas, pois são posições bastante antagônicas entre si. Resta transmitir a Psicanálise ao educador, mas o objetivo não é a aplicação desse conhecimento no trato com os alunos, e sim produzir efeitos na postura do educador. VI – A Aprendizagem segundo Freud. O que poderia ser, para Freud, o fenômeno da aprendizagem? Sobre isso, não vamos encontrar nenhum texto escrito por ele, pois suas preocupações eram predominantemente clínicas, interessado que estava, em livrar as pessoas do peso das neuroses. Entretanto, por sua própria posição frente ao conhecimento, pensava nos determinantes psíquicos que levam alguém a ser “desejante de saber”. O processo da aprendizagem depende da razão que motiva a busca de conhecimento. A criança que pergunta tanto está realmente interessada em saber como nascemos e por que morremos, de onde viemos e para onde vamos.
  • 9. Para Freud, um momento capital e decisivo na vida do ser humano é o momento da descoberta daquilo que ele chama de diferença sexual anatômica, quando descobrem que o mundo é composto de homens e mulheres; em seres com pênis e seres sem pênis. Sentem que algo está faltando para alguém. Alguém perdeu algo, assim como já havia perdido o seio, as fezes, etc. A descoberta da diferença sexual anatômica não depende de sua observação, mas da passagem pelo Complexo de Édipo quando a menina se define como mulher e o menino como homem. A essa angústia Freud chamou de angústia de castração. É isso que faz a criança querer saber. As primeiras investigações são sempre sexuais, segundo Freud, porque a criança quer definir seu lugar no mundo, e esse lugar é um lugar sexual. Esse lugar sexual é situado em relação aos pais, ao que eles esperam do filho, ao seu desejo. Por que ele foi posto no mundo? Ao final da época do conflito edipiano parte da investigação cai sob o domínio da repressão e a outra parte “sublima-se” em “pulsão” de saber, associada a “pulsões de domínio” e a “pulsões de ver”. Isso significa que o desejo de saber associa-se com o dominar, o ver e o sublimar. 1.Sublimar Para Freud, as investigações sexuais são reprimidas e não é a Educação a maior responsável por isto. As crianças deixam de lado as questões sexuais por uma necessidade própria e inerente à sua constituição. Não por ser “feio”, mas porque precisam renunciar a um saber sobre a sexualidade, para daí proceder a um deslocamento dos interesses sexuais para os não sexuais, desviando para isso, a energia concentrada. Não deixam de perguntar porque a força de pulsão continua estimulando estas crianças. Perguntam sobre outras coisas para poder continuar pensando em questões fundamentais. Freud diz ainda que essa investigação sexual sublimada se associa com a pulsão de domínio e aí ele localizou a pulsão de morte. Saber associa-se com dominar. A investigação sexual sublimada relaciona-se, também, com o ver. O visual não é um elemento secundário nas pulsões sexuais. Na constituição da sexualidade um elemento central é a fantasia da cena primária ou cena de relação sexual entre os pais, na qual ela, a cena, é o objeto de uma visão imaginada pelo sujeito, chegando à fantasia de se imaginar um dos seus personagens. Essa pulsão sublimada transforma-se em pulsão de domínio, em “pulsão de saber”. Transforma-se em curiosidade dirigida a outros objetos, de modo geral. É importante ressaltar a filiação da curiosidade intelectual à curiosidade sexual, à imagem fantasiada da cena primária. Pode-se dizer que, para Freud, a mola propulsora do desenvolvimento intelectual é sexual. Entretanto, a criança não aprende sozinha. É preciso que haja um professor para que o aprendizado se realize. O ato de ensinar pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina. Aprender é aprender com alguém.
  • 10. Não importa o conteúdo ensinado (se é completamente verdadeiro ou não), o aluno acredita no professor. E de onde eles extraem esse poder de convencimento, a sua credibilidade? Graças a isso o professor está revestido de uma importância especial e graças a ela, tem grande influência sobre os alunos. No decorrer do período de latência, são os professores que tomarão o lugar dos pais, e em particular, do pai, e assim, herdarão os sentimentos que a criança dirigia a esse último, por ocasião do complexo de Édipo. A ênfase freudiana está concentrada nas relações afetivas entre professores e alunos, relações que antes eram dirigidas ao pai. Posteriormente o próprio Freud declara que a palavra afeto deixa de ter tanta importância. É por isso que dizemos que, na perspectiva psicanalítica não se focalizam os conteúdos, mas o campo que estabelece as condições para aprender. Em Psicanálise, dá-se a esse campo o nome de transferência. VII – Poder e Desejo – A transferência na relação professor-aluno. A palavra transferência foi mencionada, por Freud, pela primeira vez no seu livro A Interpretação dos Sonhos. Explicava que os acontecimentos do dia eram transferidos para o sonho, onde apareciam modificados. Percebeu, em seguida que o paciente transferia para o analista, antigas vivências com outras pessoas, relacionando-se com ele como se fosse o pai, com medo de sua autoridade. Porém, em momento algum o paciente percebia o que estava acontecendo. Era uma manifestação inconsciente que passou a ser um bom instrumento de análise desse inconsciente. Freud chega a afirmar que ela está presente, também na relação professor-aluno e o que se transfere são as experiências primitivas com os pais. Parafraseando Jacques-Alain Miller, em sua leitura do termo transferência, como ele aparece em A Interpretação dos Sonhos, podemos dizer que na relação professoraluno, a transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se aferra a um elemento particular que é a pessoa do professor. Transferir é então atribuir um sentido especial àquela figura determinada pelo desejo, que pode ser o analista ou o professor, e que passam a ser depositários de algo que pertence ao analisando ou ao aluno e passam a fazer parte de seu cenário inconsciente. Sua fala é escutada através dessa especial posição que ocupam. Em virtude dessa posse, estas figuras ficam carregadas de importância especial e é daí que emana o poder que eles têm sobre o indivíduo. Assim, em razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também a transferência de poder. 1.O professor no lugar de transferência. A História mostra que a tentação de abusar do poder é muito grande. O professor pode subjugar o aluno e impor-lhe seus próprios valores e idéias, ou seja, impor-lhe seu próprio desejo e fazendo-o sobrepor-se àquele que movia seu aluno a colocá-lo em destaque. Daí cessa o poder desejante do aluno e ele poderá aprender conteúdos,
  • 11. gravar informações, espelhar fielmente o conhecimento do professor, mas não sairá desta relação como sujeito pensante. Poderia o mestre anular seu desejo se é este que o impulsiona para a função de mestre? O jogo é complicado, pois só o desejo do professor justifica o fato dele estar ali; e, estando ali precisa renunciar a este desejo. Eis aí porque se apóia a idéia de que a Educação é impossível. VIII – Conclusão. O encontro da Psicanálise com a Educação é um desafio. A realidade do inconsciente nos ensina que não temos controle total sobre o que dizemos e muito menos sobre os efeitos de nossas palavras sobre nosso ouvinte. Por isso não se pode aplicar a Psicanálise. Por acreditar que o inconsciente introduz, em qualquer atividade humana, o imponderável, o imprevisto, não há como criar uma metodologia pedagógico-psicanalítica, pois, aí implicaria ordem, estabilidade e previsibilidade. O professor aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos. Deverá renunciar ao controle, e assim, estará desocupando o lugar de poder que o aluno o coloca no início de uma relação pedagógica. A Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ver e de entender a prática educativa, nada mais. A Pedagogia precisa reprimir para ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada e não sexualizada. O professor pode ensinar, mas não esperar que os alunos mudarão seus modos de pensar subjetivos. Eles ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o resto. O bom professor aceitará isso sem desespero e sem tentar reprimir tais atividades, pois desta maneira, no futuro, saberão pensar sozinhos. Matar simbolicamente o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, esta é uma lição que pode ser extraída da própria vida de Freud. O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível o pensamento renovado, a criação e a geração de novos conhecimentos. Não se pretende um convite ao laissez-faire; o objetivo é apontar caminhos, sugerindo aos pedagogos que não se preocupem tanto com métodos que, muitas vezes, constituem tentativas de inculcar, a todo custo, um conhecimento supervalorizado pelos professores. Ao professor, cabe apenas, o esforço de organizar, articular e tornar lógico seu campo de conhecimento e transmiti-lo aos seus alunos. A cada aluno cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir tudo que vem ao encontro de seu desejo e que lhe fazem sentido e encontram eco nas profundezas de seu inconsciente.