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A Cidadania e o Serviço Nacional
           de Saúde

 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS




                                                               Liliana de Almeida
Índice
•   Introdução

•   Da Cidadania à Saúde

•   Do Estado Providência ao direito à Saúde

•   O Cidadão no centro da mudança

•   Conclusão
Introdução
Este trabalho:

•   Avalia o desenvolvimento da Cidadania até à Cidadania em Saúde;

•   Explora o conceito de Cidadania em Saúde integrado no Serviço Nacional de Saúde
    (SNS);

•   Analisa a Cidadania em Saúde nas medidas reformadoras em Saúde e nos programas
    dos diversos Governos Constitucionais (2002-2012).
Da Cidadania à Saúde
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA COMO PRIVILÉGIO

Esparta – elite de Cidadãos (Espartíatas)

•   leais à defesa da sua cidade;

•   com obrigações civis (cumprimento da lei e participação da Assembleia);

•   participação no processo de governo (Conselho de Anciãos e Assembleia);



“A existência de uma classe cidadã devia arrancar desde condições de igualdade básica, e
aos Cidadãos era exigido um agudizado sentido de obrigação cívica, além do dever de
participar nos assuntos políticos do Estado e estarem preparados para defenderem o seu
país.” 1


                                    1.   Heater, D. (2007) Ciudadanía: una breve historia. Madrid, Alianza Editorial. pp.31
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA E A HARMONIA CIVIL

Platão

Instauração de uma sociedade estável e harmonizada na qual a amizade e a confiança
ocupavam um lugar de relevo nas relações entre Cidadãos.



As virtudes que Platão desejava cultivar não eram as indispensáveis para triunfar na
guerra, mas sim aquelas que perseguiam a harmonia civil.



São Cidadãos exemplares aqueles que tratam com deferência o sistema sociopolítico,
respeitam as leis e exercem o autocontrolo, qualidades incutidas nas escolas públicas.
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA ATIVA

Aristóteles

•   Naturalidade da vida cívica

•   Denominador comum de Cidadania

•   Virtude Cívica



“O homem é por definição um animal político; por isso, ainda quando não necessitem da
ajuda mútua dos homens, pelo menos procuram (por natureza) a convivência.”



           Bom Cidadão = autocontrolo + justiça + valor (patriotismo) + sabedoria
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA (DES)IGUAL

Atenas

•   Igualdade de participação na Assembleia; seleção por sorteio

•   Liberdade de pensamento, expressão e de ação

•   Participação no desenvolvimento e implementação das medidas políticas aprovadas
    por decisão popular



Não poderia existir uma Cidadania democrática sem que existisse liberdade para
expressar opiniões e participar no desenvolvimento e implementação das medidas
políticas aprovadas por decisão popular.

Apesar dos princípios de igualdade e de oportunidade política se aplicarem aos Cidadãos,
nem todos eram iguais e existia uma divisão por idade e por sexo.
Da Cidadania à Saúde
EM ROMA… SÊ ROMANO

Ser Cidadão romano implicava…

•   Obrigações: serviço militar e pagamento de impostos

•   Direitos: vida privada, pública e política)

       Eleger membros das Assembleias e candidatos; ter um assento na Assembleia;
                             converter-se em magistrado.



Foi com o Império que se avançou com a ideia de expansão geográfica de um estatuto de
Cidadania: aumento do número de cidadãos; crescimento do censo eleitoral; direito de
Cidadania a todos os habitantes livres do Império.
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA EM TRANSFORMAÇÃO

Idade Média

•   Cidadania e a Religião (Cristianismo);

•   Cidadania clássica ressuscitada;

•   Cidadania como um privilégio numa cidade ou povoação.



Santo Tomás de Aquino - Cristianismo e Cidadania; reconhece em Aristóteles
importância na conceção do modelo cristão do universo.

Marsílio de Pádua - sistema de representação com o objetivo de legislar, em que os
cargos públicos executivo e judiciais deviam submeter-se a um processo eleitoral.

Bartolo - requisitos necessários para Cidadania; primeira distinção entre a Cidadania por
nascimento e a concedida legalmente.
Da Cidadania à Saúde
A CIDADANIA NA ERA DAS REVOLUÇÕES

Início do século XVII – desenvolvimento de colónias britânicas nos EUA; Cidadania
relacionada com participação cívica no serviço comunitário.

Século XVIII e final do século XX - duas linhas de pensamento sobre Cidadania
(republicana e liberal).

•   Revolução americana e francesa do século XVIII:
    •   De uma série de deveres políticos (patriotismo, lealdade, obediência)
    •   Para um grupo de direitos políticos com definição de condição Cidadã (emancipação política
        e compromisso ativo com a vida pública)
Da Cidadania à Saúde
DA CIDADANIA POLÍTICA AOS DIREITOS SOCIAIS


Século XIX: Cidadania passa a definir-se pela posse de direitos e liberdades civis.

   •   1848 - Sufrágio Universal (exercício de soberania de todos os habitantes de uma
       nação);
   •   1875 – Constituição – voto sem restrições
   •   1870-1880 - Sufrágio Universal identificava-se com a República; mas a República
       situava-se por cima do Sufrágio Universal
   •   Fim de século - educação, a associação e greve, bem como a proteção social
       assumem maior importância
Da Cidadania à Saúde
DA CIDADANIA SOCIAL À ASSISTÊNCIA


                             • Necessários para a liberdade individual: liberdade da pessoa, de
                               expressão, de pensamento e religião, direito à propriedade e à
        Direitos Civis         justiça.
                             • Século XVIII –Tribunais Justiça

                             • Direito a participar no exercício do poder político como
                               membro de um corpo investido de autoridade política ou como
    Direitos Políticos         eleitor dos seus membros.
                             • Século XIX – Parlamento, Governo Local.

                             • Direito à segurança, um mínimo de bem-estar económico,
                               partilhar plenamente a herança social e viver a vida de um ser
      Direitos Sociais         civilizado conforme os padrões da sociedade.
                             • Século XX – sistema educativo, serviços sociais.
Da Cidadania à Saúde
Em Saúde, o tema da Cidadania assume particular destaque após 1978.

“Direito e dever das populações em participar individual e coletivamente no
planeamento e prestação dos seus cuidados de Saúde.” (WHO e Unicef, 1978)



Princípios do conceito de Cidadania em Saúde:

•   Literacia, capacitação e empowerment;

•   Humanização

•   O combate ao desperdício.



As reformas em Saúde devem visar o desenvolvimento de formação, educação e reforço
da confiança do Cidadão nas suas capacidades.
Do Estado Providência ao Direito à Saúde
Do Estado Providência ao direito à Saúde
O Estado Providência surge no final da I Guerra Mundial para:
•   Superar as desigualdades sociais provocadas pelo Estado Liberal;
•   Com premissas principais na questão da igualdade como determinante do conceito de
    justiça social.


A evolução data do final do século XIX e encontra-se ligada os conceitos de:
•   Liberdade;
•   Propriedade;
•   Segurança;
•   Igualdade.
Conceitos na base do liberalismo, em conjunto com a ideia de que todas as relações
laborais se deviam regular através de um contrato social.
Seguro de Saúde           Seguro de acidentes (1884)    Seguro de velhice/invalidez
                                  (1883)

Beneficiários           Trabalhadores                  Trabalhadores                 Trabalhadores, empregados
                                                                                     com 2.000 marcos per capita

Benefícios              Tratamento médico gratuito,    Custos do tratamento          Pensões de invalidez no caso
                        subsídio de doença em caso     médico; subsídio em caso de   de incapacidade permanente
                        de incapacidade para o         incapacidade temporária;      ou de duração maior que um
                        trabalho até ½ do salário      pensões em caso de            ano; pensões de velhice
                                                       incapacidade temporária       depois dos 70 anos

Duração                 Subsídio de doença pago        Tratamento médico e pensões   Pensões de invalidez: cinco
                        durante 13 semanas (26 a       durante 14 semanas            anos de contribuição como
                        partir de 1913)                                              período de espera; pensão de
                                                                                     velhice: 20 anos de
                                                                                     contribuições
Contribuintes           2/3 pelo segurado e 1/3 (ou    Empregadores                  Metade pelo trabalho e outra
                        mais) pela entidade patronal                                 metade pelo patrão;
                                                                                     contribuição do estado de 50
                                                                                     marcos (por pensão per
                                                                                     capita)
Instituições de Apoio   Fundamentalmente: fundos       Associações patronais         Instituições públicas,
                        de seguros locais ou           subdivididas por sectores     regionais, de seguros
                        autoadministrados              industriais
Do Estado Providência ao direito à Saúde
1942 - Relatório de Beveridge - Saúde como uma condição necessária para criação de
sistema viável de segurança social na Grã-Bretanha.

1944 - publicação do Livro Branco (equidade e gratuitidade aos cuidados de Saúde)

1948 – Criação do National Health Service, com base em cinco aspetos fundamentais:

   (1)   Gratuitidade dos serviços de Saúde prestados ao Cidadão;

   (2)   Promoção da Saúde em que o Estado é o principal responsável;

   (3)   Universalidade;

   (4)   Igualdade na qualidade dos serviços prestados à população;

   (5)   Autonomia clínica.
Do Estado Providência ao direito à Saúde
DA GRATUITIDADE PARA O TENDENCIALMENTE GRATUITO

•   O igual acesso aos cuidados de Saúde em que a garantia de financiamento pesava
    unicamente nas contas do Estado (gratuitidade) deu-se em 1979 com a criação do SNS.
    (Lei nº56/79, de 15 de Setembro)

•   Na II Revisão Constitucional (1989) a gratuitidade do acesso ao SNS prevista foi
    alterada passando a “tendencialmente gratuito” (Constituição da República
    Portuguesa, 2005, artigo 64º).
O Cidadão no centro da mudança
O Cidadão no centro da mudança
REFORMAR PARA MELHORAR

•   Uma reforma implica necessariamente uma alteração, uma mudança do status quo,
    visando, pelo menos teoricamente, uma melhoria.



Principais dificuldades no setor da Saúde:

•   Acesso aos cuidados de Saúde;

•   Qualidade dos cuidados;

•   Ineficiência;

•   Crescimento da despesa.
O Cidadão no centro da mudança
Políticas de Saúde (2002 a 2012) :

(1) 2002-2005: Reforma Estrutural da Saúde. Etapa assente na ideia                 de
complementaridade entre o setor público, setor social e o setor privado.

(2) 2005-2011: criação das Unidades de Saúde Familiares (USF), novo estatuto legal
hospitalar.

(3) Desde 2011: memorando de entendimento; corte na despesas, redução de custos.
O Cidadão no centro da mudança
2002
Luís Filipe Pereira é empossado ministro da Saúde no XV Governo Constitucional e
encontra um SNS fragilizado, que necessitava urgentemente de uma reforma estrutural.
Problemas: ineficiência, ineficácia         e   ausência    de    responsabilização   na
(in)sustentabilidade do SNS.
Em 2002 Portugal era um dos países europeus com uma maior despesa relativa em
Saúde, mas:
•   elevada manifestação de insatisfação dos utentes
•   um dos mais baixos índices de satisfação da União Europeia.


Luís Filipe Pereira deu então início à reforma estrutural da Saúde com a finalidade de
reformar o sistema de Saúde em Portugal colocando o Cidadão como referencial último
de atuação e facultando à população cuidados de Saúde de qualidade, em tempo útil,
com eficácia e humanidade.
O Cidadão no centro da mudança
Programas do XV e XVI Governos Constitucionais

Algumas medidas tomadas de 2002 a 2005:

•   Lei da Gestão Hospitalar (criação dos hospitais SA e SPA);

•   Empresarialização de 34 hospitais em 31 hospitais SA;

•   Reestruturação de hospitais universitário;

•   Reorganização das urgências;

•   Adoção de um novo modelo de parcerias público-privadas (desenvolvimento de novas
    unidades hospitalares com regime de parcerias público-privadas).

•   Criação das redes nacionais de cuidados primários e cuidados continuados, Programa
    de Combate às Listas de Espera Cirúrgica, Sistema Integrado de Gestão dos Inscritos.

As estratégias usadas para a reforma estrutural da Saúde incidiram numa influência do
modelo de New Public Management e na criação da Entidade Reguladora da Saúde.
O Cidadão no centro da mudança
2005-2011

XVII e XVIII Governos Constitucionais

António Correia de Campos (ministro da Saúde 2005-2008) e Ana Jorge (2008-2011)



Três objetivos centrais (Programa do XVII Governo Constitucional):

•   criação de unidades de Saúde familiares,

•   criação da rede de cuidados continuados integrados

•   assegurar as boas contas no SNS.
O Cidadão no centro da mudança
Programa do XVIII Governo Constitucional

Aponta como principal pilar do sistema de Saúde a concretização de uma política de
Saúde centrada no Cidadão e orientada para mais e melhor Saúde.

Propôs como principais medidas: consolidação da reforma dos cuidados de Saúde
primários, antecipação do prazo para a concretização da rede nacional de cuidados
continuados integrados e a forte dinamização da promoção de Saúde.

Destaque para quatro medidas de âmbito social:

•   Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral; Saúde Mental; Saúde Sexual e
    Reprodutiva da Mulher e a Proteção contra o Fumo do Tabaco

…e três sobre sustentabilidade do SNS:

•   Política do Medicamento, Taxas Moderadoras, Reorganização das Maternidades,
    urgências e serviços de atendimento permanente.
O Cidadão no centro da mudança
PLANO NACIONAL DE SAÚDE 2004-2010



A participação do Cidadão no sector da Saúde apresenta-se como importante orientação
estratégica:

•   aumentar o acesso a informação validada e isenta;

•   aumentar a liberdade de escolha no acesso aos cuidados de Saúde;

•   encorajar experiências múltiplas de empoderamento do Cidadão vis-à-vis com o sector
    da Saúde;

•   dar voz à Cidadania através de organizações da sociedade civil;

•   desenvolver estratégias de atenção particular aos socialmente excluídos;

•   desenvolver estratégias que promovam a redução das desigualdades em Saúde.
O Cidadão no centro da mudança
MEMORANDO DE ENTENDIMENTO

As propostas do ME visaram: racionalização da oferta, retirada de rendas de privilégio,
concorrência entre prestadores tendo em vista a eficiência, a eliminação da ineficiência
de trabalho, redução das redundâncias entre subsistemas e o setor público hospitalar.

Objetivos:

•   aumentar a eficiência e a eficácia do sistema nacional de Saúde;

•   gerar poupanças adicionais na área dos medicamentos para reduzir a despesa pública
    com medicamentos;

•   gerar poupanças adicionais nos custos operacionais dos hospitais.

Medidas prioritárias - financiamento do SNS, definição de preços e comparticipação de
medicamentos, prescrição e monitorização da prescrição, setor farmacêutico, compras e
aprovisionamento centralizado, cuidados de Saúde primários, serviços hospitalares, e
serviços transversais.
O Cidadão no centro da mudança
PROGRAMA DO XIX GOVERNO CONSTITUCIONAL
Limitações impostas pelo ME são essenciais para cumprimento do Programa do Governo:
•   revisão das taxas moderadoras
•   implementação de serviços partilhados,
•   necessidade da mobilidade dos recursos humanos
•   reforma hospitalar
•   prescrição pela substância ativa dos medicamentos (DCI)
•   alteração dos preços de referência,
•   as aquisições centralizadas de medicamentos e dispositivos médicos
•   combate contra a fraude
•   contratualização das convenções de meios complementares de diagnóstico e de
    terapêutica
O Cidadão no centro da mudança
O Programa do XIX Governo Constitucional prevê medidas relacionadas com a
participação do Cidadão na Saúde e sublinha que o Cidadão deve ser um protagonista
ativo no exercício do seu direito a cuidados de Saúde através do reforço do exercício de
liberdade de escolha.

Mas…

É patente o desaparecimento do Cidadão enquanto centro do sistema e alvo das
reformas do SNS.

Pois…

As medidas implementadas têm incidido na limitação e redução de custos, na
reorganização dos hospitais através da discussão da reforma hospitalar, concentração dos
serviços, constante negociação com o setor farmacêutico para pagamento da dívida dos
medicamentos.
O Cidadão no centro da mudança
Relatório de Primavera 2012 - Crise & Saúde: um país em sofrimento

•   Conclui que as medidas da troika estão a limitar o acesso aos cuidados de Saúde.

•   Alerta que as medidas aplicadas em tão curto espaço de tempo e sem se olhar para os
    seus efeitos criam dificuldades no acesso dos Cidadãos aos cuidados de Saúde.

•   Sublinha a existência de indícios de situações de racionamento implícito nos serviços
    públicos de Saúde.

•   Alerta que os processos de cuidados, Cidadania e literacia, não parecem estar na
    agenda do Ministério da Saúde.

•   Destaca pela negativa a atividade dos gabinetes do Cidadão e dos conselhos da
    comunidade, bem como dos dispositivos de apoio local.
Conclusão
Conclusão
A conquista de direitos dos Cidadãos tem sido um esforço contínuo.

Cidadania em Saúde é um conceito recente e pouco trabalhado pelos investigadores, o
que torna difícil a sua avaliação mais ou menos objetiva.

O ónus de Cidadania em Saúde colocado no conceito de empowerment não garante
resultados diretos. A participação do Cidadão na sua Saúde, quer a nível macro ou de
tomada de decisão, é complexa e difícil de avaliar

O Cidadão faz exigências dos seus direitos, mas esquece-se dos seus deveres para com a
sociedade em que está inserido.

Apesar do Cidadão ser um protegido do SNS no direito à proteção da Saúde, as medidas
implementadas manifestaram mais interesse nas questões económica e sustentável.
Conclusão
Alguns objetivos estratégicos presentes nos Programas dos diferentes Governos
Constitucionais desde 2002 até 2012 visam a Cidadania em Saúde, bem como algumas
das medidas que entretanto foram implementadas neste período.

Mas…

Se numa balança colocarmos de um lado a Cidadania em Saúde e do outro a
Sustentabilidade, este último pesa mais.

Inquestionável:

•   A atenção dada à melhoria da acessibilidade aos cuidados de Saúde primários;

•   A vontade de melhorar a amplitude da Rede Nacional de Cuidados Continuados
    Integrados;

•   A criação dos diversos programas nacionais inseridos nos Planos Nacionais de Saúde
    por terem visarem a promoção da saúde e prevenção da doença.
Conclusão
O Cidadão parece ter desaparecido do Programa do XIX Governo Constitucional quando
se analisam os objetivos estratégicos para o setor da Saúde.

O Relatório de Primavera de 2012 do OPSS foi bastante crítico relativamente às medidas
implementadas e espelho disso é o título escolhido para este estudo: Crise & Saúde: um
país em sofrimento.

O Sistema de Saúde português encontra-se ainda fortemente autocentrado e o Cidadão
não se revê na forma como as medidas reformadoras são decididas e implementadas.
Sugestão
O que fazer para mudar este panorama?

•   Maior ligação à comunidade

•   Desenvolvimento de programas de promoção de Saúde

•   Criação de entidade que capacite associações de doentes e que seja um elo entre a
    Saúde e o Cidadão.
Obrigada!

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A Cidadania e o Serviço Nacional de Saúde

  • 1. A Cidadania e o Serviço Nacional de Saúde DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS Liliana de Almeida
  • 2. Índice • Introdução • Da Cidadania à Saúde • Do Estado Providência ao direito à Saúde • O Cidadão no centro da mudança • Conclusão
  • 3. Introdução Este trabalho: • Avalia o desenvolvimento da Cidadania até à Cidadania em Saúde; • Explora o conceito de Cidadania em Saúde integrado no Serviço Nacional de Saúde (SNS); • Analisa a Cidadania em Saúde nas medidas reformadoras em Saúde e nos programas dos diversos Governos Constitucionais (2002-2012).
  • 5. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA COMO PRIVILÉGIO Esparta – elite de Cidadãos (Espartíatas) • leais à defesa da sua cidade; • com obrigações civis (cumprimento da lei e participação da Assembleia); • participação no processo de governo (Conselho de Anciãos e Assembleia); “A existência de uma classe cidadã devia arrancar desde condições de igualdade básica, e aos Cidadãos era exigido um agudizado sentido de obrigação cívica, além do dever de participar nos assuntos políticos do Estado e estarem preparados para defenderem o seu país.” 1 1. Heater, D. (2007) Ciudadanía: una breve historia. Madrid, Alianza Editorial. pp.31
  • 6. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA E A HARMONIA CIVIL Platão Instauração de uma sociedade estável e harmonizada na qual a amizade e a confiança ocupavam um lugar de relevo nas relações entre Cidadãos. As virtudes que Platão desejava cultivar não eram as indispensáveis para triunfar na guerra, mas sim aquelas que perseguiam a harmonia civil. São Cidadãos exemplares aqueles que tratam com deferência o sistema sociopolítico, respeitam as leis e exercem o autocontrolo, qualidades incutidas nas escolas públicas.
  • 7. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA ATIVA Aristóteles • Naturalidade da vida cívica • Denominador comum de Cidadania • Virtude Cívica “O homem é por definição um animal político; por isso, ainda quando não necessitem da ajuda mútua dos homens, pelo menos procuram (por natureza) a convivência.” Bom Cidadão = autocontrolo + justiça + valor (patriotismo) + sabedoria
  • 8. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA (DES)IGUAL Atenas • Igualdade de participação na Assembleia; seleção por sorteio • Liberdade de pensamento, expressão e de ação • Participação no desenvolvimento e implementação das medidas políticas aprovadas por decisão popular Não poderia existir uma Cidadania democrática sem que existisse liberdade para expressar opiniões e participar no desenvolvimento e implementação das medidas políticas aprovadas por decisão popular. Apesar dos princípios de igualdade e de oportunidade política se aplicarem aos Cidadãos, nem todos eram iguais e existia uma divisão por idade e por sexo.
  • 9. Da Cidadania à Saúde EM ROMA… SÊ ROMANO Ser Cidadão romano implicava… • Obrigações: serviço militar e pagamento de impostos • Direitos: vida privada, pública e política) Eleger membros das Assembleias e candidatos; ter um assento na Assembleia; converter-se em magistrado. Foi com o Império que se avançou com a ideia de expansão geográfica de um estatuto de Cidadania: aumento do número de cidadãos; crescimento do censo eleitoral; direito de Cidadania a todos os habitantes livres do Império.
  • 10. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA EM TRANSFORMAÇÃO Idade Média • Cidadania e a Religião (Cristianismo); • Cidadania clássica ressuscitada; • Cidadania como um privilégio numa cidade ou povoação. Santo Tomás de Aquino - Cristianismo e Cidadania; reconhece em Aristóteles importância na conceção do modelo cristão do universo. Marsílio de Pádua - sistema de representação com o objetivo de legislar, em que os cargos públicos executivo e judiciais deviam submeter-se a um processo eleitoral. Bartolo - requisitos necessários para Cidadania; primeira distinção entre a Cidadania por nascimento e a concedida legalmente.
  • 11. Da Cidadania à Saúde A CIDADANIA NA ERA DAS REVOLUÇÕES Início do século XVII – desenvolvimento de colónias britânicas nos EUA; Cidadania relacionada com participação cívica no serviço comunitário. Século XVIII e final do século XX - duas linhas de pensamento sobre Cidadania (republicana e liberal). • Revolução americana e francesa do século XVIII: • De uma série de deveres políticos (patriotismo, lealdade, obediência) • Para um grupo de direitos políticos com definição de condição Cidadã (emancipação política e compromisso ativo com a vida pública)
  • 12. Da Cidadania à Saúde DA CIDADANIA POLÍTICA AOS DIREITOS SOCIAIS Século XIX: Cidadania passa a definir-se pela posse de direitos e liberdades civis. • 1848 - Sufrágio Universal (exercício de soberania de todos os habitantes de uma nação); • 1875 – Constituição – voto sem restrições • 1870-1880 - Sufrágio Universal identificava-se com a República; mas a República situava-se por cima do Sufrágio Universal • Fim de século - educação, a associação e greve, bem como a proteção social assumem maior importância
  • 13. Da Cidadania à Saúde DA CIDADANIA SOCIAL À ASSISTÊNCIA • Necessários para a liberdade individual: liberdade da pessoa, de expressão, de pensamento e religião, direito à propriedade e à Direitos Civis justiça. • Século XVIII –Tribunais Justiça • Direito a participar no exercício do poder político como membro de um corpo investido de autoridade política ou como Direitos Políticos eleitor dos seus membros. • Século XIX – Parlamento, Governo Local. • Direito à segurança, um mínimo de bem-estar económico, partilhar plenamente a herança social e viver a vida de um ser Direitos Sociais civilizado conforme os padrões da sociedade. • Século XX – sistema educativo, serviços sociais.
  • 14. Da Cidadania à Saúde Em Saúde, o tema da Cidadania assume particular destaque após 1978. “Direito e dever das populações em participar individual e coletivamente no planeamento e prestação dos seus cuidados de Saúde.” (WHO e Unicef, 1978) Princípios do conceito de Cidadania em Saúde: • Literacia, capacitação e empowerment; • Humanização • O combate ao desperdício. As reformas em Saúde devem visar o desenvolvimento de formação, educação e reforço da confiança do Cidadão nas suas capacidades.
  • 15. Do Estado Providência ao Direito à Saúde
  • 16. Do Estado Providência ao direito à Saúde O Estado Providência surge no final da I Guerra Mundial para: • Superar as desigualdades sociais provocadas pelo Estado Liberal; • Com premissas principais na questão da igualdade como determinante do conceito de justiça social. A evolução data do final do século XIX e encontra-se ligada os conceitos de: • Liberdade; • Propriedade; • Segurança; • Igualdade. Conceitos na base do liberalismo, em conjunto com a ideia de que todas as relações laborais se deviam regular através de um contrato social.
  • 17. Seguro de Saúde Seguro de acidentes (1884) Seguro de velhice/invalidez (1883) Beneficiários Trabalhadores Trabalhadores Trabalhadores, empregados com 2.000 marcos per capita Benefícios Tratamento médico gratuito, Custos do tratamento Pensões de invalidez no caso subsídio de doença em caso médico; subsídio em caso de de incapacidade permanente de incapacidade para o incapacidade temporária; ou de duração maior que um trabalho até ½ do salário pensões em caso de ano; pensões de velhice incapacidade temporária depois dos 70 anos Duração Subsídio de doença pago Tratamento médico e pensões Pensões de invalidez: cinco durante 13 semanas (26 a durante 14 semanas anos de contribuição como partir de 1913) período de espera; pensão de velhice: 20 anos de contribuições Contribuintes 2/3 pelo segurado e 1/3 (ou Empregadores Metade pelo trabalho e outra mais) pela entidade patronal metade pelo patrão; contribuição do estado de 50 marcos (por pensão per capita) Instituições de Apoio Fundamentalmente: fundos Associações patronais Instituições públicas, de seguros locais ou subdivididas por sectores regionais, de seguros autoadministrados industriais
  • 18. Do Estado Providência ao direito à Saúde 1942 - Relatório de Beveridge - Saúde como uma condição necessária para criação de sistema viável de segurança social na Grã-Bretanha. 1944 - publicação do Livro Branco (equidade e gratuitidade aos cuidados de Saúde) 1948 – Criação do National Health Service, com base em cinco aspetos fundamentais: (1) Gratuitidade dos serviços de Saúde prestados ao Cidadão; (2) Promoção da Saúde em que o Estado é o principal responsável; (3) Universalidade; (4) Igualdade na qualidade dos serviços prestados à população; (5) Autonomia clínica.
  • 19. Do Estado Providência ao direito à Saúde DA GRATUITIDADE PARA O TENDENCIALMENTE GRATUITO • O igual acesso aos cuidados de Saúde em que a garantia de financiamento pesava unicamente nas contas do Estado (gratuitidade) deu-se em 1979 com a criação do SNS. (Lei nº56/79, de 15 de Setembro) • Na II Revisão Constitucional (1989) a gratuitidade do acesso ao SNS prevista foi alterada passando a “tendencialmente gratuito” (Constituição da República Portuguesa, 2005, artigo 64º).
  • 20. O Cidadão no centro da mudança
  • 21. O Cidadão no centro da mudança REFORMAR PARA MELHORAR • Uma reforma implica necessariamente uma alteração, uma mudança do status quo, visando, pelo menos teoricamente, uma melhoria. Principais dificuldades no setor da Saúde: • Acesso aos cuidados de Saúde; • Qualidade dos cuidados; • Ineficiência; • Crescimento da despesa.
  • 22. O Cidadão no centro da mudança Políticas de Saúde (2002 a 2012) : (1) 2002-2005: Reforma Estrutural da Saúde. Etapa assente na ideia de complementaridade entre o setor público, setor social e o setor privado. (2) 2005-2011: criação das Unidades de Saúde Familiares (USF), novo estatuto legal hospitalar. (3) Desde 2011: memorando de entendimento; corte na despesas, redução de custos.
  • 23. O Cidadão no centro da mudança 2002 Luís Filipe Pereira é empossado ministro da Saúde no XV Governo Constitucional e encontra um SNS fragilizado, que necessitava urgentemente de uma reforma estrutural. Problemas: ineficiência, ineficácia e ausência de responsabilização na (in)sustentabilidade do SNS. Em 2002 Portugal era um dos países europeus com uma maior despesa relativa em Saúde, mas: • elevada manifestação de insatisfação dos utentes • um dos mais baixos índices de satisfação da União Europeia. Luís Filipe Pereira deu então início à reforma estrutural da Saúde com a finalidade de reformar o sistema de Saúde em Portugal colocando o Cidadão como referencial último de atuação e facultando à população cuidados de Saúde de qualidade, em tempo útil, com eficácia e humanidade.
  • 24. O Cidadão no centro da mudança Programas do XV e XVI Governos Constitucionais Algumas medidas tomadas de 2002 a 2005: • Lei da Gestão Hospitalar (criação dos hospitais SA e SPA); • Empresarialização de 34 hospitais em 31 hospitais SA; • Reestruturação de hospitais universitário; • Reorganização das urgências; • Adoção de um novo modelo de parcerias público-privadas (desenvolvimento de novas unidades hospitalares com regime de parcerias público-privadas). • Criação das redes nacionais de cuidados primários e cuidados continuados, Programa de Combate às Listas de Espera Cirúrgica, Sistema Integrado de Gestão dos Inscritos. As estratégias usadas para a reforma estrutural da Saúde incidiram numa influência do modelo de New Public Management e na criação da Entidade Reguladora da Saúde.
  • 25. O Cidadão no centro da mudança 2005-2011 XVII e XVIII Governos Constitucionais António Correia de Campos (ministro da Saúde 2005-2008) e Ana Jorge (2008-2011) Três objetivos centrais (Programa do XVII Governo Constitucional): • criação de unidades de Saúde familiares, • criação da rede de cuidados continuados integrados • assegurar as boas contas no SNS.
  • 26. O Cidadão no centro da mudança Programa do XVIII Governo Constitucional Aponta como principal pilar do sistema de Saúde a concretização de uma política de Saúde centrada no Cidadão e orientada para mais e melhor Saúde. Propôs como principais medidas: consolidação da reforma dos cuidados de Saúde primários, antecipação do prazo para a concretização da rede nacional de cuidados continuados integrados e a forte dinamização da promoção de Saúde. Destaque para quatro medidas de âmbito social: • Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral; Saúde Mental; Saúde Sexual e Reprodutiva da Mulher e a Proteção contra o Fumo do Tabaco …e três sobre sustentabilidade do SNS: • Política do Medicamento, Taxas Moderadoras, Reorganização das Maternidades, urgências e serviços de atendimento permanente.
  • 27. O Cidadão no centro da mudança PLANO NACIONAL DE SAÚDE 2004-2010 A participação do Cidadão no sector da Saúde apresenta-se como importante orientação estratégica: • aumentar o acesso a informação validada e isenta; • aumentar a liberdade de escolha no acesso aos cuidados de Saúde; • encorajar experiências múltiplas de empoderamento do Cidadão vis-à-vis com o sector da Saúde; • dar voz à Cidadania através de organizações da sociedade civil; • desenvolver estratégias de atenção particular aos socialmente excluídos; • desenvolver estratégias que promovam a redução das desigualdades em Saúde.
  • 28. O Cidadão no centro da mudança MEMORANDO DE ENTENDIMENTO As propostas do ME visaram: racionalização da oferta, retirada de rendas de privilégio, concorrência entre prestadores tendo em vista a eficiência, a eliminação da ineficiência de trabalho, redução das redundâncias entre subsistemas e o setor público hospitalar. Objetivos: • aumentar a eficiência e a eficácia do sistema nacional de Saúde; • gerar poupanças adicionais na área dos medicamentos para reduzir a despesa pública com medicamentos; • gerar poupanças adicionais nos custos operacionais dos hospitais. Medidas prioritárias - financiamento do SNS, definição de preços e comparticipação de medicamentos, prescrição e monitorização da prescrição, setor farmacêutico, compras e aprovisionamento centralizado, cuidados de Saúde primários, serviços hospitalares, e serviços transversais.
  • 29. O Cidadão no centro da mudança PROGRAMA DO XIX GOVERNO CONSTITUCIONAL Limitações impostas pelo ME são essenciais para cumprimento do Programa do Governo: • revisão das taxas moderadoras • implementação de serviços partilhados, • necessidade da mobilidade dos recursos humanos • reforma hospitalar • prescrição pela substância ativa dos medicamentos (DCI) • alteração dos preços de referência, • as aquisições centralizadas de medicamentos e dispositivos médicos • combate contra a fraude • contratualização das convenções de meios complementares de diagnóstico e de terapêutica
  • 30. O Cidadão no centro da mudança O Programa do XIX Governo Constitucional prevê medidas relacionadas com a participação do Cidadão na Saúde e sublinha que o Cidadão deve ser um protagonista ativo no exercício do seu direito a cuidados de Saúde através do reforço do exercício de liberdade de escolha. Mas… É patente o desaparecimento do Cidadão enquanto centro do sistema e alvo das reformas do SNS. Pois… As medidas implementadas têm incidido na limitação e redução de custos, na reorganização dos hospitais através da discussão da reforma hospitalar, concentração dos serviços, constante negociação com o setor farmacêutico para pagamento da dívida dos medicamentos.
  • 31. O Cidadão no centro da mudança Relatório de Primavera 2012 - Crise & Saúde: um país em sofrimento • Conclui que as medidas da troika estão a limitar o acesso aos cuidados de Saúde. • Alerta que as medidas aplicadas em tão curto espaço de tempo e sem se olhar para os seus efeitos criam dificuldades no acesso dos Cidadãos aos cuidados de Saúde. • Sublinha a existência de indícios de situações de racionamento implícito nos serviços públicos de Saúde. • Alerta que os processos de cuidados, Cidadania e literacia, não parecem estar na agenda do Ministério da Saúde. • Destaca pela negativa a atividade dos gabinetes do Cidadão e dos conselhos da comunidade, bem como dos dispositivos de apoio local.
  • 33. Conclusão A conquista de direitos dos Cidadãos tem sido um esforço contínuo. Cidadania em Saúde é um conceito recente e pouco trabalhado pelos investigadores, o que torna difícil a sua avaliação mais ou menos objetiva. O ónus de Cidadania em Saúde colocado no conceito de empowerment não garante resultados diretos. A participação do Cidadão na sua Saúde, quer a nível macro ou de tomada de decisão, é complexa e difícil de avaliar O Cidadão faz exigências dos seus direitos, mas esquece-se dos seus deveres para com a sociedade em que está inserido. Apesar do Cidadão ser um protegido do SNS no direito à proteção da Saúde, as medidas implementadas manifestaram mais interesse nas questões económica e sustentável.
  • 34. Conclusão Alguns objetivos estratégicos presentes nos Programas dos diferentes Governos Constitucionais desde 2002 até 2012 visam a Cidadania em Saúde, bem como algumas das medidas que entretanto foram implementadas neste período. Mas… Se numa balança colocarmos de um lado a Cidadania em Saúde e do outro a Sustentabilidade, este último pesa mais. Inquestionável: • A atenção dada à melhoria da acessibilidade aos cuidados de Saúde primários; • A vontade de melhorar a amplitude da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados; • A criação dos diversos programas nacionais inseridos nos Planos Nacionais de Saúde por terem visarem a promoção da saúde e prevenção da doença.
  • 35. Conclusão O Cidadão parece ter desaparecido do Programa do XIX Governo Constitucional quando se analisam os objetivos estratégicos para o setor da Saúde. O Relatório de Primavera de 2012 do OPSS foi bastante crítico relativamente às medidas implementadas e espelho disso é o título escolhido para este estudo: Crise & Saúde: um país em sofrimento. O Sistema de Saúde português encontra-se ainda fortemente autocentrado e o Cidadão não se revê na forma como as medidas reformadoras são decididas e implementadas.
  • 36. Sugestão O que fazer para mudar este panorama? • Maior ligação à comunidade • Desenvolvimento de programas de promoção de Saúde • Criação de entidade que capacite associações de doentes e que seja um elo entre a Saúde e o Cidadão.