1. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS
DIVISÃO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL
PESQUISA: PRINCÍPIO CIENTÍFICO E EDUCATIVO
Pedro Demo
Mediadora: Jany Baena
Cursista: Luciene Lopes Queiroz
Turma B - matutino
2. I - A PESQUISA COMO PRINCÍPIO CIENTÍFICO
• A atual instituição universitária está em decomposição histórica, seja porque
se mantém medieval, sobretudo em termos de impunidade social,
distanciamento elitista e atraso didático, seja porque perdeu a noção essencial
de mérito acadêmico em troca da burocratização funcional, seja porque é
muito pouco produtiva e criativa, custando muito além do que vale para a
sociedade que a sustenta.
• Uma visão alternativa de pesquisa seria fermento apto a recolocar a
universidade no caminho das esperanças sociais nela depositadas, o que
exige criatividade, intenso diálogo com a realidade, disciplina e compromisso
histórico produtivo.
•Ainda que se deva cotidianizar a pesquisa, há um mínimo de exigência
qualitativa que se defronta com misérias típicas da nossa sociedade,
sobretudo com o amesquinhamento profissional e salarial.
• A pesquisa como princípio científico apresenta-se como proposta educativa.
• O conceito desmitificado de pesquisa admite considerar pesquisador
também quem tem apenas graduação, até porque pesquisa — bem
compreendida — é possível e necessária já no pré-escolar.
3. O que é ser professor?
• Em primeiro lugar, é pesquisador, nos sentidos relevados: capacidade de
diálogo com a realidade, orientado a descobrir e a criar, elaborador da ciência,
firme em teoria, método, empiria e prática.
• É, a seguir, socializador de conhecimentos, desde que tenha bagagem própria,
despertando no aluno a mesma noção de pesquisa.
• É, por fim, quem, a partir de proposta de emancipação que concebe e realiza
em si mesmo, torna-se capaz de motivar o novo pesquisador no aluno, evitando
de todos os modos reduzi-lo a discípulo subalterno.
• Esta postura permite afirmar que somente tem algo a ensinar quem pesquisa.
Os alunos não podem bastar-se com a formalidade vazia de alguém que é
professor apenas porque foi contratado e investido na autoridade formal, mas
necessitam de um autêntico mestre, compreendido como professor que tem o
que dizer a partir da elaboração própria.
• Ainda é importante repisar a necessidade de atualização constante, que faz
parte da pesquisa como questionamento cotidiano, com vistas a evitar o
instrutor que passa uma vida toda dizendo sempre a mesma coisa, à revelia do
progresso científico, o que significa precariedade dupla: apenas copiar, e surrar
a cópia.
4. Quem é o aluno?
• É aquele que vem aprender, e isto significa escutar, copiar, reproduzir e fazer
prova. Típica posição de domesticado. Muitas vezes é proibido fazer perguntas,
fechando- se o ensino em certas apostilas, que não passam de simplificação
barata e deturpante da ciência.
E a aula?
• A função da aula é sobretudo a motivação da pesquisa, no sentido de chamar
a atenção para a riqueza da discussão, para caminhos alternativos de
tratamento do tema, para apresentar a maneira própria do professor de
compreender a questão.
• É preciso insistir que tal postura redefine a função do professor e a função
do aluno. O professor é sobretudo motivador, alguém a serviço da
emancipação do aluno, nunca é a medida do que o aluno deve estudar. O
aluno é a nova geração do professor, o futuro mestre, não o lacaio que precisa
de cabresto.
• Parece claro que a “aula” vai perdendo importância, à medida que surge o
cientista autônomo, o novo mestre, que aprende por elaboração própria, não
por imitação. Faz parte do conceito de criatividade, “saber se virar”, inventar
saídas, sobretudo “aprender a aprender”, e isto é profundamente pesquisa.
5. A avaliação
• É possível discutir alternativas de avaliação à luz do conceito de pesquisa. De
partida, coloca-se a relevância positiva da avaliação, se não se restringir à
sanção e ao castigo, mas transbordar para o incentivo produtivo. A avaliação
pode conter o desafio da própria pesquisa, como realimentação do processo de
produção científica, como busca de redirecionamentos, superações,
alternativas, como respeito a compromissos assumidos com a sociedade em
planos e políticas.
• Em vez da prova, a forma mais fecunda e conveniente de avaliar é motivar a
produção científica em ambiente próprio, com liberdade acadêmica, na qual o
estudante possa enfrentar o desafio de crescer por si.
6. II - A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
• A pesquisa como princípio educativo não se esgota ao ambiente da escola e
na atuação do professor de educação básica.
• Por outra parte, também na escola deve emergir o desafio da ciência, até
porque, em nome da pesquisa, todo “professor” deve ser cientista. Esta
colocação basta para revelar a distância entre o exercício do magistério básico
e o ambiente de produção científica. Um professor teria o maior
constrangimento em ver-se colocado como cientista ou pesquisador, porque
foi domesticado na universidade a aprender imitativamente e a atuar na escola
como mero instrutor.
• Pretender vislumbrar pesquisa na pré-escola, entre crianças que apenas
brincam, ou na criança que abre os olhos para a vida ao nascer, é desafio. Faz
parte da proposta política de pesquisa.
7. • Dentro desse contexto, o conceito de pesquisa é fundamental, porque está
na raiz da consciência crítica questionadora, desde a recusa de ser massa de
manobra, objeto dos outros, matéria de espoliação, até a produção de
alternativas com vistas à consecução de sociedade pelo menos mais
tolerável. Entra aqui o despertar da curiosidade, da inquietude, do desejo de
descoberta e criação, sobretudo atitude política emancipatória de construção
do sujeito social competente e organizado.
• Emancipação é o processo histórico de conquista e exercício da qualidade
de ator consciente e produtivo. Trata-se da formação do sujeito capaz de se
definir e de ocupar espaço próprio, recusando ser reduzido a objeto.
• É fenômeno teórico e prático ao mesmo tempo. Tem momento relevante na
tomada de consciência crítica, quando o ser social descobre sua condição
histórica, compreendendo que em parte ela é dada, em parte é causada.
8. • Sobretudo compreende que a desigualdade social, para além de algo
estrutural, tem causas históricas nas quais pode entrar como vítima. Pobreza
não é sina, mau-jeito, azar, mas injustiça. Sem tal conscientização não aparece
o reclamo emancipatório, porque o ser social ainda é objeto.
• É essencial recuperar a atitude de pesquisa, assumindo-a como conduta
estrutural, a começar pelo reconhecimento de que sem ela não há como ser
professor em sentido pleno.
REFERÊNCIA
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. ed.- São Paulo:
Cortez, 2006. p. 45 a 97.