O documento analisa diferentes figuras de linguagem encontradas em um texto literário, como metáfora, metonímia e hipérbole. Exemplifica cada uma delas com citações curtas do texto analisado e explica brevemente o seu significado e funcionamento.
16. 3-4
«do Tejo / O licor de Aganipe corre»
A água da fonte da poesia [a inspiração
poética] corre do Tejo [em Portugal]
Metáfora, Perífrase, Hipérbato, Metonímia
17. 3, 5-6
«que conte declarando / De minha gente
a grão genealosia»
que conte a [história da minha pátria],
expondo a nobre genealogia dos meus
compatriotas
Hipérbato
18. 5, 7-8
«Primeiro tratarei da larga terra, /
Despois direi da sanguinosa guerra»
Primeiro tratarei da geografia, depois
direi da história.
Metonímia
19.
20. [final do canto II]
O Rei de Melinde mostra-se curioso
Durante a noite, houve festas e muitos
fogos de artificio, quer em terra, quer nas
naus. E foi assim, em clima de grande
alegria, que o Rei de Melinde se deslocou à
nau capitaina, onde estava Vasco da Gama,
muito bem vestido. De resto, dera
igualmente ordens para que as naus
estivessem muito bem decoradas e festivas,
para bem receber o ilustre visitante.
21. Após breves palavras de receção,
conversou-se sobre muitas coisas. Mas
o Rei de Melinde estava particularmente
interessado em que Vasco da Gama lhe
dissesse de onde era e lhe contasse os
grandes feitos da História de Portugal e
também como tinha sido a sua viagem
de Lisboa até ali.
22. [início do canto III]
Nova invocação
Antes de começar a contar-vos o que
Vasco da Gama contou ao Rei, bem me é
preciso que tu, Calíope, musa inspiradora
da poesia épica, me ajudes. Por isso,
ajuda-me neste meu propósito de cantar a
gente Lusitana. Se o não fizeres, poderei
pensar que tens receio de que Orfeu, teu
filho, perca a fama de grande músico e
poeta, perante o perigo que eu
represento.
23. Invocações
Canto I (às ninfas do Tejo = Tágides)
Cantos III e X (à musa da poesia épica, Calíope)
Canto VII (às ninfas do Tejo e do Mondego)
24. Vocativos («Agora tu, Calíope»; «Põe tu,
Ninfa»);
Verbos no modo imperativo («ensina»,
«inspira», «põe»).
25. Discurso de Vasco da Gama
— Não me é fácil, ó Rei, cumprir o que me
pedes. É que não fica bem ser eu próprio a louvar a
minha gente, o que poderá ser suspeito; por outro
lado, receio que para tudo contar qualquer longo
tempo curto seja; quanto a isso, procurarei ser
breve, indo contra o que devo. Além disso, a
verdade é que não poderei mentir naquilo que
disser, dado que, acerca de feitos tão grandes, por
mais que eu diga, muito há de ficar ainda por dizer.
Assim sendo, vou responder-te de acordo com o
seguinte plano: primeiro, direi o que pretendes
saber sobre o meu país e a sua situação
geográfica; depois, falar-te-ei dos grandes feitos
militares da nossa História.
26. [canto III, estrofes 42-56 (Batalha de
Ourique)]
Entretanto, já o príncipe Afonso
iniciara uma série de lutas contra os
Mouros. Uma das grandes batalhas
ocorreu em Ourique, em que o exército de
cinco reis mouros era em força muito
maior do que o dos Portugueses.
Na manhã do dia do combate,
contudo, um milagre sucedeu. Cristo
crucificado apareceu a Afonso Henriques,
27. dando-lhe confiança na vitória. E, de facto,
após duradouro combate, os Mouros
foram desbaratados e Afonso aclamado
como primeiro Rei de Portugal
independente. Em memória do milagre, fez
Afonso desenhar na sua bandeira cinco
escudos azuis, representando os cinco
reis vencidos; dentro de cada um dos
cinco escudos fez desenhar os trinta
dinheiros pelos quais Judas traíra Cristo.
28.
29.
30. Metáfora
Figura de estilo que possibilita a expressão
de sentimentos, emoções e ideias por meio de
uma associação de semelhança implícita entre
dois elementos.
O processo levado a cabo para a formação
da metáfora implica um desvio do sentido literal
da palavra para o seu sentido livre; uma
transposição do sentido de uma determinada
palavra para outra, cujo sentido originariamente
não lhe pertencia.
Ao leitor é exigida uma rejeição prévia do
sentido primeiro da palavra, para a apreensão de
outro(s) sentido(s) sugerido(s) pela mesma e
clarificada pelo contexto, na qual se insere.
31. Trapattoni é uma velha raposa.
A velha raposa não me engana.
Experiência Experiência
Esperteza Esperteza
Itália Roubo de galinhas
Jogo defensivo Azougar
32. Metonímia
Em sentido lato, é a figura de linguagem
por meio da qual se coloca uma palavra em
lugar de outra cujo significado dá a entender.
As relações objetivas, que conduzem ao
emprego metonímico de uma palavra ou
expressão, podem ser muitíssimo variadas,
mas costumam ser mais lembradas as
seguintes:
a) relação entre a parte e o todo (ex.: “cabeça” em
“cem cabeças de gado”);
b) entre a matéria e seu objeto (ex.: “ouro” quando
empregado como “dinheiro”);
33. c) entre um ser e o seu princípio ativo (ex.: “alma”
em “cidade de cem mil almas”);
d) entre o agente e o resultado (ex.: “mão” como
“escrita” em “é da mão de Eça”);
e) entre um ser e alguns de seus traços físicos
(ex.: “respeitemos as cãs”, isto é, “os idosos”);
f) entre a causa e o efeito ou entre o produtor e o
objeto produzido (ex.: “um Picasso”, isto é, “um
quadro de Picasso”);
g) entre o continente e seu conteúdo (ex.: “beber
um copo”, isto é, o conteúdo de um copo);
…
j) entre o signo e a coisa que ele significa («a
coroa», isto é, o rei).
34. Antonomásia — identificação de alguém
por um nome que não seja o seu
(exemplo, por em epíteto perifrástico).
Paranomásia — «Trocadilho»,
aproveitando palavras parónimas.
35. Perífrase — Utilização de uma expressão
composta de vários elementos em vez do
emprego de um só termo.
Hipérbato — Alteração ou inversão da
ordem habitual de palavras ou frases.
36. Hipérbole — Exagero da expressão de
uma ideia ou realidade.
Personificação — Fazer de um ser
inanimado ou de uma abstração uma
personagem real.
37.
38. [O homem é] um bicho da terra tão
pequeno (I, 106)
‘Os homens são frágeis, insignificantes’.
39. Tomai as rédeas vós do Reino vosso (I,
15)
‘Dirigi vós mesmos o Reino’
40. O meu filho é uma joia de moço
‘O meu filho é excelente moço’
41. Vem apagar o fogo, que estou a arder
‘Vem fazer amor comigo, que estou com
muito desejo sexual’
[De que tamanho é a tua] mangueira?
[Agarra-te ao] varão.
‘órgão sexual masculino’
Andas sempre a bombar
‘Andas sempre a praticar atos sexuais’
42.
43. um bicho da terra tão pequeno (I, 106)
homem
bicho da terra pequeno
fragilidade; ambos estão à mercê da
vontade do céu
44. Tomai as rédeas vós do Reino vosso (I,
15)
tomar ... do Reino
rédeas
as rédeas significam controlo, exercício
do poder, o que se quer pedir a D.
Sebastião
45. O meu filho é uma joia de moço
filho
joia
joias são preciosas; essa excelência é
associável, para o pai, às qualidades do
filho
46. De que tamanho é a tua mangueira?
órgão sexual masculino
mangueira
têm forma aproximável e são condutores
de líquido
47. Vem apagar o fogo (que estou a arder)
satisfazer desejo sexual
apagar o fogo (enquanto atividade de
bombeiro)
o primeiro termo sugere a necessidade
de satisfação (que resolva «um fogo»);
«apagar» tem a mesma noção de
‘resolver’, ‘acalmar’
48. Andas sempre a bombar
praticar ato sexual
bombar (‘introduzir ou extrair por meio
de bomba’)
sentido de ‘introdução’ é comum ao ato
sexual e à atividade em termos
denotativos
49. Agarra-te bem ao varão
órgão sexual masculino
varão
formas aproximáveis [no próprio sketch
se tenta, porém, negar a analogia]
52. As velas navegavam no Índico.
velas
‘naus, barcos’
parte serve para se inferir o todo
53. Andas metido nos diabetes
nos diabetes
‘na prática de te injetares com insulina’
a doença — que é o motivo pelo qual se
injeta a insulina —serve para designar a
atividade que é afinal apenas uma sua
consequência
54. Soldado da paz
pás, pás (enquanto onomatopeia)
‘dar palmadas nas nádegas’
o som produzido como efeito da atividade
passa a significar a atividade de que
resultava
55. Note-se que «soldados da paz» (por
‘bombeiros’) e «órgão sexual masculino
(por ‘pénis’) são perífrases.