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HERTA MÜLLER. AUTORA ROMENA? DE LÍNGUA ALEMÃ? PRÊMIO NOBEL?
Gerson Roberto Neumann1
Resumo: Herta Müller, autora premiada com o Prêmio Nobel de Literatura tem como particularidade
que suas obras são publicadas em língua alemã. Mas Herta Müller é romena. Nasceu e viveu em uma
comunidade minoritária étnica de alemães emigrados para a Romênia. Devido a perseguições políticas
após a Segunda Guerra, ela se exila na Alemanha, onde continua sua obra e se torna conhecida. Sua
obra, porém, caracteriza-se pelo pensar entre-mundos, pelo constante diálogo com o outro, numa
constante busca por algo e/ou por um lugar. Ela também leva consigo tudo o que tem e que pode
carregar (a língua, a memória, os símbolos). A partir dos estudos do romanista alemão Ottmar Ette,
entre outros estudiosos do tema (Bhabha, Said, Guibernau), pretende-se apresentar e trazer à discussão
a obra de Herta Müller, uma autora que “escreveentremundos” (zwischenweltenschreiben, conforme o
título de uma obra de Ette), tornando a sua obra, muitas vezes, de difícil definição no que se refere a
pertencimento.
Palavras-chave: Herta Müller; identidade; local da literatura.
Abstract: Bei Herta Müller, Nobelpreisträgerin für Literatur, kann man als Besonderheit erwähnen,
dass sie ihre Werke in deutscher Sprache veröffentlicht. Herta Müller ist Rumänin. Sie wurde geboren
und lebte in einer ethnischen Minderheitsgruppe deutscher nach Rumänien Emigrierten. Aufgrund
politischer Verfolgung nach dem Zweiten Weltkrieg ist sie in Deutschland im Exil, wo sie ihre Arbeit
fortsetzt und bekannt wird. Ihre Arbeit ist jedoch gekennzeichnet durch das Zwischen-Welten-Denken
gekennzeichnet, durch den ständigen Dialog mit dem Anderen in einer ständigen Suche nach etwas
und/oder nach einem Ort. Sie trägt auch alles, was Sie hat und was sie mitnehmen kann (Sprache,
Gedächtnis, Symbole). Basiert auf den Untersuchungen des deutschen Romanisten Ottmar Ette, unter
anderen Wissenschaftlern des Bereichs (Bhabha, Said, Guibernau), zielt man darauf ab, die Arbeit von
Herta Müller zur Diskussion zu bringen und die Autorin, die zwischenweltenschreibt (laut der Titel
Ettes Buch) und so ihr Werk zu einer schwierigen Einordnung macht, in einer Gruppe zu diskutieren
mit dem Ziel sie mit anderen ähnlichen Fällen zu vergleichen.
Keywords: Herta Müller; Identität; Verortung der Literatur.
1. Introdução
A obra de Herta Müller já havia sido premiada e reconhecida antes ainda de a autora ser
agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura em 2009. Mas esse reconhecimento dá-se, sobretudo, nos
países de língua alemã, principalmente pelo fato de ela ter se exilado das perseguições do regime
político romeno na Alemanha. Os livros de Herta Müller estão recebendo maior atenção no cenário
1
Professor Adjunto de Literatura e Língua Alemã e Tradução na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-
mail: gerson.neumann@gmail.com
brasileiro, depois que ela recebeu o prêmio Nobel. Afirmo isso porque antes disso, antes de 2009, três
obras da autora haviam sido traduzidas e publicadas em língua portuguesa: O homem é um grande faisão
sobre a terra. Tradução de Maria Antonieta C. Mendonça. Cotovia, 1993; A terra das ameixas verdes.
Tradução de Maria Alexandra A. Lopes. Difel, 1999 e O Compromisso. Tradução de Lya Luft. Globo,
2004. De 2010 a 2012 foram publicados seis.
Nesse breve texto, pretende-se apresentar a autora como uma escritora que produz entre
mundos – Zwischenweltenschreiben –, aproveitando o título do romanista alemão Otmar Ette, pois, apesar
de ela escrever em língua alemã, os temas geralmente se localizam no cenário romeno, abordando as
questões políticas, econômicas, histórias, assim como as belezas e memórias da fase de sua vida naquele
contexto. Em relação às obras, pretende-se dar uma atenção maior ao livro que certamente pode ser
tomado como o seu mais importante: Tudo o que tenho levo comigo (2009).2
Além desse, pretende-se
comentar um aspecto novo de uma de suas últimas produções, ainda não traduzido para o Português:
Vater telefoniert mit den Fliegen (2012).
2. Herta Müller. Sua vida
Conhecida de fato, a obra de Herta Müller se torna a partir de suas publicações no cenário de
língua alemã. A propósito, o fato de Herta Müller publicar em língua alemã pode ser tomado como uma
marca de sua obra, pois a autora é romena. Ela nasceu e viveu em uma comunidade minoritária étnica
de alemães - os Banater Deutsche (alemães do Banato, região dividida hoje entre Romênia, Sérvia e
Hungria) emigrados para a Romênia. Herta Müller nasceu em 1953, em Nitzkydorf, na Romênia. Desde
1987, ela vive como escritora em Berlim, na Alemanha.
A relação da autora com a língua alemã, contudo, é peculiar. Até os quinze anos ela falava
somente alemão na Romênia. Em 1987, Herta Müller emigra para a Alemanha, onde publica seus livros
em alemão, mas “mesmo após ter vivido no país por 25 anos, ela continua a ser, de certa forma, uma
estranha, em parte por causa do sotaque – ‘falo uma espécie de língua de Habsburgo,’ diz – e pontos de
vista, mas também por causa de seu estilo incomum e vocabulário, cheio de palavras-valise inventadas,”
escreve Larry Rohter no jornal de The New York Times, publicado em português no jornal Zero Hora,
de Porto Alegre, no Caderno Cultura (ROTHER, 2012, P. 6).
2 Chamo a atenção aqui ao fato de termos uma publicação praticamente paralela de duas traduções para o Português. Uma
de 2010, sob o título Tudo o que eu tenho trago Comigo, tradução de Aires Graça, publicada pela editora Dom Quixote, de
Portugal, e a outra, de 2011, sob o título Tudo o que tenho levo comigo, tradução de Carola Saavedra, publicada pela editora
Companhia das Letras.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as minorias alemãs são perseguidas pelo governo
romeno de Nicolae Ceauşescu. A própria autora é alvo de perseguição por se negar a ser informante do
governo. A constante confrontação (pessoal ou coletiva), com a qual a autora convive desde a infância,
está presente na sua obra. Sua mãe também passou anos em um campo de trabalhos forçados.
Devido a perseguições políticas após a Segunda Guerra, Müller se exila na Alemanha, onde
continua sua obra e se torna conhecida. Sua obra, porém, caracteriza-se pelo pensar entre-mundos, pelo
constante diálogo com o outro, numa constante busca por algo e/ou por um lugar. As personagens em
Müller caracterizam-se pela constante busca, levando consigo tudo o que tem e que pode carregar (a
língua, a memória, os símbolos).
Para a situação de Herta Müller talvez possam valer as palavras de André Aciman, autor egípcio
de origem francesa exilado nos Estados Unidos, em Nova Iorque. No seu livro Letters of Transit.
Reflections on Exile, Identity, Language, and Loss, pode-se ler: “Nos suas lembranças constantemente
transbordantes, os exilados veem duplo, sente duplo, são duplos. Ao verem um local, veem – ou
localizam – um outro local por trás deste. Tudo carrega dois rostos, tudo é mutável porque é móvel.”
(ACIMAN, Apud ETTE, 1999, p. 13). Herta Müller sente-se certamente romena, mas com uma
identidade ancorada na cultura alemã, devido à imigração de seus antepassados naquele país e por
consequência ela fala alemão até seus quinze anos de idade. Ela escreve em alemão, publica seus livros
em alemão, mas vivendo na Alemanha, sente-se diferente devido ao seu sotaque e também devido a
determinados pontos de vista.
3. Da obra de Herta Müller
A premiada autora Herta Müller quer falar a partir da Alemanha, país que a acolheu depois que
optou por emigrar devido a discordâncias com o regime de Nicolae Ceauşescu, sobre sua vida,
conforme suas próprias palavras em entrevista concedida no dia 12 de outubro de 2012 ao programa
“No sofá azul”, da ZDF, TV estatal alemã.3
A obra de Herta Müller caracteriza-se pela sua intensidade
e a densidade da sua poesia e a franqueza da prosa com que retrata o universo dos desapossados, dos
perseguidos, dos desfavorecidos. Essa foi, entre outros pontos relevantes, a argumentação para que a
obra de Herta Müller fosse reconhecida com a honraria máxima da literatura. Conforme a academia
sueca, a obra de Herta Müller retrata o universo daqueles que carregam consigo o que têm, o universo
3 É interessante acessar a entrevista acessível no site
http://www.zdf.de/ZDFmediathek/beitrag/video/1750166/Herta+M%C3%BCller+auf+dem+blauen+Sofa. Último
acesso no dia 14 de abril de 2013.
dos desapossados. Aí uma clara referência à principal obra de Müller: Tudo que tenho levo comigo (Em
alemão Atemschaukel).
Herta Müller publica o romance Tudo o que tenho levo comigo em 2009. No romance, Leopold
Auberg, um adolescente de dezessete anos, da Transilvânia, relata sobre sua deportação para o campo
de trabalho forçado chamado Novo Gorlowka, na Ucrânia Soviética. A perseguição a romenos alemães
no pós-guerra se torna visível nessa história pessoal. Para a figura de Leopold, a autora usa a história
real de seu amigo Oscar Pastior, poeta morto em 2006 e agraciado postumamente com o Prêmio Georg
Büchner, cujo relato oral (suas memórias) Herta Müller anotou em diversos cadernos. Esse romance
também entrou para a lista de livros a candidato a livro premiado de 2009. Um choque para a autora
foi, contudo, a descoberta de que Pastior também fora informante da Securitate (a polícia secreta
romena) sob o código Otto Stein. Essa descoberta deu-se em 2010, com a abertura dos arquivos do
serviço secreto.
Para compreender a produção literária de Herta Müller e para que se entenda a intensidade da
sua literatura é importante buscar referências na sua vida pessoal, o que de certo modo conduziu a
autora para que iniciasse a sua produção. Segundo a própria autora, ainda jovem ela ocupara por dois
anos a vaga de tradutora em uma fábrica romena de máquinas. Nesse período, teria sido procurada três
vezes por um agente do serviço secreto, que a queria como informante. Ela se recusou, rasgando o
documento de recrutamento que lhe era apresentado. Por isso fora ameaçada de morte. A partir de
então sua situação naquele emprego ficou insustentável, sendo-lhe retirado o seu local de trabalho.
Assim, passou a fazer traduções na escada deste prédio, mesmo que ninguém as tivesse solicitado. Foi
assim que ela havia se tornado escritora.
Segundo a autora, através da língua pode-se combater ditaduras, pois sob tais regimes não se
pode dizer tudo, mas escrever permite mais. Assim, a prosa de Herta Müller procura o espaço da
infância, o espaço do vilarejo, onde tudo parece eterno, porque permanece imóvel e com isso tem um
peso que se torna difícil de medir. E ela cita também a linguagem não estritamente escrita, mas também
a de gestos e de outras formas de expressão. Aí estaria a liberdade dos oprimidos. As palavras
formariam algo como uma pantomima da realidade em ação, paralela a esta realidade. O mundo da sua
literatura está marcado pelas palavras, afirma Richard Wagner, seu ex-marido e também escritor
romeno, emigrado juntamente com ela. Também o tema da solidão é recorrente na sua obra, pois a
ditadura também sempre está implicitamente lá. Nessa solidão as palavras são de extrema importância.
Na mesma entrevista acima mencionada, Herta Müller faz referência à procura por palavras.
Hoje a autora é conhecida pelo seu trabalho com colagem. Na sua mais recente obra Vater telefoniert mit
den Fliegen (Em português Papai conversa com as moscas ao telefone), Herta Müller faz intenso uso da
colagem. Ela diz que a vida é uma colagem e que muitas construções acontecem puramente ao acaso,
conceito muito importante para a autora. Em relação à sua forma de trabalho, ela sai á procura das
palavras, procurando no seu baú (de memórias) e digere as palavras. Em outra entrevista, para a Revista
Spiegel, ela diz: “comi a linguagem” (SPIEGEL, 2012, 128). As palavras são selecionadas e colocadas
para que se forme a mensagem – o que quer ser dito – e aí a importância do acaso, pois uma vez
definido o texto, ele é fixado e passa a ser definitivo. Assim também é a vida, segundo a autora, pois há
situações que se definem e não há como lutar contra elas. Mas é possível reparar erros cometidos no
texto, assim como é possível rever erros cometidos no decorrer da vida.
Ainda em relação ao trabalho de produção com colagem, a autora diz que isso lhe traz
lembranças do passado, de sua vida na Romênia durante a ditadura, pois os panfletos não podiam ser
produzidos com máquinas de escrever por todas serem registradas junto à polícia. Escrever por meio
de colagem oferece-lhe a possibilidade de entrecruzar o teor de seus ensaios e de sua prosa que se
caracterizam por abordarem temas que geralmente carregam alto índice de tensão, encolhimento e
medo.
Voltando à obra Tudo o que tenho levo comigo e tentando estabelecer uma relação entre ambas,
pode-se afirmar que os 54 capítulos que compõem o romance são algo como colagens ou as imagens
que o narrador passa ao leitor, permitindo-lhe que seja construída uma representação do que foi a vida
de Leopold Auberg desde o momento em que soube que seria levado aos campos de trabalho forçado
longe de sua terra – no capítulo intitulado “Sobre fazer as malas” – até o último – “Sobre os tesouros”
– em que o narrador reflete sobre o simples fato de estar aí.
Dentre os muitos capítulos que compõem o livro existe uma certa autonomia entre eles. Não há
necessariamente uma sequencialidade para que o leitor possa acompanhar a narrativa. Mas a escrita de
Herta Müller é muito intensa e, mesmo nas poucas palavras que compõem as suas breves narrativas,
muitas vezes em breves frases, pode-se perceber isso. Isso pode ser constatado no capítulo de uma
página, intitulado “Aguardente de alcatrão”:
Deitei-me novamente. Ele permaneceu sentado, e eu ouvi o gorgolejo. No Bazar Bea
Zakel havia trocado o pulôver de lã dele por aguardente de alcatrão. Ele bebeu. E não
perguntou mais nada. Na manhã seguinte, Karli Halmen contou: Ele ainda perguntou
algumas vezes o que significava dar e receber. Mas você dormia profundamente.
(MÜLLER, 2011, p. 94).
A narrativa de Müller em Tudo o que tenho levo comigo pode ser lida como um conjunto de
pequenas histórias que até podem ser lidas aleatoriamente, pois são histórias que acompanham o
narrador em sua dura vida no campo de trabalhos forçados. A sua estratégia para sobreviver dá-se por
meio da manutenção de lembranças, principalmente de sua terra, onde está a sua família. Em “Tempos
emocionantes”: “Nestes tempos emocionantes, dissera ele. O Blaupunkt foi uma boa compra, depois
os tempos se tornariam mais emocionantes ainda. Três anos depois, início de setembro e novamente
época de salada fria de pepino na sombra da varanda” (MÜLLER, 2011, p. 55). Outra passagem
significativa que exemplifica muito bem a luta pela sobrevivência e para tal a necessidade de agarrar-se a
símbolos e propostas colocadas a si mesmo, encontra-se em “Lenço e ratos”:
Quando nos escapa o controle do destino, estamos perdidos. Eu tinha certeza de que a
frase de despedida de minha avó – EU SEI QUE VOCÊ VAI VOLTAR – se
transformou num lenço de bolso. Não sinto vergonha de dizer que o lenço era a única
pessoa no campo de trabalho que se preocupava comigo. Tenho certeza disso até hoje.
Às vezes os objetos adquirem certa delicadeza, monstruosidade que não esperamos
deles. (MÜLLER, 2011, p. 82).
Também o pai é lembrado em certos momentos. Num deles, Leopold lembra do pai depois de
ter matado um esquilo da terra e este, ao morrer, solta um assobio curto como um trem. Ele não
consegue matar a sua fome com o esquilo. Ao final do capítulo “como os segundos se estendem”, ele
diz: “pai, uma vez você quis ensinar-me a assobiar quando alguém se perde.” (MÜLLER, 2011, p. 128).
Além do fato de o narrador lembrar da figura do pai, para quem certamente gostaria de assobiar por
estar perdido, pode-se interpretar o chamado ou a lembrança como consequência de um momento de
solidão.
4. Considerações finais
Herta Müller pode ser vista também como a personagem Leopold Auberg, que é baseado na
história real de seu amigo Oscar Pastior. Pode-se afirmar que Herta Müller busca no exílio na
Alemanha o local de fuga, onde necessita manter-se viva e onde sempre será estranha, de onde passa a
contar suas histórias sem proibições e perseguições. Leopold Auberg também quer deixar sua terra,
como ele diz logo nas primeiras páginas, quando fala “Sobre fazer as malas” por sentir-se observado
demais. “Eu queria ir embora daquele dedal de cidade onde até as pedras tinham olhos. Em vez de
medo eu sentia uma impaciência enconberta.” (MÜLLER, 2011, p. 12).
Herta Müller escreve a partir de um local privilegiado por estar fora do seu contexto – a
Romênia –, que certa forma lhe causa dificuldades em função da tentativa de controle total por parte do
regime político. A perseguição a Herta Müller e seus companheiros dá-se, contudo, devido à sua filiação
identitária, ao fato de ela pertencer a um grupo minoritário alemão na Romênia. Ao final da Segunda
Guerra Mundial (e já durante a mesma, como se pode ler no relato de Leopold: “A guerra ainda não
terminara em janeiro de 1945. Apavorados com o fato de que, em pleno inverno, os russos me
obrigassem a ir sabe-se lá para onde, ...” (MÜLLER, 2011, P. 11)), muitos alemães emigrados e
descendentes sofreram com as conseqüências e a retaliações nos países então adversários.
Herta Müller, autora romena e Prêmio Nobel de Literatura, que escreve em língua alemã para o
mundo, é isso: alguém que escreve de diversas formas sobre os medos e as lutas das pessoas que
enfrentam as adversidades para fugirem da derrota, da morte.
REFERÊNCIAS:
ETTE, Ottmar. ZwischenWeltenSchreiben. Literaturen ohne festen Wohnsitz (ÜberLebenswissen II). Berlin:
Kulturverlag Kadmos, 2005.
MÜLLER, Herta. O homem é um grande faisão sobre a terra. Tradução de Maria Antonieta C. Mendonça.
Cotovia, 1993.
MÜLLER, Herta. A terra das ameixas verdes. Tradução de Maria Alexandra A. Lopes Difel, 1999.
MÜLLER, Herta. O Compromisso. Tradução de Lya Luft. Globo, 2004.
MÜLLER, Herta. Depressões. Tradução de Ingrid Ani Assmann. Globo, 2010.
MÜLLER, Herta. Tudo o que eu tenho trago Comigo. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2010.
MÜLLER, Herta. Tudo o que tenho levo comigo. Tradução de Carola Saavedra. Companhia das Letras,
2011.
MÜLLER, Herta. O rei faz vénia e mata. Tradução de Helena Topa. Texto Editores, 2011.
MÜLLER, Herta. Hoje Preferia não me ter encontrado. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2011.
MÜLLER, Herta. Já então a raposa era o caçador. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2012.
MÜLLER. Herta. “Ich habe die Sprache gegessen”. In: Spiegel. Nr. 35, 2012, 128-132.
MÜLLER. Herta. Vater telefoniert mit den Fliegen, Hanser Verlag , München 2012.
ROTHER, Larry. “Memórias familiares do holocausto. Tudo o que Herta Müller leva consigo.” In: Zero
Hora - Cultura, Sábado, 23 de junho de 2012.

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Herta Müller. Autora romena? De língua alemã? Prêmio Nobel?

  • 1. HERTA MÜLLER. AUTORA ROMENA? DE LÍNGUA ALEMÃ? PRÊMIO NOBEL? Gerson Roberto Neumann1 Resumo: Herta Müller, autora premiada com o Prêmio Nobel de Literatura tem como particularidade que suas obras são publicadas em língua alemã. Mas Herta Müller é romena. Nasceu e viveu em uma comunidade minoritária étnica de alemães emigrados para a Romênia. Devido a perseguições políticas após a Segunda Guerra, ela se exila na Alemanha, onde continua sua obra e se torna conhecida. Sua obra, porém, caracteriza-se pelo pensar entre-mundos, pelo constante diálogo com o outro, numa constante busca por algo e/ou por um lugar. Ela também leva consigo tudo o que tem e que pode carregar (a língua, a memória, os símbolos). A partir dos estudos do romanista alemão Ottmar Ette, entre outros estudiosos do tema (Bhabha, Said, Guibernau), pretende-se apresentar e trazer à discussão a obra de Herta Müller, uma autora que “escreveentremundos” (zwischenweltenschreiben, conforme o título de uma obra de Ette), tornando a sua obra, muitas vezes, de difícil definição no que se refere a pertencimento. Palavras-chave: Herta Müller; identidade; local da literatura. Abstract: Bei Herta Müller, Nobelpreisträgerin für Literatur, kann man als Besonderheit erwähnen, dass sie ihre Werke in deutscher Sprache veröffentlicht. Herta Müller ist Rumänin. Sie wurde geboren und lebte in einer ethnischen Minderheitsgruppe deutscher nach Rumänien Emigrierten. Aufgrund politischer Verfolgung nach dem Zweiten Weltkrieg ist sie in Deutschland im Exil, wo sie ihre Arbeit fortsetzt und bekannt wird. Ihre Arbeit ist jedoch gekennzeichnet durch das Zwischen-Welten-Denken gekennzeichnet, durch den ständigen Dialog mit dem Anderen in einer ständigen Suche nach etwas und/oder nach einem Ort. Sie trägt auch alles, was Sie hat und was sie mitnehmen kann (Sprache, Gedächtnis, Symbole). Basiert auf den Untersuchungen des deutschen Romanisten Ottmar Ette, unter anderen Wissenschaftlern des Bereichs (Bhabha, Said, Guibernau), zielt man darauf ab, die Arbeit von Herta Müller zur Diskussion zu bringen und die Autorin, die zwischenweltenschreibt (laut der Titel Ettes Buch) und so ihr Werk zu einer schwierigen Einordnung macht, in einer Gruppe zu diskutieren mit dem Ziel sie mit anderen ähnlichen Fällen zu vergleichen. Keywords: Herta Müller; Identität; Verortung der Literatur. 1. Introdução A obra de Herta Müller já havia sido premiada e reconhecida antes ainda de a autora ser agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura em 2009. Mas esse reconhecimento dá-se, sobretudo, nos países de língua alemã, principalmente pelo fato de ela ter se exilado das perseguições do regime político romeno na Alemanha. Os livros de Herta Müller estão recebendo maior atenção no cenário 1 Professor Adjunto de Literatura e Língua Alemã e Tradução na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E- mail: gerson.neumann@gmail.com
  • 2. brasileiro, depois que ela recebeu o prêmio Nobel. Afirmo isso porque antes disso, antes de 2009, três obras da autora haviam sido traduzidas e publicadas em língua portuguesa: O homem é um grande faisão sobre a terra. Tradução de Maria Antonieta C. Mendonça. Cotovia, 1993; A terra das ameixas verdes. Tradução de Maria Alexandra A. Lopes. Difel, 1999 e O Compromisso. Tradução de Lya Luft. Globo, 2004. De 2010 a 2012 foram publicados seis. Nesse breve texto, pretende-se apresentar a autora como uma escritora que produz entre mundos – Zwischenweltenschreiben –, aproveitando o título do romanista alemão Otmar Ette, pois, apesar de ela escrever em língua alemã, os temas geralmente se localizam no cenário romeno, abordando as questões políticas, econômicas, histórias, assim como as belezas e memórias da fase de sua vida naquele contexto. Em relação às obras, pretende-se dar uma atenção maior ao livro que certamente pode ser tomado como o seu mais importante: Tudo o que tenho levo comigo (2009).2 Além desse, pretende-se comentar um aspecto novo de uma de suas últimas produções, ainda não traduzido para o Português: Vater telefoniert mit den Fliegen (2012). 2. Herta Müller. Sua vida Conhecida de fato, a obra de Herta Müller se torna a partir de suas publicações no cenário de língua alemã. A propósito, o fato de Herta Müller publicar em língua alemã pode ser tomado como uma marca de sua obra, pois a autora é romena. Ela nasceu e viveu em uma comunidade minoritária étnica de alemães - os Banater Deutsche (alemães do Banato, região dividida hoje entre Romênia, Sérvia e Hungria) emigrados para a Romênia. Herta Müller nasceu em 1953, em Nitzkydorf, na Romênia. Desde 1987, ela vive como escritora em Berlim, na Alemanha. A relação da autora com a língua alemã, contudo, é peculiar. Até os quinze anos ela falava somente alemão na Romênia. Em 1987, Herta Müller emigra para a Alemanha, onde publica seus livros em alemão, mas “mesmo após ter vivido no país por 25 anos, ela continua a ser, de certa forma, uma estranha, em parte por causa do sotaque – ‘falo uma espécie de língua de Habsburgo,’ diz – e pontos de vista, mas também por causa de seu estilo incomum e vocabulário, cheio de palavras-valise inventadas,” escreve Larry Rohter no jornal de The New York Times, publicado em português no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no Caderno Cultura (ROTHER, 2012, P. 6). 2 Chamo a atenção aqui ao fato de termos uma publicação praticamente paralela de duas traduções para o Português. Uma de 2010, sob o título Tudo o que eu tenho trago Comigo, tradução de Aires Graça, publicada pela editora Dom Quixote, de Portugal, e a outra, de 2011, sob o título Tudo o que tenho levo comigo, tradução de Carola Saavedra, publicada pela editora Companhia das Letras.
  • 3. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as minorias alemãs são perseguidas pelo governo romeno de Nicolae Ceauşescu. A própria autora é alvo de perseguição por se negar a ser informante do governo. A constante confrontação (pessoal ou coletiva), com a qual a autora convive desde a infância, está presente na sua obra. Sua mãe também passou anos em um campo de trabalhos forçados. Devido a perseguições políticas após a Segunda Guerra, Müller se exila na Alemanha, onde continua sua obra e se torna conhecida. Sua obra, porém, caracteriza-se pelo pensar entre-mundos, pelo constante diálogo com o outro, numa constante busca por algo e/ou por um lugar. As personagens em Müller caracterizam-se pela constante busca, levando consigo tudo o que tem e que pode carregar (a língua, a memória, os símbolos). Para a situação de Herta Müller talvez possam valer as palavras de André Aciman, autor egípcio de origem francesa exilado nos Estados Unidos, em Nova Iorque. No seu livro Letters of Transit. Reflections on Exile, Identity, Language, and Loss, pode-se ler: “Nos suas lembranças constantemente transbordantes, os exilados veem duplo, sente duplo, são duplos. Ao verem um local, veem – ou localizam – um outro local por trás deste. Tudo carrega dois rostos, tudo é mutável porque é móvel.” (ACIMAN, Apud ETTE, 1999, p. 13). Herta Müller sente-se certamente romena, mas com uma identidade ancorada na cultura alemã, devido à imigração de seus antepassados naquele país e por consequência ela fala alemão até seus quinze anos de idade. Ela escreve em alemão, publica seus livros em alemão, mas vivendo na Alemanha, sente-se diferente devido ao seu sotaque e também devido a determinados pontos de vista. 3. Da obra de Herta Müller A premiada autora Herta Müller quer falar a partir da Alemanha, país que a acolheu depois que optou por emigrar devido a discordâncias com o regime de Nicolae Ceauşescu, sobre sua vida, conforme suas próprias palavras em entrevista concedida no dia 12 de outubro de 2012 ao programa “No sofá azul”, da ZDF, TV estatal alemã.3 A obra de Herta Müller caracteriza-se pela sua intensidade e a densidade da sua poesia e a franqueza da prosa com que retrata o universo dos desapossados, dos perseguidos, dos desfavorecidos. Essa foi, entre outros pontos relevantes, a argumentação para que a obra de Herta Müller fosse reconhecida com a honraria máxima da literatura. Conforme a academia sueca, a obra de Herta Müller retrata o universo daqueles que carregam consigo o que têm, o universo 3 É interessante acessar a entrevista acessível no site http://www.zdf.de/ZDFmediathek/beitrag/video/1750166/Herta+M%C3%BCller+auf+dem+blauen+Sofa. Último acesso no dia 14 de abril de 2013.
  • 4. dos desapossados. Aí uma clara referência à principal obra de Müller: Tudo que tenho levo comigo (Em alemão Atemschaukel). Herta Müller publica o romance Tudo o que tenho levo comigo em 2009. No romance, Leopold Auberg, um adolescente de dezessete anos, da Transilvânia, relata sobre sua deportação para o campo de trabalho forçado chamado Novo Gorlowka, na Ucrânia Soviética. A perseguição a romenos alemães no pós-guerra se torna visível nessa história pessoal. Para a figura de Leopold, a autora usa a história real de seu amigo Oscar Pastior, poeta morto em 2006 e agraciado postumamente com o Prêmio Georg Büchner, cujo relato oral (suas memórias) Herta Müller anotou em diversos cadernos. Esse romance também entrou para a lista de livros a candidato a livro premiado de 2009. Um choque para a autora foi, contudo, a descoberta de que Pastior também fora informante da Securitate (a polícia secreta romena) sob o código Otto Stein. Essa descoberta deu-se em 2010, com a abertura dos arquivos do serviço secreto. Para compreender a produção literária de Herta Müller e para que se entenda a intensidade da sua literatura é importante buscar referências na sua vida pessoal, o que de certo modo conduziu a autora para que iniciasse a sua produção. Segundo a própria autora, ainda jovem ela ocupara por dois anos a vaga de tradutora em uma fábrica romena de máquinas. Nesse período, teria sido procurada três vezes por um agente do serviço secreto, que a queria como informante. Ela se recusou, rasgando o documento de recrutamento que lhe era apresentado. Por isso fora ameaçada de morte. A partir de então sua situação naquele emprego ficou insustentável, sendo-lhe retirado o seu local de trabalho. Assim, passou a fazer traduções na escada deste prédio, mesmo que ninguém as tivesse solicitado. Foi assim que ela havia se tornado escritora. Segundo a autora, através da língua pode-se combater ditaduras, pois sob tais regimes não se pode dizer tudo, mas escrever permite mais. Assim, a prosa de Herta Müller procura o espaço da infância, o espaço do vilarejo, onde tudo parece eterno, porque permanece imóvel e com isso tem um peso que se torna difícil de medir. E ela cita também a linguagem não estritamente escrita, mas também a de gestos e de outras formas de expressão. Aí estaria a liberdade dos oprimidos. As palavras formariam algo como uma pantomima da realidade em ação, paralela a esta realidade. O mundo da sua literatura está marcado pelas palavras, afirma Richard Wagner, seu ex-marido e também escritor romeno, emigrado juntamente com ela. Também o tema da solidão é recorrente na sua obra, pois a ditadura também sempre está implicitamente lá. Nessa solidão as palavras são de extrema importância. Na mesma entrevista acima mencionada, Herta Müller faz referência à procura por palavras. Hoje a autora é conhecida pelo seu trabalho com colagem. Na sua mais recente obra Vater telefoniert mit den Fliegen (Em português Papai conversa com as moscas ao telefone), Herta Müller faz intenso uso da
  • 5. colagem. Ela diz que a vida é uma colagem e que muitas construções acontecem puramente ao acaso, conceito muito importante para a autora. Em relação à sua forma de trabalho, ela sai á procura das palavras, procurando no seu baú (de memórias) e digere as palavras. Em outra entrevista, para a Revista Spiegel, ela diz: “comi a linguagem” (SPIEGEL, 2012, 128). As palavras são selecionadas e colocadas para que se forme a mensagem – o que quer ser dito – e aí a importância do acaso, pois uma vez definido o texto, ele é fixado e passa a ser definitivo. Assim também é a vida, segundo a autora, pois há situações que se definem e não há como lutar contra elas. Mas é possível reparar erros cometidos no texto, assim como é possível rever erros cometidos no decorrer da vida. Ainda em relação ao trabalho de produção com colagem, a autora diz que isso lhe traz lembranças do passado, de sua vida na Romênia durante a ditadura, pois os panfletos não podiam ser produzidos com máquinas de escrever por todas serem registradas junto à polícia. Escrever por meio de colagem oferece-lhe a possibilidade de entrecruzar o teor de seus ensaios e de sua prosa que se caracterizam por abordarem temas que geralmente carregam alto índice de tensão, encolhimento e medo. Voltando à obra Tudo o que tenho levo comigo e tentando estabelecer uma relação entre ambas, pode-se afirmar que os 54 capítulos que compõem o romance são algo como colagens ou as imagens que o narrador passa ao leitor, permitindo-lhe que seja construída uma representação do que foi a vida de Leopold Auberg desde o momento em que soube que seria levado aos campos de trabalho forçado longe de sua terra – no capítulo intitulado “Sobre fazer as malas” – até o último – “Sobre os tesouros” – em que o narrador reflete sobre o simples fato de estar aí. Dentre os muitos capítulos que compõem o livro existe uma certa autonomia entre eles. Não há necessariamente uma sequencialidade para que o leitor possa acompanhar a narrativa. Mas a escrita de Herta Müller é muito intensa e, mesmo nas poucas palavras que compõem as suas breves narrativas, muitas vezes em breves frases, pode-se perceber isso. Isso pode ser constatado no capítulo de uma página, intitulado “Aguardente de alcatrão”: Deitei-me novamente. Ele permaneceu sentado, e eu ouvi o gorgolejo. No Bazar Bea Zakel havia trocado o pulôver de lã dele por aguardente de alcatrão. Ele bebeu. E não perguntou mais nada. Na manhã seguinte, Karli Halmen contou: Ele ainda perguntou algumas vezes o que significava dar e receber. Mas você dormia profundamente. (MÜLLER, 2011, p. 94). A narrativa de Müller em Tudo o que tenho levo comigo pode ser lida como um conjunto de pequenas histórias que até podem ser lidas aleatoriamente, pois são histórias que acompanham o narrador em sua dura vida no campo de trabalhos forçados. A sua estratégia para sobreviver dá-se por meio da manutenção de lembranças, principalmente de sua terra, onde está a sua família. Em “Tempos
  • 6. emocionantes”: “Nestes tempos emocionantes, dissera ele. O Blaupunkt foi uma boa compra, depois os tempos se tornariam mais emocionantes ainda. Três anos depois, início de setembro e novamente época de salada fria de pepino na sombra da varanda” (MÜLLER, 2011, p. 55). Outra passagem significativa que exemplifica muito bem a luta pela sobrevivência e para tal a necessidade de agarrar-se a símbolos e propostas colocadas a si mesmo, encontra-se em “Lenço e ratos”: Quando nos escapa o controle do destino, estamos perdidos. Eu tinha certeza de que a frase de despedida de minha avó – EU SEI QUE VOCÊ VAI VOLTAR – se transformou num lenço de bolso. Não sinto vergonha de dizer que o lenço era a única pessoa no campo de trabalho que se preocupava comigo. Tenho certeza disso até hoje. Às vezes os objetos adquirem certa delicadeza, monstruosidade que não esperamos deles. (MÜLLER, 2011, p. 82). Também o pai é lembrado em certos momentos. Num deles, Leopold lembra do pai depois de ter matado um esquilo da terra e este, ao morrer, solta um assobio curto como um trem. Ele não consegue matar a sua fome com o esquilo. Ao final do capítulo “como os segundos se estendem”, ele diz: “pai, uma vez você quis ensinar-me a assobiar quando alguém se perde.” (MÜLLER, 2011, p. 128). Além do fato de o narrador lembrar da figura do pai, para quem certamente gostaria de assobiar por estar perdido, pode-se interpretar o chamado ou a lembrança como consequência de um momento de solidão. 4. Considerações finais Herta Müller pode ser vista também como a personagem Leopold Auberg, que é baseado na história real de seu amigo Oscar Pastior. Pode-se afirmar que Herta Müller busca no exílio na Alemanha o local de fuga, onde necessita manter-se viva e onde sempre será estranha, de onde passa a contar suas histórias sem proibições e perseguições. Leopold Auberg também quer deixar sua terra, como ele diz logo nas primeiras páginas, quando fala “Sobre fazer as malas” por sentir-se observado demais. “Eu queria ir embora daquele dedal de cidade onde até as pedras tinham olhos. Em vez de medo eu sentia uma impaciência enconberta.” (MÜLLER, 2011, p. 12). Herta Müller escreve a partir de um local privilegiado por estar fora do seu contexto – a Romênia –, que certa forma lhe causa dificuldades em função da tentativa de controle total por parte do regime político. A perseguição a Herta Müller e seus companheiros dá-se, contudo, devido à sua filiação identitária, ao fato de ela pertencer a um grupo minoritário alemão na Romênia. Ao final da Segunda Guerra Mundial (e já durante a mesma, como se pode ler no relato de Leopold: “A guerra ainda não terminara em janeiro de 1945. Apavorados com o fato de que, em pleno inverno, os russos me
  • 7. obrigassem a ir sabe-se lá para onde, ...” (MÜLLER, 2011, P. 11)), muitos alemães emigrados e descendentes sofreram com as conseqüências e a retaliações nos países então adversários. Herta Müller, autora romena e Prêmio Nobel de Literatura, que escreve em língua alemã para o mundo, é isso: alguém que escreve de diversas formas sobre os medos e as lutas das pessoas que enfrentam as adversidades para fugirem da derrota, da morte. REFERÊNCIAS: ETTE, Ottmar. ZwischenWeltenSchreiben. Literaturen ohne festen Wohnsitz (ÜberLebenswissen II). Berlin: Kulturverlag Kadmos, 2005. MÜLLER, Herta. O homem é um grande faisão sobre a terra. Tradução de Maria Antonieta C. Mendonça. Cotovia, 1993. MÜLLER, Herta. A terra das ameixas verdes. Tradução de Maria Alexandra A. Lopes Difel, 1999. MÜLLER, Herta. O Compromisso. Tradução de Lya Luft. Globo, 2004. MÜLLER, Herta. Depressões. Tradução de Ingrid Ani Assmann. Globo, 2010. MÜLLER, Herta. Tudo o que eu tenho trago Comigo. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2010. MÜLLER, Herta. Tudo o que tenho levo comigo. Tradução de Carola Saavedra. Companhia das Letras, 2011. MÜLLER, Herta. O rei faz vénia e mata. Tradução de Helena Topa. Texto Editores, 2011. MÜLLER, Herta. Hoje Preferia não me ter encontrado. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2011. MÜLLER, Herta. Já então a raposa era o caçador. Tradução de Aires Graça. Dom Quixote, 2012. MÜLLER. Herta. “Ich habe die Sprache gegessen”. In: Spiegel. Nr. 35, 2012, 128-132. MÜLLER. Herta. Vater telefoniert mit den Fliegen, Hanser Verlag , München 2012. ROTHER, Larry. “Memórias familiares do holocausto. Tudo o que Herta Müller leva consigo.” In: Zero Hora - Cultura, Sábado, 23 de junho de 2012.