1) O documento discute conceitos-chave relacionados à ação humana, como intenção, decisão e motivo.
2) Uma ação humana é definida como uma interferência consciente e voluntária de um agente que tem a intenção de causar um evento.
3) A intenção é a ideia de realizar uma ação. A decisão determina qual ação será realizada, após uma deliberação que analisa os motivos.
1. ESCOLA SECUNDÁRIA DE BOCAGE
Ficha de Apoio - A rede conceptual da acção
Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra ‘acção’ (por exemplo, acção como
participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra estriba na produção
ou causação de um efeito.
A palavra ‘acção’ emprega-se às vezes para falar de animais não humanos (diz-se que a acção
das cigarras é benéfica para a agricultura) ou, inclusive, de objectos inanimados (diz-se que a
gravitação é uma forma de acção à distância ou que a toda a acção exercida sobre um corpo
corresponde uma acção igual de sentido contrário). Mas sobretudo usamos a
palavra ‘acção’ para nos referirmos ao que fazem os humanos. Aqui só nos ACÇÃO
interessa este tipo de acção, acção humana. HUMANA
As nossas acções são (algumas das) coisas que Agir e acção derivam do termo latino agere cujo
significado é agir, produzir, fazer e corresponder a um
fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um
acto contínuo.
campo semântico bastante mais amplo que o
substantivo ‘acção’. O latim distingue o agere Fazer provém do termo facere que é usado para
do facere (aos quais corresponde em português significar uma actividade realizada num dado
agir e fazer). Ao substantivo latino actio, instante .
derivado de agere, corresponde o substantivo
acção. Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘acção’ só carreia a carga semântica de
‘agir’ e não propriamente de ‘fazer’.
Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma
acção. Enquanto dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas,
apertamos a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez
ressonemos alto ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos
Quando dormimos
pela casa. Todas estas coisas as realizam inconscientemente, realizamos acções
enquanto dormimos. Realizamo-las mas não nos damos conta inconscientes, como por
delas, não temos consciência de que as realizamos. A estas exemplo: ressonar, falar em
coisas que fazemos inconscientemente não lhes vamos chamar voz alta…
acções.
Vamos reservar o termo ‘acção’ para as coisas que realizamos conscientemente, dando-nos
conta de que as fazemos.
Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que à sua
realização corresponda uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos ‘tiques’ e de muitos
dos nossos actos reflexos, mas realizamo-los involuntariamente,
constatamo-los como espectadores, não os efectuamos como agentes. (A Agente – O autor da
acção. O sujeito que
palavra ‘agente’ é outra das palavras derivadas do verbo latino agere.)
escolhe, decide o que
Por algo que sentimos depois de comer damo-nos conta de que estamos a quer fazer e como o quer
fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui (normalmente) uma fazer.
acção. Pelos sorrisos dos que nos observam damo-nos conta de que
estamos a ser ridículos. Mas ser ridículo (praticar actos ridículos) não é uma acção, mas uma
reacção, algo que nos passa despercebido e que lamentamos (a não ser que o façamos de
propósito, como provocação; neste caso já seria uma acção). Também não chamamos acção a
esses aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não efectuamos
intencionalmente.
Texto de apoio – A rede conceptual da acção
Professora Júlia Martins | Novembro 2010
2. No presente estudo limitar-nos-emos às acções humanas conscientes e voluntárias, às que
daqui em diante chamaremos acções (sem mais). Uma acção é uma interferência consciente e
voluntária de um homem ou de uma mulher (o agente) no normal decurso das
coisas, que sem a sua interferência haveriam seguido um caminho distinto do
que por causa da acção seguiram. Uma acção consta, pois, de um evento que ACÇÃO
sucede graças à interferência de um agente e de um agente que tinha a HUMANA
intenção de interferir para conseguir que tal evento sucedesse."
MOSTERÍN, Jesús (1987). Racionalidad y Acción Humana. Madrid: Alianza, pp. 141-142.
A intenção é sempre a intenção de fazer algo, é sempre activa, implica uma
certa tensão em direcção à realização de uma acção, à produção de um evento. INTENÇÃO
(…) Enfim, as minhas intenções são as ideias que eu quero realizar.
Por vezes, contrapõe-se ingenuamente a acção às ideias. E supõe-se o “homem de acção”
parco em palavras e ideias. Mas não há acção humana sem intenção, e as intenções são ideias.
MOSTERÍN, Jesús (1987). Racionalidad y Acción Humana. Madrid: Alianza
A decisão determina a acção. Decisão – é uma escolha
Entre as diversas possibilidades que nos são colocadas
que implica uma
para a nossa acção, a opção por uma delas é primordial.
Através da comparação dos prós e dos contra dessas preferência. Designa
possibilidades, nós optamos por uma, decidimo-nos por aquela categoricamente a acção
que melhor responde ao nosso projecto. Ao optar por essa acção a realizar.
rejeitamos todas as outras possibilidades de agir.
A decisão implica, assim, uma aposta, um compromisso e a
aceitação de todos os resultados que daí possam decorrer.
No fundo, diríamos que decidir é criar. Ao decidir realizamos algo de nosso, algo de
novo na realidade, alterámo-la por nós próprios, pela nossa acção. Ao agir decididamente
assumimo-nos e escolhemo-nos.
Adaptado
Deliberação - análise
A decisão é sempre fruto de uma deliberação dos motivos que nos
leva a agir desta ou
daquela maneira.
O motivo é o porquê da acção. O motivo responde ao porquê, a decisão Motivo
responde à pergunta quê, que fazemos, identifica a acção. Na filosofia da acção o
motivo é consciente ou susceptível de o ser. (…) dizer o motivo ou a causa da acção é dizer o
mesmo.
O motivo é o motor do nosso agir.
O mesmo motivo pode originar várias acções. Ter fome pode fazer-nos decidir por
cozinhar, ir a uma restaurante ou roubar alimentos.
Texto de apoio – A rede conceptual da acção
Professora Júlia Martins | Novembro 2010