O documento discute a origem e significado dos sobrenomes portugueses, explicando que muitos vêm de patronímicos, alcunhas, topônimos ou invocações religiosas. Também analisa como listas telefônicas organizadas alfabeticamente por sobrenome podem criar estereótipos sociais.
7. Muitos se lembrarão desse momento de Mr.
Bean em férias: numa cabine telefónica, junto da
linha do TGV, o nosso herói tenta descobrir um
preciso número de telemóvel entre uma centena
de possibilidades. Anotara os algarismos, mas
falhara os das dezenas e das unidades. Por isso,
vai experimentando todas as combinações e
respondem-lhe dos mais variados locais ou
contextos (senhora no cabeleireiro; homem
distinto em velório; bebé durante a papa).
Ficamos com a certeza da aleatoriedade do
processo: aqueles cem números, pela diversidade
dos recetores e situações a que conduziam,
seriam uma amostra credível da sociedade
francesa.
8. Podemos perguntar-nos se se chegaria a um
resultado tão heterogéneo se o meticuloso Bean
tivesse tido de recorrer a uma lista telefónica, e se
se tratasse de descobrir o contacto certo entre
uma ou duas colunas de proprietários de telefone
fixo. Talvez não. Não esqueçamos que as listas de
telefones se organizam por apelidos. Não era
pequena a probabilidade de irmos dar a um
conjunto de endereços a que correspondessem
perfis próximos em termos sociais, em função de
o apelido ser mais ou menos popular ou
rebuscado. A coluna dos «Ávila», «Avilez»,
«Ayala» não nos sugeriria palacetes, mesmo se
porventura arruinados? A dos «Ó», «Oca»,
«Oleirinha» não tem forte sabor rural?
9. É certo que este raciocínio decorre mais de
estereótipos do que de ciência investigada. Dir-se-
á também que, calhando-nos uma das muitas
dezenas de páginas de «Silvas» ou de «Santos»,
de novo ficaríamos com um retrato verosímil,
distribuído por todos os níveis sociais e
proveniências. E, no entanto, pense-se que,
dentro dessas séries de apelidos frequentes, a
ordem alfabética dos primeiros nomes levaria a
que nos pudéssemos deparar, por exemplo, com
uma maioria de «Marias de qualquer coisa», o que
decerto condicionaria o retrato sociológico do
elenco que obtivéssemos.
[faltava a conclusão: ]
17. Porém, nem todos os esses em final
de apelido se devem àquele -ICI. Por
exemplo, os apelidos Reis e Santos
celebram datas do calendário cristão: o
Dia de Reis e o Dia de Todos os Santos.)
23. O trecho que vimos do Programa do
Aleixo (início do episódio 1, da temporada
2) faz apresentarem-se-nos personagens
(Bruno Aleixo, Nelson Miguel Rodrigues
Pinto, Buçaco [«Bussaco» é erro
ortográfico], Renato Alexandre, Busto) que
podem ilustrar as quatro origens mais
comuns dos apelidos: patronímicos,
alcunhas, topónimos, invocação religiosa.
24. «Rodrigues» é um caso de
patronímico (o étimo é o nome «Rodrigo»).
«Pinto» é um apelido que deve provir
de uma alcunha (o étimo terá sido «pinto»,
a cria da galinha).
«Buçaco» exemplifica bem o
processo de formação a partir de
topónimos (de certo modo, mostra até os
25. dois momentos: primeiro, o nome do
lugar está explícito em «[Homem do]
Buçaco»; no final, Bruno trata o amigo já
apenas por «Buçaco»).
Quanto ao apelido do nosso
protagonista, «Aleixo», pode ter várias
explicações, mas uma delas é a de se
tratar de invocação religiosa (se
supusermos que a origem é «Santo
Aleixo»).
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40. Maria Albertina
Maria Albertina, deixa que eu te diga:
Ah... Maria Albertina, deixa que eu te diga:
Esse teu nome eu sei que não é um espanto,
Mas é cá da terra e tem... tem muito encanto.
Esse teu nome eu sei que não é um espanto,
Mas é cá da terra e tem... tem muito encanto.
41. Maria Albertina, como foste nessa
De chamar Vanessa à tua menina?
Maria Albertina, como foste nessa
De chamar Vanessa à tua menina?
Maria Albertina, deixa que eu te diga:
Ah... Maria Albertina, deixa que eu te diga:
Esse teu nome eu sei que não é um espanto,
Mas é cá da terra e tem... tem muito encanto.
42. Esse teu nome eu sei que não é um espanto,
Mas é cá da terra e tem... tem muito encanto.
Maria Albertina, como foste nessa
De chamar Vanessa à tua menina?
Maria Albertina, como foste nessa
De chamar Vanessa à tua menina?
Que é bem cheiinha e muito moreninha
Que é bem cheiinha e muito moreninha
Que é bem cheiinha e muito moreninha
Que é bem cheiinha e muito moreninha
43.
44. Em folha solta, faz um comentário a
«Maria Albertina» (p. 21).
Nesse comentário (com, pelo menos,
# palavras), explicitarás em que medida a
letra da canção apresenta uma crítica à
escolha de nomes no nosso país.
Inclui, pelo menos, uma citação.
45. TPC
Resolve as perguntas 9 e 10 da p. 16
do manual. (Por favor, testa mesmo o teu
conhecimento, mesmo se as respostas já
estiverem lançadas no livro com que
estejas a trabalhar.)