Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física, discute os principais desafios da educação física no Brasil, como a falta de investimento no setor e a necessidade de valorizar a profissão de educador físico. Ele também destaca a importância da atividade física para a saúde física e mental das pessoas.
Revista medicando---saúde-em-movimento---edição-11
1. ENTREVISTA: Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física
m
revista
Ano 1 - nº 11 - outubro 2011 - www.revistamedicando.com.br
saúde em movimento
A volta da
AIDS
A eficácia das drogas contra o vírus
e a ausência do tema na mídia fazem
o medo da doença desaparecer.
E as mulheres jovens são
as maiores vítimas
AVANÇO CIENTÍFICO
Técnica reduz tempo de recuperação
em cirurgia de tendão
QUALIDADE DE VIDA
Com ritmo envolvente, Zouk invade
o país e faz dançar no compasso da saúde
2. Proteção em qualquer idade,
proteção para toda a vida.
A vacina é o melhor jeito de se prevenir contra diversas
doenças. No Sabinvacinas, você encontra imunização
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3.
4. expediente editorial
Diretor Executivo
Adauto Menezes Quem vê cara continua
não vendo Aids
Editor Chefe
Maurício Lima (Brasília)
Salvador Nogueira (São Paulo)
Editor Assistente
Este ano, líderes do mundo se reuniram em Nova York para rever os avanços alcançados no
Elizângela Isaque (Brasília)
programa “2015 Millennium Development Goals” da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem
Equipe de Reportagem como objetivo acabar com a pobreza mundial. Essa iniciativa é dividida em oito importantes objetivos,
Danielle Coimbra (Brasília) como: assegurar a sustentabilidade do meio ambiente; promover a saúde das mães; combater o HIV/
Fernanda Brandão (São Paulo) Aids, a malária e outras doenças; reduzir as mortes infantis etc.
Henrique Giordano (São Paulo)
Nesse evento, os representantes mundiais escutaram o apelo de Ebube Syvia Taylor, uma
Hemerson Brandão (São Paulo)
Larissa Chaves (São Paulo) criança africana de apenas 11 anos, não portadora do vírus HIV, que disse: “Nenhuma criança deveria
nascer com HIV; nenhuma criança deveria ser órfã por causa do HIV; nenhuma criança deveria morrer
Consultor Técnico devido à falta de acesso ao tratamento”.
Maurício Lima Infelizmente, diferente de várias partes do mundo, onde a epidemia de Aids começa a dar
sinais de reversão no crescimento, a África ainda é assombrada pela doença e pela falta de tratamento
Projeto Gráfico e Criação
Wagner Ribeiro adequado. Segundo a ONU, existem 15 milhões de pessoas com HIV em países de baixa e média renda
per capta e apenas 5,2 milhões têm acesso ao tratamento adequado, que é fundamental para a sobre-
Colunistas desta edição vida dos portadores da doença.
Dr. Juliano Scheffer
Dra. Simone Kikuchi
Gerente Comercial
Gustavo Lourenço
Planejamento
Lya Lins
Coordenador de TI
Renato Mendes Figueiredo
Equipe de TI
Erick Francis
Frank Bezerra
Jordana Mello Sem dados <0.1% 0.1% - <0.5% 0.5% - <1.0% 1.0% - <5.0% 5.0% - <15.0% 15.0% - <28.0%
Lucas Gomes
Marinilson Soares No Brasil, a realidade é bem diferente. Aqui, o fato de o tratamento estar disponível na rede
Raniery Ribeiro pública de saúde ajudou muito na queda do número de mortes. No entanto, um artigo publicado na
revista “Epidemiologia e Serviços de Saúde” mostra a outra face dessa questão. Trata-se de um estudo
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Sistema M de Comunicação realizado pela Dra. Ana Cristina Reis e sua equipe, o qual revela que as pessoas com menor nível socio-
SHIS QI 11 Bl. M Loja 24 econômico ainda são menos assistidas e falecem mais, em decorrência do HIV.
Lago sul - Brasília/DF Uma das causas desse problema é a detecção tardia da doença, o que mostra a necessidade de mais
esclarecimentos junto à população quanto à necessidade de se fazer o exame quando a pessoa se expõe a
Telefone
fatores de risco. Outra preocupação das autoridades é com a continuidade do tratamento pelos pacientes que,
61 3532-0825
se começado quando a taxa viral ainda é baixa, apresenta excelentes resultados.
E-mail Nossos ídolos já não morrem mais da doença, mas ainda se infectam, e essa falsa sensação
contato@medicando.com.br de segurança que se instaurou deve ser desfeita, pois, embora o tratamento adequado possa evitar o
editorial@revistamedicando.com.br falecimento, não se pode ignorar o fato de que o coquetel com a medicação apresenta efeitos colaterais
desconfortáveis. Além disso, nessa situação, o sistema imunológico dos portadores da Aids fica prejudi-
Endereços Eletrônicos
www.medicando.com.br cado, o que abre a porta para doenças como hepatite e câncer, entre outras.
www.revistamedicando.com.br Nesse número da Revista Medicando, buscamos mostrar que a aparente segurança adquirida
pelos tratamentos atuais não pode fazer com que pensemos que a Aids deixou de ser um problema.
Anuncie na Revista Uma vacina eficaz ainda está longe de ser oferecida à população e o número de novos contaminados
comercial@revistamedicando.com.br
é preocupante. Fazemos esse alerta, não para criar pânico, mas para que haja preocupação quanto à
61 3532-0825
importância da prevenção e do diagnóstico precoce.
Redes Sociais
Maurício Lima
@medicando Editor da Revista Medicando - Saúde em Movimento
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6 anos. Uma experiência que trouxe à Infinita a capacidade de atender a
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6. Cartas
Alcoolismo na juventude
Considero boa a iniciativa de pautar a revista para tratar do tenimento, logo, nossa cultura de lazer e entretenimento está ligada ao
tema do alcoolismo na juventude. Esse é um problema mundial, mas que hedonismo exagerado, inconsequente e destrutivo. Logo, também dá para
alcança números muito preocupantes aqui no Brasil. Muito interessante questionar essa necessidade incontrolável por álcool.
saber que o consumo no Brasil é hoje 50% maior do que a média global, Mas dá para falar assim? Dá para fazer um questionamento desses
mas acho que é preciso – sempre – em um bom jornalismo como esse sem que a reportagem esteja dando um tapa na cara da sociedade? Claro
praticado pela Revista Medicando, raspar a superfície e ver o que está por que dá. Precisamos desse tapa na cara, e não nos atermos a reportar o que
debaixo da casca da tinta. as autoridades dizem. A Revista Medicando precisa e pode contribuir como
Na página 19, a segunda da citada reportagem, no trecho a parte de uma inteligência corporativa (seja jornalista ou científica) que possa
seguir, eu encontro perguntas que não são respondidas: “Pesquisa do brindar seus leitores com questionamentos, com suposições, aprofundando
Instituto Ibope Inteligência, realizada em maio deste ano, demonstra a os temas, tocando nas feridas e raspando o verniz para que possamos ver o
ineficácia da legislação atual, no que diz respeito à restrição de bebidas
que está lá embaixo.
alcoólicas para menores de 18 anos.” Se hoje consumimos 50% a mais de álcool do que a média mun-
Em um caso como esse é, então, necessário mudar a lei? Ora, dial é porque queremos. E a pergunta não é “como evitar que isso aconte-
sabemos que o problema em 99% de casos como esse não é como a lei foi ça?”. A pergunta é: “por que queremos beber tanto assim?”
escrita, mas como ela é aplicada. Mais adiante: “o alcoolismo está intima- O trecho que diz “De forma geral, é preciso que a sociedade e os pais
mente ligado à necessidade incontrolável por álcool, e não essencialmente possam refletir a respeito da banalização atribuída a qualquer consumo de ál-
ao tipo de bebida, ao tempo que a pessoa bebe ou quanto álcool ingere.” cool, mesmo quando ele é problemático” contém o tom que a matéria deveria
Sabemos que a maior parte do amplificar e devolver para o leitor. Era esse meu toque. Espero a próxima edição.
consumo de drogas no Brasil
está ligada a motivos de entre- Armênio Costa, Porto Velho, Rondônia
Nota da Redação: Caro Armênio, obrigado por sua mensagem e por seus elogios. Concordamos
que a associação do álcool à diversão é perversa e perigosa, como a reportagem destaca. Contudo, isso não
muda o fato de que, uma vez que a pessoa adentra o mundo das drogas (lícitas ou ilícitas), isso causa de-
pendência química – o que explica o desejo incontrolável de beber. Quem começa a ingerir álcool busca
diversão. Mas os dependentes bebem para não passar mal, e não para sentir-se bem. Esse é um ponto que
também precisa ser destacado (e a reportagem trabalha nele), para que as vítimas do álcool não sejam vilani-
zadas ou discriminadas pela sociedade, e sim sejam auxiliadas a escapar das garras do vício. Mais uma vez,
obrigado pelas ponderações e esperamos que nossas reportagens continuem a trazer questionamentos, uma
vez que acreditamos numa sociedade democrática com senso crítico e capacidade para pensar por si mesma.
Muito apropriada a escolha da reportagem principal neste número 18, da Revista Medicando, sobre a proble-
mática do uso abusivo de álcool entre os adolescentes, que não para de crescer.
Lamentavelmente nossa sociedade ainda classifica as drogas em ilícitas e lícitas, as primeiras acompanhadas da
proibição e da punição, as segundas culturalmente aceitas por nós, apresentadas aos nossos filhos precocemente e utilizadas nas famílias desde sempre. Pri-
meiro, em momentos de comemorações e, atualmente, acompanhando a rotina de vida das pessoas. As crianças crescem em famílias que fazem uso dessas
drogas “lícitas” e, consequentemente, nada mais normal que elas cresçam pensando que a utilização de cerveja, vinho, uisque e demais seja “normal”.
O estímulo ao consumo das drogas lícitas é absurdo e vem acompanhado de mensagens de sucesso e felicidade nos diversos meios de comu-
nicação em massa. Nada mais fértil que cabeças em formação de juízos para que se perpetue o consumo e, claro, interesses econômicos vêm na frente
dos interesses de saúde de uma população.
No consumo do álcool, não há garantia de que o adolescente consumidor de hoje não seja o viciado de amanhã. Algumas pessoas têm ten-
dência ao desenvolvimento do vício, outras, não; consequente, não há consumo de bebida alcoólica seguro. Toda população sofre o apelo da mídia para
ser um consumidor em potencial, de vários produtos, e o álcool está entre eles.
Felizmente, alguns movimentos ocorreram e continuam ocorrendo, como o combate ao tabagismo que tem sido vencedor. Espera-se que
realmente os interesses econômicos de uma minoria possam ser vencidos pelos interesses de saúde da maioria. Parabéns pela feliz escolha.
Laura Vargas Acauan Brasília - DF
Nota da Redação: Obrigado pelo comentário, Laura. Ao avaliarmos a relevância de um tema como o do alcoolismo, objetivamos, principalmente, for-
necer ao leitor elementos suficientes para que ele possa refletir e tecer opiniões próprias sobre o assunto. Por meio da Revista Medicando acreditamos
poder exercer um dos principais papéis da mídia, que é trazer à tona fatos nem sempre explorados, mas que, ao se tornarem públicos, passem a contri-
buir diretamente para a formação de uma população mais consciente.
06
7. Fama
Excelente a reportagem “Distúrbios por trás da fama”. Inte-
ressante perceber que o que as pessoas julgam por “estrelismo” é, às ve-
zes, um problema além do que possamos imaginar. Não somente com
celebridades, mas também com pessoas comuns. O abuso de drogas e
remédios é, porém, uma fuga desastrosa para muitos.
Érica Bernardo, Brasília - DF
Gostei muito da matéria “A doença da Fama” publicada na
edição 09 da revista, que abordou o tema de uma forma simples e que
todos entendem. Hoje em dia, existem pessoas que sofrem dessa do-
ença e não sabem por falta de informação. A revista e a repórter estão
de parabéns.
Mayara Cristina, Conselheiro Mairink, Paraná
Nota da Redação: Érica e Mayara, muito obrigado pelos elogios. A equi-
pe da Revista Medicando e a repórter Elizângela Isaque agradecem.
Tive acesso à última edição da Revista Medicando pela inter-
net, enquanto fazia uma pesquisa sobre ovário policístico. Li a matéria
completa, que por sinal esclareceu todas as minhas dúvidas, e acabei
navegando por toda a revista. Simplesmente fantástica! Matérias bem
escritas, claras e muita informação interessante. Parabéns por disponi-
bilizar essa riqueza de material na internet, à disposição de todos que
desejam notícias bem elaboradas.
Sandra Medeiros, Vitória -Espírito Santo
Nota da Redação: Sandra, uma das funções da Revista Medicando é essa mesma: trazer dados sólidos e de qualidade a respeito de condições
médicas, sem o alarmismo ou os desencontros de informação que vemos por aí. Esperamos continuar sendo uma referência para você.
Escreva para nós
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07
8. sumário
ENTREVISTA: Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física
m
revista
CAPA
Ano 1 - nº 11 - outubro 2011 - www.revistamedicando.com.br
saúde em movimento
A volta da
A VOLTA DA AIDS
AIDS
A eficácia das drogas contra o vírus
e a ausência do tema na mídia fazem
o medo da doença desaparecer.
E as mulheres jovens são
as maiores vítimas
AVANÇO CIENTÍFICO
Falta de medo da doença leva
ao aumento de contaminações,
principalmente entre a
20
Técnica reduz tempo de recuperação
em cirurgia de tendão
população feminina
QUALIDADE DE VIDA
Com ritmo envolvente, Zouk invade
o país e faz dançar no compasso da saúde
ENTREVISTA
14 JORGE STEINHILBER
Presidente do Confef fala sobre a
necessidade de mais união entre as
profissões de saúde
AVANÇO CIENTíFICO
Nova vacina promete inovar
os tratamentos contra o HIV 28
Como evitar lesões no tendão calcâneo,
o famoso calcanhar de Aquiles 32
QUALIDADE DE VIDA
44
Com ritmo envolvente, zouk
invade o país e faz dançar
no compasso da saúde
9. PLANTÃO M
Estudo do sistema imunológico rende Nobel
em Fisiologia ou Medicina a três cientistas
10
O QUE É?
Câncer de pâncreas
48
VERDADE OU MENTIRA
Raspar o cabelo faz com que ele cresça mais grosso?
50
38 CONSCIENTIZAÇÃO
OUTUBRO ROSA
Ações do Outubro Rosa invadem
cidades do país e alertam
população contra os perigos do
câncer de mama
COLUNAS
Missão: lancheira saudável ........................................................................................................................... 36
Quais os limites para a reprodução humana? ............................................................................ 42
10. Plantão m As últimas novidades em medicina e saúde
Estudo do sistema imunológico rende
Nobel em Fisiologia ou Medicina
Americano, luxemburguês e canadense dividem o prêmio ao desvendarem novos
mistérios sobre o funcionamento do sistema de defesa do corpo humano
Foto: The Scripps Research Institute Foto: CNRS Photo Library/Pascal Disdier Foto: Rockefeller University Press
Bruce A. Beutler Jules A. Hoffmann
Ralph M. Steinman
O
Prêmio Nobel em Medicina ou Fi- de ativar e regular as fases finais da resposta
siologia de 2011 foi conferido ao imunológica, quando o organismo “se livra”
americano Bruce Beutler, ao luxem- de seus invasores.
burguês Jules Hoffmann e ao cana-
O anúncio foi feito antes de o comitê
dense Ralph Steinman por seus trabalhos sobre do prêmio saber do falecimento de Steinman, que
o sistema imunológico, anunciou a Academia chefiava o Centro de Imunologia e Doenças Imu-
Real de Ciências da Suécia. nes da Universidade Rockefeller, em Nova York. A
Os trabalhos do trio ganharam o universidade comunicou a fatalidade praticamente
prêmio por terem trazido novos lampejos ao mesmo tempo em que o Nobel era anunciado.
sobre o funcionamento do sistema de de- Segundo o comunicado no site da
fesa do corpo humano. De acordo com a Rockefeller, Steinman mostrou que a ciência pode
organização, os premiados deste ano revo- proveitosamente explorar o poder dessas células
lucionaram a compreensão do sistema imu- Beutler e Hoffmann descobriram
e outros componentes do sistema imunológico
nológico ao descobrirem as principais cha- proteínas no corpo que reconhecem micro- para lidar com infecções e outras doenças.
ves de sua ativação e possibilitarem novas organismos invasores e ativam seu sistema A cerimônia de entrega do prê-
formas de terapia contra infecções, doenças de defesa, enquanto Steinman descobriu as mio acontece no dia 10 de dezembro, em
inflamatórias e até mesmo o câncer.
células dendríticas e sua capacidade única Estocolmo, na Suécia.
10
11. Transplante de útero
de doadora morta Prevenção cardiovascular
tem êxito é precária em todo o mundo
Mulher de 21 anos que recebeu Estudo apresentado em congresso europeu mostrou
órgão deverá ter embriões
que adesão às drogas de prevenção secundária é baixa.
implantados dentro de seis
meses, se tudo correr bem Em países com nível de renda elevado, problema
é menos dramático
Uma cirurgia que pode dar esperan-
ças a milhões de mulheres que não podem ter
filhos obteve sucesso na Turquia. Derya Sert,
21 anos, é a primeira, no mundo, a receber um
transplante de útero de uma doadora morta.
A paciente nasceu sem o útero, como ocorre
com cerca de 5 mil mulheres no mundo.
Os médicos do hospital universi-
tário Akdeniz realizaram o transplante com
êxito em 9 de agosto. Agora, é necessário
esperar seis meses antes da implantação O estudo PURE (Prospective Urban Em relação às vastatinas, por exem-
dos embriões. Rural Epidemiologic Study), apresentado no plo, as taxas de uso foram de 66,5%, para os
Esse foi o segundo transplante de Congresso Europeu de Cardiologia, apontou países de alta renda, 17,6%, para os de média-
útero realizado no mundo. Em 2000, houve que a adesão às drogas de prevenção cardio- alta, 4,3% para os de média-baixa e 3,3% para os
uma primeira tentativa na Arábia Saudita. vascular secundária (vastatinas, antiplaquetá- de baixa renda. Nos países de baixa renda, 90%
A intervenção foi realizada com uma doa- rios etc.) é precária. Liderado pelo Dr. Salim dos pacientes não tomavam pelo menos uma
dora viva, mas fracassou depois de 99 dias, Yusuf, da Universidade McMaster (Canadá), medicação prescrita e 80% não estavam em
e os médicos tiveram que retirar o órgão o levantamento avaliou a taxa de uso dessas uso de qualquer medicação para prevenção se-
transplantado. medicações em 17 países de acordo com o cundária das doenças cardiovasculares, como o
Segundo Munir Erman Akar, gineco- nível de renda apresentado. infarto do miocárdio e o derrame cerebral.
logista integrante da equipe responsável pelas Com o objetivo muito mais Entre os fatores que se relacionam
duas operações, durante a cirurgia, em 2000, a abrangente que a análise da parte car- com as baixas taxas de adesão ao tratamento, o
veia era curta demais para a anastomose (união) díaca da população, o estudo coletou mais importante foi o desenvolvimento econô-
e o útero não estava bem assistido. informações sobre idade, sexo, grau de mico do país. Contudo, também houve uma re-
Hoje, os médicos turcos acreditam instrução, histórico médico, estilo de vida lação significativa com a urbanização da região
ter conseguido resolver esse problema. Ao (atividade física e dietas), material gené- pesquisada, sexo e a idade do paciente.
trabalhar com uma doadora já morta, eles pu- tico para análise futura e fatores de risco O estudo PURE incluiu 153.996 pa-
deram extrair mais tecido ao redor do útero e cardiovascular, além do uso do tratamen- cientes, entre 35 e 70 anos de idade, em países
os vasos sanguíneos foram mais longos. Jun- to prescrito. Em todos os países conside- de alta renda (Canadá, Suécia e Emirados Ára-
to a isso, soma-se o fato de que, nos últimos rados, a aderência às drogas de prevenção bes), média-alta renda (Argentina, Brasil, Chile,
anos, os remédios imunossupressores, admi- secundária foi muito baixa. No entanto, os Polônia, África do Sul e Turquia), média-baixa
nistrados para evitar a rejeição, passaram por resultados variaram bastante entre os paí- renda (China, Colômbia e Irã) e baixa renda
uma revolução. ses de alta e baixa renda. (Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbábue).
11
12. Plantão m As últimas novidades em medicina e saúde
Meta para 2015: 15 doadores de órgãos
para cada milhão de pessoas
Objetivo foi definido pelo Ministério da Saúde, em nova campanha;
índice atual é de 11,1 doadores para cada 1 milhão
Foto: Reprodução
O governo brasileiro pretende
alcançar, até 2015, a taxa de 15 doa-
dores de órgãos para cada 1 milhão de
habitantes. Atualmente, o índice é 11,1
doadores, totalizando cerca de duas mil
doações por ano.
Com o objetivo de conscientizar
os brasileiros sobre a importância da doa-
ção de órgãos, para aumentar o número de
transplantes no país, foi lançada, pelo Minis-
tério da Saúde, a campanha Seja um Doador
de Órgãos, Seja um Doador de Vidas.
Para a Associação Brasileira de
Transplantes de Órgãos (ABTO) é possível al-
cançar a meta definida pela pasta, desde que
as ações e os investimentos necessários sejam No Brasil, a doação de órgãos pre- taria um aumento de 13%. Já a estimativa
feitos de forma planejada e estruturada. Uma cisa ser autorizada pela família do doador de transplantes para 2011 é 23 mil, contra
das iniciativas apoiadas pelo instituto é a capa- – sem a necessidade de um documento as- 21.040 em 2010. Do total de transplantes
citação de pessoas que trabalham na captação sinado pela pessoa que morreu. Em 2010, no país, 95% são feitos por meio do Sistema
de órgãos e abordagem do tema nas faculda- 1.896 órgãos foram doados. A projeção Único de Saúde (SUS), de forma gratuita.
des de saúde, incluindo o assunto em currícu- para este ano, segundo o Ministério, é que Atualmente, o número de pessoas aguar-
los de medicina, enfermagem e psicologia. o número passe para 2.144, o que represen- dando um órgão chega a 36 mil.
Coração de paciente volta a bater após meses parado
Arte: Reprodução
É o primeiro caso do tipo no Brasil, em
que, depois de viver com órgão artificial
por algum tempo, o paciente recupera
seu próprio músculo cardíaco
O coração do carioca Sérgio Alexandre Leite
Genaro voltou a funcionar após três meses parado. Ago-
ra, o comerciante pode dizer que nasceu de novo e, ao
mesmo tempo, que entrou para a história da Medicina
no Brasil. Aos 48 anos e vítima de infarto, ele precisou
de cirurgia para receber ponte de safena, mas, durante o Foi a primeira vez, no país, que um paciente com o coração
procedimento, seu coração parou. artificial teve seu órgão original recuperado e dispensou o aparelho,
A única opção dos médicos foi a colocação de um sem necessidade de transplante. O tratamento foi feito no Instituto
órgão artificial junto com um equipamento que fica fora do Nacional de Cardiologia (INC), nas Laranjeiras, Rio de Janeiro.
corpo bombeando o sangue, substituindo a função cardía- Segundo o médico responsável pelo carioca, apesar de ain-
ca. Para surpresa de todos, o coração que havia parado vol- da não estar com a função cardíaca 100% reabilitada, o comerciante
tou a funcionar meses depois. terá uma vida normal.
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13. Foto: Reprodução
Excesso de tranquilizantes
e soníferos pode aumentar
risco de Alzheimer
Efeito foi encontrado por estudo
francês em 3.777 indivíduos
com idade acima dos 65 anos
e exige ação das autoridades
para conter o problema
Arte: Reprodução
Cientistas testam pílula
que controla o consumo
excessivo de álcool
O consumo crônico de benzo-
diazepinas – substâncias conhecidas como
tranquilizantes e soníferos – aumenta o risco
de uma pessoa sofrer do mal de Alzheimer. Droga faria o cérebro deixar de sentir os efeitos da
Segundo os primeiros resultados de um es-
tudo francês, anualmente, entre 16 mil e 31
bebedeira. Além de manter a sobriedade, substância
mil casos de Alzheimer seriam provocados na eliminaria as reações químicas cerebrais que levam ao vício
França por tratamentos com benzodiazepi-
nas (BZD) ou similares e seus genéricos. Uma pílula capaz de impedir o consumo abusivo de álcool está sendo criada
O encarregado do estudo, Bernard por cientistas. Com o seu uso, será possível beber sem sentir os sintomas da embriaguez,
Begaud, da Universidade de Bordeaux, se re- como falta de equilíbrio e reflexos lentos. A substância foi testada em ratos que recebiam
feriu às constatações como “uma verdadeira uma injeção de álcool capaz de os derrubar, mas apresentaram reflexos e capacidade de
bomba” e acrescentou que as autoridades equilíbrio normais.
precisam reagir. Ainda mais levando em conta Mas aí você pode pensar: se o cérebro fica preservado dos efeitos do álcool,
que, de nove estudos, incluindo esse, seis esta- então, em vez de combater o alcoolismo, a droga provavelmente irá estimulá-lo! Nada
belecem relação entre o consumo de tranqui- disso. Com o bloqueio dos efeitos do álcool no cérebro os pesquisadores acreditam que,
lizantes e soníferos e o mal de Alzheimer. além de evitar os vexames causados pela ingestão exagerada de álcool, será possível tratar
O estudo francês, em particular, foi o alcoolismo, limitando a sensação que o consumo da bebida tem para os dependentes.
realizado com 3.777 indivíduos de 65 anos ou A pesquisa é da Universidade de Adelaide, na Austrália, e foi feita em parceria
mais que tomaram BZD entre dois e dez anos. com pesquisadores dos Estados Unidos.
Ao contrário das quedas e fraturas causadas A substância utilizada pelos profissionais não é nova. Com o nome de naloxona,
por esses medicamentos, os efeitos cerebrais a droga, atualmente aprovada pelo FDA – órgão que regulamenta medicamentos nos
não são imediatamente perceptíveis. É neces- Estados Unidos –, é utilizada para o tratamento de overdose de heroína em humanos.
sário aguardar alguns anos para que surjam. Entretanto, a forma de naloxona usada no estudo foi levemente alterada para atingir as
As prescrições são normalmente células da glia (células de proteção do sistema nervoso central) e não os neurônios.
limitadas a duas semanas para os hipnóticos Durante o experimento, os cientistas descobriram que, quando as células do
e 12 semanas para os ansiolíticos. A forma sistema imunológico do cérebro (as mesmas células da glia que ocupam 90% do órgão
como os BZD atuam no cérebro para au- e o protegem de infeccções como a meningite) são desativadas, é possível a ingestão de
mentar esse risco de demência continua um grandes quantidades de bebida alcoólica sem que os efeitos do excesso sejam sentidos.
mistério, mas o problema já tinha sido men- A expectativa é que a pílula possa estar disponível para a venda em três anos.
cionado em 2006, em um relatório do Gabi- Mas é importante lembrar que a naloxona, em sua formulação atual, é uma droga que,
nete Parlamentar de Políticas de Saúde sobre além de reverter o efeito de entorpecentes, também pode afetar o pensamento e a aten-
Remédios Psicotrópicos. ção, de forma geral.
13
14. c com a palavra
Reeducação física
O presidente do Conselho Federal de Educação Física, Jorge Steinhilber, é categórico:
a luta contra a obesidade no Brasil só será vencida quando forem aplicadas políticas
públicas que ajudem a população a fugir do sedentarismo. Ele também é enfático
quanto à necessidade de um consenso sobre quais são as áreas de atuação
dos diferentes profissionais de saúde. Sobre esses e outros temas ele fala
com exclusividade à Revista Medicando
Por Elizângela Isaque
N
Fotos: Divulgação/Confef
unca, no Brasil, falou-se tanto Para Steinhilber, a falta de diálogo
sobre a importância de se praticar entre os Conselhos prejudica o estabe-
atividades físicas. Seja pelo viés lecimento de critérios claros quanto às
estético, cada vez mais valori- competências de cada profissão, impede o
zado e cobrado pela cultura contempo- estabelecimento de normas claras de regu-
rânea, ou pela crescente preocupação lamentação e, por isso, prejudica o cidadão.
em se evitar problemas de saúde, o “Acredito que nos hospitais, nas clínicas,
fato é que está na moda se exercitar. no SUS [Sistema Único de Saúde], no NASF
Nesse contexto, a busca pela tão [Núcleo de Apoio à Saúde da Família], os
desejada qualidade de vida tem profissionais estejam bem articulados e cada
provocado uma procura cres- um respeite a área de intervenção do outro.
cente por profissionais de outras
Contudo, em outros segmentos, há uma
áreas, a exemplo dos profis- briga pelo mercado e, em alguns momentos,
sionais de educação física, extrapolam a intervenção criando, sim, difi-
entre os que buscam alterna- culdades para o paciente ou cliente identi-
tivas diferentes da medicina ficar qual profissional procurar”, afirma.
convencional para prevenir Nascido em Praga, na República
futuros problemas. Tcheca, Steinhilber chegou ao Brasil em
Na opinião do presidente 1949. Sua trajetória, até chegar à presi-
do Conselho Federal de Educação dência do Confef, inclui a implantação de
Física (Confef ), Jorge Steinhilber, programas como os Jogos Escolares na
essa tendência seria ainda mais cidade do Rio de Janeiro e o Programa de
benéfica para a sociedade se houvesse
Férias nas escolas públicas do Município no
maior entendimento entre cada uma das estado fluminense. Foi presidente da Asso-
14 profissões da área da saúde atualmente
ciação dos Professores de Educação Física
regulamentadas. No entanto, segundo ele, do Rio de Janeiro (APEF-Rio) e assessor de
as divergências atuais costumam ser discu- Educação Física da Secretaria Municipal de
tidas no âmbito legislativo, na tentativa Educação do Rio de Janeiro.
de garantir o direito à exclusividade Nessa entrevista à Revista Medi-
na realização de procedimentos cando, Steinhilber, que é autor dos livros
específicos.
“Colônia de Férias” e “Profissional de
Educação Física... existe?”, fala sobre a impor-
tância de se estimular a prática de esportes
e defende a obrigatoriedade da educação
física como disciplina no currículo escolar.
15. Revista Medicando - O papel do pro- O Confef tem feito algo para que o da Atividade Física para o Desenvolvimento
fissional de Educação Física é extre- governo adote políticas públicas que Humano, presidida pelo deputado federal
mamente importante na prevenção tragam resultados significativos, seja André Figueiredo, e as Audiências Públicas
de diversas doenças. Mesmo assim, há a médio ou longo prazo? da Comissão de Turismo e Esporte, que têm
uma alta taxa de profissionais que dei- dado boa atenção a essa relevante questão.
xam de atuar nessa área. Prova disso Steinhilber - O Brasil, assim como a maio- Em todas as oportunidades temos nos mani-
é o número quase inexistente de pro- ria dos demais países, vive a epidemia do festado junto ao Poder Executivo, Legislativo
fessores acima dos 40 anos nas acade- sedentarismo, que resulta na obesidade e e Judiciário no sentido de que o incentivo à
mias do país. Por que isso acontece? tem como consequência o surgimento de prática de atividades físicas seja pautada per-
doenças graves, prejudiciais ao indivíduo e manentemente pelas políticas públicas, e que
Jorge Steinhilber - Nós atuamos de forma à economia do país, em diversos aspectos. o esporte não seja apenas uma questão de
global sobre o ser, desenvolvendo trabalhos Na medida do possível, promovemos cam- governo, mas sim de Estado. Não basta o país
que possibilitem a prevenção de doenças, a panhas no sentido de incentivar a prática olhar o esporte como fator de competição e
promoção da saúde e a formação cidadã in- esportiva ou atuamos em parceria com ou- só preparar atletas para os torneios. Temos
tegral. Acredito que a taxa de profissionais tras entidades que promovem essa sensibili- que preparar campeões para a vida.
que deixam de atuar na área de formação zação, sempre lembrando a questão de que
não esteja relacionada à faixa etária, vez que a “boa orientação faz a diferença”. Ou seja, é Medicando – Ou seja, isso pode ser fei-
identificamos que em todas as áreas de for- necessário que os exercícios físicos e espor- to de forma paralela, certo?
mação profissional o índice de desistência é tivos sejam dinamizados, orientados e minis-
expressivo. Penso que o fator preponderante trados por profissionais de Educação Física. Steinhilber – Exatamente, pois não são ativi-
para essa desistência na área de Educação Atuamos junto aos parlamentares no sentido dades excludentes. Muito pelo contrário, são
Física seja o fato de os ingressantes serem de que estejam atentos a isso e promovam, complementares. O Brasil, além de seu vertigi-
jovens e, infelizmente, possuidores de pouca também, ações para sensibilizar a sociedade noso desenvolvimento democrático e cresci-
informação na educação média, a respeito a ter uma vida ativa. Uma das respostas do mento econômico, foi vitorioso ao conquistar
da intervenção do profissional de Educação Congresso foi a criação da Frente Parlamentar o direito de sediar os maiores megaeventos es-
Física. Outro fator relevante é a questão da portivos do planeta, como a Copa do Mundo
exigência de conhecimentos científicos para Foto: Reprodução
de Futebol e os Jogos Olímpicos e Paraolímpi-
atuar na área, que requer formação continu- cos, transformando o país na capital mundial
ada, e o baixo salário praticado no mercado. do esporte, pelo menos nos próximos cinco
anos. Por isso, temos a obrigação de estarmos
Medicando - O Conselho tem feito algo atentos a esse ”tsunami” esportivo e surfar na
para tentar reverter essa situação? onda, aproveitando a oportunidade de que es-
taremos todos, de alguma forma, sintonizados
Steinhilber - O sistema Confef/Crefs [Conse- no esporte, para estabelecer programas de
lhos Regionais de Educação Física] procura incentivo à prática esportiva. Essa também é
estar em sintonia com os cursos de formação, uma excelente oportunidade para incentivar
em especial com os coordenadores, articu- todos os órgãos e entidades a debaterem e
lando para que esses cursos sejam de boa abordarem o tema, tanto na perspectiva da
qualidade, pois uma intervenção qualificada busca para alcançarmos o patamar de potên-
depende da formação. Também colocamos cia esportiva como na perspectiva do esporte
os CREFs à disposição, para que sejam pro- enquanto fator de educação, saúde, formação
movidas orientações aos jovens, a respeito da e equidade social, contribuindo para que o
“
área e da atuação do profissional de Educa- país seja uma potência olímpica. Os governos,
ção Física na área da saúde. Por outro lado, os parlamentares e a mídia estão atuando e
instigamos a mídia para que cumpra o seu
É necessário que divulgando os programas relacionados à me-
papel social, informando e divulgando o perfil os exercícios físicos lhoria e às obras de infraestrutura, transporte,
necessário para a escolha da profissão. segurança, de equipamentos, treinamento
e esportivos sejam de atletas e meio ambiente, que esses mega-
Medicando – O aumento paulatino da dinamizados, orientados eventos proporcionarão. Contudo, faz-se ne-
expectativa de vida é acompanhado cessário planejar, urgentemente, os legados
pelo crescimento de doenças que sur-
gem, principalmente, devido ao se-
dentarismo. As campanhas de estímu-
e ministrados por
profissionais de
“ socioeducacionais desses mega eventos, para
que a sociedade possa usufruir dos benefícios
à educação, à saúde e à inclusão social, con-
lo à prática de atividades físicas ainda Educação Física tribuindo de forma destacada para minimizar
são insuficientes, ante essa realidade. a epidemia de obesidade.
15
16. c com a palavra
Medicando – As academias têm sido
cada vez mais procuradas por pes-
soas que buscam obter boa forma.
Pode-se dizer que isso ocorre mais
por finalidades estéticas do que pela
busca por saúde?
Steinhilber - Creio que essa máxima já está
superada. A maioria das pessoas, hoje, está
procurando academias e outros estabeleci-
mentos para se exercitarem, por perceberem
a necessidade da prática de atividades físicas
para obterem mais qualidade de vida. Não é
mais só uma questão de estética, e sim, de
bem-estar, de ter um melhor condiciona-
mento físico, para aproveitar melhor o seu
“
dia a dia, sua relação familiar, seu lazer, seu
trabalho e conseguir longevidade. A tecnolo-
gia e a ciência nos proporcionam viver mais e Não basta o país olhar o esporte
as pessoas estão percebendo que não adian-
ta só viver mais cronologicamente, mas que
é necessário poder aproveitar esse tempo, e,
como fator de competição e só preparar
atletas para os torneios. Temos que
“
para tal, um dos remédios mais baratos é o
exercício físico. Longevidade com qualidade preparar campeões para a vida
requer, desde cedo, incorporar hábitos de ati-
vidades físicas permanentes. Jorge Steinhilber
Medicando – Alguma dica especial físicas, bem como o dever do Estado de cumprir nas clínicas, no SUS [Sistema Único de Saú-
para que a busca pela saúde seja al- a obrigatoriedade da disciplina em todas as séries de], no NASF [Núcleo de Apoio à Saúde
cançada por quem quer começar a se e níveis de ensino. Atuamos no sentido de sensi- da Família], os profissionais estejam bem
exercitar? bilizar o Ministério da Educação e as Secretarias de articulados e cada um respeite a área de
Educação quanto ao valor da disciplina Educação intervenção do outro. Contudo, em outros
Steinhilber - Iniciar uma atividade de forma Física e à oferta de práticas de atividades físicas nas segmentos, há uma briga pelo mercado e,
prazerosa e buscar a orientação de um profis- escolas, deixando claro tratar-se de duas áreas dis- em alguns momentos, extrapolam a inter-
sional de Educação Física, para que ele possa tintas que se complementam, e ambas são fun- venção criando, sim, dificuldades para que
avaliar e, posteriormente, prescrever as ativi- damentais para o desenvolvimento integral das o paciente ou cliente possa identificar qual
dades físicas com segurança. crianças e dos jovens. Temos empreendido esfor- profissional procurar.
ços no sentido de que a disciplina seja ministrada
Medicando – Os avanços tecnológicos por profissionais de Educação Física, inclusive nas
Medicando - Em tramitação no Con-
tornaram sedentário o dia a dia das séries iniciais, pois alguns governantes não res- gresso Nacional, a lei conhecida como
crianças, que trocaram as brincadeiras peitam esse direito das crianças ao atendimento Ato Médico, que visa regulamentar o
do passado pelos aparelhos eletrôni- qualificado e seguro.
exercício da Medicina no país, causou
cos, como videogame, computador certo mal-estar entre as demais profis-
etc. Uma das alternativas para essa Medicando – Hoje, observa-se uma sões de saúde atualmente regulamen-
situação, que tem acarretado uma sé- infinidade de procedimentos comuns tadas. Em sua opinião, existe um fator
rie de problemas para a saúde infantil, às várias áreas da saúde. E o resultado principal para a falta de entendimento
seria o incentivo à prática de educação parece ser uma disputa de quem pode entre as classes, na hora de decidir de
física nas escolas. O que o Confef tem fazer o quê. Diante disso, a população quem é a prerrogativa de realizar de-
feito em relação a isso? se sente cada vez mais perdida quan- terminados procedimentos?
to ao profissional que deve procurar.
Steinhilber - Nos últimos dois anos, elegemos o A situação tende a piorar? Steinhilber - O mundo evoluiu e a área da
biênio da Educação Física Escolar e promovemos saúde quebrou paradigmas. Por exemplo, an-
seminários, fóruns e encontros, com o objetivo Steinhilber - As equipes multiprofissionais tigamente o conceito de saúde era a ausência
de sensibilizar os pais a respeito do Direito Cons- são fundamentais para o atendimento à de doença. Hoje, o conceito evoluiu para uma
titucional de seus filhos à prática de atividades
população. Acredito que nos hospitais, definição mais holística. A medicina, inicial-
16
17. mente, era uma arte, e hoje é considerada Medicando – No que diz respeito ao en-
uma ciência. Surgiram várias intervenções trosamento, as reuniões dos Conselhos
profissionais na área da saúde que não exis- Federais de Profissões Regulamenta-
tiam há 60 anos. Por outro lado, a ciência na das, os chamados Conselhões, têm sido
área da saúde evoluiu, sendo quase impos- úteis em alguns aspectos?
sível um atendimento como nos moldes da
década de 1950. Há alguns anos, o senso co- Steinhilber – Sim. O Conselho Federal das
mum e a tradição tinham clareza da atuação Profissões Regulamentadas e o Fórum dos
e intervenção do médico. Com toda a evolu- Conselhos Federais da Área da Saúde são
ção e surgimento de novas profissões que, importantes e têm significância. Existem di-
quando regulamentadas, trouxeram no seu versos pontos comuns, cujas ações podem
bojo o ato da intervenção profissional, surgi- ser integradas e, certamente, com união é
ram algumas demandas judiciais, fazendo-se possível avançar.
necessário serem estabelecidas legalmente
as áreas de intervenção dos médicos. Não Medicando – Mas essa união, conside-
se pode mais firmar no senso comum ou na rando o cenário atual, não seria uma
tradição. Infelizmente, em um mundo capi- utopia?
talista, no qual impera a lógica do mercado,
as entidades responsáveis pelas profissões da Steinhilber – Não é utopia. A reunião é fun-
“
área de saúde não tiveram habilidade para damental e assuntos que são comuns a todos
buscar consenso e estabelecer as interven- são discutidos, palestras são promovidas para
ções, principalmente nas áreas confluentes. Os Conselhos debater pontos nebulosos. Contudo, infeliz-
Fala-se muito nos benefícios da sociedade, no mente, outros assuntos relacionados às inter-
respeito à sociedade. Contudo, nos momen- Profissionais não venções profissionais, principalmente as que
tos de sensibilidade para as definições cora- têm interseções, deveriam ser aprofundadas
josas das atribuições profissionais, as atitudes
existem e nem foram no Conselhão, deliberadas e acatadas por to-
e ações são corporativistas. Creio ser esse um
dos fatores que criam as divergências.
criados para defender dos, pois hoje o trabalho é multiprofissional,
principalmente na área da saúde. No entanto,
os profissionais. tal lapso e dificuldade não tiram a relevância
Medicando – Então o principal proble- do Conselho Federal das Profissões regu-
ma é de ordem financeira, ou também Foram criados para lamentadas. Apenas precisa de ajuste para
envolve vaidade, corporativismo? avanço em benefício da sociedade.
fiscalizar o direito da
Steinhilber - Falta sensibilidade objetiva Medicando – O senhor foi um dos pri-
para que as entidades profissionais da área sociedade à prestação “ meiros conselheiros do Confef e um
da saúde debatam e estabeleçam entre si importante protagonista na luta por
as áreas de intervenção. É preciso reunir as
de serviço qualificado sua criação, atuando, inclusive, como
entidades para ações conjuntas em relação
e seguro presidente do Movimento Nacional
à verba para saúde, maior valorização dos pela Regulamentação do Profissional
profissionais, Projetos de Lei que possam de Educação Física. O senhor acredita
proteger as entidades e os profissionais, ou Steinhilber – Acredito que, nesse momen- que, ao longo dos 13 anos de existên-
seja, ações conjuntas e externas. Debater to, os Conselhos não tiveram a sensibilida- cia dessa entidade, vocês conseguiram
com profundidade as questões da área da de de resolver entre si a questão, e cabe conquistas significativas para o exercí-
saúde é uma espécie de tabu. ao Congresso Nacional promover ampla cio da profissão?
discussão entre todos os Conselhos e As-
Medicando – Antes de chegar ao Se- sociações Profissionais para estabelecer Steinhilber – Com toda certeza con-
nado, a Lei do Ato Médico passou por um Projeto de Lei que seja o melhor para a quistamos, principalmente, o direto de
várias alterações, ainda na Câmara sociedade. Os Conselhos Profissionais não a sociedade ser atendida por um profis-
dos Deputados. Hoje, o documento existem e nem foram criados para defen- sional de Educação Física, na prestação
continua sendo alvo de muitas con- der os profissionais. Foram criados para fis- de serviços em exercícios físico-esportivos.
testações, e encontra-se praticamen- calizar o direito da sociedade à prestação Revertemos a imagem que o senso comum
te parado. Não seria essa a hora de o de serviço qualificado e seguro. Os parla- tinha a respeito desse significativo profissio-
Conselho Federal de Medicina (CFM) mentares são os representantes do povo, nal, passando a própria mídia a valorizá-lo,
chamar os demais conselhos para ten- têm a obrigação de zelar pelos direitos da a divulgar que sem uma formação superior
tar resolver esse impasse? sociedade e legislar em seu benefício. não há segurança nas orientações de ativi-
17
18. c com a palavra
dentro de seu âmbito profissional, de-
vem estar aptos a desenvolver ações
de prevenção, promoção, proteção e
reabilitação da saúde, tanto em nível
individual quanto coletivo: cada profis-
sional deve assegurar que sua prática
deve ser realizada de forma integrada
e contínua com as demais instâncias
do sistema de saúde”. Assim, atuam na
prevenção e promoção da saúde, na
sua respectiva área, e encaminhando ao
profissional habilitado para intervenção
de exercícios físicos voltados ao condi-
cionamento físico. Infelizmente, em de-
terminados momentos, a possibilidade
de prevenção e promoção da saúde é
interpretada na forma da letra fria, e a
intervenção de fisioterapeutas, em al-
“
guns casos, tem sido administrar exer-
cícios físicos sem que haja qualquer
Acredito que os conselhos, em algum tratamento de doença. Como já nos re-
ferimos, são questões mercadológicas
momento, perceberão que as questões que deveriam estar sendo tratadas com
relacionadas às intervenções profissionais responsabilidade e ética pelas entida-
des, antes das demandas judiciais.
e às respectivas regulações devam ser
Medicando – A regulamentação da
corajosamente enfrentadas por todos, em “ prática de qualquer profissão é o
melhor caminho para que se possa
conjunto, de tal forma que a sociedade exercer um bom controle sobre a
atuação dos profissionais, e a ela-
seja a grande beneficiária boração dessas regras é uma prer-
rogativa de cada entidade. Mas,
ante todo esse impasse, como criar
dades físicas. Hoje, o Profissional de Educa-
Medicando – Algumas práticas de- uma regulamentação eficiente e
ção Física tem relevância e é considerado senvolvidas pelos profissionais de que atenda às necessidades de cada
um dos principais protagonistas na preven- Educação Física esbarram nas com- área envolvida?
ção de doenças e promoção de saúde. Re- petências de outras áreas, como a
vertemos a prática de que qualquer pessoa fisioterapia ou mesmo a medicina, Steinhilber - Penso que outorgar aos
pode “ensinar” atividades esportivas, prin- a ponto de gerar atritos entre vo- conselhos profissionais a fiscaliza-
cipalmente nas comunidades menos favo- cês e outras classes? ção do exercício profissional é uma
recidas, demonstrando que, se há o desejo forma de defender o cidadão e zelar
de inclusão social por meio do esporte, ele Steinhilber – Acredito que, na área da pela ética. As regulamentações estão
tem que ser treinado e dinamizado por pro- medicina, o respeito mútuo entre os estabelecidas e, como o mundo está
fissionais de Educação Física. Conquistamos
profissionais e os conselhos seja um em permanente mutação e evolução,
o respeito e o reconhecimento desse pro- fator que vem contribuindo para o re- nada é estático. É necessário que se-
fissional nas esferas governamental, parla-
conhecimento de cada qual na sua área jam procedidas algumas adequações
mentar e jurídica. Sem dúvida alguma, a lei de intervenção. Quanto à fisioterapia, de tempos em tempos. Acredito que
regulamentadora resgatou a autoestima de sim, tem havido alguns atritos em razão os conselhos, em algum momento,
muitos profissionais que, com sua atuação
do entendimento relativo à prevenção. perceberão que as questões relacio-
eficaz e competente, legitimam a profissão.
As Diretrizes Curriculares Nacionais, no nadas às intervenções profissionais e
Sempre há mais a fazer. Contudo, temos a ponto relacionado às competências e às respectivas regulações devam ser
consciência de que estamos representando habilidades, estabelecem como uma corajosamente enfrentadas por todos,
os interesses daqueles que nos elegeram, e das competências gerais da atenção à em conjunto, de tal forma que a socie-
os legados são visíveis e inegáveis. saúde que “os profissionais de saúde, dade se ja a grande beneficiária.
18
21. Por Fernanda Brandão e Henrique Giordano
A pouca exploração do tema na mídia,
a sensação de controle sobre a epidemia
e a eficácia das drogas contra o vírus, aos
poucos, estão levando as pessoas a perderem
o medo e se descuidarem da doença.
Numa nova tendência, o Ministério da Saúde
aponta que os casos de meninas entre 13 e 19
anos já superam os de meninos
22. c capa
Luciana*, 19, nem tinha nascido
quando Cazuza chocou o Brasil, em 1990, ao
morrer vítima da Aids. Quando Renato Rus-
so faleceu, em 1996, ela tinha quatro anos e
nem sequer conhecia o vocalista da banda
Legião Urbana. Desde então, os casos famo-
sos de vítimas do HIV caíram drasticamente.
Para ela, a Aids sempre foi aquela coisa sobre
a qual ouvira falar, mas jamais tivera contato
direto. Por isso, quando foi a um churrasco
em comemoração ao aniversário da melhor
amiga, onde conheceu Ricardo*, 26, e aí pin-
tou aquele clima, ela não hesitou em transar
com ele sem preservativo.
Preocupação? Sim, ela teve. Ao
contar o episódio para as amigas, naquele
mesmo dia, foi encorajada a tomar a pílula
do dia seguinte. O único medo era o de uma
gravidez indesejada. Doença sexualmen-
te transmissível? Como, se ambos estavam
completamente saudáveis e tudo parecia
estar “em ordem”?
Após o churrasco, os dois pombi-
nhos nunca mais se falaram. Mais tarde, con-
tudo, a aniversariante daquele dia revelou à
amiga que Ricardo havia descoberto ser por- Cazuza foi o primeiro grande ícone do Brasil vítima da Aids e contribuiu para tornar a doença
tador do HIV. Aí bateu o desespero. Não só o conhecida pelo grande público ao falecer no auge de sua carreira
terror de talvez ter contraído a doença, mas
a completa paralisia. Com medo de que seus estão sofrendo ainda mais. Tanto que, contra- é remota. Por isso, não podemos deixar a
pais descobrissem, Luciana sequer procurou riando a tendência observada até hoje, em preocupação de lado; a Aids nunca deixou
um médico para fazer o teste. “Já era!”, pensou. todas as faixas etárias, segundo dados do Mi- de ser uma ameaça.”
Essa é a história da Luciana, cujo nistério da Saúde, entre os 13 e os 19 anos há Os jovens de hoje não conhe-
desfecho ainda não foi esclarecido. Mas tam- mais mulheres do que homens com o HIV. cem o poder de destruição da doença. Por
bém é a da Raquel, da Tamires, da Patrícia... É uma mudança lenta e gradu- isso, são poucos os que se previnem dela.
Muita gente não está tomando os cuidados al (mas cada vez mais sentida) no perfil de No Brasil, a última morte notória causada
devidos, e as adolescentes e mulheres jovens contaminação, que há muito deixou de se pela doença aconteceu em 1996, mas óbi-
limitar aos famosos “grupos de risco”, como tos silenciosos ocorrem a todo momento.
Renato Russo deixou uma legião de fãs que, usuários de drogas injetáveis, para incluir to- E a mídia, às vezes, trabalha contra a dis-
na época, ficaram mais alertas quanto aos dos aqueles que têm vida sexual ativa. Em- seminação da informação.
perigos da Aids bora essa informação não seja exatamente Em 2009, quando faleceu o traves-
uma novidade, a verdade é que a nova cara ti Andréia Albertini – famoso depois de se
da Aids ainda é desconhecida por muitos, envolver num escândalo com o ex-jogador
sobretudo pelos mais novos. Ronaldo –, o Jornal Nacional, da Rede Glo-
bo, anunciou que o falecimento se deu por
FALTA INFORMAÇÃO “complicações decorrentes da síndrome da
imunodeficiência adquirida”. Tecnicamente
Para Sérgio Cimerman, médico correto, é verdade, mas quantas pessoas sa-
infectologista do Hospital Emílio Ribas, bem que esse é o nome que corresponde, em
de São Paulo, as pessoas não são tão bem inglês, à sigla Aids? Perdeu-se uma oportuni-
instruídas em relação à contaminação, dade de se falar da doença.
por isso não se preocupam com a doen- A despeito de episódios como
ça. “Embora a medicina atual já tenha nos esse, é fato que casos notórios de morte
certificado de que ser portador da Aids pelo HIV são cada vez mais raros. Isso se
não é mais uma sentença de morte, a deve à eficiência dos tratamentos. O coquetel
cura definitiva ainda não foi descoberta e anti-Aids possibilita hoje aos acometidos pelo
a possibilidade da criação de uma vacina vírus uma vida praticamente normal.
*Nomes fictícios, a pedido dos envolvidos
Fotos: Reprodução/Divulgação
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23. Na visão do infectologista, como a GOVERNO NEGA DESATENÇÃO tomar pílula. Ele é mais velho do que eu e sabe
Aids se tornou uma doença crônica, se tra- o que faz. Não vou obrigá-lo a usar só por cau-
tada pelo coquetel, ela é desprezada pelos Esse problema trazido à tona pelo sa da Aids”, confessa PB, estudante de 19 anos.
mais novos, que não viram suas consequên- infectologista do Hospital Emílio Ribas não é Cimerman acredita que as mulheres
cias mais devastadoras, nas décadas de 80 assumido pelo Ministério da Saúde. As cam- são as mais prejudicadas nessas ocasiões. “Elas
e 90, quando não havia tratamento eficaz. panhas de maior repercussão na mídia são acabam se apaixonando pelo homem e criam
“Para essas pessoas ter o HIV hoje é como se mesmo as elaboradas para o carnaval e para uma confiança plena. Não sabem se ele usa dro-
ter diabetes ou uma cardiopatia. O que não as festividades de final de ano. Mas, segundo gas, se mantém um relacionamento com outras
é uma mentira, já que o paciente precisará Eduardo Barbosa, diretor adjunto do Departa- mulheres. Por esse motivo, a verdadeira prova de
tomar remédios para o resto da vida e fazer mento de DST, Aids e Hepatites Virais do Mi- amor é usar sempre a camisinha”, orienta.
sempre um controle da saúde para descobrir nistério da Saúde, os trabalhos de prevenção e Para Eduardo Barbosa, as meninas
se há a necessidade de se trocar a medicação”, divulgação acontecem durante todo o ano. ainda se deparam com uma sociedade ma-
explica Cimerman. “Nossa comunicação não se res- chista, que reprime a busca por informação.
Para ele, houve um relaxamento tringe apenas aos espaços televisivos. Explo- “As pessoas ainda não aceitam que uma ga-
nas campanhas de prevenção por parte do ramos também as emissoras de rádio e as rota tenha ou compre um preservativo. Para
governo brasileiro. “O Brasil é muito grande, mídias sociais. A Aids está, todos os dias, em o homem, ter uma camisinha é normal, mas
com uma imensa diversidade, mistura de pauta nos veículos de cada estado do país. para elas não”, diz.
culturas. Precisamos de ações que apresen- Mandamos diariamente um clipping nacional Nossa protagonista tem entre 13
tem a Aids ao jovem. A doença não é uma com a repercussão das notícias e campanhas e 19 anos e, segundo números do Ministério
brincadeira, uma simples gripe. Ela pode a todas as organizações envolvidas.” da Saúde, está na faixa etária em que há mais
causar a morte. Fazer campanha no carnaval A história de Luciana e de Ricardo meninas infectadas pelo vírus. Desde 1998
e no ano novo é muito fácil. Difícil é manter repete-se diariamente com outros protago- são contabilizados oito casos na ala masculi-
esse trabalho durante todo o ano e em todos nistas. A internet, sobretudo, se tornou uma na para dez contaminações entre elas, sendo
os cantos do país”, desabafa. ferramenta poderosa para alavancar relações que 94,9% são decorrentes de relações he-
sexuais casuais. E nem todo mundo se preo- terossexuais com parceiros infectados com
LUTA CONTRA A AIDS cupa com as doenças sexualmente transmis- a doença. De acordo com informações da
síveis. Para muitos, como Luciana, tomar a última atualização do Ministério da Saúde, os
Muitos famosos já entraram pílula do dia seguinte resolve tudo. adolescentes dão inicio às atividades sexuais,
nessa briga. Com a ajuda das celebri- Em entrevista à Revista Medicando, em média, aos 16 anos. Em 2008 foram diag-
dades, o combate da epidemia fica jovens da cidade de São Paulo comprovam a nosticados 323 meninas e 264 meninos com
mais forte, conscientizando um maior teoria de que não há mais medo de se con- o vírus. Já em 2009, o registro foi de 136 garo-
número de pessoas. trair a Aids. A corretora de imóveis TM, de 21 tas para 78 rapazes.
Bill Gates, através de sua anos, só tem relação sexual com camisinha
Fundação Bill and Mellinda Gates, porque se acha muito nova para ter um filho. O NEGóCIO É PREVENIR
fornece medicamentos para porta- Ela acredita que os parceiros com quem ela
dores da doença. Já Elton John cola- já teve relações não possuem a doença. “Se
bora financeiramente com campanhas tivessem, eles me contariam”, relata.
de prevenção da Aids. Distribuiu mais O empresário PHS não utiliz ,a ca-
de US$ 30 milhões desde 1992, ano em misinha pelo simples fato de achar que nunca
que também criou uma fundação de vai contrair o vírus. “Uso apenas quando não
combate ao vírus (Elton John Aids). conheço a mulher e ela pede. Quando namo-
Richard Gere é contribuinte ro nem me esforço. Nunca pensei nisso, nem
assíduo de diversos projetos a favor dos senti que fosse necessário.”
soropositivos. Jackie Chan é membro da Cimerman destaca que as pessoas
Organização das Nações Unidas (ONU) e, procuram por beleza e acabam esquecendo
através dela, utiliza sua popularidade para o risco de contrair a doença. “Elas acham que
alertar as pessoas sobre os riscos da doença. é possível identificar logo de cara um soropo-
Diversas celebridades brasi- sitivo. Enxergam uma pessoa bonitinha em
leiras com sucesso entre os mais jovens festas, no cinema, no restaurante, em lojas O governo brasileiro investe em
aderiram ao movimento “Camisinha, e acabam transando sem proteção. Por isso diversas ações para tornar a prevenção um
tem que usar”, promovido pela revista sempre digo: quem vê cara não vê Aids.” hábito na vida das pessoas. O fornecimen-
Capricho. Entre eles, Bruno Gagliasso, Outro motivo para o sexo sem ca- to de camisinha chega a 467 milhões de
Deborah Secco, Erik Marmo, Luana misinha é o “namoro sério”. O casal acredita unidades por ano. Os jovens são respon-
Piovani, Sérgio Marone e a cantora Ivete que deixando o preservativo de lado está pro- sáveis pela retirada de 37% desses preser-
Sangallo posaram para a campanha. vando seu amor ao parceiro. “Só transei com vativos no Sistema Único de Saúde (SUS).
o meu namorado, até agora. Logo comecei a Ainda de acordo com a pesquisa do Minis-
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