O documento discute novas descobertas arqueológicas sobre os povos maias na Mesoamérica. As descobertas sugerem que a civilização maia se desenvolveu através de ampla interação entre grupos, em vez de influência direta dos olmecas. Além disso, assentamentos maias apresentavam complexos cerimoniais sofisticados desde o início, ao invés de se desenvolverem gradualmente.
3. Um pouco sobre :
O que é antropologia.
Introdução à sua definição e
contexto histórico
4. • É uma disciplina que investiga as origens, o desenvolvimento e as
semelhanças das sociedades humanas, assim como as diferenças entre
elas. A palavra antropologia deriva de duas palavras
gregas: anthropos, que significa "homem" ou "humano"; e logo, que
significa "pensamento" ou "razão".
5. • A Antropologia, divide-se em duas grandes áreas de
estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos
próprios: a Antropologia Física ou Biológica e a
Antropologia Cultural.
6. • Para pensar as sociedades humanas, a antropologia
preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres
humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja
nos seus aspectos físicos, na sua relação com a
natureza, seja na sua especificidade cultural.
7. • Embora o estudo das sociedades humanas remonte à
Antiguidade Clássica, a antropologia nasceu, como
ciência, efetivamente, da grande revolução cultural
iniciada com o Iluminismo.
• Até o século XVIII, o saber antropológico esteve
presente na contribuição dos cronistas, viajantes,
soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em
relação aos povos que conheciam, a maneira como estes
viviam a sua condição humana, cultivavam seus hábitos,
normas, características, interpretavam os seus mitos, os
seus rituais, a sua linguagem. Neste século, a
Antropologia adquiriu o status de ciência, tendo como
objeto a análise das “etnias humanas".
9. O autor começa seu livro dizendo como é difícil para um antropólogo retratar
de forma respeitosa todos os temas abordados, uma vez em que as novas
descobertas científicas vão respondendo velhas perguntas e propondo novas
questões, tentando fazer uma mediação entre todos os artigos já publicados e
as novas descobertas que ainda não foram colocadas no papel, pois deixar as
pesquisas exatamente como foram escritas e argumentadas seria o mesmo que
fornecer informações já ultrapassadas ligando-as a um conjunto de
acontecimentos já superados.
10. Exemplo sobre cultura e evolução biológica: onde
as datações dos fosseis foram definitivamente
superadas, as datas foram situadas mais longe no
tempo, não há qualquer sentido em continuar a
dizer ao mundo que os Australopitecnídeos remontam
a um milhão de anos, quando arqueólogos estão
encontrando fósseis de quatro a cinco milhões de
anos.
11. Um outro exemplo que pode ser citado nesse contexto de
sobreposição das novas descobertas científicas: os novos
estudos feitos pelas universidades dos Estados Unidos e do
Japão levantando questionamentos sobre a verdadeira origem
dos povos Maias
12. Segundo Takeshi Inomata, da Universidade do Arizona
(EUA), descobertas recentes feitas no sítio
arqueológico de Ceibal, no México, indicam que a
região foi palco de uma grande mudança cultural entre
os anos.
13. As visões dominantes sobre o surgimento dos maias são: que
a civilização se desenvolveu independentemente de outros
povos em um processo local; que ela surgiu pela influência
direta dos olmecas, através do centro de La Venta. Segundo
as descobertas; a civilização maia se desenvolveu através
de um largo padrão de interação envolvendo o sul da Costa
do Golfo, Chiapas e o sul da Costa do Pacífico. Em outras
palavras, a interação com outras regiões foi importante
(para o desenvolvimento dos maias), mas não foi
influenciado por um único lugar (La Venta)", diz. A grande
descoberta dos arqueólogos em Ceibal foi um complexo
cerimonial, que era mais antigo em pelo menos 200 anos que
um similar de La Venta, ambos de um padrão que é
encontrado em outras cidades.
14. Os povos da Mesoamérica
A descoberta não indica que os maias são anteriores
aos olmecas - já que o centro mais antigo conhecido
destes é San Lorenzo, que prosperou entre 1400 a.C
e 1150 a.C..
15. "Há um substancial espaço entre as duas potências
olmecas: San Lorenzo e La Venta. As contribuições de San
Lorenzo às culturas mesoamericanas tardias foram
importantes, mas eles não tinham complexos cerimoniais
padronizados com pirâmides que vieram a caracterizar
depois centros como La Venta, Ceibal, etc. Depois do
declínio de San Lorenzo, vários grupos do sul da
Mesoamérica, inclusive os moradores de Ceibal, começaram
a experimentar com o legado de San Lorenzo e outros
grupos antigos; eles selecionaram e adaptaram alguns
elementos culturais, modificaram outros, e criaram novas
formas de sociedade. Isso foi um tempo de grandes
mudanças que formou a fundação das civilizações
mesoamericanas tardias. Mas, novamente, essa grande
mudança aconteceu através da interação entre vários
grupos; não foi espalhada de um centro olmeca."
16. Os maias
O arqueólogo explica que os centros maias mais ao sul não
experimentaram esses novos elementos culturais antes de 800
a.C. ou 700 a.C. - ou até mesmo depois disso. "Então, um
ponto chave é que a mudança cultural e social ocorreu
durante a interação entre diversos grupos por volta de 1000
a.C.", diz o cientista.
17. Segundo o pesquisador, enquanto em San Lorenzo a
civilização já era mais desenvolvida entre 1400 a 1150
a.C., os povos maias levavam uma vida nômade nas selvas.
Contudo, uma mudança drástica ocorreu em um desses
povoados por volta de 1000 a.C..
Pirâmide de Chichen Itza Yucatan, Mexico.
18. “As pessoas tendem a pensar que quando os primeiros assentamentos sedentários emergiram,
eles eram pequenas, simples vilas, e então os complexos cerimoniais formais e etc
gradualmente cresceram assim que os assentamentos foram ficando maiores.
Ceibal nos conta uma história diferente.”
O grande complexo de Pirâmides de La Danta, ao lado escala de comparação de tamanho em relação às pirâmides Egípcias.
19. “O que é interessante sobre Ceibal é que um complexo
cerimonial formal estava estabelecido no início dos
assentamentos sedentários, por volta de 1000 a.C..
Localizada no sudoeste das terras baixas maias, Ceibal
provavelmente se beneficiou da interação próxima com estes
povos que ocupavam Chiapas e o sul da Costa do Pacífico e
começaram a desenvolver novas formas de arquitetura antes
do resto das terras baixas maias.”
24. E é justamente sob este
formato de teoria que ele
busca construir a sua
abordagem antropológica
Geerts evita tratar as ideias de forma universal, pois ao
passo que uma ideia é esticada ao ponto em que qualquer
coisa possa ser encaixada dentro de sua definição
(desvirtuando para muito além do foco original), ela perde
a solidez de suas definições e aplicações.
Teorias mais diretas e
fechadas tendem a obter
resultados mais coesos e
empíricos.
25. Clyde Kluckholm apresenta 11 conceitos que podem coincidir
com a definição de cultura:
o modo de vida global de um povo
o legado de um grupo social adquirido por seus indivíduos
uma forma de pensar, sentir e acreditar
uma abstração do comportamento
uma teoria antropológica que visa determinar os modos sociais de um
conjunto humano
um celeiro de aprendizagem em comum
um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes
comportamento aprendido
uma regulação comportamental
um conjunto de técnicas para ajustarem os homens no ambiente e entre
eles mesmos
um precipitado da história
26. Mas para fazer valer a sua proposta de
metodológica de uma pesquisa objetiva,
Geertz opta por um caminho ecletista.
O conceito de cultura escolhido por
ele é o semiótico.
Ele frisa que as análises dos
elementos culturais deve ser
interpretativa, visando
explicar os seus significados,
e não apenas descrevê-la e
encaixá-la a leis
27. Ou seja, teorias mais centradas trazem
resultados mais satisfatórios que
teorias genéricas, sendo que o foco da
abordagem está na interpretação e na
explicação dos elementos.
28. Parte II
A piscadela e os carneiros – A relevância do
argumento interpretativo dos significados
para uma descrição densa
29. A ciência não é definida pelos seus resultados, mas pelo seu
processo. No caso da antropologia, o processo é
etnográfico.
30. Contudo, a eficiência da abordagem não está relacionada ao
método escolhido para se fazer etnografia, mas à qualidade da
descrição.
O autor defende o termo “descrição
densa” como o modelo definitivo de
descrição.
Uma ação não o é devido somente ao ato
de fazê-la, mas ao significado e
propósito que ela carrega.
31. Por exemplo:
Duas pessoas piscam. Teoricamente,
ambas realizam o mesmo ato de
piscar. No entanto, uma delas pisca
devido à um tique enquanto a outra
faz uma piscadela conspiratória.
Logo, as duas pessoas não estão
mais realizando o mesmo ato, mas
ações completamente diferentes
devido à disparidade de sentido
para cada propósito.
32. E é aqui aonde a “descrição densa” se difere da
“descrição superficial”:
enquanto a descrição densa atribui motivos para a
existência das atitudes observadas e se preocupa
em descrever o significado (assumindo que o
primeiro tem um tique e que o segundo deu uma
piscadela), a descrição superficial descreve
apenas os atos independentes de contexto
(assumindo que amos estão apenas piscando, e
portanto, realizando o mesmo ato).
33. Vídeo: problema na comunicação
https://www.youtube.com/watch?v=8Ox5LhIJSBE
34. Em suma, como diferença de significados que
um mesmo elemento pode ter é expressiva, o
antropólogo deve estar atentar para uma
descrição profunda e detalhada de cada
componente estudado.
O modelo metodológico da “descrição
densa” é capaz de suprir essa necessidade.
35. Parte III
A cultura é psicológica? -
Desentendimentos do conceito de cultura
36. No entanto, para uma descrição densa, ainda não é o status
ontológico dos elementos culturais que deve ser inspecionado,
mas a sua importância: o que é transmitido e quais
são as suas consequências
As duas principais ladeiras de
pensamento que embaçam a busca por
este foco durante o processo de
interpretação cultural surgem quanto a
cultura é tratada de forma reificada
ou reduzida.
37. “Reificar”
é trata-la como um corpo único; como
uma entidade consciente com propósitos
e fins nela mesma.
“Reduzir”
é trata-la unicamente como um padrão
de comportamento em comum dentro de
um grupo
38.
39. “A única coisa que (os brasileiros) se importam são CARNAVAL, SAMBA e
FUTEBOL. Todas suas MULHERES são MORENAS, BONITAS, GOSTOSAS e FÁCEIS de
levar pra cama (...).
Os Brasileiros (...) jogam FUTEBOL o dia inteiro nos campos de terra
enquanto escutam SAMBA, bebem CAIPIRINHAS e brincam com os seus animais de
estimação, MACACOS. Todos os seus políticos são CORRUPTOS, todas as ruas são
PERIGROSAS, os seus ídolos são PELÉ e RONALDINHO (...).
Como você se sente depois de ter lido todos esses estereótipos? Você ficou
com raiva? Respire profundo e relaxe. Esta lista de preconceitos não vem de
pessoas estrangeiras.”
(http://reallifeglobal.com/estereotipos-dos-
gringos-o-que-nos-realmente-achamos-do-
brasil/#sthash.ERbRmZPe.dpuf)
40.
41. Clifford Geertz critica a linha de teórica de Ward
Goodenough, acusando-a de ser relativamente responsável pela
disseminação deste desentendimento.
Segundo o pesquisador questionado, “a cultura
está na mente e no coração dos
homens”, e que “(ela) consiste no que
quer que seja que alguém tem que saber
ou acreditar a fim de agir de uma forma
aceita pelos seus membros”
42. Esta vertente de pensamento afirma que a cultura é
composta de estruturas psicológicas pelas quais
os componentes de um grupo guiam o seu comportamento.
Se esta constatação se confirma, confirma-se a
relação na qual basta-se aprender os mecanismos
de comportamento de um grupo que logo você será
integrado a ele.
43. No entanto, conseguir
identificar, compreender e
reproduzir algo não é a coisa
em si.
“Para tocar violino é necessário
ter certos hábitos, habilidades,
conhecimento e talento, estar com
disposição de tocar e (como piada)
ter um violino. Mas tocar violino
não é nem o hábito, a habilidade,
o conhecimento e assim por diante,
nem a disposição ou (...) o
próprio violino.”(GERTZ, p. 9)
44. Um dos fatores determinantes
que levam a essa constatação
está no fato de a cultura ser
pública.
Um mesmo ato pode ter uma definição
respectiva para cada meio cultural
no qual ele é realizado, sendo que
as diferenças de significado chegam
ao ponto em que o sentido é
transfigurado de tal forma que o
próprio ato deixa de ser o mesmo.
45. Dessa forma, afirmar que digerir o significado puro de
um símbolo é o mesmo que aprender a reproduzi-lo
somente em vias de ato é substituir a descrição
densa pela superficial
47. Aprender a piscar não é o mesmo que aprender a dar uma
piscadela, e aprender a reconhecer uma piscadela não é
reconhecer um piscar. E mesmo reconhecendo e sabendo
dirigir uma piscadela não significa que o interlocutor
irá identifica-la como tal, pois ele é refém do contexto
que tecerá a sua interpretação.
O que determina a eficácia da reprodução de
sentido cultural está no contexto que a lê.
48.
49. As teorias antropológicas não podem
ser desenvolvidas nos mesmos meios
pelos quais as ciências exatas
elaboram suas conclusões.
Apoiando-se em Wittgenstein, Geertz
finaliza ao atestar que conhecer uma
cultura nunca o tornará parte
efetiva dela, sendo impossível
tornar-se nativo de um contexto
externo ao seu.
50. Portanto, Gueertz afirma que a cultura não
se trata de uma estrutura psicológica ou de
mero comportamento aprendido.
51. Parte IV
Como a pesquisa etnográfica e o seu objeto
devem ser avaliados
52. “Não estamos procurando tornar-nos nativos [...] O que
procuramos, no sentido mais amplo do termo, que compreende
muito mais do que simplesmente falar, é conversar com
eles [...] Visto sob esse ângulo, o objetivo da
antropologia é o alargamento do universo do
discurso humano.”
53. O significado do comportamento humano varia
de acordo com o padrão de vida através do
qual ele é informado.
54. Os textos antropológicos são
interpretações; ficções no sentido
de que são “algo construído”, “algo
modelado”. (GEERTZ, p. 10)