1. Jorge Simão
Treinador Adjunto CF Belenenses
Treinador de Futebol UEFA PRO
Mestre em Treino de Alto Rendimento
Transição Defensiva
1. ABORDAGEM TEÓRICA
Tenho a perfeita convicção de que as equipas que melhor defendem (que
não são necessariamente as que mais defendem!), são as que estão mais
próximas de ganhar! E defende melhor quem, no preciso momento em que
perde a posse de bola, reage e se organiza de forma rápida e eficaz.
Defende melhor quem melhor enfrentar a transição defensiva!
Entendo a transição defensiva como os momentos imediatamente a seguir
à perca da posse de bola (podem ser 2, 3 ou 5 segundos...), suficientes
para que se consiga observar as intenções dos jogadores e caracterizar os
seus comportamentos.
Em suma, a ideia central deste momento do jogo é a reacção colectiva à
perda da posse de bola.
Porém, devido ao carácter dinâmico do jogo, torna-se impossível dissociar
os seus vários momentos (organização ofensiva - transição defensiva -
organização defensiva - transição ofensiva), pelo que é fundamental
preparar a fase defensiva quando estamos a atacar e encarar a transição
para a defesa como um momento extremamente importante do jogo
enquanto ainda estamos em posse de bola.
O ataque deve ser preparado e desenvolvido com a preocupação de manter um necessário equilíbrio
defensivo, obtido através de constantes coberturas ofensivas. A ideia é que haja permanentemente
alguém com a preocupação de, no momento de uma eventual perca da posse de bola, pressionar o
portador da bola para ganhar tempo para organizar as linhas defensivas ou para dar início ao pressing
colectivo para recuperação rápida da posse de bola.
O que fazer neste momento específico do jogo e que comportamentos individuais e colectivos adoptar, são
as questões a definir. As respostas às perguntas seguintes devem estar perfeitamente claras no
entendimento dos jogadores:
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2. • Pretende-se uma rápida mudança de atitude mental, de ofensiva para defensiva? Para recuperar rápido a
posse de bola ou para reorganização posicional?
• Procuramos recuperar a posse de bola imediatamente ou baixamos o bloco defensivo?
• Revelamos agressividade no centro de jogo após perca da posse de bola? Ou passividade?
• Efectuamos pressão ao portador da bola, obrigando-o a escolher direcções, a usar o pé menos hábil ou a
tomar decisões ofensivamente mais pobres?
• Pressionamos também o espaço circundante ao portador da bola, o que implica necessariamente
mobilizar maior número de jogadores para a zona?
• Quantos jogadores reagem de forma agressiva?
• Variamos a forma de transição consoante a zona do campo onde ocorre? Perto da nossa área ou no meio
campo ofensivo, é igual?
• Conseguimos fazer a transição de diferentes formas consoante o resultado do jogo? Consoante nos for
mais conveniente?
• Preocupamo-nos em fechar as linhas para entrar em organização defensiva?
• Procuramos a criação de várias linhas em profundidade para haver apoios permanentes entre todos os
jogadores?
Compete ao treinador, e aos princípios de jogo por ele definidos no seu modelo, responder a estas
questões.
2. EXERCÍCIOS DE TREINO
A minha ideia é que os jogadores sejam
decididos na transição defensiva, revelando
agressividade e procurando recuperar a posse
de bola o mais rápido possível. Fechar a
equipa de imediato se não o conseguirmos,
de forma a entrar em organização defensiva
devidamente compactos.
Hoje em dia, praticamente todas as equipas
tentam aproveitar os momentos de
recuperação de posse de bola para acelerar o
jogo, procurando a profundidade para contra-
atacar, por isso se pretende que no momento
da perca da posse de bola sejamos muito
agressivos de forma a impedir, ou pelo menos
condicionar, a transição ofensiva em
profundidade do adversário.
Obviamente que a transição defensiva não
pode estar dissociada da forma como
pretendemos que a equipa se organize na
fase defensiva do jogo. Assim, sem posse de
2
3. bola tentamos direccionar a outra equipa para as
nossas zonas fortes de pressão, tentando provocar
o erro ao adversário, em vez de somente esperar
que ele ocorra para recuperação da posse de bola.
O que se segue são propostas de exercícios que
visam a criação de situações propícias para os
jogadores adquirirem os comportamentos
desejados na transição defensiva.
Manipulando as condições estruturais dos
exercícios de treino - principalmente o espaço, o
tempo e o número - consegue-se adaptar os
exercícios apresentados para diferentes níveis
competitivos e diferentes escalões etários.
Por fim, expresso a minha convicção de que o
sucesso dos exercícios que pretendam a mudança
rápida de uma atitude mental do ter a posse de
bola para deixar de a ter, está muito dependente
da condução do exercício por parte do treinador,
bem como da qualidade da informação fornecida
aos jogadores.
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