7. • ler sempre bem o enunciado
• por vezes ficaram demasiado curtas
todas as afirmações
8. • 3.ª pessoa
• registo adequado (suficientemente
formal; com mais pormenor)
• cuidado na escolha da boa ideia
(para dificultar quem quisesse
adivinhar)
• pôr ao lado V/F
9.
10. Na p. 323 do manual (Expressões)
trata-se dos Princípios reguladores da
interação discursiva (a interação
discursiva é, no fundo, a conversação). A
área do funcionamento da língua a que
pertence este assunto é a pragmática.
11. A pragmática estuda o modo como a
língua é usada pelo falante para atingir
os seus objetivos comunicativos.
(Dentro da linguística há outras áreas,
aliás mais conhecidas de anos
anteriores:
12. a morfologia estuda a estrutura das
palavras; a sintaxe estuda a combinação
das palavras em frases; a fonologia
estuda os sons das palavras; a
semântica estuda o significado das
palavras. Enquanto estas áreas se
ocupam mais da língua enquanto
sistema, a pragmática preocupa-se com
o que as pessoas pretendem fazer
quando usam esse sistema.)
13. A página 323 apresenta-nos os
princípios que regem a conversação:
Princípio de cooperação
Cada participante deve fazer com que
a sua contribuição para a conversa seja
apropriada ao propósito desta. Desdobra-se
em quatro máximas conversacionais:
14. máxima de qualidade | Tenta que a tua
contribuição seja verdadeira.
máxima de modo | Sê claro.
máxima de quantidade | Dá tanta
informação quanto o necessário.
máxima de relação | Dá informação
pertinente.
15. Princípio de cortesia (ou delicadeza)
Cada participante na conversa deve usar
estratégias adequadas a preservar uma boa
relação com o seu interlocutor. Por exemplo,
usará formas de tratamento («tu», «você», «o
senhor», «o Luís», etc.) que respeitem a
distância social; ao dar ordens, evitará ser
demasiado direto («Aquele brigadeiro tem
ótimo aspeto», em vez de «Dê-me lá o
brigadeiro»); em certos casos, recorrerá a
eufemismos («não creio que tenha sido
assim», por «estás a mentir, estúpido
mentirosão»);
16. lítotes («a minha fome não é pouca», em
vez de «tenho muita fome e já comia três
javalis, um brigadeiro e meio papo
seco»), perífrases [estas três figuras de
estilo estão exemplificadas nas pp. 334-
335, mas não é obrigatório ir ler as suas
definições agora].
17. Nos sketches que vamos ver (Gato
Fedorento, Série Lopes da Silva), pelo
menos um dos intervenientes infringe
uma das máximas conversacionais ou
o princípio da cortesia. A comunicação
poderia ficar em risco. (É claro que
neste caso as infrações ao princípio da
cooperação e à cortesia servem para
criar situações cómicas.)
18. Para completar o quadro, usarás
quantidade, qualidade, relação, modo,
princípio de cortesia.
19. Inspetor que não sabe fazer perguntas
As perguntas do inspetor não têm
relação com a informação anterior, não
são pertinentes, não se cumprindo por
isso a máxima de relação.
20. Falta por motivos profissionais
No início, a intervenção do
funcionário preguiçoso é insuficiente
em termos de informação («Passa-se
isto assim assim»), falhando a máxima
de quantidade. Há depois expressões
ambíguas («Não posso vir ao emprego
por motivos profissionais»), o que
corresponde a quebra da máxima de
modo. No final, enquanto o patrão,
21. ao dar os pêsames ao segundo
funcionário, cumpre o princípio de
cortesia, o funcionário preguiçoso
infringe-o («Arranjam cada uma para
não trabalhar!» é um comentário contra
o que está convencionado numa
situação daquelas).
22. O que eu gosto do meu Anselmo!
Quando Anselmo diz que a mulher
nem gosta assim tanto dele —
mentindo, para que não se conclua
que... —, infringe a máxima de
qualidade.
23. Bode expiatório
O empregado que arca com as
culpas de todas as incompetências no
escritório repete «A culpa foi minha.
Não há desculpa para o que fiz. Se
alguém deve ser responsabilizado, sou
eu. É impressionante a minha
irresponsabilidade!». Poderíamos
reconhecer aqui uma infração à
máxima de quantidade, se
24. expiar
'remir uma culpa pela penitência'
'sofrer as consequências de'
vs.
espiar
25. considerássemos que houvera excesso
de informação. No entanto,
provavelmente foi mais a máxima de
modo que falhou, já que ser claro inclui
ser breve.
26. Filho do homem a quem parece que
aconteceu não sei quê [e genérico do
episódio]
Tanto o pai como o filho, ao
«pronominalizarem» muito, omitindo
palavras com referentes perceptíveis,
tornam a comunicação inviável, por falta
de clareza (falha a máxima de modo,
27. embora se possa pensar que o que
falta é mesmo a informação). No
genérico final, também falha a máxima
de modo, mas agora por demasiadas
repetições (poder-se-ia pensar que a
infração é à máxima da quantidade,
por excesso de informação, mas não
creio).
28. Dia em que se pode chamar
nomes aos colegas
Os vocativos desagradáveis
permitidos à quinta-feira e as
expressões grosseiras nos minutos para
assédio seriam infrações ao princípio de
cortesia. A singularidade da situação
vem de essas inconveniências serem
autorizadas, e até estimuladas, pelas
regras do escritório.
29. Chamada por engano
Na conversa entre jornalista e
senhora da Venda Nova falha sobretudo
a máxima de relação, na medida em que
a interlocutora insiste em fazer relatos e
pedidos («dispensava-me o seu bidé?»)
que não servem o objectivo do
telefonema (falar da guerra do Iraque).
No final, a mesma senhora disfarça uma
sua infração ao princípio de cortesia
(«meu cabeça de porco»).
30. A tua camisa é feia
Os epítetos deselegantes que cada
uma das interlocutoras dirige à outra
constituiriam infrações ao princípio de
cortesia; no entanto, elas não parecem
senti-los como ofensivos (só é tomada
como indelicadeza a referência à
camisa feia).
31. Conversa na esplanada
Os vários amigos não se interessam
pela história do indivíduo que tem uma
alface de estimação: ou se desviam
para outro assunto («É o Edmundo?»;
«São 4h34») ou não percebem o que
está ser defendido pelo seu amigo
(«mas há alfaces tenrinhas»; «se fosse
uma alface lisa»). Infringem a máxima
de relação.
32. Matarruano sonhador
O filósofo matarruano desvia-se do
tema da pergunta que lhe era feita: não
coopera com o jornalista que o
entrevista por não cumprir a máxima de
relação, já que a informação a que
chega invariavelmente não é pertinente
para o objetivo da conversa.
33. Bomba a bordo
O insólito resulta de comissário e
comandante agirem como se não
detivessem um saber comum (‘bombas
não são desejáveis’), o que acaba por
viabilizar a interação com o bombista.
34.
35.
36.
37. Vamos situar-nos na p. 109 do
manual, a segunda da secção «Espelhos
do eu», dedicada aos textos de caráter
autobiográfico. (Estou a usar a nova
ortografia, embora «caráter», por haver
quem pronuncie o cê (cará[k]ter]),
mesmo na nova grafia mantenha a
alternativa «carácter».) Está aí uma
crónica de Miguel Sousa
38. Tavares, uma das que foram coligidas
no livro Não te deixarei morrer, David
Croquete. Diga-se que a referência do
texto não ficou perfeita, já que falta o
nome da crónica. Devia estar assim:
Tavares, Miguel Sousa (2001), «Ao longo do
caminho», Não te deixarei David Crockett,
8.ª ed., Lisboa, Oficina do Livro.
39.
40. TPC — Escreve um «Alfabeto
pessoal». (Repara no exemplo a seguir
— só reproduzo aqui as primeiras letras
—, que fiz há bastantes anos. Em alguns
dos parágrafos não me revejo, mas
mantenho o que então escrevi e me
parece agora um pouco artificial.)
Evita que as frases sirvam apenas
para declarar aquilo de que gostas ou de
que não gostas. Boa solução é não te
limitares a qualificar o que escolhes («é
bom», «mau», «gosto de», etc.) e usares
41. antes uma redação «de comentário» aos
temas que destaques no alfabeto.
Repara também que a palavra que é
escolhida pode nem ser o exato assunto,
servindo afinal como pretexto para se
aludir ao tema que importa mesmo.
Podes ir alternando letras tratadas
em algumas linhas (3 ou 4) com outras
que desenvolvas apenas numa frase. Não
escrevas texto maior do que o que serve
de exemplo. E talvez possas contemplar o
k, w, y.
42. Repara também que a palavra que é
escolhida pode nem ser o exacto assunto,
servindo afinal como pretexto para se aludir ao
tema que importa mesmo.
Podes ir alternando letras tratadas em
algumas linhas (3 ou 4) com outras que
desenvolvas apenas numa frase. Não escrevas
texto maior do que o que serve de exemplo. E
talvez possas contemplar o k, w, y (não o fiz eu
na tentativa que se segue, porque o alfabeto
pré-acordo não obrigava à sua inclusão). Não
escrevas texto maior do que o que serve de
exemplo.
43. A, de Automóvel. Irrita-me a importância que em
Portugal se dá aos automóveis, sempre
prejudicando quem usa os transportes públicos
(e os passeios, paisagens, etc.). Admiro o
trabalho da ACA-M (Associação de Cidadãos
Auto-Mobilizados), um dos raros exemplos de
intervenção da «sociedade civil».
B, de Benfica. Foi em 1983 a primeira vez que dei
aulas na Secundária de Benfica. Antes de a
escola ser construída havia aqui uma quinta e a
casa dos meus pais era do outro lado do muro.
C, de Capitu. Capitu é o hipocorístico de
Capitolina, personagem de Dom Casmurro, de
Machado de Assis, um dos meus livros
preferidos.
44. D, de Dona Leonor. O liceu onde andei a
partir do 5.º ano (o atual nono). Foi em
1974-75, o que explica que nada tivesse
sido convencional (aliás, salvo erro, no
ano anterior o liceu ainda era
exclusivamente feminino). Recordo um
dos hábitos de então: saindo das aulas, à
tarde e no inverno, o grupo dos que
moravam em Benfica ia apanhar o
autocarro a Entrecampos, compartilhando
as castanhas assadas compradas no
caminho.