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«Há dias, um amigo meu, ao narrar o episódio de um banho gelado numa
praia qualquer do Norte do país, explicou:
    — De súbito, reparei que batia os dentes. Mas batia mesmo os dentes. E
espantei-me. Afinal, bater os dentes não era uma imagem barata de
folhetim, como eu durante tanto tempo supusera. Não. Correspondia a um
facto verdadeiro...
    Sim. Os folhetins estão cheios dessas observações verdadeiras: "ficou
branco como o linho", "tremeu como varas verdes", "cambaleou
de dor", "viu tudo vermelho em redor", etc. Por isso são tão falsos.»
                           José Gomes Ferreira, Dias Comuns, IV, pp. 18-19

[«Bater os dentes», «tremer como varas verdes» são expressões
idiomáticas, que não interpretamos «à letra» — escrever um texto em
que apareça uma expressão idiomática, ora no seu sentido figurado,
ora tomada à letra (como nos desenhos de Les Idiomatics)]

       Hoje em dia, cadeias de lojas como
McDonald's, Burger King e KFC, todas de "fast-
food", têm todos os anos elevados lucros e, com a
progressiva expansão internacional, esses lucros
aumentam de ano para ano .É esse o único
objectivo dos proprietários.
       Agora, com a tecnologia avançada, a
possibilidade de modificar geneticamente os
animais permite um menor dispêndio de
dinheiro . E o resultado são animais que só têm carne, 100%
aproveitáveis, mas sem pés nem cabeça ou órgãos. Uma ideia
sem pés nem cabeça, mas que não deixa de contentar os
clientes que, satisfeitos, limitam-se a comer o que lhes dão.
                                                          [Gonçalo, 7.º 5.ª]

      Chegou a casa e achou que devia ir à cozinha pois estava cheio de
fome. Espantou-se quando lá chegou, porque viu que o lanche estava
pronto na mesa: pão, pão; queijo, queijo.
Sentou-se e comeu. Quando acabou, zangou-se
com a mulher pois ela tinha a cozinha
desarrumada. Depois de muita discussão, a
mulher saiu de casa e foi ter com uma amiga.
      — 'Tou a ficar farta do meu marido.
      — Não ligues. Sabes que ele é assim.
Muito pão, pão, queijo, queijo.
                                   [Tiago, 7.º 6.ª]
Eram seis horas e meia da manhã e o
galo cantou. Como era dia de Páscoa, toda
a aldeia acordou em alvoroço. Todas as
famílias arranjaram o seu «banquete»,
embora com poucas coisas.
      Na família Santos, o ambiente não
era diferente. Ao contrário das outras
famílias, esta criava ovelhas, por isso
tinham sempre cordeiro. O responsável
pela matança do cordeiro era o senhor Manuel Santos, homem de
certa idade mas bem constituído. Como era habito, o senhor
Manuel, antes de matar o pobre do bicho, esticava os seus
pernis, pois, dizia ele, assim o animal ficava mais tenro. Esta
técnica era conhecida por toda aldeia.
      Naquele dia, ao almoço, a família Santos apreciava o cordeiro
tenro com enorme satisfação. Porém, de repente, Manuel ficou hirto na
sua cadeira e caiu para trás, de olhos esbugalhados e sem pulsação.
      Nunca nínguém compreendeu o que se passara, mas todos
diziam que fora a vez de ele esticar o pernil.
                                                    [Bruno Rafael, 7.º 5.ª]

      Foi numa bela quinta-feira que o senhor
Jacinto foi aos arames. Zangou-se com o
seu filho por ter tido uma negativa a
Matemática. À tarde, o senhor Jacinto notou
que não tinha a carteira... tinha-a perdido na
Quinta dos Arames. Encontra o seu filho.
      — Onde vais, Pai?
      — Vou aos arames...
      — Ok, 'té logo!
      Lá encontrou a carteira e voltou para casa.
                                                       [Madalena, 7.º 3.ª]

      Na Quinta das Celebridades, Lili
Caneças é uma mulher do jet-set. Só tem
conversas banais, mas, mesmo assim,
surpreendeu-me o seu sentido de humor.
Imagino que ela no dia-a-dia não faça nada,
indo apenas a festas chiquíssimas, pelo que
suponho que vive à barba longa. Tem
muitos amigos, todos ricos, mas destaca-se
um, o Barbas, que tem a barba extraordinariamente longa.
                                                           [André, 7.º 3.ª]
— A Arlete não sabe fazer a cama
                       a ninguém, deixa sempre os lençóis de fora
                       do colchão. — disse Mariana, intrigada,
                             — Quem me anda a fazer a cama
                       é a minha patroa, só me quer tramar
                       fazendo com que os empregados recebam
                       menos ordenado e acusando-me sem
                       piedade. — disse a mãe.
                             — Depois falamos, eu encontro-me
atrasadíssima para a escola. Dizendo isto, Mariana abandonou a
sua casa.
                                                       [Sara, 7.º 6.ª]

       Sonhei que, num dia soalheiro, ia com a
minha turma e um dos meus colegas fugiu e
perdeu-se. Esse menino foi ter a um labirinto
onde encontrou um homem e uma vaca. Esse
homem pôs o meu colega nos cornos da
vaca, que se chamava Lua. Ele conseguiu
fugir, contou a história e puseram-no nos
cornos da lua como se tivesse sido imensamente corajoso.
                                                    [Enoque, 7.º 6.ª]

                               Um pobre emigrante português vivia
                          no México. Passados dez anos, tinha uma
                          das melhores empresas deste país. Toda
                          a gente da empresa dizia que o chefe
                          tinha comido o pão que o diabo
                          amassou. Um dia foi a um café tomar o
                        pequeno-almoço. Por acaso, o dono do
                        café chamava-se «Diablo» e tinha ele
próprio amassado o pão que vendia. Aí um colega do empresário
português notou a situação e disse: «comeste o pão que o
Diablo amassou».
                                                      [Paulo, 7.º 6.ª]


     O leiteiro deixara a botija à porta da
minha casa. Mal ouviu o tilintar da garrafa, o
meu irmão foi a correr beber o leite; mal
pôs a boca na botija apareceu a minha
mãe (sabendo que ele não queria que ela soubesse): apanhou-o
mesmo com a boca na botija.
                                                          [Rita, 7.º 2.ª]


      No sábado, o sr. João queria ir à caça
mas também queria passar mais tempo com
o seu filho. Por isso, levou-o consigo a
caçar, e assim matou dois coelhos
com uma só cajadada.
      Quando já estavam à caça, tinha o seu
filho a arma e viu dois coelhos muito perto
um do outro: disparou a arma e matou
dois coelhos com uma só cajadada.
                                                         [Filipe, 7.º 5.ª]


                           No outro dia, enervei-me num jogo de
                     futebol, quando soube que a equipa
                     adversária dera luvas ao árbitro para que os
                     beneficiasse. Mas o Sporting acabou por
                     ganhar. Por isso, fiquei felicíssimo e fui às
                     compras: dei umas luvas ao meu pai e à
minha mãe também.
                                                 [João Marcelo, 7.º 5.ª]


      Achei uma ideia parva a Sofia querer comprar um animal de
estimação para dizer aos pais que tinha mais responsabilidade.
                            E, ainda por cima, estes ofereceram-se
                      precisamente uns macacos, que instala-
                      ram no sótão da casa.
                            Eu logo vi que ela iria estar fora deste
                      planeta. Nas aulas estava distraída e sempre
                      com macaquinhos no sótão. Talvez
                      estivesse pensando nos seus animais. Ou
na lua...
                                                     [Joana D., 7.º 5.ª]
[Colectivamente (em «estafeta»: cada aluno vai propondo uma frase
sem alterar o texto anterior), redacção de continuação do começo
de Aventuras de João Sem Medo, 10.ª edição]
ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA
EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA em que não
havia água e onde, por isso, se bebia a chuva retida em depósitos
nos telhados das casas.
         Ora, um dia, deixou de chover. Os choraquelogobebenses
partiram        então        em       busca        de      água.        Nessa         altura,       João,
corajosamente, resolveu dirigir-se às montanhas à procura do deus
da água. Porém, tendo percebido que não havia aí nenhum deus,
decidiu juntar dinheiro para comprar água. É claro que pouco
dinheiro havia numa aldeia tão pobre. Por isso, João achou que
devia emigrar.
         Primeiro, achou que devia deslocar-se para um país com
costa. Assim fez. Passado tempo, depois de ter comido o pão que o
diabo amassou, conseguiria ser contratado por um empresa
distribuidora de água. .........................................................................
                                                                                                 [7.º 1.ª]

         ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA
EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA habitada por
gente paupérrima. Apesar de muito humildes, os choraquelogo-
bebenses eram unidos e hospitaleiros. João morava com Alberta
Jacinta, sua avó, amável e carinhosa senhora que o criara desde a
morte dos pais, havia quinze anos.
         Era Verão, uma altura festiva na aldeia. Aquelas casas
rústicas, de pedra e colmo, estavam agora enfeitadas e tanta beleza
dava à aldeia um espírito mais jovem. João preparava a roupa, para
levar no dia seguinte, o do baile principal. Para ele era um evento
importantíssimo: nunca fora a um baile.
.............................................................................................................
                                                                                                  [7.º 6.ª]
ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA
EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA famosa pela
aguardente produzida a partir do choro dos seus habitantes.
        Todos os dias, o João levantava-se às cinco da manhã e ia ao
lago admirar os cisnes vermelhos como o sangue. Com um dos cisnes
o rapaz simpatizava especialmente. Esse cisne chamava-se Bento.
        Bento costumava levar João até à escola, situada na outra
margem do lago. À tarde, no fim das aulas, Bento lá estava, sempre
pronto a acompanhar o rapaz. Certo dia, João, surpreendido, notou
a ausência do amigo fidelíssimo. Ficou triste e sem saber como
regressar a casa. ................................................................................
                                                                                                [7.º 2.ª]

        ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA
EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA. Vivia com os
pais e tinha uma irmã chamada Constança.
        Moravam numa rulote, com vinte e três animais — vinte e dois
ratos e um gato. Havia muitos meses que treinava os seus dotes de
assassino com os animais de estimação. Dizia-se que estava
possuído por um demónio, proveniente de Chora-Que-Logo-Comes,
uma aldeia vizinha que ficava dentro das muralhas do castelo
medieval. Nesse castelo, reinava Lúcifer XVI, rei de todos os
demónios.
        A esses boatos não ligava João: preferia passear pela
floresta, encantadora e misteriosa. Numa parte da floresta
habitavam animais que, à noite, guardavam o castelo. Nessa altura,
transformavam-se em tartarugas.
............................................................................................................
                                                                                                  [7.º 5.ª]
ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA
EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA excepcional-
mente florida. A aldeia situava-se no sopé de uma montanha
vulcânica (por vezes, os choraquelogobebenses avistavam ao longe
pequenos rios de lava que do cume desciam pelas vertentes).
         Um dia, João revoltou-se contra a vida que levava em tão
retrógada aldeia. Queria conhecer novos costumes, pessoas
diferentes e terras modernas. Quando partiu para essa sua busca,
lembrou-se que tinha uma velha tia, antiga estilista da importante
casa francesa Ne pleure pas. Enquanto isto pensava, surgiu-lhe na
frente a linha do TGV para Paris.
.............................................................................................................
                                                                                                 [7.º 3.ª]
[Criar novo texto pela substituição — por respectivas
definições (no dicionário) — de todos os verbos, nomes e
adjectivos de poema de José Gomes Ferreira]

Vou rir-me
— não para esconder as cinzas da fogueira
com ninfas de sol de espuma...

...mas para sentir este metal firme
da caveira
debaixo da bruma.
                                      José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 275


      Transporto-me de um sítio para outro exprimindo um
sentimento de alegria súbita por meio de um movimento da boca —
não para colocar em lugar onde não se possa ver o pó ou resíduos
de qualquer combustão da acumulação de corpos em combustão
com divindades subalternas e femininas dos rios, das fontes, dos
bosques, das montanhas do astro central luminoso do nosso
sistema planetário de saliva escumosa... mas para perceber por um
dos sentidos este corpo simples dotado de um brilho especial
sólido, fixo, inabalável, do crânio descarnado debaixo da atmosfera
escura e chuvosa.
                                                                  [Raquel, 7.º 5.ª]

Já me cansa
esta alegria
sempre tão fria
de ter razão...

(...com um subterrâneo de esperança
a chorar
no coração.)
                                       José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 99


      Já me causa cansaço este acontecimento feliz sempre tão
falto de calor de ter a faculdade de raciocinar discursivamente, de
combinar conceitos e proposições... (...com uma cavidade
geralmente em forma de galeria que se estende por baixo da terra
de confiança na aquisição de um bem que se deseja a derramar
lágrimas no órgão torácico oco muscular e de forma cónica, no
homem e em muitos outros animais.)
                                                                   [Eliana, 7.º 1.ª]
O silêncio é a lei
que começa no princípio do mar
e procura o perfil que reproduz
e ata os desvios
do sonho em linha recta.

Momento movido a luz
Que torna a morte inquieta.
                                       José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 208

       O estado de uma pessoa que cessou ou se abstém de falar ou de
produzir qualquer som é o preceito emanado de autoridade soberana que
dá começo no acto de principiar da grande massa e extensão de água
salgada que cobre a maior parte (73%) da superfície da terra e faz
diligências para encontrar o contorno do rosto de uma pessoa, vista de
lado que produz novamente e prende ou aperta com fio, fita ou corda os
actos ou efeitos de desviar da actividade mental não dirigida, que se
manifesta durante o sono, pelo menos nas suas fases menos profundas,
e do qual, ao acordar, se pode conservar certa lembrança em traço
contínuo de espessura desprezável ou não tomada em consideração. O
mais breve período em que o tempo se pode dividir impelido a fluxo
radiante capaz de estimular a retina para produzir a sensação visual que
torna o acto ou efeito de morrer que não está quieto.
                                                                     [Joana, 7.º 1.ª]

O desenho do perfil
amolece os ossos
— espírito de sangue
com dedos de sol.

Melodia
que dá o suporte
à interrupção do grito
para limitar a morte.
                                       José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 209


      A representação de objectos de figuras, de paisagens, de contorno do
rosto de uma pessoa tornou mole as partes duras e sólidas que formam o
arcaboiço do corpo do homem e dos animais vertebrados — substância
incorpórea de líquido espesso mais ou menos vermelho, que circula nas artérias
e nas veias com cada uma das partes, distintas e articuladas, que terminam as
mãos e os pés do homem e de alguns animais de astro central, luminoso, do
nosso sistema planetário. Série de sons agradáveis ao ouvido que doa aquilo
que sustenta o acto ou feito de interromper a voz aguda e elevada emitida com
esforço para determinar os limites do acto de morrer.
                                                                     [Paulo, 7.º 6.ª]
Não posso amar
sem imaginar
o meu desejo
de haver destino
na Tempestade...

A realidade
não é o que vejo
mas o que imagino
para ser verdade.
                                         José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 224

      Não tenho a faculdade ou a possibilidade de sentir amor,
ternura, sem representar no espírito o meu acto ou efeito de desejar
de acontecer fimpara que tende uma acção ou um estado na
violenta perturbação da atmosfera... A qualidade do que é real não
é o que consigo perceber por meio de vista mas o que represento
no espírito para ser aquilo que é verdadeiro.
                                                           [Pedro V. & Rui, 7.º 3.ª]


[Criar novo texto pela substituição — por palavra procurada em
dicionário de sinónimos (mas, de preferência, com sentido
distante) — de todos os verbos, nomes e adjectivos de poema
de José Gomes Ferreira]

Só eu não paro... Que lhe importa ao rio
mais um pássaro moribundo?
Só eu não paro... Só eu não choro... Só eu não rio...
(Sim, viva o desdém do sonho sem desvio!)
...a pensar na salvação do mundo.
                                         José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 261

Só eu não acuo... Que lhe interessa à mota
mais um volátil decadente?
Só eu não redundo... Só eu não lacrimino... Só eu não escarneço...
(Sim, coabite o desabrimento do devaneio sem ramal!)
...a ponderar na guarida do cosmos.
                                                                 [Francisco, 7.º 3.ª]

Só eu não desvio... Que lhe acarreta à corrente
mais um astuto agonizante?
Só eu não desvio... Só eu não lacrimejo... Só eu não zombeteio...
(Sim, aclame o abandono do devaneio sem alcance!)
...a meditar na conservação da abundância.
                                                                    [Patrícia, 7.ª 1.ª]
Não. Hoje não me espanto.
Quero viver com os outros
e sentir no meu canto
a alegria dos potros
numa planície matinal
— em que tudo, tudo, tudo
parece natural
e explicado.
Mas, sobretudo,
eternamente parado.
                                    José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 228


Não. Hoje não me amedronto.
Almejo alar com os outros
e conjecturar no meu poema
a alacridade dos ecúleos
numa chã matutina
— em que tudo, tudo, tudo
se apresenta aborígene
e dilucidado.
Mas, sobretudo,
eternamente quedo.
                                                               [Mafalda, 7.º 3.ª]

Não. Hoje não me azabumbo.
Diligencio coabitar com os outros
e conjecturar no meu cotovelo
a alacridade dos ecúleos
numa planura matutina
— em que tudo, tudo, tudo
se afigura verosímil
e minucioso.
Mas, sobretudo,
eternamente imóvel.
                                                                  [Nuno, 7.º 5.ª]
[Construir poema com versos a
serem     retirados de   diferentes
poemas de Poesia-I, de José Gomes
Ferreira]




                                                              Poesia-I, p.
Pus-me a escutar no silêncio,                                            (23)
na esperança fria,                                                       (25)
deste remorso sem sentido                                                (33)
dos cristais do ruído.                                                   (35)
E se o tecto abatesse de repente?                                        (36)

Foi numa noite de desarrumo do luar,                                         (56)
a querer salvar o mundo,                                                     (63)
que não foi criado com lágrimas,                                             (65)
para entorpecer de ilhas a angústia dos homens.                              (70)

Só quero ouvir o ódio                                                        (77)
de suor de escravos,                                                         (76)
porque eu sou aquele que nunca sorri para as nuvens deitado na relva,        (83)
para enfeitarem a sua fome da aristocracia das nuvens.                       (90)

Diante das pedras e das árvores,                                             (130)
desfeito e feliz,                                                            (129)
como um cego a imaginar o sol                                                (167)
no desespero do mar vil,                                                     (119)
mas por outras razões mais desesperadamente vis:                             (90)
para nunca mais sentir na cara o frio de lâmina das tuas lágrimas.           (64)
                                                                     [Matilde, 7.º 2.ª]

O sol é sempre o mesmo e o céu azul.                                         (13)
Um pássaro qualquer                                                          (17)
surge nos meus olhos,                                                        (19)
a procurar entre as árvores                                                  (21)
aquela flauta que ninguém toca                                               (23)
com boca cerrada,                                                            (30)
numa nuvem negra de milhões de lágrimas                                      (33)
quentes do entusiasmo vazio,                                              (35)
que paira neste vento de música,                                          (37)
e deixa-me sozinho.                                                       (43)
Numa noite em que o luar erguia as pedras,                                (51)
a querer salvar o mundo                                                   (63)
com o espírito que paira nas lágrimas dos pobres                          (65)
calcados de urtigas                                                       (77)
com os olhos pesados na terra                                             (95)
pela guerra e pela fome                                                   (105)
no silêncio das raízes,                                                   (107)
que me magoam a alma.                                                     (111)
Oh! esta solidão                                                          (117)
no desespero do mar vil!                                                  (119)
Ouço o ranger dum barco,                                                  (123)
o Anjo da Morte Falsificada,                                              (131)
ao som da sineta                                                          (157).
Deixa-o apodrecer no chão.                                                (107)
                                                                  [Silvana, 7.º 3.ª]



[Construir poema com versos a serem
retirados de diferentes poemas de Poeta
Militante, II, de José Gomes Ferreira]




                                     Poeta Militante, II, p.
Tenho mundo, tenho vida.                                   (9)
...E a ovelha bale, bale.                                  (11)
Grito.                                                     (11)
Onde paira o silêncio antes do Homem?                      (12)

Cala os olhos, vagabundo!                                  (13)
Ouve covarde.                                              (13)
Olha, ainda há flores!                                     (14)
Flores de asas imóveis,                                    (15)
flores com cio,                                            (15)
às estrelas e ao luar                                      (18)

Ó pastor de pascigo,                                       (22)
que veio do mar                                            (19)
para o abismo de solidão                                   (21)
de sonhos e lama...                          (22)

Essas lágrimas,                              (25)
este metal de agonia,                        (27)
nas labaredas dos dedos,                     (31)
para acariciar a gente...                    (31)
                                                       [Joana, 7º 2ª]



Ó pinheiro,                                  (27)
que não vem do céu,                          (3)
ó pinheiro,                                  (27)
sem pássaros nos cornos.                     (10)
Cala os olhos vagabundo                      (13)
ouve, covarde,                               (13)
tanto penso e tanto sinto                    (18)
aqui neste monte,                            (19)
nesta coisa complicada,                      (21)
nem uma lágrima nos olhos                    (21)
de luas e garras.                            (21)
Pobre lesma!                                 (23)
Não queiras o céu,                           (23)
com sombra no chão.                          (26)
Ah! Como te invejo,                          (29)
tu que não morreste na cama...               (39)
                                              [João Marcelo, 7.º 5.ª]

Passei toda a noite a meditar                (21)
na majestade sozinha,                        (23)
ao sol de borco imundo.                      (24)
Essas lágrimas                               (25)
dessa sombria cega                           (26)
saltavam-lhes dos olhos                      (279)
sem fim nem começo                           (10)

A sombra enforcou naquele candeeiro          (79)
olhos e ventos,                              (87)
para salvar o mundo.                         (117)
Matou talvez em sonhos                       (174)
até encher o copo de lágrimas                (193)
e agora confessa o crime                     (174)
que se confunde com a brisa                  (175)
a assobiar.                                  (192)

Este mundo eterno                            (30)
desta gente que até suja as próprias dores   (50)
trazia talvez nos olhos o reflexo            (66)
que trago no coração,                        (67)
para baterem um dia ao mesmo tempo           (67)
nos gritos por dentro da Solidão.            (66)
                                                     [Ana M., 7.º 6.ª]
[Construir poema com versos a serem
retirados de diferentes poemas de Poeta
Militante, I, de José Gomes Ferreira]




                                                     Poeta Militante, I, p.
Nasceste por engano nestes céus,                                              (105)
com o mundo a obedecer aos meus caprichos.                                    (104)

Terra seca                                                                    (?)
num céu viril com anjos de aço,                                               (106)
aos tombos, aos cachos como morcegos...                                       (107)

Ódio às lágrimas mal choradas diante dos parentes,                            (111)
do sonho moribundo,                                                           (115)
a fingir de rosa numa planta.                                                 (121)

Árvore sem fruto,                                                             (127)
com desespero comovido,                                                       (131)
pois não vê que me sufoca                                                     (133)
até o frio do espanto.                                                        (135)
                                                                     [Marta L., 7.º 5.ª]




[Construir poema com versos a serem
retirados de diferentes poemas de Poesia-
II, de José Gomes Ferreira]




                                                     Poesia-II, p.
Eu, o cavaleiro vermelho,                                            (115)
no cavalo amarelo da fome,                                           (126)
morro pouco a pouco,                                                 (147)
com passos de rasgar chão,                                           (174)
na areia molhada...                                           (30)
Ergueu-se de súbito por entre as árvores,                     (41)
ergue-se, um algoz,                                           (56)
à procura de treva num dia de sol.                            (87)
Por isso combato,                                             (115)
por isso mato,                                                (115)
para que o sol continue a brilhar,                            (117)
num arrepio de treva e abismos.                               (117)
                                                             [Gonçalo, 7.º 5.ª]



Morrer devia ser assim...                                     (11)
Volta para trás.                                              (19)
Ah, eis a grande raiva:                                       (20)
é do teu desarrumo                                            (43)

Todos te contemplam,                                          (47)
todos menos eu.                                               (49)
Caminhos em vão,                                              (53)
na chama dum facho.                                           (59)

Por mais que ele berre                                        (61)
incêndios sem chama,                                          (63)
em toda essa horda.                                           (69)
Mas onde?... Em que longe?                                    (66)
                                            [João Tomás, João Afonso, 7.º 6.ª]



Olho para o céu imenso,                                       (17)
árvore sem fruto,                                             (16)
meu jardim perdido...                                         (12)
o braço de uma ninfa ergueu-se.                               (41)
Entrem árvores,                                               (40)
um destino de flores;                                         (41)
o sol abriu em asas,                                          (47)
a fingirem de pássaros.                                       (41)
Volto para trás,                                              (19)
com o mar                                                     (18)
na areia molhada:                                             (30)
fiz uma deusa,                                                (18)
o único sinal profundo,                                       (19)
que criou o mar,                                              (18)
como o desenho                                                (72)
no sonho constante,                                           (87)
na imaginação.                                                (72)
                                                                 [Rita, 7.º 2.ª]
Volto para trás,                                           (19)
Num gelar de flores.                                       (29)
Eu parei, estremecido,                                     (31)
E a sombra de um homem                                     (30)
A quem deram o céu por só castigo...                       (36)

Trago na alma                                              (163)
As asas covardes                                           (168)
De me sentir perdido e só no meio da morte.                (169)

Cai uma pedra no lago...                                   (175)
Cá estou outra vez de lágrimas nos olhos.                  (176)
Trago nos olhos uma certeza,                               (181)
Não nasceu das lágrimas do poetas:                         (191)
Quando nasceu já tudo estava mundo                         (171)
                                                           [João C., 7.º 2.ª]




[Construir poema com versos a serem
retirados de diferentes poemas de Longe, de
José Gomes Ferreira]




                                              Longe, p.
Ergo os olhos ao Altar,                             (13)
tocou-me Deus com a mão.                            (14)
Ardem círios, como dedos,                           (16)
ouço o luar... Sinfonia                             (17)
E o luar, nevando penas,                            (16)
... luar de melancolia...                           (17)

Mas veio o Vento, o Encantado:                      (18)
não vejo nada... pressinto                          (20)
E, ouvindo o Vento, que espalha,                    (19)
o Medo lançou-me as redes                           (18)

Larguei o missal... Desmaia,                        (21)
Vénus verde nas areias!                             (23)
Que é Portugal, ó Poeta,                            (22)
das almas dos marinheiros?!                         (23)

E há mais de quinhentos anos                        (22)
a suavidade da lua...                               (23)
E por entre o nevoeiro                              (24)
vive a Descrença em meu peito.                      (25)
                                                             [Paula, 7.º 1.ª]
Dum luar de suavidade,                                      (14)
ardem círios como dedos                                     (16)
e na sombra que estremece                                   (17)
o medo lançou-me as redes...                                (18)

Ouvindo o vento que espalha,                                (19)
entrei na cela Aziaga:                                      (20)
queimou-se o Sol da verdade,                                (21)
ó Bocage da Desgraça!                                       (35)

As ondas são berços,                                        (23)
ao luar da lua cheia,                                       (24)
e ao Sol, em oiro desfeito                                  (25)
sinto-o no meu coração                                      (23)

todo manchado de Luz,                                       (27)
sem templos nem catedrais,                                  (29)
senhor dos braços doridos,                                  (30)
das nossas mãos, desfolhadas...                             (31)
                                                                   [Madalena, 7.º 2.ª]

[Construir poema com versos a serem retirados de diferentes
poemas de Poesia-III, de José Gomes Ferreira]
                                                     Poesia-III, p.
Se não há outro mundo,                                                (125)
insulto-me ao espelho.                                                (126)
É apenas este ritmo entre nós e a terra,                              (127)
para aqui aos tombos no ruído do mundo...                             (128)
E ponho-me a pensar:                                                  (137)
malmequeres para quê?                                                 (139)
Montes e montes de flores,                                            (144)
em multidão...                                                        (145)
Onde poisaste os olhos?                                               (46)
Neste momento,                                                        (216)
Toquei-te.                                                            (217)
                                                                      [Andreia, 7.º 1.ª]

Amor...                                                               (232)
Sei lá se sonho ou vivo!                                              (233)
E eu falo e sorrio,                                                   (163)
de manhã até à noite,                                                 (169)
nesta rua deserta.                                                    (181)
Todas as traições, todas as ânsias, todos os soluços...               (183)
Hoje só sinto o sabor                                                 (230)
e os braços erguidos                                                  (224)
de escritores sem corpo,                                              (214)
flores carnívoras,                                                    (224)
agora no luar caído.                                                  (236)
E é esta a minha tragédia!                                            (237)
                                                                        [Miguel, 7º 3ª]
[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Poeta: continua a arrastar a solidão» e «Liberdade», de José
Gomes Ferreira]

Olhos em liberdade
a rasgarem a sombra!
Momento de solidão
afoga o ódio.

Vontade de a beijar,
mostrar a ternura,
arrastar corações!
Benditas as raízes:
também dão roseiras,
flores de ternura.

Continua atada, no fundo das nuvens,
que nos resiste assim;
dos monstros e dos tufões,
inútil e parva fuga é
— lés a lés —
de roedores aos pés.

Imagina é pássaros
com a tua ternura!
Cicatrizes das rosas,
asas como bandeiras
Da quente boca...

Abaixo a ilha,
que nos odeia!
Mas é a vez
que te apaga fontes.
                                                [João R., 7.º 3.ª]


A liberdade resiste!
As roseiras dão rosas,
cicatrizes, solidão.
Afoga monstros, odeia bandeiras,
imagina tufões.
Apaga o momento,
quente como é.
Beijar de boca atada,
mostrar ódio e ternura!
Dos olhos raízes benditas
rasgam nuvens...
Continua, ternura,
no fundo dos corações,
ternura parva!
Pássaros e roedores,
flores com asas,
vontade inútil...
                                                                    [Marta S., 7.º 2.ª]

Beijar monstros apaga corações!
No fundo momento resiste a solidão:
cicatrizes em sombra de rosas,
como o ódio de tufões.

A vontade da tua liberdade...
Benditas roseiras de olhos de flores,
também rasgam raízes dos roedores.

Ternura quente, ternura parva,
continua a arrastar asas: dão fuga que nos odeia.
Assim, imagina pássaros a mostrar-nos ternura
atada com a boca.
                                                                         [Ítalo, 7.º 1.ª]

                      (O momento é de ódio. Odeia! Abaixo a ternura parva!)

Poeta: continua a arrastar a solidão
da tua ilha de sombra
atada aos pés.
Mas resiste a mostrar as cicatrizes
dos monstros roedores
que te rasgam de lés a lés.

Afoga nos olhos
a ternura das fontes
que no fundo das raízes
imagina as flores.

E apaga na boca
a fuga quente dos pássaros
com asas nos corações.

A ternura é inútil
como beijar tufões.
                                          José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230
Liberdade
é também vontade

Benditas roseiras
que em vez de rosas
dão nuvens e bandeiras
                                  José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 258



[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Só por orgulho te aceito» e «Tudo cansa!», de José Gomes
Ferreira]

Aceito o orgulho.
Na minha esperança
há malmequeres delicados,
que pesam no corpo.

Os dois segredos da balança:
o brilho dos teus olhos e essa
chama ausente que hoje
estende a lança cruel.

O deserto desse meu jeito
improvisado, mulher que vem
de terra, vem com outros olhos.

Com a hora perto,
sinto a canção mais longe:
vem deitar lama na morte.
                                                                [Sara, 7.º 1.ª]

A hora alonga no deserto,
o orgulho chama mulheres,
tudo estende o chão.
Há lama com malmequeres,
brilho de sol,
segredos nus
e olhos delicados.

A terra lança esperança
perto do meu corpo,
o sol balança na minha cama
e sinto a morte.
O suor ausente mutila teus olhos.
Aceito travos que
— mulher cruel! —
pesam da canção.
                                                                    [Cláudia, 7.º 5.ª]

             (Canção da mulher ausente, improvisada à hora de me deitar.)

Só por orgulho te aceito.

Vem
com a lama desse jeito
que há na terra do corpo das mulheres
— e estende no meu leito
o chão de malmequeres.

Vem
com essa chama
que mutila o sol de outros segredos
— e alonga na minha cama
o suor dos trevos.

Vem,
meu deserto,
que só longe
(na morte)
sinto mais perto.
                                        José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 128

Tudo cansa!
Até o brilho cruel do sol de lança
dos teus olhos nus.

Teus olhos. Hoje dois delicados pratos de balança
que só pesam a luz.

(E a Esperança.)
                                         José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 98
[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Dor em vão» e «Leva-me os olhos, gaivota», de José Gomes
Ferreira]

Naquela mesma escuridão
onde se repetem a angústia,
ansiedade, dor,
onde a sereia canta,
a aranha tece a teia,
a gaivota leva-me asas de liberdade.
Nem os olhos
vão cair lá na ilha
onde o terror não tem casas
e ficou longe...

Noite e dia sem algemas,
em rota do coração,
os jardins de jasmins e cravos
deixa-os apenas
toda a lua.
Dói pôr apenas uma bagatela:
esta nunca rói!
                                                                    [Carolina, 7.º 3.ª]

Na noite nem os cravos vão à lua.
Leva-me a angústia aos jardins do meu coração.
Teia de aranha, olhos de gaivota,
Uma sereia nunca tem dor.
                                                                       [Diogo, 7.º 2.ª]

             (Do terror dum dia de angústia ficou apenas esta bagatela.)

Dor em vão
que já nem rói
o coração
— ao menos dói

Não sejas apenas
esta ansiedade
a pôr algemas
na liberdade
                                           José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 84

Leva-me os olhos, gaivota,
e deixa-os cair lá longe naquela ilha sem rota...
Lá...
      onde os cravos e os jasmins
nunca se repetem nos jardins...

Lá...
     onde nunca a mesma aranha tece a mesma teia
na mesma escuridão das mesmas casas...

Lá...
        onde toda a noite canta uma sereia
...e a lua tem asas

Lá...
                                        José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 143



[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Pôs-me o destino nas mãos» e «Que temos nós com a
primavera?», de José Gomes Ferreira]

Olhos dos malmequeres
na primavera confusa nasceram,
linhas entrelaçadas de arame e oiro,
nas estações de aceitação...
Adeus, primavera, meu novelo:
não é complicado mas aterra em terra,
no caminho da riqueza...
Pôs-me pobre,
com mãos inúteis mas suadas de prata.
                                                              [João Berga, 7.º 1.ª]

Que caminho complicado!
Temos umas mãos de oiro entrelaçadas,
malmequeres inúteis,
numa primavera confusa.
Na boca de prata,
com olhos no arame,
mil estações
nasceram — perfumes de riqueza...
Pobre primavera!
O destino pôs-me de silêncio,
aterra na fossa,
mãos de adeus para outras com novelo,
nas linhas de terra,
suadas em redor.
                                                             [Frederico S., 7.º 2.ª]
Pôs-me o destino nas mãos
um novelo de mil linhas...
Umas de oiro... outras de prata...
...outras de arame mais vil
Mas todas entrelaçadas
numa riqueza confusa.

Pobre novelo complicado
nestas mãos inúteis
que nasceram para dizer adeus
nas estações de caminho de ferro.
                                     José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 190

Que temos nós com a primavera?

Não nos sai dos olhos
nem da boca,
mas da terra
que não é nossa.

Primavera para quê?
Malmequeres para quê?

Para a aceitação com perfumes
deste silêncio de fossa?
                                     José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 49



[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Ó
camponês» e «Chove...», de José Gomes Ferreira]

Chove na rua de Palma.
Chuva do destino...
Num céu espalmado, cai silêncio:
enquanto chove, morrem bons-dias!
Entretenho-me a ouvir violino,
não importa que melodia ouvir!
Ninguém mais ouve, antes berra:
estou a cheirar urina!
Quem se ama?
                                                               [Bruno S., 7.º 1.ª]

Ó camponês,
não me dês
os bons-dias.

Berra!
Não queiras o céu
antes da terra
                                              José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 98

             (Enquanto os aliados a caminho de Berlim morrem, eu
             entretenho-me a ver chover na Rua da Palma, espalmado num
             portal a cheirar a urina podre.)
Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
                                      José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219



[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Cai dos telhados» e «Que manhã esta!», de José Gomes
Ferreira]

No Rossio está a igreja que ninguém encontra.
Custa-me quando há prostitutas numa montra,
no nevoeiro e frio: oxalá alguém as veja!
Sinto ternura no coração, um profundo sonho
que está em princípio.
Esconder a bandeira arrendou raízes nas árvores.
Tu escutas o sorrir da floresta de manhã?
Quando escutas árvores numa floresta,
um entusiasmo profundo e ternura cai no coração.
Sinto um frio ardente por sorrir,
sonho duma criação.
                                                                  [Ana S., 7.º 6.ª]

Cai dos telhados
Um nevoeiro frio
que pendura enforcados
nas árvores do Rossio...
Oxalá ninguém me veja
(nem tu que meu sonho escutas)
por aqui nestas vielas, em redor da igreja,
suadas de prostitutas.

Custa-me tanto, quando alguém me encontra,
sorrir por instinto.
Ou esconder no espelho duma montra
o meu labirinto.

Quero estar só, ouviram?... Só e só!...
— É a única maneira
de arder o meu pó
numa bandeira.

Só assim sinto beijar-me o coração
esta ternura que me aterra
e que no princípio da criação
arredondou a Terra.
                                          José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 242

Que manhã esta!
ardente como o entusiasmo dos tambores.
Onde tudo o que há de profundo nas raízes da floresta
se descobre em flores
                                          José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 248



[Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de
«Nasceste tão grave» e «Os outros decifram palavras
cruzadas», de José Gomes Ferreira]

Gargalhadas decifram tanto frio,
a melodia pesa,
e, de súbito, a vida sorri.

Trono branco de poder,
num vazio de tédio.
O arame torna palavras em risco:
na grave morte, tudo sofre.

Palavras cruzadas a viver
a paisagem já de pena...

Nasceste leve e a rir,
no teu cabelo farpado
algemas decifram rendas
mais cruzadas que a visão.
Falo em enigmas e, inclinado,
desato outros teoremas dentro da boca.
                                                                    [Joana D., 7.º 5.ª]

             (Inclinado sobre o berço.)

Nasceste tão grave
— e já no teu trono de rendas
a vida pesa tanto.

Que pena não saberes sorrir!
— visão da morte
que torna tudo mais leve.

Risco branco
de um esqueleto em melodia.
na prata da boca leve.
                                          José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 211

             (A paisagem da pátria... Tédio e arame farpado.)

Os outros decifram palavras cruzadas
e eu falo e sorrio...
(Mas a sifrer por dentro, a arancar o cabelo,
por viver num mundo vazio
e só poder enchê-lo
de frio.)

Os outros decifram palavras cruzadas,
enigmas, teoremas...
E eu de súbito desato a rir às gargalhadas
num tinir de algemas...
                                           José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 62
[Reescrever poema de José Gomes Ferreira, substituindo as
palavras finais dos versos por outras procuradas em dicionário
de rimas.]

Poeta: continua a arrastar a solidão
da tua ilha de sombra
atada aos pés.
Mas resiste a mostrar as cicatrizes
dos monstros roedores
que te rasgam de lés a lés.

Afoga nos olhos
a ternura das fontes
que no fundo das raízes
imagina as flores.

E apaga na boca
a fuga quente dos pássaros
com asas nos corações.

A ternura é inútil
como beijar tufões.
                                       José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230



Poeta continua a arrastar a imaginação
da tua ilha de alfombra
atada às galés.
Mas resiste a mostrar as varizes
dos monstros caçadores
que te rasgam de través.

Afoga nos abrolhos
a ternura das pontes
que no fundo das cicatrizes
imagina as cores.

E apaga na toca
a fuga quente dos <pássaros>
com asas nos canhões.

A ternura é fútil
como beijar vulcões.
                                                               [Francisco, 7.º 6.ª]
Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
                                     José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219



Noventa e nove...

É o número de gente morta
nesta aldeia. Mas o que é que isso importa?
Só de ver a a cara da Céu,
a filha do Florêncio,
com aquela pança de Galileu...

Nove...

São as flores daquele apartamento citadino.
Mas que drama:
ao ver aquele menino,
só me apetece pôr-lhe a casa em chama.
                                                                [João G., 7.º 3.ª]

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Trabalhos Da Semana Jgf 4 (Idiomatismos E Outras Tarefas)

  • 1. «Há dias, um amigo meu, ao narrar o episódio de um banho gelado numa praia qualquer do Norte do país, explicou: — De súbito, reparei que batia os dentes. Mas batia mesmo os dentes. E espantei-me. Afinal, bater os dentes não era uma imagem barata de folhetim, como eu durante tanto tempo supusera. Não. Correspondia a um facto verdadeiro... Sim. Os folhetins estão cheios dessas observações verdadeiras: "ficou branco como o linho", "tremeu como varas verdes", "cambaleou de dor", "viu tudo vermelho em redor", etc. Por isso são tão falsos.» José Gomes Ferreira, Dias Comuns, IV, pp. 18-19 [«Bater os dentes», «tremer como varas verdes» são expressões idiomáticas, que não interpretamos «à letra» — escrever um texto em que apareça uma expressão idiomática, ora no seu sentido figurado, ora tomada à letra (como nos desenhos de Les Idiomatics)] Hoje em dia, cadeias de lojas como McDonald's, Burger King e KFC, todas de "fast- food", têm todos os anos elevados lucros e, com a progressiva expansão internacional, esses lucros aumentam de ano para ano .É esse o único objectivo dos proprietários. Agora, com a tecnologia avançada, a possibilidade de modificar geneticamente os animais permite um menor dispêndio de dinheiro . E o resultado são animais que só têm carne, 100% aproveitáveis, mas sem pés nem cabeça ou órgãos. Uma ideia sem pés nem cabeça, mas que não deixa de contentar os clientes que, satisfeitos, limitam-se a comer o que lhes dão. [Gonçalo, 7.º 5.ª] Chegou a casa e achou que devia ir à cozinha pois estava cheio de fome. Espantou-se quando lá chegou, porque viu que o lanche estava pronto na mesa: pão, pão; queijo, queijo. Sentou-se e comeu. Quando acabou, zangou-se com a mulher pois ela tinha a cozinha desarrumada. Depois de muita discussão, a mulher saiu de casa e foi ter com uma amiga. — 'Tou a ficar farta do meu marido. — Não ligues. Sabes que ele é assim. Muito pão, pão, queijo, queijo. [Tiago, 7.º 6.ª]
  • 2. Eram seis horas e meia da manhã e o galo cantou. Como era dia de Páscoa, toda a aldeia acordou em alvoroço. Todas as famílias arranjaram o seu «banquete», embora com poucas coisas. Na família Santos, o ambiente não era diferente. Ao contrário das outras famílias, esta criava ovelhas, por isso tinham sempre cordeiro. O responsável pela matança do cordeiro era o senhor Manuel Santos, homem de certa idade mas bem constituído. Como era habito, o senhor Manuel, antes de matar o pobre do bicho, esticava os seus pernis, pois, dizia ele, assim o animal ficava mais tenro. Esta técnica era conhecida por toda aldeia. Naquele dia, ao almoço, a família Santos apreciava o cordeiro tenro com enorme satisfação. Porém, de repente, Manuel ficou hirto na sua cadeira e caiu para trás, de olhos esbugalhados e sem pulsação. Nunca nínguém compreendeu o que se passara, mas todos diziam que fora a vez de ele esticar o pernil. [Bruno Rafael, 7.º 5.ª] Foi numa bela quinta-feira que o senhor Jacinto foi aos arames. Zangou-se com o seu filho por ter tido uma negativa a Matemática. À tarde, o senhor Jacinto notou que não tinha a carteira... tinha-a perdido na Quinta dos Arames. Encontra o seu filho. — Onde vais, Pai? — Vou aos arames... — Ok, 'té logo! Lá encontrou a carteira e voltou para casa. [Madalena, 7.º 3.ª] Na Quinta das Celebridades, Lili Caneças é uma mulher do jet-set. Só tem conversas banais, mas, mesmo assim, surpreendeu-me o seu sentido de humor. Imagino que ela no dia-a-dia não faça nada, indo apenas a festas chiquíssimas, pelo que suponho que vive à barba longa. Tem muitos amigos, todos ricos, mas destaca-se um, o Barbas, que tem a barba extraordinariamente longa. [André, 7.º 3.ª]
  • 3. — A Arlete não sabe fazer a cama a ninguém, deixa sempre os lençóis de fora do colchão. — disse Mariana, intrigada, — Quem me anda a fazer a cama é a minha patroa, só me quer tramar fazendo com que os empregados recebam menos ordenado e acusando-me sem piedade. — disse a mãe. — Depois falamos, eu encontro-me atrasadíssima para a escola. Dizendo isto, Mariana abandonou a sua casa. [Sara, 7.º 6.ª] Sonhei que, num dia soalheiro, ia com a minha turma e um dos meus colegas fugiu e perdeu-se. Esse menino foi ter a um labirinto onde encontrou um homem e uma vaca. Esse homem pôs o meu colega nos cornos da vaca, que se chamava Lua. Ele conseguiu fugir, contou a história e puseram-no nos cornos da lua como se tivesse sido imensamente corajoso. [Enoque, 7.º 6.ª] Um pobre emigrante português vivia no México. Passados dez anos, tinha uma das melhores empresas deste país. Toda a gente da empresa dizia que o chefe tinha comido o pão que o diabo amassou. Um dia foi a um café tomar o pequeno-almoço. Por acaso, o dono do café chamava-se «Diablo» e tinha ele próprio amassado o pão que vendia. Aí um colega do empresário português notou a situação e disse: «comeste o pão que o Diablo amassou». [Paulo, 7.º 6.ª] O leiteiro deixara a botija à porta da minha casa. Mal ouviu o tilintar da garrafa, o meu irmão foi a correr beber o leite; mal pôs a boca na botija apareceu a minha
  • 4. mãe (sabendo que ele não queria que ela soubesse): apanhou-o mesmo com a boca na botija. [Rita, 7.º 2.ª] No sábado, o sr. João queria ir à caça mas também queria passar mais tempo com o seu filho. Por isso, levou-o consigo a caçar, e assim matou dois coelhos com uma só cajadada. Quando já estavam à caça, tinha o seu filho a arma e viu dois coelhos muito perto um do outro: disparou a arma e matou dois coelhos com uma só cajadada. [Filipe, 7.º 5.ª] No outro dia, enervei-me num jogo de futebol, quando soube que a equipa adversária dera luvas ao árbitro para que os beneficiasse. Mas o Sporting acabou por ganhar. Por isso, fiquei felicíssimo e fui às compras: dei umas luvas ao meu pai e à minha mãe também. [João Marcelo, 7.º 5.ª] Achei uma ideia parva a Sofia querer comprar um animal de estimação para dizer aos pais que tinha mais responsabilidade. E, ainda por cima, estes ofereceram-se precisamente uns macacos, que instala- ram no sótão da casa. Eu logo vi que ela iria estar fora deste planeta. Nas aulas estava distraída e sempre com macaquinhos no sótão. Talvez estivesse pensando nos seus animais. Ou na lua... [Joana D., 7.º 5.ª]
  • 5. [Colectivamente (em «estafeta»: cada aluno vai propondo uma frase sem alterar o texto anterior), redacção de continuação do começo de Aventuras de João Sem Medo, 10.ª edição]
  • 6. ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA em que não havia água e onde, por isso, se bebia a chuva retida em depósitos nos telhados das casas. Ora, um dia, deixou de chover. Os choraquelogobebenses partiram então em busca de água. Nessa altura, João, corajosamente, resolveu dirigir-se às montanhas à procura do deus da água. Porém, tendo percebido que não havia aí nenhum deus, decidiu juntar dinheiro para comprar água. É claro que pouco dinheiro havia numa aldeia tão pobre. Por isso, João achou que devia emigrar. Primeiro, achou que devia deslocar-se para um país com costa. Assim fez. Passado tempo, depois de ter comido o pão que o diabo amassou, conseguiria ser contratado por um empresa distribuidora de água. ......................................................................... [7.º 1.ª] ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA habitada por gente paupérrima. Apesar de muito humildes, os choraquelogo- bebenses eram unidos e hospitaleiros. João morava com Alberta Jacinta, sua avó, amável e carinhosa senhora que o criara desde a morte dos pais, havia quinze anos. Era Verão, uma altura festiva na aldeia. Aquelas casas rústicas, de pedra e colmo, estavam agora enfeitadas e tanta beleza dava à aldeia um espírito mais jovem. João preparava a roupa, para levar no dia seguinte, o do baile principal. Para ele era um evento importantíssimo: nunca fora a um baile. ............................................................................................................. [7.º 6.ª]
  • 7. ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA famosa pela aguardente produzida a partir do choro dos seus habitantes. Todos os dias, o João levantava-se às cinco da manhã e ia ao lago admirar os cisnes vermelhos como o sangue. Com um dos cisnes o rapaz simpatizava especialmente. Esse cisne chamava-se Bento. Bento costumava levar João até à escola, situada na outra margem do lago. À tarde, no fim das aulas, Bento lá estava, sempre pronto a acompanhar o rapaz. Certo dia, João, surpreendido, notou a ausência do amigo fidelíssimo. Ficou triste e sem saber como regressar a casa. ................................................................................ [7.º 2.ª] ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA. Vivia com os pais e tinha uma irmã chamada Constança. Moravam numa rulote, com vinte e três animais — vinte e dois ratos e um gato. Havia muitos meses que treinava os seus dotes de assassino com os animais de estimação. Dizia-se que estava possuído por um demónio, proveniente de Chora-Que-Logo-Comes, uma aldeia vizinha que ficava dentro das muralhas do castelo medieval. Nesse castelo, reinava Lúcifer XVI, rei de todos os demónios. A esses boatos não ligava João: preferia passear pela floresta, encantadora e misteriosa. Numa parte da floresta habitavam animais que, à noite, guardavam o castelo. Nessa altura, transformavam-se em tartarugas. ............................................................................................................ [7.º 5.ª]
  • 8. ERA UMA VEZ UM RAPAZ CHAMADO JOÃO, QUE VIVIA EM CHORA-QUE-LOGO-BEBES, EXÍGUA ALDEIA excepcional- mente florida. A aldeia situava-se no sopé de uma montanha vulcânica (por vezes, os choraquelogobebenses avistavam ao longe pequenos rios de lava que do cume desciam pelas vertentes). Um dia, João revoltou-se contra a vida que levava em tão retrógada aldeia. Queria conhecer novos costumes, pessoas diferentes e terras modernas. Quando partiu para essa sua busca, lembrou-se que tinha uma velha tia, antiga estilista da importante casa francesa Ne pleure pas. Enquanto isto pensava, surgiu-lhe na frente a linha do TGV para Paris. ............................................................................................................. [7.º 3.ª]
  • 9. [Criar novo texto pela substituição — por respectivas definições (no dicionário) — de todos os verbos, nomes e adjectivos de poema de José Gomes Ferreira] Vou rir-me — não para esconder as cinzas da fogueira com ninfas de sol de espuma... ...mas para sentir este metal firme da caveira debaixo da bruma. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 275 Transporto-me de um sítio para outro exprimindo um sentimento de alegria súbita por meio de um movimento da boca — não para colocar em lugar onde não se possa ver o pó ou resíduos de qualquer combustão da acumulação de corpos em combustão com divindades subalternas e femininas dos rios, das fontes, dos bosques, das montanhas do astro central luminoso do nosso sistema planetário de saliva escumosa... mas para perceber por um dos sentidos este corpo simples dotado de um brilho especial sólido, fixo, inabalável, do crânio descarnado debaixo da atmosfera escura e chuvosa. [Raquel, 7.º 5.ª] Já me cansa esta alegria sempre tão fria de ter razão... (...com um subterrâneo de esperança a chorar no coração.) José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 99 Já me causa cansaço este acontecimento feliz sempre tão falto de calor de ter a faculdade de raciocinar discursivamente, de combinar conceitos e proposições... (...com uma cavidade geralmente em forma de galeria que se estende por baixo da terra de confiança na aquisição de um bem que se deseja a derramar lágrimas no órgão torácico oco muscular e de forma cónica, no homem e em muitos outros animais.) [Eliana, 7.º 1.ª]
  • 10. O silêncio é a lei que começa no princípio do mar e procura o perfil que reproduz e ata os desvios do sonho em linha recta. Momento movido a luz Que torna a morte inquieta. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 208 O estado de uma pessoa que cessou ou se abstém de falar ou de produzir qualquer som é o preceito emanado de autoridade soberana que dá começo no acto de principiar da grande massa e extensão de água salgada que cobre a maior parte (73%) da superfície da terra e faz diligências para encontrar o contorno do rosto de uma pessoa, vista de lado que produz novamente e prende ou aperta com fio, fita ou corda os actos ou efeitos de desviar da actividade mental não dirigida, que se manifesta durante o sono, pelo menos nas suas fases menos profundas, e do qual, ao acordar, se pode conservar certa lembrança em traço contínuo de espessura desprezável ou não tomada em consideração. O mais breve período em que o tempo se pode dividir impelido a fluxo radiante capaz de estimular a retina para produzir a sensação visual que torna o acto ou efeito de morrer que não está quieto. [Joana, 7.º 1.ª] O desenho do perfil amolece os ossos — espírito de sangue com dedos de sol. Melodia que dá o suporte à interrupção do grito para limitar a morte. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 209 A representação de objectos de figuras, de paisagens, de contorno do rosto de uma pessoa tornou mole as partes duras e sólidas que formam o arcaboiço do corpo do homem e dos animais vertebrados — substância incorpórea de líquido espesso mais ou menos vermelho, que circula nas artérias e nas veias com cada uma das partes, distintas e articuladas, que terminam as mãos e os pés do homem e de alguns animais de astro central, luminoso, do nosso sistema planetário. Série de sons agradáveis ao ouvido que doa aquilo que sustenta o acto ou feito de interromper a voz aguda e elevada emitida com esforço para determinar os limites do acto de morrer. [Paulo, 7.º 6.ª]
  • 11. Não posso amar sem imaginar o meu desejo de haver destino na Tempestade... A realidade não é o que vejo mas o que imagino para ser verdade. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 224 Não tenho a faculdade ou a possibilidade de sentir amor, ternura, sem representar no espírito o meu acto ou efeito de desejar de acontecer fimpara que tende uma acção ou um estado na violenta perturbação da atmosfera... A qualidade do que é real não é o que consigo perceber por meio de vista mas o que represento no espírito para ser aquilo que é verdadeiro. [Pedro V. & Rui, 7.º 3.ª] [Criar novo texto pela substituição — por palavra procurada em dicionário de sinónimos (mas, de preferência, com sentido distante) — de todos os verbos, nomes e adjectivos de poema de José Gomes Ferreira] Só eu não paro... Que lhe importa ao rio mais um pássaro moribundo? Só eu não paro... Só eu não choro... Só eu não rio... (Sim, viva o desdém do sonho sem desvio!) ...a pensar na salvação do mundo. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 261 Só eu não acuo... Que lhe interessa à mota mais um volátil decadente? Só eu não redundo... Só eu não lacrimino... Só eu não escarneço... (Sim, coabite o desabrimento do devaneio sem ramal!) ...a ponderar na guarida do cosmos. [Francisco, 7.º 3.ª] Só eu não desvio... Que lhe acarreta à corrente mais um astuto agonizante? Só eu não desvio... Só eu não lacrimejo... Só eu não zombeteio... (Sim, aclame o abandono do devaneio sem alcance!) ...a meditar na conservação da abundância. [Patrícia, 7.ª 1.ª]
  • 12. Não. Hoje não me espanto. Quero viver com os outros e sentir no meu canto a alegria dos potros numa planície matinal — em que tudo, tudo, tudo parece natural e explicado. Mas, sobretudo, eternamente parado. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 228 Não. Hoje não me amedronto. Almejo alar com os outros e conjecturar no meu poema a alacridade dos ecúleos numa chã matutina — em que tudo, tudo, tudo se apresenta aborígene e dilucidado. Mas, sobretudo, eternamente quedo. [Mafalda, 7.º 3.ª] Não. Hoje não me azabumbo. Diligencio coabitar com os outros e conjecturar no meu cotovelo a alacridade dos ecúleos numa planura matutina — em que tudo, tudo, tudo se afigura verosímil e minucioso. Mas, sobretudo, eternamente imóvel. [Nuno, 7.º 5.ª]
  • 13. [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia-I, de José Gomes Ferreira] Poesia-I, p. Pus-me a escutar no silêncio, (23) na esperança fria, (25) deste remorso sem sentido (33) dos cristais do ruído. (35) E se o tecto abatesse de repente? (36) Foi numa noite de desarrumo do luar, (56) a querer salvar o mundo, (63) que não foi criado com lágrimas, (65) para entorpecer de ilhas a angústia dos homens. (70) Só quero ouvir o ódio (77) de suor de escravos, (76) porque eu sou aquele que nunca sorri para as nuvens deitado na relva, (83) para enfeitarem a sua fome da aristocracia das nuvens. (90) Diante das pedras e das árvores, (130) desfeito e feliz, (129) como um cego a imaginar o sol (167) no desespero do mar vil, (119) mas por outras razões mais desesperadamente vis: (90) para nunca mais sentir na cara o frio de lâmina das tuas lágrimas. (64) [Matilde, 7.º 2.ª] O sol é sempre o mesmo e o céu azul. (13) Um pássaro qualquer (17) surge nos meus olhos, (19) a procurar entre as árvores (21) aquela flauta que ninguém toca (23) com boca cerrada, (30) numa nuvem negra de milhões de lágrimas (33)
  • 14. quentes do entusiasmo vazio, (35) que paira neste vento de música, (37) e deixa-me sozinho. (43) Numa noite em que o luar erguia as pedras, (51) a querer salvar o mundo (63) com o espírito que paira nas lágrimas dos pobres (65) calcados de urtigas (77) com os olhos pesados na terra (95) pela guerra e pela fome (105) no silêncio das raízes, (107) que me magoam a alma. (111) Oh! esta solidão (117) no desespero do mar vil! (119) Ouço o ranger dum barco, (123) o Anjo da Morte Falsificada, (131) ao som da sineta (157). Deixa-o apodrecer no chão. (107) [Silvana, 7.º 3.ª] [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poeta Militante, II, de José Gomes Ferreira] Poeta Militante, II, p. Tenho mundo, tenho vida. (9) ...E a ovelha bale, bale. (11) Grito. (11) Onde paira o silêncio antes do Homem? (12) Cala os olhos, vagabundo! (13) Ouve covarde. (13) Olha, ainda há flores! (14) Flores de asas imóveis, (15) flores com cio, (15) às estrelas e ao luar (18) Ó pastor de pascigo, (22) que veio do mar (19) para o abismo de solidão (21)
  • 15. de sonhos e lama... (22) Essas lágrimas, (25) este metal de agonia, (27) nas labaredas dos dedos, (31) para acariciar a gente... (31) [Joana, 7º 2ª] Ó pinheiro, (27) que não vem do céu, (3) ó pinheiro, (27) sem pássaros nos cornos. (10) Cala os olhos vagabundo (13) ouve, covarde, (13) tanto penso e tanto sinto (18) aqui neste monte, (19) nesta coisa complicada, (21) nem uma lágrima nos olhos (21) de luas e garras. (21) Pobre lesma! (23) Não queiras o céu, (23) com sombra no chão. (26) Ah! Como te invejo, (29) tu que não morreste na cama... (39) [João Marcelo, 7.º 5.ª] Passei toda a noite a meditar (21) na majestade sozinha, (23) ao sol de borco imundo. (24) Essas lágrimas (25) dessa sombria cega (26) saltavam-lhes dos olhos (279) sem fim nem começo (10) A sombra enforcou naquele candeeiro (79) olhos e ventos, (87) para salvar o mundo. (117) Matou talvez em sonhos (174) até encher o copo de lágrimas (193) e agora confessa o crime (174) que se confunde com a brisa (175) a assobiar. (192) Este mundo eterno (30) desta gente que até suja as próprias dores (50) trazia talvez nos olhos o reflexo (66) que trago no coração, (67) para baterem um dia ao mesmo tempo (67) nos gritos por dentro da Solidão. (66) [Ana M., 7.º 6.ª]
  • 16. [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poeta Militante, I, de José Gomes Ferreira] Poeta Militante, I, p. Nasceste por engano nestes céus, (105) com o mundo a obedecer aos meus caprichos. (104) Terra seca (?) num céu viril com anjos de aço, (106) aos tombos, aos cachos como morcegos... (107) Ódio às lágrimas mal choradas diante dos parentes, (111) do sonho moribundo, (115) a fingir de rosa numa planta. (121) Árvore sem fruto, (127) com desespero comovido, (131) pois não vê que me sufoca (133) até o frio do espanto. (135) [Marta L., 7.º 5.ª] [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia- II, de José Gomes Ferreira] Poesia-II, p. Eu, o cavaleiro vermelho, (115) no cavalo amarelo da fome, (126) morro pouco a pouco, (147) com passos de rasgar chão, (174)
  • 17. na areia molhada... (30) Ergueu-se de súbito por entre as árvores, (41) ergue-se, um algoz, (56) à procura de treva num dia de sol. (87) Por isso combato, (115) por isso mato, (115) para que o sol continue a brilhar, (117) num arrepio de treva e abismos. (117) [Gonçalo, 7.º 5.ª] Morrer devia ser assim... (11) Volta para trás. (19) Ah, eis a grande raiva: (20) é do teu desarrumo (43) Todos te contemplam, (47) todos menos eu. (49) Caminhos em vão, (53) na chama dum facho. (59) Por mais que ele berre (61) incêndios sem chama, (63) em toda essa horda. (69) Mas onde?... Em que longe? (66) [João Tomás, João Afonso, 7.º 6.ª] Olho para o céu imenso, (17) árvore sem fruto, (16) meu jardim perdido... (12) o braço de uma ninfa ergueu-se. (41) Entrem árvores, (40) um destino de flores; (41) o sol abriu em asas, (47) a fingirem de pássaros. (41) Volto para trás, (19) com o mar (18) na areia molhada: (30) fiz uma deusa, (18) o único sinal profundo, (19) que criou o mar, (18) como o desenho (72) no sonho constante, (87) na imaginação. (72) [Rita, 7.º 2.ª]
  • 18. Volto para trás, (19) Num gelar de flores. (29) Eu parei, estremecido, (31) E a sombra de um homem (30) A quem deram o céu por só castigo... (36) Trago na alma (163) As asas covardes (168) De me sentir perdido e só no meio da morte. (169) Cai uma pedra no lago... (175) Cá estou outra vez de lágrimas nos olhos. (176) Trago nos olhos uma certeza, (181) Não nasceu das lágrimas do poetas: (191) Quando nasceu já tudo estava mundo (171) [João C., 7.º 2.ª] [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Longe, de José Gomes Ferreira] Longe, p. Ergo os olhos ao Altar, (13) tocou-me Deus com a mão. (14) Ardem círios, como dedos, (16) ouço o luar... Sinfonia (17) E o luar, nevando penas, (16) ... luar de melancolia... (17) Mas veio o Vento, o Encantado: (18) não vejo nada... pressinto (20) E, ouvindo o Vento, que espalha, (19) o Medo lançou-me as redes (18) Larguei o missal... Desmaia, (21) Vénus verde nas areias! (23) Que é Portugal, ó Poeta, (22) das almas dos marinheiros?! (23) E há mais de quinhentos anos (22) a suavidade da lua... (23) E por entre o nevoeiro (24) vive a Descrença em meu peito. (25) [Paula, 7.º 1.ª]
  • 19. Dum luar de suavidade, (14) ardem círios como dedos (16) e na sombra que estremece (17) o medo lançou-me as redes... (18) Ouvindo o vento que espalha, (19) entrei na cela Aziaga: (20) queimou-se o Sol da verdade, (21) ó Bocage da Desgraça! (35) As ondas são berços, (23) ao luar da lua cheia, (24) e ao Sol, em oiro desfeito (25) sinto-o no meu coração (23) todo manchado de Luz, (27) sem templos nem catedrais, (29) senhor dos braços doridos, (30) das nossas mãos, desfolhadas... (31) [Madalena, 7.º 2.ª] [Construir poema com versos a serem retirados de diferentes poemas de Poesia-III, de José Gomes Ferreira] Poesia-III, p. Se não há outro mundo, (125) insulto-me ao espelho. (126) É apenas este ritmo entre nós e a terra, (127) para aqui aos tombos no ruído do mundo... (128) E ponho-me a pensar: (137) malmequeres para quê? (139) Montes e montes de flores, (144) em multidão... (145) Onde poisaste os olhos? (46) Neste momento, (216) Toquei-te. (217) [Andreia, 7.º 1.ª] Amor... (232) Sei lá se sonho ou vivo! (233) E eu falo e sorrio, (163) de manhã até à noite, (169) nesta rua deserta. (181) Todas as traições, todas as ânsias, todos os soluços... (183) Hoje só sinto o sabor (230) e os braços erguidos (224) de escritores sem corpo, (214) flores carnívoras, (224) agora no luar caído. (236) E é esta a minha tragédia! (237) [Miguel, 7º 3ª]
  • 20. [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Poeta: continua a arrastar a solidão» e «Liberdade», de José Gomes Ferreira] Olhos em liberdade a rasgarem a sombra! Momento de solidão afoga o ódio. Vontade de a beijar, mostrar a ternura, arrastar corações! Benditas as raízes: também dão roseiras, flores de ternura. Continua atada, no fundo das nuvens, que nos resiste assim; dos monstros e dos tufões, inútil e parva fuga é — lés a lés — de roedores aos pés. Imagina é pássaros com a tua ternura! Cicatrizes das rosas, asas como bandeiras Da quente boca... Abaixo a ilha, que nos odeia! Mas é a vez que te apaga fontes. [João R., 7.º 3.ª] A liberdade resiste! As roseiras dão rosas, cicatrizes, solidão. Afoga monstros, odeia bandeiras, imagina tufões. Apaga o momento, quente como é. Beijar de boca atada,
  • 21. mostrar ódio e ternura! Dos olhos raízes benditas rasgam nuvens... Continua, ternura, no fundo dos corações, ternura parva! Pássaros e roedores, flores com asas, vontade inútil... [Marta S., 7.º 2.ª] Beijar monstros apaga corações! No fundo momento resiste a solidão: cicatrizes em sombra de rosas, como o ódio de tufões. A vontade da tua liberdade... Benditas roseiras de olhos de flores, também rasgam raízes dos roedores. Ternura quente, ternura parva, continua a arrastar asas: dão fuga que nos odeia. Assim, imagina pássaros a mostrar-nos ternura atada com a boca. [Ítalo, 7.º 1.ª] (O momento é de ódio. Odeia! Abaixo a ternura parva!) Poeta: continua a arrastar a solidão da tua ilha de sombra atada aos pés. Mas resiste a mostrar as cicatrizes dos monstros roedores que te rasgam de lés a lés. Afoga nos olhos a ternura das fontes que no fundo das raízes imagina as flores. E apaga na boca a fuga quente dos pássaros com asas nos corações. A ternura é inútil como beijar tufões. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230
  • 22. Liberdade é também vontade Benditas roseiras que em vez de rosas dão nuvens e bandeiras José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 258 [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Só por orgulho te aceito» e «Tudo cansa!», de José Gomes Ferreira] Aceito o orgulho. Na minha esperança há malmequeres delicados, que pesam no corpo. Os dois segredos da balança: o brilho dos teus olhos e essa chama ausente que hoje estende a lança cruel. O deserto desse meu jeito improvisado, mulher que vem de terra, vem com outros olhos. Com a hora perto, sinto a canção mais longe: vem deitar lama na morte. [Sara, 7.º 1.ª] A hora alonga no deserto, o orgulho chama mulheres, tudo estende o chão. Há lama com malmequeres, brilho de sol, segredos nus e olhos delicados. A terra lança esperança perto do meu corpo, o sol balança na minha cama e sinto a morte.
  • 23. O suor ausente mutila teus olhos. Aceito travos que — mulher cruel! — pesam da canção. [Cláudia, 7.º 5.ª] (Canção da mulher ausente, improvisada à hora de me deitar.) Só por orgulho te aceito. Vem com a lama desse jeito que há na terra do corpo das mulheres — e estende no meu leito o chão de malmequeres. Vem com essa chama que mutila o sol de outros segredos — e alonga na minha cama o suor dos trevos. Vem, meu deserto, que só longe (na morte) sinto mais perto. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 128 Tudo cansa! Até o brilho cruel do sol de lança dos teus olhos nus. Teus olhos. Hoje dois delicados pratos de balança que só pesam a luz. (E a Esperança.) José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 98
  • 24. [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Dor em vão» e «Leva-me os olhos, gaivota», de José Gomes Ferreira] Naquela mesma escuridão onde se repetem a angústia, ansiedade, dor, onde a sereia canta, a aranha tece a teia, a gaivota leva-me asas de liberdade. Nem os olhos vão cair lá na ilha onde o terror não tem casas e ficou longe... Noite e dia sem algemas, em rota do coração, os jardins de jasmins e cravos deixa-os apenas toda a lua. Dói pôr apenas uma bagatela: esta nunca rói! [Carolina, 7.º 3.ª] Na noite nem os cravos vão à lua. Leva-me a angústia aos jardins do meu coração. Teia de aranha, olhos de gaivota, Uma sereia nunca tem dor. [Diogo, 7.º 2.ª] (Do terror dum dia de angústia ficou apenas esta bagatela.) Dor em vão que já nem rói o coração — ao menos dói Não sejas apenas esta ansiedade a pôr algemas na liberdade José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 84 Leva-me os olhos, gaivota, e deixa-os cair lá longe naquela ilha sem rota...
  • 25. Lá... onde os cravos e os jasmins nunca se repetem nos jardins... Lá... onde nunca a mesma aranha tece a mesma teia na mesma escuridão das mesmas casas... Lá... onde toda a noite canta uma sereia ...e a lua tem asas Lá... José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 143 [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Pôs-me o destino nas mãos» e «Que temos nós com a primavera?», de José Gomes Ferreira] Olhos dos malmequeres na primavera confusa nasceram, linhas entrelaçadas de arame e oiro, nas estações de aceitação... Adeus, primavera, meu novelo: não é complicado mas aterra em terra, no caminho da riqueza... Pôs-me pobre, com mãos inúteis mas suadas de prata. [João Berga, 7.º 1.ª] Que caminho complicado! Temos umas mãos de oiro entrelaçadas, malmequeres inúteis, numa primavera confusa. Na boca de prata, com olhos no arame, mil estações nasceram — perfumes de riqueza... Pobre primavera! O destino pôs-me de silêncio, aterra na fossa, mãos de adeus para outras com novelo, nas linhas de terra, suadas em redor. [Frederico S., 7.º 2.ª]
  • 26. Pôs-me o destino nas mãos um novelo de mil linhas... Umas de oiro... outras de prata... ...outras de arame mais vil Mas todas entrelaçadas numa riqueza confusa. Pobre novelo complicado nestas mãos inúteis que nasceram para dizer adeus nas estações de caminho de ferro. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 190 Que temos nós com a primavera? Não nos sai dos olhos nem da boca, mas da terra que não é nossa. Primavera para quê? Malmequeres para quê? Para a aceitação com perfumes deste silêncio de fossa? José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 49 [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Ó camponês» e «Chove...», de José Gomes Ferreira] Chove na rua de Palma. Chuva do destino... Num céu espalmado, cai silêncio: enquanto chove, morrem bons-dias! Entretenho-me a ouvir violino, não importa que melodia ouvir! Ninguém mais ouve, antes berra: estou a cheirar urina! Quem se ama? [Bruno S., 7.º 1.ª] Ó camponês, não me dês os bons-dias. Berra!
  • 27. Não queiras o céu antes da terra José Gomes Ferreira, Poesia-III, p. 98 (Enquanto os aliados a caminho de Berlim morrem, eu entretenho-me a ver chover na Rua da Palma, espalmado num portal a cheirar a urina podre.) Chove... Mas isso que importa!, se estou aqui abrigado nesta porta a ouvir a chuva que cai do céu uma melodia de silêncio que ninguém mais ouve senão eu? Chove... Mas é do destino de quem ama ouvir um violino até na lama. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219 [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Cai dos telhados» e «Que manhã esta!», de José Gomes Ferreira] No Rossio está a igreja que ninguém encontra. Custa-me quando há prostitutas numa montra, no nevoeiro e frio: oxalá alguém as veja! Sinto ternura no coração, um profundo sonho que está em princípio. Esconder a bandeira arrendou raízes nas árvores. Tu escutas o sorrir da floresta de manhã? Quando escutas árvores numa floresta, um entusiasmo profundo e ternura cai no coração. Sinto um frio ardente por sorrir, sonho duma criação. [Ana S., 7.º 6.ª] Cai dos telhados Um nevoeiro frio que pendura enforcados nas árvores do Rossio...
  • 28. Oxalá ninguém me veja (nem tu que meu sonho escutas) por aqui nestas vielas, em redor da igreja, suadas de prostitutas. Custa-me tanto, quando alguém me encontra, sorrir por instinto. Ou esconder no espelho duma montra o meu labirinto. Quero estar só, ouviram?... Só e só!... — É a única maneira de arder o meu pó numa bandeira. Só assim sinto beijar-me o coração esta ternura que me aterra e que no princípio da criação arredondou a Terra. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 242 Que manhã esta! ardente como o entusiasmo dos tambores. Onde tudo o que há de profundo nas raízes da floresta se descobre em flores José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 248 [Criar poema apenas com as palavras (todas baralhadas) de «Nasceste tão grave» e «Os outros decifram palavras cruzadas», de José Gomes Ferreira] Gargalhadas decifram tanto frio, a melodia pesa, e, de súbito, a vida sorri. Trono branco de poder, num vazio de tédio. O arame torna palavras em risco: na grave morte, tudo sofre. Palavras cruzadas a viver a paisagem já de pena... Nasceste leve e a rir, no teu cabelo farpado algemas decifram rendas
  • 29. mais cruzadas que a visão. Falo em enigmas e, inclinado, desato outros teoremas dentro da boca. [Joana D., 7.º 5.ª] (Inclinado sobre o berço.) Nasceste tão grave — e já no teu trono de rendas a vida pesa tanto. Que pena não saberes sorrir! — visão da morte que torna tudo mais leve. Risco branco de um esqueleto em melodia. na prata da boca leve. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 211 (A paisagem da pátria... Tédio e arame farpado.) Os outros decifram palavras cruzadas e eu falo e sorrio... (Mas a sifrer por dentro, a arancar o cabelo, por viver num mundo vazio e só poder enchê-lo de frio.) Os outros decifram palavras cruzadas, enigmas, teoremas... E eu de súbito desato a rir às gargalhadas num tinir de algemas... José Gomes Ferreira, Poeta Militante, II, p. 62
  • 30. [Reescrever poema de José Gomes Ferreira, substituindo as palavras finais dos versos por outras procuradas em dicionário de rimas.] Poeta: continua a arrastar a solidão da tua ilha de sombra atada aos pés. Mas resiste a mostrar as cicatrizes dos monstros roedores que te rasgam de lés a lés. Afoga nos olhos a ternura das fontes que no fundo das raízes imagina as flores. E apaga na boca a fuga quente dos pássaros com asas nos corações. A ternura é inútil como beijar tufões. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 230 Poeta continua a arrastar a imaginação da tua ilha de alfombra atada às galés. Mas resiste a mostrar as varizes dos monstros caçadores que te rasgam de través. Afoga nos abrolhos a ternura das pontes que no fundo das cicatrizes imagina as cores. E apaga na toca a fuga quente dos <pássaros> com asas nos canhões. A ternura é fútil como beijar vulcões. [Francisco, 7.º 6.ª]
  • 31. Chove... Mas isso que importa!, se estou aqui abrigado nesta porta a ouvir a chuva que cai do céu uma melodia de silêncio que ninguém mais ouve senão eu? Chove... Mas é do destino de quem ama ouvir um violino até na lama. José Gomes Ferreira, Poeta Militante, I, p. 219 Noventa e nove... É o número de gente morta nesta aldeia. Mas o que é que isso importa? Só de ver a a cara da Céu, a filha do Florêncio, com aquela pança de Galileu... Nove... São as flores daquele apartamento citadino. Mas que drama: ao ver aquele menino, só me apetece pôr-lhe a casa em chama. [João G., 7.º 3.ª]