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Universidade Federal de Uberlândia
Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design – FAUeD
Ateliê de Projeto Integrado V
Relatório de APO
Conjunto Habitacional São Jorge I
Ana Lúcia Caetano
Eduardo Bezzon
Gabriel dos Reis
Larissa Carvalho
Verônica Pereira
Uberlândia - 2013
O Conjunto Habitacional São Jorge I se situa no Bairro Laranjeiras, entre as
ruas Antônio Bernardes Costa e Wilson Cunha, na cidade de Uberlândia, MG.
A Análise de Pós-Ocupação ocorreu no dia 14 de Junho de 2013, realizada
pelo presente grupo em três unidades habitacionais do Bloco G do conjunto. O
bloco, como os demais, apresenta planta em formato H, com quatro
pavimentos e quatro unidades por pavimento, totalizando dezesseis unidades
por bloco.
O entorno conta com uma Unidade de Saúde (UAI-São Jorge) muito próxima e
um Centro de Saúde (Dr. Rofles Cecílio), de modo que este critério se mostrou
satisfatório durante as entrevistas com os moradores. Inclusive, a UAI se
encontra em umas das laterais do conjunto, de grandes dimensões e fácil
acesso, apesar de atender apenas casos de média complexidade e
emergências.
Quanto à educação, existem três escolas municipais (Escola Municipal Jacy de
Assis, Escola Municipal Sebastiana Silveira Pinto e EMEI Augusta Maria
Freitas) e uma estadual (Escola Estadual Parque São Jorge) para atender a
população neste local. As escolas, apesar de numerosas, se dedicam
majoritariamente à educação infantil, deixando a desejar no ensino
fundamental, especialmente no ensino médio.
Unidades visitadas
A primeira família visitada no conjunto era composta por um casal com um filho
de dois anos e outra filha já formada. Antes de se mudarem para o
apartamento próprio, eles moravam em uma casa alugada. O lado bom dessa
mudança foi a conquista do imóvel próprio, por outro lado a casa alugada
proporcionava um grande espaço.
A dona de casa entrevistada pouco saía do apartamento e, quando acontecia,
utilizava o carro que o marido usava para ir e voltar do trabalho e também o
transporte coletivo público.
Os equipamentos que dão suporte para o conjunto são muito precários, a
família sente muita falta de um espaço de convivência entre familiares, amigos,
etc. Áreas como salão de festas, churrasqueiras e aparelhos de ginásticas
foram citadas como possíveis soluções para esse problema. A falta de
segurança também foi outro ponto reforçado pelos moradores.
Com relação ao interior da habitação, as reclamações mais comuns eram da
cozinha e área de serviços que foram mal planejadas e são espaços muito
pequenos. Como a família é constituída de 4 pessoas, dois quartos eram
insuficientes para suprir as necessidades de toda a família. No caso, seria
necessário o acréscimo de um quarto para a habitação.
A falta de privacidade, problemas com barulhos dos vizinhos e também poucos
acessos ao conjunto são dificuldades enfrentadas pelos moradores.
A segunda unidade visitada abriga três moradores, uma família do tipo
monoparental composta pela mãe que trabalha como decoradora de quarto de
crianças e suas duas filhas, estas com faixa etária entre 13 e 15 anos. A renda
familiar está acima de R$1.200,00 mensais e o apartamento é próprio, ocupado
desde 2010.
Antes de mudar para o conjunto, a família morava em uma residência alugada
no Bairro Martins e a conquista do imóvel próprio foi o principal motivo para a
mudança. O novo bairro é agradável, mas não muito próximo ao centro da
cidade. Apesar de fazer pouco uso do transporte público, as entrevistadas
classificaram-no como satisfatório.
A falta de áreas de convívio externas ao apartamento foi um ponto novamente
levantado, neste caso para o lazer de adolescentes, de modo que o conjunto
só contempla crianças com estes espaços. A aparência externa do edifício é
boa.
A segurança contra roubo e entrada de estranhos é satisfatória para as
moradoras, nunca tiveram problemas, apesar de alguns relatos dos vizinhos.
Com as aberturas dos dormitórios para Nordeste, a iluminação e a ventilação
foram classificadas como boas dentro da unidade. O espaço interno poderia
ser mais generoso, talvez até com mais um dormitório para acomodar bem
cada uma das filhas adolescentes, que têm pouca privacidade com os espaços
oferecidos.
Na terceira unidade visitada, são apenas dois moradores, uma família tipo
monoparental, a mãe que trabalha como garçonete e seu filho. A renda da
família fica entre 730,00 e 1.200,00 reais e o apartamento é alugado.
Escolheram morar neste conjunto por gostar do bairro e, mesmo satisfeitos em
relação à saúde e educação no bairro, eles reclamaram do transporte coletivo,
taxado como insatisfatório. Apesar de ter uma área de lazer no conjunto, eles
não a utilizam por sua precariedade e sentem a necessidade de equipamentos
de ginástica, churrasqueira e, principalmente, um salão de festas.
Utilizam a moto como meio de transporte e consideram o conjunto isolado e
afastado do centro da cidade. Entretanto, se sentem felizes em relação ao
ambiente do bairro, agradável de morar.
A mulher reclamou bastante da pouca segurança no conjunto, e contou que já
houve muitos casos de roubos dentro do conjunto, inclusive da moto dela que
já foi furtada dentro do próprio estacionamento.
Consideram os acessos e caminhos que ligam aos apartamentos e a
aparência externa do edifício como médios, e os materiais utilizados na
construção tanto do edifício, quando do interior do apartamento, como ruins.
Mesmo morando só os dois no apartamento, eles acham que o tamanho é
pequeno e que os espaços internos deveriam ser melhor distribuídos. Seus
móveis couberam parcialmente na unidade, mas são suficientes para a
quantidade de pertences.
A privacidade é considerada ruim, tanto em relação aos vizinhos, quanto em
relação aos outros moradores do apartamento, a iluminação e a ventilação são
boas, a temperatura é média tanto para o verão e inverno. Esta unidade se
localiza na mesma orientação da segunda unidade visitada, apenas em outro
pavimento.
Quanto aos ruídos externos ao apartamento, é silencioso tanto no dia, quanto
na noite, já os internos, é muito barulhento durante o dia e médio a noite.
Considera seu apartamento pouco decorado, e identifica-se razoavelmente
com o espaço, mesmo assim, se adaptou bem a ele.
O apartamento, para eles, é apropriado para dormir, estudar e lazer, mesmo
sendo visível a necessidade de um espaço maior para acomodar melhor os
móveis, já que a mesa do computador não tem espaço nem para a cadeira
ficando ‘presa’ entre os sofás. É considerado médio para trabalhar, pouco
apropriado para cozinhar, descansar e receber pessoas, e totalmente
desapropriado para lavar roupa e estocar objetos.
Conclusões gerais
Os equipamentos públicos de cultura não existem, tanto no bairro quanto nas
proximidades, uma questão unânime entre os entrevistados.
O playground, localizado ao centro da implantação, entre os blocos de
apartamentos, se configura como uma área de uso coletivo pouco aproveitada.
Não há manutenção no local, a areia está sempre suja. Sua grande extensão
não justifica a quantidade de crianças no conjunto, além de ocupar uma grande
área que poderia melhorar acessos e circulação, impossibilitando melhor
aproveitamento do térreo.
É nítido o descaso no planejamento das áreas coletivas, além da baixa ou
inexistente manutenção dos poucos espaços que se configuram. O
estacionamento não possui cobertura, tal que alguns moradores tiveram
iniciativas isoladas de cobrir suas próprias vagas.
Quanto à qualidade dos materiais de construção e acabamento, tanto no
conjunto quanto no apartamento, foram considerados ruins. Durante a visita, o
grupo observou o desgaste de alguns destes nas fachadas, pequenas
rachaduras no exterior dos blocos e no interior de uma das unidades, mesmo
com pouco tempo de finalização e ocupação do empreendimento.
No interior das unidades, todos os entrevistados, independente do perfil familiar
e quantidade de moradores, apontaram o problema da divisão interna dos
espaços, que são mal distribuídos e nem sempre permitem a realização das
atividades dentro dos cômodos, além da pequena área interna das unidades.
Estes critérios acabam trazendo outros problemas decorrentes dos mesmos.
Por exemplo, a privacidade em relação aos vizinhos é razoável, mas dentro da
unidade foi sempre considerada péssima. Da mesma forma a acústica foi
avaliada, razoável em relação ao conjunto, mas péssima dentro da unidade.
As áreas de serviço e cozinha são desapropriadas à realização das atividades
que se destinam. A cozinha é pequena e não comporta bem fogão, geladeira e
pia, dificultando o ato de cozinhar e mesmo circular, além de não oferecer
espaço para estocagem de materiais, panelas e outros utensílios. A área de
serviços também é pequena para acomodar tanque e máquina de lavar, a
iluminação é precária e não permite secagem satisfatória das roupas, sem
prejudicar a iluminação da cozinha. Em algumas unidades, os moradores
precisam secar suas roupas nos quartos, pois além de pouca iluminação, não
há espaço.
Não há local para fazer refeições, tal que a sala deve servir tanto às atividades
de jantar e estar, mas suas dimensões não permitem boa acomodação dos
móveis para os dois usos.
Enfim, é nítido o descaso e a falta de planejamento das habitações de
interesse social no Brasil. São projetos que não atendem as necessidades de
seus moradores e, mesmo após a identificação de seus problemas, esses
projetos continuam a ser reproduzidos sucessivamente em diversas cidades,
sem considerar as particularidades de cada local.

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Relatório apo

  • 1. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design – FAUeD Ateliê de Projeto Integrado V Relatório de APO Conjunto Habitacional São Jorge I Ana Lúcia Caetano Eduardo Bezzon Gabriel dos Reis Larissa Carvalho Verônica Pereira Uberlândia - 2013
  • 2. O Conjunto Habitacional São Jorge I se situa no Bairro Laranjeiras, entre as ruas Antônio Bernardes Costa e Wilson Cunha, na cidade de Uberlândia, MG. A Análise de Pós-Ocupação ocorreu no dia 14 de Junho de 2013, realizada pelo presente grupo em três unidades habitacionais do Bloco G do conjunto. O bloco, como os demais, apresenta planta em formato H, com quatro pavimentos e quatro unidades por pavimento, totalizando dezesseis unidades por bloco. O entorno conta com uma Unidade de Saúde (UAI-São Jorge) muito próxima e um Centro de Saúde (Dr. Rofles Cecílio), de modo que este critério se mostrou satisfatório durante as entrevistas com os moradores. Inclusive, a UAI se encontra em umas das laterais do conjunto, de grandes dimensões e fácil acesso, apesar de atender apenas casos de média complexidade e emergências. Quanto à educação, existem três escolas municipais (Escola Municipal Jacy de Assis, Escola Municipal Sebastiana Silveira Pinto e EMEI Augusta Maria Freitas) e uma estadual (Escola Estadual Parque São Jorge) para atender a população neste local. As escolas, apesar de numerosas, se dedicam majoritariamente à educação infantil, deixando a desejar no ensino fundamental, especialmente no ensino médio. Unidades visitadas A primeira família visitada no conjunto era composta por um casal com um filho de dois anos e outra filha já formada. Antes de se mudarem para o apartamento próprio, eles moravam em uma casa alugada. O lado bom dessa mudança foi a conquista do imóvel próprio, por outro lado a casa alugada proporcionava um grande espaço. A dona de casa entrevistada pouco saía do apartamento e, quando acontecia, utilizava o carro que o marido usava para ir e voltar do trabalho e também o transporte coletivo público. Os equipamentos que dão suporte para o conjunto são muito precários, a família sente muita falta de um espaço de convivência entre familiares, amigos, etc. Áreas como salão de festas, churrasqueiras e aparelhos de ginásticas foram citadas como possíveis soluções para esse problema. A falta de segurança também foi outro ponto reforçado pelos moradores. Com relação ao interior da habitação, as reclamações mais comuns eram da cozinha e área de serviços que foram mal planejadas e são espaços muito pequenos. Como a família é constituída de 4 pessoas, dois quartos eram insuficientes para suprir as necessidades de toda a família. No caso, seria necessário o acréscimo de um quarto para a habitação.
  • 3. A falta de privacidade, problemas com barulhos dos vizinhos e também poucos acessos ao conjunto são dificuldades enfrentadas pelos moradores. A segunda unidade visitada abriga três moradores, uma família do tipo monoparental composta pela mãe que trabalha como decoradora de quarto de crianças e suas duas filhas, estas com faixa etária entre 13 e 15 anos. A renda familiar está acima de R$1.200,00 mensais e o apartamento é próprio, ocupado desde 2010. Antes de mudar para o conjunto, a família morava em uma residência alugada no Bairro Martins e a conquista do imóvel próprio foi o principal motivo para a mudança. O novo bairro é agradável, mas não muito próximo ao centro da cidade. Apesar de fazer pouco uso do transporte público, as entrevistadas classificaram-no como satisfatório. A falta de áreas de convívio externas ao apartamento foi um ponto novamente levantado, neste caso para o lazer de adolescentes, de modo que o conjunto só contempla crianças com estes espaços. A aparência externa do edifício é boa. A segurança contra roubo e entrada de estranhos é satisfatória para as moradoras, nunca tiveram problemas, apesar de alguns relatos dos vizinhos. Com as aberturas dos dormitórios para Nordeste, a iluminação e a ventilação foram classificadas como boas dentro da unidade. O espaço interno poderia ser mais generoso, talvez até com mais um dormitório para acomodar bem cada uma das filhas adolescentes, que têm pouca privacidade com os espaços oferecidos. Na terceira unidade visitada, são apenas dois moradores, uma família tipo monoparental, a mãe que trabalha como garçonete e seu filho. A renda da família fica entre 730,00 e 1.200,00 reais e o apartamento é alugado. Escolheram morar neste conjunto por gostar do bairro e, mesmo satisfeitos em relação à saúde e educação no bairro, eles reclamaram do transporte coletivo, taxado como insatisfatório. Apesar de ter uma área de lazer no conjunto, eles não a utilizam por sua precariedade e sentem a necessidade de equipamentos de ginástica, churrasqueira e, principalmente, um salão de festas. Utilizam a moto como meio de transporte e consideram o conjunto isolado e afastado do centro da cidade. Entretanto, se sentem felizes em relação ao ambiente do bairro, agradável de morar.
  • 4. A mulher reclamou bastante da pouca segurança no conjunto, e contou que já houve muitos casos de roubos dentro do conjunto, inclusive da moto dela que já foi furtada dentro do próprio estacionamento. Consideram os acessos e caminhos que ligam aos apartamentos e a aparência externa do edifício como médios, e os materiais utilizados na construção tanto do edifício, quando do interior do apartamento, como ruins. Mesmo morando só os dois no apartamento, eles acham que o tamanho é pequeno e que os espaços internos deveriam ser melhor distribuídos. Seus móveis couberam parcialmente na unidade, mas são suficientes para a quantidade de pertences. A privacidade é considerada ruim, tanto em relação aos vizinhos, quanto em relação aos outros moradores do apartamento, a iluminação e a ventilação são boas, a temperatura é média tanto para o verão e inverno. Esta unidade se localiza na mesma orientação da segunda unidade visitada, apenas em outro pavimento. Quanto aos ruídos externos ao apartamento, é silencioso tanto no dia, quanto na noite, já os internos, é muito barulhento durante o dia e médio a noite. Considera seu apartamento pouco decorado, e identifica-se razoavelmente com o espaço, mesmo assim, se adaptou bem a ele. O apartamento, para eles, é apropriado para dormir, estudar e lazer, mesmo sendo visível a necessidade de um espaço maior para acomodar melhor os móveis, já que a mesa do computador não tem espaço nem para a cadeira ficando ‘presa’ entre os sofás. É considerado médio para trabalhar, pouco apropriado para cozinhar, descansar e receber pessoas, e totalmente desapropriado para lavar roupa e estocar objetos. Conclusões gerais Os equipamentos públicos de cultura não existem, tanto no bairro quanto nas proximidades, uma questão unânime entre os entrevistados. O playground, localizado ao centro da implantação, entre os blocos de apartamentos, se configura como uma área de uso coletivo pouco aproveitada. Não há manutenção no local, a areia está sempre suja. Sua grande extensão não justifica a quantidade de crianças no conjunto, além de ocupar uma grande área que poderia melhorar acessos e circulação, impossibilitando melhor aproveitamento do térreo. É nítido o descaso no planejamento das áreas coletivas, além da baixa ou inexistente manutenção dos poucos espaços que se configuram. O estacionamento não possui cobertura, tal que alguns moradores tiveram iniciativas isoladas de cobrir suas próprias vagas.
  • 5. Quanto à qualidade dos materiais de construção e acabamento, tanto no conjunto quanto no apartamento, foram considerados ruins. Durante a visita, o grupo observou o desgaste de alguns destes nas fachadas, pequenas rachaduras no exterior dos blocos e no interior de uma das unidades, mesmo com pouco tempo de finalização e ocupação do empreendimento. No interior das unidades, todos os entrevistados, independente do perfil familiar e quantidade de moradores, apontaram o problema da divisão interna dos espaços, que são mal distribuídos e nem sempre permitem a realização das atividades dentro dos cômodos, além da pequena área interna das unidades. Estes critérios acabam trazendo outros problemas decorrentes dos mesmos. Por exemplo, a privacidade em relação aos vizinhos é razoável, mas dentro da unidade foi sempre considerada péssima. Da mesma forma a acústica foi avaliada, razoável em relação ao conjunto, mas péssima dentro da unidade. As áreas de serviço e cozinha são desapropriadas à realização das atividades que se destinam. A cozinha é pequena e não comporta bem fogão, geladeira e pia, dificultando o ato de cozinhar e mesmo circular, além de não oferecer espaço para estocagem de materiais, panelas e outros utensílios. A área de serviços também é pequena para acomodar tanque e máquina de lavar, a iluminação é precária e não permite secagem satisfatória das roupas, sem prejudicar a iluminação da cozinha. Em algumas unidades, os moradores precisam secar suas roupas nos quartos, pois além de pouca iluminação, não há espaço. Não há local para fazer refeições, tal que a sala deve servir tanto às atividades de jantar e estar, mas suas dimensões não permitem boa acomodação dos móveis para os dois usos. Enfim, é nítido o descaso e a falta de planejamento das habitações de interesse social no Brasil. São projetos que não atendem as necessidades de seus moradores e, mesmo após a identificação de seus problemas, esses projetos continuam a ser reproduzidos sucessivamente em diversas cidades, sem considerar as particularidades de cada local.