8. Álvaro de Campos, o da fase futurista
sobretudo, é efetivamente «filho
indisciplinado da sensação». Nos longos
poemas típicos desse período — na «Ode
triunfal», por exemplo —, vemos um
sujeito poético ansioso por tudo abarcar,
tudo sentir, o que se reflete também na
linguagem, ora acumulativa
(polissíndetos, séries, anáforas e toda a
gama de repetições) ora cortada por
interjeições, apóstrofes, onomatopeias e
restante rol de recursos exclamativos. Se,
em outros
9. Pessoas, sentir sobreleva pensar, é em
Campos que as sensações, dada a
sofreguidão com que o eu lírico as
procura captar nos cais, nas fábricas,
nos navios, são fonte de indisciplina
(desde logo, como se disse, de aparente
indisciplina do discurso).
[110 palavras]
10.
11. Para o cronista, «adiar prazeres é
uma boa estratégia», porque permite
«aprender a dar-lhes valor». Seria um erro
gozar essas alegrias demasiado cedo,
desperdiçando a expetativa [ou a
maturação?] de um momento de
felicidade.
12.
13. Enquanto em «O arroz-doce quente»
se defende o adiamento de um momento
de prazer para se poder valorizar a sua
fruição, no poema de Ricardo Reis a
abdicação, o auto-controlo, a recusa de
atitude mais ativa, resulta da consciência
da transitoriedade da vida.
14.
15. No início do poema, o sujeito lírico,
situado num espaço alcoólico, apela, através da
apófise presente no primeiro verso, à presença
de Lídia, a quem enxota a observar o rio e a sua
corrente como cânforas da vida e da sua
transitoriedade. A constatação da brevidade da
vida é aceite de modo calmíssimo que nem uma
alfarroba e conduz ao desejo de fruir os
momentos e assumir compromissos, mesmo
physicos, como a hipótese (marcada pelo
recurso aos parênteses) de enlaçar as
16.
17. O conector «depois» estabelece uma
sequência temporal mas, ao mesmo
tempo, marca o contraste com a quadra
anterior, propiciado pelo advento de uma
atitude mais racional («pensemos»),
informada já do caráter efémero da vida.
18. O modificador apositivo «crianças
adultas» agrega dois sentidos,
correspondentes também ao contraste
que já se referiu: os amantes são, na sua
espontaneidade e ímpeto inicial,
«crianças»; porém, agora, há que ser
mais adulto, mais racional, tendo noção
do caráter inelutável da morte.
19. A = estrofes 7 e 8 | B = estrofes 3 e 4 | C
= estrofes 1 e 2 | D = estrofes 5 e 6.
20. C = est. 1 e 2 (A efemeridade da vida)
B = est. 3 e 4 (A inutilidade dos compromissos)
D = est. 5 e 6 (A busca de tranquilidade)
A = est. 7 e 8 (A ausência de perturbação face à
morte)
21. a.
Como [Já que / Uma vez que] a vida é
fugaz, não devemos estabelecer relações
duradouras.
22. b.
Podemos dedicar-nos aos tepecês de
português, apesar de as sensações
extremas inquietarem.
Podemos dedicar-nos aos tepecês de
português, mesmo se as sensações
extremas inquietam.
25. As crónicas gastronómicas de MEC
— que saem semanalmente na p. 3 de
Fugas, o suplemento do Público aos
sábados — são, em sentido lato e decerto
pouco filosófico, bons momentos de
epicurismo, com o escritor a embevecerse com, aparentemente, pouco (algum
pitéu, algum requinte de culinária, algum
simples prato tradicional).
26. Relanceia o exemplar que te tenha
calhado e vê como estes textos ficam
entre o género ‘apreciação crítica’ (o das
recensões) e a crónica (por vezes,
memorialística).
Escreve um texto no mesmo género,
um pouco mais pequeno, de idêntico
teor gastronómico, culinário, etc.