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          J. Herculano Pires

          Mediunidade
    Conceituação da Mediunidade
                    e
 Análise geral dos seus problemas atuais




            Caspar David Friedrich
                   Manhã
Conteúdo resumido



    Este livro é uma exposição dos problemas mediúnicos,
baseada na experiência pessoal de Herculano Pires como
trabalhador e dirigente espírita durante longos anos, orientando-
se nos seus meandros pela bússola de Kardec, a única realmente
válida e aprovada pelo Espírito da Verdade, que simboliza a
Sabedoria Espiritual junto à Sabedoria Humana.
    Nesta obra o autor estuda todos os tipos de mediunidade,
inclusive a mediunidade zoológica. Trata também dos problemas
da desobsessão e do vampirismo.
Sumário
Introdução.................................................................................6
Questões Iniciais.......................................................................8
Capítulo 1
Conceito de Mediunidade.......................................................12
Capítulo 2
Mediunidade Estática..............................................................18
Capítulo 3
Mediunidade Dinâmica...........................................................24
Capítulo 4
Energia Mediúnica..................................................................30
Capítulo 5
O Ato Mediúnico....................................................................35
Capítulo 6
O Mediunismo........................................................................41
Capítulo 7
A Mesa e o Pão.......................................................................48
Capítulo 8
O Vampirismo.........................................................................55
Capítulo 9
A Moral Mediúnica.................................................................65
Capítulo 10
Relações Mediúnicas..............................................................77
Capítulo 11
Mediunidade Zoológica..........................................................87
Capítulo 12
Medicina Espírita....................................................................97
Capítulo 13
Grau da Mediunidade...........................................................105
Capítulo 14
Mediunidade Prática.............................................................109
Capítulo 15
Mediunidade e Religião........................................................123
Capítulo 16
Problemas da Desobsessão...................................................132
Introdução

         “Mediunidade é a faculdade humana, natural,
            de relações entre homens e espíritos.”

    HERCULANO, o metro que melhor mediu Kardec, como diz
Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, explica
nesse livro como o fenômeno mediúnico é natural.
    O trabalho de Herculano é baseado na teoria e na prática. O
embasamento teórico é produto de uma vida de estudos dos
livros básicos de Kardec e, no caso do “Mediunidade”, do estudo
e reflexão d’O Livro dos Médiuns (Kardec).
    A prática, nessa encarnação, surge de uma vida dedicada ao
trabalho de assistência a encarnados e desencarnados
necessitados, na “mesa da caridade”, como explica Herculano,
nos trabalhos de esclarecimento realizados com a preparação
feita através da leitura e explicação dos livros escritos pelo
mestre de Lion, Kardec, e com a prática mediúnica.
    O mestre de Herculano, Kardec, diz que, se o fenômeno
mediúnico é constante em nossas vidas, se a comunicação entre
encarnados e desencarnados ocorre naturalmente devido à
ligação telepática, há que estudá-la e aproveitá-la, evitando os
prejuízos da telepatia com os desequilibrados. Mas se não é por
acaso que nos ligamos ao desequilíbrio, os seres humanos que
formaram grupo no erro devem agora unir os esforços na
educação libertadora pela compreensão da Verdade ensinada
através dos séculos por irmãos mais velhos e vivenciada por
Jesus.
    Herculano, discípulo fiel de Kardec, explica a mediunidade
estática, que é essa interação constante entre encarnados e
desencarnados, e a dinâmica, que é o compromisso mediúnico.
    Navegamos nas águas tranqüilas da mediunidade
compreendendo que somos construtores do nosso destino hoje e
sempre, ou nos perdemos sem o auxílio da Casa Espírita “como
um barco à deriva”, como diz o pai Herculano.
   Com simplicidade e com a autoridade intelectual e moral
conquistada através de um trabalho magnífico na divulgação da
Doutrina Espírita, o professor Herculano nos convida a entender
que, como dizia Kardec, queiramos ou não, estamos sempre
recebendo e enviando pensamentos de encarnado para encarnado
e de encarnado para desencarnado.
   Para viver bem precisamos pensar bem e auxiliar nossos
irmãos em sofrimento a conseguirem o atendimento de que
necessitam no mundo espiritual graças ao esclarecimento da
“mesa da caridade”.
   Mediunidade é apenas comunicação; aprendamos a sintonizar
com as luzes...
                                           Heloísa Ferraz Pires
Questões Iniciais

    A situação atual do problema mediúnico, nesta fase de
acelerada transição da vida terrena, exige novos estudos e
atualizadas reflexões sobre a Mediunidade. As descobertas
científicas do nosso tempo, especialmente na Física, na
Psicologia e na Biologia, confirmaram decisivamente a teoria
espírita da Mediunidade, a ponto de interessarem os próprios
cientistas soviéticos pela obra do racionalista francês Allan
Kardec, segundo as informações procedentes da URSS. As
teorias parapsicológicas, confirmadas pelas mais rigorosas
experiências de laboratório, pareciam inicialmente contraditar os
conceitos espíritas, firmados em meados do século passado e por
isso mesmo suspeitos de insuficiência. Todos os fenômenos
mediúnicos reduziam-se ao plano mental, a ponto de substituir-
se as palavras alma e espírito pela palavra mente. Instituía-se um
mentalismo psicofisiológico que ameaçava todas as concepções
espiritualistas do homem.
    Durou pouco essa ameaça. Após dez anos de pesquisas
repetitivas sobre os fenômenos mais simples, como clarividência
e telepatia, outros fenômenos, mais complexos e profundos,
impuseram-se à atenção dos cautelosos pesquisadores, que
começaram a levantar, sem querer, as pontas do Véu de Ísis.
Num instante a invasão das áreas universitárias da América e da
Europa, com repercussões imediatas nos grandes centros
culturais da Ásia, pelos fenômenos de aparições, vidência,
manifestações tiptológicas e de levitação de objetos sem contato,
bem como os de precognição e retrocognição, levaram o Prof.
Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke (EUA) a
proclamar, com dados experimentais de inegável significação,
que o pensamento não é físico, o mesmo se aplicando à mente.
Rhine se expunha ao temporal de críticas e ironias, expondo a
Parapsicologia à excomunhão cultural. Vassiliev, da
Universidade de Leningrado, propôs-se a provar o contrário,
através de uma série de experiências, mas não o conseguiu.
Desencadeou-se então, no mundo, o que a Encyclopaedia
Britannica chamou de psychic-boom, uma explosão psíquica
mundial. Os fenômenos mediúnicos conseguiram, afinal, a
cidadania científica que as Academias lhe haviam negado.
Parodiando uma expressão de Kardec sobre o hipnotismo,
repudiado durante anos pela Academia Francesa, podemos dizer
que a Mediunidade, não podendo entrar nas Academias pela
porta da frente, entrou pela porta da cozinha, ou seja, dos
laboratórios.
    O reconhecimento científico da realidade dos fenômenos
mediúnicos afetou beneficamente o Espiritismo, mas trouxe-lhe
também algumas desvantagens. Muitos espíritas se
deslumbraram com o fato e julgaram-se capazes, embora sem o
necessário preparo, de criticar e reformar Kardec, o vencedor,
como se fosse um derrotado. Com isso pulularam as inovações
teóricas e práticas no Espiritismo, aturdindo particularmente os
iniciantes, que afluíram em massa às instituições doutrinárias. O
que daí por diante se publicou, em jornais, revistas, folhetos e
livros, a pretexto de ensinar Espiritismo e Mediunidade, foi uma
avalanche de pretensões vaidosas e absurdos desmedidos. Por
toda parte surgiram os profetas da nova era científico-espírita,
além do charlatanismo interesseiro e ganancioso dos professores
contrários à doutrina, que se julgavam mais capazes de refutar
Rhine do que o veterano Vassiliev. Hoje ainda perduram as
confusões a respeito. Afirma-se tudo a respeito da Mediunidade:
é uma manifestação dos poderes cerebrais do homem, esse
computador natural que pode programar o mundo; é uma eclosão
dos resíduos animais de percepção sem controle de órgãos
sensoriais específicos; é uma energia ainda desconhecida do
córtex cerebral, mas evidentemente física (Vassiliev); é um
despertar de novas energias psicobiológicas do homem, no limiar
da era cósmica; é o produto do inconsciente excitado; é uma
forma ainda não estudada da sugestão hipnótica. Ninguém se
lembra da explicação simples e clara de Kardec: é uma faculdade
humana.
Procuramos demonstrar, neste livro, o que é em essência essa
faculdade, como funciona em nosso corpo e em relação com o
mundo, os homens e os espíritos. Analisamos o seu papel nos
casos de obsessão e desobsessão, sua importância na vida diária
e suas implicações psicológicas, sociológicas e antropológicas e
assim por diante. A função decisiva da Mediunidade na evolução
humana, desde a selva até a civilização, já estudamos no livro O
Espírito e o Tempo, mas aqui a revemos na situação de conjunto
do texto. Apoiamo-nos nas obras de Kardec, nas conquistas
atuais da Parapsicologia, da Física, da Biologia e da Biofísica,
sem outro objetivo que o de mostrar as relações dessas
conquistas recentes com a estrutura geral da Doutrina Espírita.
Apoiamo-nos também em nossas experiências pessoais de quase
toda uma vida no trato dos problemas espíritas em geral e da
mediunidade em particular, na observação e tratamento de casos
de obsessão, no trato direto e vivencial de casos obsessivos na
família e em nós mesmos, nas observações de tratamentos em
hospitais espíritas e nas instituições doutrinárias. Não teorizamos
sobre esses casos, procurando apenas expor o que vimos e
sentimos, de maneira a dar o quadro funcional dos processos,
segundo a nossa percepção íntima, nos termos da observação
psicológica subjetiva e das experiências objetivas. Não fazemos
doutrina, procuramos apenas esclarecer, na medida do possível,
as questões mais difíceis da teoria e da prática espíritas, hoje
conturbadas por verdadeiras aberrações de pessoas
inconscientes, que, demasiado confiantes em si mesmas,
tripudiam sobre os princípios fundamentais do Espiritismo. É
verdade que todos têm o direito de ter suas idéias, suas opiniões,
e até mesmo de expor seus possíveis sistemas. Mas ninguém tem
o direito de fazer dessas coisas, dessas interpretações ou visões
pessoais, elementos capazes de integrar-se numa doutrina
rigorosamente científica. Agem com leviandade e imprudência
os que desejam transformar as suas opiniões em novas leis da
Ciência Espírita. A evolução desta, o seu desenvolvimento real –
só podem ser realizados em termos de pesquisa científica e
análise filosófica, por criaturas lúcidas, equilibradas, conscientes
de suas possibilidades e seus limites, conhecedoras das
exigências do processo científico. Fora dessas condições só
poderemos desfigurar a doutrina e ridicularizá-la aos olhos das
pessoas de bom-senso e culturalmente capacitadas.
    Este livro não é nem pretende ser considerado como um
tratado de mediunidade. Longe disso, é uma exposição dos
problemas mediúnicos por alguém que os viveu e vive,
orientando-se nos seus meandros pela bússola de Kardec, a única
realmente válida e aprovada pelo Espírito da Verdade, que
simboliza a Sabedoria Espiritual junto à Sabedoria Humana. Os
que não compreendem a necessidade dessa conjugação para o
trato eficaz dos problemas espirituais não estão aptos a tratar de
Espiritismo. Enganam-se a si mesmos ao se considerarem
mestres do que não conhecem. O Espiritismo é uma doutrina que
abrange todo o Conhecimento Humano, acrescentando-lhe as
dimensões espirituais que lhe faltam para a visualização da
realidade total. O Mundo é o seu objeto, a Razão é o seu método
e a Mediunidade é o seu laboratório.
Capítulo 1
                Conceito de Mediunidade

    Médium quer dizer medianeiro, intermediário. Mediunidade é
a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as
relações entre homens e espíritos. Não é um poder oculto que se
possa desenvolver através de práticas rituais ou pelo poder
misterioso de um iniciado ou de um guru. A Mediunidade
pertence ao campo da comunicação. Desenvolve-se naturalmente
nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e
sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca e
nos afeta com as suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma
forma que a inteligência e as demais faculdades humanas, a
Mediunidade se desenvolve no processo de relação. Geralmente
o seu desenvolvimento é cíclico, ou seja, processa-se por etapas
sucessivas, em forma de espiral. As crianças a possuem, por
assim dizer, à flor da pele, mas resguardada pela influência
benéfica e controladora dos espíritos protetores, que as religiões
chamam de anjos da guarda. Nessa fase infantil as manifestações
mediúnicas são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua
alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebem as intuições
orientadoras dos seus protetores, às vezes vêem e denunciam a
presença de espíritos e não raro transmitem avisos e recados dos
espíritos aos familiares, de maneira positiva e direta ou de
maneira simbólica e indireta. Quando passam dos sete ou oito
anos integram-se melhor no condiciona-mento da vida terrena,
desligando-se progressivamente das relações espirituais e dando
mais importância às relações humanas. O espírito se ajusta no
seu escafandro para enfrentar os problemas do mundo. Fecha-se
o primeiro ciclo mediúnico para, a seguir, abrir-se o segundo.
Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase
anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantis.
    É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos,
que se inicia o segundo ciclo. No primeiro ciclo só se deve
intervir no processo mediúnico com preces e passes, para
abrandar as excitações naturais da criança, quase sempre
carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou
espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o
suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais
intensas e positivas. É tempo de encaminhá-la com informações
mais precisas sobre o problema mediúnico. Não se deve tentar o
seu desenvolvimento em sessões, a não ser que se trate de um
caso obsessivo. Mas mesmo nesse caso é necessário cuidado
para orientar o adolescente sem excitar a sua imaginação,
acostumando-o ao processo natural regido pelas leis do
crescimento. O passe, a prece, as reuniões para estudo
doutrinário são os meios de auxiliar o processo sem forçá-lo,
dando-lhe a orientação necessária. Certos adolescentes integram-
se rápida e naturalmente na nova situação e se preparam a sério
para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a mediunidade e
procuram voltar-se apenas para os sonhos juvenis. É a hora das
atividades lúdicas, dos jogos e esportes, do estudo e aquisição de
conhecimentos gerais, da integração mais completa na realidade
terrena. Não se deve forçá-los, mas apenas estimulá-los no
tocante aos ensinos espíritas. Sua mente se abre para o contato
mais profundo e constante com a vida do mundo. Mas ele já traz
na consciência as diretrizes próprias da sua vida, que se
manifestarão mais ou menos nítidas em suas tendências e em
seus anseios. Forçá-lo a seguir um rumo que repele é cometer
uma violência de graves conseqüências futuras. Os exemplos dos
familiares influem mais em suas opções do que os ensinos e as
exortações orais. Ele toma conta de si mesmo e firma a sua
personalidade. É preciso respeitá-lo e ajudá-lo com amor e
compreensão. No caso de manifestações espontâneas da
mediunidade é conveniente reduzi-las ao círculo privado da
família ou de um grupo de amigos nas instituições juvenis, até
que sua mediunidade se defina, impondo-se por si mesma.
    O terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da
adolescência para a juventude, entre os dezoito e vinte e cinco
anos. É o tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e
da Mediunidade, bem como da prática mediúnica livre, nos
centros e grupos espíritas. Se a mediunidade não se definiu
devidamente, não se deve ter preocupações. Há processos que
demoram até a proximidade dos 30 anos, da maturidade corporal,
para a verdadeira eclosão da mediunidade. Basta mantê-lo em
ligação com as atividades espíritas, sem forçá-lo. Se ele não
revela nenhuma tendência mediúnica, o melhor é dar-lhe apenas
acesso a atividades sociais ou assistenciais. As sessões de
educação      mediúnica    (impropriamente       chamadas      de
desenvolvimento) destinam-se apenas a médiuns já
caracterizados por manifestações espontâneas, portanto já
desenvolvidos.
    Há ainda um quarto ciclo, correspondente a mediunidades
que só aparecem após a maturidade, na velhice ou na sua
aproximação. Trata-se de manifestações que se tornam possíveis
devido às condições da idade: enfraquecimento físico,
permitindo mais fácil expansão das energias perispiríticas; maior
introversão da mente, com a diminuição de atividades da vida
prática, estado de apatia neuropsíquica, provocado pelas
mudanças orgânicas do envelhecimento. Esses fatores permitem
maior desprendimento do espírito e seu relacionamento com
entidades desencarnadas. Esse tipo de mediunidade tardia tem
pouca duração, constituindo uma espécie de preparação
mediúnica para a morte. Restringe-se a fenômenos de vidência,
comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e
psicografia. Embora seja uma preparação, a morte pode demorar
vários anos, durante os quais o espírito se adapta aos problemas
espirituais com que não se preocupou no correr da vida. Esses
fatos comprovam o conceito de mediunidade como simples
modalidade do relacionamento homem-espírito. Kardec lembra
que o fato de o espírito estar encarnado não o priva de
relacionar-se com os espíritos libertos, da mesma maneira que
um cidadão encarcerado pode conversar com um cidadão livre
através das grades. Não se trata das conhecidas visões de
moribundos no leito mortuário, mas de típico desenvolvimento
tardio de mediunidade que, pela completa integração do
indivíduo na vida carnal, imantado aos problemas do dia-a-dia,
não conseguiu aflorar. A sua manifestação tardia lembra o
adágio de que os extremos se tocam. A velhice nos devolve à
proximidade do mundo espiritual, em posição semelhante à das
crianças.
    Na verdade, a potencialidade mediúnica nunca permanece
letárgica. Pelo contrário, ela se atualiza com mais freqüência do
que supomos, passa de potência a ato em diversos momentos da
vida, através de pressentimentos, previsões de acontecimentos
simples, como o encontro de um amigo há muito ausente,
percepções extra-sensoriais que atribuímos à imaginação ou à
lembrança e assim por diante. Vivemos mediunicamente, entre
dois mundos e em relação permanente com entidades espirituais.
Durante o sono, como Kardec provou através de pesquisas ao
longo de mais de dez anos, desprendemo-nos do corpo que
repousa e passamos ao plano espiritual. Nos momentos de
ausência psíquica de distração, de cochilo, distanciamo-nos do
corpo rapidamente e a ele retornamos como o pássaro que voa e
volta ao ninho. A Psicologia procura explicar esses lapsos
fisiologicamente, mas as reações orgânicas a que atribui o fato
não são causa e sim efeito de um ato mediúnico de afastamento
do espírito. Os estudos de Hipnotismo comprovam isso,
mostrando que a hipnose interfere constantemente em nossa
vigília, fazendo-nos dormir em pé e sonhar acordados, como
geralmente se diz. A busca científica de uma essência orgânica
da mediunidade nunca deu nem dará resultados, porque a
mediunidade tem sua essência na liberdade do espírito.
    Chegando a este ponto podemos colocar o problema em
termos mais precisos: a mediunidade é a manifestação do
espírito através do corpo. No ato mediúnico tanto se manifesta o
espírito do médium como um espírito ao qual ele atende e serve.
Os problemas mediúnicos consistem, portanto, simplesmente na
disciplinação das relações espírito-corpo. É o que chamamos de
educação mediúnica. Na proporção em que o médium aprende,
como espírito, a controlar a sua liberdade e a selecionar as suas
relações espirituais, sua mediunidade se aprimora e se torna
segura. Assim, o bom médium é aquele que mantém o seu
equilíbrio psicofísico e procede na vida de maneira a criar para si
mesmo um ambiente espiritual de moralidade, amor e respeito
pelo próximo. A dificuldade maior está em se fazer o médium
compreender que, para tanto, não precisa tornar-se santo, mas
apenas um homem de bem. Os objetivos de santidade
perseguidos pelas religiões, através dos milênios, gerou no
mundo uma expectativa incômoda para todos os que se dedicam
aos problemas espirituais. Ninguém se torna santo através de
sufocação dos poderes vitais do homem e adoção de um
comportamento social de aparência piedosa. O resultado disso é
o fingimento, a hipocrisia que Jesus condenou incessantemente
nos fariseus, uma atitude permanente de condescendência e
bondade que não corresponde às condições íntimas da criatura. O
médium deve ser espontâneo, natural, uma criatura humana
normal, que não tem motivos para se julgar superior aos outros.
Todo fingimento e todo artifício nas relações sociais leva os
indivíduos à falsidade e à trapaça. A chamada reforma íntima
esquematizada e forçada não modifica ninguém, apenas
artificializa enganosamente os que a seguem. As mudanças
interiores da criatura decorrem de suas experiências na
existência, experiências vitais e consciências que produzem
mudanças profundas na visão íntima do mundo e da vida.
    Essa colocação dos problemas mediúnicos sugere um
conceito da mediunidade que nos leva às próprias raízes do
Espiritismo. A Mediunidade nos aparece como o fundamento de
toda a realidade. O momento do fiat, da Criação do Cosmos, é
um ato mediúnico. Quando o espírito estrutura a matéria para se
manifestar na Criação, constrói o elemento intermediário entre
ele e a realidade sensível ou material. A matéria se torna o
médium do espírito. Assim, a vida é uma permanente
manifestação mediúnica do espírito que, por ela, se projeta e se
manifesta no plano sensível ou material. O Inteligível, que é o
espírito, o princípio inteligente do Universo, dá a sua mensagem
inteligente através das infinitas formas da Natureza, desde os
reinos mineral, vegetal e animal, até o reino hominal, onde a
mediunidade se define em sua plenitude. A responsabilidade do
Homem, da Criatura Humana, expressão mais elevada do
Médium, adquire dimensões cósmicas. Ele é o produto
multimilenar da evolução universal e carrega em sua
mediunidade individual o pesado dever de contribuir para que a
Humanidade realize o seu destino cósmico. A compreensão deste
problema é indispensável para que os médiuns aprendam a zelar
pelas suas faculdades.
Capítulo 2
                 Mediunidade Estática

    A Mediunidade é uma só, é um todo, mas pode ser encarada
em seus vários aspectos funcionais, que são caracterizados como
formas variadas de sua manifestação. Kardec a dividiu, para
efeito metodológico, em duas grandes áreas bem diferenciadas: a
mediunidade de efeitos inteligentes e a mediunidade de efeitos
físicos. Essa divisão prevaleceu nas ciências derivadas do
Espiritismo. Charles Richet, fundador da Metapsíquica,
estabeleceu nessa ciência a divisão das duas áreas com os nomes
de metapsíquica subjetiva e metapsíquica objetiva,
correspondendo exatamente à divisão espírita. Na Parapsicologia
atual, fundada por Rhine e McDougal, as duas áreas figuram
com as denominações de: Psigama (de fenômenos subjetivos ou
mentais) e Psicapa (de fenômenos objetivos ou de efeitos
físicos). A chamada Ciência Psíquica Inglesa, como a antiga
Parapsicologia Alemã, a Psicobiofísica de Schrenk-Notzing e
outras várias escolas científicas mantiveram essa divisão, o que
prova o acerto metodológico de Kardec. A expressão médium
também prevaleceu, chegando até mesmo à Parapsicologia
Soviética, materialista, que a conserva em suas publicações
oficiais. Só alguns ramos científicos sofisticados, como a
Metergia e a Psicorragia inventaram substitutivos para a cômoda
e clara palavra médium, mas que não vulgarizaram. Na Metergia
o médium se chama metérgico e na Psicorragia se chama
psicorrágico. Palavrões científicos só usados por alguns médiuns
pedantes que não querem dizer-se médiuns. As denominações
dadas pela Parapsicologia atual não são pedantescas. São simples
nomes de letras do alfabeto grego, tradicionalmente empregados
nas Ciências para designação de fenômenos. Também não é
verdade que a Parapsicologia atual tenha dado outros nomes aos
fenômenos para se diferenciar do Espiritismo. O problema é
outro: na pesquisa científica não se podem usar designações que
impliquem interpretação antecipada do fenômeno. Escolhendo
letras gregas para designar os fenômenos a ser investigados, os
parapsicólogos usavam palavras neutras, como exige a
metodologia científica. Uma questão de método. Apesar desse
critério, a palavra sensitivo, por exemplo, escolhida para
substituir médium, já foi abandonada por vários parapsicólogos,
que voltaram à expressão médium, como vimos no caso
soviético.
    A terminologia espírita adotada por Kardec é simples e
precisa. Mas no tocante às duas áreas fundamentais dos
fenômenos de efeitos inteligentes e efeitos físicos, era necessário
um acréscimo. Além dessa divisão fenomênica, havia o
problema da divisão funcional. Kardec notou a generalização da
mediunidade e os espíritos o socorreram, como se vê em O Livro
dos Médiuns, com uma especificação curiosa. Temos assim duas
áreas de função mediúnica, designadas como mediunidade
generalizada e mediunato. A primeira corresponde à
mediunidade natural, que todos os seres humanos possuem, e a
segunda corresponde à mediunidade de compromisso, ou seja, de
médiuns investidos espiritualmente de poderes mediúnicos para
finalidades específicas na encarnação. Como Kardec mencionou
a existência de médiuns elétricos e várias vezes comparou a
mediunidade com a eletricidade, surgiu mais tarde entre alguns
estudiosos, entre os quais Crawford, a idéia de uma divisão mais
explícita, com a designação de mediunidade estática e
mediunidade dinâmica. A primeira corresponde à mediunidade
natural que todos possuem e permanece geralmente em estase,
com manifestações moderadas e quase imperceptíveis. A
segunda corresponde à mediunidade ativa, que exige
desenvolvimento e aplicação durante toda a vida do médium.
    A falta de conhecimento dessa divisão acarreta dificuldades e
inconvenientes na prática mediúnica, particularmente nos
trabalhos de Centros e Grupos. A mediunidade estática não é
propriamente uma forma de energia que permanece no
organismo corporal em estado letárgico. É simplesmente a
disposição natural do espírito para expandir-se, projetar-se e
entrar em relação com outros espíritos. A Parapsicologia atual
confirmou a tese espírita das relações telepáticas permanentes na
vida social. Nossa mente funciona, segundo acentua John
Ehrenwald em seu estudo sobre relações interpessoais, como
ativo centro emissor e receptor de pensamentos. Estamos sempre
conversando sem o perceber. Muitos dos nossos monólogos são
diálogos com outras pessoas ou com espíritos. Mensagens de
Emmanuel e André Luiz, através de Chico Xavier, referem-se a
inquirições mentais que certos espíritos nos fazem, seja para
avaliar o nosso estado mental e ajudar-nos a corrigi-lo, seja para
fins obsessivos. Um obsessor se aproxima de nós e sugere
mentalmente o nome ou a figura de uma pessoa. Começamos a
pensar nessa pessoa e a desfilar na mente os dados que
possuímos sobre ela. O obsessor insiste e nós, sem percebermos,
vamos lhe dando a ficha da pessoa ou as nossas opiniões sobre
ela. Ajudamos o obsessor sem saber. De outras vezes ele
pretende saber qual é a nossa posição em determinado caso de
desentendimento a respeito de um seu amigo. Nós a revelamos e
ele passa a envolver-nos num processo obsessivo. Por isso Jesus
aconselhou: "Vigiai e orai". Devemos vigiar os nossos
pensamentos e orar por aqueles que consideramos em erro. Se
fizermos assim certamente nos livraremos de muitas
perturbações e muitos aborrecimentos desnecessários. Os
solilóquios do homem são sempre observados pelas testemunhas
invisíveis, boas e más, que nos cercam. A mediunidade estática
funciona como imanente em nosso psiquismo. Faz parte da nossa
natureza, não é uma graça nem uma prova, é um elemento
essencial da nossa constituição humana.
    Recorrem às casas espíritas muitas pessoas perturbadas e até
mesmo obsedadas, que em geral são consideradas como médiuns
em fase de desenvolvimento. Muitas delas são apenas vítimas de
perseguição de espíritos inferiores, resultantes de inquirições
mentais. Por esse ou outros motivos, essas criaturas estão
realmente envolvidas num processo de obsessão, mas não são
médiuns em desenvolvimento. Precisam de passes, de
participação nas sessões, mas não de sentar-se à mesa mediúnica
para desenvolver mediunidade. Essas pessoas, tratadas
devidamente, livram-se da obsessão, mas não revelam mais os
sintomas mediúnicos decorrentes da obsessão. Essas pessoas não
estão investidas de mediunato, não precisam e nem podem
desenvolver a sua mediunidade estática. Esta lhe serve para
guiar-se na vida através de intuições e percepções extra-
sensoriais. A obsessão ocasional, por sua vez, serviu para
aproximá-la do Espiritismo, despertar-lhe ou reanimar-lhe o
sentimento religioso, encaminhá-la num sentido mais elevado em
sua maneira de viver, na busca de sintonias mentais benéficas e
não prejudiciais.
    As pessoas não dotadas de mediunato não estão desprovidas
dos recursos mediúnicos. Pelo contrário, podem ser muito
sensíveis e intuitivas, dispondo de percepções eficazes em todas
as circunstâncias. Os dirigentes de sessões não podem esquecer
esse problema, que lhes evitará muitos enganos no trato das
manifestações mediúnicas. As obsessões não são produzidas
apenas por espíritos. Há muitos casos de obsessões telepáticas,
provocadas por pessoas vivas. Kardec tratou desses casos
referindo-se à telepatia como telegrafia humana. Sentimentos de
aversão, de ódio, de vingança, acompanhados de pensamentos
agressivos, podem dar a impressão de verdadeiros processos de
obsessão por espíritos inferiores. Estes geralmente se envolvem
em tais casos e manifestam-se nas sessões com suas costumeiras
bravatas, passando como os responsáveis por perturbações em
que apenas se intrometeram. Eliminando o processo telepático,
esses espíritos se afastam, sentem-se impotentes para prosseguir
na temerária empreitada. O Dr. Ehrenwald relata um caso da sua
clínica psicanalítica, em que um rapaz era rejeitado pelos
companheiros de pensão. A rejeição era oculta, pois todos
fingiam apreciá-lo. Só a pesquisa do médico provou o que se
passava. Afastando o paciente para outro meio, os sintomas
obsessivos desapareceram gradualmente, na proporção em que
os algozes o esqueciam. Esse famoso médico psicanalista, diante
de casos dessa ordem, propôs a ampliação dos métodos de
pesquisa parapsicológica com acréscimo dos métodos
significativos da Psicologia dos métodos qualitativos da pesquisa
espírita. Havia realmente chegado a hora em que a
Parapsicologia atual devia superar o primarismo dos métodos de
investigação puramente quantitativos, sob controle estatístico,
para enfrentar o problema das conseqüências da ação telepática
no meio social. Posteriormente a Profª Louise Rhine, esposa e
colaboradora do Prof. Rhine, publicava seu livro Os Canais
Ocultos da Mente, relatando pesquisas de campo sobre os
fenômenos paranormais. Alegava que as pesquisas de laboratório
eram demasiadamente frias e despojavam os fenômenos de sua
riqueza emocional e seu significado. O livro da Senhora Rhine
apresenta uma seqüência impressionante de casos essencialmente
espíritas.
    Todos os rios levam suas águas para o mar. Todas as ciências
psíquicas desembocam fatalmente no delta do Espiritismo. Não
podemos desprezar as suas pesquisas e as suas conclusões. Os
parapsicólogos verdadeiros, que são cientistas universitários, não
devem ser confundidos com sacerdotes inconscientes que
apresentam ao público uma deformação sectária e intencional da
Parapsicologia. Esses padres, frades e pastores que tripudiam
sobre a ignorância e a ingenuidade do povo, são acionados por
interesses materiais evidentes e por entidades espirituais
inferiores, que servem da mediunidade estática deles mesmos
para levá-los a campanhas inglórias e a explorações deploráveis
da boa-fé dos fiéis. Mas a verdade é que estão nas malhas da
mediunidade que negam e combatem. A mediunidade estática
dorme nas suas próprias entranhas, à espera de que se tornem
capazes de percebê-la e compreendê-la.
    Na linha natural dos processos de percepção, a mediunidade
estática aflora, às vezes, dadas as circunstâncias favoráveis,
numa eclosão semelhante ao desenvolvimento mediúnico. Há
casos de premonição que surgem de perigo eventual, casos de
vidência passageira, que parecem sintomas de mediunato em
eclosão. É difícil saber-se de imediato, o que se passa,
principalmente em virtude do estado emocional dos pacientes.
Mas basta uma observação paciente, com a freqüência a sessões
mediúnicas, para logo se verificar que se trata apenas de
ocorrências isoladas e ocasionais. A mediunidade estática tende
sempre a voltar à sua acomodação no psiquismo normal. O que
às vezes complica essas ocorrências passageiras é a insistência
no desenvolvimento mediúnico ou as aplicações terapêuticas de
choques e dosagens excessivas de drogas nos receituários
médicos.
Capítulo 3
                Mediunidade Dinâmica

    A mediunidade dinâmica não permanece em êxtase no
organismo do médium. Não age de maneira discreta e sutil,
como a mediunidade estática. Pelo contrário, extravasa agitada
em fenômenos de captação e projeção, não raro explodindo em
casos obsessivos. É a chamada mediunidade de serviço,
destinada ao auxílio e ao socorro do próximo. Decorre de
compromissos assumidos no plano espiritual, seja para auxiliar
indiscriminadamente os que necessitam de ajuda e orientação,
seja para o resgate de dívidas morais do passado com entidades
necessitadas, cujo estado inferior se deve, em parte ou
totalmente, a ações do médium em vidas anteriores. O médium
não desfruta apenas as vantagens da mediunidade generalizada,
pois vê-se investido de uma missão mediúnica a que os Espíritos
deram o nome de mediunato. A situação do médium é bem
diferente da comum. Ele é continuamente solicitado para atender
a entidades desencarnadas carentes de auxílio e elucidação. Se
rejeita o seu compromisso ou tenta protelá-lo fica sujeito a
perturbações e finalmente à obsessão. O mediunato lhe foi
concedido para reparar os erros do passado e recuperar os
espíritos que pôs a perder, levou à descrença e até mesmo à
revolta em vidas passadas. Não obstante o determinismo
implícito no mediunato, o seu livre-arbítrio continua intacto.
Assim como escolheu e pediu essa situação ao voltar à
encarnação, por sua livre vontade, assim também poderá agora
optar pelo cumprimento da missão ou pela sua rejeição, arcando
naturalmente com as conseqüências da fuga ao dever.
    O mediunato é também concedido em casos de pura
assistência ao próximo e ajuda à Humanidade, como nos mostra
o exemplo histórico das meninas Boudin, Julia e Carolina, em
Paris, cuja mediunidade admirável garantiu o êxito da missão de
Kardec. Mas o próprio Kardec não era médium, porque a sua
missão era científica e não mediúnica. Cabia-lhe estudar e
pesquisar a mediunidade para desdobrar a incipiente cultura
terrena, revelando aos cientistas a face oculta da Natureza, a
realidade desconhecida do outro mundo que eles não percebiam
e quando percebiam não aceitavam. As meninas Boudin, que
estavam com apenas 14 e 16 anos, foram os instrumentos
mediúnicos de que ele se serviu para a elaboração da Doutrina.
Interrogava os espíritos através delas, aceitava ou rejeitava o que
diziam, discutia livremente com eles e observava outros
médiuns, como a Srta. Jafet, Didier Filho, Camille Flammarion,
Victorien Sardou e muitos outros. Não era um profeta, nem um
vidente ou Messias: era um pesquisador incansável e exigente. A
volumosa, minuciosa e inabalável obra que deixou, formando um
maciço de mais de vinte volumes de quatrocentas páginas em
média, mostra porque ele não podia dispor de um mediunato.
Tinha de dedicar-se inteiramente, como se dedicou até à
exaustão, ao trabalho intelectual. E grandiosa a epopéia humilde
desse homem, pesquisador solitário de uma ciência que todos
combatiam e ridicularizavam. Se não estava investido de
mediunato, dispunha da intuição em alto grau, de um bom-senso
que lhe permitiu solidificar e estruturar a doutrina em bases
seguras e vencer facilmente as mais sofisticadas investidas dos
intelectuais, dos sábios, dos ateus e materialistas, das academias
e instituições culturais, das igrejas e dos teólogos, mostrando-
lhes com serenidade e clareza meridiana os erros temerários em
que incidiam. A mediunidade estática lhe permitia, nos últimos
anos de trabalho, ser advertido diretamente pelos espíritos de
lapsos ocorridos em seus escritos, como se pode ver em suas
anotações publicadas em Obras Póstumas. Se os homens não
fossem tão estúpidos, como demonstrou Richet em L'Homme
Stupide, teriam poupado Kardec dos muitos dissabores e das
muitas lutas que teve de sustentar.
    Para se compreender melhor a razão pela qual Kardec não
teve um mediunato, basta lembrar o caso de Swedenborg na
Suécia e de Andrew Jakson Davis nos Estados Unidos. O
primeiro era um dos maiores sábios do século XVIII, amigo de
Kant e foi um precursor do Espiritismo. Mas, dotado de
extraordinária vidência, perdeu-se nas suas próprias visões,
fascinado pela realidade invisível, e acabou criando uma seita
eivada de absurdos. O segundo era também vidente e lançou uma
série de livros em que o fantástico supera as possibilidades do
real. Kardec pôde realizar seu trabalho com firmeza porque não
quis ser mais do que homem, como dizia Descartes,
permanecendo com os pés no chão e examinando todas as
manifestações espirituais com o mais rigoroso critério científico.
Os fenômenos mediúnicos são os mais difíceis de se examinar
com frieza. O médium não escapa aos impactos emocionais
dessas manifestações, como Kardec viu no próprio exemplo de
Flammarion. Por outro lado, a condição de médium o tornaria
suspeito aos olhos desconfiados dos homens de ciência. Sua
posição firme no campo cultural e nas áreas de pesquisa, que lhe
valeram o louvor de Richet e o respeito de Crookes, Zöllner e
outros cientistas conscienciosos, e principalmente sua lógica
poderosa o livraram dos perigos que ele mesmo apontava no
tocante à complexa e fascinante problemática do Espiritismo.
Tinha de falar aos homens como homem, e assim o fez, com a
linguagem humana dos que buscam a verdade.
    Mesmo no meio espírita o critério de Kardec ainda não foi
suficientemente compreendido. Muitos censuram o seu
comedimento em tratar de assuntos melindrosos da época. Não
entendem o valor de O Livro dos Médiuns e vivem à procura de
novidades apresentadas em obras mediúnicas suspeitas. Não
percebem que o problema mediúnico só agora pode ser tratado
cientificamente com mais desembaraço, graças ao avanço das
ciências nos últimos anos. Poucos entendem o critério modelar
de uma obra difícil como A Gênese e de um livro como O
Evangelho Segundo o Espiritismo, em que as questões
explosivas da fé irracional e das influências mitológicas teriam
de ser contornadas. Nas mãos de um vidente esses livros não
poderiam ser escritos com a clareza racional em que o foram,
porque as visões místicas influiriam na sua elaboração.
    A vidência, como todas as formas de mediunidade, pode
ocorrer ocasionalmente a qualquer pessoa, mas a sua ação
permanente, nos casos de mediunato, pode bloquear a razão e
excitar o misticismo. Nesses casos o místico está sujeito a
enganos fatais. O espírito encarnado está condicionado à vida do
plano material, não dispondo de segurança para lidar com os
problemas do plano espiritual. Mas a vaidade humana leva os
videntes a confiarem nas suas percepções, pois isso os coloca
acima dos outros. No desdobramento, com fins de pesquisa no
outro plano, esse problema se agrava, pois o deslocamento do
espírito para um campo de ação que não é o seu, durante a
encarnação, o coloca no plano espiritual como um estrangeiro
que precisaria de tempo para ajustar-se a ele. Por isso Kardec
preferiu o estudo e a investigação através das manifestações
mediúnicas, onde é possível controlar-se a legitimidade das
informações dadas pelos próprios habitantes do plano espiritual.
    Richet levantou o problema do condicionamento da vidência
à crença do vidente. Frederic Myers demonstrou que a nossa
mente está condicionada para a interpretação das percepções
sensoriais. A consciência supraliminar, onde funciona a nossa
mente de relação, está voltada para as condições do mundo em
que vivemos. A consciência subliminar, que equivale ao
inconsciente, destina-se a funcionar normalmente na vida futura,
ou seja, no plano espiritual. Kardec observou tudo isso com
rigor, através de pesquisas incessantes, nas comunicações
mediúnicas de espíritos encarnados, como se pode ver nos
relatos de suas pesquisas publicados na Revista Espírita. Os
próprios espíritos recém-desencarnados referem-se sempre às
dificuldades que enfrentam para adaptar-se às condições do
mundo espiritual. É pois, uma temeridade confiar-se na vidência
para estabelecer novos princípios ou sistemas de prática espírita.
A vidência auxilia nas pesquisas, mas não pode ser o seu
instrumento único. Os videntes que se colocam na posição de
conhecedores absolutos do outro mundo, esquecendo-se de que o
seu equipamento sensorial e mental pertence a este mundo, e se
apresentam na condição de mestres e reformadores da doutrina
enganam-se a si mesmos e enganam aos outros.
    Pode-se alegar a existência do mediunato da vidência. Mas
esse mediunato jamais é concedido para as aventuras de espíritos
de vivos no plano espiritual, porque isso seria condenar o
médium a uma situação de dualidade perigosa na vida terrena. O
mediunato da vidência existe, mas para fins de auxílio às
pesquisas ou para demonstrações da verdade espírita, mas nunca
para a criação de condições anômalas no campo mediúnico. As
próprias obras mediúnicas, psicografadas, que descrevem com
excesso de minúcias a vida no plano espiritual, devem ser
encaradas com reserva pelos espíritas estudiosos. Emmanuel
explica, prefaciando um livro de André Luiz, que o autor
espiritual se serve de figuras analógicas para explicar fatos e
coisas que não poderiam ser explicados de maneira fidedigna em
nossa linguagem humana. São perigosas as duas posições
extremadas: a dos que não aceitam essas obras como válidas e a
dos que pretendem substituir por elas as obras de Kardec. Os
princípios da Codificação não podem ser alterados pela obra de
um espírito isolado. A Codificação não é obra de vidência, mas
de pesquisa científica realizada por Kardec sob orientação e
vigilância dos Espíritos Superiores.
    Estamos numa fase de rápidas transformações de conceitos e
valores, mas não devemos esquecer que os conceitos e os valores
do Espiritismo não se restringem ao momento atual. São
conceitos e valores destinados à nossa preparação para o futuro,
de maneira que não estão peremptos.
    De tudo isso resulta um acréscimo da responsabilidade
espírita para todos os que se deixam levar pela fascinação das
novidades. O Espiritismo é um campo de estudos difícil e
melindroso, em que não podemos descuidar um só instante da
bússola da razão. Ao tratar de assuntos espíritas estamos agindo
num campo magnético em que se digladiam as forças do bem e
do mal. Nem sempre sabemos distingui-las com segurança e
podemos deixar-nos levar por correntes de pensamento
desnorteantes. A vaidade, a pretensão, o orgulho humano sempre
vazio e fácil de ser levado pelos ventos da mistificação, o desejo
leviano de nos diferenciarmos da maioria, a ambição doentia e
tola de nos fantasiarmos de mestres podem levar-nos à traição à
verdade. A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar.
Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a
legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os
garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa
na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito da Verdade.
Se não confiamos nela é melhor abandonarmos o Espiritismo.
Não há mestres espirituais na Terra nesta hora de provas, que é
semelhante à hora de exames numa escola do mundo. Jesus
poderia nos responder, diante da nossa busca comodista de novos
mestres, como Abraão respondeu ao rico da parábola: "Porque eu
deveria mandar-vos novos mestres, se tendes convosco a
Codificação e os Evangelhos?".
    A mediunidade dinâmica do mediunato exige o nosso esforço
contínuo na luta para sustentação da verdade espírita no mundo.
Mas ninguém se esquiva sem graves conseqüências ao dever da
vigilância. Os espíritos mistificadores contam apenas com dois
pontos de apoio para nos envolverem: a vaidade e a invigilância.
É mais fácil a eles se aproximarem de nós e conquistar a nossa
atenção, do que aos espíritos esclarecidos nos socorrerem com
suas intuições ponderadas. Estamos num mundo de provas e de
expiações, somos espíritos em evolução, na maioria repetidores
de encarnações fracassadas. Nosso livre-arbítrio não pode ser
violado, mas quando aceitamos as mistificações de pretensos
reformadores usamos o livre-arbítrio na escolha infeliz que então
fazemos. Este é um ponto importante de doutrina em que
devemos pensar incessantemente. Nossa responsabilidade no
tocante ao mediunato não nos permite leviandade alguma que
não tenha um preço a pagarmos no presente ou no futuro. Num
ambiente mediúnico dominado pelo desejo de novidades e pela
expectativa do maravilhoso, estamos sujeitos sempre a nos
embriagar com o vinho das ilusões. O principal dever dos
médiuns resume-se em duas palavras: fidelidade e vigilância. Se
não formos fiéis à doutrina e não estivermos sempre vigilantes às
ciladas das trevas, estaremos sujeitos a seguir o caminho dos
falsos profetas da Terra e da erraticidade, que o cego da parábola
levará ao barranco para cair com ele.
Capítulo 4
                    Energia Mediúnica

    Desde Kardec a teoria dos fluidos tem provocado
divergências entre os cientistas e os espíritos. Chegou-se a criar
uma prevenção contra a palavra fluido e alguns espíritas ligados
a atividades científicas consideraram a teoria espírita a respeito,
propondo modificações na terminologia doutrinária. O avanço
rápido das ciências neste século mostrou que a razão estava com
Kardec. O próprio fluido magnético, que a descoberta da
sugestão hipnótica parecia ter anulado por completo, retornou ao
campo das hipóteses. Na revolução conceptual provocada por
Einstein, entretanto, a teoria do fluido universal não foi afastada
do campo científico, mas apenas colocada por ele entre
parênteses, como problema pendente para soluções posteriores.
Hoje a situação é inteiramente favorável ao Espiritismo. A Física
Nuclear nos apresenta uma imagem fluídica do Universo,
verdadeiro domínio dos fluidos. Eles se apresentam como formas
de energia nos campos de força que estruturam o aparente vácuo
dos espaços siderais, como elementos mantenedores da vida nos
processos fisiológicos, corno fluxos de partículas infinitesimais,
dotados de assombroso poder e até mesmo como elementos
constitutivos do tempo e do pensamento.
    A fase recente da Efluviografia, com a descoberta das
câmaras Kirlian de fotografias sobre campos imantados com
energia elétrica em alta freqüência, e as recentes experiências
soviéticas com essas câmaras adaptadas a microscópios
eletrônicos de alta potência, liquidaram essa velha pendência.
Abriu-se novamente no campo científico a área da fluídica. Já
podemos pensar em termos de fluidos sem cometer nenhuma
heresia científica. Mas seria temerário querermos definir a
mediunidade como uma espécie de energia fluídica, pois a sua
natureza evidenciou-se, desde o tempo de Kardec, como simples
processo de intermediação, ou seja, de relação. A mediunidade
em si não é um tipo específico de energia, mas se processa, como
tudo quanto existe, através de energias espirituais e materiais em
conjugação. O ato mediúnico tem hoje a sua dinâmica operatória
bem conhecida, que foi explicada pelos espíritos a Kardec, à
revelia das hipóteses por este formuladas.
    O espírito tem em si mesmo uma forma de energia pura e
sutil que não podemos captar e analisar através de aparelhos
materiais. Na teoria espírita é o princípio inteligente, dotado de
potencialidades insuspeitáveis. Em nosso estágio evolutivo só
conhecemos o espírito por suas manifestações através de
energias por ele usadas, mas essas energias não são o espírito e
sim as forças de que ele se serve. A essência do ser é uma
realidade que escapa a todas as possibilidades cognitivas das
ciências. Só a Filosofia consegue abordá-la através dos métodos
do pensamento, mas assim mesmo sem poder defini-la como
deseja. No Espiritismo nos socorremos da expressão princípio
inteligente para definir essa essência e sua natureza, porque a
inteligência, como poder capaz de penetrar na essência das
coisas e nos dar o conhecimento, é o seu aspecto mais evidente
para nós. Na verdade, só nos conhecemos pelos efeitos do que
somos, não pelo que somos.
    As energias da mediunidade e seu modo de agir foram
definidos por Kardec, através de suas pesquisas e com o auxílio
de entidades espirituais superiores. Essa definição atrevida,
longamente combatida, criticada e ridicularizada por cientes e
inscientes, está hoje plenamente confirmada em seu acerto pelas
pesquisas científicas da Parapsicologia, da Física nuclear, da
Metapsíquica no plano fisiológico e assim por diante. O
Espiritismo se firma, hoje, como ciência avançada que balizou o
avanço das ciências a partir de meados do século passado e ainda
tem muito a oferecer no futuro.
    As leis que regem os fenômenos mediúnicos foram
esclarecidas pelas pesquisas de Kardec e, apesar das dúvidas e
críticas irônicas de mais de um século sobre essa inegável
conquista científica, estão atualmente confirmadas. Isso nos
mostra a solidez da obra kardeciana.
A ação do espírito sobre a matéria, que sofreu contestações
sofísticas durante um século, apesar de sua evidência em nossa
própria estrutura orgânica, foi ainda agora confirmada pelas
pesquisas dos cientistas soviéticos na Universidade de Kirov, na
URSS, materialistas e desconhecedores da Doutrina Espírita. O
impacto dessa descoberta provocou reações violentas do poder
soviético, que sentiu ameaçada por ela a estrutura ideológica do
Estado. Cessaram as notícias sobre a grande façanha científica,
com uma espécie de excomunhão dos responsáveis, mas a
divulgação feita pelas pesquisadoras da Universidade de Prentice
Hall (EUA) que estiveram na URSS e entrevistaram os cientistas
soviéticos, são suficientes para mostrar-nos a grandeza do feito.
    A maior e mais constante rejeição dos cientistas às
conclusões das pesquisas espíritas sobre os fenômenos
mediúnicos verificou-se na área dos efeitos físicos. Ainda hoje,
no panorama parapsicológico, a própria existência desses
fenômenos é posta em dúvida por cientistas sistemáticos, que se
apegam às concepções materialistas ou a posições religiosas
sectárias. Para se ter uma idéia desse tipo de oposição, basta
lembrar a opinião expressa de um conhecido físico paulista,
professor universitário, sobre o fenômeno de materialização.
Disse ele que o fenômeno é teoricamente possível, ante os
conhecimentos atuais da Física, mas que, para realizar-se seria
necessária uma quantidade de energia só possível de obter-se
num período de duzentos anos. Entretanto, como ficou
demonstrado nas experiências científicas do Espiritismo, e pode
ser comprovado a qualquer momento, o fenômeno de
materialização é produzido em poucos minutos. O engano do
físico foi esclarecido por um pesquisador espírita que
demonstrou o seu erro de classificação científica. A
materialização não é um fenômeno físico, exigindo duzentos
anos de funcionamento da Usina de Urubupungá, mas um
fenômeno fisiológico. A ação do espírito sobre o médium
provoca a emanação de ectoplasma do seu organismo. O
ectoplasma, descoberto e denominado por Richet, Prêmio Nobel
de Fisiologia, não acumula matéria em grande quantidade para
formar um corpo físico real, mas apenas reveste o perispírito ou
corpo espiritual do espírito, dando-lhe a aparência de um corpo
real. O físico opinara, por engano, embora de boa-fé, sobre um
fenômeno que não pertence ao campo de sua especialidade e que
já fora confirmado por um grande especialista. Toda a produção
de fenômenos físicos no campo da mediunidade é feita por
elaboração e aplicação de energias vitais e orgânicas do médium,
com a colaboração involuntária dos próprios participantes da
reunião em que se verifica a experiência.
    Os cientistas soviéticos, fascinados pelo sucesso de suas
pesquisas e alheios aos problemas ideológicos, constataram
oficialmente, na famosa Universidade de Kirov. que o homem
possui um corpo energético que responde pela vitalidade e as
funções do corpo carnal. Verificaram que, nos casos de
movimentação e levitação de objetos sem contato, esse corpo
energético expande correntes de energia que impregnam os
objetos a serem movidos à distância do médium. São essas
energias, carregadas de matéria orgânica, que Richet chamou de
ectoplasma e que o Prof. Crawford, da Universidade de Belfast,
catedrático de mecânica, conseguiu observar em toda a sua
complexa mecânica de expansão e ação, descobrindo
objetivamente o funcionamento de alavancas de ectoplasma na
produção dos fenômenos. Como se vê, a mediunidade é um
processo de relação-indutiva, em que entram em jogo energias
psicofísicas e energias espirituais. Na Parapsicologia isso ficou
provado através de numerosas pesquisas. O Prof. Rhine
diferenciou os dois tipos de energia ao classificar o pensamento
como extrafísico. As energias mentais são de natureza espiritual
e provocam reações materiais no cérebro. As energias espirituais,
que Rhine chamou de extrafísicas, não estão sujeitas às leis
físicas. Não sofrem a ação da gravidade, não se desgastam na sua
projeção a qualquer distância e não são interceptadas por
nenhuma espécie de barreiras físicas. Experiências em contrário,
realizadas na URSS por Vassiliev, com o fim de demonstrar que
não passavam de um novo tipo de energias físicas, fracassaram
por completo. Dessa maneira, a tese espírita da existência de
energias espirituais típicas ficou também comprovada
cientificamente. Continuam, e é natural, os debates teóricos a
respeito, mas o que importa na Ciência não são as opiniões e sim
os fatos. E os fatos, como sempre, continuam fiéis à Doutrina
Espírita. A mediunidade dispõe desses dois tipos de energia, mas
não é, em si mesma, nenhuma delas. Não há uma energia
mediúnica específica, mas apenas a ação controladora da mente
sobre a matéria. Esta ação é a mesma que deu origem ao mundo
e a toda a realidade, quando o espírito (no caso o princípio
inteligente) aglutinou as partículas de matéria e deu-lhes
estruturas múltiplas. A relação espírito-matéria é uma constante
universal que se evidencia particularmente nos fenômenos vitais:
no vegetal, no animal e no homem. Mas o ato mediúnico é o
ponto de concentração em que as suas leis se revelam com a
devida clareza aos pesquisadores. É natural que os cientistas
alheios aos problemas espíritas encontrem dificuldades em
aceitar essa tese. Além disso, como observou o Prof. Remy
Chauvein, do Instituto de Altos Estudos de Paris, existe no meio
científico um caso alarmante de alergia ao futuro.
    Recentemente proclamou-se no Rio de Janeiro a descoberta
de um novo tipo de fenômeno espírita, baseado no princípio da
indução. Tratava-se da indução dos Estados patológicos de
espíritos inferiores a criaturas humanas. Esse fenômeno, tantas
vezes tratado por Kardec, nada tem de novo e enquadra-se
naturalmente no capítulo das obsessões. Todo o processo
mediúnico é de natureza indutiva. O espírito e o médium
funcionam como vasos comunicantes, no sistema de relação-
indutiva da mediunidade. A própria hipnose é também um
processo indutivo, o que levou Kardec a acentuar a íntima
relação entre hipnose e mediunidade. O obsessor consciente age
hipnoticamente sobre o obsedado. Estes problemas precisam ser
estudados com a devida atenção por todos os que se entregam a
trabalhos     mediúnicos,      mormente      quando     assumem
responsabilidades de direção. Muitos enganos e muitas
desilusões na prática mediúnica decorrem exclusivamente da
falta de conhecimento da natureza e dinâmica da mediunidade.
Capítulo 5
                     O Ato Mediúnico

    O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante
e o médium se fundem na unidade psico-afetiva da comunicação.
O espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas
vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo
espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque
vibratório, semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o
perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica. Há uma
simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila
um pouco do outro. Uma percepção visual desse momento
comove o vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações
perispirituais projetam sobre o rosto do médium a máscara
transparente do espírito. Compreende-se então o sentido
profundo da palavra intermúndio. Ali estão, fundidos e ao
mesmo tempo distintos, o semblante radioso do espírito e o
semblante humano do médium, iluminado pelo suave clarão da
realidade espiritual. Essa superposição de planos dá aos videntes
a impressão de que o espírito comunicante se incorpora no
médium. Daí a errônea denominação de incorporação para as
manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas
uma interpenetração psíquica, como a da luz atravessando uma
vidraça. Ligados os centros vitais de ambos, o espírito se
manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida
terrena, sem sentir o peso da carne. O médium, por sua vez,
experimenta a leveza do espírito, sem perder a consciência de
sua natureza carnal, e fala ao sopro do espírito, como um
intérprete que não se dá ao trabalho da tradução.
    O ato mediúnico natural é esse momento de síntese afetiva
em que os dois planos da vida revelam o segredo da morte:
apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa.
    O ato mediúnico normal é uma segunda ressurreição, que se
verifica precisamente no corpo espiritual que, segundo o
Apóstolo Paulo, é o corpo da ressurreição. O espírito volta à
carne, não a que deixou no túmulo, mas a do médium que lhe
oferece, num gesto de amor, a oportunidade do retorno aos
corações que deixou no mundo. A beleza do reencontro de um
filho com a mãe, que estreita o médium nos braços ansiosos e o
beija com toda a efusão da saudade materna, compensa de muito
a impiedade dos que o acusam de praticar bruxarias. Nos casos
de materialização, nada mais belo que Lombroso com sua mãe
materializada através da mediunidade de Eusápia Paladino, na
sessão a que fora levado pelo Prof. Chiaia, de Milão. Eusápia era
uma camponesa analfabeta e mil vezes caluniada. Lombroso, o
fundador da Antropologia Criminal, retratou-se na revista Luce e
Ombra de seus violentos artigos contra o Espiritismo, e declarou
comovido: "Nenhum gigante do pensamento e da força poderia
me fazer o que me fez esta pequena mulher analfabeta: arrancar
minha mãe do túmulo e devolvê-la aos meus braços!". Frederico
Fígner, introdutor do fonógrafo no Brasil, levou sua esposa
desolada a Belém do Pará, na esperança de um reencontro com a
menina Rachel, sua filha, que haviam perdido, o que quase os
levara à loucura, a ele e à esposa. Procuraram a médium Ana
Prado, também mulher do campo, e numa sessão com ela a
menina apareceu materializada, estimulando os pais a
enfrentarem o caso com serenidade, pois ali estava viva, e falava
e os beijava, e sentava-se em seus colos, provando que não
morrera. Fígner, ao voltar para o Rio de Janeiro, dedicou-se dali
por diante ao Espiritismo, com a chama da fé acesa em seu
coração e no coração da esposa, mas agora uma fé inabalável,
assentada na razão e nos fatos.
    Quando o ato mediúnico é assim perfeito e claro, iluminado
por uma mediunidade esclarecida e devotada ao bem, não há
gigante – como no caso de Lombroso – que não se curve
reverente ante o mistério da vida imortal. O médium se torna o
instrumento da ressurreição impossível, provando aos homens
que a morte não é mais do que lapso no intermúndio que separa
os vivos na carne dos vivos no espírito. Compreende-se então o
fenômeno da Ressurreição de Jesus, que não foi o ato divino de
um Deus, mas o ato mediúnico de um espírito que dominava,
pelo saber e a pureza, os mistérios da imortalidade.
    Quando o ato mediúnico não tem a pureza e a beleza de uma
comunicação amorosa, tem o calor da solidariedade humana e é
iluminado pela caridade cristã. Numa sessão comum de socorro
espiritual, os médiuns sentados ao redor da mesa, os
doutrinadores a postos, espíritos sofredores e espíritos maldosos
e vingativos, sob controle dos orientadores espirituais, são
aproximados de médiuns que desejam servi-los. O quadro é bem
diferente dos que apresentamos acima. Não há beleza nem
serenidade nos espíritos comunicantes, nem resplendor ou
transparência em suas faces. Há desespero, dor, expressões de
rebeldia ou ímpetos de vingança. Os médiuns sentem-se
inquietos, não raro temerosos. A aproximação dos comunicantes
é incômoda, desagradável. As vibrações perispirituais são
ásperas e sombrias O vidente se aturde com aquelas figuras
pesadas e escuras que transtornam a fisionomia dos médiuns.
Mas, na proporção em que os doutrinadores encarnados dão o
socorro de suas vibrações e de seus argumentos fraternos aos
necessitados, o quadro se modifica com as luzes vacilantes que
se acendem nas mentes conturbadas. Os guias espirituais
manifestam-se em socorro dos doutrinadores e suas vibrações
acalmam a inquietação do ambiente. O trabalho é penoso.
Criaturas recalcitrantes no mal recusam-se a compreender a
realidade negativa em que se encontram. Espíritos vencidos
pelas dores de encarnações penosas mostram-se revoltados. Os
que trazem o coração esmagado por injustiças e traições exigem
vingança e fazem ameaças terríveis. Mas a palavra fraterna,
carregada de bondade e amor, iluminada pelas citações
evangélicas, vai aos poucos amortecendo as explosões de ódio.
Às vezes a autoridade do dirigente ou de um espírito elevado se
faz sentir, para que os mais rebeldes compreendam que estão sob
um poder persuasivo, mas enérgico. Uma pessoa que desconheça
o problema dirá que se encontra numa sala de hospício sem
controle ou assiste a um psicodrama de histéricos em desespero.
Psicólogos sistemáticos ririam com desdém. O dirigente dos
trabalhos parece um leigo a brincar com explosivos perigosos.
Fanáticos de seitas dogmáticas julgam assistir a uma cena de
possessão diabólica. Mas a sessão chega ao fim com a
tranqüilização total do ambiente. Um espírito amigo comunica-se
com palavras de agradecimento. Em silêncio, todos ouvem a
prece final de gratidão aos espíritos bondosos que ajudaram a
socorrer as sombras sofredoras. É estranho que todos estejam
bem e satisfeitos com o resultado dos trabalhos. As pessoas
beneficiadas comentam suas melhoras. O ambiente é de paz,
amor e satisfação pelo dever cumprido.
    Numa sessão de desobsessão para casos graves, com poucos
elementos, sem a assistência numerosa do socorro geral, as
comunicações são violentas, os médiuns sofrem, gemem, gritam
e choram. O dirigente e os doutrinadores permanecem tranqüilos,
aparentemente impassíveis, e os doutrinadores usam de palavras
persuasivas, de atitudes benignas. Nada de ameaças e
exprobrações violentas, como nas práticas antiquadas do
exorcismo arcaico, vindo das profundezas do Egito, da
Mesopotâmia, da Palestina. Nada de velas acesas, de símbolos
sacramentais, de expulsão de entidades diabólicas. A técnica é de
persuasão, de esclarecimento racional. Uma menina de quinze
anos chega carregada pelos pais. Há uma semana dormia em
estado cataléptico. Às primeiras tentativas de despertá-la, agita-
se e levanta-se furiosa, aos gritos. Quatro ou cinco homens não
conseguem contê-la, parece dotada de força indomável. Mas
pouco a pouco se acalma, chora baixinho e volta ao seu estado
natural de menina graciosa e frágil. Retira-se da reunião como se
nada demais tivesse acontecido. Despede-se alegre. Corre para a
rua e toma o automóvel que a trouxe como se voltasse de um
passeio. O ato mediúnico foi violento, assustador. Mas o
resultado da prece, dos passes, das doutrinações amorosas foi
surpreendente. Poucos perceberam que, naquele corpinho de
menina as garras da vingança estavam cravadas, tentando rasgar
a cortina piedosa que vela os ódios do passado.
    No ato mediúnico a criatura humana recupera os tempos
esquecidos e se revê na tela das experiências mortas. E mais uma
vez a morte lhe aparece como pura ilusão sensorial, pois tudo
quanto havia desaparecido numa cova renasce de repente nas
águas amargas da provação. A mediunidade funciona como um
radar sensibilíssimo voltado para os caminhos perdidos. Nem
sempre a tela da memória consegue reproduzir as imagens
distantes, mas nas profundezas do inconsciente recalques
antifreudianos esperam a catarse piedosa da comunicação
absurda, em que os diálogos da caridade parecem brotar de
terríveis mal-entendidos. Uma mulher não entendia porque o
espírito comunicante a acusava de atrocidades que jamais
praticara e a chamava de Condessa. Achou que tudo aquilo não
passava de uma farsa ou de um momento de loucura. Mas
quando, aconselhada pelo doutrinador, pediu perdão ao espírito
algoz e chorou sem querer e sem saber por qual motivo o fazia,
sentiu profundo alívio e nos dias seguintes os seus males
desapareceram. As lágrimas de uma criatura que a amnésia
tornou inocente podem comover um coração embrutecido no
desejo de vingança. Mas quem fará o encontro necessário para o
ajuste dos velhos erros e crimes, se o médium não se oferecer na
imolação voluntária de si mesmo para apaziguar com a palavra
do Mestre?
    A responsabilidade espiritual do médium reflete-se no
espelho de cada um dos seus atos de caridade mediúnica. O
mediunato não é uma sagração ritual inventada pelos homens.
Nasce das leis naturais que regem consciências no fluir do
tempo, no suceder das gerações e das reencarnações. Um ato
mediúnico é o cumprimento de um dever assumido perante o
Tribunal de Deus instalado na consciência de cada um. Quando o
médium se esquiva a esse cumprimento engana a si mesmo,
pensando enganar a Deus. Sua própria consciência se incumbirá
de condená-lo quando soar a hora do veredicto irrecorrível. Nada
justifica a fuga a um compromisso forjado à custa do sacrifício
alheio. As leis morais da consciência têm a mesma
inflexibilidade das leis materiais da Natureza. Nossa consciência
de relação capta apenas a realidade imediata em que nos
encontramos. Mas a consciência profunda guarda o registro
indelével de todos os compromissos assumidos no passado e de
todas as dívidas morais que pensamos apagar nas águas do Letes,
o rio do esquecimento das velhas mitologias. O rio Letes secou
nas encostas áridas do Olimpo, o cenáculo vazio dos antigos
deuses. Hoje só temos um Deus, que não precisa vigiar-nos do
alto de um monte nem ditar-nos suas leis para serem inscritas em
tábuas de pedras. Essas leis estão gravadas a fogo em nossa
própria carne. Nossos atos determinam no tempo as situações em
que nos encontraremos em cada existência. E o mediunato é o
passaporte que Deus nos concede para a liberação do passado
através de um só ato, o mais belo e mais honroso de todos, que é
o ato mediúnico.
    A responsabilidade mediúnica não nos foi imposta como
castigo. Nós mesmos a assumimos na esperança da redenção,
que não virá do Céu, mas da Terra, da maneira pela qual
fizermos as nossas travessias existenciais no planeta, num mar de
lágrimas ou por estradas floridas pelas obras de sacrifício e
abnegação que soubermos semear. Temos o futuro em nossas
mãos, o futuro imediato do dia-a-dia e o futuro remoto que nos
espera nas translações da Terra em torno do Sol. Chegamos
assim à conclusão inevitável de que o presente passa depressa,
mas o passado reponta em cada esquina do presente e do futuro.
Capítulo 6
                      O Mediunismo

    As formas primitivas de mediunidade provêm das selvas e
das regiões geladas ou áridas em que a vida humana permaneceu
em condições rudimentares. O homem é um ser mediúnico e
todo o seu desenvolvimento seguiu as linhas da evolução da sua
potencialidade mediúnica. A idéia da Divindade, de um poder
superior que criou o mundo é inata no homem, como o
demonstram as pesquisas antropológicas. Dessa idéia básica em
sintonia com o assombro do mundo, misterioso e cheio de seres
estranhos, nasceu a Magia. O sentimento mágico do mundo
estabeleceu as relações entre os homens e as coisas e os outros
seres. A idéia do poder das coisas e dos seres brotou
naturalmente das experiências na luta para a sobrevivência. A lei
de adoração, estudada em O Livro dos Espíritos, levou a
imaginação primitiva aos ritos do culto solar e lunar, das
montanhas coroadas de nuvens, dos grandes rios misteriosos e
assim por diante. A reverência aos chefes poderosos desenvolveu
os ritos de submissão, que se estenderam aos pagés e xanãs,
sacerdotes mágicos das tribos e das hordas, dotados de poderes
mediúnicos. Os processos mágicos desenvolveram-se através das
manifestações mediúnicas. Abria-se o caminho para o
desenvolvimento das religiões mitológicas e das religiões
reveladas, estas apoiadas na crença dos homens-deuses,
conhecedores dos mistérios da vida e da morte. A evolução
espiritual do homem abria a fase das grandes religiões nas
regiões em que a civilização avançara. Os dons mediúnicos
reafirmavam a crença nos poderes divinos, através dos
fenômenos produzidos por indivíduos que os possuíam.
    A expressão mediunismo, criada por Emmanuel, designa as
formas primitivas de Mediunidade, que fundamentam as crenças
e religiões primitivas. Todas as formas de religiões primitivas,
sem desenvolvimento cultural e intelectual, caracterizam-se por
práticas mágicas ligadas ao mediunismo. As religiões africanas,
transplantadas ao Brasil e outros países americanos pelo tráfico
negreiro, e misturadas às religiões indígenas e primitivas desses
países, desenvolveram largamente no Continente diversas formas
de mediunismo. O processo natural de sincretismo religioso, já
iniciado na própria África com a mistura das religiões tribais
com o Islamismo e o Catolicismo, deram a essas formas um
impulso em direção à institucionalização religiosa.
    A diferença entre Mediunismo e Mediunidade está no
problema de conscientização do problema mediúnico. Nas
religiões primitivas não havia nem podia haver reflexão sobre os
fenômenos e seu sentido e natureza. Tudo se resumia na
aceitação dos fatos e nas tentativas de sua utilização para
finalidades práticas, objetivas. A Mediunidade é o Mediunismo
desenvolvido, racionalizado e submetido à reflexão religiosa e
filosófica e às pesquisas científicas necessárias ao
esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e suas leis.
Enquanto o Mediunismo absorve a herança mágica do passado e
mistura-se com religiões, crenças e superstições de toda a
espécie, a Mediunidade rejeita infiltrações que possam prejudicar
a sua natureza racional e comprometer o seu desenvolvimento
natural. Integrada na estrutura do Espiritismo, que a estuda e
pesquisa através de suas instituições culturais e científicas, ela se
torna cada vez mais numa área específica da Teoria do
Conhecimento, que terá forçosamente de reconhecer os seus
direitos na cultura geral do próximo século.
    É curioso o fato de que todas as religiões e correntes do
pensamento espiritualista tenham rejeitado e condenado a
Mediunidade, que só o Espiritismo reconhece no seu pleno valor
e na sua importância fundamental para a vida humana na Terra e
o seu desenvolvimento futuro no mundo espiritual. Apontada nas
religiões como de natureza diabólica, nas doutrinas
espiritualistas refinadas como um campo inferior e perigoso de
manifestações suspeitas e perigosas, acusada de responsável pela
loucura do mundo, ela foi marginalizada pelos meios culturais e
é constantemente atacada pelos donos da verdade e da sabedoria,
como o foram o Cristo e o Cristianismo. Não obstante, cresce
sem cessar o interesse pela mediunidade no mundo, pois o
próprio desenvolvimento científico acabou desembocando no
delta da fenomenologia paranormal, obrigado a enfrentar e
reconhecer a realidade dos fatores mediúnicos em todos os
campos do saber. Pouco importam os preconceitos, as
idiossincrasias, as incompreensões dos homens, pois a realidade
não pede licença a ninguém para ser o que é.
    Ao lado do resguardo e defesa da Mediunidade, os espíritas
naturalmente se interessam pelo estudo e a pesquisa dos
problemas do Mediunismo, que é, por assim dizer, o chão agreste
e rico de cujas escavações milenares foram extraídos os minérios
preciosos da Mediunidade. Nas várias formas do Sincretismo
Religioso Afro-Brasileiro a mediunidade eclode muitas vezes,
como tufos de vegetais promissores rompendo o chão áspero dos
terreiros. Não encontrando ambiente favorável no meio
sincrético, essas mediunidades surpreendentes vão transplantar-
se para o ambiente espírita e ali florescer e frutificar. Não
podemos condenar o Mediunismo. pois isso seria condenar a
fonte que nos fornece a água. Há ricos filões de fenômenos no
solo fecundo do Mediunismo à espera dos investigadores
espíritas.
    O que condenamos e temos de condenar é o abuso das
práticas mediúnicas nos terreiros, não só por criaturas
desprovidas de nível de instrução e cultura, mas também por
pessoas culturalmente amadurecidas para compreender o erro
que cometem, contribuindo para expansão, em plena civilização
da Era Cósmica, das mais grosseiras superstições do longínquo
passado humano. Esse abuso é tanto mais grave quando
praticado conscientemente por pessoas que estão interessadas na
solução de problemas financeiros, políticos e de ordem moral e
social. Esses objetivos e os meios usados para consegui-los eram
perfeitamente justificáveis na selva, onde a mentalidade
primitiva, apegada apenas ao concreto, sem dimensões
intelectuais, não podia alcançar objetivos superiores. Mas o
homem civilizado que se entrega a essas práticas grosseiras,
ligadas a entidades inferiores, age como um inconsciente ou
imaturo, que não tem noção de sua própria responsabilidade em
relação ao meio em que vive. Cada fração de conhecimento
adquirido aumenta a responsabilidade moral do homem na
sociedade. Essa responsabilidade não é apenas pessoal e familiar,
mas também social. Quem procura práticas selvagens para
conseguir benefícios no meio civilizado, ligando-se a estágios já
superados na evolução humana, trai a si mesmo e ao meio em
que se encontra. Além disso, compromete-se com forças
negativas do plano espiritual inferior, que cobram sempre muito
caro os serviços prestados, mal ou bem, com resultados ou não,
aos incautos clientes.
    O Mediunismo divide-se em vários ramos, correspondentes às
nações africanas de que procedem. E há graus evolutivos em
suas práticas mediúnicas. Nos terreiros de Umbanda as práticas
são mais elevadas, voltadas para o bem. Nos de Quimbanda o
sangue de animais e a queima de pólvora revelam a brutalidade
dos ritos selvagens, que eram práticas de defesa para tribos e no
meio civilizado se tornaram práticas maléficas, dirigidas contra
desafetos e rivais. Mas há os terreiros de linhas cruzadas,
geralmente chamados de Aruanda, onde tanto se pratica o bem
para os amigos como o mal para os inimigos. As danças rituais
do Candomblé africano encontram sua réplica nativa nas danças
indígenas da Poracê. Em muitos terreiros de Umbanda infiltram-
se também as práticas maléficas. Os poderes mediúnicos são
desenvolvidos sob a magia dos rituais selvagens. Costumam
dizer, os freqüentadores do sincretismo, que as práticas de
terreiro são mais fortes e poderosas que as de mesa branca,
designação puramente popular das sessões espíritas, originada da
superstição que exige, particularmente nos meios rurais, o uso de
toalha branca na mesa de sessão, porque a cor branca atrai os
espíritos puros. A superstição da força, do poder proveniente de
práticas violentas, revela a inversão dos valores espirituais,
inversão proveniente da selva, onde a força bruta é a lei. A
Macumba, com seus despachos, é uma prática proveniente da
mais remota antigüidade. Macumba é instrumento de sopro,
geralmente de bambu, que se toca para chamar os espíritos do
mato, e o despacho, ao contrário do que geralmente se pensa, não
é a oferenda de comidas e bebidas que se coloca nas
encruzilhadas e nas esquinas de ruas (adaptação urbana do rito
selvagem), mas o envio de espíritos inferiores para atacar as
pessoas visadas. A oferenda é a paga que assegura a eficácia do
ataque. Os espíritos agressivos, embora não possam comer os
manjares e tomar as bebidas, aspiram as suas emanações, como
os deuses mitológicos faziam e como o próprio Iavé da Bíblia, o
deus judaico, também fazia, como se vê nos relatos bíblicos. Na
descrição do Dilúvio, no Gênese bíblico, vemos que Noé fez um
altar no Monte Ararat para dar graças a Iavé pela salvação da sua
família. No altar foram colocados alimentos de carne fumegante
e Iavé compareceu para aspirar as emanações dos alimentos. É
incrível que as Igrejas Cristãs até hoje aceitem que esse Iavé
glutão era o Deus Supremo e Único que Jesus pregou contra o
politeísmo da época.
    Essas práticas sincréticas, onde predomina a mentalidade
primitiva, são o contrário das práticas espíritas, que se resumem
na prece e na meditação, no passe (imposição das mãos, do
Evangelho) e na doutrinação caridosa dos espíritos sofredores ou
vingativos. Os que chamam isso de Espiritismo o fazem de má-fé
ou por ignorância. Por sinal que encontramos nesse capítulo a
ignorância ilustrada de sociólogos, antropólogos, psicólogos e
médicos, que usam em seus trabalhos e pesquisas a palavra
Espiritismo para designar as manifestações do animismo
primitivo e do mediunismo selvagem. Devemos sempre repelir
esse abastardamento da palavra que Kardec criou como nome
genérico de uma doutrina científica e filosófica oriunda do
ensino dos Espíritos Superiores. O Espiritismo é unicamente a
doutrina que está nas obras de Kardec e dos que continuaram o
trabalho do Mestre, sem trair os seus princípios básicos.
    O ponto mais perigoso dessas práticas bárbaras e desumanas
está no problema da evolução mediúnica do homem. Essas
práticas e crenças supersticiosas correspondiam às necessidades
primárias dos homens primitivos. Eram boas na selva, ajudavam
os selvagens a crer num poder superior e a respeitá-lo. Aplicadas
ao homem civilizado representam um retrocesso evolutivo de sua
mentalidade e personalidade. O ajustamento psíquico do homem
civilizado a esses sistemas rudimentares e grosseiros produz
desajustes psicológicos e mentais que acabam gerando
desequilíbrios graves em criaturas sensíveis, que são afetadas
pelos rituais violentos de sangue e pólvora e pela condição geral
das práticas selvagens. O desnível cultural já é chocante em si
mesmo e a disparidade cala nos freqüentadores de maior
evolução mental e moral. Sente-se o restabelecimento do arcaico
prestígio da Goécia, a famosa Magia Negra da Antigüidade, que
dominou o Ocidente até os fins da Idade Média. As pesquisas de
Albert De Rochas sobre a feitiçaria1, ilustradas com dados dos
processos medievais dos arquivos do Vaticano, mostram a
brutalidade dessas práticas naquele tempo, em que sacerdotes e
figuras da nobreza tiveram de ser condenados pelos tribunais
eclesiásticos. O impacto dessas condenações concorreu
pesadamente para que a sólida estrutura religiosa e teocrática do
Milênio acabasse desmoronando. O poder de fascinação dos
sistemas mágicos envolveu com facilidade elementos de
destaque no Clero e na Política, em virtude dos resíduos brutais
do passado nas camadas psico-afetivas da população, mesmo nas
classes superiores.
    A tendência natural do homem para o mistério e o
maravilhoso excita os ânimos e leva criaturas e grupos humanos
a verdadeiros delírios, em que os valores da civilização
submergem no pântano das paixões. Mas o pior é que, dessas
fases de retorno à barbárie, a dignidade humana sai fatalmente
esmagada, levando séculos para se recobrar. Não é o
mediunismo que responde por isso, mas o apego do homem aos
interesses mundanos e o desejo de vencer com mais facilidade e
segurança, sob a suposta proteção espiritual de criaturas incultas
e grosseiras. O mediunismo é precisamente o instrumento natural
de que o homem dispõe para elevar-se ao plano da mediunidade,
transcendendo a sua condição tribal. Mas se o homem se entrega
ao atavismo da religiosidade mágica e por isso mesmo fanática,
serve-se do mediunismo, nessas formas clássicas de civilizações
mortas, para repetir os suicídios anteriores. O automatismo dos
processos primitivos o leva a repetir os mesmos erros, na mesma
antiga e frustrada esperança dos tempos mortos. É isso o que se
tem de condenar nos cultos retrógrados desses processos
sincréticos e negativos.
Capítulo 7
                      A Mesa e o Pão

    Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas
com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para
sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de
misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não
obstante, há quem considere esse ato puramente místico e
mágico, lembrando a evocação e a prece. Não nos sentamos em
torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também
para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa
espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito,
mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram
feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele
atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido
a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o
pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da
doutrinação.
    Conta-nos o Evangelho de Lucas o episódio comovente dos
discípulos na estrada de Emaús. Após a ressurreição de Jesus,
Cleófas e um companheiro seguiam, ao entardecer, para essa
aldeia, afastando-se do cenário angustiado de Jerusalém. Um
estranho os alcançou e acompanhou, conversando sobre a morte
e a ressurreição de Jesus. Pararam numa estalagem para
alimentar-se. Sentaram-se à mesa com aquele estranho. Mas, no
momento em que ele partiu o pão, os discípulos o conheceram:
era o Mestre ressuscitado. Mas logo a seguir o Senhor
desapareceu e a mesa só tinha os dois ao seu redor. É fácil
imaginar-se o assombro dos discípulos. O vazio da mesa e o
silêncio do anoitecer, que já começava, devem ter-lhes parecido
muito mais cheio de rumores e alegrias que as mesas dos
banquetes festivos do mundo.
    É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos,
de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco
importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do
que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das
intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos.
Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos.
Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece
simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira
deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a
conversação necessária e logo depois eles desaparecem como
apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite.
    Como podem os cristãos de todas as denominações censurar
esse repasto singelo e atribuí-lo a influências diabólicas? Como
podem dizer que isso tudo não passa de ilusão, loucura ou
mistificação? Nunca leram, nem mesmo por acaso, o tópico
sobre os dons espirituais na I Epístola de Paulo aos Coríntios?
Não viram que o apóstolo confirma a simbologia comovente da
Estrada de Emaús, relatando as sessões mediúnicas da era
apostólica? E como podem alguns espíritas quebrar a harmonia
dessas reuniões espirituais com aparatos inúteis e desnecessários,
com a introdução de sistemas pretensiosos nas sessões
mediúnicas? Se quisermos deformar e ridicularizar a prática
espírita, basta exigirmos a toalha branca na mesa, vestir os
médiuns de vestes brancas e rituais, obrigá-los a formar a
corrente de mãos dadas e outras muitas tolices dessa espécie. É o
que fazem os espíritos mistificadores, através de dirigentes
supersticiosos e simplórios.
    Para comer o pão da verdade só necessitamos dos dentes do
bom-senso. Por isso o comensal da estalagem de Emaús
simplesmente desapareceu depois de partir o pão. Todos os
acréscimos de técnicas inventadas por homens vaidosos, de
disciplinas rígidas na hora da sessão, de palavras mágicas e
gestos misteriosos não passam de joio na seara. A prática espírita
deve ser racional e simples, pois toda encenação e aparato só
servem para estimular mistificações.
    Há pessoas que desejam fazer sessões à plena luz, por
entender que a penumbra habitual dá motivo a desconfianças e
representa uma modalidade de formalismo. Mas a penumbra é
necessária à boa concentração dos médiuns e mesmo dos
assistentes. A iluminação normal da sala provoca distrações,
penetra nas pálpebras e quebra o ambiente de recolhimento.
Claro que não se deve fazer o escuro excessivo e muito menos
completo, mas a penumbra do ambiente não é um aparato
formal, é uma exigência natural da concentração serena. Além
dessas razões evidentes, convém lembrar que o excesso de luz
exerce influência inibitória sobre os médiuns e a emanação
fluídica do ectoplasma. Em todas as reuniões mediúnicas o
ectoplasma se libera para ajudar as ligações perispirituais entre
médiuns e espíritos. Temos de saber distinguir entre o necessário
e o supérfluo, entre o conveniente e o inconveniente, sem fazer
concessões à ignorância ou à desconfiança dos que não entendem
do assunto.
    O problema da concentração mental é também um dos menos
compreendidos. A concentração dos pensamentos numa reunião
mediúnica não corresponde ao tipo de concentração individual
de uma pessoa num determinado problema a resolver ou num
estudo a fazer. Trata-se de uma concentração coletiva de
pensamentos voltados para um mesmo alvo. Quando todos
pensam em Deus ou em Jesus, todos os pensamentos se
concentram numa só idéia. A palavra concentração sugere um
esforço mental contínuo para se manter o pensamento fixado
numa imagem. Isso prejudicaria os trabalhos mediúnicos,
criando um ambiente de tensão mental exaustiva. Não é de
tensão, de esforço cansativo que se necessita, mas de
afrouxamento e despreocupação. Todos devem voltar o seu
pensamento para um alvo superior, geralmente para Jesus (pois
pensar em Deus é mais difícil) e todos devem manter a idéia de
Jesus na mente, sem esforço ou preocupação, como quem se
lembra saudoso de um amigo distante. Esse estado mental de
lembrança, não de uma imagem ou figura de Jesus, mas da sua
pessoa, dos seus atos, dos seus ensinos e do que ele representa
para nós, deve ser mantido no decorrer da sessão. Quando se
nota que o pensamento se desvia para outros rumos, o que é
natural, faz-se que ele retorne suavemente à idéia centralizadora.
O ambiente de uma sessão é tanto mais favorável quanto menos
tensões e preocupações existirem na reunião. As evocações
mentais de assistentes e médiuns, solicitando a manifestação de
entes queridos ou de espíritos amigos são prejudiciais, pois
quebram e tumultuam o ambiente mental da sessão. Pensar num
espírito é evocá-lo, como ensina Kardec. Quem comparece a
uma sessão com a esperança de receber uma comunicação deste
ou daquele espírito, já o evocou. Ele atenderá se for possível.
Mas durante a sessão só se deve pensar em Jesus. Criando-se no
ambiente um clima tranqüilo e confiante, pode-se esperar a
possibilidade dos melhores resultados
    Não há regras específicas e formais para a realização das
sessões espíritas. Entre a prece de abertura e a de encerramento
desenvolvem-se as manifestações mediúnicas, sob a orientação e
muitas vezes a interferência de espíritos dirigentes. O sistema
autoritário, em que o presidente determina aos médiuns
receberem as comunicações, uma de cada vez, provém da
recomendação do Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas
reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla
liberdade, permitindo as conversações entre espíritos
comunicantes, às vezes através de vários médiuns. Léon Denis
usava também de liberdade em suas sessões. Cabe aos espíritos
protetores determinar quais os espíritos que devem comunicar-se
e quais os médiuns em condições de recebê-los. O presidente ou
dirigente humano da sessão tem a função de mantê-la
equilibrada, orientar o decorrer dos trabalhos e intervir, quando
necessário, nas doutrinações e no reajustamento da concentração.
Se há muitos médiuns à mesa, há naturalmente a possibilidade de
se atender a número maior de espíritos comunicantes, através de
vários doutrinadores. O que importa na doutrinação não é o
muito falar, mas o falar com propriedade e com amor,
procurando-se atingir a consciência e o sentimento do espírito.
Quando vai se aproximando o fim do horário destinado à sessão,
o presidente faz um aviso, para que os médiuns o ajudem no
controle da reunião. As comunicações de espíritos violentos,
desejosos de tumultuar os trabalhos, exigem atitude enérgica
para que sejam contidos e afastados. Energia serena, sem
agressividade, mas com firmeza. Não se deve esquecer de que se
trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação.
Não é a força que age contra o espírito, nem a elevação da voz,
mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar
e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a
autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que
não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor.
Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para
acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão
humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento
no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e
violência em existências brutais em que o amor não floriu em
seu coração.
    Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia
destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas,
por nós mesmos atraídos e alimentados, mas com o objetivo de
levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos
ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e
companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de
transcendência, de elevação espiritual. Esse é o pensamento
central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia,
traduzi-lo em ação.
    Tratamos aqui da sessão mediúnica comum, não da sessão
específica de desobsessão. A sessão rotineira dos Centros é a que
se realiza todas as semanas, em dias e horas certos, dispondo de
freqüência regular. Há quem discorde desses trabalhos públicos,
alegando as exigências de Kardec na Sociedade Parisiense,
quando não permitia a presença nas sessões de pessoas que não
tivessem algum conhecimento doutrinário. A medida de Kardec
era justa e necessária, numa fase em que o Espiritismo nascia,
sob um alarido universal de protestos e ameaças. Hoje estamos a
mais de um século dessa fase e o Espiritismo só é combatido por
pessoas sistemáticas ou ignorantes. A maioria absoluta das
pessoas que procuram as sessões é necessitada, tratando-se
geralmente de médiuns em franco desenvolvimento de suas
faculdades. Negar-lhes acesso às sessões seria como negar a um
sedento acesso a uma fonte. A mediunidade não se desenvolve
por acaso e muito menos sob o poder mágico da vara de Moisés,
que tirou água da rocha. Em geral, o desenvolvimento mediúnico
começa por diversas perturbações e não raro por processos
obsessivos. Não se pode querer que uma pessoa em estado de
alteração psíquica vá primeiro estudar uma doutrina através de
cursos demorados para depois submeter-se aos métodos de cura.
Por isso, nas instituições bem dirigidas as sessões mediúnicas
normais não se restringem à prática mediúnica. Iniciam-se os
trabalhos com leitura e preleção evangélicas, de O Evangelho
Segundo o Espiritismo. A seguir, há uma exposição doutrinária
que prepara os freqüentadores para os trabalhos práticos. Os
médiuns em desenvolvimento recebem a mensagem evangélica e
os ensinos doutrinários em dosagens apropriadas e, a seguir,
participam do trabalho mediúnico. Isso concorre para uma
compreensão simultânea da doutrina, de sua natureza cristã, de
sua moral evangélica e das relações diretas e necessárias de
teoria e prática em Espiritismo. As críticas a esse método
referem-se à extensão das sessões. Mas é evidente que a
preparação das matérias permite reduzir a parte oral aos limites
necessários. O aproveitamento verificado nos Grupos e Centros
que usam esse método provaram a sua validade. Nos centros que
realizam várias sessões por semana, a divisão da matéria pode
ser feita com mais amplitude, nas várias sessões. Isso não
impede que, além desse processo sinérgico ou gestáltico, em que
o iniciante adquire desde logo uma visão global da doutrina e da
sua prática, o Centro mantenha, quando possível, um curso
especial de doutrina em outro dia e horário.
    Quando possível, é conveniente intercalar os passes entre a
parte evangélica e a doutrinária. Se isso prolongar demais a
sessão, pode-se estabelecer uma sessão especial para os passes,
sempre iniciada com uma exposição sobre o assunto.
    A vantagem de se fazer tudo em seqüência, numa única
sessão, é a de se dar ao iniciante, em doses apropriadas e na
seqüência natural do tempo, na prática, a compreensão da
unidade do problema espírita. Essa compreensão, infelizmente,
falta até mesmo a veteranos do trabalho espírita, em virtude da
dispersão e até mesmo da restrição das práticas tradicionais
apenas a um aspecto da doutrina. Claro que o problema de
desobsessão em casos graves não pode ser tratado em sessões
dessa natureza. Para isso, os Centros bem orientados dispõem de
sessões especiais, privativas, com médiuns e doutrinadores
capacitados, e, sempre que possível, com a participação de
médicos espíritas conhecidos por seu desinteresse profissional
em casos de ordem doutrinária. Colocamos estas questões com
base em experiência própria e de conjunto, observadas
atentamente no correr dos anos de trabalho e estudo incessantes.
Quando o sistema é bem aplicado, contando com elementos
humanos dedicados, os resultados são sempre surpreendentes.
Não se trata de uma inovação, mas apenas de urna conjugação de
práticas tradicionais que, reunidas e articuladas, produzem mais
e melhor.
    No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso
critério kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec:
Instruções Práticas sobre Manifestações Espíritas e O Livro dos
Médiuns. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do
ensino da mediunidade. Livros como No Invisível, de Léon
Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André
Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais
colocados como obras básicas da doutrina. Sem esse critério,
muitos Centros e Grupos, e até mesmo grandes instituições,
caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo
sacerdotal que desfiguram e ridicularizam o Espiritismo.
Precisamos compreender que lidamos com uma doutrina
revolucionária, que deve modificar a rotina espiritual da Terra,
abrindo-lhe as perspectivas de uma nova concepção do Espírito.
Sem isso, nossa mesa só terá pão murcho e envelhecido.
Mediunidade: entendendo a comunicação entre mundos
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Mediunidade: entendendo a comunicação entre mundos

  • 1. www.autoresespiritasclassicos.com J. Herculano Pires Mediunidade Conceituação da Mediunidade e Análise geral dos seus problemas atuais Caspar David Friedrich Manhã
  • 2. Conteúdo resumido Este livro é uma exposição dos problemas mediúnicos, baseada na experiência pessoal de Herculano Pires como trabalhador e dirigente espírita durante longos anos, orientando- se nos seus meandros pela bússola de Kardec, a única realmente válida e aprovada pelo Espírito da Verdade, que simboliza a Sabedoria Espiritual junto à Sabedoria Humana. Nesta obra o autor estuda todos os tipos de mediunidade, inclusive a mediunidade zoológica. Trata também dos problemas da desobsessão e do vampirismo.
  • 4. Introdução.................................................................................6 Questões Iniciais.......................................................................8 Capítulo 1 Conceito de Mediunidade.......................................................12 Capítulo 2 Mediunidade Estática..............................................................18 Capítulo 3 Mediunidade Dinâmica...........................................................24 Capítulo 4 Energia Mediúnica..................................................................30 Capítulo 5 O Ato Mediúnico....................................................................35 Capítulo 6 O Mediunismo........................................................................41 Capítulo 7 A Mesa e o Pão.......................................................................48 Capítulo 8 O Vampirismo.........................................................................55 Capítulo 9 A Moral Mediúnica.................................................................65 Capítulo 10 Relações Mediúnicas..............................................................77 Capítulo 11 Mediunidade Zoológica..........................................................87 Capítulo 12 Medicina Espírita....................................................................97 Capítulo 13 Grau da Mediunidade...........................................................105 Capítulo 14 Mediunidade Prática.............................................................109 Capítulo 15 Mediunidade e Religião........................................................123 Capítulo 16 Problemas da Desobsessão...................................................132
  • 5.
  • 6. Introdução “Mediunidade é a faculdade humana, natural, de relações entre homens e espíritos.” HERCULANO, o metro que melhor mediu Kardec, como diz Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier, explica nesse livro como o fenômeno mediúnico é natural. O trabalho de Herculano é baseado na teoria e na prática. O embasamento teórico é produto de uma vida de estudos dos livros básicos de Kardec e, no caso do “Mediunidade”, do estudo e reflexão d’O Livro dos Médiuns (Kardec). A prática, nessa encarnação, surge de uma vida dedicada ao trabalho de assistência a encarnados e desencarnados necessitados, na “mesa da caridade”, como explica Herculano, nos trabalhos de esclarecimento realizados com a preparação feita através da leitura e explicação dos livros escritos pelo mestre de Lion, Kardec, e com a prática mediúnica. O mestre de Herculano, Kardec, diz que, se o fenômeno mediúnico é constante em nossas vidas, se a comunicação entre encarnados e desencarnados ocorre naturalmente devido à ligação telepática, há que estudá-la e aproveitá-la, evitando os prejuízos da telepatia com os desequilibrados. Mas se não é por acaso que nos ligamos ao desequilíbrio, os seres humanos que formaram grupo no erro devem agora unir os esforços na educação libertadora pela compreensão da Verdade ensinada através dos séculos por irmãos mais velhos e vivenciada por Jesus. Herculano, discípulo fiel de Kardec, explica a mediunidade estática, que é essa interação constante entre encarnados e desencarnados, e a dinâmica, que é o compromisso mediúnico. Navegamos nas águas tranqüilas da mediunidade compreendendo que somos construtores do nosso destino hoje e
  • 7. sempre, ou nos perdemos sem o auxílio da Casa Espírita “como um barco à deriva”, como diz o pai Herculano. Com simplicidade e com a autoridade intelectual e moral conquistada através de um trabalho magnífico na divulgação da Doutrina Espírita, o professor Herculano nos convida a entender que, como dizia Kardec, queiramos ou não, estamos sempre recebendo e enviando pensamentos de encarnado para encarnado e de encarnado para desencarnado. Para viver bem precisamos pensar bem e auxiliar nossos irmãos em sofrimento a conseguirem o atendimento de que necessitam no mundo espiritual graças ao esclarecimento da “mesa da caridade”. Mediunidade é apenas comunicação; aprendamos a sintonizar com as luzes... Heloísa Ferraz Pires
  • 8. Questões Iniciais A situação atual do problema mediúnico, nesta fase de acelerada transição da vida terrena, exige novos estudos e atualizadas reflexões sobre a Mediunidade. As descobertas científicas do nosso tempo, especialmente na Física, na Psicologia e na Biologia, confirmaram decisivamente a teoria espírita da Mediunidade, a ponto de interessarem os próprios cientistas soviéticos pela obra do racionalista francês Allan Kardec, segundo as informações procedentes da URSS. As teorias parapsicológicas, confirmadas pelas mais rigorosas experiências de laboratório, pareciam inicialmente contraditar os conceitos espíritas, firmados em meados do século passado e por isso mesmo suspeitos de insuficiência. Todos os fenômenos mediúnicos reduziam-se ao plano mental, a ponto de substituir- se as palavras alma e espírito pela palavra mente. Instituía-se um mentalismo psicofisiológico que ameaçava todas as concepções espiritualistas do homem. Durou pouco essa ameaça. Após dez anos de pesquisas repetitivas sobre os fenômenos mais simples, como clarividência e telepatia, outros fenômenos, mais complexos e profundos, impuseram-se à atenção dos cautelosos pesquisadores, que começaram a levantar, sem querer, as pontas do Véu de Ísis. Num instante a invasão das áreas universitárias da América e da Europa, com repercussões imediatas nos grandes centros culturais da Ásia, pelos fenômenos de aparições, vidência, manifestações tiptológicas e de levitação de objetos sem contato, bem como os de precognição e retrocognição, levaram o Prof. Joseph Banks Rhine, da Universidade de Duke (EUA) a proclamar, com dados experimentais de inegável significação, que o pensamento não é físico, o mesmo se aplicando à mente. Rhine se expunha ao temporal de críticas e ironias, expondo a Parapsicologia à excomunhão cultural. Vassiliev, da Universidade de Leningrado, propôs-se a provar o contrário,
  • 9. através de uma série de experiências, mas não o conseguiu. Desencadeou-se então, no mundo, o que a Encyclopaedia Britannica chamou de psychic-boom, uma explosão psíquica mundial. Os fenômenos mediúnicos conseguiram, afinal, a cidadania científica que as Academias lhe haviam negado. Parodiando uma expressão de Kardec sobre o hipnotismo, repudiado durante anos pela Academia Francesa, podemos dizer que a Mediunidade, não podendo entrar nas Academias pela porta da frente, entrou pela porta da cozinha, ou seja, dos laboratórios. O reconhecimento científico da realidade dos fenômenos mediúnicos afetou beneficamente o Espiritismo, mas trouxe-lhe também algumas desvantagens. Muitos espíritas se deslumbraram com o fato e julgaram-se capazes, embora sem o necessário preparo, de criticar e reformar Kardec, o vencedor, como se fosse um derrotado. Com isso pulularam as inovações teóricas e práticas no Espiritismo, aturdindo particularmente os iniciantes, que afluíram em massa às instituições doutrinárias. O que daí por diante se publicou, em jornais, revistas, folhetos e livros, a pretexto de ensinar Espiritismo e Mediunidade, foi uma avalanche de pretensões vaidosas e absurdos desmedidos. Por toda parte surgiram os profetas da nova era científico-espírita, além do charlatanismo interesseiro e ganancioso dos professores contrários à doutrina, que se julgavam mais capazes de refutar Rhine do que o veterano Vassiliev. Hoje ainda perduram as confusões a respeito. Afirma-se tudo a respeito da Mediunidade: é uma manifestação dos poderes cerebrais do homem, esse computador natural que pode programar o mundo; é uma eclosão dos resíduos animais de percepção sem controle de órgãos sensoriais específicos; é uma energia ainda desconhecida do córtex cerebral, mas evidentemente física (Vassiliev); é um despertar de novas energias psicobiológicas do homem, no limiar da era cósmica; é o produto do inconsciente excitado; é uma forma ainda não estudada da sugestão hipnótica. Ninguém se lembra da explicação simples e clara de Kardec: é uma faculdade humana.
  • 10. Procuramos demonstrar, neste livro, o que é em essência essa faculdade, como funciona em nosso corpo e em relação com o mundo, os homens e os espíritos. Analisamos o seu papel nos casos de obsessão e desobsessão, sua importância na vida diária e suas implicações psicológicas, sociológicas e antropológicas e assim por diante. A função decisiva da Mediunidade na evolução humana, desde a selva até a civilização, já estudamos no livro O Espírito e o Tempo, mas aqui a revemos na situação de conjunto do texto. Apoiamo-nos nas obras de Kardec, nas conquistas atuais da Parapsicologia, da Física, da Biologia e da Biofísica, sem outro objetivo que o de mostrar as relações dessas conquistas recentes com a estrutura geral da Doutrina Espírita. Apoiamo-nos também em nossas experiências pessoais de quase toda uma vida no trato dos problemas espíritas em geral e da mediunidade em particular, na observação e tratamento de casos de obsessão, no trato direto e vivencial de casos obsessivos na família e em nós mesmos, nas observações de tratamentos em hospitais espíritas e nas instituições doutrinárias. Não teorizamos sobre esses casos, procurando apenas expor o que vimos e sentimos, de maneira a dar o quadro funcional dos processos, segundo a nossa percepção íntima, nos termos da observação psicológica subjetiva e das experiências objetivas. Não fazemos doutrina, procuramos apenas esclarecer, na medida do possível, as questões mais difíceis da teoria e da prática espíritas, hoje conturbadas por verdadeiras aberrações de pessoas inconscientes, que, demasiado confiantes em si mesmas, tripudiam sobre os princípios fundamentais do Espiritismo. É verdade que todos têm o direito de ter suas idéias, suas opiniões, e até mesmo de expor seus possíveis sistemas. Mas ninguém tem o direito de fazer dessas coisas, dessas interpretações ou visões pessoais, elementos capazes de integrar-se numa doutrina rigorosamente científica. Agem com leviandade e imprudência os que desejam transformar as suas opiniões em novas leis da Ciência Espírita. A evolução desta, o seu desenvolvimento real – só podem ser realizados em termos de pesquisa científica e análise filosófica, por criaturas lúcidas, equilibradas, conscientes de suas possibilidades e seus limites, conhecedoras das exigências do processo científico. Fora dessas condições só
  • 11. poderemos desfigurar a doutrina e ridicularizá-la aos olhos das pessoas de bom-senso e culturalmente capacitadas. Este livro não é nem pretende ser considerado como um tratado de mediunidade. Longe disso, é uma exposição dos problemas mediúnicos por alguém que os viveu e vive, orientando-se nos seus meandros pela bússola de Kardec, a única realmente válida e aprovada pelo Espírito da Verdade, que simboliza a Sabedoria Espiritual junto à Sabedoria Humana. Os que não compreendem a necessidade dessa conjugação para o trato eficaz dos problemas espirituais não estão aptos a tratar de Espiritismo. Enganam-se a si mesmos ao se considerarem mestres do que não conhecem. O Espiritismo é uma doutrina que abrange todo o Conhecimento Humano, acrescentando-lhe as dimensões espirituais que lhe faltam para a visualização da realidade total. O Mundo é o seu objeto, a Razão é o seu método e a Mediunidade é o seu laboratório.
  • 12. Capítulo 1 Conceito de Mediunidade Médium quer dizer medianeiro, intermediário. Mediunidade é a faculdade humana, natural, pela qual se estabelecem as relações entre homens e espíritos. Não é um poder oculto que se possa desenvolver através de práticas rituais ou pelo poder misterioso de um iniciado ou de um guru. A Mediunidade pertence ao campo da comunicação. Desenvolve-se naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca e nos afeta com as suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma que a inteligência e as demais faculdades humanas, a Mediunidade se desenvolve no processo de relação. Geralmente o seu desenvolvimento é cíclico, ou seja, processa-se por etapas sucessivas, em forma de espiral. As crianças a possuem, por assim dizer, à flor da pele, mas resguardada pela influência benéfica e controladora dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjos da guarda. Nessa fase infantil as manifestações mediúnicas são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebem as intuições orientadoras dos seus protetores, às vezes vêem e denunciam a presença de espíritos e não raro transmitem avisos e recados dos espíritos aos familiares, de maneira positiva e direta ou de maneira simbólica e indireta. Quando passam dos sete ou oito anos integram-se melhor no condiciona-mento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações espirituais e dando mais importância às relações humanas. O espírito se ajusta no seu escafandro para enfrentar os problemas do mundo. Fecha-se o primeiro ciclo mediúnico para, a seguir, abrir-se o segundo. Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantis. É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos, que se inicia o segundo ciclo. No primeiro ciclo só se deve
  • 13. intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais intensas e positivas. É tempo de encaminhá-la com informações mais precisas sobre o problema mediúnico. Não se deve tentar o seu desenvolvimento em sessões, a não ser que se trate de um caso obsessivo. Mas mesmo nesse caso é necessário cuidado para orientar o adolescente sem excitar a sua imaginação, acostumando-o ao processo natural regido pelas leis do crescimento. O passe, a prece, as reuniões para estudo doutrinário são os meios de auxiliar o processo sem forçá-lo, dando-lhe a orientação necessária. Certos adolescentes integram- se rápida e naturalmente na nova situação e se preparam a sério para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a mediunidade e procuram voltar-se apenas para os sonhos juvenis. É a hora das atividades lúdicas, dos jogos e esportes, do estudo e aquisição de conhecimentos gerais, da integração mais completa na realidade terrena. Não se deve forçá-los, mas apenas estimulá-los no tocante aos ensinos espíritas. Sua mente se abre para o contato mais profundo e constante com a vida do mundo. Mas ele já traz na consciência as diretrizes próprias da sua vida, que se manifestarão mais ou menos nítidas em suas tendências e em seus anseios. Forçá-lo a seguir um rumo que repele é cometer uma violência de graves conseqüências futuras. Os exemplos dos familiares influem mais em suas opções do que os ensinos e as exortações orais. Ele toma conta de si mesmo e firma a sua personalidade. É preciso respeitá-lo e ajudá-lo com amor e compreensão. No caso de manifestações espontâneas da mediunidade é conveniente reduzi-las ao círculo privado da família ou de um grupo de amigos nas instituições juvenis, até que sua mediunidade se defina, impondo-se por si mesma. O terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da adolescência para a juventude, entre os dezoito e vinte e cinco anos. É o tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e da Mediunidade, bem como da prática mediúnica livre, nos
  • 14. centros e grupos espíritas. Se a mediunidade não se definiu devidamente, não se deve ter preocupações. Há processos que demoram até a proximidade dos 30 anos, da maturidade corporal, para a verdadeira eclosão da mediunidade. Basta mantê-lo em ligação com as atividades espíritas, sem forçá-lo. Se ele não revela nenhuma tendência mediúnica, o melhor é dar-lhe apenas acesso a atividades sociais ou assistenciais. As sessões de educação mediúnica (impropriamente chamadas de desenvolvimento) destinam-se apenas a médiuns já caracterizados por manifestações espontâneas, portanto já desenvolvidos. Há ainda um quarto ciclo, correspondente a mediunidades que só aparecem após a maturidade, na velhice ou na sua aproximação. Trata-se de manifestações que se tornam possíveis devido às condições da idade: enfraquecimento físico, permitindo mais fácil expansão das energias perispiríticas; maior introversão da mente, com a diminuição de atividades da vida prática, estado de apatia neuropsíquica, provocado pelas mudanças orgânicas do envelhecimento. Esses fatores permitem maior desprendimento do espírito e seu relacionamento com entidades desencarnadas. Esse tipo de mediunidade tardia tem pouca duração, constituindo uma espécie de preparação mediúnica para a morte. Restringe-se a fenômenos de vidência, comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e psicografia. Embora seja uma preparação, a morte pode demorar vários anos, durante os quais o espírito se adapta aos problemas espirituais com que não se preocupou no correr da vida. Esses fatos comprovam o conceito de mediunidade como simples modalidade do relacionamento homem-espírito. Kardec lembra que o fato de o espírito estar encarnado não o priva de relacionar-se com os espíritos libertos, da mesma maneira que um cidadão encarcerado pode conversar com um cidadão livre através das grades. Não se trata das conhecidas visões de moribundos no leito mortuário, mas de típico desenvolvimento tardio de mediunidade que, pela completa integração do indivíduo na vida carnal, imantado aos problemas do dia-a-dia, não conseguiu aflorar. A sua manifestação tardia lembra o
  • 15. adágio de que os extremos se tocam. A velhice nos devolve à proximidade do mundo espiritual, em posição semelhante à das crianças. Na verdade, a potencialidade mediúnica nunca permanece letárgica. Pelo contrário, ela se atualiza com mais freqüência do que supomos, passa de potência a ato em diversos momentos da vida, através de pressentimentos, previsões de acontecimentos simples, como o encontro de um amigo há muito ausente, percepções extra-sensoriais que atribuímos à imaginação ou à lembrança e assim por diante. Vivemos mediunicamente, entre dois mundos e em relação permanente com entidades espirituais. Durante o sono, como Kardec provou através de pesquisas ao longo de mais de dez anos, desprendemo-nos do corpo que repousa e passamos ao plano espiritual. Nos momentos de ausência psíquica de distração, de cochilo, distanciamo-nos do corpo rapidamente e a ele retornamos como o pássaro que voa e volta ao ninho. A Psicologia procura explicar esses lapsos fisiologicamente, mas as reações orgânicas a que atribui o fato não são causa e sim efeito de um ato mediúnico de afastamento do espírito. Os estudos de Hipnotismo comprovam isso, mostrando que a hipnose interfere constantemente em nossa vigília, fazendo-nos dormir em pé e sonhar acordados, como geralmente se diz. A busca científica de uma essência orgânica da mediunidade nunca deu nem dará resultados, porque a mediunidade tem sua essência na liberdade do espírito. Chegando a este ponto podemos colocar o problema em termos mais precisos: a mediunidade é a manifestação do espírito através do corpo. No ato mediúnico tanto se manifesta o espírito do médium como um espírito ao qual ele atende e serve. Os problemas mediúnicos consistem, portanto, simplesmente na disciplinação das relações espírito-corpo. É o que chamamos de educação mediúnica. Na proporção em que o médium aprende, como espírito, a controlar a sua liberdade e a selecionar as suas relações espirituais, sua mediunidade se aprimora e se torna segura. Assim, o bom médium é aquele que mantém o seu equilíbrio psicofísico e procede na vida de maneira a criar para si mesmo um ambiente espiritual de moralidade, amor e respeito
  • 16. pelo próximo. A dificuldade maior está em se fazer o médium compreender que, para tanto, não precisa tornar-se santo, mas apenas um homem de bem. Os objetivos de santidade perseguidos pelas religiões, através dos milênios, gerou no mundo uma expectativa incômoda para todos os que se dedicam aos problemas espirituais. Ninguém se torna santo através de sufocação dos poderes vitais do homem e adoção de um comportamento social de aparência piedosa. O resultado disso é o fingimento, a hipocrisia que Jesus condenou incessantemente nos fariseus, uma atitude permanente de condescendência e bondade que não corresponde às condições íntimas da criatura. O médium deve ser espontâneo, natural, uma criatura humana normal, que não tem motivos para se julgar superior aos outros. Todo fingimento e todo artifício nas relações sociais leva os indivíduos à falsidade e à trapaça. A chamada reforma íntima esquematizada e forçada não modifica ninguém, apenas artificializa enganosamente os que a seguem. As mudanças interiores da criatura decorrem de suas experiências na existência, experiências vitais e consciências que produzem mudanças profundas na visão íntima do mundo e da vida. Essa colocação dos problemas mediúnicos sugere um conceito da mediunidade que nos leva às próprias raízes do Espiritismo. A Mediunidade nos aparece como o fundamento de toda a realidade. O momento do fiat, da Criação do Cosmos, é um ato mediúnico. Quando o espírito estrutura a matéria para se manifestar na Criação, constrói o elemento intermediário entre ele e a realidade sensível ou material. A matéria se torna o médium do espírito. Assim, a vida é uma permanente manifestação mediúnica do espírito que, por ela, se projeta e se manifesta no plano sensível ou material. O Inteligível, que é o espírito, o princípio inteligente do Universo, dá a sua mensagem inteligente através das infinitas formas da Natureza, desde os reinos mineral, vegetal e animal, até o reino hominal, onde a mediunidade se define em sua plenitude. A responsabilidade do Homem, da Criatura Humana, expressão mais elevada do Médium, adquire dimensões cósmicas. Ele é o produto multimilenar da evolução universal e carrega em sua
  • 17. mediunidade individual o pesado dever de contribuir para que a Humanidade realize o seu destino cósmico. A compreensão deste problema é indispensável para que os médiuns aprendam a zelar pelas suas faculdades.
  • 18. Capítulo 2 Mediunidade Estática A Mediunidade é uma só, é um todo, mas pode ser encarada em seus vários aspectos funcionais, que são caracterizados como formas variadas de sua manifestação. Kardec a dividiu, para efeito metodológico, em duas grandes áreas bem diferenciadas: a mediunidade de efeitos inteligentes e a mediunidade de efeitos físicos. Essa divisão prevaleceu nas ciências derivadas do Espiritismo. Charles Richet, fundador da Metapsíquica, estabeleceu nessa ciência a divisão das duas áreas com os nomes de metapsíquica subjetiva e metapsíquica objetiva, correspondendo exatamente à divisão espírita. Na Parapsicologia atual, fundada por Rhine e McDougal, as duas áreas figuram com as denominações de: Psigama (de fenômenos subjetivos ou mentais) e Psicapa (de fenômenos objetivos ou de efeitos físicos). A chamada Ciência Psíquica Inglesa, como a antiga Parapsicologia Alemã, a Psicobiofísica de Schrenk-Notzing e outras várias escolas científicas mantiveram essa divisão, o que prova o acerto metodológico de Kardec. A expressão médium também prevaleceu, chegando até mesmo à Parapsicologia Soviética, materialista, que a conserva em suas publicações oficiais. Só alguns ramos científicos sofisticados, como a Metergia e a Psicorragia inventaram substitutivos para a cômoda e clara palavra médium, mas que não vulgarizaram. Na Metergia o médium se chama metérgico e na Psicorragia se chama psicorrágico. Palavrões científicos só usados por alguns médiuns pedantes que não querem dizer-se médiuns. As denominações dadas pela Parapsicologia atual não são pedantescas. São simples nomes de letras do alfabeto grego, tradicionalmente empregados nas Ciências para designação de fenômenos. Também não é verdade que a Parapsicologia atual tenha dado outros nomes aos fenômenos para se diferenciar do Espiritismo. O problema é outro: na pesquisa científica não se podem usar designações que
  • 19. impliquem interpretação antecipada do fenômeno. Escolhendo letras gregas para designar os fenômenos a ser investigados, os parapsicólogos usavam palavras neutras, como exige a metodologia científica. Uma questão de método. Apesar desse critério, a palavra sensitivo, por exemplo, escolhida para substituir médium, já foi abandonada por vários parapsicólogos, que voltaram à expressão médium, como vimos no caso soviético. A terminologia espírita adotada por Kardec é simples e precisa. Mas no tocante às duas áreas fundamentais dos fenômenos de efeitos inteligentes e efeitos físicos, era necessário um acréscimo. Além dessa divisão fenomênica, havia o problema da divisão funcional. Kardec notou a generalização da mediunidade e os espíritos o socorreram, como se vê em O Livro dos Médiuns, com uma especificação curiosa. Temos assim duas áreas de função mediúnica, designadas como mediunidade generalizada e mediunato. A primeira corresponde à mediunidade natural, que todos os seres humanos possuem, e a segunda corresponde à mediunidade de compromisso, ou seja, de médiuns investidos espiritualmente de poderes mediúnicos para finalidades específicas na encarnação. Como Kardec mencionou a existência de médiuns elétricos e várias vezes comparou a mediunidade com a eletricidade, surgiu mais tarde entre alguns estudiosos, entre os quais Crawford, a idéia de uma divisão mais explícita, com a designação de mediunidade estática e mediunidade dinâmica. A primeira corresponde à mediunidade natural que todos possuem e permanece geralmente em estase, com manifestações moderadas e quase imperceptíveis. A segunda corresponde à mediunidade ativa, que exige desenvolvimento e aplicação durante toda a vida do médium. A falta de conhecimento dessa divisão acarreta dificuldades e inconvenientes na prática mediúnica, particularmente nos trabalhos de Centros e Grupos. A mediunidade estática não é propriamente uma forma de energia que permanece no organismo corporal em estado letárgico. É simplesmente a disposição natural do espírito para expandir-se, projetar-se e entrar em relação com outros espíritos. A Parapsicologia atual
  • 20. confirmou a tese espírita das relações telepáticas permanentes na vida social. Nossa mente funciona, segundo acentua John Ehrenwald em seu estudo sobre relações interpessoais, como ativo centro emissor e receptor de pensamentos. Estamos sempre conversando sem o perceber. Muitos dos nossos monólogos são diálogos com outras pessoas ou com espíritos. Mensagens de Emmanuel e André Luiz, através de Chico Xavier, referem-se a inquirições mentais que certos espíritos nos fazem, seja para avaliar o nosso estado mental e ajudar-nos a corrigi-lo, seja para fins obsessivos. Um obsessor se aproxima de nós e sugere mentalmente o nome ou a figura de uma pessoa. Começamos a pensar nessa pessoa e a desfilar na mente os dados que possuímos sobre ela. O obsessor insiste e nós, sem percebermos, vamos lhe dando a ficha da pessoa ou as nossas opiniões sobre ela. Ajudamos o obsessor sem saber. De outras vezes ele pretende saber qual é a nossa posição em determinado caso de desentendimento a respeito de um seu amigo. Nós a revelamos e ele passa a envolver-nos num processo obsessivo. Por isso Jesus aconselhou: "Vigiai e orai". Devemos vigiar os nossos pensamentos e orar por aqueles que consideramos em erro. Se fizermos assim certamente nos livraremos de muitas perturbações e muitos aborrecimentos desnecessários. Os solilóquios do homem são sempre observados pelas testemunhas invisíveis, boas e más, que nos cercam. A mediunidade estática funciona como imanente em nosso psiquismo. Faz parte da nossa natureza, não é uma graça nem uma prova, é um elemento essencial da nossa constituição humana. Recorrem às casas espíritas muitas pessoas perturbadas e até mesmo obsedadas, que em geral são consideradas como médiuns em fase de desenvolvimento. Muitas delas são apenas vítimas de perseguição de espíritos inferiores, resultantes de inquirições mentais. Por esse ou outros motivos, essas criaturas estão realmente envolvidas num processo de obsessão, mas não são médiuns em desenvolvimento. Precisam de passes, de participação nas sessões, mas não de sentar-se à mesa mediúnica para desenvolver mediunidade. Essas pessoas, tratadas devidamente, livram-se da obsessão, mas não revelam mais os
  • 21. sintomas mediúnicos decorrentes da obsessão. Essas pessoas não estão investidas de mediunato, não precisam e nem podem desenvolver a sua mediunidade estática. Esta lhe serve para guiar-se na vida através de intuições e percepções extra- sensoriais. A obsessão ocasional, por sua vez, serviu para aproximá-la do Espiritismo, despertar-lhe ou reanimar-lhe o sentimento religioso, encaminhá-la num sentido mais elevado em sua maneira de viver, na busca de sintonias mentais benéficas e não prejudiciais. As pessoas não dotadas de mediunato não estão desprovidas dos recursos mediúnicos. Pelo contrário, podem ser muito sensíveis e intuitivas, dispondo de percepções eficazes em todas as circunstâncias. Os dirigentes de sessões não podem esquecer esse problema, que lhes evitará muitos enganos no trato das manifestações mediúnicas. As obsessões não são produzidas apenas por espíritos. Há muitos casos de obsessões telepáticas, provocadas por pessoas vivas. Kardec tratou desses casos referindo-se à telepatia como telegrafia humana. Sentimentos de aversão, de ódio, de vingança, acompanhados de pensamentos agressivos, podem dar a impressão de verdadeiros processos de obsessão por espíritos inferiores. Estes geralmente se envolvem em tais casos e manifestam-se nas sessões com suas costumeiras bravatas, passando como os responsáveis por perturbações em que apenas se intrometeram. Eliminando o processo telepático, esses espíritos se afastam, sentem-se impotentes para prosseguir na temerária empreitada. O Dr. Ehrenwald relata um caso da sua clínica psicanalítica, em que um rapaz era rejeitado pelos companheiros de pensão. A rejeição era oculta, pois todos fingiam apreciá-lo. Só a pesquisa do médico provou o que se passava. Afastando o paciente para outro meio, os sintomas obsessivos desapareceram gradualmente, na proporção em que os algozes o esqueciam. Esse famoso médico psicanalista, diante de casos dessa ordem, propôs a ampliação dos métodos de pesquisa parapsicológica com acréscimo dos métodos significativos da Psicologia dos métodos qualitativos da pesquisa espírita. Havia realmente chegado a hora em que a Parapsicologia atual devia superar o primarismo dos métodos de
  • 22. investigação puramente quantitativos, sob controle estatístico, para enfrentar o problema das conseqüências da ação telepática no meio social. Posteriormente a Profª Louise Rhine, esposa e colaboradora do Prof. Rhine, publicava seu livro Os Canais Ocultos da Mente, relatando pesquisas de campo sobre os fenômenos paranormais. Alegava que as pesquisas de laboratório eram demasiadamente frias e despojavam os fenômenos de sua riqueza emocional e seu significado. O livro da Senhora Rhine apresenta uma seqüência impressionante de casos essencialmente espíritas. Todos os rios levam suas águas para o mar. Todas as ciências psíquicas desembocam fatalmente no delta do Espiritismo. Não podemos desprezar as suas pesquisas e as suas conclusões. Os parapsicólogos verdadeiros, que são cientistas universitários, não devem ser confundidos com sacerdotes inconscientes que apresentam ao público uma deformação sectária e intencional da Parapsicologia. Esses padres, frades e pastores que tripudiam sobre a ignorância e a ingenuidade do povo, são acionados por interesses materiais evidentes e por entidades espirituais inferiores, que servem da mediunidade estática deles mesmos para levá-los a campanhas inglórias e a explorações deploráveis da boa-fé dos fiéis. Mas a verdade é que estão nas malhas da mediunidade que negam e combatem. A mediunidade estática dorme nas suas próprias entranhas, à espera de que se tornem capazes de percebê-la e compreendê-la. Na linha natural dos processos de percepção, a mediunidade estática aflora, às vezes, dadas as circunstâncias favoráveis, numa eclosão semelhante ao desenvolvimento mediúnico. Há casos de premonição que surgem de perigo eventual, casos de vidência passageira, que parecem sintomas de mediunato em eclosão. É difícil saber-se de imediato, o que se passa, principalmente em virtude do estado emocional dos pacientes. Mas basta uma observação paciente, com a freqüência a sessões mediúnicas, para logo se verificar que se trata apenas de ocorrências isoladas e ocasionais. A mediunidade estática tende sempre a voltar à sua acomodação no psiquismo normal. O que às vezes complica essas ocorrências passageiras é a insistência
  • 23. no desenvolvimento mediúnico ou as aplicações terapêuticas de choques e dosagens excessivas de drogas nos receituários médicos.
  • 24. Capítulo 3 Mediunidade Dinâmica A mediunidade dinâmica não permanece em êxtase no organismo do médium. Não age de maneira discreta e sutil, como a mediunidade estática. Pelo contrário, extravasa agitada em fenômenos de captação e projeção, não raro explodindo em casos obsessivos. É a chamada mediunidade de serviço, destinada ao auxílio e ao socorro do próximo. Decorre de compromissos assumidos no plano espiritual, seja para auxiliar indiscriminadamente os que necessitam de ajuda e orientação, seja para o resgate de dívidas morais do passado com entidades necessitadas, cujo estado inferior se deve, em parte ou totalmente, a ações do médium em vidas anteriores. O médium não desfruta apenas as vantagens da mediunidade generalizada, pois vê-se investido de uma missão mediúnica a que os Espíritos deram o nome de mediunato. A situação do médium é bem diferente da comum. Ele é continuamente solicitado para atender a entidades desencarnadas carentes de auxílio e elucidação. Se rejeita o seu compromisso ou tenta protelá-lo fica sujeito a perturbações e finalmente à obsessão. O mediunato lhe foi concedido para reparar os erros do passado e recuperar os espíritos que pôs a perder, levou à descrença e até mesmo à revolta em vidas passadas. Não obstante o determinismo implícito no mediunato, o seu livre-arbítrio continua intacto. Assim como escolheu e pediu essa situação ao voltar à encarnação, por sua livre vontade, assim também poderá agora optar pelo cumprimento da missão ou pela sua rejeição, arcando naturalmente com as conseqüências da fuga ao dever. O mediunato é também concedido em casos de pura assistência ao próximo e ajuda à Humanidade, como nos mostra o exemplo histórico das meninas Boudin, Julia e Carolina, em Paris, cuja mediunidade admirável garantiu o êxito da missão de Kardec. Mas o próprio Kardec não era médium, porque a sua
  • 25. missão era científica e não mediúnica. Cabia-lhe estudar e pesquisar a mediunidade para desdobrar a incipiente cultura terrena, revelando aos cientistas a face oculta da Natureza, a realidade desconhecida do outro mundo que eles não percebiam e quando percebiam não aceitavam. As meninas Boudin, que estavam com apenas 14 e 16 anos, foram os instrumentos mediúnicos de que ele se serviu para a elaboração da Doutrina. Interrogava os espíritos através delas, aceitava ou rejeitava o que diziam, discutia livremente com eles e observava outros médiuns, como a Srta. Jafet, Didier Filho, Camille Flammarion, Victorien Sardou e muitos outros. Não era um profeta, nem um vidente ou Messias: era um pesquisador incansável e exigente. A volumosa, minuciosa e inabalável obra que deixou, formando um maciço de mais de vinte volumes de quatrocentas páginas em média, mostra porque ele não podia dispor de um mediunato. Tinha de dedicar-se inteiramente, como se dedicou até à exaustão, ao trabalho intelectual. E grandiosa a epopéia humilde desse homem, pesquisador solitário de uma ciência que todos combatiam e ridicularizavam. Se não estava investido de mediunato, dispunha da intuição em alto grau, de um bom-senso que lhe permitiu solidificar e estruturar a doutrina em bases seguras e vencer facilmente as mais sofisticadas investidas dos intelectuais, dos sábios, dos ateus e materialistas, das academias e instituições culturais, das igrejas e dos teólogos, mostrando- lhes com serenidade e clareza meridiana os erros temerários em que incidiam. A mediunidade estática lhe permitia, nos últimos anos de trabalho, ser advertido diretamente pelos espíritos de lapsos ocorridos em seus escritos, como se pode ver em suas anotações publicadas em Obras Póstumas. Se os homens não fossem tão estúpidos, como demonstrou Richet em L'Homme Stupide, teriam poupado Kardec dos muitos dissabores e das muitas lutas que teve de sustentar. Para se compreender melhor a razão pela qual Kardec não teve um mediunato, basta lembrar o caso de Swedenborg na Suécia e de Andrew Jakson Davis nos Estados Unidos. O primeiro era um dos maiores sábios do século XVIII, amigo de Kant e foi um precursor do Espiritismo. Mas, dotado de
  • 26. extraordinária vidência, perdeu-se nas suas próprias visões, fascinado pela realidade invisível, e acabou criando uma seita eivada de absurdos. O segundo era também vidente e lançou uma série de livros em que o fantástico supera as possibilidades do real. Kardec pôde realizar seu trabalho com firmeza porque não quis ser mais do que homem, como dizia Descartes, permanecendo com os pés no chão e examinando todas as manifestações espirituais com o mais rigoroso critério científico. Os fenômenos mediúnicos são os mais difíceis de se examinar com frieza. O médium não escapa aos impactos emocionais dessas manifestações, como Kardec viu no próprio exemplo de Flammarion. Por outro lado, a condição de médium o tornaria suspeito aos olhos desconfiados dos homens de ciência. Sua posição firme no campo cultural e nas áreas de pesquisa, que lhe valeram o louvor de Richet e o respeito de Crookes, Zöllner e outros cientistas conscienciosos, e principalmente sua lógica poderosa o livraram dos perigos que ele mesmo apontava no tocante à complexa e fascinante problemática do Espiritismo. Tinha de falar aos homens como homem, e assim o fez, com a linguagem humana dos que buscam a verdade. Mesmo no meio espírita o critério de Kardec ainda não foi suficientemente compreendido. Muitos censuram o seu comedimento em tratar de assuntos melindrosos da época. Não entendem o valor de O Livro dos Médiuns e vivem à procura de novidades apresentadas em obras mediúnicas suspeitas. Não percebem que o problema mediúnico só agora pode ser tratado cientificamente com mais desembaraço, graças ao avanço das ciências nos últimos anos. Poucos entendem o critério modelar de uma obra difícil como A Gênese e de um livro como O Evangelho Segundo o Espiritismo, em que as questões explosivas da fé irracional e das influências mitológicas teriam de ser contornadas. Nas mãos de um vidente esses livros não poderiam ser escritos com a clareza racional em que o foram, porque as visões místicas influiriam na sua elaboração. A vidência, como todas as formas de mediunidade, pode ocorrer ocasionalmente a qualquer pessoa, mas a sua ação permanente, nos casos de mediunato, pode bloquear a razão e
  • 27. excitar o misticismo. Nesses casos o místico está sujeito a enganos fatais. O espírito encarnado está condicionado à vida do plano material, não dispondo de segurança para lidar com os problemas do plano espiritual. Mas a vaidade humana leva os videntes a confiarem nas suas percepções, pois isso os coloca acima dos outros. No desdobramento, com fins de pesquisa no outro plano, esse problema se agrava, pois o deslocamento do espírito para um campo de ação que não é o seu, durante a encarnação, o coloca no plano espiritual como um estrangeiro que precisaria de tempo para ajustar-se a ele. Por isso Kardec preferiu o estudo e a investigação através das manifestações mediúnicas, onde é possível controlar-se a legitimidade das informações dadas pelos próprios habitantes do plano espiritual. Richet levantou o problema do condicionamento da vidência à crença do vidente. Frederic Myers demonstrou que a nossa mente está condicionada para a interpretação das percepções sensoriais. A consciência supraliminar, onde funciona a nossa mente de relação, está voltada para as condições do mundo em que vivemos. A consciência subliminar, que equivale ao inconsciente, destina-se a funcionar normalmente na vida futura, ou seja, no plano espiritual. Kardec observou tudo isso com rigor, através de pesquisas incessantes, nas comunicações mediúnicas de espíritos encarnados, como se pode ver nos relatos de suas pesquisas publicados na Revista Espírita. Os próprios espíritos recém-desencarnados referem-se sempre às dificuldades que enfrentam para adaptar-se às condições do mundo espiritual. É pois, uma temeridade confiar-se na vidência para estabelecer novos princípios ou sistemas de prática espírita. A vidência auxilia nas pesquisas, mas não pode ser o seu instrumento único. Os videntes que se colocam na posição de conhecedores absolutos do outro mundo, esquecendo-se de que o seu equipamento sensorial e mental pertence a este mundo, e se apresentam na condição de mestres e reformadores da doutrina enganam-se a si mesmos e enganam aos outros. Pode-se alegar a existência do mediunato da vidência. Mas esse mediunato jamais é concedido para as aventuras de espíritos de vivos no plano espiritual, porque isso seria condenar o
  • 28. médium a uma situação de dualidade perigosa na vida terrena. O mediunato da vidência existe, mas para fins de auxílio às pesquisas ou para demonstrações da verdade espírita, mas nunca para a criação de condições anômalas no campo mediúnico. As próprias obras mediúnicas, psicografadas, que descrevem com excesso de minúcias a vida no plano espiritual, devem ser encaradas com reserva pelos espíritas estudiosos. Emmanuel explica, prefaciando um livro de André Luiz, que o autor espiritual se serve de figuras analógicas para explicar fatos e coisas que não poderiam ser explicados de maneira fidedigna em nossa linguagem humana. São perigosas as duas posições extremadas: a dos que não aceitam essas obras como válidas e a dos que pretendem substituir por elas as obras de Kardec. Os princípios da Codificação não podem ser alterados pela obra de um espírito isolado. A Codificação não é obra de vidência, mas de pesquisa científica realizada por Kardec sob orientação e vigilância dos Espíritos Superiores. Estamos numa fase de rápidas transformações de conceitos e valores, mas não devemos esquecer que os conceitos e os valores do Espiritismo não se restringem ao momento atual. São conceitos e valores destinados à nossa preparação para o futuro, de maneira que não estão peremptos. De tudo isso resulta um acréscimo da responsabilidade espírita para todos os que se deixam levar pela fascinação das novidades. O Espiritismo é um campo de estudos difícil e melindroso, em que não podemos descuidar um só instante da bússola da razão. Ao tratar de assuntos espíritas estamos agindo num campo magnético em que se digladiam as forças do bem e do mal. Nem sempre sabemos distingui-las com segurança e podemos deixar-nos levar por correntes de pensamento desnorteantes. A vaidade, a pretensão, o orgulho humano sempre vazio e fácil de ser levado pelos ventos da mistificação, o desejo leviano de nos diferenciarmos da maioria, a ambição doentia e tola de nos fantasiarmos de mestres podem levar-nos à traição à verdade. A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os
  • 29. garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito da Verdade. Se não confiamos nela é melhor abandonarmos o Espiritismo. Não há mestres espirituais na Terra nesta hora de provas, que é semelhante à hora de exames numa escola do mundo. Jesus poderia nos responder, diante da nossa busca comodista de novos mestres, como Abraão respondeu ao rico da parábola: "Porque eu deveria mandar-vos novos mestres, se tendes convosco a Codificação e os Evangelhos?". A mediunidade dinâmica do mediunato exige o nosso esforço contínuo na luta para sustentação da verdade espírita no mundo. Mas ninguém se esquiva sem graves conseqüências ao dever da vigilância. Os espíritos mistificadores contam apenas com dois pontos de apoio para nos envolverem: a vaidade e a invigilância. É mais fácil a eles se aproximarem de nós e conquistar a nossa atenção, do que aos espíritos esclarecidos nos socorrerem com suas intuições ponderadas. Estamos num mundo de provas e de expiações, somos espíritos em evolução, na maioria repetidores de encarnações fracassadas. Nosso livre-arbítrio não pode ser violado, mas quando aceitamos as mistificações de pretensos reformadores usamos o livre-arbítrio na escolha infeliz que então fazemos. Este é um ponto importante de doutrina em que devemos pensar incessantemente. Nossa responsabilidade no tocante ao mediunato não nos permite leviandade alguma que não tenha um preço a pagarmos no presente ou no futuro. Num ambiente mediúnico dominado pelo desejo de novidades e pela expectativa do maravilhoso, estamos sujeitos sempre a nos embriagar com o vinho das ilusões. O principal dever dos médiuns resume-se em duas palavras: fidelidade e vigilância. Se não formos fiéis à doutrina e não estivermos sempre vigilantes às ciladas das trevas, estaremos sujeitos a seguir o caminho dos falsos profetas da Terra e da erraticidade, que o cego da parábola levará ao barranco para cair com ele.
  • 30. Capítulo 4 Energia Mediúnica Desde Kardec a teoria dos fluidos tem provocado divergências entre os cientistas e os espíritos. Chegou-se a criar uma prevenção contra a palavra fluido e alguns espíritas ligados a atividades científicas consideraram a teoria espírita a respeito, propondo modificações na terminologia doutrinária. O avanço rápido das ciências neste século mostrou que a razão estava com Kardec. O próprio fluido magnético, que a descoberta da sugestão hipnótica parecia ter anulado por completo, retornou ao campo das hipóteses. Na revolução conceptual provocada por Einstein, entretanto, a teoria do fluido universal não foi afastada do campo científico, mas apenas colocada por ele entre parênteses, como problema pendente para soluções posteriores. Hoje a situação é inteiramente favorável ao Espiritismo. A Física Nuclear nos apresenta uma imagem fluídica do Universo, verdadeiro domínio dos fluidos. Eles se apresentam como formas de energia nos campos de força que estruturam o aparente vácuo dos espaços siderais, como elementos mantenedores da vida nos processos fisiológicos, corno fluxos de partículas infinitesimais, dotados de assombroso poder e até mesmo como elementos constitutivos do tempo e do pensamento. A fase recente da Efluviografia, com a descoberta das câmaras Kirlian de fotografias sobre campos imantados com energia elétrica em alta freqüência, e as recentes experiências soviéticas com essas câmaras adaptadas a microscópios eletrônicos de alta potência, liquidaram essa velha pendência. Abriu-se novamente no campo científico a área da fluídica. Já podemos pensar em termos de fluidos sem cometer nenhuma heresia científica. Mas seria temerário querermos definir a mediunidade como uma espécie de energia fluídica, pois a sua natureza evidenciou-se, desde o tempo de Kardec, como simples processo de intermediação, ou seja, de relação. A mediunidade
  • 31. em si não é um tipo específico de energia, mas se processa, como tudo quanto existe, através de energias espirituais e materiais em conjugação. O ato mediúnico tem hoje a sua dinâmica operatória bem conhecida, que foi explicada pelos espíritos a Kardec, à revelia das hipóteses por este formuladas. O espírito tem em si mesmo uma forma de energia pura e sutil que não podemos captar e analisar através de aparelhos materiais. Na teoria espírita é o princípio inteligente, dotado de potencialidades insuspeitáveis. Em nosso estágio evolutivo só conhecemos o espírito por suas manifestações através de energias por ele usadas, mas essas energias não são o espírito e sim as forças de que ele se serve. A essência do ser é uma realidade que escapa a todas as possibilidades cognitivas das ciências. Só a Filosofia consegue abordá-la através dos métodos do pensamento, mas assim mesmo sem poder defini-la como deseja. No Espiritismo nos socorremos da expressão princípio inteligente para definir essa essência e sua natureza, porque a inteligência, como poder capaz de penetrar na essência das coisas e nos dar o conhecimento, é o seu aspecto mais evidente para nós. Na verdade, só nos conhecemos pelos efeitos do que somos, não pelo que somos. As energias da mediunidade e seu modo de agir foram definidos por Kardec, através de suas pesquisas e com o auxílio de entidades espirituais superiores. Essa definição atrevida, longamente combatida, criticada e ridicularizada por cientes e inscientes, está hoje plenamente confirmada em seu acerto pelas pesquisas científicas da Parapsicologia, da Física nuclear, da Metapsíquica no plano fisiológico e assim por diante. O Espiritismo se firma, hoje, como ciência avançada que balizou o avanço das ciências a partir de meados do século passado e ainda tem muito a oferecer no futuro. As leis que regem os fenômenos mediúnicos foram esclarecidas pelas pesquisas de Kardec e, apesar das dúvidas e críticas irônicas de mais de um século sobre essa inegável conquista científica, estão atualmente confirmadas. Isso nos mostra a solidez da obra kardeciana.
  • 32. A ação do espírito sobre a matéria, que sofreu contestações sofísticas durante um século, apesar de sua evidência em nossa própria estrutura orgânica, foi ainda agora confirmada pelas pesquisas dos cientistas soviéticos na Universidade de Kirov, na URSS, materialistas e desconhecedores da Doutrina Espírita. O impacto dessa descoberta provocou reações violentas do poder soviético, que sentiu ameaçada por ela a estrutura ideológica do Estado. Cessaram as notícias sobre a grande façanha científica, com uma espécie de excomunhão dos responsáveis, mas a divulgação feita pelas pesquisadoras da Universidade de Prentice Hall (EUA) que estiveram na URSS e entrevistaram os cientistas soviéticos, são suficientes para mostrar-nos a grandeza do feito. A maior e mais constante rejeição dos cientistas às conclusões das pesquisas espíritas sobre os fenômenos mediúnicos verificou-se na área dos efeitos físicos. Ainda hoje, no panorama parapsicológico, a própria existência desses fenômenos é posta em dúvida por cientistas sistemáticos, que se apegam às concepções materialistas ou a posições religiosas sectárias. Para se ter uma idéia desse tipo de oposição, basta lembrar a opinião expressa de um conhecido físico paulista, professor universitário, sobre o fenômeno de materialização. Disse ele que o fenômeno é teoricamente possível, ante os conhecimentos atuais da Física, mas que, para realizar-se seria necessária uma quantidade de energia só possível de obter-se num período de duzentos anos. Entretanto, como ficou demonstrado nas experiências científicas do Espiritismo, e pode ser comprovado a qualquer momento, o fenômeno de materialização é produzido em poucos minutos. O engano do físico foi esclarecido por um pesquisador espírita que demonstrou o seu erro de classificação científica. A materialização não é um fenômeno físico, exigindo duzentos anos de funcionamento da Usina de Urubupungá, mas um fenômeno fisiológico. A ação do espírito sobre o médium provoca a emanação de ectoplasma do seu organismo. O ectoplasma, descoberto e denominado por Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia, não acumula matéria em grande quantidade para formar um corpo físico real, mas apenas reveste o perispírito ou
  • 33. corpo espiritual do espírito, dando-lhe a aparência de um corpo real. O físico opinara, por engano, embora de boa-fé, sobre um fenômeno que não pertence ao campo de sua especialidade e que já fora confirmado por um grande especialista. Toda a produção de fenômenos físicos no campo da mediunidade é feita por elaboração e aplicação de energias vitais e orgânicas do médium, com a colaboração involuntária dos próprios participantes da reunião em que se verifica a experiência. Os cientistas soviéticos, fascinados pelo sucesso de suas pesquisas e alheios aos problemas ideológicos, constataram oficialmente, na famosa Universidade de Kirov. que o homem possui um corpo energético que responde pela vitalidade e as funções do corpo carnal. Verificaram que, nos casos de movimentação e levitação de objetos sem contato, esse corpo energético expande correntes de energia que impregnam os objetos a serem movidos à distância do médium. São essas energias, carregadas de matéria orgânica, que Richet chamou de ectoplasma e que o Prof. Crawford, da Universidade de Belfast, catedrático de mecânica, conseguiu observar em toda a sua complexa mecânica de expansão e ação, descobrindo objetivamente o funcionamento de alavancas de ectoplasma na produção dos fenômenos. Como se vê, a mediunidade é um processo de relação-indutiva, em que entram em jogo energias psicofísicas e energias espirituais. Na Parapsicologia isso ficou provado através de numerosas pesquisas. O Prof. Rhine diferenciou os dois tipos de energia ao classificar o pensamento como extrafísico. As energias mentais são de natureza espiritual e provocam reações materiais no cérebro. As energias espirituais, que Rhine chamou de extrafísicas, não estão sujeitas às leis físicas. Não sofrem a ação da gravidade, não se desgastam na sua projeção a qualquer distância e não são interceptadas por nenhuma espécie de barreiras físicas. Experiências em contrário, realizadas na URSS por Vassiliev, com o fim de demonstrar que não passavam de um novo tipo de energias físicas, fracassaram por completo. Dessa maneira, a tese espírita da existência de energias espirituais típicas ficou também comprovada cientificamente. Continuam, e é natural, os debates teóricos a
  • 34. respeito, mas o que importa na Ciência não são as opiniões e sim os fatos. E os fatos, como sempre, continuam fiéis à Doutrina Espírita. A mediunidade dispõe desses dois tipos de energia, mas não é, em si mesma, nenhuma delas. Não há uma energia mediúnica específica, mas apenas a ação controladora da mente sobre a matéria. Esta ação é a mesma que deu origem ao mundo e a toda a realidade, quando o espírito (no caso o princípio inteligente) aglutinou as partículas de matéria e deu-lhes estruturas múltiplas. A relação espírito-matéria é uma constante universal que se evidencia particularmente nos fenômenos vitais: no vegetal, no animal e no homem. Mas o ato mediúnico é o ponto de concentração em que as suas leis se revelam com a devida clareza aos pesquisadores. É natural que os cientistas alheios aos problemas espíritas encontrem dificuldades em aceitar essa tese. Além disso, como observou o Prof. Remy Chauvein, do Instituto de Altos Estudos de Paris, existe no meio científico um caso alarmante de alergia ao futuro. Recentemente proclamou-se no Rio de Janeiro a descoberta de um novo tipo de fenômeno espírita, baseado no princípio da indução. Tratava-se da indução dos Estados patológicos de espíritos inferiores a criaturas humanas. Esse fenômeno, tantas vezes tratado por Kardec, nada tem de novo e enquadra-se naturalmente no capítulo das obsessões. Todo o processo mediúnico é de natureza indutiva. O espírito e o médium funcionam como vasos comunicantes, no sistema de relação- indutiva da mediunidade. A própria hipnose é também um processo indutivo, o que levou Kardec a acentuar a íntima relação entre hipnose e mediunidade. O obsessor consciente age hipnoticamente sobre o obsedado. Estes problemas precisam ser estudados com a devida atenção por todos os que se entregam a trabalhos mediúnicos, mormente quando assumem responsabilidades de direção. Muitos enganos e muitas desilusões na prática mediúnica decorrem exclusivamente da falta de conhecimento da natureza e dinâmica da mediunidade.
  • 35. Capítulo 5 O Ato Mediúnico O ato mediúnico é o momento em que o espírito comunicante e o médium se fundem na unidade psico-afetiva da comunicação. O espírito aproxima-se do médium e o envolve nas suas vibrações espirituais. Essas vibrações irradiam-se do seu corpo espiritual atingindo o corpo espiritual do médium. A esse toque vibratório, semelhante ao de um brando choque elétrico, reage o perispírito do médium. Realiza-se a fusão fluídica. Há uma simultânea alteração no psiquismo de ambos. Cada um assimila um pouco do outro. Uma percepção visual desse momento comove o vidente que tem a ventura de captá-la. As irradiações perispirituais projetam sobre o rosto do médium a máscara transparente do espírito. Compreende-se então o sentido profundo da palavra intermúndio. Ali estão, fundidos e ao mesmo tempo distintos, o semblante radioso do espírito e o semblante humano do médium, iluminado pelo suave clarão da realidade espiritual. Essa superposição de planos dá aos videntes a impressão de que o espírito comunicante se incorpora no médium. Daí a errônea denominação de incorporação para as manifestações orais. O que se dá não é uma incorporação, mas uma interpenetração psíquica, como a da luz atravessando uma vidraça. Ligados os centros vitais de ambos, o espírito se manifesta emocionado, reintegrando-se nas sensações da vida terrena, sem sentir o peso da carne. O médium, por sua vez, experimenta a leveza do espírito, sem perder a consciência de sua natureza carnal, e fala ao sopro do espírito, como um intérprete que não se dá ao trabalho da tradução. O ato mediúnico natural é esse momento de síntese afetiva em que os dois planos da vida revelam o segredo da morte: apenas um desvestir do pesado escafandro da matéria densa. O ato mediúnico normal é uma segunda ressurreição, que se verifica precisamente no corpo espiritual que, segundo o
  • 36. Apóstolo Paulo, é o corpo da ressurreição. O espírito volta à carne, não a que deixou no túmulo, mas a do médium que lhe oferece, num gesto de amor, a oportunidade do retorno aos corações que deixou no mundo. A beleza do reencontro de um filho com a mãe, que estreita o médium nos braços ansiosos e o beija com toda a efusão da saudade materna, compensa de muito a impiedade dos que o acusam de praticar bruxarias. Nos casos de materialização, nada mais belo que Lombroso com sua mãe materializada através da mediunidade de Eusápia Paladino, na sessão a que fora levado pelo Prof. Chiaia, de Milão. Eusápia era uma camponesa analfabeta e mil vezes caluniada. Lombroso, o fundador da Antropologia Criminal, retratou-se na revista Luce e Ombra de seus violentos artigos contra o Espiritismo, e declarou comovido: "Nenhum gigante do pensamento e da força poderia me fazer o que me fez esta pequena mulher analfabeta: arrancar minha mãe do túmulo e devolvê-la aos meus braços!". Frederico Fígner, introdutor do fonógrafo no Brasil, levou sua esposa desolada a Belém do Pará, na esperança de um reencontro com a menina Rachel, sua filha, que haviam perdido, o que quase os levara à loucura, a ele e à esposa. Procuraram a médium Ana Prado, também mulher do campo, e numa sessão com ela a menina apareceu materializada, estimulando os pais a enfrentarem o caso com serenidade, pois ali estava viva, e falava e os beijava, e sentava-se em seus colos, provando que não morrera. Fígner, ao voltar para o Rio de Janeiro, dedicou-se dali por diante ao Espiritismo, com a chama da fé acesa em seu coração e no coração da esposa, mas agora uma fé inabalável, assentada na razão e nos fatos. Quando o ato mediúnico é assim perfeito e claro, iluminado por uma mediunidade esclarecida e devotada ao bem, não há gigante – como no caso de Lombroso – que não se curve reverente ante o mistério da vida imortal. O médium se torna o instrumento da ressurreição impossível, provando aos homens que a morte não é mais do que lapso no intermúndio que separa os vivos na carne dos vivos no espírito. Compreende-se então o fenômeno da Ressurreição de Jesus, que não foi o ato divino de
  • 37. um Deus, mas o ato mediúnico de um espírito que dominava, pelo saber e a pureza, os mistérios da imortalidade. Quando o ato mediúnico não tem a pureza e a beleza de uma comunicação amorosa, tem o calor da solidariedade humana e é iluminado pela caridade cristã. Numa sessão comum de socorro espiritual, os médiuns sentados ao redor da mesa, os doutrinadores a postos, espíritos sofredores e espíritos maldosos e vingativos, sob controle dos orientadores espirituais, são aproximados de médiuns que desejam servi-los. O quadro é bem diferente dos que apresentamos acima. Não há beleza nem serenidade nos espíritos comunicantes, nem resplendor ou transparência em suas faces. Há desespero, dor, expressões de rebeldia ou ímpetos de vingança. Os médiuns sentem-se inquietos, não raro temerosos. A aproximação dos comunicantes é incômoda, desagradável. As vibrações perispirituais são ásperas e sombrias O vidente se aturde com aquelas figuras pesadas e escuras que transtornam a fisionomia dos médiuns. Mas, na proporção em que os doutrinadores encarnados dão o socorro de suas vibrações e de seus argumentos fraternos aos necessitados, o quadro se modifica com as luzes vacilantes que se acendem nas mentes conturbadas. Os guias espirituais manifestam-se em socorro dos doutrinadores e suas vibrações acalmam a inquietação do ambiente. O trabalho é penoso. Criaturas recalcitrantes no mal recusam-se a compreender a realidade negativa em que se encontram. Espíritos vencidos pelas dores de encarnações penosas mostram-se revoltados. Os que trazem o coração esmagado por injustiças e traições exigem vingança e fazem ameaças terríveis. Mas a palavra fraterna, carregada de bondade e amor, iluminada pelas citações evangélicas, vai aos poucos amortecendo as explosões de ódio. Às vezes a autoridade do dirigente ou de um espírito elevado se faz sentir, para que os mais rebeldes compreendam que estão sob um poder persuasivo, mas enérgico. Uma pessoa que desconheça o problema dirá que se encontra numa sala de hospício sem controle ou assiste a um psicodrama de histéricos em desespero. Psicólogos sistemáticos ririam com desdém. O dirigente dos trabalhos parece um leigo a brincar com explosivos perigosos.
  • 38. Fanáticos de seitas dogmáticas julgam assistir a uma cena de possessão diabólica. Mas a sessão chega ao fim com a tranqüilização total do ambiente. Um espírito amigo comunica-se com palavras de agradecimento. Em silêncio, todos ouvem a prece final de gratidão aos espíritos bondosos que ajudaram a socorrer as sombras sofredoras. É estranho que todos estejam bem e satisfeitos com o resultado dos trabalhos. As pessoas beneficiadas comentam suas melhoras. O ambiente é de paz, amor e satisfação pelo dever cumprido. Numa sessão de desobsessão para casos graves, com poucos elementos, sem a assistência numerosa do socorro geral, as comunicações são violentas, os médiuns sofrem, gemem, gritam e choram. O dirigente e os doutrinadores permanecem tranqüilos, aparentemente impassíveis, e os doutrinadores usam de palavras persuasivas, de atitudes benignas. Nada de ameaças e exprobrações violentas, como nas práticas antiquadas do exorcismo arcaico, vindo das profundezas do Egito, da Mesopotâmia, da Palestina. Nada de velas acesas, de símbolos sacramentais, de expulsão de entidades diabólicas. A técnica é de persuasão, de esclarecimento racional. Uma menina de quinze anos chega carregada pelos pais. Há uma semana dormia em estado cataléptico. Às primeiras tentativas de despertá-la, agita- se e levanta-se furiosa, aos gritos. Quatro ou cinco homens não conseguem contê-la, parece dotada de força indomável. Mas pouco a pouco se acalma, chora baixinho e volta ao seu estado natural de menina graciosa e frágil. Retira-se da reunião como se nada demais tivesse acontecido. Despede-se alegre. Corre para a rua e toma o automóvel que a trouxe como se voltasse de um passeio. O ato mediúnico foi violento, assustador. Mas o resultado da prece, dos passes, das doutrinações amorosas foi surpreendente. Poucos perceberam que, naquele corpinho de menina as garras da vingança estavam cravadas, tentando rasgar a cortina piedosa que vela os ódios do passado. No ato mediúnico a criatura humana recupera os tempos esquecidos e se revê na tela das experiências mortas. E mais uma vez a morte lhe aparece como pura ilusão sensorial, pois tudo quanto havia desaparecido numa cova renasce de repente nas
  • 39. águas amargas da provação. A mediunidade funciona como um radar sensibilíssimo voltado para os caminhos perdidos. Nem sempre a tela da memória consegue reproduzir as imagens distantes, mas nas profundezas do inconsciente recalques antifreudianos esperam a catarse piedosa da comunicação absurda, em que os diálogos da caridade parecem brotar de terríveis mal-entendidos. Uma mulher não entendia porque o espírito comunicante a acusava de atrocidades que jamais praticara e a chamava de Condessa. Achou que tudo aquilo não passava de uma farsa ou de um momento de loucura. Mas quando, aconselhada pelo doutrinador, pediu perdão ao espírito algoz e chorou sem querer e sem saber por qual motivo o fazia, sentiu profundo alívio e nos dias seguintes os seus males desapareceram. As lágrimas de uma criatura que a amnésia tornou inocente podem comover um coração embrutecido no desejo de vingança. Mas quem fará o encontro necessário para o ajuste dos velhos erros e crimes, se o médium não se oferecer na imolação voluntária de si mesmo para apaziguar com a palavra do Mestre? A responsabilidade espiritual do médium reflete-se no espelho de cada um dos seus atos de caridade mediúnica. O mediunato não é uma sagração ritual inventada pelos homens. Nasce das leis naturais que regem consciências no fluir do tempo, no suceder das gerações e das reencarnações. Um ato mediúnico é o cumprimento de um dever assumido perante o Tribunal de Deus instalado na consciência de cada um. Quando o médium se esquiva a esse cumprimento engana a si mesmo, pensando enganar a Deus. Sua própria consciência se incumbirá de condená-lo quando soar a hora do veredicto irrecorrível. Nada justifica a fuga a um compromisso forjado à custa do sacrifício alheio. As leis morais da consciência têm a mesma inflexibilidade das leis materiais da Natureza. Nossa consciência de relação capta apenas a realidade imediata em que nos encontramos. Mas a consciência profunda guarda o registro indelével de todos os compromissos assumidos no passado e de todas as dívidas morais que pensamos apagar nas águas do Letes, o rio do esquecimento das velhas mitologias. O rio Letes secou
  • 40. nas encostas áridas do Olimpo, o cenáculo vazio dos antigos deuses. Hoje só temos um Deus, que não precisa vigiar-nos do alto de um monte nem ditar-nos suas leis para serem inscritas em tábuas de pedras. Essas leis estão gravadas a fogo em nossa própria carne. Nossos atos determinam no tempo as situações em que nos encontraremos em cada existência. E o mediunato é o passaporte que Deus nos concede para a liberação do passado através de um só ato, o mais belo e mais honroso de todos, que é o ato mediúnico. A responsabilidade mediúnica não nos foi imposta como castigo. Nós mesmos a assumimos na esperança da redenção, que não virá do Céu, mas da Terra, da maneira pela qual fizermos as nossas travessias existenciais no planeta, num mar de lágrimas ou por estradas floridas pelas obras de sacrifício e abnegação que soubermos semear. Temos o futuro em nossas mãos, o futuro imediato do dia-a-dia e o futuro remoto que nos espera nas translações da Terra em torno do Sol. Chegamos assim à conclusão inevitável de que o presente passa depressa, mas o passado reponta em cada esquina do presente e do futuro.
  • 41. Capítulo 6 O Mediunismo As formas primitivas de mediunidade provêm das selvas e das regiões geladas ou áridas em que a vida humana permaneceu em condições rudimentares. O homem é um ser mediúnico e todo o seu desenvolvimento seguiu as linhas da evolução da sua potencialidade mediúnica. A idéia da Divindade, de um poder superior que criou o mundo é inata no homem, como o demonstram as pesquisas antropológicas. Dessa idéia básica em sintonia com o assombro do mundo, misterioso e cheio de seres estranhos, nasceu a Magia. O sentimento mágico do mundo estabeleceu as relações entre os homens e as coisas e os outros seres. A idéia do poder das coisas e dos seres brotou naturalmente das experiências na luta para a sobrevivência. A lei de adoração, estudada em O Livro dos Espíritos, levou a imaginação primitiva aos ritos do culto solar e lunar, das montanhas coroadas de nuvens, dos grandes rios misteriosos e assim por diante. A reverência aos chefes poderosos desenvolveu os ritos de submissão, que se estenderam aos pagés e xanãs, sacerdotes mágicos das tribos e das hordas, dotados de poderes mediúnicos. Os processos mágicos desenvolveram-se através das manifestações mediúnicas. Abria-se o caminho para o desenvolvimento das religiões mitológicas e das religiões reveladas, estas apoiadas na crença dos homens-deuses, conhecedores dos mistérios da vida e da morte. A evolução espiritual do homem abria a fase das grandes religiões nas regiões em que a civilização avançara. Os dons mediúnicos reafirmavam a crença nos poderes divinos, através dos fenômenos produzidos por indivíduos que os possuíam. A expressão mediunismo, criada por Emmanuel, designa as formas primitivas de Mediunidade, que fundamentam as crenças e religiões primitivas. Todas as formas de religiões primitivas, sem desenvolvimento cultural e intelectual, caracterizam-se por
  • 42. práticas mágicas ligadas ao mediunismo. As religiões africanas, transplantadas ao Brasil e outros países americanos pelo tráfico negreiro, e misturadas às religiões indígenas e primitivas desses países, desenvolveram largamente no Continente diversas formas de mediunismo. O processo natural de sincretismo religioso, já iniciado na própria África com a mistura das religiões tribais com o Islamismo e o Catolicismo, deram a essas formas um impulso em direção à institucionalização religiosa. A diferença entre Mediunismo e Mediunidade está no problema de conscientização do problema mediúnico. Nas religiões primitivas não havia nem podia haver reflexão sobre os fenômenos e seu sentido e natureza. Tudo se resumia na aceitação dos fatos e nas tentativas de sua utilização para finalidades práticas, objetivas. A Mediunidade é o Mediunismo desenvolvido, racionalizado e submetido à reflexão religiosa e filosófica e às pesquisas científicas necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e suas leis. Enquanto o Mediunismo absorve a herança mágica do passado e mistura-se com religiões, crenças e superstições de toda a espécie, a Mediunidade rejeita infiltrações que possam prejudicar a sua natureza racional e comprometer o seu desenvolvimento natural. Integrada na estrutura do Espiritismo, que a estuda e pesquisa através de suas instituições culturais e científicas, ela se torna cada vez mais numa área específica da Teoria do Conhecimento, que terá forçosamente de reconhecer os seus direitos na cultura geral do próximo século. É curioso o fato de que todas as religiões e correntes do pensamento espiritualista tenham rejeitado e condenado a Mediunidade, que só o Espiritismo reconhece no seu pleno valor e na sua importância fundamental para a vida humana na Terra e o seu desenvolvimento futuro no mundo espiritual. Apontada nas religiões como de natureza diabólica, nas doutrinas espiritualistas refinadas como um campo inferior e perigoso de manifestações suspeitas e perigosas, acusada de responsável pela loucura do mundo, ela foi marginalizada pelos meios culturais e é constantemente atacada pelos donos da verdade e da sabedoria, como o foram o Cristo e o Cristianismo. Não obstante, cresce
  • 43. sem cessar o interesse pela mediunidade no mundo, pois o próprio desenvolvimento científico acabou desembocando no delta da fenomenologia paranormal, obrigado a enfrentar e reconhecer a realidade dos fatores mediúnicos em todos os campos do saber. Pouco importam os preconceitos, as idiossincrasias, as incompreensões dos homens, pois a realidade não pede licença a ninguém para ser o que é. Ao lado do resguardo e defesa da Mediunidade, os espíritas naturalmente se interessam pelo estudo e a pesquisa dos problemas do Mediunismo, que é, por assim dizer, o chão agreste e rico de cujas escavações milenares foram extraídos os minérios preciosos da Mediunidade. Nas várias formas do Sincretismo Religioso Afro-Brasileiro a mediunidade eclode muitas vezes, como tufos de vegetais promissores rompendo o chão áspero dos terreiros. Não encontrando ambiente favorável no meio sincrético, essas mediunidades surpreendentes vão transplantar- se para o ambiente espírita e ali florescer e frutificar. Não podemos condenar o Mediunismo. pois isso seria condenar a fonte que nos fornece a água. Há ricos filões de fenômenos no solo fecundo do Mediunismo à espera dos investigadores espíritas. O que condenamos e temos de condenar é o abuso das práticas mediúnicas nos terreiros, não só por criaturas desprovidas de nível de instrução e cultura, mas também por pessoas culturalmente amadurecidas para compreender o erro que cometem, contribuindo para expansão, em plena civilização da Era Cósmica, das mais grosseiras superstições do longínquo passado humano. Esse abuso é tanto mais grave quando praticado conscientemente por pessoas que estão interessadas na solução de problemas financeiros, políticos e de ordem moral e social. Esses objetivos e os meios usados para consegui-los eram perfeitamente justificáveis na selva, onde a mentalidade primitiva, apegada apenas ao concreto, sem dimensões intelectuais, não podia alcançar objetivos superiores. Mas o homem civilizado que se entrega a essas práticas grosseiras, ligadas a entidades inferiores, age como um inconsciente ou imaturo, que não tem noção de sua própria responsabilidade em
  • 44. relação ao meio em que vive. Cada fração de conhecimento adquirido aumenta a responsabilidade moral do homem na sociedade. Essa responsabilidade não é apenas pessoal e familiar, mas também social. Quem procura práticas selvagens para conseguir benefícios no meio civilizado, ligando-se a estágios já superados na evolução humana, trai a si mesmo e ao meio em que se encontra. Além disso, compromete-se com forças negativas do plano espiritual inferior, que cobram sempre muito caro os serviços prestados, mal ou bem, com resultados ou não, aos incautos clientes. O Mediunismo divide-se em vários ramos, correspondentes às nações africanas de que procedem. E há graus evolutivos em suas práticas mediúnicas. Nos terreiros de Umbanda as práticas são mais elevadas, voltadas para o bem. Nos de Quimbanda o sangue de animais e a queima de pólvora revelam a brutalidade dos ritos selvagens, que eram práticas de defesa para tribos e no meio civilizado se tornaram práticas maléficas, dirigidas contra desafetos e rivais. Mas há os terreiros de linhas cruzadas, geralmente chamados de Aruanda, onde tanto se pratica o bem para os amigos como o mal para os inimigos. As danças rituais do Candomblé africano encontram sua réplica nativa nas danças indígenas da Poracê. Em muitos terreiros de Umbanda infiltram- se também as práticas maléficas. Os poderes mediúnicos são desenvolvidos sob a magia dos rituais selvagens. Costumam dizer, os freqüentadores do sincretismo, que as práticas de terreiro são mais fortes e poderosas que as de mesa branca, designação puramente popular das sessões espíritas, originada da superstição que exige, particularmente nos meios rurais, o uso de toalha branca na mesa de sessão, porque a cor branca atrai os espíritos puros. A superstição da força, do poder proveniente de práticas violentas, revela a inversão dos valores espirituais, inversão proveniente da selva, onde a força bruta é a lei. A Macumba, com seus despachos, é uma prática proveniente da mais remota antigüidade. Macumba é instrumento de sopro, geralmente de bambu, que se toca para chamar os espíritos do mato, e o despacho, ao contrário do que geralmente se pensa, não é a oferenda de comidas e bebidas que se coloca nas
  • 45. encruzilhadas e nas esquinas de ruas (adaptação urbana do rito selvagem), mas o envio de espíritos inferiores para atacar as pessoas visadas. A oferenda é a paga que assegura a eficácia do ataque. Os espíritos agressivos, embora não possam comer os manjares e tomar as bebidas, aspiram as suas emanações, como os deuses mitológicos faziam e como o próprio Iavé da Bíblia, o deus judaico, também fazia, como se vê nos relatos bíblicos. Na descrição do Dilúvio, no Gênese bíblico, vemos que Noé fez um altar no Monte Ararat para dar graças a Iavé pela salvação da sua família. No altar foram colocados alimentos de carne fumegante e Iavé compareceu para aspirar as emanações dos alimentos. É incrível que as Igrejas Cristãs até hoje aceitem que esse Iavé glutão era o Deus Supremo e Único que Jesus pregou contra o politeísmo da época. Essas práticas sincréticas, onde predomina a mentalidade primitiva, são o contrário das práticas espíritas, que se resumem na prece e na meditação, no passe (imposição das mãos, do Evangelho) e na doutrinação caridosa dos espíritos sofredores ou vingativos. Os que chamam isso de Espiritismo o fazem de má-fé ou por ignorância. Por sinal que encontramos nesse capítulo a ignorância ilustrada de sociólogos, antropólogos, psicólogos e médicos, que usam em seus trabalhos e pesquisas a palavra Espiritismo para designar as manifestações do animismo primitivo e do mediunismo selvagem. Devemos sempre repelir esse abastardamento da palavra que Kardec criou como nome genérico de uma doutrina científica e filosófica oriunda do ensino dos Espíritos Superiores. O Espiritismo é unicamente a doutrina que está nas obras de Kardec e dos que continuaram o trabalho do Mestre, sem trair os seus princípios básicos. O ponto mais perigoso dessas práticas bárbaras e desumanas está no problema da evolução mediúnica do homem. Essas práticas e crenças supersticiosas correspondiam às necessidades primárias dos homens primitivos. Eram boas na selva, ajudavam os selvagens a crer num poder superior e a respeitá-lo. Aplicadas ao homem civilizado representam um retrocesso evolutivo de sua mentalidade e personalidade. O ajustamento psíquico do homem civilizado a esses sistemas rudimentares e grosseiros produz
  • 46. desajustes psicológicos e mentais que acabam gerando desequilíbrios graves em criaturas sensíveis, que são afetadas pelos rituais violentos de sangue e pólvora e pela condição geral das práticas selvagens. O desnível cultural já é chocante em si mesmo e a disparidade cala nos freqüentadores de maior evolução mental e moral. Sente-se o restabelecimento do arcaico prestígio da Goécia, a famosa Magia Negra da Antigüidade, que dominou o Ocidente até os fins da Idade Média. As pesquisas de Albert De Rochas sobre a feitiçaria1, ilustradas com dados dos processos medievais dos arquivos do Vaticano, mostram a brutalidade dessas práticas naquele tempo, em que sacerdotes e figuras da nobreza tiveram de ser condenados pelos tribunais eclesiásticos. O impacto dessas condenações concorreu pesadamente para que a sólida estrutura religiosa e teocrática do Milênio acabasse desmoronando. O poder de fascinação dos sistemas mágicos envolveu com facilidade elementos de destaque no Clero e na Política, em virtude dos resíduos brutais do passado nas camadas psico-afetivas da população, mesmo nas classes superiores. A tendência natural do homem para o mistério e o maravilhoso excita os ânimos e leva criaturas e grupos humanos a verdadeiros delírios, em que os valores da civilização submergem no pântano das paixões. Mas o pior é que, dessas fases de retorno à barbárie, a dignidade humana sai fatalmente esmagada, levando séculos para se recobrar. Não é o mediunismo que responde por isso, mas o apego do homem aos interesses mundanos e o desejo de vencer com mais facilidade e segurança, sob a suposta proteção espiritual de criaturas incultas e grosseiras. O mediunismo é precisamente o instrumento natural de que o homem dispõe para elevar-se ao plano da mediunidade, transcendendo a sua condição tribal. Mas se o homem se entrega ao atavismo da religiosidade mágica e por isso mesmo fanática, serve-se do mediunismo, nessas formas clássicas de civilizações mortas, para repetir os suicídios anteriores. O automatismo dos processos primitivos o leva a repetir os mesmos erros, na mesma antiga e frustrada esperança dos tempos mortos. É isso o que se
  • 47. tem de condenar nos cultos retrógrados desses processos sincréticos e negativos.
  • 48. Capítulo 7 A Mesa e o Pão Kardec explicou o problema da mesa nas sessões espíritas com a sua habitual naturalidade: é o móvel mais cômodo para sentarmos ao seu redor. Afastava assim qualquer resquício de misticismo e magia, de rito e sacramento no ato mediúnico. Não obstante, há quem considere esse ato puramente místico e mágico, lembrando a evocação e a prece. Não nos sentamos em torno da mesa apenas para conversar ou escrever, mas também para nos alimentarmos. A alimentação que tomamos na mesa espírita não é material, mas espiritual. A evocação não é um rito, mas um convite. Antes de sentar à mesa os convites já foram feitos, pois basta pensarmos num espírito para o evocarmos. Ele atende ou não ao nosso convite, pois é livre e não está submetido a nenhum poder humano. Mas o pão que pomos sobre a mesa é o pão espiritual da prece, que será partido e servido na hora da doutrinação. Conta-nos o Evangelho de Lucas o episódio comovente dos discípulos na estrada de Emaús. Após a ressurreição de Jesus, Cleófas e um companheiro seguiam, ao entardecer, para essa aldeia, afastando-se do cenário angustiado de Jerusalém. Um estranho os alcançou e acompanhou, conversando sobre a morte e a ressurreição de Jesus. Pararam numa estalagem para alimentar-se. Sentaram-se à mesa com aquele estranho. Mas, no momento em que ele partiu o pão, os discípulos o conheceram: era o Mestre ressuscitado. Mas logo a seguir o Senhor desapareceu e a mesa só tinha os dois ao seu redor. É fácil imaginar-se o assombro dos discípulos. O vazio da mesa e o silêncio do anoitecer, que já começava, devem ter-lhes parecido muito mais cheio de rumores e alegrias que as mesas dos banquetes festivos do mundo. É precisamente o que se passa na mesa simples, sem aparatos, de uma verdadeira sessão mediúnica. A cor da toalha pouco
  • 49. importa. A cor branca não interessa mais ao ato mediúnico do que a vermelha ou a preta. A pureza exigida é apenas a das intenções. Os convivas estão ao redor e não são conhecidos. Surgem da estrada, na penumbra do crepúsculo, como estranhos. Mas no momento de partir o pão eles se revelam. Feita a prece simples de abertura dos trabalhos podemos ver, pela maneira deles partirem o pão, quem são eles. Iniciamos então a conversação necessária e logo depois eles desaparecem como apareceram, retornando ao invisível, no seio da noite. Como podem os cristãos de todas as denominações censurar esse repasto singelo e atribuí-lo a influências diabólicas? Como podem dizer que isso tudo não passa de ilusão, loucura ou mistificação? Nunca leram, nem mesmo por acaso, o tópico sobre os dons espirituais na I Epístola de Paulo aos Coríntios? Não viram que o apóstolo confirma a simbologia comovente da Estrada de Emaús, relatando as sessões mediúnicas da era apostólica? E como podem alguns espíritas quebrar a harmonia dessas reuniões espirituais com aparatos inúteis e desnecessários, com a introdução de sistemas pretensiosos nas sessões mediúnicas? Se quisermos deformar e ridicularizar a prática espírita, basta exigirmos a toalha branca na mesa, vestir os médiuns de vestes brancas e rituais, obrigá-los a formar a corrente de mãos dadas e outras muitas tolices dessa espécie. É o que fazem os espíritos mistificadores, através de dirigentes supersticiosos e simplórios. Para comer o pão da verdade só necessitamos dos dentes do bom-senso. Por isso o comensal da estalagem de Emaús simplesmente desapareceu depois de partir o pão. Todos os acréscimos de técnicas inventadas por homens vaidosos, de disciplinas rígidas na hora da sessão, de palavras mágicas e gestos misteriosos não passam de joio na seara. A prática espírita deve ser racional e simples, pois toda encenação e aparato só servem para estimular mistificações. Há pessoas que desejam fazer sessões à plena luz, por entender que a penumbra habitual dá motivo a desconfianças e representa uma modalidade de formalismo. Mas a penumbra é necessária à boa concentração dos médiuns e mesmo dos
  • 50. assistentes. A iluminação normal da sala provoca distrações, penetra nas pálpebras e quebra o ambiente de recolhimento. Claro que não se deve fazer o escuro excessivo e muito menos completo, mas a penumbra do ambiente não é um aparato formal, é uma exigência natural da concentração serena. Além dessas razões evidentes, convém lembrar que o excesso de luz exerce influência inibitória sobre os médiuns e a emanação fluídica do ectoplasma. Em todas as reuniões mediúnicas o ectoplasma se libera para ajudar as ligações perispirituais entre médiuns e espíritos. Temos de saber distinguir entre o necessário e o supérfluo, entre o conveniente e o inconveniente, sem fazer concessões à ignorância ou à desconfiança dos que não entendem do assunto. O problema da concentração mental é também um dos menos compreendidos. A concentração dos pensamentos numa reunião mediúnica não corresponde ao tipo de concentração individual de uma pessoa num determinado problema a resolver ou num estudo a fazer. Trata-se de uma concentração coletiva de pensamentos voltados para um mesmo alvo. Quando todos pensam em Deus ou em Jesus, todos os pensamentos se concentram numa só idéia. A palavra concentração sugere um esforço mental contínuo para se manter o pensamento fixado numa imagem. Isso prejudicaria os trabalhos mediúnicos, criando um ambiente de tensão mental exaustiva. Não é de tensão, de esforço cansativo que se necessita, mas de afrouxamento e despreocupação. Todos devem voltar o seu pensamento para um alvo superior, geralmente para Jesus (pois pensar em Deus é mais difícil) e todos devem manter a idéia de Jesus na mente, sem esforço ou preocupação, como quem se lembra saudoso de um amigo distante. Esse estado mental de lembrança, não de uma imagem ou figura de Jesus, mas da sua pessoa, dos seus atos, dos seus ensinos e do que ele representa para nós, deve ser mantido no decorrer da sessão. Quando se nota que o pensamento se desvia para outros rumos, o que é natural, faz-se que ele retorne suavemente à idéia centralizadora. O ambiente de uma sessão é tanto mais favorável quanto menos tensões e preocupações existirem na reunião. As evocações
  • 51. mentais de assistentes e médiuns, solicitando a manifestação de entes queridos ou de espíritos amigos são prejudiciais, pois quebram e tumultuam o ambiente mental da sessão. Pensar num espírito é evocá-lo, como ensina Kardec. Quem comparece a uma sessão com a esperança de receber uma comunicação deste ou daquele espírito, já o evocou. Ele atenderá se for possível. Mas durante a sessão só se deve pensar em Jesus. Criando-se no ambiente um clima tranqüilo e confiante, pode-se esperar a possibilidade dos melhores resultados Não há regras específicas e formais para a realização das sessões espíritas. Entre a prece de abertura e a de encerramento desenvolvem-se as manifestações mediúnicas, sob a orientação e muitas vezes a interferência de espíritos dirigentes. O sistema autoritário, em que o presidente determina aos médiuns receberem as comunicações, uma de cada vez, provém da recomendação do Apóstolo Paulo à comunidade de Corinto. Nas reuniões de Kardec, mesmo nas psicográficas, havia ampla liberdade, permitindo as conversações entre espíritos comunicantes, às vezes através de vários médiuns. Léon Denis usava também de liberdade em suas sessões. Cabe aos espíritos protetores determinar quais os espíritos que devem comunicar-se e quais os médiuns em condições de recebê-los. O presidente ou dirigente humano da sessão tem a função de mantê-la equilibrada, orientar o decorrer dos trabalhos e intervir, quando necessário, nas doutrinações e no reajustamento da concentração. Se há muitos médiuns à mesa, há naturalmente a possibilidade de se atender a número maior de espíritos comunicantes, através de vários doutrinadores. O que importa na doutrinação não é o muito falar, mas o falar com propriedade e com amor, procurando-se atingir a consciência e o sentimento do espírito. Quando vai se aproximando o fim do horário destinado à sessão, o presidente faz um aviso, para que os médiuns o ajudem no controle da reunião. As comunicações de espíritos violentos, desejosos de tumultuar os trabalhos, exigem atitude enérgica para que sejam contidos e afastados. Energia serena, sem agressividade, mas com firmeza. Não se deve esquecer de que se trata de entidade sofredora, necessitada de amparo e orientação.
  • 52. Não é a força que age contra o espírito, nem a elevação da voz, mas a intenção de ajudá-lo, o desejo sincero de fazê-lo melhorar e tornar-se nosso companheiro, porque essa disposição nos dá a autoridade moral sobre os espíritos inferiores. É importante que não falte em nossa mesa espírita o pão da prece e a luz do amor. Basta quase sempre uma só palavra de amor sincero para acalmar o espírito mais violento. O amor brota da compreensão humana, da nossa capacidade de nos colocarmos em pensamento no lugar e na situação da criatura que se encheu de ódio e violência em existências brutais em que o amor não floriu em seu coração. Uma sessão espírita é um ato de amor. Não é uma cerimônia destinada à finalidade egoísta de nos livrar de espíritos-parasitas, por nós mesmos atraídos e alimentados, mas com o objetivo de levar ajuda espiritual aos que padecem. O Espiritismo nos ensina, como ensinou Jesus, que somos todos irmãos e companheiros, criados por Deus para o mesmo destino de transcendência, de elevação espiritual. Esse é o pensamento central da compreensão espírita e precisamos dar-lhe eficácia, traduzi-lo em ação. Tratamos aqui da sessão mediúnica comum, não da sessão específica de desobsessão. A sessão rotineira dos Centros é a que se realiza todas as semanas, em dias e horas certos, dispondo de freqüência regular. Há quem discorde desses trabalhos públicos, alegando as exigências de Kardec na Sociedade Parisiense, quando não permitia a presença nas sessões de pessoas que não tivessem algum conhecimento doutrinário. A medida de Kardec era justa e necessária, numa fase em que o Espiritismo nascia, sob um alarido universal de protestos e ameaças. Hoje estamos a mais de um século dessa fase e o Espiritismo só é combatido por pessoas sistemáticas ou ignorantes. A maioria absoluta das pessoas que procuram as sessões é necessitada, tratando-se geralmente de médiuns em franco desenvolvimento de suas faculdades. Negar-lhes acesso às sessões seria como negar a um sedento acesso a uma fonte. A mediunidade não se desenvolve por acaso e muito menos sob o poder mágico da vara de Moisés, que tirou água da rocha. Em geral, o desenvolvimento mediúnico
  • 53. começa por diversas perturbações e não raro por processos obsessivos. Não se pode querer que uma pessoa em estado de alteração psíquica vá primeiro estudar uma doutrina através de cursos demorados para depois submeter-se aos métodos de cura. Por isso, nas instituições bem dirigidas as sessões mediúnicas normais não se restringem à prática mediúnica. Iniciam-se os trabalhos com leitura e preleção evangélicas, de O Evangelho Segundo o Espiritismo. A seguir, há uma exposição doutrinária que prepara os freqüentadores para os trabalhos práticos. Os médiuns em desenvolvimento recebem a mensagem evangélica e os ensinos doutrinários em dosagens apropriadas e, a seguir, participam do trabalho mediúnico. Isso concorre para uma compreensão simultânea da doutrina, de sua natureza cristã, de sua moral evangélica e das relações diretas e necessárias de teoria e prática em Espiritismo. As críticas a esse método referem-se à extensão das sessões. Mas é evidente que a preparação das matérias permite reduzir a parte oral aos limites necessários. O aproveitamento verificado nos Grupos e Centros que usam esse método provaram a sua validade. Nos centros que realizam várias sessões por semana, a divisão da matéria pode ser feita com mais amplitude, nas várias sessões. Isso não impede que, além desse processo sinérgico ou gestáltico, em que o iniciante adquire desde logo uma visão global da doutrina e da sua prática, o Centro mantenha, quando possível, um curso especial de doutrina em outro dia e horário. Quando possível, é conveniente intercalar os passes entre a parte evangélica e a doutrinária. Se isso prolongar demais a sessão, pode-se estabelecer uma sessão especial para os passes, sempre iniciada com uma exposição sobre o assunto. A vantagem de se fazer tudo em seqüência, numa única sessão, é a de se dar ao iniciante, em doses apropriadas e na seqüência natural do tempo, na prática, a compreensão da unidade do problema espírita. Essa compreensão, infelizmente, falta até mesmo a veteranos do trabalho espírita, em virtude da dispersão e até mesmo da restrição das práticas tradicionais apenas a um aspecto da doutrina. Claro que o problema de desobsessão em casos graves não pode ser tratado em sessões
  • 54. dessa natureza. Para isso, os Centros bem orientados dispõem de sessões especiais, privativas, com médiuns e doutrinadores capacitados, e, sempre que possível, com a participação de médicos espíritas conhecidos por seu desinteresse profissional em casos de ordem doutrinária. Colocamos estas questões com base em experiência própria e de conjunto, observadas atentamente no correr dos anos de trabalho e estudo incessantes. Quando o sistema é bem aplicado, contando com elementos humanos dedicados, os resultados são sempre surpreendentes. Não se trata de uma inovação, mas apenas de urna conjugação de práticas tradicionais que, reunidas e articuladas, produzem mais e melhor. No tocante à mediunidade é necessário o mais rigoroso critério kardecista, baseado nos livros específicos de Kardec: Instruções Práticas sobre Manifestações Espíritas e O Livro dos Médiuns. Essa é a base necessária e insubstituível do estudo e do ensino da mediunidade. Livros como No Invisível, de Léon Denis, e os livros de orientação mediúnica de Emmanuel e André Luiz podem também ser usados como subsidiários, mas jamais colocados como obras básicas da doutrina. Sem esse critério, muitos Centros e Grupos, e até mesmo grandes instituições, caíram num plano de misticismo igrejeiro e de autoritarismo sacerdotal que desfiguram e ridicularizam o Espiritismo. Precisamos compreender que lidamos com uma doutrina revolucionária, que deve modificar a rotina espiritual da Terra, abrindo-lhe as perspectivas de uma nova concepção do Espírito. Sem isso, nossa mesa só terá pão murcho e envelhecido.