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                        2011




BARROCO E ARCADISMO NO BRASIL
BARROCO
   O barroco se desenvolve após o processo de Reformas Religiosas, ocorrido no
    século XVI, a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. Mesmo
    assim, os católicos continuavam influenciando muito o cenário
    político, econômico e religioso na Europa. A arte barroca surge neste contexto e
    expressa todo o contraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da
    Idade Média com o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento.

   Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e pelo
    clero. As obras deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam as
    emoções           da         vida          e        do       ser        humano.
    A palavra barroco tem um significado que representa bem as características
    deste estilo. Significa “pérola irregular” ou "pérola deformada" e representa de
    forma pejorativa a idéia de irregularidade.

   O período final do barroco (século XVIII) é chamado de rococó e possui
    algumas peculiaridades, embora as principais características do barroco estão
    presentes nesta fase. No rococó existe a presença de curvas e muitos detalhes
    decorativos (conchas, flores, folhas, ramos). Os temas relacionados à mitologia
    grega e romana, além dos hábitos das cores também aparecem com
    freqüência.
   Na arte barroca, predominam as emoções
    e não o racionalismo da arte
    renascentista. O estilo barroco traduz a
    tentativa angustiante de conciliar forças
    antagônicas; bem e mal; céu e terra; pureza
    e pecado; alegria e tristeza; espírito e
    matéria.
AS MENINAS - VELÁSQUEZ
LIÇÃO DE ANATOMIA - REMBRANDT
MERISI CARAVAGGIO - MICHELANGELO
CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
   Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a
    matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a
    terra, pureza e o pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a
    morte.
   Consciência da transitoriedade da vida: a idéia de que o tempo
    consome, tudo leva consigo,e que conduz irrevogavelmente a
    morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos
    bens materiais, ou seja sem apego aos bens materiais.
   Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com
    o auxilio de hipérboles, ou seja exageros, figura de linguagem
    que consiste em aumentar exageradamente algo a que se
    estar referindo.
CARACTERÍSTICAS DO BARROCO
   Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas,
    questionamentos: “que amor sigo? Que busco? Que
    desejo? O que quero da vida?
   Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado.
    Predominam hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração da
    ordem natural das palavras na frase ou das orações no
    período) e metáforas (comparações), como: diamantes
    que significam dentes ou olhos.
   Conceptismo: é o jogo de idéias ou conceitos, de
    conformidade com a técnica de argumentação. É comum
    o uso de antítese, ou seja idéias contrárias, paradoxos.
    enquanto os cultistas tinham a visão direcionada aos
    sentidos, já os conceptistas eram direcionados a
    inteligência.
LITERATURA BARROCA
   O movimento brasileiro, influenciado pelo barroco português,
    apresentou suas próprias características, pois diferente da
    realidade portuguesa de luxo e pompa da aristocracia, o Brasil
    vivia uma realidade de violência, em que se perseguiam os
    índios e escravizavam os negros.
   No Brasil, o barroco ganhou impulso entre 1720 e 1750,
    momento em que várias academias literárias foram fundadas por
    todo o país.
   O centro de riqueza da época era Minas Gerais, e foi lá que a
    produção artística, ligada à igreja, se concentrou. O arquiteto,
    entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi
    o grande representante dessa tendência nas artes plásticas, o
    estilo rococó predominava em suas esculturas de materiais
    típicos nacionais, como a madeira e pedra-sabão.
BARROCO NO BRASIL
   A publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, inicia o
    Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que
    procura imitar Os Lusíadas.

   Os escritores que mais se destacaram foram:
    Na poesia:
    - Gregório de Matos
    - Bento Teixeira
    - Botelho de Oliveira
    - Frei Itaparica
    Na prosa:
    - Pe. Antônio Vieira
    - Sebastião da Rocha Pita
    - Nuno Marques Pereira.
GREGÓRIO DE MATOS
   Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra
    permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras,
    além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi
    indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.
    As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia
    lírica religiosa, amorosa e filosófica.
    - A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o
    arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de
    uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no
    exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de
    S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e
    conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se
    arrepende”:
LÍRICA RELIGIOSA
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
  Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
  da vossa alta clemência me despido;
  porque, quanto mais tenho delinqüido,
  vos tenho a perdoar mais empenhado.
  Se basta a vos irar tanto pecado,
  a abrandar-vos sobeja um só gemido:
  que a mesma culpa, que vos há ofendido
  vos tem para o perdão lisonjeado.
  Se uma ovelha perdida, e já cobrada
  glória tal e prazer tão repentino
  vos deu, como afirmais na sacra história,
  eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
  cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
  perder na vossa ovelha, a vossa glória.
  (Gregório de Matos)
LÍRICA AMOROSA

   - A lírica amorosa: é marcada pela dualidade
    amorosa entre carne/espírito, ocasionando
    um sentimento de culpa no plano espiritual.
ROMPE O POETA COM A PRIMEIRA IMPACIÊNCIA QUERENDO
DECLARAR-SE E TEMENDO PERDER POR OUSADO


   Anjo no nome, Angélica na cara,
    Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
    Se Angélica flor, e Anjo florente,
    Em quem, senão em vós se uniformara?
    Quem veria uma flor, que a não cortara
    De verde pé, de rama florescente?
    E quem um Anjo vira tão luzente,
    Que por seu Deus, o não idolatrara?
    Se como Anjo dos meus altares,
    Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
    Livrara eu de diabólicos azares.
    Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
    Posto que os Anjos nunca dão pesares,
    Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
LÍRICA FILOSÓFICA
- A lírica filosófica: os textos fazem referência à
   desordem do mundo e às desilusões do homem
   perante a realidade.
  Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou
  conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta
  não economizou palavrões nem críticas em sua
  linguagem, que além disso era enriquecida com
  termos indígenas e africanos.
LÍRICA FILOSÓFICA
   Soneto
    A cada canto um grande conselheiro,
    Que nos quer governar cabana, e vinha,
    Não sabem governar sua cozinha,
    E podem governar o mundo inteiro.
    Em cada porta um freqüentado olheiro,
    Que a vida do vizinho, e da vizinha
    Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,
    Para levar à Praça, e ao Terreiro.
    Muitos mulatos desavergonhados,
    Trazidos pelos pés os homens nobres,
    Posta nas palmas toda picardia.
    Estupendas usuras nos mercados,
    Todos, os que não furtam, muito pobres,
    E eis aqui a cidade da Bahia.
    Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida
    como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos
PADRE ANTONIO VIEIRA
   O padre Vieira foi um grande e produtivo escritor do barroco em
    língua portuguesa. Escreveu 200 sermões - entre os quais pode-
    se destacar o "Sermão da Sexagésima" -, cerca de 500 cartas e
    profecias que reuniu no livro "Chave dos Profetas", que nunca
    acabou.
   Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos
    de política e Oratória, destacou-se como missionário em terras
    brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os
    direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua
    exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era
    por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
   António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da
    distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à
    época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos
    tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda
    severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
SERMÃO DA SEXAGÉSIMA
Pregado na Capela Real, no ano de 1655.
Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11.

I
E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da
pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do
caso que me levou e trouxe de tão
longe.
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina.
Bem parece este
texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia
da messe
hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos
satisfaz o que
dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é
semear, porque também das passadas colhe fruto.
Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que
saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se
contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em
casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e
hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os
de lá, com mais passos: Exiit seminare.
ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO
   O Arcadismo, de modo geral, foi influenciado pelo Século das Luzes,
    chamado de Iluminismo. Esse movimento influenciou os pensamentos
    dos intelectuais e ocasionou a pesquisa e análise do mundo pela
    perspectiva da razão e da ciência. Assim, tudo era explicado ou por
    meio científico ou por constatação de algo palpável.
   Esse período de mudanças filosóficas compreende a segunda metade
    do século XVIII, no qual a Europa estava dominada economicamente
    pela burguesia.
   Enquanto isso, no Brasil, o século do ouro desponta e cresce
    extraordinariamente, com a mudança do pólo econômico da região
    Nordeste para o Rio de Janeiro e, principalmente, para Minas Gerais. É
    este estado que irá servir de cenário para os diversos acontecimentos
    marcantes da história, além da mineração, a Inconfidência, o caso de
    Tiradentes, o artista Aleijadinho.
CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO
   O nome originou-se de uma região grega chamada Arcádia
    (morada do deus Pan).
   Os poetas desta escola literária escreviam sobre as belezas do
    campo, a tranquilidade proporcionada pela natureza e a
    contemplação da vida simples. Portanto, desprezam a vida nos
    grandes centros urbanos e toda a vida agitada e problemas que
    as pessoas levavam nestes locais. Os poetas arcadistas
    chegavam a usar pseudônimos (apelidos) de pastores latinos ou
    gregos.
   As principais características das obras do arcadismo brasileiro
    são: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros
    urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos,
    objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temas
    épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.
ARCADISMO NO BRASIL
   O estilo literário árcade no Brasil tem início com a publicação das
    Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 e se
    estende até 1836 com a obra Suspiros poéticos e saudades de
    Gonçalves Magalhães, a qual inaugura o Romantismo.
   Os poetas árcades encontram inspiração nas terras mineiras,
    principalmente Vila Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias; e
    também refúgio, não nos filósofos iluministas como Voltaire e
    Montesquieu, voltados para a política e moral, mas em Horácio
    que se prendia em pensamentos como “fugere urbem” (fugir da
    cidade) e “carpe diem” (gozar o dia). Daí o Arcadismo ser
    conhecido pela exaltação da natureza e pelo bucolismo.
   A escola literária árcade é caracterizada por uma produção
    voltada ao lirismo amoroso e à Épica:
     Lirismo amoroso - Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga
     Épica - Santa Rita Durão e Basílio da Gama, respectivamente.
CONTEXTO HISTÓRICO
   Aquela época, mais precisamente, século XVIII, o Brasil ainda permanecia sob
    os poderes da metrópole portuguesa, sofrendo assim com as terríveis
    consequências oriundas dessa forte submissão. Uma delas, por sinal bastante
    significativa, era a cobrança de altas e abusivas taxas pelo rei de Portugal, sem
    contar que o ouro já demonstrava sinais de escassez, e mesmo assim a
    situação ainda insistia em perdurar.
   Em meio a esse clima de insatisfação, gerado pela revolta do povo,
    principalmente em se tratando de alguns fazendeiros e donos de minas que
    queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país,
    um grupo de intelectuais recém-formados na Europa, mais precisamente em
    Coimbra, traziam de lá as ideias iluministas que naquele continente (europeu)
    fervilhavam. De tal modo, ansiavam cada vez mais que o Brasil se tornasse
    independente de Portugal. Anseios estes que culminaram na Inconfidência
    Mineira (1789), liderada pelo alferes José da Silva Xavier, mais conhecido como
    Tiradentes, em companhia dos poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
    Gonzaga, Inácio de Alvarenga, entre outras importantes figuras da elite mineira,
    cujas ideias eram implantar no Brasil um sistema republicano de governo.
    Chegaram até a implantar uma bandeira para a nação constituída dos seguintes
    dizeres latinos:
LIBERDADE ANTES QUE TARDIA
CONTEXTO HISTÓRICO
   A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi
    traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas
    com a Coroa.
   Em 18 de Abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram
    condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria I pelo
    qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para degredo em colônias
    portuguesas na África.
   Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por
    enforcamento, sendo a sentença executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo
    da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas
    penas reduzidas para degredo, na segunda sentença. A casa onde ele viveu foi destruída.
   Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje
    parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à
    Santa Casa de Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços
    do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de
    couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde
    Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro
    Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de
    dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole.
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
   Cláudio Manuel da Costa é considerado um dos maiores poetas brasileiros do
    período colonial.
   Em Portugal, entrou em contato com as ideais iluministas e iniciou a sua
    carreira literária publicando, em opúsculos, pelo menos três poemas:
    "Munúsculo métrico", "Labirinto de Amor" e "Epicédio". Em todos os trabalhos, a
    característica poética do Barroco seiscentista é evidente, nos
    cultismos, conceitismos e formalismos.
   Em 1773, adotou o nome árcade de Glauceste Satúrnio.
   Anos mais tarde, participou, ao lado de Joaquim José da Silva Xavier, o
    Tiradentes, Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros, da Inconfidência Mineira.
    Na mesma época, compôs o clássico poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas
    publicado somente em 1839, em Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A
    poesia descreve a saga dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos
    sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de
    Vila Rica.
   Contemporâneo da Arcádia Lusitana, Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de
    técnica apurada, um escritor que procurou equilibrar a sua forte vocação
    barroca ao estilo neoclássico. O poeta mineiro também introduziu, em seus
    textos, elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte
    sentimento nacionalista.
CLÁUDIO MANOEL DA COSTA
   Trecho do poema Vila Rica, Canto VII
    O conceito, que pede a autoridade,
    Necessária se faz uma igualdade
    De razão e discurso; quem duvida,
    Que de um cego furor corre impelida
    A fanática idéia desta gente?
    Que a todos falta um condutor prudente
    Que os dirija ao acerto? Quem ignora
    Que um monstruoso corpo se devora
    A si mesmo, e converte em seu estrago
    O que pensa e medita? Ao brando afago
    Talvez venha ceder: e quando abuse
    Da brandura, e obstinados se recuse
    A render ao meu Rei toda a obediência,
    Então porei em prática a violência;
    Farei que as armas e o valor contestem
    O bárbaro atentado; e que detestem
    A preço do seu sangue a torpe idéia.
SANTA RIDA DURÃO
   Frei José de Santa Rita Durão nasceu nas proximidades de
    Mariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de
    Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia por Coimbra.
    Entrou na ordem de Santo Agostinho, mas durante a repressão
    do período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de
    estudos, durante mais de 20 anos.
   Depois de viver também na Espanha e na França, voltou a
    Portugal com a "viradeira", como ficou conhecida a queda do
    Marquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional.
   A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o
    nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos
    seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas
    tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16
    até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica
    informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária
    do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da
    corrupção.
SANTA RITA DURÃO
   Durão também integra esse movimento cultural contra a
    colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em
    meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são
    exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores.
   A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por
    dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas,
    as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de
    se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão
    substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.
   "Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento
    da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o
    Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu
    (com quem Diogo se casou na França) e Moema (rival de
    Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que
    levava o casal para a França).
CARAMURU
CARAMURU
   “- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...
    Porém o tigre, por cruel que brame,
    Acha forças no amor, que enfim o domem;
    Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
    Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
    Como não consumis aquele infame?
    Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
    Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco”
    (Trecho do Canto VI, onde narra a morte de
    Moema)
BASÍLIO DA GAMA
   José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da Costa Villas-Boas e
    de uma neta de Leonel da Gama Belles, oficial da Colônia, de quem adotou o
    nome. Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com a
    expulsão da Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o Seminário
    Episcopal de São José.
   Depois de passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma, mas por ligações
    com os jesuítas, acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebendo
    a pena de degredo em Angola. Depois, foi perdoado por Pombal, porque fez um
    "Epitalâmio" à filha do Marquês, onde elogia o Ministro e ataca os jesuítas.
   Participou da efervescência do Arcadismo português, revelando assim, seu
    talento    de      poeta    neoclássico,    ao     escrever     poesias     líricas
    e, especialmente, épica. Com O Uraguai consegue a celebridade, ao reverter o
    esquema épico tradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe
    plasticidade, além de tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas
    informativa. Utiliza os versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o
    qual consegue efeitos sonoros e imagéticos que reforçam os significados.
O URAGUAY
   O poema é também um canto
    de louvor à política de
    Pombal, com dedicatória ao
    Ministro da Marinha, Mendonça
    Furtado, irmão do mesmo
    Marquês, que trabalhou na
    demarcação       dos    limites
    setentrionais entre Brasil e
    América Espanhola, cumprindo
    o Tratado de Madri. Desde
    modo, acabou membro da
    Academia Real das Ciências
    de                     Lisboa.
O URAGUAY
   O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor
    Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser
    eles mesmos seus senhores. O enredo em si, é a luta dos portugueses e espanhóis contra os
    índios e os jesuítas dos Sete Povos das Missões. De acordo com o tratado de Madrid, Portugal
    e Espanha fariam uma troca de terras no sul do país: Sete Povos das Missões para os
    espanhóis, e Sacramento para os portugueses. Os nativos locais recusam-se a sair de suas
    terras, travando uma guerra. Foi escrito em versos brancos decassílabos, sem divisão de
    estrofes e divididos em cinco cantos, e por muitos autores, foi o início do Romantismo.
   No Canto I, o poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres,
    principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso -
    espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrada.
   No Canto II, relata o encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português.
    Gomes Freire de Andrada à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas
    portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os
    índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas
    armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.
   No Canto III, o falecido Sepé aparece em sonho a Cacambo sugerindo o incêndio do
    acampamento inimigo. Cacambo aproveita a sugestão de Sepé com sucesso. Na volta da
    missão Cacambo é traiçoeiramente assassinado por ordem do jesuíta Balda, o vilão da história,
    que deseja tornar seu filho Baldeta cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte
    crítica aos jesuítas.
O URAGUAY
   No Canto IV, o poeta apresenta a marcha das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos
    índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça, entretanto, prefere a
    morte. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza:

          “Inda conserva o pálido semblante
          Um não sei que de magoado e triste
          Que os corações mais duros enternece,
          Tanto era bela no seu rosto a morte!”

   Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a
    aldeia.
   No Canto V, o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como
    responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso -espanholas. Eram opiniões que
    agradavam ao Marquês de Pombal, o todo poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo
    canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrada que respeita e
    protege os índios sobreviventes.
   Convém ressaltar que O Uraguai, além das características árcades, já apresenta,
    algumas tendências românticas na descrição da natureza brasileira.
O URAGUAY
   CANTO PRIMEIRO
    Fumam ainda nas desertas praias
    Lagos de sangue tépidos e impuros
    Em que ondeiam cadáveres despidos,
    Pasto de corvos. Dura inda nos vales
    O rouco som da irada artilheria.
    MUSA, honremos o Herói que o povo rude
    Subjugou do Uraguai, e no seu sangue
    Dos decretos reais lavou a afronta.         Por mãos escassas mísero sustento.
    Ai tanto custas, ambição de império!        Podres choupanas, e algodões tecidos,
    E Vós, por quem o Maranhão pendura          E o arco, e as setas, e as vistosas penas
                                                São as nossas fantásticas riquezas.
                                                Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.
   CANTO SEGUNDO                               Volta, senhor, não passes adiante.
    Aqui não temos. Os padres faziam crer aos   Que mais queres de nós? Não nos obrigues
    índios que os                               A resistir-te em campo aberto. Pode
    portugueses eram gente sem lei, que         Custar-te muito sangue o dar um passo.
    adoravam o ouro.                            Não queiras ver se cortam nossas frechas.
    Rios de areias de ouro. Essa riqueza        Vê que o nome dos reis não nos assusta.
    Que cobre os templos dos benditos padres,   O teu está muito longe; e nós os índios
    Fruto da sua indústria e do comércio        Não temos outro rei mais do que os padres.
    Da folha e peles, é riqueza sua.            Acabou de falar; e assim responde
    Com o arbítrio dos corpos e das almas       O ilustre General: Ó alma grande,
    O céu lha deu em sorte. A nós somente       Digna de combater por melhor causa,
    Nos toca arar e cultivar a terra,           Vê que te enganam: risca da memória
    Sem outra paga mais que o repartido         Vãs, funestas imagens, que alimentam
    Por mãos escassas mísero sustento.          Envelhecidos mal fundados ódios.

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  • 1. CIES – 2011 BARROCO E ARCADISMO NO BRASIL
  • 2. BARROCO  O barroco se desenvolve após o processo de Reformas Religiosas, ocorrido no século XVI, a Igreja Católica havia perdido muito espaço e poder. Mesmo assim, os católicos continuavam influenciando muito o cenário político, econômico e religioso na Europa. A arte barroca surge neste contexto e expressa todo o contraste deste período: a espiritualidade e teocentrismo da Idade Média com o racionalismo e antropocentrismo do Renascimento.  Os artistas barrocos foram patrocinados pelos monarcas, burgueses e pelo clero. As obras deste período são rebuscadas, detalhistas e expressam as emoções da vida e do ser humano. A palavra barroco tem um significado que representa bem as características deste estilo. Significa “pérola irregular” ou "pérola deformada" e representa de forma pejorativa a idéia de irregularidade.  O período final do barroco (século XVIII) é chamado de rococó e possui algumas peculiaridades, embora as principais características do barroco estão presentes nesta fase. No rococó existe a presença de curvas e muitos detalhes decorativos (conchas, flores, folhas, ramos). Os temas relacionados à mitologia grega e romana, além dos hábitos das cores também aparecem com freqüência.
  • 3. Na arte barroca, predominam as emoções e não o racionalismo da arte renascentista. O estilo barroco traduz a tentativa angustiante de conciliar forças antagônicas; bem e mal; céu e terra; pureza e pecado; alegria e tristeza; espírito e matéria.
  • 4. AS MENINAS - VELÁSQUEZ
  • 5. LIÇÃO DE ANATOMIA - REMBRANDT
  • 6. MERISI CARAVAGGIO - MICHELANGELO
  • 7.
  • 8. CARACTERÍSTICAS DO BARROCO  Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a terra, pureza e o pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a morte.  Consciência da transitoriedade da vida: a idéia de que o tempo consome, tudo leva consigo,e que conduz irrevogavelmente a morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos bens materiais, ou seja sem apego aos bens materiais.  Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com o auxilio de hipérboles, ou seja exageros, figura de linguagem que consiste em aumentar exageradamente algo a que se estar referindo.
  • 9. CARACTERÍSTICAS DO BARROCO  Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas, questionamentos: “que amor sigo? Que busco? Que desejo? O que quero da vida?  Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado. Predominam hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração da ordem natural das palavras na frase ou das orações no período) e metáforas (comparações), como: diamantes que significam dentes ou olhos.  Conceptismo: é o jogo de idéias ou conceitos, de conformidade com a técnica de argumentação. É comum o uso de antítese, ou seja idéias contrárias, paradoxos. enquanto os cultistas tinham a visão direcionada aos sentidos, já os conceptistas eram direcionados a inteligência.
  • 10. LITERATURA BARROCA  O movimento brasileiro, influenciado pelo barroco português, apresentou suas próprias características, pois diferente da realidade portuguesa de luxo e pompa da aristocracia, o Brasil vivia uma realidade de violência, em que se perseguiam os índios e escravizavam os negros.  No Brasil, o barroco ganhou impulso entre 1720 e 1750, momento em que várias academias literárias foram fundadas por todo o país.  O centro de riqueza da época era Minas Gerais, e foi lá que a produção artística, ligada à igreja, se concentrou. O arquiteto, entalhador e escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, foi o grande representante dessa tendência nas artes plásticas, o estilo rococó predominava em suas esculturas de materiais típicos nacionais, como a madeira e pedra-sabão.
  • 11.
  • 12.
  • 13.
  • 14.
  • 15. BARROCO NO BRASIL  A publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, inicia o Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.  Os escritores que mais se destacaram foram: Na poesia: - Gregório de Matos - Bento Teixeira - Botelho de Oliveira - Frei Itaparica Na prosa: - Pe. Antônio Vieira - Sebastião da Rocha Pita - Nuno Marques Pereira.
  • 16. GREGÓRIO DE MATOS  Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão. As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia lírica religiosa, amorosa e filosófica. - A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:
  • 17. LÍRICA RELIGIOSA A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, da vossa alta clemência me despido; porque, quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida, e já cobrada glória tal e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na sacra história, eu sou Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha, a vossa glória. (Gregório de Matos)
  • 18. LÍRICA AMOROSA  - A lírica amorosa: é marcada pela dualidade amorosa entre carne/espírito, ocasionando um sentimento de culpa no plano espiritual.
  • 19. ROMPE O POETA COM A PRIMEIRA IMPACIÊNCIA QUERENDO DECLARAR-SE E TEMENDO PERDER POR OUSADO  Anjo no nome, Angélica na cara, Isso é ser flor, e Anjo juntamente, Se Angélica flor, e Anjo florente, Em quem, senão em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que tão bela, e tão galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
  • 20. LÍRICA FILOSÓFICA - A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade. Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.
  • 21. LÍRICA FILOSÓFICA  Soneto A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana, e vinha, Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um freqüentado olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha, Para levar à Praça, e ao Terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos pelos pés os homens nobres, Posta nas palmas toda picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos, os que não furtam, muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos
  • 22. PADRE ANTONIO VIEIRA  O padre Vieira foi um grande e produtivo escritor do barroco em língua portuguesa. Escreveu 200 sermões - entre os quais pode- se destacar o "Sermão da Sexagésima" -, cerca de 500 cartas e profecias que reuniu no livro "Chave dos Profetas", que nunca acabou.  Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e Oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).  António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
  • 23. SERMÃO DA SEXAGÉSIMA Pregado na Capela Real, no ano de 1655. Semen est verbum Dei. S. Lucas, VIII, 11. I E se quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho, e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe. Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que «saiu o pregador evangélico a semear» a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare.
  • 24. ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO  O Arcadismo, de modo geral, foi influenciado pelo Século das Luzes, chamado de Iluminismo. Esse movimento influenciou os pensamentos dos intelectuais e ocasionou a pesquisa e análise do mundo pela perspectiva da razão e da ciência. Assim, tudo era explicado ou por meio científico ou por constatação de algo palpável.  Esse período de mudanças filosóficas compreende a segunda metade do século XVIII, no qual a Europa estava dominada economicamente pela burguesia.  Enquanto isso, no Brasil, o século do ouro desponta e cresce extraordinariamente, com a mudança do pólo econômico da região Nordeste para o Rio de Janeiro e, principalmente, para Minas Gerais. É este estado que irá servir de cenário para os diversos acontecimentos marcantes da história, além da mineração, a Inconfidência, o caso de Tiradentes, o artista Aleijadinho.
  • 25.
  • 26.
  • 27. CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO  O nome originou-se de uma região grega chamada Arcádia (morada do deus Pan).  Os poetas desta escola literária escreviam sobre as belezas do campo, a tranquilidade proporcionada pela natureza e a contemplação da vida simples. Portanto, desprezam a vida nos grandes centros urbanos e toda a vida agitada e problemas que as pessoas levavam nestes locais. Os poetas arcadistas chegavam a usar pseudônimos (apelidos) de pastores latinos ou gregos.  As principais características das obras do arcadismo brasileiro são: valorização da vida no campo, crítica a vida nos centros urbanos (fugere urbem = fuga da cidade), uso de apelidos, objetividade, idealização da mulher amada, abordagem de temas épicos, linguagem simples, pastoralismo e fingimento poético.
  • 28. ARCADISMO NO BRASIL  O estilo literário árcade no Brasil tem início com a publicação das Obras poéticas de Cláudio Manuel da Costa, em 1768 e se estende até 1836 com a obra Suspiros poéticos e saudades de Gonçalves Magalhães, a qual inaugura o Romantismo.  Os poetas árcades encontram inspiração nas terras mineiras, principalmente Vila Rica-Ouro Preto, cenário de suas poesias; e também refúgio, não nos filósofos iluministas como Voltaire e Montesquieu, voltados para a política e moral, mas em Horácio que se prendia em pensamentos como “fugere urbem” (fugir da cidade) e “carpe diem” (gozar o dia). Daí o Arcadismo ser conhecido pela exaltação da natureza e pelo bucolismo.  A escola literária árcade é caracterizada por uma produção voltada ao lirismo amoroso e à Épica: Lirismo amoroso - Tomás Antônio Gonzaga e Silva Alvarenga Épica - Santa Rita Durão e Basílio da Gama, respectivamente.
  • 29. CONTEXTO HISTÓRICO  Aquela época, mais precisamente, século XVIII, o Brasil ainda permanecia sob os poderes da metrópole portuguesa, sofrendo assim com as terríveis consequências oriundas dessa forte submissão. Uma delas, por sinal bastante significativa, era a cobrança de altas e abusivas taxas pelo rei de Portugal, sem contar que o ouro já demonstrava sinais de escassez, e mesmo assim a situação ainda insistia em perdurar.  Em meio a esse clima de insatisfação, gerado pela revolta do povo, principalmente em se tratando de alguns fazendeiros e donos de minas que queriam pagar menos impostos e ter mais participação na vida política do país, um grupo de intelectuais recém-formados na Europa, mais precisamente em Coimbra, traziam de lá as ideias iluministas que naquele continente (europeu) fervilhavam. De tal modo, ansiavam cada vez mais que o Brasil se tornasse independente de Portugal. Anseios estes que culminaram na Inconfidência Mineira (1789), liderada pelo alferes José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes, em companhia dos poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Inácio de Alvarenga, entre outras importantes figuras da elite mineira, cujas ideias eram implantar no Brasil um sistema republicano de governo. Chegaram até a implantar uma bandeira para a nação constituída dos seguintes dizeres latinos:
  • 31. CONTEXTO HISTÓRICO  A conspiração foi desmantelada em 1789, ano da Revolução Francesa. O movimento foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, que fez a denúncia para obter perdão de suas dívidas com a Coroa.  Em 18 de Abril de 1792 foi lida a sentença no Rio de Janeiro. Doze dos inconfidentes foram condenados à morte. Mas, em audiência no dia seguinte, foi lido decreto de D. Maria I pelo qual todos, à exceção de Tiradentes, tiveram a pena comutada para degredo em colônias portuguesas na África.  Tiradentes, o conjurado de mais baixa condição social, foi o único condenado à morte por enforcamento, sendo a sentença executada publicamente a 21 de abril de 1792 no Campo da Lampadosa. Outros inconfidentes haviam sido condenados à morte, mas tiveram suas penas reduzidas para degredo, na segunda sentença. A casa onde ele viveu foi destruída.  Após a execução, o corpo foi levado em uma carreta do Exército para a Casa do Trem (hoje parte do Museu Histórico Nacional), onde foi esquartejado. O tronco do corpo foi entregue à Santa Casa de Misericórdia, sendo enterrado como indigente. A cabeça e os quatro pedaços do corpo foram salgados, para não apodrecerem rapidamente, acondicionados em sacos de couro e enviados para as Minas Gerais, sendo pregados em pontos do Caminho Novo onde Tiradentes pregou suas ideias revolucionárias. A cabeça foi exposta em Vila Rica (atual Ouro Preto), no alto de um poste defronte à sede do governo. O castigo era exemplar, a fim de dissuadir qualquer outra tentativa de questionamento do poder da metrópole.
  • 32. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA  Cláudio Manuel da Costa é considerado um dos maiores poetas brasileiros do período colonial.  Em Portugal, entrou em contato com as ideais iluministas e iniciou a sua carreira literária publicando, em opúsculos, pelo menos três poemas: "Munúsculo métrico", "Labirinto de Amor" e "Epicédio". Em todos os trabalhos, a característica poética do Barroco seiscentista é evidente, nos cultismos, conceitismos e formalismos.  Em 1773, adotou o nome árcade de Glauceste Satúrnio.  Anos mais tarde, participou, ao lado de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros, da Inconfidência Mineira. Na mesma época, compôs o clássico poema "Vila Rica", pronto em 1773, mas publicado somente em 1839, em Ouro Preto, 50 anos após a sua morte. A poesia descreve a saga dos bandeirantes paulistas no desbravamento dos sertões e suas lutas com os emboabas indígenas, até a fundação da cidade de Vila Rica.  Contemporâneo da Arcádia Lusitana, Cláudio Manuel da Costa foi um poeta de técnica apurada, um escritor que procurou equilibrar a sua forte vocação barroca ao estilo neoclássico. O poeta mineiro também introduziu, em seus textos, elementos locais, descrevendo paisagens e expressando um forte sentimento nacionalista.
  • 33. CLÁUDIO MANOEL DA COSTA  Trecho do poema Vila Rica, Canto VII O conceito, que pede a autoridade, Necessária se faz uma igualdade De razão e discurso; quem duvida, Que de um cego furor corre impelida A fanática idéia desta gente? Que a todos falta um condutor prudente Que os dirija ao acerto? Quem ignora Que um monstruoso corpo se devora A si mesmo, e converte em seu estrago O que pensa e medita? Ao brando afago Talvez venha ceder: e quando abuse Da brandura, e obstinados se recuse A render ao meu Rei toda a obediência, Então porei em prática a violência; Farei que as armas e o valor contestem O bárbaro atentado; e que detestem A preço do seu sangue a torpe idéia.
  • 34. SANTA RIDA DURÃO  Frei José de Santa Rita Durão nasceu nas proximidades de Mariana, Minas Gerais. Estudou com os jesuítas no Rio de Janeiro e doutorou-se em Filosofia e Teologia por Coimbra. Entrou na ordem de Santo Agostinho, mas durante a repressão do período pombalino, fugiu para a Itália, onde levou uma vida de estudos, durante mais de 20 anos.  Depois de viver também na Espanha e na França, voltou a Portugal com a "viradeira", como ficou conhecida a queda do Marquês de Pombal e a restauração da monarquia tradicional.  A manifestação poética de Santa Rita Durão expressa o nativismo, estampado na exaltação da paisagem brasileira, dos seus recursos naturais, dos índios: seus costumes e suas tradições. Durão faz referências a fatos históricos, do século 16 até sua época. Apesar do retrocesso ao tipo de crônica informativa dos anos 1600, seu texto pertence à corrente literária do Arcadismo e valoriza a vida natural e simples, distante da corrupção.
  • 35. SANTA RITA DURÃO  Durão também integra esse movimento cultural contra a colonização. "O Caramuru" faz um balanço da colonização em meio a uma descrição hiperbólica da natureza. Neste poema são exaltadas a fé e a defesa da terra contra os invasores.  A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas abababcc. Mas, como era de se esperar para um membro do clero, o conservadorismo cristão substituiu a mitologia pagã, uma característica épica.  "Caramuru" tem como subtítulo "Poema Épico do Descobrimento da Bahia" e conta as aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu (com quem Diogo se casou na França) e Moema (rival de Paraguaçu, que morreu afogada quando perseguia o navio que levava o casal para a França).
  • 37. CARAMURU  “- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem... Porém o tigre, por cruel que brame, Acha forças no amor, que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem, Como não consumis aquele infame? Mas pagar tanto amor com tédio e asco... Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco” (Trecho do Canto VI, onde narra a morte de Moema)
  • 38. BASÍLIO DA GAMA  José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da Costa Villas-Boas e de uma neta de Leonel da Gama Belles, oficial da Colônia, de quem adotou o nome. Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com a expulsão da Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o Seminário Episcopal de São José.  Depois de passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma, mas por ligações com os jesuítas, acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebendo a pena de degredo em Angola. Depois, foi perdoado por Pombal, porque fez um "Epitalâmio" à filha do Marquês, onde elogia o Ministro e ataca os jesuítas.  Participou da efervescência do Arcadismo português, revelando assim, seu talento de poeta neoclássico, ao escrever poesias líricas e, especialmente, épica. Com O Uraguai consegue a celebridade, ao reverter o esquema épico tradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe plasticidade, além de tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas informativa. Utiliza os versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o qual consegue efeitos sonoros e imagéticos que reforçam os significados.
  • 39. O URAGUAY  O poema é também um canto de louvor à política de Pombal, com dedicatória ao Ministro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão do mesmo Marquês, que trabalhou na demarcação dos limites setentrionais entre Brasil e América Espanhola, cumprindo o Tratado de Madri. Desde modo, acabou membro da Academia Real das Ciências de Lisboa.
  • 40. O URAGUAY  O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo em si, é a luta dos portugueses e espanhóis contra os índios e os jesuítas dos Sete Povos das Missões. De acordo com o tratado de Madrid, Portugal e Espanha fariam uma troca de terras no sul do país: Sete Povos das Missões para os espanhóis, e Sacramento para os portugueses. Os nativos locais recusam-se a sair de suas terras, travando uma guerra. Foi escrito em versos brancos decassílabos, sem divisão de estrofes e divididos em cinco cantos, e por muitos autores, foi o início do Romantismo.  No Canto I, o poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso - espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrada.  No Canto II, relata o encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português. Gomes Freire de Andrada à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.  No Canto III, o falecido Sepé aparece em sonho a Cacambo sugerindo o incêndio do acampamento inimigo. Cacambo aproveita a sugestão de Sepé com sucesso. Na volta da missão Cacambo é traiçoeiramente assassinado por ordem do jesuíta Balda, o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas.
  • 41. O URAGUAY  No Canto IV, o poeta apresenta a marcha das forças luso-espanholas sobre a aldeia dos índios, onde se prepara o casamento de Baldeta e Lindóia. A moça, entretanto, prefere a morte. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza: “Inda conserva o pálido semblante Um não sei que de magoado e triste Que os corações mais duros enternece, Tanto era bela no seu rosto a morte!”  Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia.  No Canto V, o poeta expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso -espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrada que respeita e protege os índios sobreviventes.  Convém ressaltar que O Uraguai, além das características árcades, já apresenta, algumas tendências românticas na descrição da natureza brasileira.
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  • 43. O URAGUAY  CANTO PRIMEIRO Fumam ainda nas desertas praias Lagos de sangue tépidos e impuros Em que ondeiam cadáveres despidos, Pasto de corvos. Dura inda nos vales O rouco som da irada artilheria. MUSA, honremos o Herói que o povo rude Subjugou do Uraguai, e no seu sangue Dos decretos reais lavou a afronta. Por mãos escassas mísero sustento. Ai tanto custas, ambição de império! Podres choupanas, e algodões tecidos, E Vós, por quem o Maranhão pendura E o arco, e as setas, e as vistosas penas São as nossas fantásticas riquezas. Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.  CANTO SEGUNDO Volta, senhor, não passes adiante. Aqui não temos. Os padres faziam crer aos Que mais queres de nós? Não nos obrigues índios que os A resistir-te em campo aberto. Pode portugueses eram gente sem lei, que Custar-te muito sangue o dar um passo. adoravam o ouro. Não queiras ver se cortam nossas frechas. Rios de areias de ouro. Essa riqueza Vê que o nome dos reis não nos assusta. Que cobre os templos dos benditos padres, O teu está muito longe; e nós os índios Fruto da sua indústria e do comércio Não temos outro rei mais do que os padres. Da folha e peles, é riqueza sua. Acabou de falar; e assim responde Com o arbítrio dos corpos e das almas O ilustre General: Ó alma grande, O céu lha deu em sorte. A nós somente Digna de combater por melhor causa, Nos toca arar e cultivar a terra, Vê que te enganam: risca da memória Sem outra paga mais que o repartido Vãs, funestas imagens, que alimentam Por mãos escassas mísero sustento. Envelhecidos mal fundados ódios.