O documento discute as pragas que atacam o algodoeiro no Cerrado brasileiro e no Nordeste, incluindo pulgões, tripes, moscas-brancas, percevejos, lagartas e o bicudo do algodoeiro. Uma nova praga, a Helicoverpa armigera, tem causado grandes prejuízos às lavouras de algodão no oeste da Bahia devido à sua alimentação voraz e rápida reprodução.
1. ALGODÃO - CONTROLE DE PRAGAS - UM DESAFIO NO
CERRADO
Nesta condição, são consideradas pragas iniciais da cultura o pulgão do algodoeiro
(Aphis gossypii), os tripes (Thrips tabaci e Frankliniella spp.) e as moscas-brancas
(Bemisia spp.) atacando a parte aérea do algodoeiro da emergência até próximo à
emissão da primeira flor.
Esses insetos se alimentam da seiva das plantas, são transmissores de viroses e normalmente tem seu
ataque associado à presença de um fungo preto (fumagina) que interfere na capacidade fotossintética da
planta e depaupera a fibra do algodoeiro. Normalmente adota-se o controle preventivo destas pragas,
através do tratamento de sementes com inseticidas.
Adicionalmente, durante o ciclo de crescimento da cultura são realizadas
amostragens com decisão de controle sempre que as pragas atingem o nível de
controle, situação na qual utilizam-se pulverizações terrestres ou aéreas com
inseticidas registrados para o controle das mesmas. Alguns grupos tem trabalhado
no sentido de tentar desenvolver cultivares com resistência às principais viroses
transmitidas por estes insetos.
Em algumas glebas do Cerrado, principalmente naquelas localizadas em áreas
muito arenosas e onde a precipitação é alta, tem-se verificado ainda a ocorrência
do percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) no início do ciclo de desenvolvimento
do algodoeiro associado às raízes das plantas, onde permanece sugando a seiva.
Estes insetos constituem-se em pragas de difícil controle e mesmo a aplicação de
produtos sistêmicos de solo tem pouca ação sobre os mesmos, quando o ataque é
intenso. Em áreas com histórico de ocorrência desta praga tem-se recomendado o
pousio ou o controle dos insetos quando em revoada, já que os métodos culturais
de controle normalmente adotados para outras pragas de solo (aração profunda,
escarificação do solo e etc) exercem pequena ação de controle contra esta praga,
dado ao seu hábito de se aprofundar muito no perfil do solo em condição de seca.
Apesar de algumas das lagartas que atacam o algodoeiro poderem ocorrer a partir
dos 30 a 40 dias após a germinação, a grande maioria delas tem seu ataque
concentrado do meio para o final do ciclo de crescimento da cultura. Enquanto
algumas espécies são capazes de atacar as folhas da cultura (Alabama argillacea,
Spodoptera spp. e Pseudoplusia includens), outras (Heliothis virescens, Spodoptera
spp., Pectinophora gossypiella) concentram seu ataque nos botões e maçãs das
plantas. As táticas normalmente adotadas para o convívio com estas lagartas,
incluem a utilização de armadilhas com feromônio para amostragem, liberação de
vespinhas parasitóides dos ovos das pragas, plantio antecipado visando escape do
ataque, destruição dos restos culturais, além do controle químico sempre que as
densidades populacionais atinjam o nível de controle adotado.
2. Uma praga que tem crescido em importância no Cerrado é o bicudo do algodoeiro
(Anthonomus grandis). Considerado a praga-chave do algodoeiro mesmo em outras
regiões, o inseto chegou a inviabilizar o cultivo do algodoeiro o algodão em alguns
locais. Em algumas áreas do Cerrado, normalmente o inseto concentra o início do
seu ataque na época de colheita do plantio regular (safra). Todavia, em outras
áreas sua presença começa a ser verificada nas lavouras por ocasião da emissão
dos primeiro botões florais, local preferido para seu ataque. A entrada da praga na
lavoura pode ser constatada através do monitoramento com armadilhas contendo
feromônio, devendo-se concentrar esforços de controle ao sinal das primeiras
infestações da praga. O cont role terapêutico normalmente envolve a pulverização
de inseticidas registrados para o combate da praga, sendo os mais utilizados
àqueles pertencentes à classe dos organofosforados e organoclorados. Medidas
preventivas à evolução do potencial causador de danos incluem adoção de
calendários de plantio e destruição de soqueiras para uma dada região. O
incremento do potencial causador de danos desse inseto no Cerrado ao longo dos
anos, pode ser estreitamente associado ao intenso sistema de exploração das
áreas, com cultivo de várias safras por ano, o que permite o desenvolvimento de
várias gerações do inseto/ano.
Outras pragas de menor importância, pois tem sua ocorrência restrita a alguns
locais e condições específicas, e que também ocorrem na região são os ác aros
(Tetranychus urticae, Tetranychus ludeni e Polyphagotarsonemus latus), os
percevejos rajado e manchador (Horcias nobilellus, Dysdercus spp), os percevejos
migrantes da soja e a broca do algodoeiro (Eutinobothrus brasiliensis).
Normalmente dada a ocorrência mais restrita destes insetos medidas de controle já
adotadas para as pragas de maior potencial causador de dano, terminam por
suprimir as infestações destes insetos. Quando as infestações são suficientes para
atingir o nível de controle (comumente alcançado, por exemplo, para ácaros em
plantios fora de época) medidas específicas de controle são adotadas e estas
envolvem a pulverização das lavouras com produtos químicos registrados para seu
controle.
Controle de Pragas para o Algodão do Nordeste e Colorido
Os insetos-praga que atacam o algodoeiro cultivado no Nordeste brasileiro, seja
branco ou colorido, não diferem muito daqueles que ocorrem infestando o
algodoeiro cultivado no Cerrado. Todavia, no caso do Nordeste (excluindo-se o
Cerrado Nordestino) dada a condição peculiar do cultivo do algodoeiro, realizado
principalmente por agricultores familiares que produzem cultivares herbáceos e
arbóreos (em menor escala), e possuem pequena renda de forma a limitar a
adoção de pulverizações com produtos sintéticos, a situação do ponto de vista do
manejo de pragas é bem distinta daquela verificada para o Cerrado.
Nesta condição, o principal inseto a restringir o cultivo do algodoeiro é o bicudo do
algodoeiro, que se encontra amplamente disseminado pelas regiões de cultivo. Em
3. geral a principal tática de manejo adotada é o controle cultural, já que a mão-de-obra
da família pode ser empregada neste processo, além das menores áreas de
cultivo favorecerem a adoção desta tática do MIP do algodoeiro. Sendo assim, as
medidas recomendadas para o convívio com a praga incluem a catação e destruição
dos botões florais caídos ao solo contendo as larvas do inseto no seu interior e o
plantio de c ultivares de c ic lo c urto que “esc apem” do ataque do inseto.
Adicionalmente, sempre que o nível de controle seja atingido (10% de botões
florais com orifícios de alimentação e/ou oviposição) e que a recomendação da
adoção de pulverizações se justifique, estas podem ser feitas utilizando-se produtos
registrados para o controle da praga. No caso do cultivo do algodoeiro arbóreo,
deve-se atentar para a condução correta da cultura, evitando-se que as plantas
vegetem ininterruptamente e permaneçam emitindo botões florais, algo que
contribuiria para aumentar o número de gerações do inseto/ano e, em
conseqüência, seu potencial causador de danos.
Além do bicudo, surtos do curuquerê do algodoeiro (Alabama argillacea) são
comuns neste tipo de condição. Em geral, caso os surtos ocorram próxima à
colheita das plantas, quando os capulhos já se encontram abertos, nenhuma
medida de controle é adotada já que a desfolha seria benéfica neste caso, no
sentido de uniformizar a operação. Entretanto, caso os surtos ocorram no início do
desenvolvimento vegetativo das plantas, quando estas são mais sensíveis ao
ataque, medidas de controle curativas são recomendadas. Alguns produtores já
utilizam liberações inundativas de vespinhas parasitóides do gênero Trichogramma
visando prevenir os surtos populacionais destas pragas. Predadores do gênero
Chrysoperla também podem ser liberados, visando exercer ação de controle contra
pulgões, tripes, ácaros, ovos de pragas em geral e lagartas de primeiros ínstares.
Dado ao menor uso de inseticidas nestes tipos de cultivo, o controle biológico
representa uma tática essencial, seja conservativo ou introduzido. Alguns
produtores lançam mão ainda da pulverização de extratos ou óleos vegetais que
possuam atividade inseticida, tais como extrato de folhas e óleo da semente de
Neem, óleo de algodão e outros.
Em condições irrigadas podem ocorrer surtos populacionais de pulgões e ácaros que
justifiquem a adoção de medidas de controle. Para as demais pragas que ocorrem
atacando o algodoeiro, em geral, não são adotadas medidas de controle específicas
ou estas tem sua densidade populacional restringida por ocasião da adoção de
medidas de controle para os insetos de ocorrência preponderante ou dada a ação
do controle biológico natural, que em condição de menor pressão de seleção por
pesticidas tem sua ação potencializada. Além disso, as cultivares recomendadas
para o cultivo nesta condição em geral não apresentam a mesma restrição de
suscetibilidade varietal aos vírus transmitidos por insetos sugadores como aquelas
cultivadas na região do Cerrado, algo que contribui para a redução da necessidade
de pulverizações. Insetos como os pulgões, quando considerados apenas como
pragas agrícolas e não como agentes transmissores de viroses, e desde que
ocorram em densidades não econômicas, atraem inimigos naturais para as lavouras
4. que uma vez presentes no agroecossistema irão exercer suas ações de controle
também sobre outras pragas que ocorrem atacando o algodoeiro.
HELICOVERPA ARMIGERA - Nova praga preocupa produtores de algodão do país
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produtores-de-algod%C3%A3o-do-pais/
A Helicoverpa armigera é uma lagarta que chegou ao Brasil este ano e tem causado graves
prejuízos às lavouras de algodão, milho e soja, entre outras. Por isso, ela será um dos
principais temas científicos do 9º Congresso Brasileiro do Algodão, que começou nesta terça-feira
(03.09) em Brasília e espera receber 2,5 mil visitantes, inclusive do exterior, para
discutir as tendências do setor e a crescente importância da cotonicultura brasileira no
cenário mundial. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão
(Abrapa), Gilson Pinesso, a praga não existia no Brasil, mas a lagarta se transforma em
borboleta e consegue voar até mil quilômetros, bota ovos e gera novas lagartas, o que
explica seu surgimento nas lavouras algodoeiras do país. “Ela come a maçã do algodão com
tal voracidade que destrói toda a plantação”, disse Pinesso. Outro assunto que, segundo ele,
estará em pauta no Congresso é o do preço mínimo do algodão, que não é reajustado há
mais de dez anos. De acordo com o presidente do Congresso, Milton Garbugio, essa edição
do evento, que tem como tema geral Algodão, Gestão e Otimização de Resultados, será
dividida em duas etapas. “Adotamos estrutura diferenciada das outras edições, com dois dias
dedicados ao Módulo Negócios e dois ao Módulo Científico, para dar mais dinâmica aos
debates e garantir a participação maior dos congressistas”.
Uma lagarta que cresce rapidamente, multiplica-se com
velocidade e se alimenta de maneira voraz.
No oeste da Bahia, em uma região de cerrado que engloba
municípios como Barreiras, São Desidério e Luiz Eduardo Magalhães,
as terras são de grandes planícies, com centenas de fazendas
modernas, mecanizadas, que cultivam de tudo.
O algodão é um dos principais produtos. As lavouras se
espalham por 147 propriedades e 260 mil hectares.
Todas as áreas já foram invadidas pela nova praga, caso da
fazenda Santo Inácio, que fica no município de São Desidério.
Uma propriedade típica do oeste baiano, tocada por agricultores
que vieram do Sul do Brasil. Marcelo Kappes e o pai, Lauri,
cultivam 1,2 mil hectares de algodão e atravessam um momento
de crise.
Marcelo mostra de perto o estrago nas lavouras da família.
Segundo ele, as primeiras lagartas apareceram no ano passado,
mas foi só foi este ano que o ataque se tornou mais crítico.
Marcelo conta que se alimentando do botão floral, a planta não
desenvolve as flores e sem flores, não forma o algodão.
A lagarta também pode comer outras brotações do algodoeiro ou
ainda perfurar o fruto em uma fase mais avançada. De uma forma
5. ou de outra, o ataque reduz a produtividade das lavouras, às
vezes, de maneira violenta.
O problema se repete em todo o oeste da Bahia, mas a
intensidade dos ataques varia bastante de uma fazenda para
outra. Nas contas da Associação Baiana dos Produtores de
Algodão, a helicoverpa deve provocar, nesta safra, uma queda na
produção de cerca de 15%.
Além de atacar o algodão, a lagarta também tem provocado
estragos em outras culturas do oeste baiano, como milho, soja,
feijão e sorgo. Segundo as associações de produtores, os
prejuízos na região já passam de R$ 1 bilhão.
Na Esalq, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, que
pertence a Universidade de São Paulo, trabalham alguns dos
principais pesquisadores do Brasil no ramo do controle de pragas.
Celso Omoto é entomologista, especialista em insetos, e explica
que o gênero helicoverpa é tido como extremamente prejudicial a
nossa agricultura. "A helicoverpa armígera foi identificada
recentemente no Brasil e esse relato foi comprovado pelos
pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Goiás",
diz.
Um dos comportamentos que fazem da lagarta uma praga tão
perigosa é justamente a capacidade de se alimentar de tudo o
que é tipo de lavoura.
Técnicos e autoridades não sabem ao certo quando a praga
entrou no Brasil, muito menos como e porque isso ocorreu. A
helicoverpa armígera pode ter vindo com mudas ou plantas
importadas, pode ter migrado naturalmente e há quem acredite
em uma ação criminosa contra a agricultura brasileira.
O certo é que já há registros da lagarta em estados como Bahia,
Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, São Paulo, Piauí e Maranhão, Tocantins, Paraná
e Rio Grande do Sul. Em alguns lugares, a espécie já foi
identificada por cientistas, em outros ainda falta a confirmação
oficial.