Este documento apresenta um sumário de um livro sobre Serviço Social que inclui informações sobre:
1) Estágio supervisionado e intervenção em Serviço Social;
2) Planejamento de intervenções sociais, administração no Serviço Social e gestão social;
3) Políticas, planos, programas, projetos sociais e papel do gestor social;
4) Tratamento de informações e indicadores sociais.
1. Educação
sem fronteiras
SERVIÇO
SOCIAL
Autores
Carmen Ferreira Barbosa
Edilene Maria de Oliveira Araújo
Edilene Xavier Rocha Garcia
Eloísa Castro Berro
Maria Massae Sakate
Silvia Regina da Silva Costa
6
www.interativa.uniderp.br
www.unianhanguera.edu.br
Anhanguera Publicações
Valinhos/SP, 2009
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3. Nossa Missão, Nossos Valores
_______________________________
A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino-
vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de
Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação
dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho.
A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre
preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis-
tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor
relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições
de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores
da Anhanguera.
Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es-
tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos
espalhados por todo o Brasil.
Boa aprendizagem e bons estudos!
Prof. Antonio Carbonari Netto
Presidente — Anhanguera Educacional
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4. .
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5. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico
Apresentação
____________________
A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no
desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos,
arrojados, pluralistas, democráticos.
Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par-
ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou
para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a
qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi-
tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social.
Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um
desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida-
des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a
Distância.
Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei-
ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o
acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída.
O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp
Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci-
dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados
em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação
continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias
dinâmicas e inovadoras.
Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da
Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re-
flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro-
Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza
a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado
e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua
aprendizagem.
É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de
formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos,
preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade.
Prof. Guilherme Marback Neto
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7. Autores
____________________
CARMEN FERREIRA BARBOSA
Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
Mato Grosso – FUCMT – 1984
Especialização: Saúde da Família – Universidade Federal de MS – UFMS – 2003
Especialização: Metodologia de Ensino Superior – FUCMAT – 1992
Mestrado: Serviço Social – Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica
Dom Bosco/UCDB – 2002
EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO
Graduação:Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
Mato Grosso – FUCMT – 1986
Pós-graduação Latu sensu: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ – 2002
Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores de em Educação de Jovens e Adultos –
Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003
Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing e Comércio Exterior – UCDB – 1998
EDILENE XAVIER ROCHA GARCIA
Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
Mato Grosso – FUCMT – 1988
Especialização: Gestão de Políticas Sócias – UNIDERP – 2003
Mestrado: Desenvolvimento Local – Universidade Unidas Católicas – UCDB
MS – 2007
ELOÍSA CASTRO BERRO
Graduação: Serviço Social – Faculdades Integradas de Marília – 1984
Especialização: Planejamento e Serviço Social – Faculdades Unidas Católica de
Mato Grosso – FUCMT – 1998
Especialização: Metodologia de Ação do Serviço Social - Faculdades
Unidas Católica de
Mato Grosso – FUCMT – 1983
Mestrado: Serviço Social - Universidade Estadual Paulista/UNESP e Universidade Católica Dom
Bosco/UCDB – 2002
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8. MARIA MASSAE SAKATE
Graduação: Matemática – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS,
Campo Grande, MS – 1992
Especialização: Informática na Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS, Campo Grande, MS – 1998
Mestrado: Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS,
Campo Grande, MS – 2003
SILVIA REGINA DA SILVA COSTA
Graduação: Serviço Social – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 2001
Especialização em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescentes – Universidade de São
Paulo – USP – 2004
Especialização: Políticas Sociais com Ênfase no Território e na Família – Universidade
Católica Dom Bosco – UCDB – 2007
Mestrado em Educação – Universidade Estadual Paulista – UNESP – 2008
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9. Sumário
____________________
MÓDULO – PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO
UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁGIO SUPERVISIONADO III
AULA 1
O estágio supervisionado III - o estágio como atividade integradora entre o saber e a ação ......... 3
AULA 2
A Intervenção em Serviço Social ........................................................................................................ 7
UNIDADE DIDÁTICA – PLANEJAMENTO DE INTERVENÇÕES SOCIAIS
AULA 1
Planejamento em Serviço Social – conceitos e definições ................................................................ 14
AULA 2
A Administração no Serviço Social – contextualizações básicas ...................................................... 18
AULA 3
Gestão Social – aspectos importantes ................................................................................................ 23
AULA 4
Políticas, Planos, Programas e Projetos – Definições ........................................................................ 29
AULA 5
Papel do Gestor Social ........................................................................................................................ 32
AULA 6
O que é um projeto social? Implicações diretas na realidade atual .................................................. 36
AULA 7
Roteiro básico de um projeto social ................................................................................................... 40
AULA 8
Fases metodológicas e a instrumentalização do planejamento social .............................................. 47
AULA 9
Avaliação e monitoramento de projetos sociais ................................................................................ 54
AULA 10
O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e o planejamento na administração pública......... 60
UNIDADE DIDÁTICA – TRATAMENTO DE INFORMAÇÕES E OS
INDICADORES SOCIAIS
AULA 1
Noções de estatística descritiva – obtenção e organização de dados ................................................ 68
AULA 2
Representações dos dados por meio da tabela................................................................................... 76
AULA 3
Representações gráficas dos dados ..................................................................................................... 82
AULA 4
Aspectos conceituais: o que são indicadores e índices ...................................................................... 86
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10. AULA 5
Sistema de indicadores: requisitos para a sua construção e produção ............................................. 90
AULA 6
Fontes de indicadores sociais .............................................................................................................. 94
AULA 7
Desenvolvimento humano ................................................................................................................. 100
AULA 8
Objetivos do Desenvolvimento do Milênio - ODM.......................................................................... 106
SEMINÁRIO INTEGRADO: PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO .............................................. 115
MÓDULO – DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO DA
ASSISTÊNCIA
UNIDADE DIDÁTICA – DESENVOLVIMENTO LOCAL E TERRITORIALIZAÇÃO
AULA 1
Desenvolvimento local: reflexões e conceitos .................................................................................... 119
AULA 2
Espaço, lugar e território .................................................................................................................... 125
AULA 3
Cultura e identidade ........................................................................................................................... 132
AULA 4
Capital social ....................................................................................................................................... 138
AULA 5
Potencialidade e comunidade ............................................................................................................. 146
AULA 6
Agentes do desenvolvimento local e dimensões metodológicas ....................................................... 150
AULA 7
Solidariedade e educação .................................................................................................................... 154
AULA 8
Cultura do desenvolvimento e desenvolvimento da cultura ............................................................ 160
UNIDADE DIDÁTICA – REDE SOCIOASSISTENCIAL
AULA 1
O significado de redes no contexto do trabalho socioassistencial ................................................... 171
AULA 2
A filantropia no Brasil ......................................................................................................................... 175
AULA 3
Terceiro setor e suas diversas concepções .......................................................................................... 182
AULA 4
Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias ................................................................................... 186
AULA 5
Marco legal das entidades que compõem a rede socioassistencial ................................................... 190
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11. AULA 6
O Sistema Único de Assistência Social e a nova forma de gestão da assistência social: caráter
público, protagonismo e avaliação do processo................................................................................ 197
AULA 7
Oficina 1: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
Fins Lucrativos ................................................................................................................................... 208
AULA 8
Oficina 2: PEAS/2006 – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem
Fins Lucrativos .................................................................................................................................... 215
SEMINÁRIO INTEGRADO: DESENVOLVIMENTO LOCAL E INTEGRAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA .................................................................................................................................... 227
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12. Módulo
DESENVOLVIMENTO
LOCAL E INTEGRAÇÃO
DA ASSISTÊNCIA
Profa. Ma. Carmen Ferreira Barbosa
Profa. Ma. Edilene Xavier Rocha Garcia
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13. Unidade Didática — Estágio Supervisionado III
Apresentação
Olá acadêmico(a)! É com enorme satisfação que me dirijo a você!
Estamos iniciando mais uma Unidade Didática “Desenvolvimento Local e Territorialização”, um impor-
tante aporte teórico cujo objetivo é fundamentar o seu exercício profissional.
A Unidade Didática está dividida em oito aulas: a aula 1 – Desenvolvimento Local – Reflexões e Conceitos
traz o conceito do DL, bem como o conceito de Desenvolvimento para o Local (D. para L.) e no Local (D. no
L.), visando diferenciá-los; a aula 2 inicia a abordagem dos Aspectos Constitutivos do Desenvolvimento Lo-
cal – Espaço, Lugar, Território; nas aulas 3 a 7, na continuação da explanação sobre os Aspectos Constitutivos
do Desenvolvimento Local, seguem respectivamente Cultura e Identidade, Capital Social, Potencialidade e
Comunidade e Agentes do D. L. Ainda na aula 7 discorre-se a respeito das Dimensões Metodológicas para o
Desenvolvimento Local. Na última aula desta Unidade, a de número 8, discute-se a Cultura do Desenvolvi-
mento e o Desenvolvimento da Cultura e a importância e aplicação de todos os conceitos aqui estudados para
o profissional de Serviço Social.
A ênfase desta Unidade é destacar um novo paradigma de desenvolvimento, uma nova cultura política
diante do modo de produção que se nos apresenta: o capitalismo.
É indispensável que você, acadêmico(a), realize o autoestudo, o que engloba a leitura do livro-texto e dos
textos do Portal bem como o seu esforço no exercício de cada uma das atividades propostas nas aulas.
Quero lembrá-lo(a) que o que diferencia esta modalidade de ensino das demais é a sua participação
ativa!
Professora Ma. Edilene Xavier Rocha Garcia
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14. AULA
____________________ 1
Unidade Didática – Desenvolvimento Local
DESENVOLVIMENTO LOCAL:
REFLEXÕES & CONCEITOS
e Territorialização
Conteúdo
• Desenvolvimento local
• Desenvolvimento para o local
• Desenvolvimento no local
• Mudança de paradigmas
Competências e habilidades
• Diferenciar conceitos de desenvolvimento local do conceito de desenvolvimento no local e do desen-
volvimento para o local.
• Subsidiar por meio desses conceitos o trabalho com as comunidades.
Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.
Duração
2 h/a – via satélite com o professor interativo
2 h/a – presenciais com o professor local
6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo
Inicialmente, quero partilhar com vocês o hábi- Segundo Houaiss11 (2001)
to de buscar o significado das palavras para tentar
é o produto da faculdade de conceber; (...) Deriva-
captar a totalidade e profundidade da mensagem
ção: por extensão de sentido, faculdade intelectiva e
proposta pelos autores, para apreender, com mais
cognoscitiva do ser humano; mente, espírito, pen-
exatidão, a ideia propagada. samento. Ex.: isso não entra no meu c. (...) com-
Investir em qualquer atividade, principalmente nos preensão que alguém tem de uma palavra; noção,
estudos e conhecimento, requer a incessante busca do concepção, ideia. Ex.: seu c. de moral é antiquado.
sentido real transmitido pelo autor. Dessa forma, toda
leitura, do livro didático ou dos textos do Portal, mere- É preciso o aporte teórico oferecido por diversos
cem a imprescindível companhia do dicionário! autores para auxiliar na construção do conceito do
Para tanto, vamos comentar um pouco sobre o 11
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Barros Jr., J.
significado da palavra “conceito”. J. (org) [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
119
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15. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização
desenvolvimento local – DL, de caráter endógeno, e manifestações da pobreza”. O autor afiança Yunus13
sua aplicação no Serviço Social. Segundo Vicente ao afirmar que não se pode solucionar o problema
Fideles de Ávila (2001, p. 17),12 da pobreza com o mesmo “marco teórico” que per-
mitiu ou ajudou na sua criação.
os conceitos constituem as ferramentas do nosso
O desenvolvimento econômico e tecnológico
trabalho. Habilitam-nos a investigar, discrimi-
não alcançou o desenvolvimento social e humano
nar, comparar, classificar, e relacionar. São espe-
cialmente significativos para as ciências sociais
que havia proposto, ou seja, que por seu intermé-
porque a linguagem, da qual todos derivam, é ela dio solucionaria o problema da pobreza em todo o
mesma, um dos fenômenos, que, como técnicos mundo. A história demonstra que não foi esse o re-
desta ciência, estudamos e procuramos compre- sultado alcançado, assim surge internacionalmente
ender. um novo conceito de desenvolvimento, o desenvol-
vimento local endógeno, que se estende pelo desen-
Assim, para analisar o DL devemos antes refletir volvimento econômico e meio ambiental, e que tem
sobre cada palavra que o compõe, ou seja, compre- no desenvolvimento sociocultural o princípio e o
ender o significado de desenvolvimento e de local. fim das suas ações.
O que se entende por desenvolvimento? Cresci- Esse novo arquétipo de desenvolvimento propõe
mento e desenvolvimento são sinônimos? a autoconsciência, a autossensibilização, a autoesti-
Cidades desenvolvidas são aquelas que dispõem ma e a automobilização da comunidade-localidade
de estradas intermunicipais e interestaduais, fá- envolvida para torná-la protagonista de seu próprio
bricas, instalações telefônicas, rede de energia desenvolvimento.
elétrica, shopping center, rede de esgoto, asfalto, Pode-se, então, compreender que o desenvolvi-
emprego para seus moradores etc.? Ou será que mento local de caráter endógeno considera, respeita
“desenvolvimento” é deixar de envolver-e com o e aproveita os modos de ser e de agir de cada comu-
outro? nidade-localidade.
O que se objetiva com essas indagações é fomen-
tar a reflexão, o pensamento, o autoquestionamento. Como que procurando detectar a “semente” lá no
âmago do contexto descritivo de uma “laranja” in-
Não é necessário “acertar” as respostas. Essa cons-
teira, já que esta existe em função daquela, (...) me
trução será conjunta e gradual a partir de discussões
convenço cada dia mais de que o “núcleo concei-
e atividades correspondentes.
tual” do desenvolvimento local consiste essencial-
Citaremos alguns autores para embasar a discus- mente no efetivo desabrochamento das capacida-
são. Martins (2002) recomenda mudança de para- des, competências e habilidades de uma “comuni-
digmas quanto à concepção de desenvolvimento, dade definida” (portanto com interesses comuns
com uma proposta humanista, holística e ecológica. e situada em determinado território ou local com
Referenda Mahbub UL Haq (2002, p. 53) que apon- identidade social e histórica), no sentido de ela
ta para “alguns pecados dos planejadores desen- mesma se tornar paulatinamente apta a agenciar
volvimentistas, concluindo que o desenvolvimento
13
deve ser uma ação de enfrentamento real às piores Muhammad Yunus, Nobel da Paz, 2006. Junto com seu banco, o Gra-
meen, é conhecido como “o banqueiro dos pobres” e considerado o
grande mentor do microcrédito destinado aos desfavorecidos de Ban-
gladesh. Professor de economia, Yunus começou a combater a pobre-
za após uma mortífera fome que assolou seu país. Em 1976, fundou
12
Doutor em Políticas e Programação do Desenvolvimento (enfoque um pequeno banco que se propunha a oferecer acesso ao crédito aos
em Educação e Emprego), atualmente, docente dos Programas de mais pobres. O conceito do banco Grameen (que significa povoado)
Mestrado em Educação (área de concentração: Educação Escolar e foi exportado para mais de 40 países. Seu sistema de “microcréditos”
Formação de Professores) e em Desenvolvimento Local (área de con- permite aos muito pobres ter acesso a pequenas quantidades de di-
centração: Territorialidade e Dinâmicas Socioambientais) da Univer- nheiro. O banco Grameen conta com 6,5 milhões de clientes em Ban-
sidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS). gladesh, 96% deles mulheres.
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16. AULA 1 — Desenvolvimento Local: Reflexões & Conceitos
e gerenciar (diagnosticar, tomar decisões, planejar, o maior desafio para que o desenvolvimento local
agir, avaliar, controlar etc.) o aproveitamento dos aconteça, considerando que, diferentemente da Eu-
potenciais próprios, assim como a “metabolização” ropa, estamos diante de realidades locais nas quais
comunitária de insumos e investimentos públicos persistem algumas ausências importantes: da cida-
e privados externos, visando à processual busca de dania, da identificação sociocultural e territorial e
soluções para os problemas, necessidades e aspi- do sentido de vizinhança. Assim, o caráter necessa-
rações, de toda ordem e natureza, que mais dire- riamente participativo e democrático do DL é o seu
ta e cotidianamente lhe dizem respeito (...) (Ávila, “calcanhar de aquiles” (...) (Martins, 2002, p. 52).
2000, p. 68).
Para este autor, então, DL “é o resultado da ação
José Carpio Martín,14 em entrevista à revista In- conjunta articulada” do conjunto dos diversos ato-
terações (2000, p. 79), assinala que DL é um tipo de res (ou agentes) sociais, culturais, políticos e eco-
desenvolvimento que se coloca entre a lógica do nômicos, públicos e privados, existentes no espaço
mercado global e a lógica da sociedade, entre um local (município) “na construção de um projeto
desenvolvimento convencional e um desenvolvi- estratégico que orienta suas ações a longo prazo”.
mento na escala humana, que se posiciona entre a Por essa perspectiva, a promoção do DL depende
conflituosa comodidade das pessoas e a inovação. principalmente da capacidade de organização dos
Lembrando aqui que a inovação não é responsabi- atores locais, para que haja gestão de seus recursos
lidade apenas das instituições governamentais (dos e da capacidade de enfrentar/confrontar os fatores
governos locais), mas também de empresas priva- externos.
das, universidades e da sociedade civil organizada, Evidencia-se, assim, que o DL reporta-se à ques-
que deve refletir sobre novos conceitos e valorizar tão das relações sociais de confiança e solidariedade,
as ciências sociais e a importância da participação de viver em comunidade, do sentimento de perten-
popular. Essa é responsabilidade de todos nós. ça. Implica em existir para pessoas próximas, com
Assim, iniciativas globais dão lugar às ideias lo- características ou coisas comuns, e não apenas estar
cais (criatividade), por meio do saber popular. junto a, mas também compartilhar, bem como re-
cuperar a sabedoria coletiva, a inteligência social.
! PARA PENSAR!
“Em momentos de crise, somente a imaginação ! ATENÇÃO!
é mais importante que o conhecimento.”
O DL contribui com a emergência de novas
Albert Einstein formas de produzir e compartilhar as riquezas,
de reavivar a participação cidadã, de fazer cres-
Tais referências permitem inferir que o desenvol- cer a democracia, para que cada pessoa tenha ao
mesmo tempo de que viver e razões para viver
vimento local ou endógeno
(Sherbrooke, 2001, p. 28).
seria aquele balizado por iniciativas, necessidades
e recursos locais, tal como uma comunidade que
O desenvolvimento que compõe o DL se encon-
de fato se conduz a caminho do desenvolvimento,
tra na postura que atribui e assegura à comunida-
ou da promoção do seu bem-estar (...) entende-se
que criar condições para que a comunidade efeti- de o papel de agente. Isso pressupõe rever a ques-
vamente exerça este protagonismo se afigura como tão da participação. Há que se identificar, resgatar
e potencializar valores positivos de uma localidade,
14
fomentando laços de cooperação, reciprocidade e
Geógrafo espanhol. Departamento de Geografía Humana de la Uni-
versidad Complutense de Madrid. solidariedade para promover o desenvolvimento
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17. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização
com mudanças paradigmáticas de pensamento, e zem, mas, sobretudo, à ideia que as pessoas têm a
consequentemente, de ação. respeito do que fazem.
Uma vez discutido o conceito de desenvolvimento
o desenvolvimento sociocultural se caracteriza,
podemos “pensar” o conceito de local. Vicente Fide-
pois, como ponto de partida, de norteamento e de
les de Ávila argumenta que a palavra local expressa
chegada do desenvolvimento local (...) visando a
“um espaço, uma superfície, um território de iden-
autoconscientização, autossensibilização, autoes-
tidade e de solidariedade, um cenário de reconhe-
tima, autoconfiança, automobilização, auto-orga-
cimento cultural e de intersubjetividade e também nização cooperativa (...) para a gradativa – porém
um lugar de representações e práticas cotidianas contínua – busca de rumos comunitários-locais, de
(Ávila, 2001, p. 26). forma que a comunidade-localidade evolua para a
É inconcebível abordar o indivíduo sem consi- condição de sujeito do seu próprio desenvolvimen-
derar a trama da reciprocidade (Yasbek, 1999). Ou to, a partir de suas características, de suas potencia-
seja, na sociedade contemporânea, não há possibi- lidades (...) (Ávila, 2003, p. 20 e 21).
lidade para tratar questões isoladas de seu contexto
histórico-social e ambiental. Por isso, é importante Gabriela Isla Martins e Cid Isidoro Demarco
que as universidades adaptem sua grade curricular Martins (Martins, 2001, p. 153-178) realizaram uma
à realidade, preparando a sociedade acadêmica para pesquisa na qual apontam autores que conceituam
atuar holisticamente em suas comunidades, for- o DL. Vejamos.
mando profissionais capacitados na elaboração de • Joyal – DL é uma estratégia pela qual os repre-
projetos que não desterritorializem famílias nem as sentantes locais (públicos e privados) traba-
destituam de si mesmas. lham pela valorização dos recursos humanos,
É oportuno ressaltar o avanço das políticas pú- técnicos e financeiros de uma coletividade.
blicas na ênfase da territorialização de suas ações, • PNUD – DL é um processo de articulação, co-
compreendendo que as famílias não estão destituí- ordenação e inserção dos empreendimentos
das dos seus territórios, lugar em que nascem, vi- empresariais associativos comunitários, urba-
vem, trabalham e se relacionam. nos e rurais, à integração socioeconômica de
Nesse contexto em que se destaca a observação reconstrução do tecido social e de geração de
das tramas que se desenvolvem no território, insere- oportunidades de emprego e renda.
se o DL. Torna-se, assim, um modelo de desenvol- • Gonzáles – DL é a melhoria do nível de vida
vimento que, antes de tudo, ressalta as potenciali- da população a partir da combinação eficiente
dades endógenas de uma comunidade, valorizando das potencialidades de cada território, de seus
suas especificidades. recursos e de sua força empreendedora (...) es-
Trata-se de timular a participação e o comprometimento
das pessoasda comunidade.
uma nova filosofia de desenvolvimento no planeta
(...) capaz de agenciar e gerenciar o aproveitamento • Bryant – DL é todo desenvolvimento planeja-
dos potenciais próprios, assim como a “metaboli- do surgido do meio local que utiliza recursos e
zação” comunitária de insumos e investimentos iniciativas locais com o objetivo de melhorar as
públicos e privados externos, visando à processual condições de vida dos habitantes e atingir me-
busca de soluções para os problemas, necessidades tas coletivas da comunidade.
e aspirações, de toda ordem e natureza, que mais
• Albuquerque – não é resultado da busca de
direta e cotidianamente lhe dizem respeito (...)
equilíbrios irreais de grandes agregados estatís-
(Ávila, 2000, p. 68).
ticos macroeconômicos, e sim fruto dos esfor-
Em análise convergente, Ávila (2003) advoga que ços e compromissos dos atores sociais em seus
a cultura não se refere apenas ao que as pessoas fa- territórios e meio ambientes concretos (...) o
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18. AULA 1 — Desenvolvimento Local: Reflexões & Conceitos
planejamento estratégico tem se mostrado desenvolvimento PARA O local (DpL) se refere à ideia
como uma metodologia participativa efetiva de desenvolvimento que, além de se situar no local
de promoção do DL. como sede física, gera atividades e efeitos benéficos às
comunidades e aos ecossistemas locais, mas à maneira
• Vachon – é o desenvolvimento global da co-
bumerangue: brota das instâncias promotoras, vai aos
munidade, tendo o papel da pessoa como prin-
locais-comunidades, mas volta às instâncias promo-
cipal fator do progresso social e enfatizando a toras em termos de consecução mais de suas próprias
valorização das microiniciativas e dos recursos finalidades institucionais (as das instâncias promoto-
locais. ras, evidentemente) que do real, endógeno e perma-
• Franco – deverá dinamizar cinco tipos de capi- nente desenvolvimento das comunidades-localidades
tal: capital econômico (renda e riquezas), capital visadas (Ávila, 2003, p. 22).
humano (educação, saúde e cultura), capital
social (associação entre pessoas e empresas), CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO
capital empresarial (favorecendo o surgimento LOCAL
de empreendedores), que num círculo virtuoso • Territorialmente localizado, com a noção de
gerará mais capital econômico. território, além de ocupação do espaço, con-
Ficou patente que o reconhecimento dos recursos siderando as relações existentes (característi-
físicos e humanos imprime caráter endógeno ao pro- cas físicas, históricas, culturais, inclusive) que,
cesso de DL, e exige o processo prévio de motivação quando são recuperadas, geram relações soli-
dárias entre os agentes.
dos agentes participantes. Para os autores anterior-
mente citados, DL é um conjunto original de estraté- • Participativo e democrático, com foco na auto-
gias que devem ser adequadas a um território e par- nomia e emancipação da localidade.
ticipação ativa e solidária da população. Só assim se • Modo endógeno de desenvolvimento, com as ini-
encontrarão formas viáveis, sustentáveis, contínuas e ciativas surgindo de dentro das comunidades.
organizadas de utilização integrada dos recursos ma- • Desenvolvimento sustentável, combinação de
teriais, naturais e humanos disponíveis, em prol da eficiência econômica com prudência ecológica
obtenção de melhorias no bem-estar deles mesmos. e justiça social.
• Estratégia geradora de emprego e renda como
resultado de ações conjuntas de informação,
DL NÃO É “Desenvolvimento NO Local – (DnL)”
sensibilização, mobilização e formação.
Ávila (2000, p. 69) em Pressupostos para forma-
• Busca regatar valores tradicionais e culturais das
ção educacional em desenvolvimento local evidencia
comunidades com inovação de estratégias de
que “desenvolvimento NO local (DnL)” é um tipo
ação, aproveitamento dos recursos históricos,
de desenvolvimento que isenta a participação ativa
tradicionais e culturais de modo a envolver a
da comunidade/localidade, um empreendimento
comunidade com identidade comum.
no qual se utilizam apenas agentes externos para a
• Apoia micro e pequenas empresas com formas
sua promoção, ou seja, aqueles que não pertencem à
diferenciadas de ajuste produtivo no espaço
comunidade. Destaca ainda que os agentes externos
territorial, que, ao dispor de uma organização
são os promotores do desenvolvimento e a comuni- interna mais flexível, é capaz de gerar mais em-
dade apenas se envolve participando. prego e se adequar às mudanças e imprevistos.
• Conta com a descentralização para oferecer po-
DL NÃO É (só) “Desenvolvimento PARA O Local” der às instâncias locais para que possam viabi-
(DpL) lizar decisões mais próximas/reais das necessi-
Para diferenciar DL de DpL, Ávila afirma que dades da população e possibilitar a combina-
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19. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização
ção participação e uso sustentável dos recursos biologia o sistema cardiorrespiratório ou o sistema
disponíveis. gastrointestinal ocorre algo parecido com as ne-
• Estratégia planejada, apesar não de existir uma cessidades (...) todas têm uma importância similar
(...) muda o conceito de pobreza associado exclusi-
fórmula a ser aplicada em todas as comunida-
vamente à ausência de subsistência (...) há pessoas
des é necessário estar munido de procedimen-
que morrem não somente de fome senão morrem
tos sucessivos organizados de forma a atingir
também por carência de afeto ou por carência de
os objetivos do enfoque. identidade (Elizalde, 2000, p. 52).
• Favorece processos inovadores, estimula a cria-
tividade a transformar os recursos disponíveis Visto que as especificidades locais devam ser con-
em oportunidades para aquela localidade. sideradas, respeitadas e potencializadas, é oportuno
• Movimento solidário e cooperativo de caráter advertir que não há um “desenho” pronto que possa
solidário, com a existência de objetivos comuns ser aplicado, ou antes, desenvolvido, às diferentes
que provoquem uma obrigação moral em cada comunidades-localidades. Muito oportunamente
individuo de apoiarem-se mutuamente. Kujawiski (apud Ávila, 2000, p. 29) assinala o poeta
espanhol Antonio Machado “Caminhante, não há
• Conjunto de estratégias integradas e equilibra-
caminho. O caminho se faz ao caminhar”.
das das ações que orientam o DL na integração
Para finalizar, as palavras de Ávila (2000, p. 29)
poder político (federal, estadual e municipal),
“se utopia, uma boa utopia”!
poder local (empresas, lideranças e a popula-
ção) e valores econômicos, sociais e meio am-
bientais. Trata-se de um modelo mais amplo “A Utopia está lá no horizonte.
que os tradicionais, e equilibrado no sentido Me aproximo dois passos, ela se afasta dois
de minimizar os riscos de dependência das al- passos.
terações cíclicas do mercado. Caminho dez passos e o horizonte corre dez
• Processo contínuo de ações, pois a interrupção passos.
ou a descontinuidade das ações provocada por Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a Utopia?
um erro de planejamento poderá acarretar o
Serve para isso: para que eu não deixe de
descrédito da comunidade no processo. O DL
caminhar.”
perderá a continuidade se as pessoas perderem a
(Eduardo Galeano)
motivação da participação, se as estratégias não
estiverem realmente integradas, se a conscienti-
zação dos vários agentes participantes se desvir-
tuarem, se os recursos se esgotarem, se houver
* ANOTAÇÕES
dependência de recursos externos, entre outros.
Os dados aqui analisados demonstram claramente
que o DL é um modelo de desenvolvimento que propõe
identificar e respeitar as potencialidades endógenas de
um grupo social (Elizalde, 2000), que deve acontecer
na escala humana. A autora ainda destaca que:
(...) são nove as necessidades fundamentais para o
ser humano: subsistência, proteção, afeto, enten-
dimento, criação, participação, ócio, identidade e
liberdade (...) da mesma maneira que seria muito
difícil estabelecer se é mais importante em nossa
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20. AULA
____________________ 2
Unidade Didática – Desenvolvimento Local
ESPAÇO, LUGAR E TERRITÓRIO
e Territorialização
Conteúdo
• Conceito de espaço
• Conceito de lugar
• Conceito de território
• Senso comum × construção científica
Competências e habilidades
• Conhecer três dos aspectos construtivos do Desenvolvimento Local – Espaço, Lugar e Território e
saber diferenciá-los. Sua relevância está na compreensão do conceito de territorialização a fim de
subsidiar o planejamento das ações do profissional de Serviço Social.
Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.
Duração
2 h/a – via satélite com o professor interativo
2 h/a – presenciais com o professor local
6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo
ESPAÇO, LUGAR E TERRITÓRIO identidade, capital social, potencialidade, comuni-
Na aula anterior abordamos de forma abrangente dade e agentes do DL e dimensões metodológicas.
o conceito de desenvolvimento local – DL. Essa afir- Por enquanto nos deteremos em três itens, são
mação é proposital, pois o seu detalhamento como eles: espaço, lugar e território. Mas... eles não são si-
já o dissemos, será construído de forma conjunta e nônimos?
gradual no decorrer de nossos encontros. Rápido! Busquem um dicionário e vejam o que
Quero ressaltar, caros acadêmicos, que a leitura ele traz.
dos textos do Portal e do livro Educação sem frontei-
O meu dicionário diz assim:
ras são de suma importância para que vocês com-
Espaço:
preendam do que trata este assunto!
São 11 os aspectos que iremos abordar como es- 1. extensão ideal, sem limites, que contém todas as
senciais nesse modelo de desenvolvimento: espaço, extensões finitas e todos os corpos ou objetos exis-
lugar, território, solidariedade, educação, cultura, tentes possíveis; 2. medida que separa duas linhas
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21. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização
ou dois pontos; 3. região situada além da atmosfera demos perder esse foco, pois nossa Unidade Didáti-
terrestre (...)15 ca trata de desenvolvimento local.
E quanto ao lugar? Na aula anterior já mencionei a fundamental
importância de se ter sempre à mão o dicionário.
(...) substantivo masculino, país, cidade, região não Constantemente irei repetir essa recomendação, to-
especificada, área de limites definidos ou indefini- davia, vale notar que cada ciência tem uma termino-
dos, parte do espaço que ocupa ou poderia ocupar logia própria, conceitos específicos, que podem ser
uma coisa, (...) área apropriada para ser ocupada
superficialmente observados com o auxílio de um
por pessoa ou coisa, local onde se está ou deveria
bom dicionário, contudo não compreendidos em
estar (...)16
sua totalidade. O que pretendo demonstrar é que
Finalmente, vejamos o que Antônio Houaiss ad- não se apreende ciência social, ou qualquer outra
voga sobre território: ciência a não ser estudando sistemática e assidua-
mente os teóricos correspondentes.
(...) substantivo masculino, grande extensão de
terra, área de município, distrito, estado, país etc.,
Você entregaria seu filho a um centro cirúrgico
área de uma jurisdição (...) JUR extensão ou base cujo instrumentador tenha se diplomado apenas
geográfica do Estado, sobre a qual ele exerce a sua com um breve dicionário?
soberania e que compreende todo o solo ocupado Assim também o é na sociedade. Não se pode
pela nação, inclusive ilhas que lhe pertencem, rios, “pensar”, planejar, muito menos executar projetos
lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, ba- e serviços sociais sem aportes teóricos que justifi-
ías, portos e também a faixa do mar exterior que quem e fundamentem o agir profissional.
lhe banha as costas e que constitui suas águas ter-
No entendimento do senso comum, território diz
ritoriais, além do espaço aéreo correspondente ao
respeito a um espaço qualquer, comumente delimi-
próprio território (...) ECO área que um animal ou
grupo de animais ocupa, e que é defendida contra
tado e defendido, espaço este de sobrevivência de
a invasão de outros indivíduos da mesma espécie.17 um grupo ou pessoa.
Contudo Bitoun (1999, p. 194) ensina que terri-
tório não pode ser entendido como simples espaço
geográfico, uma vez que,
(...) para os geógrafos, os municípios não são sim-
plesmente instâncias federativas no arranjo insti-
tucional da nação, cada um deles é um território
caracterizado pela sua posição, suas paisagens, suas
Corram, voltem um pouco a página do seu livro práticas culturais e políticas desenvolvidas por
didático e deem uma olhada... agentes sociais locais e de outras esferas territo-
riais.
Vicente Fideles de Ávila afirma ser “um cenário
de reconhecimento cultural, um lugar de represen- A esse respeito Santos e Silveira (2001, p. 248) ex-
tações e práticas cotidianas”, não é mesmo? Não po- plicam que:
As configurações territoriais são o conjunto dos
sistemas naturais, herdados por uma determinada
15
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Barros Jr., J. sociedade, e dos sistemas de engenharia, isto é, ob-
J. (Org.). [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
16
jetos técnicos e culturais historicamente estabele-
Ibid.
17
Ibid. cidos (...) sua atualidade (...) sua significação real
advém das ações realizadas sobre elas.
126
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22. AULA 2 — Espaço, lugar e território
Milton Santos,18 geógrafo brasileiro de reconheci- tir do espaço, é resultado de uma ação conduzida
mento internacional, afirma que herdamos um con- por um ator sintagmático (ator que realiza um
ceito incompleto de território, uma velha categoria programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de
denominada região, área. Ressalta ainda que não é um espaço, concreta ou abstratamente (por exem-
um conceito errôneo, porém incompleto, porque o plo, pela representação), o ator “territorializa” o
espaço. (...) o território, nessa perspectiva, é um
território necessita ser compreendido além de espa-
espaço onde se projetou um trabalho, seja ener-
ço geográfico, antes como espaço relacional, aquele
gia e informação, e que, por consequência, revela
no qual as pessoas vivem, trabalham, estudam, cir-
relações marcadas pelo poder. O espaço é a “pri-
culam, se divertem e morrem.
são original”, o território é a prisão que os homens
constroem para si.
Santos (1996, p. 25 -27) menciona que
Muito tempo e talento foram dissipados recente-
mente por geógrafos numa discussão semântica
sem-saída. Chegou-se mesmo a inventar novas
denominações. Por exemplo, alguns preferem falar
A geografia, ciência que estuda a organização do
da espacialidade ou até de espacialização da socie-
espaço realizada pelo homem, alerta-nos quanto à dade, recusando a palavra espaço, mesmo o espaço
reconceituação de território, até então sinônimo de social. No entanto, a renovação da geografia passa
espaço ocupado, “chão”. Nas palavras de Raffestin pela depuração da noção de espaço e pela investiga-
(1993, p. 143-144): ção de suas categorias de análise. Quando Arman-
do Corrêa da Silva (1982, p. 52) enuncia que não
Espaço e território não são termos equivalentes há geografia sem teoria espacial consistente, afirma
(...) é essencial compreender que o espaço é an- também que essa “teoria espacial consistente” só é
terior ao território. O território se forma a par- válida analiticamente se se dispuser de um “concei-
to referente à natureza do espaço”. Que espaço não
é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão
18
Doutorado em Geografia Humana pela Universite de Strasbourg I, uma realidade relacional: coisas e relações juntas.
França (1958). Livre docência pela Universidade Federal da Bahia, Eis por que sua definição não pode ser encontrada
Brasil (1961) Atuação em Geografia Humana como professor emé-
rito da Universidade de São Paulo, Brasil. O prof. dr. Milton Santos senão em relação a outras realidades: a natureza e
(Milton de Almeida Santos ou Milton Almeida dos Santos), nasceu a sociedade, mediatizadas pelo trabalho. Não é o
em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, no dia 3 de maio de espaço, portanto, como nas definições clássicas da
1926. Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afá-
vel, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias geografia, o resultado de uma interação entre o ho-
atuais, é pensar, coragem que sempre teve. Doutor honoris causa em mem e a natureza bruta, nem sequer um amálgama
vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 (o Prêmio
formado pela sociedade de hoje e o meio ambiente.
Nobel da Geografia), professor em diversos países (em função do
exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de cerca de 40 O espaço deve ser considerado como um conjunto
livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre ou- indissociável de que participam, de um lado, certo
tros. Formou-se em Direito no ano de 1948, pela UFBA, foi professor
arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e
em Ilhéus e Salvador, autor de livros, que surpreenderam os geó-
grafos brasileiros e de todo o mundo, pela originalidade e audácia: objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche
O povoamento da Bahia (1948), O futuro da geografia (1953), Zona e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O
do cacau (1955) entre muitos outros.Passou o período entre 1964 a
conteúdo (da sociedade) não é independente da
1977 ensinando na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela,
Tanzânia; escrevendo e lutando por suas ideias. Foi o único brasileiro forma (os objetos geográficos) (...).
e receber um “Prêmio Nobel”, o Vautrin Lud, que é como um Nobel
de Geografia. Outras de suas magistrais obras são: Por uma outra O território não se restringe a uma entidade ju-
globalização e Território e sociedade no século XXI (Record). Milton
Santos, este grande brasileiro, morreu em São Paulo (SP), no dia 24
rídica. É preciso considerar um sentimento de per-
de junho de 2001, aos 75 anos, vítima de câncer. tencimento e de apropriação.
127
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23. Unidade Didática — Desenvolvimento Local e Territorialização
Para o autor, os etologistas19 demonstraram que
os animais defendiam “seus nichos ecológicos” con-
tra possíveis intrusos. No seu entendimento, cien-
tistas e escritores populares têm extrapolado dados
do mundo animal para o mundo humano.
O humanista, contudo, deve ir além da analogia e
perguntar como a territorialidade humana e a liga-
ção ao lugar diferem daquelas das criaturas menos
carregadas com a emoção e pensamento simbóli-
co. Há, por exemplo, o problema de conceituação.
Todos os animais, incluindo os seres humanos,
ocupam e usam espaço, mas a área como unidade
A singularidade e particularidade de cada territó- limitada de espaço é também um conceito.
rio é que faz dele mais do que um espaço geográfico.
Em seus pertinentes argumentos, Tuan (1976,
O território contribui para a criação dessas especi-
p. 4) destaca que raramente o território poderá ser
ficidades que fomentam o sentimento de pertença
observado integralmente por um animal, exceto pe-
(Castells, 1999).
los pássaros “empoleirados no alto de uma árvore”;
Tuan (1976, p. 4) considera que o conceito de ter- os mamíferos, os répteis não o podem fazê-lo, nem
ritório difere de espaço limitado. É uma “rede de ca- mesmo o ser humano. Assim sendo, o
minhos e lugares”. Um lugar deve ser visto como um
centro de significância, no qual há a ligação emocio- (...) território real não é um espaço limitado, mas
nal a objetos, ao espaço habitado. Nele encontram- uma rede de caminhos e lugares. As pessoas são ca-
pazes de manter o território como um conceito, con-
se conceitos e símbolos que constroem a identidade
templar mentalmente o seu formato, incluindo aque-
do lugar. A concepção dimensional do território, di-
las partes que não podem correntemente perceber. A
ferentemente do espaço, considera que o lugar onde necessidade de fazer isso, contudo, pode não apare-
a existência humana está inscrita foi construído cer. Por exemplo, os caçadores e coletores migrado-
pelo homem, pela sua ação técnica e pelo discurso res têm poucas ocasiões em que necessitam divisar
que mantinha sobre ela. a fronteira do seu território. O território, para eles, é
Observem que aqui abordamos outro conceito, o portanto uma área não circunscrita; é essencialmen-
de lugar, espaço, lugar e território estão de tal ma- te uma rede de caminhos e lugares permeáveis com
os caminhos de outros caçadores. Em comparação,
neira imbricados que separá-los para fins de concei-
as comunidades das fazendas tendem a ter um forte
tuação se torna delicado.
senso de propriedade e de espaço delimitado.
Tuan (1976) propõe a ideia de que a geografia
humanística busca refletir a respeito dos fenômenos Percebe-se, então, uma valorização ao que até o
geográficos de um modo não tradicional, ou seja, momento não foi citado, ao subjetivo, ao passional,
entrosando-se às ciências sociais, na esperança de àquilo que está na mente, todavia, às vezes não tra-
dispor uma visão precisa do mundo humano. zemos à tona: a emoção!
A geografia humanística procura um entendimento Qual é o papel da emoção e do pensamento na liga-
do mundo humano através do estudo das relações ção ao lugar? Considerem o animal como moven-
das pessoas com a natureza, do seu comportamento
geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias 19
Que ou aquele que se dedica ao estudo do comportamento social e
a respeito do espaço e do lugar (Tuan, 1976, p. 1). individual dos animais.
128
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24. AULA 2 — Espaço, lugar e território
do-se ao longo de um caminho, parando de tempo É no território que a relação existente entre cul-
em tempo. O animal para por uma razão, usual- tura e espaço se materializa. Nesse contexto, Casti-
mente para satisfazer uma necessidade biológica lho (2004) afirma que a religiosidade influencia a
importante – a necessidade de descansar, beber, estruturação dos territórios. Sobre essa temática
comer ou acasalar. A localização da parada torna-se
discorreremos na Aula 4.
para o animal um lugar, um centro de significância
Até aqui se pode dimensionar que “a ordem in-
que ele pode defender contra intrusos. Este modelo
de comportamento animal e sentimento de lugar terna do lugar” é o que diferencia o ambiente or-
é prontamente aplicável aos seres humanos. Nós denado por humanos (Le Bourlegat, 2000, p. 13).
paramos para atender a exigências biológicas; cada Ao fazer alusão a essa ordem, Cleonice Alexandre Le
pausa estabelece uma localização como sendo sig- Bourlegart pretende evocar os fenômenos da cons-
nificativa, transformando-a em lugar. O humanista ciência, estimando ser o propulsor de transforma-
reconhece a analogia, mas novamente está dispos- ções sociais.
to a perguntar como a qualidade da emoção é do
pensamento humano dão ao lugar uma gama de Nesse sentido, é hoje preciso avaliar o lugar, tanto
significação humana inconcebível no mundo ani- em função de sua própria ordem interna como de
mal. Um caso que esclarece a peculiaridade huma- sua combinação dialética com as informações de
na é a importância que as pessoas dão aos eventos origem externa. Assim, o lugar atual, cada vez mais
biológicos do nascimento e da morte. Os animais integrado ao mundo globalizado, deve ser avaliado
não têm nenhuma preocupação sobre isso. As loca- sob duas óticas, ou seja, de dentro para fora e de
lizações pragmáticas dos animais têm valor porque fora para dentro (Santos, 1995, apud Le Bourlegat,
satisfazem suas necessidades vitais correntes. Um 2000, p. 17).
chimpanzé não tem preocupações sentimentais
Para o autor em voga, o lugar visto de dentro “é
sobre o seu passado, sobre sua terra natal, mas ele
antecipa o futuro e teme a sua própria mortalidade. o plano do vivido (...) é a escala territorial passível
Santuários dedicados ao nascimento e à morte são de ser percebida, vivida”, reconhecida por meio dos
unicamente lugares humanos (ibid). sentidos, um encontro sensorial (do corpo físico)
com as relações de afetividade. Deixa assim de ser
É de interesse específico da geografia humanísti- apenas um suporte material para alçar a dimensão
ca o fato de um “mero espaço se tornar um lugar”, do simbólico. Sob esta óptica,
como também o momento e de que forma ocorre
a “ligação emocional aos objetos físicos, as funções (...) o ser humano identifica-se com o lugar vivido
dos conceitos e símbolos na criação da identidade como materialidade impregnada de valores, que
do lugar” (ibid). ganha significado pelo próprio uso cotidiano, (...)
Já que nos referimos ao mundo simbólico, traze- o lugar, portanto, é onde a vida se desenvolve em
todas as suas dimensões. Assim, a ordem interna
mos Rosendahl e Correa (2006, p. 1), que ressaltam
construída no lugar, tecida pela história e pela cul-
que o território “apresenta, além do caráter político,
tura, produz a identidade. É através dessa identida-
um nítido caráter cultural – mundo simbólico, es-
de que o ser humano se comunica como o resto do
pecialmente quando os agentes sociais são grupos
mundo (Le Bourlegat, 2000, p. 18).
étnicos, religiosos ou de outras identidades”.
Caros(as) acadêmicos(as), vocês já devem ter per- Em perspicaz e pertinente análise, Le Bourlegart
cebido que é impossível separar em tópicos nossa aula (2000, p. 18) evidencia que o momento criativo
e abordar um item de cada vez. Como dito anterior- acontece quando os indivíduos que compõem esse
mente, espaço, lugar e território estão absolutamente lugar são capazes de perceber seu mundo interior
atados, não se trata de um sem citar o outro, para isso, e interpretar suas raízes culturais ali construídas,
é ímpar o autoestudo para a fixação do conteúdo. nascidas a partir das relações profundas entre eles
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