SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 160
Baixar para ler offline
Cuidando das Águas
 Soluções para melhorar a qualidade
 dos recursos hídricos
Cuidando das Águas
soluções para melhorar a qualidade
       dos recursos hídricos
República Federativa do Brasil
Dilma Vana Rousseff
Presidenta

Ministério do Meio Ambiente
Izabella Mônica Vieira Teixeira
Ministra

Agência Nacional de Águas

Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente)
Dalvino Troccoli Franca
Paulo Lopes Varella Neto
João Gilberto Lotufo Conejo
Paulo Rodrigues Vieira

Coordenação de Articulação e Comunicação da ANA
Antônio Félix Domingues

Coordenação de Gestão Estratégica da ANA
Bruno Pagnoccheschi
Cuidando das Águas
soluções para melhorar a qualidade
       dos recursos hídricos




                    Traduzido e adaptado do original
        “Clearing the waters: a focus on water quality solutions”

           Produzido em Nairobi, Kenya em março de 2010.
© Agência Nacional de Águas (ANA), 2011. Setor Policial Sul,                      Copyright © 2010, Programa das Nações Unidas para
Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T. CEP 70610-200, Brasília,                    o Meio Ambiente Imagem da capa: © Christasvengel /
DF PABX: 61 2109 5400                                                             Dreamstime.com Outras imagens, de cima para baixo:
www.ana.gov.br                                                                    © Milan Kopcok / Dreamstime.com; © DenGuy /
                                                                                  Istockphoto.com; © Lucian Coman / Dreamstime.com


Coordenação de Articulação e Comunicação da ANA
Antônio Félix Domingues

Coordenação de Gestão Estratégica da ANA
Bruno Pagnoccheschi                                                               Pacific Institute 654
                                                                                  13th Street
Colaboradores da ANA                                                              Preservation Park
Cristianny Villela Teixeira                                                       Oakland, CA 94612
Devanir Garcia dos Santos                                                         www.pacinst.org.
Diana Wahrendorff Engel
Érika de Castro Hessen                                                            Autores
Flávio Hermínio de Carvalho                                                       Meena Palaniappan
Herbert Eugênio de Araújo Cardoso                                                 Peter H. Gleick
Marcelo Mazzola                                                                   Lucy Allen
Marcelo Pires da Costa                                                            Michael J. Cohen
Paulo Augusto C. Libânio                                                          Juliet Christian-Smith
Regina Coeli Montenegro Generino                                                  Courtney Smith
Vivyanne Graça de Melo                                                            Editor: Nancy Ross

                                                                                  Aviso legal
Projeto gráfico e editoração                                                      As designações empregadas e a apresentação do material
Exemplos de Boas Práticas no Brasil                                               da presente publicação não representam a expressão de
                                                                                  qualquer opinião por parte do Programa das Nações Unidas
                                                                                  para o Meio Ambiente quanto ao marco legal de qualquer país,
Direção – Marcos Rebouças
                                                                                  território, cidade ou área ou de suas autoridades, ou mesmo
Direção de Arte – Carlos André Cascelli                                           quanto à delimitação de seus limites ou fronteiras. Ademais,
Editoração – Rael Lamarques                                                       as opiniões expressas não representam necessariamente as
Ilustração – Anderson Araruna e Enrico Pieratti                                   decisões ou políticas do Programa das Nações Unidas para o
Revisão – Danúzia Queiroz                                                         Meio Ambiente, assim como a menção de marcas registradas
www.tdabrasil.com.br                                                              ou processos comerciais não constitui endosso.

Traduzido e adaptado do original “Clearing the waters: a focus on water quality   Designer
solutions”. Produzido em Nairobi, Kenya em março de 2010.                         Nikki Meith

Todos os direitos reservados.
                                                                                  Impressão gráfica da obra adaptada: UNON, Publishing
É permitida a reprodução de dados e de informações contidos nesta publicação,
                                                                                  Services Section, Nairobi, ISO 14001:2004-certified.
desde que citada a fonte.

                                                                                  Reprodução
Catalogação na fonte: CEDOC / BIBLIOTECA
                                                                                  Esta publicação poderá ser reproduzida total ou parcialmente,
                                                                                  em qualquer formato para fins educacionais ou sem fins
                                                                                  lucrativos, sem a necessidade de permissão especial
  A265c      Agência Nacional de Águas (Brasil).                                  dos detentores dos direitos autorais, desde que a fonte
            Cuidando das águas: soluções para melhorar a                          seja citada. O PNUMA gostaria de receber um exemplar
  qualidade dos recursos hídricos / Agência Nacional de                           de qualquer publicação que venha a utilizar o presente
  Águas; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.                         documento como fonte. A reprodução desta publicação para
  -- Brasília: ANA, 2011.                                                         revenda ou quaisquer finalidades comerciais não é permitida
             154 p. : il.                                                         sem permissão por escrito do Programa das Nações Unidas
                                                                                  para o Meio Ambiente.
              ISBN:
                                                                                                                                          UNEP promotes
                                                                                                                                          O UNEP promove
            1. recursos hídricos 2. gestão dos recursos
  hídricos 3. preservação do meio ambiente                                                                                      environmentally sound practices
                                                                                                                                      práticas ambientalmente
          I. Agência Nacional de Águas (Brasil) II. Programa                                                               globally and inem own activities. This
                                                                                                                                  corretas its todo o mundo e em
  das Nações Unidas para o Meio Ambiente III. Título                                                                   publication is printedatividades. Este relatório
                                                                                                                              suas próprias on 100% recycled paper
                                                                                                                        using vegetable-based inks and other eco-
                                                                                                                           foi impresso em papel reciclado, utilizando
                                                                    CDU 628.1 
                                                                                                                    friendly practices. basedistribution policypráticas
                                                                                                                              tintas de Our vegetal e outras aims to
                                                                                                                               ecologicamentecarbon footprint. de
                                                                                                                                reduce UNEP’s corretas. A política
                                                                                                                             distribuição busca reduzir a pegada de
                                                                                                                                       carbono do PNUMA.
AGRADECIMENTO
                                                                                                                     PNUMA




A presente publicação representa o conhecimento especializado       Jeffrey Thornton, da Southeastern Wisconsin Regional Planning
coletivo de um grupo diverso de pessoas preocupadas com a           Commission (USA), assim como o trabalho de Iwona Wagner
proteção dos nossos limitados recursos de água doce e com           do Projeto de Ecohidrologia (Polônia) da Organização para a
a preservação do seu papel fundamental na manutenção da             Educação, a Ciência e Cultura das Nações Unidas (UNESCO)
saúde humana e do ecossistema. Estes especialistas aplicaram        IHP-VI, que coordenou a revisão detalhada da publicação.
sua sabedoria coletiva na produção de um relatório que
oferece soluções práticas e eficazes para reverter a catastrófica   Entre as pessoas que revisaram e fizeram contribuições
degradação dos ecossistemas de água doce do planeta.                valiosas a esta publicação estão Janos Bogardi, da United
O documento insta a comunidade internacional, os governos,          Nations University – Institute for Environment and Human
as comunidades e os domicílios a agirem com responsabilidade        Security (Alemanha); Ase Johannessen, International Water
e em cooperação para construir um futuro melhor. Espera-se          Association (Reino Unido); Sonja Koeppel, da Convenção
que os conteúdos deste documento, preparados como aporte            sobre a Proteção e Utilização de Recursos Hídricos
para as celebrações do Dia Mundial da Água 2010 sobre o             Transfronteiriços e Lagos Internacionais da Comissão
tema – Qualidade da Água –, sirvam de inspiração a todos que        Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE)
o leiam para que contribuam com esta causa tão importante.          (Suíça); Peter Kristensen, da Agência Europeia de Meio
                                                                    Ambiente (Dinamarca); e Danny Walmsley, Walmsley
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)           Environmental Consultants (Canadá). São reconhecidos
agradece a todos que contribuíram para este documento, cujo         também os muitos comentários e valiosas sugestões feitas por
trabalho árduo e percepções levaram à sua consecução. Em            diversos revisores da família PNUMA, bem como o excelente
especial, agradece as enormes contribuições de Peter H. Gleick,     trabalho de edição e design gráfico de Nikki Meith.
Meena Palaniappan, Lucy Allen, Juliet Christian-Smith, Michael
J. Cohen, Courtney Smith e da editora Nancy Ross do Pacific         O trabalho duro e a perseverança de todas essas pessoas
Institute, Estados Unidos, que produziram esta publicação em        foi o que possibilitou a preparação da presente publicação.
um prazo muito curto. Reconhece também os conselhos de              Registramos aqui nossos mais profundos agradecimentos a todos.
SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Sumário executivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
I. Panorama dos atuais desafios à qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
    Contaminantes na água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
        Nutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
        Erosão e sedimentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
        Temperatura da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
        Acidificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
        Salinidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
        Organismos patogênicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
        Metais traço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
        Contaminantes químicos e outras toxinas produzidas pelo homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
        Introdução de espécies e outros distúrbios biológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
        Contaminantes emergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
    Atividades humanas que afetam a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
        Agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
        Indústria e produção de energia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
        Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
        Infraestrutura hídrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
        Disposição inadequada de esgotos domésticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
        Crescimento demográfico, urbanização, desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
        Mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
II. Impactos da baixa qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
    Efeitos da baixa qualidade da água no meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
        Rios e córregos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
        Lagos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
        Águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
        Zonas costeiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
        Vegetação de terras úmidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
        Biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
    Efeitos da baixa qualidade da água na saúde humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
        Doenças relacionadas à água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
        Altas concentrações de nutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
        Outros contaminantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Efeitos da baixa qualidade da água sobre as quantidades de água disponíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
   Efeitos da baixa qualidade da água sobre comunidades vulneráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
       Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
       Crianças. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
       Pessoas economicamente desprivilegiadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
   Efeitos da baixa qualidade da água sobre a subsistência humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
   Custo da baixa qualidade da água para a economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
       Serviços ecossistêmicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
       Custos associados à saúde humana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
       Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
       Produção industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
       Turismo e lazer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
       Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
III. Soluções para melhorar a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
   Prevenção da poluição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
       Introdução e panorama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
       Proteção de mananciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
       Poluição industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
       Poluição agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
       Assentamentos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
   Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
       Tratamento de água potável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
       Tratamento para outras finalidades                    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
   Tratamento de efluentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
       Tratamento de efluentes domésticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
       Tratamento de efluentes industriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
       Tratamento de efluentes agrícolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
   Restauração ecológica e eco-hidrológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
       Eco-hidrologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
       Águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
IV. Mecanismos para alcançar a melhoria na qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
   Educação e conscientização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
       Metas de ações de educação e conscientização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
       Conscientizando as pessoas sobre os impactos na qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
       Documentar o problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
       Mobilização das comunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
       Trabalhando com a mídia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
       Articulação com tomadores de decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
   Monitoramento/coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
       Problemas com dados de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Governança e regulação                   . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
        Reformas da Água (casos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
        Políticas, leis e regulamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
        Estabelecimento de normas de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
        Diretrizes internacionais de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
        Governança e leis internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
        Gestão de águas transfronteiriças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
        Financiamento da melhoria qualidade da água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
        Fortalecimento de capacidades institucionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
        Fortalecimento da fiscalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
V. Conclusões e recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
    Ações educativas e de capacitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
        Marco Legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
        Dados e Monitoramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106


Lista de Figuras
Figura 1.         Alterações nas concentrações de nitrogênio em grandes bacias do mundo por
                  região nos períodos 1990-1999 e 2000-2007.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 2.         Contribuição dos principais setores industriais à produção de poluentes hídricos orgânicos.. . . . . . . . . . . . 26
Figura 3.         Descargas de poluição hídrica industrial (em toneladas por milhão de pessoas/dia)... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 4.         Concentrações de coliformes fecais (No./100ml MF) em estações fluviométricas/
                  próximas às grandes cidades.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 5.         Custo Anual Médio da degradação ambiental da água.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 6.         GEMS/Mapa de estações fluviométricas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 7.         Ingressos mensais de água no sistema fluvial do Murray. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Figura 8.         Resumo da estrutura decisória utilizada para classificar o status de corpos de águas superficiais. . . . . . . . 79
Figura 9.         Status de ratificação internacional da Convenção de Estocolmo sobre
                  Poluentes Orgânicos Persistentes (partes à Convenção mostradas em verde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Figura 10.        Total anual de investimentos em abastecimento de água, comparado ao total
                  de investimentos em saneamento, na África, Ásia, América Latina e Caribe, 1990–2000 . . . . . . . . . . . . . . . 84



Lista de Tabelas
Tabela 1.         Impactos das atividades agrícolas sobre a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Tabela 2.         Ligações entre o setor energético e a qualidade da água..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Tabela 3.         Eficácia de Intervenções da metodologia WASH na redução da morbidade por diarreia. . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Tabela 4.         Países participantes das atividades globais de dados da GEMS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Tabela 5.         GEMS parâmetros de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Tabela 6.          GEMS: Tipos de dados, número de estações e escopo da coleta de dados sobre qualidade da água.... . . . 74
Tabela 7.          Exemplos de diferentes programas de qualidade da água nos EUA... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
Tabela 8.          Matriz de soluções por escala......... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91


Ações e programas da Agência Nacional de Águas e de outras instituições
com vistas à melhoria da qualidade da água no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
Mensagem do patrocinador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
A experiência do Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas – PRODES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Projeto Revitalização da Bacia do Rio das Velhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
    Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
O PRODES na Bacia do Rio das Velhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
O PRODES nas Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
O Programa Produtor de Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
    Diretrizes do programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
    O problema ambiental da erosão hídrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
    Pagamento por serviços ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
Programa Produtor de Água – Projetos em andamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
Programa Produtor de Água – Projeto conservador das águas em extrema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Monitoramento da qualidade das águas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Rede integrada de monitoramento de qualidade da água na Bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul . . . . . . 145
Cultivando Água Boa: um Movimento pela Sustentabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Programa de revitalização da Bacia hidrografica do rio São Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
APRESENTAÇÃO

A presente publicação é produto de uma parceria da            de Monitoramento de Qualidade da Água na Bacia
Agência Nacional de Águas (ANA) com o Programa das            Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e com o
Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento        São também apresentados: o Projeto Cultivando Água Boa,
Sustentável (CEBDS). Esta teve como base o relatório          da empresa Itaipu Binacional; o Programa de Revitalização
intitulado Clearing the Waters: a focus on water quality      da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, do Ministério
solutions, lançado pelo PNUMA em março de 2010.               da Integração Nacional e do Ministério do Meio Ambiente;
O texto do relatório foi traduzido para a língua portuguesa   e o Projeto Revitalização da Bacia do Rio das Velhas, do
com o título Cuidando das Águas – soluções para               governo de Minas Gerais, pelo fato de a ANA os reconhecer
melhorar a qualidade dos recursos hídricos e contou com       como projetos exitosos.
a inserção de boxes com exemplos bem-sucedidos das
iniciativas e dos projetos desenvolvidos pela ANA para        Esperamos que o leitor reflita sobre sua responsabilidade
a melhoria das águas no Brasil, tais como: o Programa         no uso sustentável da água e sobre as possibilidades
Despoluição de Bacias Higrográficas (PRODES); o               de melhoria da qualidade dos recursos hídricos, em
Programa Produtor de Água; o Monitoramento da                 cooperação com os setores usuários de água, com as
Qualidade das Águas no Brasil, a Rede de Monitoramento        organizações não governamentais, com os governos, com
da Qualidade das Águas no Brasil; e a Rede Integrada          as entidades de meio ambiente.




                                                                                                                          FOTO: BANCO DE IMAGENS ANA
APRESENTAÇÃO

     Foi o poeta inglês W. H. Auden quem disse que muitas            melhoria da gestão deste que é o
     pessoas viveram sem amor, mas nenhuma sem água:                 mais precioso recurso natural.
     uma percepção que reflete o ponto mediano da nova
     década de ação com o simples, mas significativo tema            Uma resposta mais abrangente inclui
     água é vida.                                                    a educação e o engajamento da
                                                                     população e dos formuladores de
     O desafio da água no século XXI é tanto de quantidade           políticas, assim como a participação
     quanto de qualidade. A presente publicação trata da             da comunidade científica, visando
     dimensão qualitativa desta equação, salientando as relações     ao estabelecimento de elos entre a
     entre água limpa e saúde pública e, de forma mais ampla, a      economia como um todo, a atividade
     saúde do meio ambiente.                                         humana e a qualidade da água.

     A verdade é que, muitas vezes, em consequência de má            Este relatório foi elaborado para oferecer um mapa
     administração, grande parte da água disponível não só nas       do caminho para o engajamento das comunidades
     economias em desenvolvimento, mas também nas economias          internacional e nacional, a fim de catalisar mudanças.
     desenvolvidas, está poluída e contaminada em níveis variados.
                                                                     2010 marca o quinto ano desde o lançamento da nova
     Em alguns lugares, a contaminação – seja por lançamentos de     década de ação, restando ainda mais cinco anos até o
     efluentes industriais, seja por esgoto doméstico não tratado    prazo estabelecido pela comunidade internacional para o
     – é tão aguda que pode ser mortal, desencadeando doenças        cumprimento das Metas do Milênio.
     relacionadas à água, que ceifam milhões de vidas anualmente,
     especialmente entre os mais jovens e vulneráveis.               Delinear uma resposta ao desafio da qualidade da água,
                                                                     nacional e internacionalmente, será crucial para que, em
     A contaminação de sistemas fluviais, águas costeiras e outros   2015, possamos declarar vitória em relação a muitas –
     ecossistemas não representa riscos apenas à saúde, mas          senão todas – metas relacionadas à redução da pobreza.
     também à atividade econômica, se esses sistemas deixarem
     de ser capazes de sustentar, por exemplo, a atividade           Este relatório oferece uma contribuição para o alcance
     pesqueira saudável. A finalidade do presente relatório –        dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e uma
     Cuidando das águas – é redirecionar a atenção da comunidade     resposta aos desafios mais amplos de sustentabilidade
     internacional para o papel crítico que a qualidade da água      enfrentados por 6 bilhões de pessoas, podendo chegar a
     desempenha no atendimento a compromissos humanos, de            9 bilhões até 2050, cujo futuro será definido, em grande
     meio ambiente e de desenvolvimento, incluindo os Objetivos de   parte, pela forma como administramos os recursos
     Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas (ODMs).            naturais do planeta.

     O relatório procura destacar também as muitas oportunidades     Achim Steiner
     para abordar a questão da qualidade da água por meio da         Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA




12     CUIDANDO DAS ÁGUAS
APRESENTAÇÃO                                                                                                      CEBDS
                                                                                                         Conselho Empresarial Brasileiro
                                                                                                        para o Desenvolvimento Sustentável




Muito além das valiosas informações a tomadores                    Algumas empresas líderes de mercado já incorporaram
de decisão das empresas, formuladores de políticas                 a água como fator estratégico para sua sobrevivência
públicas, profissionais do setor acadêmico e de                    no longo prazo. São exemplos promissores e viáveis
instituições sociais, o estudo “Cuidando das águas:                sobre o uso racional da água em suas atividades
soluções para melhorar a qualidade dos recursos                    produtivas, com investimentos em projetos de reúso,
hídricos” revela uma mudança de paradigma ao                       tratamento de efluentes líquidos, reflorestamento e de
estabelecer valor da água como ativo ambiental.                    educação ambiental junto a seus clientes, empregados
                                                                   e fornecedores. Os investimentos são compensados
À primeira vista parece desnecessário reforçar a                   com redução de custos, aumento de competitividade e
importância da água como elemento fundamental à                    valorização dos ativos intangíveis.
sobrevivência de todos os organismos vivos do planeta.
Contudo, milhares de anos após o surgimento das                    As boas práticas das empresas ainda estão distantes de
primeiras civilizações, ainda não fomos capazes de adotar          ganhar escala, mas demonstram a viabilidade de reverter o
um modelo de desenvolvimento que utilize a água com o              quadro de degradação. Para tanto, precisamos aprofundar
mínimo de sabedoria.                                               as discussões em torno do tema, criar uma regulação
                                                                   que induza a sociedade a lidar com a água como valor
Os números comprovam. Quase um bilhão de pessoas em                estratégico, estimulando ao mesmo tempo o entendimento
todo o mundo não tem acesso à água potável. Segundo a              entre os setores-chave para vencer esse desafio.
Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de quatro
mil crianças menores de 5 anos morrem todos os dias                As análises e recomendações contidas neste documento
de doenças passíveis de prevenção relacionadas à água,             apontam para o caminho do uso sustentável da água.
como diarreia, febre tifoide, cólera e disenteria. A estatística   Ainda há tempo de preservar os mananciais não
é resultado da contaminação de rios, lagos e lençóis               contaminados e recuperar o que foi degradado. A água
freáticos, com o despejo de esgoto sem tratamento.                 deve ser fonte de vida e de progresso econômico e social –
                                                                   e não condutora de doenças.
No Brasil, o cenário é semelhante. Apesar dos avanços
sociais alcançados nos últimos anos, 80% do esgoto não             Instituição pioneira no país em tratar de forma integrada
têm tratamento adequado, de acordo com o levantamento              com as três dimensões da sustentabilidade, o Conselho
de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística         Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(IBGE). Dispomos de 12% das reservas de água doce do               (CEBDS) sente-se honrado em fazer parte mais uma vez da
planeta, mas ainda enfrentamos problemas crônicos na               parceria com a Agência Nacional de Águas e com o PNUMA
área de saúde pública e de desenvolvimento econômico.              para lançar um novo estudo sobre o tema.




                          SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                           13
Foto: Banco de Imagens ANA
SUMÁRIO EXECUTIVO

Todos os dias, milhões de toneladas de esgoto                   impactando assim sua qualidade. A contaminação por
inadequadamente tratado e efluentes industriais e agrícolas     organismos patogênicos, metais traço e produtos químicos
são despejados nas águas do mundo. Todos os anos, lagos,        tóxicos de produção humana; a introdução de espécies
rios e deltas absorvem o equivalente ao peso de toda a          invasoras; e as alterações de acidez, temperatura e salinidade
população humana – cerca de sete bilhões de pessoas – na        da água podem prejudicar os ecossistemas aquáticos,
forma de poluição. Anualmente, morrem mais pessoas pelas        tornando sua utilização inapropriada para uso humano.
consequências de água imprópria que por todas as formas
de violência, incluindo as guerras. Além disto, a cada ano,     Diversas atividades humanas – entre elas, a agricultura, a
a contaminação das águas dos ecossistemas naturais afeta        indústria, a mineração, o descarte de resíduos humanos, o
diretamente os seres humanos pela destruição de recursos        crescimento demográfico, a urbanização e as mudanças
pesqueiros ou outros impactos sobre a biodiversidade que        climáticas – têm impacto sobre a qualidade da água. A
afetam a produção de alimentos. Ao final, a maior parte da      agricultura pode provocar contaminação por nutrientes e
água doce poluída acaba nos oceanos, onde provoca graves        agrotóxicos e aumento da salinidade. A contaminação por
prejuízos a muitas áreas costeiras e recursos pesqueiros,       excesso de nutrientes tornou-se um dos problemas mais
agravando a situação de nossos recursos oceânicos e             difundidos no planeta em termos de qualidade da água (UN
costeiros e dificultando sua gestão.                            WWAP, 2009) e, mundialmente, estima-se que a aplicação de
                                                                agrotóxicos já tenha ultrapassado 2 milhões de toneladas por
Água doce limpa, apropriada e em quantidade adequada            ano (PAN, 2009). As atividades industriais lançam, a cada ano,
é de vital importância para a sobrevivência de todos os         entre 300 e 400 milhões de toneladas de metais pesados,
organismos vivos, bem como para o funcionamento                 solventes, lodo tóxico e outros efluentes e resíduos sólidos nas
adequado de ecossistemas, comunidades e economias.              águas do mundo (UN WWAP Água e Indústria). Anualmente,
Contudo, a qualidade dos recursos hídricos mundiais             apenas nos Estados Unidos, cerca de 700 novos produtos
está sob ameaça crescente à medida que aumentam as              químicos são introduzidos no comércio (Stephenson, 2009).
populações humanas e se expandem as atividades industriais      A mineração e a perfuração geram grandes quantidades de
e agrícolas, em um cenário em que as mudanças climáticas        resíduos e subprodutos, resultando em grandes desafios
poderão provocar grandes alterações no ciclo hidrológico.       de descarte final desses materiais. A falta generalizada de
Água de baixa qualidade põe em risco a saúde humana e           mecanismos adequados para o descarte final de resíduos
dos ecossistemas, reduz a disponibilidade de água potável       humanos resulta na contaminação da água. Em todo o
e de recursos hídricos próprios para outras finalidades,        mundo, 2,5 bilhões de pessoas carecem de saneamento
limita a produtividade econômica e diminui as oportunidades     básico (UNICEF e OMS 2008) e mais de 80 por cento de todo
de desenvolvimento. Há uma necessidade premente de a            o esgoto sanitário gerado nos países em desenvolvimento é
comunidade global – dos setores público e privado – se unir     despejado, sem tratamento, em corpos hídricos (UN WWAP,
e assumir o desafio de proteger e aprimorar a qualidade         2009). O crescimento demográfico poderá ampliar esses
da água de nossos rios, lagos, aquíferos e torneiras. Para      impactos, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas
tanto, é preciso maior comprometimento com a prevenção          apresentarão novos desafios para a qualidade da água.
da poluição hídrica futura, com o tratamento das águas já
contaminadas e com a restauração da qualidade e saúde de        Impactos causados pela água imprópria
rios, lagos, aquíferos, terras úmidas e estuários, permitindo
assim que essas águas atendam a um espectro mais
                                                                A contaminação hídrica enfraquece ou destrói os ecossistemas
amplo possível de necessidades dos seres humanos e dos
                                                                naturais, dos quais dependem a saúde humana, a produção
ecossistemas. As repercussões dessas ações serão sentidas
                                                                de alimentos e a biodiversidade. Estudos demonstram que
desde as cabeceiras das nossas bacias hidrográficas até os
                                                                o valor dos serviços ecossistêmicos chega a ser o dobro do
oceanos, os recursos pesqueiros e os ambientes marinhos
                                                                produto nacional bruto da economia global e que o papel
que auxiliam no sustento da humanidade.
                                                                dos ecossistemas de água doce na purificação da água e na
                                                                assimilação de efluentes é estimado em US$ 400 bilhões (em
Desafios da qualidade da água                                   dólares de 2008) (Costanza et al., 1997). Os ecossistemas
                                                                de água doce estão entre os mais degradados do planeta,
Um amplo espectro de processos humanos e naturais afeta         tendo sofrido perdas proporcionalmente maiores de espécies
as características biológicas, químicas e físicas da água,      e de habitat que quaisquer outros ecossistemas terrestres ou




                         SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                  15
SHUTTER STOCK
     marinhos (Revenga et al., 2000). A maior parte da água doce   qualidade, mas também da quantidade de água disponível.
     poluída acaba nos oceanos, danificando áreas costeiras e      A cada ano, no Oriente Médio e no Norte da África, a baixa
     reduzindo recursos pesqueiros.                                qualidade da água acarreta custos da ordem de 0,5 a 2,5 por
                                                                   cento do produto interno bruto (PIB) (BIRD, 2007). Somente
     Todos os anos, morrem mais pessoas pelas consequências        na África, as perdas econômicas provocadas pela falta de
     de água imprópria que por todas as formas de violência,       água e de tratamento e de disposição adequada de esgotos
     incluindo as guerras, sendo as crianças menores de 5 anos     domésticos são estimadas em US$ 28,4 bilhões, ou cerca de
     as mais impactadas. A água imprópria ou inadequada e a        5 por cento do PIB (UN WWAP, 2009). Mulheres, crianças e
     falta de tratamento e de disposição adequada de esgotos       aqueles mais desfavorecidos economicamente são os mais
     domésticos e de higiene são as causas de aproximadamente      afetados pelos impactos da baixa qualidade da água. Mais de
     3,1 por cento de todos os óbitos – mais de 1,7 milhão por     90 por cento dos que morrem em consequência de doenças
     ano – e de 3,7 por cento dos anos de vida perdidos devido     relacionadas à água são crianças com idade inferior a 5 anos.
     aos problemas de saúde considerados mais impactantes          As mulheres são obrigadas a percorrer longas distâncias
     em todo o mundo (OMS, 2002). Os meios de vida e de            em busca de água potável e os pobres são, muitas vezes,
     sustentação econômica como a agricultura, a pesca e           obrigados a conviver com canais d’água poluídos e não têm
     a pecuária são altamente dependentes não apenas da            condições de acesso à água limpa.




16     CUIDANDO DAS ÁGUAS
Rumo a soluções e ações                                          Mecanismos para alcançar soluções
Soluções efetivas para os desafios da qualidade da água          Os mecanismos para organizar e implementar soluções
existem e já foram implementadas em diversos lugares.            para assegurar a qualidade da água incluem: (1)
É hora de assumir uma postura global frente ao desafio           melhorar o entendimento acerca da qualidade da
de proteger e melhorar a qualidade das reservas de água          água, por meio de monitoramento aprimorado; (2)
doce do planeta. Há três soluções fundamentais para os           esforços mais efetivos de comunicação e educação;
problemas de qualidade da água: (1) prevenir a poluição; (2)     (3) melhores ferramentas financeiras e econômicas; (4)
tratar a água poluída; e (3) restaurar ecossistemas.             implementação de métodos mais efetivos de tratamento
                                                                 de água e restauração de ecossistemas; (5) fiscalização
Enfoque sobre prevenção da poluição                              e aplicação da lei e arranjos institucionais; e (6)
                                                                 liderança política e comprometimento de todos os níveis
Prevenir contra a poluição significa reduzir ou eliminar         da sociedade.
os contaminantes na fonte, antes que possam poluir os
recursos hídricos – sendo esta, quase sempre, a forma            Melhorar o entendimento da qualidade da água
mais barata, fácil e efetiva de proteger a qualidade da água.
As estratégias de prevenção contra a poluição reduzem            Monitoramento sistemático e dados de qualidade
ou eliminam o uso de substâncias perigosas, poluentes e          são peças fundamentais dos esforços efetivos para
contaminantes; modificam equipamentos e tecnologias para         melhorar a qualidade da água. Enfrentar o desafio da
que gerem menos resíduos; e reduzem as emissões fugitivas        qualidade da água implica desenvolver capacidades e
e o consumo de água. Prevenir contra a poluição exige            formar especialistas nos países em desenvolvimento;
também que os assentamentos humanos sejam melhor                 implementar ferramentas de amostragem de campo,
planejados, com vista a melhorar a infiltração da água e a       tecnologias e compartilhamento de dados, em tempo real,
reduzir as fontes disseminadas de poluição. Na medida em         com baixo custo, rapidez e confiabilidade; e estabelecer
que o mundo assume o desafio de melhorar a qualidade da          instituições de gestão. São necessários ainda recursos
água, a prevenção contra a poluição deve se tornar prioritária   para desenvolver capacidades nacionais e regionais e para
nos esforços internacionais e locais.                            coletar, gerir e analisar dados de qualidade da água.

Expandir e melhorar o tratamento de água e de                    Aprimorar a comunicação e a educação
efluentes domésticos
                                                                 A educação e a comunicação estão entre as ferramentas
Muitas fontes de água e bacias hidrográficas já são de           mais importantes para a solução de problemas relacionados à
baixa qualidade e necessitam de remediação e tratamento.         qualidade da água. A água desempenha importantes papéis
Para o tratamento de água contaminada, as abordagens             de cunho cultural, social, econômico e ecológico. Demonstrar
podem ser de alta tecnologia e alto consumo de energia;          a importância da qualidade da água para os domicílios,
ou baixa tecnologia e baixo consumo energético, com foco         a mídia, os formuladores de políticas, os empresários e
ecológico. Estas abordagens requerem maiores esforços            os produtores rurais pode exercer grande impacto para a
de implementação, difusão e ampliação para poder lidar           conquista de melhorias essenciais. É preciso uma campanha
com os enormes volumes de resíduos sem tratamento                de educação e conscientização global sobre a qualidade da
diariamente despejados nas águas. Ademais, para que              água, com campanhas regionais e nacionais direcionadas,
possam implementar estas abordagens, as empresas                 que estabeleçam ligação entre o tema da qualidade da água
de água e esgoto precisam receber maior assistência              e outros de importância cultural e histórica.
financeira, administrativa e técnica.
                                                                 Utilizar ferramentas jurídicas, institucionais e
Restaurar, manejar e proteger ecossistemas                       regulatórias efetivas

Ecossistemas saudáveis desempenham funções importantes           Para proteger a qualidade da água, são necessários novos
para a qualidade da água, por filtrar e limpar a água            e aprimorados marcos legais e institucionais, partindo do
contaminada. Ao proteger e restaurar os ecossistemas             nível internacional até os de bacia hidrográfica e comunitário.
naturais, amplas melhorias podem ser conseguidas na              Como primeiro passo, é preciso adotar e aplicar leis sobre
qualidade da água e bem-estar econômico. Por sua vez,            proteção e melhoria da qualidade da água. Políticas modelo
a proteção e a restauração de ecossistemas devem ser             de prevenção da poluição devem ser difundidas de forma
consideradas elementos básicos dos esforços sustentáveis         ampla, e diretrizes devem ser elaboradas para promover a
para garantir a qualidade da água.                               qualidade da água dos ecossistemas, da mesma forma como




                          SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                 17
é feito para o abastecimento de água potável. O planejamento     tornando cada vez mais poluídas. Como comunidade
     em nível de bacia hidrográfica é necessário para identificar     global, devemos voltar as atenções para melhoria e
     as principais fontes de poluição e a tomada de intervenções      preservação da qualidade da nossa água. As decisões
     mais adequadas, especialmente em se tratando de bacias           tomadas na próxima década determinarão o caminho que
     hidrográficas compartilhadas por dois ou mais entes políticos.   iremos traçar ao abordar o desafio global da qualidade
     Será preciso desenvolver e disseminar em todo o mundo            da água. Este desafio exige medidas ousadas em níveis
     métodos padronizados para a caracterização da qualidade          internacional, nacional e local para proteger a qualidade
     da água em rios, bem como diretrizes internacionais para         da água. Direcionar prioridades, financiamento e políticas
     a caracterização da qualidade da água em ecossistemas e          para os níveis local, nacional e internacional para a
     áreas prioritárias para ações de remediação.                     melhoria da qualidade da água tornará possível que nossos
                                                                      recursos hídricos globais voltem a ser fonte de vida. Água
     Empregar tecnologias efetivas                                    limpa é vida. Já dispomos de conhecimento, técnicas e
                                                                      capacidades para proteger a qualidade das nossas águas.
     Diversas tecnologias e abordagens efetivas estão
                                                                      Precisamos agora demonstrar que temos vontade. A vida
     disponíveis para melhorar a qualidade da água por
                                                                      e a prosperidade humana dependerão das nossas ações
     meio da prevenção da poluição, do tratamento e
                                                                      de hoje para que possamos ser os gestores – e não os
     da restauração de ecossistemas, variando desde
                                                                      poluidores – deste recurso tão precioso.
     as abordagens eco-hidrológicas até o tratamento
     convencional. Um enfoque que aborda coleta, transporte
     e tratamento de esgotos domésticos, bem como
     efluentes industriais e agrícolas é de suma importância.
     Para que isso se concretize, será necessário que
     comunidades, governos e empresas adotem tecnologias
     e abordagens eficazes para a qualidade da água, por
     meio do desenvolvimento de novas tecnologias para
     atender às necessidades especificas de recursos ou do
     meio ambiente e para prover apoio técnico, logístico
     e financeiro para auxiliar comunidades e governos na
     implementação de projetos, com vista a melhorar a
     qualidade da água.

     Aprimorar abordagens financeiras e econômicas

     Muitos dos problemas relacionados à qualidade da água
     resultam do acesso inadequado a financiamentos de
     programas para o tratamento da água ou para a sua
     recuperação, programas de subsídio ou de precificação.
     É necessário um melhor entendimento do valor
     econômico da manutenção de serviços ecossistêmicos
     e da infraestrutura hídrica, como também de sistemas
     de precificação efetivos que permitam uma recuperação
     suficiente dos custos, assegurem níveis adequados
     de investimento e proporcionem apoio à operação e
     à manutenção de longo prazo. Abordagens e normas
     regulatórias inovadoras são necessárias, por exemplo, para
     instituir pagamento por serviços ecossistêmicos ou para
     exigir que os poluidores arquem com os custos da poluição.

     Olhando para o futuro: água limpa
     para hoje e amanhã

     A água sempre ocupou posição central nos ecossistemas
     e nas sociedades humanas saudáveis; contudo as fontes
     de água doce das quais todos dependemos estão se




18     CUIDANDO DAS ÁGUAS
INTRODUÇÃO

A qualidade da água é elemento central de todos os papéis       nas décadas recentes este aspecto recebeu bem menos
que este recurso desempenha em nossas vidas. Da beleza de       investimento, apoio científico e atenção do público que a
um curso de água natural repleto de vida animal e vegetal, às   quantidade volumétrica. Como parte dos esforços para
atividades econômicas vitais que a água limpa dos rios e dos    melhorar a qualidade da água, o Programa das Nações
córregos proporcionam até o papel fundamental para a saúde      Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) está apoiando
que a água potável segura desempenha – a água de boa            iniciativas educativas em todo o mundo para chamar atenção
qualidade é de importância fundamental para toda a cadeia       aos desafios e soluções relacionadas à qualidade da água.
vital e para a subsistência humana.                             A presente avaliação resumida faz parte desses esforços e
                                                                sintetiza informações de vários bancos de dados públicos e
A água é fonte de vida na terra, e a civilização humana         relatórios publicados.
desabrochou onde havia fontes confiáveis e limpas de água
doce. Para o aproveitamento humano – seja para beber,           A Parte 1 do presente relatório oferece um panorama dos
lavar ou para recreação –, é preciso que a água esteja          principais contaminantes atuais e das atividades humanas
livre de fontes de contaminação biológica, química e física.    que afetam a qualidade da água. A Parte 2 relaciona os
Plantas, animais e habitats que sustentam a biodiversidade      impactos que a baixa qualidade da água exerce sobre o meio
também dependem de água limpa. Para a produção de               ambiente, a saúde humana e as comunidades vulneráveis
alimentos, o fornecimento de energia para as cidades e          e quantifica os custos econômicos da baixa qualidade da
para movimentar as indústrias é preciso haver água com          água. A Parte 3 oferece análises sobre soluções específicas
determinado grau de qualidade.                                  disponíveis para equacionar problemas da qualidade da
                                                                água. A Parte 4 explora ampla gama de mecanismos por
A qualidade da água é tão importante quanto a quantidade,       meio dos quais as soluções poderão ser alcançadas. A Parte
quando se trata de atender às necessidades básicas dos          5 detalha as principais recomendações para a comunidade
seres humanos e do meio ambiente; entretanto, apesar            internacional, governos nacionais, comunidades e domicílios
de as duas questões estarem intimamente interligadas,           para promover a melhoria e a proteção da qualidade da água.




                                                                                                                              © KWANDEE/UNEP




                         SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                              19
© CHANTAA PRAMKAEW/UNEP
      I. Panorama dos atuais desafios à qualidade da água

     Contaminantes na água
     As atividades humanas, assim como os processos                   planeta (UN WWAP, 2009). Essa contaminação, geralmente
     naturais, podem alterar as características físicas, químicas     associada a excessos de nitrogênio e fósforo – provenientes
     e biológicas da água, com ramificações específicas para a        do escoamento da agricultura, mas também provocada por
     saúde humana e do ecossistema. A qualidade da água é             lançamento de esgoto e de resíduos industriais –, tende a
     afetada por mudanças em teores de nutrientes, sedimentos,        aumentar taxas de produtividade primária (produção de matéria
     temperatura, pH, metais pesados, toxinas não metálicas,          vegetal por meio da fotossíntese) em níveis excessivos, levando
     componentes orgânicos persistentes e agrotóxicos, fatores        a um supercrescimento de plantas vasculares (ex.: aguapé), a
     biológicos, entre muitos outros (Carr e Neary, 2008). Segue      aflorações de algas e ao esgotamento do oxigênio dissolvido
     uma apresentação resumida dos principais contaminantes.          na coluna de água, o que pode provocar estresse ou mesmo
                                                                      matar organismos aquáticos. Algumas algas (cianobactérias)
     Muitos contaminantes se combinam sinergicamente para             podem produzir toxinas prejudiciais à saúde de seres humanos
     causar impactos piores ou distintos daqueles provocados          e animais domésticos e selvagens que as ingerirem ou
     de forma cumulativa por um poluente agindo isoladamente.         que se exponham a águas com elevados níveis de algas.
     Em último caso, o acréscimo contínuo de contaminantes            A contaminação por excesso de nutrientes pode também
     levará a concentrações que excedem a capacidade do               provocar acidificação nos ecossistemas de água doce, com
     ecossistema de suportá-los, gerando alterações dramáticas        graves impactos para a biodiversidade (MA, 2005b). No
     e não lineares que podem ser impossíveis de reverter (MA,        longo prazo, o enriquecimento com nutrientes pode esgotar o
     2005a). A extinção de todas as 24 espécies de peixes             oxigênio e eliminar espécies com exigências mais elevadas em
     endêmicos do Mar Aral, por exemplo, foi consequência             termos de consumo de oxigênio, inclusive diversas espécies de
     do aumento acentuado de salinidade, provocado pela               peixes, afetando a estrutura e a diversidade dos ecossistemas
     diminuição das entradas de água doce. Mesmo que alguns           (Carpenter et al., 1998). Por causa de entradas excessivas de
     especialistas ainda acreditem haver possibilidade de baixar      nutrientes, alguns lagos e lagoas tornam-se hipereutróficos
     os níveis de salinidade do Mar Aral aos níveis anteriores, não   (ricos em nutrientes e pobres em oxigênio) com a consequente
     há como reverter as extinções ocorridas. Outro exemplo           eliminação de todos os macro-organismos.
     dessas mudanças abruptas é a proliferação de afloramentos
     de algas tóxicas (ver estudo de caso do Lago Atitlán, a
                                                                      Erosão e sedimentação
     seguir), com consequências econômicas diretas e indiretas
     sobre as populações locais.                                      A erosão é um processo natural que fornece sedimentos e
                                                                      matéria orgânica aos sistemas aquáticos. Em muitas regiões,
     Nutrientes                                                       as atividades humanas alteraram as taxas de erosão natural,
                                                                      mudando significativamente o volume, a taxa e o momento de
     A contaminação por excesso de nutrientes tornou-se o             entrada de sedimentos em córregos e lagos, assim afetando
     problema de qualidade da água mais comum em todo o               processos físicos e químicos e as adaptações das espécies




20     CUIDANDO DAS ÁGUAS
aos regimes de sedimentação preexistentes. Aumentos de           entre algumas espécies aquáticas. A acidificação é um
sedimentação podem diminuir a produtividade primária, reduzir    fenômeno difuso, encontrado especialmente a sota-vento
ou danificar habitats de desova e prejudicar peixes, plantas e   de usinas que emitem grandes quantidades de nitrogênio
organismos invertebrados bentônicos (que vivem no substrato      e dióxido de enxofre ou a jusante de minas que liberam
dos habitats aquáticos). Os sedimentos finos tendem a            águas subterrâneas contaminadas. Segundo a Agência
atrair nutrientes como fósforo e contaminantes tóxicos           de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, por exemplo,
como agrotóxicos, dessa forma alterando as propriedades          mais de 90 por cento dos ribeirões de Pine Barrens, uma
químicas da água (Carr e Neary, 2008). Barragens e outras        região de terras úmidas no leste dos Estados Unidos, são
infraestruturas podem provocar degradação nas funções            ácidos por causa dos sistemas de produção de energia a
naturais de transporte de sedimento, privando trechos a          barlavento e especialmente, às usinas movidas a carvão
jusante de nutrientes e insumos químicos essenciais. Por         mineral (US EPA, 2009a).
exemplo, de acordo com cientistas chineses, a construção
de grandes barragens no Rio Yangtze teve um impacto visível      Salinidade
na carga de sedimentos transportados até o Mar da China
Oriental. Nos anos mais recentes, o volume de sedimentos         Tipicamente, espécies vegetais e animais de água doce não
que chega até Datong, próximo ao delta do Rio Yangtze,           toleram altos níveis de salinidade. O acúmulo de sais na água
baixou para apenas 33 por cento dos níveis registrados entre     pode ter uma série de causas – muitas vezes, mas nem
1950-1986 (Xu et al., 2006). A crescente erosão na zona          sempre – provocadas pela ação do homem. Entre elas estão
costeira e as mudanças nas características ecológicas e de       o escoamento agrícola, de terras com alto teor de sais, as
produtividade do Mar da China Oriental são algumas das           descargas de águas subterrâneas de perfurações de petróleo e
consequências desta diminuição no volume dos sedimentos          gás ou outras operações envolvendo bombeamento; atividades
transportados (Xu et al., 2006).                                 industriais diversas; e certos tipos de tratamento municipal de
                                                                 água. Ademais, a natureza química dos sais introduzidos pelas
Temperatura da água                                              atividades humanas pode ser diferente daquela que ocorre
                                                                 naturalmente; por exemplo, teores mais elevados de potássio em
A temperatura da água desempenha papel importante na             relação a sais de sódio. A salinidade crescente pode provocar
sinalização de funções biológicas como desova e migração         estresse em alguns organismos de água doce, afetando a
e afeta taxas metabólicas de organismos aquáticos.               função metabólica e os níveis de saturação de oxigênio. Pode
Alterações na temperatura natural dos ciclos da água             também alterar a vegetação ribeirinha e emergente, afetar as
podem impedir o sucesso reprodutivo e de crescimento,            características das terras úmidas e pântanos naturais, diminuir o
ocasionando diminuições de populações pesqueiras e de            habitat de algumas espécies aquáticas e reduzir a produtividade
outras classes de organismos. Quanto mais quente a água,         agrícola e de certos cultivos (Carr e Neary, 2008).
menor seu conteúdo de oxigênio, o que prejudica funções
metabólicas e condições de saúde. Esses impactos podem           Organismos patogênicos
ser especialmente graves a jusante de usinas de geração
de energias térmicas ou nucleares, fábricas ou unidades          Entre os contaminantes da qualidade da água mais difundidos
industriais, nas quais as águas retornadas aos fluxos            – especialmente em áreas onde o acesso à água limpa
podem estar numa temperatura substancialmente mais               e segura é limitado – estão os organismos patogênicos:
elevada do que os ecossistemas são capazes de absorver           bactérias, protozoários e vírus. Estes organismos representam
(Carr e Neary, 2008).                                            uma das principais ameaças à saúde humana no planeta. Os
                                                                 maiores riscos de contaminação microbiana vêm do consumo
Acidificação                                                     de água contaminada com agentes patogênicos provenientes
                                                                 de fezes humanas ou animais (Carr e Neary, 2008). Além dos
O pH de diferentes ecossistemas aquáticos determina a            micro-organismos introduzidos nas águas pela contaminação
saúde e as características biológicas deles. Uma gama de         fecal humana ou animal, existem diversos micro-organismos
atividades industriais, com destaque para a mineração e a        patogênicos, endêmicos em certas áreas que, uma vez
produção de energia a partir de combustíveis fósseis, pode       introduzidos, são capazes de colonizar novos ambientes. Estes
provocar acidificação localizada em sistemas de água doce.       micro-organismos patogênicos endêmicos, como algumas
Chuva ácida, causada predominantemente pela interação            espécies bacterianas do tipo vibrião e alguns tipos de ameba,
de emissões da combustão de combustíveis fósseis e               podem provocar gravíssimos problemas de saúde nas pessoas
processos atmosféricos, pode afetar grandes regiões.             expostas, causando, inclusive, infecções intestinais, encefalite
A acidificação afeta desproporcionalmente organismos mais        amebiana, meningite amebiana, podendo levar a óbito (OMS,
jovens que tendem a ser menos tolerantes ao baixo pH.            2008). Vírus e protozoários também representam riscos à
O pH mais baixo pode também mobilizar metais de solos            saúde humana, como é o caso do Cryptosporidium, Giardia,
naturais, como alumínio, provocando estresse e mortalidade       verme de Guiné e outros.




                          SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                   21
Metais traço                                                    serem liberados em grandes volumes durante raspagem,
                                                                     dragagem ou outros distúrbios.
     Metais traço, como arsênio, zinco, cobre e selênio,
     estão naturalmente presentes em águas de diferentes             Outros poluentes orgânicos, como dioxinas, furanos
     localidades. Algumas atividades humanas, como                   e bifenilos policlorados (PCBs) são subprodutos de
     mineração, indústria e agricultura, podem provocar              processos industriais que entram no meio ambiente
     aumento na mobilização de metais traço, a partir de solos       durante seu uso e disposição final (PNUMA, 1998). Esses
     ou resíduos, para a água doce. Mesmo em baixíssimas             materiais constituem ameaças emergentes, devido a
     concentrações, essas matérias adicionais podem ser              possível degradação de longo prazo dos ecossistemas de
     tóxicas para organismos aquáticos, prejudicando funções         água doce e outros.
     reprodutivas e outras. No início da década de 1980,             A contaminação por PCBs é bastante comum em todo
     altas concentrações de selênio em água de escoamento            o mundo. Em Nova York, por exemplo, mais de 550
     agrícola lançada no Kesterson National Wildlife Refuge na       toneladas de PCBs foram despejadas no Rio Hudson
     Califórnia extirparam todas as espécies de peixes (com          durante o século XX. Os altos níveis de contaminação
     uma única exceção) e provocaram grande mortalidade de           por PCBs em peixes levaram à proibição da pesca no
     pássaros, assim como graves deformidades em diversas
                                                                     Rio Hudson, e os esforços de remediação, iniciados há
     espécies de aves (Ohlendorf, 1989).
                                                                     décadas, continuam até o presente (US EPA, 2009b).

     Contaminantes químicos e outras toxinas                         Existem ainda outros contaminantes emergentes (discutidos
     produzidas pelo homem                                           mais detalhadamente a seguir) entre eles disruptores
     Há uma diversidade de contaminantes orgânicos produzidos        endócrinos e produtos farmacêuticos e de cuidados
     pelo homem que podem ser carreados para as águas superfi-       pessoais, que podem não ser removidos durante os
     ciais e subterrâneas, provocando contaminação desses recur-     processos mais comuns de tratamento de efluentes e
     sos hídricos, em consequência de atividades humanas, entre      que acabam entrando nos sistemas de água doce. Esses
     elas o uso de agrotóxicos e processos industriais, bem como     contaminantes podem prejudicar o sucesso reprodutivo de
     resultantes da decomposição de produtos químicos (Carr e        aves e peixes, feminizar alevinos machos e causar outros
     Neary, 2008). Muitos desses poluentes, incluindo agrotóxicos    impactos ainda não detectados.
     e outras toxinas não metálicas, são largamente utilizados em
     todo o mundo, persistem no meio ambiente e podem ser            Introdução de espécies e outros
     transportados por longas distâncias até regiões nas quais       distúrbios biológicos
     nunca foram produzidos (PNUMA, 2009).
                                                                     A incidência crescente de espécies invasoras
     Os contaminantes orgânicos (também conhecidos como              que substituem espécies endêmicas e alteram as
     “poluentes orgânicos persistentes” ou POPS) são, a exemplo      propriedades químicas da água e as cadeias alimentares
     de certos agrotóxicos, encontrados com frequência na            locais vem afetando cada vez mais os sistemas de
     forma de contaminantes de águas subterrâneas, onde              água doce, problema que deve ser enfrentado como
     chegam após lixiviação por solo e águas superficiais, por       sendo de qualidade da água (Carr e Neary, 2008). Em
     meio do escoamento de áreas agrícolas e urbanas. O DDT,         muitos casos, espécies aquáticas foram introduzidas
     pesticida cujo uso é proibido em muitos países, mas ainda       propositalmente em ecossistemas distantes, para fins
     utilizado no controle da malária em países da África, da Ásia   recreativos, econômicos ou outros. Em várias instâncias,
     e da América Latina (Jaga e Dharmani, 2003) persiste no         tais introduções disseminaram espécies endêmicas de
     meio ambiente, por ser resistente à total degradação por        peixes e de outros organismos aquáticos, causando
     micro-organismos (OMS, 2004a). Mesmo nos países em              degradação em bacias hidrográficas locais. Outras
     que está proibido há décadas, o DDT ainda é encontrado          espécies invasoras chegaram por acaso, transportadas
     em sedimentos, cursos de água e águas subterrâneas.             em cascos de embarcações recreativas ou pela água de
     No caso de alguns desses materiais, doses não letais            lastro de embarcações comerciais. Por exemplo, espécies
     podem ser ingeridas por organismos invertebrados, ficando       invasoras como o mexilhão zebra (Dreissena polymorpha)
     armazenadas em seus tecidos; contudo, à medida que              e o mexilhão quagga (D. bugensis) devastaram
     organismos maiores consomem essas espécies de presa, as         ecossistemas locais, alterando os ciclos de nutrientes
     quantidades de agrotóxicos e outros materiais bioacumulam,      e levando espécies endêmicas quase à extinção. Os
     podendo alcançar níveis tóxicos. Alguns agrotóxicos se          mexilhões também representam ameaça à infraestrutura
     decompõem com o tempo no meio ambiente, mas os                  humana, pois obstruem tubulações e adutoras e
     subprodutos dessa decomposição podem também ser                 bloqueiam canais, provocando dificuldades de operação e
     tóxicos e se concentrar em sedimentos para, posteriormente,     aumentando os custos de manutenção.




22     CUIDANDO DAS ÁGUAS
Na África do Sul, espécies vegetais invasoras alteraram        ainda são pouco conhecidos. Os disruptores endócrinos
a qualidade da água local e reduziram a quantidade             – produtos químicos capazes de interferir com a ação
de água disponível, por aumentar as taxas de                   hormonal – foram identificados entre aqueles utilizados
evapotranspiração nas bacias hidrográficas. Segundo o          na agricultura, na indústria, nos domicílios e nos cuidados
Departamento de Assuntos de Água e Florestas da África         pessoais e incluem agrotóxicos, desinfetantes, aditivos
do Sul, a cada ano, espécies exóticas invasoras causam         plásticos e produtos farmacêuticos, como pílulas
grandes prejuízos financeiros à economia, constituindo         anticoncepcionais. Muitos desses disruptores endócrinos
a maior ameaça à biodiversidade do país. Desde sua             imitam ou bloqueiam a ação de outros hormônios no
criação, em 1995, o programa Working for Water                 organismo, deturpando o desenvolvimento do sistema
promove, a cada ano, a remoção de espécies vegetais            endócrino e dos órgãos que respondem a sinais endócrinos
invasoras de um milhão de hectares, ao mesmo tempo             em organismos indiretamente expostos durante as
provendo capacitação e emprego para aproximadamente            primeiras fases do seu desenvolvimento; esses efeitos
20.000 pessoas dos setores mais marginalizados da              são permanentes e irreversíveis (Colborn, 1993). Os
sociedade (SA DWAF, 2009). Nos Estados Unidos, as              efeitos de disruptores endócrinos sobre a fauna e a flora
invasões de certas espécies de mexilhões acarretam             selvagem incluem afinamento das cascas de ovos de
custos adicionais de mais de 1 bilhão de dólares por ano       pássaros, comportamentos parentais inadequados, tumores
às empresas de abastecimento de água e de geração de           cancerígenos e outros efeitos (Carr e Neary, 2008). Por
energia elétrica e geram impactos sobre os ecossistemas        exemplo, há muito tempo, a feminização de peixes a jusante
locais (De Leon, 2008).                                        de lançamentos de estações de tratamento de águas
                                                               servidas está associada a composições farmacêuticas de
Contaminantes emergentes                                       agentes estrogênicos (Sumpter, 1995) e novos estudos
                                                               também associam a feminização de anfíbios a agrotóxicos
Um número cada vez maior de contaminantes está sendo           disruptores endócrinos, como a atrazina (Hayes et al., 2006).
detectado nas águas, por dois motivos: novos componentes
químicos estão sendo lançados para uso na agricultura, nas     Os efeitos desses compostos químicos sobre os humanos
indústrias e nos domicílios, que podem entrar e persistir no   e sobre o desenvolvimento humano são menos conhecidos;
meio ambiente; e novas técnicas de ensaio que fazem que        contudo, ensaios em animais indicam que há motivo
os contaminantes sejam detectados em teores cada vez           para preocupação, mesmo em se tratando de dosagens
menores. Essas substâncias podem ser lançadas no meio          mínimas. Ademais, pesquisas mostram que os efeitos
ambiente por meio de liberações em medidas intencionais        podem se estender muito além do indivíduo exposto e
(aplicações de pesticida); na forma de subprodutos             que podem acometer especialmente fetos, gestantes
industriais e agrícolas (regulados ou não); por meio de        e crianças lactentes. Informes mais recentes apontam
despejos acidentais, vasamentos durante a fabricação ou        efeitos multigeracionais de alguns disruptores endócrinos,
o armazenamento inadequado; ou na forma de resíduos            provocados por modificação de materiais genéticos e outros
domiciliares (Carr e Neary, 2008). Em contextos agrícolas,     mecanismos hereditários (ES, 2009).
a pulverização excessiva e o transporte de longa distância
fazem com que essas substâncias sejam encontradas muito        Produtos farmacêuticos e compostos químicos originários
longe do ponto inicial de sua aplicação.                       de cosméticos, produtos de higiene e de cuidados pessoais,
                                                               detergentes e medicamentos, desde analgésicos e
A cada ano, cerca de 700 novos produtos químicos são           antidepressivos até terapias de reposição hormonal e agentes
introduzidos pelo comércio apenas nos Estados Unidos           quimioterápicos, também suscitam preocupação crescente
(Stephenson, 2009) e, mundialmente, as aplicações              (Carr e Neary, 2008). Tais agentes químicos entram no meio
de agrotóxicos são estimadas em aproximadamente 2              ambiente e nos cursos de água pelos efluentes de estações
milhões de toneladas (PAN, 2009). Apesar de seu uso em         de tratamento de esgotos domésticos não equipadas para
larga escala, a prevalência, o transporte e o destino final    removê-los (Carr e Neary, 2008). Mesmo que as baixas
de muitos desses produtos químicos permanecem, em              concentrações atualmente presentes nos cursos de água não
geral, desconhecidos uma vez que, até há pouco tempo,          apresentem quaisquer efeitos observáveis ou agudos à saúde,
as técnicas de ensaio não eram capazes de detectar             podem provocar problemas comportamentais e reprodutivos
contaminantes nas baixas concentrações presentes no            sutis à vida humana e à fauna (Carr e Neary, 2008) e é provável
meio ambiente (Carr e Neary, 2008).                            que causem impactos sinérgicos quando combinados
                                                               com outro disruptor endócrino. A título de exemplo, em
Produtos químicos sintéticos, denominados disruptores          concentrações de microgramas/L do antibiótico tetraciclina,
endócrinos, fornecem excelente exemplo de contaminantes        um estudo encontrou impactos negativos mensuráveis sobre a
emergentes cujos perigos e consequências para a                vida bacteriana aquática (Verma et al., 2007). São necessárias
qualidade da água, saúde humana e meio ambiente                novas pesquisas para esclarecer essas incertezas.




                         SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                23
Além desses contaminantes químicos emergentes, existe              sobre a qualidade da água. Segue também uma descrição
     também a ameaça proveniente de agentes patogênicos                 de processos que impactam e continuarão impactando
     emergentes – que estão aparecendo entre as populações              a qualidade da água, a saber: crescimento demográfico,
     humanas pela primeira vez ou que já haviam aparecido antes,        urbanização e mudanças climáticas.
     mas agora se apresentam com incidência crescente ou vêm
     se alastrando para áreas antes não informadas (OMS, 2003a).        Agricultura
     As doenças relacionadas à água não apenas continuam sendo
     a principal causa de morbidade e mortalidade global, mas           A imensa extensão das atividades agrícolas em todo
     diversos estudos confirmam que a variedade das doenças             o mundo contribui significativamente tanto para a
     expandem e que a incidência de muitas doenças microbianas          produtividade econômica quanto para as cargas de
     relacionadas à água vem aumentando (OMS, 2003a).                   poluentes. Desde a década de 1970, é cada vez maior
                                                                        a preocupação com os aumentos de escoamento de
     Agentes patogênicos podem surgir como resultado de novos           resíduos de nitrogênio, fósforo e agrotóxicos nas águas
     ambientes ou alterações de condições ambientais, como              superficiais e subterrâneas. É sabido, há muito tempo, que
     implantação de barragens e projetos de irrigação; uso de novas     os sistemas de cultivo intensivo, a crescente concentração
     tecnologias; e avanços científicos, tais como o uso inapropriado   de pecuária confinada em “fábricas” e as operações
     de antibióticos, inseticidas e agrotóxicos que levam à criação     de aquacultura podem contribuir para a poluição difusa
     de cepas resistentes (OMS, 2003a). Nos últimos anos, 175           de águas superficiais e subterrâneas (Ignazi, 1993). Um
     espécies de agentes infecciosos de 96 gêneros diferentes foram     estudo comparativo de fontes de poluição doméstica,
     classificados como agentes patogênicos emergentes (OMS,            industrial e agrícola da zona costeira dos países do Mar
     2003a). O aparecimento de novos agentes patogênicos ou             Mediterrâneo constatou que a agricultura é a fonte principal
     o aumento na sua incidência também representam ameaça à            de componentes e sedimentos de fósforo (PNUMA, 1996a).
     qualidade da água.                                                 Ademais, os nitratos são os componentes químicos mais
                                                                        comuns nas águas subterrâneas e nos aquíferos do mundo
                                                                        (Spalding e Exner, 1993). De acordo com diversos estudos
     Atividades humanas que afetam                                      realizados na Índia e na África, entre 20 e 50 por cento dos
     a qualidade da água                                                poços contêm teores de nitrato acima de 50 miligramas/
                                                                        litro e, em alguns casos, esses teores chegam até várias
     Uma ampla gama de atividades humanas afeta a qualidade             centenas de miligramas/litro (citado pela FAO, 1996). Dados
     da água. A seguir serão apresentadas e discutidas quatro           recentes do PNUMA Global Environment Monitoring (GEMS/
     categorias – produção agrícola; industrial e mineradora;           Água) demonstram que as concentrações medianas de nitrato
     infraestrutura hídrica; e lançamento direto de efluentes           aumentaram na última década em bacias hidrográficas das
     domésticos não ou parcialmente tratados em sistemas                Américas, da Europa, da Australásia e, mais significativamente,
     aquáticos – como também os impactos destas atividades              da África e do Mediterrâneo oriental (Figura 1).




             76 - 100
             51 - 75
             26 - 50
             1- 25
             0%
             1 - 25
             26 - 50
             51- 75
             76 - 100

        (mg N L)




     Figura 1. Alterações nas concentrações de nitrogênio em grandes bacias do mundo nos períodos 1990-1999 e
     2000-2007. Fonte: PNUMA 2008




24     CUIDANDO DAS ÁGUAS
Tabela 1. Impactos das atividades agrícolas sobre a qualidade da água. (FAO, 1996 – modificado)
Atividades agrícolas Impactos

                          Águas superficiais                                           Águas subterrâneas
Aração/gradeação          Sedimentos/turbidez: sedimentos carregam fósforo e           Compactação do solo pode reduzir
                          agrotóxicos absorvidos em partículas de sedimento;           infiltração para o sistema de águas
                          assoreamento de leitos de rios e perda de habitat, áreas     subterrâneas.
                          de desova etc.

Adubação                  Escoamento superficial de nutrientes, especialmente      Lixiviação de nitrato para as águas
                          fósforo, levando à eutrofização e provocando alterações  subterrâneas; níveis excessivos
                          de sabor e odor na água de abastecimento público;        representam ameaça à saúde humana.
                          proliferação de algas, levando à desoxigenação da água e
                          à mortalidade de peixes.
Espalhamento de           Realizado como atividade de adubação; espalhamento em Contaminação de águas subterrâneas,
estrume                   terreno gelado resulta em altos níveis de contaminação  especialmente por nitrogênio.
                          das águas por agentes patogênicos, metais, fósforo e
                          nitrogênio, que levam à eutrofização e à contaminação
                          potencial. Ademais, a aplicação de estrume pode
                          disseminar antibióticos e outros produtos farmacêuticos
                          administrados a animais.
Agrotóxicos               Escoamento superficial de agrotóxicos, provocando            Alguns agrotóxicos podem se infiltrar
                          contaminação da água superficial e da biota; disfunção do    nas águas subterrâneas, provocando
                          sistema ecológico nas águas superficiais pela perda dos      problemas à saúde humana, a partir de
                          principais predadores devido à inibição de crescimento e     poços contaminados.
                          ao fracasso reprodutivo; impactos sobre a saúde humana
                          pela ingestão de peixes contaminados. Agrotóxicos são
                          propagados em forma de pó pelos ventos por longas
                          distâncias e contaminam sistemas aquáticos a milhares
                          de quilômetros de distância (ex.: agrotóxicos tropicais/
                          subtropicais encontrados em mamíferos do Ártico).

Confinamento de           Contaminação da água superficial por muitos agentes          Lixiviação potencial de nitrogênio, metais
animais/currais           patogênicos (bactéria, vírus etc.), levando a problemas      etc. às águas subterrâneas.
                          crônicos de saúde. Também contaminação por metais,
                          antibióticos e outros compostos farmacêuticos contidos
                          na urina e nas fezes.

Irrigação                 Escoamento superficial de sais, provocando a                 Enriquecimento das águas
                          salinização das águas superficiais; escoamento               subterrâneas com sais e nutrientes
                          superficial de fertilizantes e agrotóxicos às águas          (especialmente nitrato).
                          superficiais, provocando danos ecológicos,
                          bioacumulação de espécies de peixes comestíveis
                          etc. Altos níveis de elementos traço como selênio
                          podem ocorrer, provocando graves danos ecológicos e
                          potenciais impactos sobre a saúde humana.
Corte raso de florestas   Erosão do terreno, levando a altos níveis de turbidez dos    Mudança do regime hidrológico – muitas
                          rios, assoreamento do habitat bentônico etc. Deturpação      vezes acompanhada por aumento do
                          e alteração do regime hidrológico, muitas vezes com          escoamento superficial e diminuição
                          perda de riachos perenes, provocando problemas de            das recargas de águas subterrâneas
                          saúde devido a perdas de água potável.                       – afeta a água superficial, por diminuir
                                                                                       os fluxos em períodos de estiagem
                                                                                       e a concentração de nutrientes e
                                                                                       contaminantes na água superficial.
Silvicultura              Ampla gama de efeitos: escoamento superficial de         Compactação do solo limita infiltração.
                          agrotóxicos e contaminação de água superficial e peixes;
                          problemas de erosão e sedimentação.

Aquacultura               Liberação de agrotóxicos e altos níveis de nutrientes para
                          as águas superficiais e subterrâneas, pela ração e pelas
                          fezes, levando a sérios problemas de eutrofização.




                          SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS                                                  25
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água
Soluções para melhorar a qualidade da água

Mais conteúdo relacionado

Destaque

USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOS
USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOSUSOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOS
USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOSFernando Côrtes
 
Principais poluentes e contaminantes da água
Principais poluentes e contaminantes da águaPrincipais poluentes e contaminantes da água
Principais poluentes e contaminantes da águaLuan Furtado
 
Introdução de espécies exóticas
Introdução de espécies exóticasIntrodução de espécies exóticas
Introdução de espécies exóticasGrupo2apcm
 
Espécies exóticas
Espécies exóticasEspécies exóticas
Espécies exóticasunesp
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos Hídricosverasanches
 

Destaque (8)

Conflitos da Agua
Conflitos da AguaConflitos da Agua
Conflitos da Agua
 
USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOS
USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOSUSOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOS
USOS E CONFLITOS POR RECURSOS HÍDRICOS
 
Principais poluentes e contaminantes da água
Principais poluentes e contaminantes da águaPrincipais poluentes e contaminantes da água
Principais poluentes e contaminantes da água
 
Cap23
Cap23Cap23
Cap23
 
Introdução de espécies exóticas
Introdução de espécies exóticasIntrodução de espécies exóticas
Introdução de espécies exóticas
 
Espécies exóticas
Espécies exóticasEspécies exóticas
Espécies exóticas
 
Recursos hidricos
Recursos hidricosRecursos hidricos
Recursos hidricos
 
Recursos Hídricos
Recursos HídricosRecursos Hídricos
Recursos Hídricos
 

Semelhante a Soluções para melhorar a qualidade da água

Guia de COLETA ANA CETESB
Guia de COLETA ANA CETESBGuia de COLETA ANA CETESB
Guia de COLETA ANA CETESBLimnos Ufsc
 
161 publicacao07102011101118 ciranda das águas
161 publicacao07102011101118 ciranda das águas161 publicacao07102011101118 ciranda das águas
161 publicacao07102011101118 ciranda das águasDaniel Oliveira Galdino
 
Livro das aguas_wwf_brasil
Livro das aguas_wwf_brasilLivro das aguas_wwf_brasil
Livro das aguas_wwf_brasilVanlisaPinheiro
 
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012Samanta Tolentino
 
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...petambiental
 
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...BeefPoint
 
44646 guia de atividades
44646 guia de atividades44646 guia de atividades
44646 guia de atividadesVanlisaPinheiro
 
Mulheres pela água
Mulheres pela águaMulheres pela água
Mulheres pela águafcmatosbh
 
Modelagem da Qualidade de Água 1
Modelagem da Qualidade de Água 1Modelagem da Qualidade de Água 1
Modelagem da Qualidade de Água 1Danilo Max
 
00 cus-port2011v1 fode
00 cus-port2011v1 fode00 cus-port2011v1 fode
00 cus-port2011v1 fodejmacbio7
 
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_100604
 
AmBev lança “Movimento CYAN” pelo
AmBev lança “Movimento CYAN” peloAmBev lança “Movimento CYAN” pelo
AmBev lança “Movimento CYAN” peloambev
 
Indicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiá
IndicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiáIndicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiá
IndicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiáAndre Reis
 

Semelhante a Soluções para melhorar a qualidade da água (20)

Guia nacional-coleta-2012
Guia nacional-coleta-2012Guia nacional-coleta-2012
Guia nacional-coleta-2012
 
Guia de COLETA ANA CETESB
Guia de COLETA ANA CETESBGuia de COLETA ANA CETESB
Guia de COLETA ANA CETESB
 
161 publicacao07102011101118 ciranda das águas
161 publicacao07102011101118 ciranda das águas161 publicacao07102011101118 ciranda das águas
161 publicacao07102011101118 ciranda das águas
 
Livro das aguas_wwf_brasil
Livro das aguas_wwf_brasilLivro das aguas_wwf_brasil
Livro das aguas_wwf_brasil
 
Zoneamento CustóDia
Zoneamento CustóDiaZoneamento CustóDia
Zoneamento CustóDia
 
Projeto 21 Ppt
Projeto 21 PptProjeto 21 Ppt
Projeto 21 Ppt
 
Mutirão das Águas
Mutirão das ÁguasMutirão das Águas
Mutirão das Águas
 
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012
Panorama qualidade aguas_superficiais_br_2012
 
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...
Economizar água, uma questão de educação e informação - PET Ambiental (Aprese...
 
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...
Monitoramento das alterações da cobertura vegetal e uso do solo na Bacia do A...
 
44646 guia de atividades
44646 guia de atividades44646 guia de atividades
44646 guia de atividades
 
Mulheres pela água
Mulheres pela águaMulheres pela água
Mulheres pela água
 
Modelagem da Qualidade de Água 1
Modelagem da Qualidade de Água 1Modelagem da Qualidade de Água 1
Modelagem da Qualidade de Água 1
 
relatorio_anual_2012
relatorio_anual_2012relatorio_anual_2012
relatorio_anual_2012
 
00 cus-port2011v1 fode
00 cus-port2011v1 fode00 cus-port2011v1 fode
00 cus-port2011v1 fode
 
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_
Guia nacional de_coleta_e_preservacao_de_amostras_
 
Relatorio 03 Moxoto
Relatorio 03 MoxotoRelatorio 03 Moxoto
Relatorio 03 Moxoto
 
Versao pdf guia
Versao pdf guiaVersao pdf guia
Versao pdf guia
 
AmBev lança “Movimento CYAN” pelo
AmBev lança “Movimento CYAN” peloAmBev lança “Movimento CYAN” pelo
AmBev lança “Movimento CYAN” pelo
 
Indicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiá
IndicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiáIndicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiá
Indicedesustentabilidadeaplicadoabaciadocuiá
 

Último

Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumUniversidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumPatrícia de Sá Freire, PhD. Eng.
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxRonys4
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERDeiciane Chaves
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaJúlio Sandes
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 

Último (20)

Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comumUniversidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 

Soluções para melhorar a qualidade da água

  • 1.
  • 2. Cuidando das Águas Soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos
  • 3. Cuidando das Águas soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos
  • 4. República Federativa do Brasil Dilma Vana Rousseff Presidenta Ministério do Meio Ambiente Izabella Mônica Vieira Teixeira Ministra Agência Nacional de Águas Diretoria Colegiada Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente) Dalvino Troccoli Franca Paulo Lopes Varella Neto João Gilberto Lotufo Conejo Paulo Rodrigues Vieira Coordenação de Articulação e Comunicação da ANA Antônio Félix Domingues Coordenação de Gestão Estratégica da ANA Bruno Pagnoccheschi
  • 5. Cuidando das Águas soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos Traduzido e adaptado do original “Clearing the waters: a focus on water quality solutions” Produzido em Nairobi, Kenya em março de 2010.
  • 6. © Agência Nacional de Águas (ANA), 2011. Setor Policial Sul, Copyright © 2010, Programa das Nações Unidas para Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T. CEP 70610-200, Brasília, o Meio Ambiente Imagem da capa: © Christasvengel / DF PABX: 61 2109 5400 Dreamstime.com Outras imagens, de cima para baixo: www.ana.gov.br © Milan Kopcok / Dreamstime.com; © DenGuy / Istockphoto.com; © Lucian Coman / Dreamstime.com Coordenação de Articulação e Comunicação da ANA Antônio Félix Domingues Coordenação de Gestão Estratégica da ANA Bruno Pagnoccheschi Pacific Institute 654 13th Street Colaboradores da ANA Preservation Park Cristianny Villela Teixeira Oakland, CA 94612 Devanir Garcia dos Santos www.pacinst.org. Diana Wahrendorff Engel Érika de Castro Hessen Autores Flávio Hermínio de Carvalho Meena Palaniappan Herbert Eugênio de Araújo Cardoso Peter H. Gleick Marcelo Mazzola Lucy Allen Marcelo Pires da Costa Michael J. Cohen Paulo Augusto C. Libânio Juliet Christian-Smith Regina Coeli Montenegro Generino Courtney Smith Vivyanne Graça de Melo Editor: Nancy Ross Aviso legal Projeto gráfico e editoração As designações empregadas e a apresentação do material Exemplos de Boas Práticas no Brasil da presente publicação não representam a expressão de qualquer opinião por parte do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente quanto ao marco legal de qualquer país, Direção – Marcos Rebouças território, cidade ou área ou de suas autoridades, ou mesmo Direção de Arte – Carlos André Cascelli quanto à delimitação de seus limites ou fronteiras. Ademais, Editoração – Rael Lamarques as opiniões expressas não representam necessariamente as Ilustração – Anderson Araruna e Enrico Pieratti decisões ou políticas do Programa das Nações Unidas para o Revisão – Danúzia Queiroz Meio Ambiente, assim como a menção de marcas registradas www.tdabrasil.com.br ou processos comerciais não constitui endosso. Traduzido e adaptado do original “Clearing the waters: a focus on water quality Designer solutions”. Produzido em Nairobi, Kenya em março de 2010. Nikki Meith Todos os direitos reservados. Impressão gráfica da obra adaptada: UNON, Publishing É permitida a reprodução de dados e de informações contidos nesta publicação, Services Section, Nairobi, ISO 14001:2004-certified. desde que citada a fonte. Reprodução Catalogação na fonte: CEDOC / BIBLIOTECA Esta publicação poderá ser reproduzida total ou parcialmente, em qualquer formato para fins educacionais ou sem fins lucrativos, sem a necessidade de permissão especial A265c Agência Nacional de Águas (Brasil). dos detentores dos direitos autorais, desde que a fonte Cuidando das águas: soluções para melhorar a seja citada. O PNUMA gostaria de receber um exemplar qualidade dos recursos hídricos / Agência Nacional de de qualquer publicação que venha a utilizar o presente Águas; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. documento como fonte. A reprodução desta publicação para -- Brasília: ANA, 2011. revenda ou quaisquer finalidades comerciais não é permitida 154 p. : il. sem permissão por escrito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. ISBN: UNEP promotes O UNEP promove 1. recursos hídricos 2. gestão dos recursos hídricos 3. preservação do meio ambiente environmentally sound practices práticas ambientalmente I. Agência Nacional de Águas (Brasil) II. Programa globally and inem own activities. This corretas its todo o mundo e em das Nações Unidas para o Meio Ambiente III. Título publication is printedatividades. Este relatório suas próprias on 100% recycled paper using vegetable-based inks and other eco- foi impresso em papel reciclado, utilizando CDU 628.1  friendly practices. basedistribution policypráticas tintas de Our vegetal e outras aims to ecologicamentecarbon footprint. de reduce UNEP’s corretas. A política distribuição busca reduzir a pegada de carbono do PNUMA.
  • 7. AGRADECIMENTO PNUMA A presente publicação representa o conhecimento especializado Jeffrey Thornton, da Southeastern Wisconsin Regional Planning coletivo de um grupo diverso de pessoas preocupadas com a Commission (USA), assim como o trabalho de Iwona Wagner proteção dos nossos limitados recursos de água doce e com do Projeto de Ecohidrologia (Polônia) da Organização para a a preservação do seu papel fundamental na manutenção da Educação, a Ciência e Cultura das Nações Unidas (UNESCO) saúde humana e do ecossistema. Estes especialistas aplicaram IHP-VI, que coordenou a revisão detalhada da publicação. sua sabedoria coletiva na produção de um relatório que oferece soluções práticas e eficazes para reverter a catastrófica Entre as pessoas que revisaram e fizeram contribuições degradação dos ecossistemas de água doce do planeta. valiosas a esta publicação estão Janos Bogardi, da United O documento insta a comunidade internacional, os governos, Nations University – Institute for Environment and Human as comunidades e os domicílios a agirem com responsabilidade Security (Alemanha); Ase Johannessen, International Water e em cooperação para construir um futuro melhor. Espera-se Association (Reino Unido); Sonja Koeppel, da Convenção que os conteúdos deste documento, preparados como aporte sobre a Proteção e Utilização de Recursos Hídricos para as celebrações do Dia Mundial da Água 2010 sobre o Transfronteiriços e Lagos Internacionais da Comissão tema – Qualidade da Água –, sirvam de inspiração a todos que Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) o leiam para que contribuam com esta causa tão importante. (Suíça); Peter Kristensen, da Agência Europeia de Meio Ambiente (Dinamarca); e Danny Walmsley, Walmsley O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Environmental Consultants (Canadá). São reconhecidos agradece a todos que contribuíram para este documento, cujo também os muitos comentários e valiosas sugestões feitas por trabalho árduo e percepções levaram à sua consecução. Em diversos revisores da família PNUMA, bem como o excelente especial, agradece as enormes contribuições de Peter H. Gleick, trabalho de edição e design gráfico de Nikki Meith. Meena Palaniappan, Lucy Allen, Juliet Christian-Smith, Michael J. Cohen, Courtney Smith e da editora Nancy Ross do Pacific O trabalho duro e a perseverança de todas essas pessoas Institute, Estados Unidos, que produziram esta publicação em foi o que possibilitou a preparação da presente publicação. um prazo muito curto. Reconhece também os conselhos de Registramos aqui nossos mais profundos agradecimentos a todos.
  • 8.
  • 9. SUMÁRIO Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Sumário executivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 I. Panorama dos atuais desafios à qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Contaminantes na água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Nutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Erosão e sedimentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Temperatura da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Acidificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Salinidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Organismos patogênicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 Metais traço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Contaminantes químicos e outras toxinas produzidas pelo homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Introdução de espécies e outros distúrbios biológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Contaminantes emergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Atividades humanas que afetam a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Agricultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Indústria e produção de energia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Infraestrutura hídrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Disposição inadequada de esgotos domésticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Crescimento demográfico, urbanização, desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Mudanças climáticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 II. Impactos da baixa qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Efeitos da baixa qualidade da água no meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Rios e córregos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Lagos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Zonas costeiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Vegetação de terras úmidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Biodiversidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Efeitos da baixa qualidade da água na saúde humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Doenças relacionadas à água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Altas concentrações de nutrientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Outros contaminantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
  • 10. Efeitos da baixa qualidade da água sobre as quantidades de água disponíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Efeitos da baixa qualidade da água sobre comunidades vulneráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Crianças. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Pessoas economicamente desprivilegiadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Efeitos da baixa qualidade da água sobre a subsistência humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Custo da baixa qualidade da água para a economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Serviços ecossistêmicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Custos associados à saúde humana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Produção industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Turismo e lazer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 III. Soluções para melhorar a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Prevenção da poluição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Introdução e panorama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Proteção de mananciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Poluição industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Poluição agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Assentamentos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Tratamento de água potável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Tratamento para outras finalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Tratamento de efluentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Tratamento de efluentes domésticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Tratamento de efluentes industriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Tratamento de efluentes agrícolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Restauração ecológica e eco-hidrológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Eco-hidrologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Águas subterrâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 IV. Mecanismos para alcançar a melhoria na qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Educação e conscientização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 Metas de ações de educação e conscientização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Conscientizando as pessoas sobre os impactos na qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Documentar o problema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Mobilização das comunidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Trabalhando com a mídia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Articulação com tomadores de decisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Monitoramento/coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Problemas com dados de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
  • 11. Governança e regulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Reformas da Água (casos) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Políticas, leis e regulamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 Estabelecimento de normas de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Diretrizes internacionais de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Governança e leis internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 Gestão de águas transfronteiriças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 Financiamento da melhoria qualidade da água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Fortalecimento de capacidades institucionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 Fortalecimento da fiscalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 V. Conclusões e recomendações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Ações educativas e de capacitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Marco Legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 Dados e Monitoramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Lista de Figuras Figura 1. Alterações nas concentrações de nitrogênio em grandes bacias do mundo por região nos períodos 1990-1999 e 2000-2007.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 Figura 2. Contribuição dos principais setores industriais à produção de poluentes hídricos orgânicos.. . . . . . . . . . . . 26 Figura 3. Descargas de poluição hídrica industrial (em toneladas por milhão de pessoas/dia)... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Figura 4. Concentrações de coliformes fecais (No./100ml MF) em estações fluviométricas/ próximas às grandes cidades.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Figura 5. Custo Anual Médio da degradação ambiental da água.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Figura 6. GEMS/Mapa de estações fluviométricas.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Figura 7. Ingressos mensais de água no sistema fluvial do Murray. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 Figura 8. Resumo da estrutura decisória utilizada para classificar o status de corpos de águas superficiais. . . . . . . . 79 Figura 9. Status de ratificação internacional da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (partes à Convenção mostradas em verde) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 Figura 10. Total anual de investimentos em abastecimento de água, comparado ao total de investimentos em saneamento, na África, Ásia, América Latina e Caribe, 1990–2000 . . . . . . . . . . . . . . . 84 Lista de Tabelas Tabela 1. Impactos das atividades agrícolas sobre a qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Tabela 2. Ligações entre o setor energético e a qualidade da água..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 Tabela 3. Eficácia de Intervenções da metodologia WASH na redução da morbidade por diarreia. . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Tabela 4. Países participantes das atividades globais de dados da GEMS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Tabela 5. GEMS parâmetros de qualidade da água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
  • 12. Tabela 6. GEMS: Tipos de dados, número de estações e escopo da coleta de dados sobre qualidade da água.... . . . 74 Tabela 7. Exemplos de diferentes programas de qualidade da água nos EUA... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75 Tabela 8. Matriz de soluções por escala......... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Ações e programas da Agência Nacional de Águas e de outras instituições com vistas à melhoria da qualidade da água no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Mensagem do patrocinador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 A experiência do Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas – PRODES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Projeto Revitalização da Bacia do Rio das Velhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 O PRODES na Bacia do Rio das Velhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 O PRODES nas Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 O Programa Produtor de Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 Diretrizes do programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 O problema ambiental da erosão hídrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Pagamento por serviços ambientais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Programa Produtor de Água – Projetos em andamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Programa Produtor de Água – Projeto conservador das águas em extrema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 Monitoramento da qualidade das águas no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 Rede integrada de monitoramento de qualidade da água na Bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul . . . . . . 145 Cultivando Água Boa: um Movimento pela Sustentabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 Programa de revitalização da Bacia hidrografica do rio São Francisco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
  • 13. APRESENTAÇÃO A presente publicação é produto de uma parceria da de Monitoramento de Qualidade da Água na Bacia Agência Nacional de Águas (ANA) com o Programa das Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento São também apresentados: o Projeto Cultivando Água Boa, Sustentável (CEBDS). Esta teve como base o relatório da empresa Itaipu Binacional; o Programa de Revitalização intitulado Clearing the Waters: a focus on water quality da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, do Ministério solutions, lançado pelo PNUMA em março de 2010. da Integração Nacional e do Ministério do Meio Ambiente; O texto do relatório foi traduzido para a língua portuguesa e o Projeto Revitalização da Bacia do Rio das Velhas, do com o título Cuidando das Águas – soluções para governo de Minas Gerais, pelo fato de a ANA os reconhecer melhorar a qualidade dos recursos hídricos e contou com como projetos exitosos. a inserção de boxes com exemplos bem-sucedidos das iniciativas e dos projetos desenvolvidos pela ANA para Esperamos que o leitor reflita sobre sua responsabilidade a melhoria das águas no Brasil, tais como: o Programa no uso sustentável da água e sobre as possibilidades Despoluição de Bacias Higrográficas (PRODES); o de melhoria da qualidade dos recursos hídricos, em Programa Produtor de Água; o Monitoramento da cooperação com os setores usuários de água, com as Qualidade das Águas no Brasil, a Rede de Monitoramento organizações não governamentais, com os governos, com da Qualidade das Águas no Brasil; e a Rede Integrada as entidades de meio ambiente. FOTO: BANCO DE IMAGENS ANA
  • 14. APRESENTAÇÃO Foi o poeta inglês W. H. Auden quem disse que muitas melhoria da gestão deste que é o pessoas viveram sem amor, mas nenhuma sem água: mais precioso recurso natural. uma percepção que reflete o ponto mediano da nova década de ação com o simples, mas significativo tema Uma resposta mais abrangente inclui água é vida. a educação e o engajamento da população e dos formuladores de O desafio da água no século XXI é tanto de quantidade políticas, assim como a participação quanto de qualidade. A presente publicação trata da da comunidade científica, visando dimensão qualitativa desta equação, salientando as relações ao estabelecimento de elos entre a entre água limpa e saúde pública e, de forma mais ampla, a economia como um todo, a atividade saúde do meio ambiente. humana e a qualidade da água. A verdade é que, muitas vezes, em consequência de má Este relatório foi elaborado para oferecer um mapa administração, grande parte da água disponível não só nas do caminho para o engajamento das comunidades economias em desenvolvimento, mas também nas economias internacional e nacional, a fim de catalisar mudanças. desenvolvidas, está poluída e contaminada em níveis variados. 2010 marca o quinto ano desde o lançamento da nova Em alguns lugares, a contaminação – seja por lançamentos de década de ação, restando ainda mais cinco anos até o efluentes industriais, seja por esgoto doméstico não tratado prazo estabelecido pela comunidade internacional para o – é tão aguda que pode ser mortal, desencadeando doenças cumprimento das Metas do Milênio. relacionadas à água, que ceifam milhões de vidas anualmente, especialmente entre os mais jovens e vulneráveis. Delinear uma resposta ao desafio da qualidade da água, nacional e internacionalmente, será crucial para que, em A contaminação de sistemas fluviais, águas costeiras e outros 2015, possamos declarar vitória em relação a muitas – ecossistemas não representa riscos apenas à saúde, mas senão todas – metas relacionadas à redução da pobreza. também à atividade econômica, se esses sistemas deixarem de ser capazes de sustentar, por exemplo, a atividade Este relatório oferece uma contribuição para o alcance pesqueira saudável. A finalidade do presente relatório – dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e uma Cuidando das águas – é redirecionar a atenção da comunidade resposta aos desafios mais amplos de sustentabilidade internacional para o papel crítico que a qualidade da água enfrentados por 6 bilhões de pessoas, podendo chegar a desempenha no atendimento a compromissos humanos, de 9 bilhões até 2050, cujo futuro será definido, em grande meio ambiente e de desenvolvimento, incluindo os Objetivos de parte, pela forma como administramos os recursos Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas (ODMs). naturais do planeta. O relatório procura destacar também as muitas oportunidades Achim Steiner para abordar a questão da qualidade da água por meio da Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA 12 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 15. APRESENTAÇÃO CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável Muito além das valiosas informações a tomadores Algumas empresas líderes de mercado já incorporaram de decisão das empresas, formuladores de políticas a água como fator estratégico para sua sobrevivência públicas, profissionais do setor acadêmico e de no longo prazo. São exemplos promissores e viáveis instituições sociais, o estudo “Cuidando das águas: sobre o uso racional da água em suas atividades soluções para melhorar a qualidade dos recursos produtivas, com investimentos em projetos de reúso, hídricos” revela uma mudança de paradigma ao tratamento de efluentes líquidos, reflorestamento e de estabelecer valor da água como ativo ambiental. educação ambiental junto a seus clientes, empregados e fornecedores. Os investimentos são compensados À primeira vista parece desnecessário reforçar a com redução de custos, aumento de competitividade e importância da água como elemento fundamental à valorização dos ativos intangíveis. sobrevivência de todos os organismos vivos do planeta. Contudo, milhares de anos após o surgimento das As boas práticas das empresas ainda estão distantes de primeiras civilizações, ainda não fomos capazes de adotar ganhar escala, mas demonstram a viabilidade de reverter o um modelo de desenvolvimento que utilize a água com o quadro de degradação. Para tanto, precisamos aprofundar mínimo de sabedoria. as discussões em torno do tema, criar uma regulação que induza a sociedade a lidar com a água como valor Os números comprovam. Quase um bilhão de pessoas em estratégico, estimulando ao mesmo tempo o entendimento todo o mundo não tem acesso à água potável. Segundo a entre os setores-chave para vencer esse desafio. Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de quatro mil crianças menores de 5 anos morrem todos os dias As análises e recomendações contidas neste documento de doenças passíveis de prevenção relacionadas à água, apontam para o caminho do uso sustentável da água. como diarreia, febre tifoide, cólera e disenteria. A estatística Ainda há tempo de preservar os mananciais não é resultado da contaminação de rios, lagos e lençóis contaminados e recuperar o que foi degradado. A água freáticos, com o despejo de esgoto sem tratamento. deve ser fonte de vida e de progresso econômico e social – e não condutora de doenças. No Brasil, o cenário é semelhante. Apesar dos avanços sociais alcançados nos últimos anos, 80% do esgoto não Instituição pioneira no país em tratar de forma integrada têm tratamento adequado, de acordo com o levantamento com as três dimensões da sustentabilidade, o Conselho de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (IBGE). Dispomos de 12% das reservas de água doce do (CEBDS) sente-se honrado em fazer parte mais uma vez da planeta, mas ainda enfrentamos problemas crônicos na parceria com a Agência Nacional de Águas e com o PNUMA área de saúde pública e de desenvolvimento econômico. para lançar um novo estudo sobre o tema. SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 13
  • 16. Foto: Banco de Imagens ANA
  • 17. SUMÁRIO EXECUTIVO Todos os dias, milhões de toneladas de esgoto impactando assim sua qualidade. A contaminação por inadequadamente tratado e efluentes industriais e agrícolas organismos patogênicos, metais traço e produtos químicos são despejados nas águas do mundo. Todos os anos, lagos, tóxicos de produção humana; a introdução de espécies rios e deltas absorvem o equivalente ao peso de toda a invasoras; e as alterações de acidez, temperatura e salinidade população humana – cerca de sete bilhões de pessoas – na da água podem prejudicar os ecossistemas aquáticos, forma de poluição. Anualmente, morrem mais pessoas pelas tornando sua utilização inapropriada para uso humano. consequências de água imprópria que por todas as formas de violência, incluindo as guerras. Além disto, a cada ano, Diversas atividades humanas – entre elas, a agricultura, a a contaminação das águas dos ecossistemas naturais afeta indústria, a mineração, o descarte de resíduos humanos, o diretamente os seres humanos pela destruição de recursos crescimento demográfico, a urbanização e as mudanças pesqueiros ou outros impactos sobre a biodiversidade que climáticas – têm impacto sobre a qualidade da água. A afetam a produção de alimentos. Ao final, a maior parte da agricultura pode provocar contaminação por nutrientes e água doce poluída acaba nos oceanos, onde provoca graves agrotóxicos e aumento da salinidade. A contaminação por prejuízos a muitas áreas costeiras e recursos pesqueiros, excesso de nutrientes tornou-se um dos problemas mais agravando a situação de nossos recursos oceânicos e difundidos no planeta em termos de qualidade da água (UN costeiros e dificultando sua gestão. WWAP, 2009) e, mundialmente, estima-se que a aplicação de agrotóxicos já tenha ultrapassado 2 milhões de toneladas por Água doce limpa, apropriada e em quantidade adequada ano (PAN, 2009). As atividades industriais lançam, a cada ano, é de vital importância para a sobrevivência de todos os entre 300 e 400 milhões de toneladas de metais pesados, organismos vivos, bem como para o funcionamento solventes, lodo tóxico e outros efluentes e resíduos sólidos nas adequado de ecossistemas, comunidades e economias. águas do mundo (UN WWAP Água e Indústria). Anualmente, Contudo, a qualidade dos recursos hídricos mundiais apenas nos Estados Unidos, cerca de 700 novos produtos está sob ameaça crescente à medida que aumentam as químicos são introduzidos no comércio (Stephenson, 2009). populações humanas e se expandem as atividades industriais A mineração e a perfuração geram grandes quantidades de e agrícolas, em um cenário em que as mudanças climáticas resíduos e subprodutos, resultando em grandes desafios poderão provocar grandes alterações no ciclo hidrológico. de descarte final desses materiais. A falta generalizada de Água de baixa qualidade põe em risco a saúde humana e mecanismos adequados para o descarte final de resíduos dos ecossistemas, reduz a disponibilidade de água potável humanos resulta na contaminação da água. Em todo o e de recursos hídricos próprios para outras finalidades, mundo, 2,5 bilhões de pessoas carecem de saneamento limita a produtividade econômica e diminui as oportunidades básico (UNICEF e OMS 2008) e mais de 80 por cento de todo de desenvolvimento. Há uma necessidade premente de a o esgoto sanitário gerado nos países em desenvolvimento é comunidade global – dos setores público e privado – se unir despejado, sem tratamento, em corpos hídricos (UN WWAP, e assumir o desafio de proteger e aprimorar a qualidade 2009). O crescimento demográfico poderá ampliar esses da água de nossos rios, lagos, aquíferos e torneiras. Para impactos, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas tanto, é preciso maior comprometimento com a prevenção apresentarão novos desafios para a qualidade da água. da poluição hídrica futura, com o tratamento das águas já contaminadas e com a restauração da qualidade e saúde de Impactos causados pela água imprópria rios, lagos, aquíferos, terras úmidas e estuários, permitindo assim que essas águas atendam a um espectro mais A contaminação hídrica enfraquece ou destrói os ecossistemas amplo possível de necessidades dos seres humanos e dos naturais, dos quais dependem a saúde humana, a produção ecossistemas. As repercussões dessas ações serão sentidas de alimentos e a biodiversidade. Estudos demonstram que desde as cabeceiras das nossas bacias hidrográficas até os o valor dos serviços ecossistêmicos chega a ser o dobro do oceanos, os recursos pesqueiros e os ambientes marinhos produto nacional bruto da economia global e que o papel que auxiliam no sustento da humanidade. dos ecossistemas de água doce na purificação da água e na assimilação de efluentes é estimado em US$ 400 bilhões (em Desafios da qualidade da água dólares de 2008) (Costanza et al., 1997). Os ecossistemas de água doce estão entre os mais degradados do planeta, Um amplo espectro de processos humanos e naturais afeta tendo sofrido perdas proporcionalmente maiores de espécies as características biológicas, químicas e físicas da água, e de habitat que quaisquer outros ecossistemas terrestres ou SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 15
  • 18. SHUTTER STOCK marinhos (Revenga et al., 2000). A maior parte da água doce qualidade, mas também da quantidade de água disponível. poluída acaba nos oceanos, danificando áreas costeiras e A cada ano, no Oriente Médio e no Norte da África, a baixa reduzindo recursos pesqueiros. qualidade da água acarreta custos da ordem de 0,5 a 2,5 por cento do produto interno bruto (PIB) (BIRD, 2007). Somente Todos os anos, morrem mais pessoas pelas consequências na África, as perdas econômicas provocadas pela falta de de água imprópria que por todas as formas de violência, água e de tratamento e de disposição adequada de esgotos incluindo as guerras, sendo as crianças menores de 5 anos domésticos são estimadas em US$ 28,4 bilhões, ou cerca de as mais impactadas. A água imprópria ou inadequada e a 5 por cento do PIB (UN WWAP, 2009). Mulheres, crianças e falta de tratamento e de disposição adequada de esgotos aqueles mais desfavorecidos economicamente são os mais domésticos e de higiene são as causas de aproximadamente afetados pelos impactos da baixa qualidade da água. Mais de 3,1 por cento de todos os óbitos – mais de 1,7 milhão por 90 por cento dos que morrem em consequência de doenças ano – e de 3,7 por cento dos anos de vida perdidos devido relacionadas à água são crianças com idade inferior a 5 anos. aos problemas de saúde considerados mais impactantes As mulheres são obrigadas a percorrer longas distâncias em todo o mundo (OMS, 2002). Os meios de vida e de em busca de água potável e os pobres são, muitas vezes, sustentação econômica como a agricultura, a pesca e obrigados a conviver com canais d’água poluídos e não têm a pecuária são altamente dependentes não apenas da condições de acesso à água limpa. 16 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 19. Rumo a soluções e ações Mecanismos para alcançar soluções Soluções efetivas para os desafios da qualidade da água Os mecanismos para organizar e implementar soluções existem e já foram implementadas em diversos lugares. para assegurar a qualidade da água incluem: (1) É hora de assumir uma postura global frente ao desafio melhorar o entendimento acerca da qualidade da de proteger e melhorar a qualidade das reservas de água água, por meio de monitoramento aprimorado; (2) doce do planeta. Há três soluções fundamentais para os esforços mais efetivos de comunicação e educação; problemas de qualidade da água: (1) prevenir a poluição; (2) (3) melhores ferramentas financeiras e econômicas; (4) tratar a água poluída; e (3) restaurar ecossistemas. implementação de métodos mais efetivos de tratamento de água e restauração de ecossistemas; (5) fiscalização Enfoque sobre prevenção da poluição e aplicação da lei e arranjos institucionais; e (6) liderança política e comprometimento de todos os níveis Prevenir contra a poluição significa reduzir ou eliminar da sociedade. os contaminantes na fonte, antes que possam poluir os recursos hídricos – sendo esta, quase sempre, a forma Melhorar o entendimento da qualidade da água mais barata, fácil e efetiva de proteger a qualidade da água. As estratégias de prevenção contra a poluição reduzem Monitoramento sistemático e dados de qualidade ou eliminam o uso de substâncias perigosas, poluentes e são peças fundamentais dos esforços efetivos para contaminantes; modificam equipamentos e tecnologias para melhorar a qualidade da água. Enfrentar o desafio da que gerem menos resíduos; e reduzem as emissões fugitivas qualidade da água implica desenvolver capacidades e e o consumo de água. Prevenir contra a poluição exige formar especialistas nos países em desenvolvimento; também que os assentamentos humanos sejam melhor implementar ferramentas de amostragem de campo, planejados, com vista a melhorar a infiltração da água e a tecnologias e compartilhamento de dados, em tempo real, reduzir as fontes disseminadas de poluição. Na medida em com baixo custo, rapidez e confiabilidade; e estabelecer que o mundo assume o desafio de melhorar a qualidade da instituições de gestão. São necessários ainda recursos água, a prevenção contra a poluição deve se tornar prioritária para desenvolver capacidades nacionais e regionais e para nos esforços internacionais e locais. coletar, gerir e analisar dados de qualidade da água. Expandir e melhorar o tratamento de água e de Aprimorar a comunicação e a educação efluentes domésticos A educação e a comunicação estão entre as ferramentas Muitas fontes de água e bacias hidrográficas já são de mais importantes para a solução de problemas relacionados à baixa qualidade e necessitam de remediação e tratamento. qualidade da água. A água desempenha importantes papéis Para o tratamento de água contaminada, as abordagens de cunho cultural, social, econômico e ecológico. Demonstrar podem ser de alta tecnologia e alto consumo de energia; a importância da qualidade da água para os domicílios, ou baixa tecnologia e baixo consumo energético, com foco a mídia, os formuladores de políticas, os empresários e ecológico. Estas abordagens requerem maiores esforços os produtores rurais pode exercer grande impacto para a de implementação, difusão e ampliação para poder lidar conquista de melhorias essenciais. É preciso uma campanha com os enormes volumes de resíduos sem tratamento de educação e conscientização global sobre a qualidade da diariamente despejados nas águas. Ademais, para que água, com campanhas regionais e nacionais direcionadas, possam implementar estas abordagens, as empresas que estabeleçam ligação entre o tema da qualidade da água de água e esgoto precisam receber maior assistência e outros de importância cultural e histórica. financeira, administrativa e técnica. Utilizar ferramentas jurídicas, institucionais e Restaurar, manejar e proteger ecossistemas regulatórias efetivas Ecossistemas saudáveis desempenham funções importantes Para proteger a qualidade da água, são necessários novos para a qualidade da água, por filtrar e limpar a água e aprimorados marcos legais e institucionais, partindo do contaminada. Ao proteger e restaurar os ecossistemas nível internacional até os de bacia hidrográfica e comunitário. naturais, amplas melhorias podem ser conseguidas na Como primeiro passo, é preciso adotar e aplicar leis sobre qualidade da água e bem-estar econômico. Por sua vez, proteção e melhoria da qualidade da água. Políticas modelo a proteção e a restauração de ecossistemas devem ser de prevenção da poluição devem ser difundidas de forma consideradas elementos básicos dos esforços sustentáveis ampla, e diretrizes devem ser elaboradas para promover a para garantir a qualidade da água. qualidade da água dos ecossistemas, da mesma forma como SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 17
  • 20. é feito para o abastecimento de água potável. O planejamento tornando cada vez mais poluídas. Como comunidade em nível de bacia hidrográfica é necessário para identificar global, devemos voltar as atenções para melhoria e as principais fontes de poluição e a tomada de intervenções preservação da qualidade da nossa água. As decisões mais adequadas, especialmente em se tratando de bacias tomadas na próxima década determinarão o caminho que hidrográficas compartilhadas por dois ou mais entes políticos. iremos traçar ao abordar o desafio global da qualidade Será preciso desenvolver e disseminar em todo o mundo da água. Este desafio exige medidas ousadas em níveis métodos padronizados para a caracterização da qualidade internacional, nacional e local para proteger a qualidade da água em rios, bem como diretrizes internacionais para da água. Direcionar prioridades, financiamento e políticas a caracterização da qualidade da água em ecossistemas e para os níveis local, nacional e internacional para a áreas prioritárias para ações de remediação. melhoria da qualidade da água tornará possível que nossos recursos hídricos globais voltem a ser fonte de vida. Água Empregar tecnologias efetivas limpa é vida. Já dispomos de conhecimento, técnicas e capacidades para proteger a qualidade das nossas águas. Diversas tecnologias e abordagens efetivas estão Precisamos agora demonstrar que temos vontade. A vida disponíveis para melhorar a qualidade da água por e a prosperidade humana dependerão das nossas ações meio da prevenção da poluição, do tratamento e de hoje para que possamos ser os gestores – e não os da restauração de ecossistemas, variando desde poluidores – deste recurso tão precioso. as abordagens eco-hidrológicas até o tratamento convencional. Um enfoque que aborda coleta, transporte e tratamento de esgotos domésticos, bem como efluentes industriais e agrícolas é de suma importância. Para que isso se concretize, será necessário que comunidades, governos e empresas adotem tecnologias e abordagens eficazes para a qualidade da água, por meio do desenvolvimento de novas tecnologias para atender às necessidades especificas de recursos ou do meio ambiente e para prover apoio técnico, logístico e financeiro para auxiliar comunidades e governos na implementação de projetos, com vista a melhorar a qualidade da água. Aprimorar abordagens financeiras e econômicas Muitos dos problemas relacionados à qualidade da água resultam do acesso inadequado a financiamentos de programas para o tratamento da água ou para a sua recuperação, programas de subsídio ou de precificação. É necessário um melhor entendimento do valor econômico da manutenção de serviços ecossistêmicos e da infraestrutura hídrica, como também de sistemas de precificação efetivos que permitam uma recuperação suficiente dos custos, assegurem níveis adequados de investimento e proporcionem apoio à operação e à manutenção de longo prazo. Abordagens e normas regulatórias inovadoras são necessárias, por exemplo, para instituir pagamento por serviços ecossistêmicos ou para exigir que os poluidores arquem com os custos da poluição. Olhando para o futuro: água limpa para hoje e amanhã A água sempre ocupou posição central nos ecossistemas e nas sociedades humanas saudáveis; contudo as fontes de água doce das quais todos dependemos estão se 18 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 21. INTRODUÇÃO A qualidade da água é elemento central de todos os papéis nas décadas recentes este aspecto recebeu bem menos que este recurso desempenha em nossas vidas. Da beleza de investimento, apoio científico e atenção do público que a um curso de água natural repleto de vida animal e vegetal, às quantidade volumétrica. Como parte dos esforços para atividades econômicas vitais que a água limpa dos rios e dos melhorar a qualidade da água, o Programa das Nações córregos proporcionam até o papel fundamental para a saúde Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) está apoiando que a água potável segura desempenha – a água de boa iniciativas educativas em todo o mundo para chamar atenção qualidade é de importância fundamental para toda a cadeia aos desafios e soluções relacionadas à qualidade da água. vital e para a subsistência humana. A presente avaliação resumida faz parte desses esforços e sintetiza informações de vários bancos de dados públicos e A água é fonte de vida na terra, e a civilização humana relatórios publicados. desabrochou onde havia fontes confiáveis e limpas de água doce. Para o aproveitamento humano – seja para beber, A Parte 1 do presente relatório oferece um panorama dos lavar ou para recreação –, é preciso que a água esteja principais contaminantes atuais e das atividades humanas livre de fontes de contaminação biológica, química e física. que afetam a qualidade da água. A Parte 2 relaciona os Plantas, animais e habitats que sustentam a biodiversidade impactos que a baixa qualidade da água exerce sobre o meio também dependem de água limpa. Para a produção de ambiente, a saúde humana e as comunidades vulneráveis alimentos, o fornecimento de energia para as cidades e e quantifica os custos econômicos da baixa qualidade da para movimentar as indústrias é preciso haver água com água. A Parte 3 oferece análises sobre soluções específicas determinado grau de qualidade. disponíveis para equacionar problemas da qualidade da água. A Parte 4 explora ampla gama de mecanismos por A qualidade da água é tão importante quanto a quantidade, meio dos quais as soluções poderão ser alcançadas. A Parte quando se trata de atender às necessidades básicas dos 5 detalha as principais recomendações para a comunidade seres humanos e do meio ambiente; entretanto, apesar internacional, governos nacionais, comunidades e domicílios de as duas questões estarem intimamente interligadas, para promover a melhoria e a proteção da qualidade da água. © KWANDEE/UNEP SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 19
  • 22. © CHANTAA PRAMKAEW/UNEP I. Panorama dos atuais desafios à qualidade da água Contaminantes na água As atividades humanas, assim como os processos planeta (UN WWAP, 2009). Essa contaminação, geralmente naturais, podem alterar as características físicas, químicas associada a excessos de nitrogênio e fósforo – provenientes e biológicas da água, com ramificações específicas para a do escoamento da agricultura, mas também provocada por saúde humana e do ecossistema. A qualidade da água é lançamento de esgoto e de resíduos industriais –, tende a afetada por mudanças em teores de nutrientes, sedimentos, aumentar taxas de produtividade primária (produção de matéria temperatura, pH, metais pesados, toxinas não metálicas, vegetal por meio da fotossíntese) em níveis excessivos, levando componentes orgânicos persistentes e agrotóxicos, fatores a um supercrescimento de plantas vasculares (ex.: aguapé), a biológicos, entre muitos outros (Carr e Neary, 2008). Segue aflorações de algas e ao esgotamento do oxigênio dissolvido uma apresentação resumida dos principais contaminantes. na coluna de água, o que pode provocar estresse ou mesmo matar organismos aquáticos. Algumas algas (cianobactérias) Muitos contaminantes se combinam sinergicamente para podem produzir toxinas prejudiciais à saúde de seres humanos causar impactos piores ou distintos daqueles provocados e animais domésticos e selvagens que as ingerirem ou de forma cumulativa por um poluente agindo isoladamente. que se exponham a águas com elevados níveis de algas. Em último caso, o acréscimo contínuo de contaminantes A contaminação por excesso de nutrientes pode também levará a concentrações que excedem a capacidade do provocar acidificação nos ecossistemas de água doce, com ecossistema de suportá-los, gerando alterações dramáticas graves impactos para a biodiversidade (MA, 2005b). No e não lineares que podem ser impossíveis de reverter (MA, longo prazo, o enriquecimento com nutrientes pode esgotar o 2005a). A extinção de todas as 24 espécies de peixes oxigênio e eliminar espécies com exigências mais elevadas em endêmicos do Mar Aral, por exemplo, foi consequência termos de consumo de oxigênio, inclusive diversas espécies de do aumento acentuado de salinidade, provocado pela peixes, afetando a estrutura e a diversidade dos ecossistemas diminuição das entradas de água doce. Mesmo que alguns (Carpenter et al., 1998). Por causa de entradas excessivas de especialistas ainda acreditem haver possibilidade de baixar nutrientes, alguns lagos e lagoas tornam-se hipereutróficos os níveis de salinidade do Mar Aral aos níveis anteriores, não (ricos em nutrientes e pobres em oxigênio) com a consequente há como reverter as extinções ocorridas. Outro exemplo eliminação de todos os macro-organismos. dessas mudanças abruptas é a proliferação de afloramentos de algas tóxicas (ver estudo de caso do Lago Atitlán, a Erosão e sedimentação seguir), com consequências econômicas diretas e indiretas sobre as populações locais. A erosão é um processo natural que fornece sedimentos e matéria orgânica aos sistemas aquáticos. Em muitas regiões, Nutrientes as atividades humanas alteraram as taxas de erosão natural, mudando significativamente o volume, a taxa e o momento de A contaminação por excesso de nutrientes tornou-se o entrada de sedimentos em córregos e lagos, assim afetando problema de qualidade da água mais comum em todo o processos físicos e químicos e as adaptações das espécies 20 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 23. aos regimes de sedimentação preexistentes. Aumentos de entre algumas espécies aquáticas. A acidificação é um sedimentação podem diminuir a produtividade primária, reduzir fenômeno difuso, encontrado especialmente a sota-vento ou danificar habitats de desova e prejudicar peixes, plantas e de usinas que emitem grandes quantidades de nitrogênio organismos invertebrados bentônicos (que vivem no substrato e dióxido de enxofre ou a jusante de minas que liberam dos habitats aquáticos). Os sedimentos finos tendem a águas subterrâneas contaminadas. Segundo a Agência atrair nutrientes como fósforo e contaminantes tóxicos de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, por exemplo, como agrotóxicos, dessa forma alterando as propriedades mais de 90 por cento dos ribeirões de Pine Barrens, uma químicas da água (Carr e Neary, 2008). Barragens e outras região de terras úmidas no leste dos Estados Unidos, são infraestruturas podem provocar degradação nas funções ácidos por causa dos sistemas de produção de energia a naturais de transporte de sedimento, privando trechos a barlavento e especialmente, às usinas movidas a carvão jusante de nutrientes e insumos químicos essenciais. Por mineral (US EPA, 2009a). exemplo, de acordo com cientistas chineses, a construção de grandes barragens no Rio Yangtze teve um impacto visível Salinidade na carga de sedimentos transportados até o Mar da China Oriental. Nos anos mais recentes, o volume de sedimentos Tipicamente, espécies vegetais e animais de água doce não que chega até Datong, próximo ao delta do Rio Yangtze, toleram altos níveis de salinidade. O acúmulo de sais na água baixou para apenas 33 por cento dos níveis registrados entre pode ter uma série de causas – muitas vezes, mas nem 1950-1986 (Xu et al., 2006). A crescente erosão na zona sempre – provocadas pela ação do homem. Entre elas estão costeira e as mudanças nas características ecológicas e de o escoamento agrícola, de terras com alto teor de sais, as produtividade do Mar da China Oriental são algumas das descargas de águas subterrâneas de perfurações de petróleo e consequências desta diminuição no volume dos sedimentos gás ou outras operações envolvendo bombeamento; atividades transportados (Xu et al., 2006). industriais diversas; e certos tipos de tratamento municipal de água. Ademais, a natureza química dos sais introduzidos pelas Temperatura da água atividades humanas pode ser diferente daquela que ocorre naturalmente; por exemplo, teores mais elevados de potássio em A temperatura da água desempenha papel importante na relação a sais de sódio. A salinidade crescente pode provocar sinalização de funções biológicas como desova e migração estresse em alguns organismos de água doce, afetando a e afeta taxas metabólicas de organismos aquáticos. função metabólica e os níveis de saturação de oxigênio. Pode Alterações na temperatura natural dos ciclos da água também alterar a vegetação ribeirinha e emergente, afetar as podem impedir o sucesso reprodutivo e de crescimento, características das terras úmidas e pântanos naturais, diminuir o ocasionando diminuições de populações pesqueiras e de habitat de algumas espécies aquáticas e reduzir a produtividade outras classes de organismos. Quanto mais quente a água, agrícola e de certos cultivos (Carr e Neary, 2008). menor seu conteúdo de oxigênio, o que prejudica funções metabólicas e condições de saúde. Esses impactos podem Organismos patogênicos ser especialmente graves a jusante de usinas de geração de energias térmicas ou nucleares, fábricas ou unidades Entre os contaminantes da qualidade da água mais difundidos industriais, nas quais as águas retornadas aos fluxos – especialmente em áreas onde o acesso à água limpa podem estar numa temperatura substancialmente mais e segura é limitado – estão os organismos patogênicos: elevada do que os ecossistemas são capazes de absorver bactérias, protozoários e vírus. Estes organismos representam (Carr e Neary, 2008). uma das principais ameaças à saúde humana no planeta. Os maiores riscos de contaminação microbiana vêm do consumo Acidificação de água contaminada com agentes patogênicos provenientes de fezes humanas ou animais (Carr e Neary, 2008). Além dos O pH de diferentes ecossistemas aquáticos determina a micro-organismos introduzidos nas águas pela contaminação saúde e as características biológicas deles. Uma gama de fecal humana ou animal, existem diversos micro-organismos atividades industriais, com destaque para a mineração e a patogênicos, endêmicos em certas áreas que, uma vez produção de energia a partir de combustíveis fósseis, pode introduzidos, são capazes de colonizar novos ambientes. Estes provocar acidificação localizada em sistemas de água doce. micro-organismos patogênicos endêmicos, como algumas Chuva ácida, causada predominantemente pela interação espécies bacterianas do tipo vibrião e alguns tipos de ameba, de emissões da combustão de combustíveis fósseis e podem provocar gravíssimos problemas de saúde nas pessoas processos atmosféricos, pode afetar grandes regiões. expostas, causando, inclusive, infecções intestinais, encefalite A acidificação afeta desproporcionalmente organismos mais amebiana, meningite amebiana, podendo levar a óbito (OMS, jovens que tendem a ser menos tolerantes ao baixo pH. 2008). Vírus e protozoários também representam riscos à O pH mais baixo pode também mobilizar metais de solos saúde humana, como é o caso do Cryptosporidium, Giardia, naturais, como alumínio, provocando estresse e mortalidade verme de Guiné e outros. SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 21
  • 24. Metais traço serem liberados em grandes volumes durante raspagem, dragagem ou outros distúrbios. Metais traço, como arsênio, zinco, cobre e selênio, estão naturalmente presentes em águas de diferentes Outros poluentes orgânicos, como dioxinas, furanos localidades. Algumas atividades humanas, como e bifenilos policlorados (PCBs) são subprodutos de mineração, indústria e agricultura, podem provocar processos industriais que entram no meio ambiente aumento na mobilização de metais traço, a partir de solos durante seu uso e disposição final (PNUMA, 1998). Esses ou resíduos, para a água doce. Mesmo em baixíssimas materiais constituem ameaças emergentes, devido a concentrações, essas matérias adicionais podem ser possível degradação de longo prazo dos ecossistemas de tóxicas para organismos aquáticos, prejudicando funções água doce e outros. reprodutivas e outras. No início da década de 1980, A contaminação por PCBs é bastante comum em todo altas concentrações de selênio em água de escoamento o mundo. Em Nova York, por exemplo, mais de 550 agrícola lançada no Kesterson National Wildlife Refuge na toneladas de PCBs foram despejadas no Rio Hudson Califórnia extirparam todas as espécies de peixes (com durante o século XX. Os altos níveis de contaminação uma única exceção) e provocaram grande mortalidade de por PCBs em peixes levaram à proibição da pesca no pássaros, assim como graves deformidades em diversas Rio Hudson, e os esforços de remediação, iniciados há espécies de aves (Ohlendorf, 1989). décadas, continuam até o presente (US EPA, 2009b). Contaminantes químicos e outras toxinas Existem ainda outros contaminantes emergentes (discutidos produzidas pelo homem mais detalhadamente a seguir) entre eles disruptores Há uma diversidade de contaminantes orgânicos produzidos endócrinos e produtos farmacêuticos e de cuidados pelo homem que podem ser carreados para as águas superfi- pessoais, que podem não ser removidos durante os ciais e subterrâneas, provocando contaminação desses recur- processos mais comuns de tratamento de efluentes e sos hídricos, em consequência de atividades humanas, entre que acabam entrando nos sistemas de água doce. Esses elas o uso de agrotóxicos e processos industriais, bem como contaminantes podem prejudicar o sucesso reprodutivo de resultantes da decomposição de produtos químicos (Carr e aves e peixes, feminizar alevinos machos e causar outros Neary, 2008). Muitos desses poluentes, incluindo agrotóxicos impactos ainda não detectados. e outras toxinas não metálicas, são largamente utilizados em todo o mundo, persistem no meio ambiente e podem ser Introdução de espécies e outros transportados por longas distâncias até regiões nas quais distúrbios biológicos nunca foram produzidos (PNUMA, 2009). A incidência crescente de espécies invasoras Os contaminantes orgânicos (também conhecidos como que substituem espécies endêmicas e alteram as “poluentes orgânicos persistentes” ou POPS) são, a exemplo propriedades químicas da água e as cadeias alimentares de certos agrotóxicos, encontrados com frequência na locais vem afetando cada vez mais os sistemas de forma de contaminantes de águas subterrâneas, onde água doce, problema que deve ser enfrentado como chegam após lixiviação por solo e águas superficiais, por sendo de qualidade da água (Carr e Neary, 2008). Em meio do escoamento de áreas agrícolas e urbanas. O DDT, muitos casos, espécies aquáticas foram introduzidas pesticida cujo uso é proibido em muitos países, mas ainda propositalmente em ecossistemas distantes, para fins utilizado no controle da malária em países da África, da Ásia recreativos, econômicos ou outros. Em várias instâncias, e da América Latina (Jaga e Dharmani, 2003) persiste no tais introduções disseminaram espécies endêmicas de meio ambiente, por ser resistente à total degradação por peixes e de outros organismos aquáticos, causando micro-organismos (OMS, 2004a). Mesmo nos países em degradação em bacias hidrográficas locais. Outras que está proibido há décadas, o DDT ainda é encontrado espécies invasoras chegaram por acaso, transportadas em sedimentos, cursos de água e águas subterrâneas. em cascos de embarcações recreativas ou pela água de No caso de alguns desses materiais, doses não letais lastro de embarcações comerciais. Por exemplo, espécies podem ser ingeridas por organismos invertebrados, ficando invasoras como o mexilhão zebra (Dreissena polymorpha) armazenadas em seus tecidos; contudo, à medida que e o mexilhão quagga (D. bugensis) devastaram organismos maiores consomem essas espécies de presa, as ecossistemas locais, alterando os ciclos de nutrientes quantidades de agrotóxicos e outros materiais bioacumulam, e levando espécies endêmicas quase à extinção. Os podendo alcançar níveis tóxicos. Alguns agrotóxicos se mexilhões também representam ameaça à infraestrutura decompõem com o tempo no meio ambiente, mas os humana, pois obstruem tubulações e adutoras e subprodutos dessa decomposição podem também ser bloqueiam canais, provocando dificuldades de operação e tóxicos e se concentrar em sedimentos para, posteriormente, aumentando os custos de manutenção. 22 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 25. Na África do Sul, espécies vegetais invasoras alteraram ainda são pouco conhecidos. Os disruptores endócrinos a qualidade da água local e reduziram a quantidade – produtos químicos capazes de interferir com a ação de água disponível, por aumentar as taxas de hormonal – foram identificados entre aqueles utilizados evapotranspiração nas bacias hidrográficas. Segundo o na agricultura, na indústria, nos domicílios e nos cuidados Departamento de Assuntos de Água e Florestas da África pessoais e incluem agrotóxicos, desinfetantes, aditivos do Sul, a cada ano, espécies exóticas invasoras causam plásticos e produtos farmacêuticos, como pílulas grandes prejuízos financeiros à economia, constituindo anticoncepcionais. Muitos desses disruptores endócrinos a maior ameaça à biodiversidade do país. Desde sua imitam ou bloqueiam a ação de outros hormônios no criação, em 1995, o programa Working for Water organismo, deturpando o desenvolvimento do sistema promove, a cada ano, a remoção de espécies vegetais endócrino e dos órgãos que respondem a sinais endócrinos invasoras de um milhão de hectares, ao mesmo tempo em organismos indiretamente expostos durante as provendo capacitação e emprego para aproximadamente primeiras fases do seu desenvolvimento; esses efeitos 20.000 pessoas dos setores mais marginalizados da são permanentes e irreversíveis (Colborn, 1993). Os sociedade (SA DWAF, 2009). Nos Estados Unidos, as efeitos de disruptores endócrinos sobre a fauna e a flora invasões de certas espécies de mexilhões acarretam selvagem incluem afinamento das cascas de ovos de custos adicionais de mais de 1 bilhão de dólares por ano pássaros, comportamentos parentais inadequados, tumores às empresas de abastecimento de água e de geração de cancerígenos e outros efeitos (Carr e Neary, 2008). Por energia elétrica e geram impactos sobre os ecossistemas exemplo, há muito tempo, a feminização de peixes a jusante locais (De Leon, 2008). de lançamentos de estações de tratamento de águas servidas está associada a composições farmacêuticas de Contaminantes emergentes agentes estrogênicos (Sumpter, 1995) e novos estudos também associam a feminização de anfíbios a agrotóxicos Um número cada vez maior de contaminantes está sendo disruptores endócrinos, como a atrazina (Hayes et al., 2006). detectado nas águas, por dois motivos: novos componentes químicos estão sendo lançados para uso na agricultura, nas Os efeitos desses compostos químicos sobre os humanos indústrias e nos domicílios, que podem entrar e persistir no e sobre o desenvolvimento humano são menos conhecidos; meio ambiente; e novas técnicas de ensaio que fazem que contudo, ensaios em animais indicam que há motivo os contaminantes sejam detectados em teores cada vez para preocupação, mesmo em se tratando de dosagens menores. Essas substâncias podem ser lançadas no meio mínimas. Ademais, pesquisas mostram que os efeitos ambiente por meio de liberações em medidas intencionais podem se estender muito além do indivíduo exposto e (aplicações de pesticida); na forma de subprodutos que podem acometer especialmente fetos, gestantes industriais e agrícolas (regulados ou não); por meio de e crianças lactentes. Informes mais recentes apontam despejos acidentais, vasamentos durante a fabricação ou efeitos multigeracionais de alguns disruptores endócrinos, o armazenamento inadequado; ou na forma de resíduos provocados por modificação de materiais genéticos e outros domiciliares (Carr e Neary, 2008). Em contextos agrícolas, mecanismos hereditários (ES, 2009). a pulverização excessiva e o transporte de longa distância fazem com que essas substâncias sejam encontradas muito Produtos farmacêuticos e compostos químicos originários longe do ponto inicial de sua aplicação. de cosméticos, produtos de higiene e de cuidados pessoais, detergentes e medicamentos, desde analgésicos e A cada ano, cerca de 700 novos produtos químicos são antidepressivos até terapias de reposição hormonal e agentes introduzidos pelo comércio apenas nos Estados Unidos quimioterápicos, também suscitam preocupação crescente (Stephenson, 2009) e, mundialmente, as aplicações (Carr e Neary, 2008). Tais agentes químicos entram no meio de agrotóxicos são estimadas em aproximadamente 2 ambiente e nos cursos de água pelos efluentes de estações milhões de toneladas (PAN, 2009). Apesar de seu uso em de tratamento de esgotos domésticos não equipadas para larga escala, a prevalência, o transporte e o destino final removê-los (Carr e Neary, 2008). Mesmo que as baixas de muitos desses produtos químicos permanecem, em concentrações atualmente presentes nos cursos de água não geral, desconhecidos uma vez que, até há pouco tempo, apresentem quaisquer efeitos observáveis ou agudos à saúde, as técnicas de ensaio não eram capazes de detectar podem provocar problemas comportamentais e reprodutivos contaminantes nas baixas concentrações presentes no sutis à vida humana e à fauna (Carr e Neary, 2008) e é provável meio ambiente (Carr e Neary, 2008). que causem impactos sinérgicos quando combinados com outro disruptor endócrino. A título de exemplo, em Produtos químicos sintéticos, denominados disruptores concentrações de microgramas/L do antibiótico tetraciclina, endócrinos, fornecem excelente exemplo de contaminantes um estudo encontrou impactos negativos mensuráveis sobre a emergentes cujos perigos e consequências para a vida bacteriana aquática (Verma et al., 2007). São necessárias qualidade da água, saúde humana e meio ambiente novas pesquisas para esclarecer essas incertezas. SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 23
  • 26. Além desses contaminantes químicos emergentes, existe sobre a qualidade da água. Segue também uma descrição também a ameaça proveniente de agentes patogênicos de processos que impactam e continuarão impactando emergentes – que estão aparecendo entre as populações a qualidade da água, a saber: crescimento demográfico, humanas pela primeira vez ou que já haviam aparecido antes, urbanização e mudanças climáticas. mas agora se apresentam com incidência crescente ou vêm se alastrando para áreas antes não informadas (OMS, 2003a). Agricultura As doenças relacionadas à água não apenas continuam sendo a principal causa de morbidade e mortalidade global, mas A imensa extensão das atividades agrícolas em todo diversos estudos confirmam que a variedade das doenças o mundo contribui significativamente tanto para a expandem e que a incidência de muitas doenças microbianas produtividade econômica quanto para as cargas de relacionadas à água vem aumentando (OMS, 2003a). poluentes. Desde a década de 1970, é cada vez maior a preocupação com os aumentos de escoamento de Agentes patogênicos podem surgir como resultado de novos resíduos de nitrogênio, fósforo e agrotóxicos nas águas ambientes ou alterações de condições ambientais, como superficiais e subterrâneas. É sabido, há muito tempo, que implantação de barragens e projetos de irrigação; uso de novas os sistemas de cultivo intensivo, a crescente concentração tecnologias; e avanços científicos, tais como o uso inapropriado de pecuária confinada em “fábricas” e as operações de antibióticos, inseticidas e agrotóxicos que levam à criação de aquacultura podem contribuir para a poluição difusa de cepas resistentes (OMS, 2003a). Nos últimos anos, 175 de águas superficiais e subterrâneas (Ignazi, 1993). Um espécies de agentes infecciosos de 96 gêneros diferentes foram estudo comparativo de fontes de poluição doméstica, classificados como agentes patogênicos emergentes (OMS, industrial e agrícola da zona costeira dos países do Mar 2003a). O aparecimento de novos agentes patogênicos ou Mediterrâneo constatou que a agricultura é a fonte principal o aumento na sua incidência também representam ameaça à de componentes e sedimentos de fósforo (PNUMA, 1996a). qualidade da água. Ademais, os nitratos são os componentes químicos mais comuns nas águas subterrâneas e nos aquíferos do mundo (Spalding e Exner, 1993). De acordo com diversos estudos Atividades humanas que afetam realizados na Índia e na África, entre 20 e 50 por cento dos a qualidade da água poços contêm teores de nitrato acima de 50 miligramas/ litro e, em alguns casos, esses teores chegam até várias Uma ampla gama de atividades humanas afeta a qualidade centenas de miligramas/litro (citado pela FAO, 1996). Dados da água. A seguir serão apresentadas e discutidas quatro recentes do PNUMA Global Environment Monitoring (GEMS/ categorias – produção agrícola; industrial e mineradora; Água) demonstram que as concentrações medianas de nitrato infraestrutura hídrica; e lançamento direto de efluentes aumentaram na última década em bacias hidrográficas das domésticos não ou parcialmente tratados em sistemas Américas, da Europa, da Australásia e, mais significativamente, aquáticos – como também os impactos destas atividades da África e do Mediterrâneo oriental (Figura 1). 76 - 100 51 - 75 26 - 50 1- 25 0% 1 - 25 26 - 50 51- 75 76 - 100 (mg N L) Figura 1. Alterações nas concentrações de nitrogênio em grandes bacias do mundo nos períodos 1990-1999 e 2000-2007. Fonte: PNUMA 2008 24 CUIDANDO DAS ÁGUAS
  • 27. Tabela 1. Impactos das atividades agrícolas sobre a qualidade da água. (FAO, 1996 – modificado) Atividades agrícolas Impactos Águas superficiais Águas subterrâneas Aração/gradeação Sedimentos/turbidez: sedimentos carregam fósforo e Compactação do solo pode reduzir agrotóxicos absorvidos em partículas de sedimento; infiltração para o sistema de águas assoreamento de leitos de rios e perda de habitat, áreas subterrâneas. de desova etc. Adubação Escoamento superficial de nutrientes, especialmente Lixiviação de nitrato para as águas fósforo, levando à eutrofização e provocando alterações subterrâneas; níveis excessivos de sabor e odor na água de abastecimento público; representam ameaça à saúde humana. proliferação de algas, levando à desoxigenação da água e à mortalidade de peixes. Espalhamento de Realizado como atividade de adubação; espalhamento em Contaminação de águas subterrâneas, estrume terreno gelado resulta em altos níveis de contaminação especialmente por nitrogênio. das águas por agentes patogênicos, metais, fósforo e nitrogênio, que levam à eutrofização e à contaminação potencial. Ademais, a aplicação de estrume pode disseminar antibióticos e outros produtos farmacêuticos administrados a animais. Agrotóxicos Escoamento superficial de agrotóxicos, provocando Alguns agrotóxicos podem se infiltrar contaminação da água superficial e da biota; disfunção do nas águas subterrâneas, provocando sistema ecológico nas águas superficiais pela perda dos problemas à saúde humana, a partir de principais predadores devido à inibição de crescimento e poços contaminados. ao fracasso reprodutivo; impactos sobre a saúde humana pela ingestão de peixes contaminados. Agrotóxicos são propagados em forma de pó pelos ventos por longas distâncias e contaminam sistemas aquáticos a milhares de quilômetros de distância (ex.: agrotóxicos tropicais/ subtropicais encontrados em mamíferos do Ártico). Confinamento de Contaminação da água superficial por muitos agentes Lixiviação potencial de nitrogênio, metais animais/currais patogênicos (bactéria, vírus etc.), levando a problemas etc. às águas subterrâneas. crônicos de saúde. Também contaminação por metais, antibióticos e outros compostos farmacêuticos contidos na urina e nas fezes. Irrigação Escoamento superficial de sais, provocando a Enriquecimento das águas salinização das águas superficiais; escoamento subterrâneas com sais e nutrientes superficial de fertilizantes e agrotóxicos às águas (especialmente nitrato). superficiais, provocando danos ecológicos, bioacumulação de espécies de peixes comestíveis etc. Altos níveis de elementos traço como selênio podem ocorrer, provocando graves danos ecológicos e potenciais impactos sobre a saúde humana. Corte raso de florestas Erosão do terreno, levando a altos níveis de turbidez dos Mudança do regime hidrológico – muitas rios, assoreamento do habitat bentônico etc. Deturpação vezes acompanhada por aumento do e alteração do regime hidrológico, muitas vezes com escoamento superficial e diminuição perda de riachos perenes, provocando problemas de das recargas de águas subterrâneas saúde devido a perdas de água potável. – afeta a água superficial, por diminuir os fluxos em períodos de estiagem e a concentração de nutrientes e contaminantes na água superficial. Silvicultura Ampla gama de efeitos: escoamento superficial de Compactação do solo limita infiltração. agrotóxicos e contaminação de água superficial e peixes; problemas de erosão e sedimentação. Aquacultura Liberação de agrotóxicos e altos níveis de nutrientes para as águas superficiais e subterrâneas, pela ração e pelas fezes, levando a sérios problemas de eutrofização. SOLUÇÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS 25