Resumo do livro Apologia de sócrates para os alunos do curso de Direito da Universidade de Mogi das Cruzes, palestra proferida na jornada Jurídica de 12/05/2012
3. A acusação
“A seguinte acusação escreve e jura Meleto, filho
de Meleto, do povoado de Piteo, contra Sócrates,
filho de Sofronisco, do povoado de Alópece.
Sócrates é culpado de não aceitar os deuses que
são reconhecidos pelo Estado, de introduzir
novos cultos, e, também, é culpado de
corromper a juventude. Pena: a morte” (Platão.
1999, p.59).
5. Meleto
Poeta trágico novo e desconhecido de cabelo
raro, barba escassa e nariz adunco, era o acusador
oficial, porém nada exigia que ele como acusador
oficial fosse o mais respeitável, hábil ou temível,
mas somente aquele que assinava a acusação.
Representava a classe dos poetas e adivinhos
6. Lícon
Era um retórico obscuro e o seu nome teve
pouca importância e autoridade no decorrer
da condenação de Sócrates.
Representava a classe dos oradores e
professores de retórica.
7. Ânito
• Líder democrático tinha um filho discípulo de Sócrates (que
ria dos deuses do pai). Era um rico tanoeiro que
representava os interesses dos comerciantes e industriais, era
poderoso e influente não sendo um homem de escrúpulos e
finezas da moral interior. Foi o mais importante dos
acusadores e foi aquele que deu a impressão de conhecer
Sócrates, que a ele aludecomo se Meleto fosse seu
subordinado, como se deste tivesse originado a ideia de pena
de morte para persuadir Sócrates a abandonar a cidade antes
que o processo tivesse seguimento.
– Representava a classe dos políticos.
8. Atenas
• Não podia mover ações contra uma pessoa,
porém um cidadão podia – neste caso esta pessoa
assumiria o risco de a acusação não ser
considerada pelo júri.
– Sócrates era “réu de haver-se ocupado de assuntos
que não eram de sua alçada, investigando o que existe
embaixo da terra e no céu, procurando transformar a
mentira em verdade e ensinando-as às pessoas”
(Platão. 1999. p. 69).
9. Sócrates tinha consciência de que estava sendo
acusado injustamente e tinha certeza que se um justo
estava sendo incriminado os injustos também seriam.
Não passará muito tempo, atenienses, e
serão conhecidos e acusados pelos
detratores do Estado como assassinos de
Sócrates, um sábio
11. • Platão 428/27 aC, morreu 348/7 aC
– Sua família era rica e aristocrática
– Ele era descendente da antiga família real de Atenas (os
Medontids).
– Seus parentes (especialmente Kritias seu primo) estavam envolvidos
no governo de ocupação do pós-guerra de Atenas ("Os Trinta
Tiranos", 403 aC).
– Ele estudou com Sócrates por cerca de 10 anos, ca. 409-399.
• Cerca de 388 aC, ele formou seu próprio grupo de estudiosos
em Atenas, que se chamava Academia (em honra de Apolo
Akademos)
• O aluno mais famoso de Platão foi Aristóteles de Estagira
(384-322 aC).
– Escreveu 26 diálogos e mais algumas cartas.
12. É também digno de nota
que a Apologia Sócrates
nunca menciona um juiz.
Todos os seus comentários
são dirigidos ao júri
15. PROEMION (Introdução)
O Júri deve ser conquistado a partir de uma hostilidade
estabelecida para a Defesa
por causa da má reputação de Sócrates
Sócrates diz que não é um orador, e na idade de 70 ele é
velho demais para aprender
16. Prólogo
• A primeira frase dá o tom e a direção para todo o diálogo.
• Sócrates, ao abordar os homens de Atenas, afirma que quase
se esqueceu quem ele era.
• Os discursos de seus acusadores o levaram a este ponto.
– O diálogo será assim uma espécie de "recordar" por Sócrates de
quem ele é. Ou seja, a Apologia se tornará resposta de Sócrates
à pergunta: "Quem é Sócrates?"
17. • Não sei, Atenienses, que influência exerceram os
meus acusadores em vosso espírito; a mim
próprio, quase me fizeram esquecer quem sou, tal a
força de persuasão da sua eloquência. Verdade, porém,
a bem dizer, não proferiram nenhuma. Uma, sobretudo,
me assombrou das muitas aleivosias que assacaram: a
recomendação de cautela para não vos
deixardes embair pelo orador formidável que
sou.
18. • Com efeito, não corarem de me haver eu de desmentir
prontamente com os fatos, ao mostrar-me um orador nada
formidável, eis o que me pareceu o maior dos seus
descaramentos, salvo se essa gente chama
formidável a quem diz a verdade; se é o que
entendem, eu cá admitiria que, em contraste com
eles, sou um orador. Seja como for, repito-o, verdade
eles não proferiram nenhuma ou quase nenhuma; de mim,
porém, vós ides ouvir a verdade inteira.
19. • Mas não, por Zeus, Atenienses, não ouvireis discursos como
os deles, aprimorados em nomes e verbos, em estilo florido;
serão expressões espontâneas, nos termos que me ocorrerem,
porque deposito confiança na justiça do que digo; nem espere
outra coisa quem quer de vós. Deveras, senhores, não ficaria bem, a um
velho como eu, vir diante de vós plasmar seus discursos como um
rapazola. Faço-vos, no entanto, um pedido, Atenienses, uma súplica
premente; se ouvirdes, na minha defesa, a mesma linguagem que
habitualmente emprego na praça, junto das bancas, onde tantos dentre
vós me tendes escutado, e noutros lugares, não a estranheis nem vos
amotineis por isso.
20. • Acontece que venho ao tribunal pela primeira
vez aos setenta anos de idade; sinto-me, assim,
completamente estrangeiro à linguagem do
local. Se eu fosse de fato um estrangeiro, sem dúvida me
desculparíeis o sotaque e o linguajar de minha criação;
peço-vos nesta ocasião a mesma tolerância, que é de justiça
a meu ver, para minha linguagem - que poderia ser talvez
pior, talvez melhor - e que examineis com atenção se o que
digo é justo ou não. Nisso reside o mérito de um
juiz; ou de um orador, em dizer a verdade.
22. Velhas acusações
• Sócrates não é um físico (ou seja, cosmólogo)
• Sócrates não é um sofista (ou seja, um profissional de professores
das artes dos políticos)
• Sócrates não é um ateu: Apollo o chamou de 'sábio' Sócrates
(menção ao oráculo de Delfos)
– A Verdade do Oráculo de Delfos - Depois de "testar" a palavra do deus,
Sócrates tornou-se ciente da verdade do ditado que "Sócrates é o mais
sábio" - pode ser expressa da seguinte forma: Sócrates era o mais
sábio, porque ele era Ciente de sua ignorância.
• A resposta de muitos para essa experiência foi a confusão e a raiva. Ao longo
dos anos, essa raiva tomou a forma de um ressentimento geral contra
Sócrates.
• Sócrates não é responsável pelo comportamento dos jovens
23. • Sócrates, longe de ser um corruptor da juventude irreverente, é
na verdade uma bênção enviada pelos deuses.
• Para mostrar isso, Sócrates se compara a uma mosca, assim como
ela agita constantemente um cavalo, prevenindo que ele se torne
lento, assim também, ele impede que as pessoas se tornem
descuidadas e intolerantes achando que sabem alguma coisa
quando não sabem
• Em última análise, toda a vida de Sócrates foi um bem para as
pessoas (desde que o Oráculo falou dele)
24. • Cumpre, Atenienses, me defenda, em primeiro lugar,
das primeiras mentiras contra mim e dos primeiros
acusadores; depois, das recentes e dos recentes.
• Com efeito, muitos acusadores tenho junto de vós, há
muitos anos, que nada dizem de verdadeiro. A esses
tenho mais medo que aos da roda de Ânito, posto que
estes também são temíveis.
25. Mais temíveis, porém, senhores, são aqueles, que,
encarregando-se da educação da maioria de vós desde
meninos, fizeram-vos crer, com acusações inteiramente
falsas, que existe certo Sócrates, homem instruído, que
estuda os fenômenos celestes, que investigou tudo o que há
debaixo da terra e que faz prevalecer a razão mais fraca.
Por terem espalhado esse boato, Atenienses, são esses os meus acusadores;
temíveis, porque os seus ouvintes acham que os investigadores
daquelas matérias não creem tão pouco nos deuses.
26. Em conclusão, concordai comigo em que meus
acusadores são de duas classes: os que acabam
de acusar-me e os do passado, a quem aludi;
admiti, também, que destes me deva defender
em primeiro lugar, pois que a suas acusações
destes ouvido primeiro e muito mais que às dos
últimos.
27. • Sócrates fala de uma maneira muito simples, coloquial.
• Ele explica que ele não tem experiência com os tribunais e que, ao
contrário, falam de maneira a que ele está acostumado: com
honestidade e franqueza.
• Ele explica que seu comportamento decorre de uma profecia do
oráculo de Delfos, que alegou que ele era o mais sábio de todos
os homens.
• Reconhecendo a sua ignorância, na maioria dos assuntos mundanos,
Sócrates concluiu que ele deve ser mais sábio do que os outros
homens apenas no que ele sabe que nada sabe
29. • Bem, Atenienses, é mister que apresente minha defesa, que empreenda
delir em vós os efeitos dessa calúnia, a que destes guarida por tantos
anos, e isso em prazo tão curto.
• Eu quisera que assim acontecesse, para o meu e para o vosso bem, e que
lograsse êxito a minha defesa; considero, porém, a empresa difícil e não
tenho a mínima ilusão a esse respeito.
• Seja como for, que tomem as coisas o rumo que aprouver ao deus, mas
cumpre obedecer à lei e apresentar defesa.
30. A fim de difundir essa sabedoria peculiar, Sócrates explica que
ele considerava seu dever de questionar supostos "sábios"
homens e expor sua falsa sabedoria como a ignorância.
Essas atividades lhe renderam muita admiração entre os jovens
de Atenas, mas muito ódio e raiva das pessoas que ele
envergonhado.
Ele cita o seu desprezo como a razão para ele ser levado a
julgamento.
31.
32. Defesa de sua vida
• Sócrates não tem medo da morte; deserção é desonra
• Sócrates está a agir em obediência a Apollo como um homem da
ciência
• Sócrates não pode concordar com encerrar sua missão, seria
contra deus
– Devoção de Sócrates ao seu trabalho fez com que ele não fosse
politicamente ativo: seu daimon o alertou para não entrar na política.
• Missão de Sócrates em ensinar a virtude é uma grande bênção para
Atenas.
• Morte de Sócrates seria uma ofensa contra Apollo.
33. Sócrates então passa a interrogar Meleto, o
homem o principal responsável por trazer
Sócrates perante o júri.
Sua conversa com Meleto, no entanto, é um
mau exemplo deste método, como parece
mais voltada para embaraçar Meleto do que
para chegar à verdade.
34. Dize-me cá, Meleto: Dás muita importância a que os jovens sejam melhores?
Dou, sim.
Faze, então, o favor de dizer a estes senhores quem é que os torna melhores;
evidentemente o sabes, pois que te importa. Descoberto o corruptor, segundo
afirmas, tu me conduzes à presença destes senhores e me acusas; portanto, faze o
favor de dizer quem os torna melhores; conta-lhes quem é. Estás vendo, Meleto,
que te calas e não sabes o que dizer? Com efeito, não achas que isso é feio e prova
que não fazes o mínimo caso, como eu disse? Vamos, bom rapaz, fala; quem é que
os torna melhores?
São, as leis.
Não é isso o que estou perguntando, excelente rapaz; pergunto que homem é, o
qual, para começar, sabe exatamente isso, as leis.
As pessoas presentes, Sócrates; os juízes.
Que dizes, Meleto? Os presentes são capazes de educar os moços e os tornam
melhores?
35. Sem dúvida.
Todos? Ou uns sim e outros não?
Todos.
Boa notícia nos dás, por Hera! Sobram benfeitores! Que mais? E esses da
assistência os tornam melhores, ou não?
Eles também.
Que dizer dos conselheiros? - Também os conselheiros. - Mas, então,
Meleto, acaso os homens da assembleia, os eclesiastas corrompem a
mocidade? Ou eles todos também a tornam melhor?
Também eles.
Logo, não é assim? todos os atenienses tornam os jovens gente de bem,
menos eu; eu sou o único a corrompê-la! É isso o que dizes?
Exatamente Isso é o que digo
36. Que imensa desgraça apontas em mim!
Responde também a esta pergunta: no teu entender, com os cavalos sucede
o mesmo? Toda gente os melhora e um só os vicia? Ou se dá inteiramente o
contrário: quem os sabe melhorar é um só, ou muito poucos, os
adestradores; a maioria, quando trata de cavalos e os monta, vicia-os?
Não é assim, Meleto, com os cavalos e com todos os outros animais?
Que bom para os moços, se há um só a corrompê-los e os outros todos a
fazer-lhes bem! Ora, Meleto, estás dando provas acabadas de que nunca te
preocupaste com a mocidade e revelando claramente a tua indiferença
para com o crime de que me acusas!
37. • Sócrates é considerado culpado por uma margem estreita e é
convidado a propor uma pena.
• Sócrates sugere brincando que se fosse para conseguir o que ele
merece, ele deveria ser homenageado com uma grande refeição por
ser esse tipo de serviço ao Estado.
• Em uma nota mais séria, ele rejeita prisão e exílio, oferecendo
talvez em vez de pagar uma multa.
• Quando o júri rejeita sua sugestão e sentenças à morte, Sócrates
estoicamente aceita o veredicto com a observação de que ninguém,
mas os deuses sabem o que acontece após a morte e por isso seria
tolice temer o que não se sabe.
• Ele também adverte os jurados que votaram contra ele que,
silenciando a sua crítica ao invés de ouvi-lo, eles prejudicaram a
si mesmos muito mais do que o prejudicado.
38. Sustenta-o uma certeza: mais difícil que evitar a morte é "evitar o
mal, porque ele corre mais depressa que a morte". Quanto a
esta, apenas pode ser uma destas duas coisas: “ aquele que morre é
reduzido ao nada e não tem mais qualquer consciência, ou então,
conforme ao que se diz, a morte é uma mudança, uma transmigração
da alma do lugar onde nos encontramos para outro lugar. Se a morte
é a extinção de todo sentimento e assemelha-se a um desses sonos nos
quais nada se vê, mesmo em sonho, então morrer é um ganho
maravilhoso. (...). Por outro lado, se a morte é como uma passagem
daqui para outro lugar, e se é verdade, como se diz, que todos os
mortos aí se reúnem, pode-se, senhores juízes, imaginar maior
bem?".
39. Apoiado nessas hipóteses – as únicas existentes a respeito de um
fato que não permite certezas racionais -, o septuagenário
Sócrates despede-se, tranqüilo, de seus concidadãos: "Mas eis a
hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem
de nós segue o melhor rumo, ninguém o sabe, exceto o deus".
41. A condenação e penas alternativas
• Sócrates é condenado culpado por uma margem de cerca de
30 votos. A pena proposta é a morte por cicuta.
• Neste ponto, Sócrates tem a oportunidade de propor uma
pena alternativa argumenta que desde que a pena deve ser
algo que ele merece, e desde que ele passou sua vida
livremente oferecer seus serviços para a cidade, ele merece
refeições gratuitas para o resto de sua vida.
42. Discursos finais
Para aqueles que votaram em sua morte Na sua idade de
70, a morte teria logo chegou naturalmente.
Mas agora essas pessoas vão ter a responsabilidade de tê-lo
mandado matar
Ele diz que ele poderia ter vencido o seu caso se ele tivesse
apelado aos sofismas, mas ele preferiu falar a verdade.
43. Ele profetiza que haverá outros para tomar seu
lugar. Não é a pessoa que está em questão aqui, mas a
atividade da própria filosofia.
O resultado deve ser para o bem. Afinal, a morte é uma
das duas coisas: um sono profundo ou uma mudança de
lugar.
• Se ele fosse para entrar no Hades, por outro lado, ele teria a
oportunidade de conhecer todos os grandes pensadores
gregos e heróis. E aqui ele poderia perguntar-lhes as mesmas
perguntas que ele pediu os homens de Atenas.
• Então ele tem de forma alguma foram prejudicados, pois ele
quer dormir em paz ou continuar falando.
44. Eles o julgaram esquecendo que um dia também
seriam, pois na realidade eles é que estavam errados,
julgando um homem justo.
Porque fazem isso comigo na esperança de
não ter que prestar contas de suas vidas, mas
lhes digo que o resultado será bem diferente.
Aqueles que irão forçá-los a prestar contas
serão em número bem maior do que o foram
até aqui...”
45. Eu nunca fui mestre de ninguém, conquanto nunca
me opusesse a moço ou velho
que me quisesse ouvir no desempenho de minha tarefa.
Tampouco falo se me pagam, e se não pagam, não;
estou igualmente à disposição do rico e do pobre,
para que me interroguem ou, se preferirem ser interrogados,
para que ouçam o que digo.
Se algum deles vira honesto ou não,
não é justo que eu responda pelo que
jamais prometi nem ensinei a ninguém.
46. Platão indica que a maioria dos juízes votaram a favor da
pena de morte, mas ele não indica exatamente como muitos
o fizeram.
Nossa única fonte para os números reais desses votos é
Diógenes Laércio, que diz que mais 80 votaram a favor da
pena de morte que tinha votado por culpa de Sócrates
os detalhes dessa conta foram contestados.
outros concluíram a partir disso que discurso de Sócrates irritou o
júri.
47. Sócrates responde agora ao veredicto. Ele primeiro
se destina àqueles que votaram para a morte.
Ele alega que não é a falta de argumentos, que
resultou em sua condenação, mas sim falta de tempo
e sua recusa a vergar-se aos apelos emotivos
habituais esperados de qualquer réu diante da morte.
Mais uma vez ele insiste que a perspectiva da
morte não absolve alguém de perseguir o caminho
da bondade e da verdade.
48. Sócrates profetizou que os críticos mais jovens ainda o
seguiriam, o que se constituiria num vexame
Para aqueles que votaram por sua absolvição, Sócrates
dá-lhes encorajamento
Ele diz que seu daimon não o impediu de realizar sua
defesa da forma que ele fez, que este era um sinal de
que era a coisa certa a fazer.
50. A terceira parte da Apologia pretende ser a transcrição
das últimas palavras endereçadas por Sócrates aos que
haviam acabado de condená-lo a morrer bebendo
cicuta. Em sua alocução, a mesma serenidade, o
mesmo tom altaneiro:
"Não foi por falta de discursos que fui condenado, mas por
falta de audácia e porque não quis que ouvísseis o que
para vós teria sido mais agradável, Sócrates lamentando-
se, gemendo, fazendo e dizendo uma porção de coisas que
considero indignas de mim, coisas que estais habituados a
escutar de outros acusados".
51. Desta forma, o seu daimon foi mesmo dizendo-lhe
que a morte deve ser uma bênção.
Para tanto, é uma aniquilação (assim trazer a paz
eterna de todas as preocupações, e, portanto, não
algo para ser verdadeiramente medo) ou uma
migração para um outro lugar para encontrar
almas de pessoas famosas,
como Hesíodo e Homero e heróis como Ulisses
Com elas, será uma alegria para continuar a prática
do diálogo socrático.
52. Sócrates conclui sua Apologia com a alegação
de que ele não tem qualquer rancor contra
aqueles que acusado e condenado, e pede-
lhes para cuidar de seus três filhos à medida
que crescem, garantindo que eles colocaram
bem antes de interesses egoístas.
53. Sócrates deixou os juízes e foi para a prisão,
teve que esperar mais de um mês a morte no
cárcere, pois uma lei vedava as execuções
capitais durante a viagem votativa de um navio
sagrado a Delos.
54. Se tivesse dinheiro, estipularia uma multa de minhas posses;
não sofreria nada com isso.
Infelizmente, não tenho mesmo,
salvo se quiserdes estipular tanto quanto possa pagar.
Talvez vos possa pagar uma mina de prata;
é quanto estipulo, portanto.
Mas aí está Platão, Atenienses, com Críton, Critobulo e
Apolodoro, mandando que estipule trinta minas, sob sua fiança.
Estipulo, pois, essa quantia; serão fiadores da soma essas
pessoas idóneas.
55.
56. Este navio sagrado ía todos os anos à ilha natal de
Apolo para celebrar a ajuda que o Deus Apolo havia
dado a Teseu para vencer um minotauro (monstro)
que obrigou durante anos Atenas a pagar um cruel
tributo.
A lei exigia que nenhuma execução tivesse lugar
antes do regresso do navio. Por isso, Sócrates ficou
a ferros 30 dias, sobre custódia dos Onze,
magistrados encarregados, em Atenas, da polícia e
da administração penitenciária.
57.
58. Durante estes 30 dias recebeu os seus amigos e conversou com
eles.
Uma manhã o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre,
porém Sócrates recusou, declarando não querer absolutamente
desobedecer às leis da pátria.
E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em
palestras espirituais com os amigos.
Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma
que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por
Platão no Fédon com arte incomparável.
59. Após 3 dias a proposta de Críton, deu-se o dia da execução.
Estiveram presentes todos os amigos de Sócrates exceto Aristipo,
Xenofonte (estava na Ásia) e Platão (estava doente), Xantipa e
seus filhos.
Recusou ser vestido depois de morto por uma rica túnica que
Apolodoro lhe havia trazido, preferia o seu manto que havia sido
suficientemente bom até ali e que continuaria a sê-lo depois da sua
morte.
Passou os seus últimos momentos a conversar sobre a imortalidade
da alma.
60. Tomou um banho, e antes que o sol tivesse inteiramente
desaparecido no horizonte pediu o veneno.
Críton argumentou proferindo que Sócrates ainda tinha tempo pois
o sol ainda ía sobre as montanhas.
No entanto Sócrates não quis adiar o inevitável uma vez que
não valia apena economizar quando já não lhe sobrava mais
nada.
Pediu o veneno e pegou na taça de cicuta com uma mão firme e
bebeu sem desgosto nem hesitação até ao fundo.
62. Então responde-me, se puderes: -Existe.
qual é a coisa que, entrando num -Qual é?
corpo, o torna vivo? -A morte.
-A alma. -Não é verdade que a alma jamais
-Mas é sempre assim? aceitará o contrário do que ela
-Como não! traz consigo?
-Portanto a alma, empolgando -Decididamente!
uma coisa, sempre traz vida para -(...) Bem, e ao que não admite a
essa coisa? morte como chamaremos?
-Sempre traz vida! -Imortal.
-Existe um contrário da vida, ou -A alma não admite a morte, não
não? é?
-É.
-Logo, a alma é imortal?
-É imortal!
63. • E antes de chegar o momento de partir, Sócrates fez uma
petição: “Punam meus filhos quando eles crescerem, senhores,
perturbando-os como eu perturbei vocês, caso lhes pareça que
eles se preocupam menos com a virtude do que com o dinheiro
ou outra coisa qualquer e pensam ser mais do que são,
repreendam-nos como eu repreendi vocês por se preocuparem
com o que não deveriam e acharem que significam alguma
coisa quando não valem nada. Se fizerem isso, tanto eu
quanto meus filhos teremos recebido o justo tratamento”.
• O que ele quis dizer é que às vezes é necessário escutarmos um “não”,
e aprender que determinadas coisas são fúteis, e que não nos trazem
conteúda algum. E que dessa forma seus filhos estariam sendo
educados segundo a verdade, a qual, Sócrates ensinou e praticou esse
ideal de vida até o momento de sua morte.
64. Sócrates não tinha medo da morte porque sabia que o
verdadeiro julgamento estaria por vir, seria julgado por
juízes corretos após a morte.
“ ...Se a morte é, por assim dizer, uma mudança de
casa daqui para algum outro lugar e se, como afirmam,
todos os mortos estão lá, que benção maior poderia
existir, juízes? Pois se ao chegar no outro mundo,
deixando para trás os que se disseram juízes, o homem
vai encontrar os verdadeiros juízes que ali se reuniram
em julgamento...”
65. A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente,
consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser.
66. Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar com
cortesia, responder sabiamente, ponderar com prudência e decidir
imparcialmente.
67. Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em
vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa
68. O poder se torna mais forte quando ninguém pensa
69. A mentira nunca vive o suficiente para envelhecer
71. Eu não me importo que as pessoas dizem sobre mim. Eu me
importo com os meus erros.
72. Referências
APOLOGIA DE SÓCRATES (excertos) in http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/
protagoras/links/apol_soc.htm
COMMENTARY ON PLATO'S Apology of Socrates In. http://www.friesian.com/apology.htm
MADJAROF, ROSANA. Introdução à Apologia de Sócrates. In.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/socrates1.htm
MARROW, Daniel. The apology of Socrates- defense In.
http://www.ancientgreece.com/essay/v/the_apology_socrates_defensePLATÃO. Apologia
de Sócrates. São Paulo:Saraiva. 2011
PESSANHA. J.A.MOTTA. Comentário Sobre A "Apologia De Sócrates” In "Sócrates",
coleção "Os Pensadores", Editora Nova Cultural, 1987, pág. VIII a XI. In
http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/comentarioapologia.html
SPARK NOTES. Apology. In.
http://www.sparknotes.com/philosophy/apology/summary.html