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Índice
Prefácio ............................................................................................................................. 3
Poesia (3º ciclo) ................................................................................................................ 4
    A Paixão ....................................................................................................................... 5
    O Amor na Adolescência.............................................................................................. 7
    Bolhas (feias, bonitas, boas e más) ............................................................................. 11
    Passagem .................................................................................................................... 12
    Mundo dos sonhos ...................................................................................................... 13
    Sou .............................................................................................................................. 15
    Conversa de Silêncios ................................................................................................. 17
    Sozinha ....................................................................................................................... 19
    Se eu te perdesse ......................................................................................................... 21
    África Minha............................................................................................................... 22
    Simplesmente o mar ................................................................................................... 23
    Não consigo esquecer ................................................................................................. 24
Prosa (3º ciclo)................................................................................................................ 26
    Apocalipse .................................................................................................................. 27
    Mortais ........................................................................................................................ 29
    Horizonte .................................................................................................................... 30
    Apocalipse .................................................................................................................. 33
    Horizonte .................................................................................................................... 35
    Fiapos da Noite ........................................................................................................... 38
    Momentos ................................................................................................................... 72
    Sophie ......................................................................................................................... 73
    Dreams ...................................................................................................................... 110
Poesia (Ensino Secundário) .......................................................................................... 112
    Morro ........................................................................................................................ 113
    Vivo .......................................................................................................................... 114
    Palavras para que? .................................................................................................... 115
    A Nossa Cidade ........................................................................................................ 116
    A Nossa Cidade ........................................................................................................ 116
    Adeus, meu amor… .................................................................................................. 117
    Esquece!.................................................................................................................... 118
1
Saudade..................................................................................................................... 119
    Tédio e cansaço ........................................................................................................ 120
    Alma Embrulhada ..................................................................................................... 121
    Verão ........................................................................................................................ 122
    Perdida ...................................................................................................................... 123
    Rumo de ninguém ..................................................................................................... 124
    Sabores ..................................................................................................................... 125
    Sem Nada Perceber................................................................................................... 126
    Sensação ................................................................................................................... 127
    Será que falta faço?................................................................................................... 128
    Sonhos ...................................................................................................................... 129
    Alma Natural ............................................................................................................ 130
    Ao Fim da Noite ....................................................................................................... 131
    Apenas esperar.......................................................................................................... 132
    Brisa Fria .................................................................................................................. 133
    Guerras de Tempestades ........................................................................................... 134
Prosa (Ensino Secundário)............................................................................................ 135
    Devil May Cry - The Past Records – The Last Crusades ......................................... 136
    First Record .............................................................................................................. 137
    À Genicarla… amizade do outro lado do oceano ..................................................... 155
    Nojo .......................................................................................................................... 156
    Olhai ......................................................................................................................... 157
    O Herói do século XXI ............................................................................................. 158




2
Prefácio




3
Poesia (3º ciclo)




4
A Paixão



    O dia ensombrado, melancólico e absorto. Como eu. Olhei o céu de chumbo: quieto,
frio, ausente… Inspirei fundo a solidão calma espelhada nas árvores e recordei:
    Foi num dia assim que me apaixonei, e agora estou sozinha, abandonada. Mas chega
de lamúrias vou-vos contar tudo o que aconteceu:
    Estava no segundo ano de escolaridade não sei explicar foi amor à primeira vista,
toda a gente me perguntava o que eu via nele mas eu não fazia a mínima ideia, era amor.
     O pior, era que para ele era uma simples rapariga. Ele “apaixonou-se” por muitas
raparigas mas nunca por mim, até vos posso dizer os nomes dessas raparigas:
         Margarida
         Rute
         Joana
         Ana Laura
         Raquel
         Carla
         Nicole
         Rita Santana
         Alexandra


     E sabe se lá mais quantas que eu nunca ouvi falar…
     Esperei por ele quatro anos, até que um dia fiquei a saber que finalmente “gostava”
de mim. Nenhum de nós avançava somos os dois muito tímidos.
     No dia seguinte houve a chuva de estrelas na minha escola, concorri para o
impressionar e resultou, “houve namoro”.
     Acho que se passou uma semana e estava de férias de Carnaval, era terça-feira o
último dia de férias e nós acabamos, aliás ele acabou comigo. Fiquei magoada e ainda
gosto dele, mas como já disse agora estou sozinha e abandonada.




5
Cláudia Pereira, Turma 7º A




6
O Amor na Adolescência


    Tinha mudado de escola e era o meu primeiro dia de aulas, estava correr tudo bem até
que duas das minhas amigas resolveram apresentar-me a um rapaz chamado Rodrigo.
Ele não era, e não é, nada de especial, mas não sei como, apaixonei-me por ele, demorei
muito tempo a resolver contar-lhe. O problema foi quando lhe contei, ele disse que se
calhar poderíamos ser amigos coloridos. Mas depois perguntei-lhe se era a sério e ele
disse que estava a gozar, por isso não liguei e segui com a minha vida.
    Passados alguns dias, eu, a minha melhor amiga e ele saímos da escola juntos e
resolvemos ir por um caminho novo, estava a correr tudo bem éramos apenas três
amigos felizes…
    No dia seguinte saímos da escola só os dois, estava muito nervosa, mas decidi relaxar,
estava a correr tudo         muito bem até que tivemos a seguinte conversa:
- Eras capaz de voltar a sentir alguma coisa por mim? – perguntou ele.
Eu disse que não como a todas as perguntas que ele me fez, por exemplo:
- Posso pôr-te o braço por cima? Posso dar-te a mão?....
Quando nos tivemos que separar nós fizemos uma coisa que nunca tínhamos feito antes,
despedimo-nos              com           dois           beijos            na         cara.
    Ia a caminho do meu destino, quando ele me liga a dizer que me amava muito e que
não aguentava mais sem me dizer, quando lhe ia responder, que sorte a minha, fiquei
sem bateria no telemóvel.
    Quando cheguei a casa, a primeira coisa que fiz foi ligar o telemóvel à bateria e
telefonar-lhe. Pedi-lhe desculpa por ter ficado sem bateria no telemóvel e perguntei-lhe
se o que ele me tinha dito era mesmo verdade, ele disse que sim e perguntou-me se eu
queria namorar com ele, mas ninguém podia saber ou desconfiar, eu sem evitar respondi
logo que sim. Mas não me consegui conter e fui logo contar às minhas melhores amigas.
     Estava a correr tudo bem, éramos um casal de namorados perfeitamente normal,
saíamos da escola e íamos namorar um pouco, ele telefonava-me todas as noites só para
me dizer DORME BEM e coisas assim… Adorava estar com ele, ao contrário do que
ele era na escola, quando estava comigo era um querido.
     Passadas mais ou menos duas semanas, uma das minhas amigas resolveu dar com a
língua nos dentes. Toda a turma ficou a saber, resultado fomos gozados e não foi pouco,
ele passou-se e acabou comigo, era uma quarta-feira, tínhamos tarde livre e a primeira

7
coisa que fiz quando cheguei a casa foi tentar resolver as coisas, e felizmente ficou tudo
bem.
    No dia seguinte, ele telefonou-me a hora de almoço para ir ter a casa dele, nós
estávamos pouco tempo juntos por isso tomei o rumo a casa dele. Quando cheguei lá
estava a correr tudo bem estávamos só aos beijos, o problema foi depois… fomos para o
quarto dele e tirámos as camisolas, mas tenham calma não passámos daí, ficámos só aos
beijos. Por fim, tivemos que ir para a escola. Isto repetiu-se em todas as quintas-feiras,
até uma que despimos as calças, mas é claro que a minha amiga Marta tinha que
estragar tudo estando sempre a ligar para mim… Voltei para a escola e falei com as
minhas amigas elas já me estavam a imaginar como uma adolescente grávida.
    Um dia, resolvi perguntar-lhe se ele gostava mesmo de mim e ele disse que estava
confuso e que já não sabia, por isso acabou comigo.


    No dia seguinte, ele começou-se a atirar à minha melhor amiga, a Patrícia, senti-me
um pouco magoada e dias depois fui parar ao hospital por causa dele. Falei com a
médica e contei-lhe tudo o se tinha passado, e ela disse que se calhar me tinha enervado
demais.
    Passadas algumas semanas chegaram as férias de Natal, ele voltou a dar esperanças a
uma rapariga, a Ana Sofia, quando finalmente consegui esclarecer as coisas e estava a
conseguir esquecê-lo, ele perguntou-me se eu soubesse que ele ainda gostava de mim se
voltava a namorar com ele e eu disse que talvez sim. Mas fiquei tão feliz que até parece
que foi um sonho, e agora não sei se foi mesmo um sonho ou é realidade.
    Começaram as aulas e eu estava ansiosa para saber se afinal namorava mesmo com
ele. Estava a correr tudo bem, eu só estava à espera da hora de almoço, porque era uma
quinta-feira, quando ele me costumava ligar, e sempre era verdade namorávamos
mesmo.              Ele           ligou-me,             e            eu            atendi:
- Estou!
– Estou, amor! Era só para saber se podias vir a minha casa.
- Não sei se vai dar, as minhas amigas não me largam…
Foi aí que ele teve uma reacção que me espantou imenso.
- Elas também podem vir.
    Eu não disse nada e seguimos caminho. Quando chegámos lá ele abriu-nos a porta e
entrámos, apanhámos todos uma seca, ficámos o tempo todo sentados no sofá a olhar


8
para a lareira apagada, devia ser para ver se a conseguíamos acender com os nossos
olhos.
    Quando fomos embora o céu estava um pouco escuro, até que começou a chover a
potes, não cabíamos todos debaixo do guarda-chuva, por isso desatámos a correr.
Quando finalmente chegámos à escola, estávamos completamente cheios de frio e todos
molhados, acho que a água que tínhamos no corpo dava para encher uma piscina. Foi
quando as coisas pioraram e tivemos de ir ao rastreio.
    Quando as aulas acabaram eu era para ir para a minha antiga escola, os Salesianos,
mas depois a minha mãe ligou-me a dizer que estava muito frio, então voltei para trás
para casa da minha amiga, Marta. No caminho encontrei o meu suposto namorado, ele
escondeu-se e chamou-me, eu fui e ele beijou-me, agora tinha mesmo a certeza de que
éramos namorados.
    Têm sido uns dias muito excitados para mim, porque estou sempre à espera de um
pouco de tempo para nós no fim das aulas.
    Na última aula do dia mais conhecida por chá das cinco ou aulas dos berros, tive uma
conversa com as minhas amigas por causa das quintas-feiras, para disfarçar comecei a
dizer que amava o Zac Efron, o pior foi que quando ouve um segundo de silêncio só se
ouviu a minha voz a dizer: EU AMO O ZAC EFRON!!!!!!!!!!! Fiquei muito
envergonhada       e     comecei-me      a     rir       que   nem        uma   perdida.
    Depois da aula estava muito nervosa, até porque a minha melhor amiga também gosta
dele e queria vir atrás de nós, com esta confusão toda, acabei por perdê-lo pelo caminho.
Como queria passar mais tempo com ele decidi mandar um sms à minha mãe a dizer
que ia para casa de uma amiga, aproveitei e mandei-lhe também um a ele a dizer que
tinha até às 16:30 para estar com ele. Passado um pouco, ele mandou-me um toque mas
eu não tinha dinheiro para lhe telefonar, por isso tomei rumo a casa da minha amiga. O
pior é que era uma sexta-feira e teria que esperar até segunda-feira para o ver outra vez
e estarmos juntos na aula de Francês.


    Não sei porque ansiava pela segunda-feira talvez porque queria matar saudades, mas
acabou por acontecer tudo ao contrário ele acabou tudo na aula de Francês. Fiquei mal
disposta, cheia de tonturas e pedi a professora para me ir acalmar, saí da sala e comecei
a chorar, parecia que tinha morrido alguém, e se calhar até morreu, eu.




9
Perguntei-lhe porquê, e ele disse que eu só lhe mentia, ele pode não acreditar mas ele
é a única pessoa a quem eu nunca menti, EU AMO-O E PARECE QUE A ÚNICA
PESSOA QUE NÃO O PERCEBE E ELE.
 Estou muito abalada e não me apetece falar nisso, já é a segunda vez que ele me deita
completamente abaixo e eu tomei uma decisão, a partir de agora A LILIANA
MORREU E NÃO VOLTA.
 Era terça-feira e eu decidi ir para os Salesianos, precisava de desabafar com alguém e
pensei logo na Inês. Quando ia a caminho, fui com ele e acabou tudo como sempre aos
berros e aos pontapés, o pior é que na noite anterior um dos meus ex-namorados esteve-
se a atirar a mim, o primo da minha melhor amiga, o Pedro, mas isso não interessa.
     Não sei como ao fim de uma semana ou mais, eu e o Rodrigo conseguimos fazer as
pazes, ele disse-me que ainda me amava e eu senti-me obrigada a dizer-lhe a verdade,
que também o amava. Também não posso deixar de admitir que estou feliz por
namorarmos outra vez, e, que nunca mais vou esquecer este namoro, um dia mais tarde
talvez… eu ao ler este texto me ria de tanta confusão.




                      Cláudia Pereira




10
Bolhas (feias, bonitas, boas e más)


Bolhas, bolhas, bolhas
Bolhas de sabão
Bolhas de algodão
Bolhas dos pés dos crentes caminhantes
Bolhas de ar e labaredas de fogo
“Bolhas” do rosto de gente de idade tenra
Bolhas, bolhas, bolhas
Todas juntas na banheira ou no tanque
Nas mãos de um bebé
Ou nas de uma lavadeira
Lavadeira que tem bolhas nas mãos, nos pés e nas bolhas
Bolhas, bolhas, bolhas.




Ana Margarida Gonçalves Coelho Torres Centeno
8º ano




11
Passagem



O pincel com tinta negra
Na água límpida se desfaz
De água pequenina
Passa para água de criador,
Água de inventor,
Água de pai e de mãe,
Água de caiador ou de pintor.
A tinta se desfaz na água
Num simples poisar de pincel.




Ana Margarida Gonçalves Coelho Torres Centeno
8º ano




12
Mundo dos sonhos


O mundo dos sonhos
É um mundo invisível
É um mundo transparente e mágico.
Só alguns é que lá vão,
E esses desejam ficar lá para sempre.
É um mundo onde o imaginário é real
Onde os pássaros voam mais alto,
Onde as palavras pairam pelo ar,
Onde o arco-íris é mais colorido,
Onde o mar é mais azul,
Onde o sol é mais brilhante,
Onde podes ser aquilo que queres,
Pois o mundo dos sonhos
É o melhor refúgio.
Para ir lá,
Não é preciso ver,
Nem ouvir,
Nem sentir,
Basta pensar que temos asas
E voamos...




13
Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço
                                      8ºano




14
Sou


Sou aquilo que sou,
Não sou aquilo que faço,
Quero aquilo que sou,
Não sou aquilo que quero,
Apenas sou...
Apenas eu...




15
Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço
                                      8º ano




16
Conversa de Silêncios




Não sei bem o que te quero dizer
Procuro palavras para algo indefinido
Estamos frente a frente, olhos nos olhos
E a única coisa que sei é que quero ficar assim
Sinto-me perdida, confusa
Trocamos silêncios
Pareces também não saber o que dizer
Não sei ao certo
Já nem tentamos proferir palavras
Para quê?! Só complicam tudo!
Quero tocar-te
Quero sentir a tua realidade
Aproximamo-nos a medo
Centímetro a centímetro
A distância encurta-se
O tempo parece parar
No momento em que te toco, alguém chama
Palavras que parecem ferir
Resgatam-me para a realidade
Só tenho tempo para mais um olhar
Antes de despertar
Mas sei que ficarás sempre aqui
Para terminarmos a nossa conversa de silêncios.




                                                  Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano


17
18
Sozinha


Um dia serei uma folha,
De um caderno na tua mão.
Um dia serei uma palavra,
Que sairá dos teus lábios
Um dia serei um sussurro
Numa noite escura
Um dia serei um gesto
Que farás sem pensar
Um dia serei um resto
De uma nada sem perdão
Um dia serei um verso
Que alguém irá repetir
Um dia serei um olhar
Esquecido nos teus olhos
Um dia serei liberdade
De cantar lá do fundo
Um dia serei saudade
Do tempo do passado
Um dia serei nota
Da música que não cantas
Um dia serei fotografia
De um momento parado
Um dia serei magia
Que não aprendeste a fazer
Um dia serei alegria
Por te ver
Agora sou ilusão
De quem procura um caminho
Agora, simplesmente,
Te espero
Agora, simplesmente,

19
Sou eu
Agora, simplesmente,
Sozinha…


                       Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano




20
Se eu te perdesse


Se eu te perdesse,
Não chorava, ria,
Para me lembrar de ti.
Ao rir-me sei que
Onde quer que estivesses
Ririas comigo, como rimos agora!
Se eu te perdesse
Sonhava, com o dia em que te iria encontrar!
Sonhava todas as noites contigo,
Com o teu sorriso inconfundível,
Com as tuas gargalhadas,
E aí sim, chorava,
Por não te poder ter ao pé de mim,
Por me teres deixado sozinha,
Como tinhas prometido não fazer!
Se eu te perdesse,
Perdia uma parte de mim,
A parte que não esquece que estás lá,
Quando eu precisar, a toda a hora!
Se eu te perdesse
Nunca mais descansava,
Até te encontrar, porque,
Te adoro!


                                               Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano




21
África Minha


Tantas vidas que se perdem
Porque ninguém vê!
Tantas lágrimas que correm a juntar-se aos mares, lá longe
Porque o gelo de alguns corações não derrete, por mais calor que esteja!
Tanta tristeza que ensopa a terra
No lugar da água que faz falta!
Tantos sonhos que pisam
Lugares que ficaram por descobrir!
Tantas histórias que cá tão perto
Parecem tão irrealizáveis como contos de fadas!
Tanto “pó de perlimpimpim”
Que perdeu a magia nas viagens do vento!
Tantos olhos
Que não viram senão nada!
Tanta incerteza
Num futuro tão distante!
Tanta espiga
Que nunca chega a crescer!
África minha,
Cá tão perto, lá tão longe…


                                                  Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano




22
Simplesmente o mar


Porque é que eu não posso ser o mar,
Viver o mar, amar o mar?
Porque é que eu não posso ser uma onda,
Uma simples onda num ciclo vicioso,
Enrolada na areia?
Porque não um peixe, uma onda,
Simplesmente o mar?
Simples e simplesmente o mar,
A solidão do mar,
A beleza do mar,
A simplicidade do mar…




                                          Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano




23
Não consigo esquecer


Lembro-me daquelas horas
De cada sessenta minutos
De cada sessenta segundos
Foram roubados
Mudaram-me
Lembro-me de cada palavra
Lembro-me de cada lágrima
Minha e tua
O nosso olhar era um ciclo vicioso
Tu começavas-me e acabavas-me
Tu preenchias-me
Ainda preenches, mesmo passado tanto tempo
Lembro-me da chuva que caía
Completando o meu estado de espírito
Lembro-me de tudo o que senti
Traíste-me, subjugaste-me
Lembro-me de tudo o que ainda sinto: saudade
Apenas não me lembro do que era
Antes, muito antes de ti
Esqueci-me, perdi-me sem poder evitar
Não me revejo nas fotografias
Tiradas há tanto tempo
Não sou eu, não consigo ser
Não vejo as mesmas coisas
Não sinto nada
Não existo concretamente
Não consigo esquecer…




24
Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano




25
Prosa (3º ciclo)




26
Apocalipse



 O século XXI permitiu grandes avanços tecnológicos e culturais no ramo da Ciência.
Um deles foi a invenção de carros resistentes à gravidade, que eram capazes de flutuar
na atmosfera e atingir grandes velocidades em caso de emergências (deixou assim de
haver nascimentos em auto-estradas).
 Seguindo o exemplo dos carros Volkswagen, os líderes mundiais decidiram fazer
estes automóveis os “carros do povo”, economicamente acessíveis, fáceis de conduzir e
“com estilo”. Depressa, quase todos os cidadãos do mundo (que estava agora todo unido
pela ONU) possuíam um carro destes.
 Contudo, tanto a construção como o uso destes carros causavam poluição e, em menos
de sete anos, metade da já tão danificada camada de ozono desapareceu. Era raro o rio
ou costa marítima com água limpa. Várias espécies animais e vegetais se extinguiram e
as pessoas começaram a adoecer.
 A mortalidade subiu em todos os países. Os hospitais estavam cheios e o governo, não
podendo ignorar mais esta situação, mandou construir mais hospitais. Edifícios como
estádios de futebol, teatros e parques de diversões foram demolidos para dar lugar a
hospitais. Em breve, a falta de espaço para hospitais obrigou as pessoas a demolir os
monumentos históricos, como a Estátua da Liberdade, a Torre de Pisa e a Torre Eiffel.
Por pedido dos egípcios, as grandes pirâmides não foram demolidas, tendo sido
construídos hospitais dentro das pirâmides.
 Vendo as Sete Maravilhas do Mundo desaparecer, tal como tudo o que era bonito e
pelo qual valia a pena a lutar, as pessoas (tanto saudáveis como doentes) começaram a
entristecer de tal maneira que a percentagem de suicídios triplicou. Como muitos dos
suicidas eram médicos, deixou de haver menos doentes curados e mais mortes.
 Por fim, o Aquecimento Global revela-se em toda a sua glória. Inundações em escala
mundial. Os pólos desaparecem. A Madeira, o Havai, as Filipinas, o Japão, todas
desapareceram. Uma segunda Idade do Gelo aparece.
 Os únicos vestígios da presença humana neste planeta são agora apenas fósseis e
satélites artificiais que orbitam a Terra, inutilmente.


27
Moral da História:
Colhemos o que semeamos. O tão chamado “Apocalipse” não é o nosso castigo. São as
nossas colheitas.




David Chorão, 8º ano




28
Mortais


A peça acaba
E os actores agradecem
O prédio desaba
Até as montanhas esmorecem


As luzes são apagadas
O livro é posto na prateleira
As obras são acabadas
Não duram uma semana inteira


A queda de um Império
A autoridade assassinada.
Outra morte levada a sério
Uma população vingada


Tal como no farol
Que sempre muda essa luz guia,
Também nasce o Sol
E não dura mais que um dia.




David Chorão, 8º ano




29
Horizonte


       Ele olhava para o vazio, como se nada nem ninguém o rodeasse. Os seus olhos
transmitiam uma certa tristeza, parecia que o mundo tinha desabado sobre ele. E ele
olhava com olhos, de quem olha para o infinito, tinha-se esquecido de tudo, era como se
fosse o único ali sentado. Estava imóvel, parecia uma estátua, o seu rosto pálido
transmitia a sensação de solidão, como se fosse o único à face da Terra.
       Tudo em seu redor tinha movimento, tudo se mexia, tudo falava, tudo gritava,
tudo corria, e eu estava ali a olhar para ele, olhava para os seus olhos cor de esmeralda,
ele não pestanejava, apenas olhava, talvez para o “nada”. Eu observava-o atentamente,
acho que ele não se apercebeu que eu ali estava, aliás, acho que não se apercebia de
nada. Era estranho ver no meio de tanto ruído, de tanto stress, um rapaz sentado, a
olhar... simplesmente a olhar!
       Tão bom que era se todos nós olhássemos para o mundo só com olhos de olhar...
       E ele continuava ali, no meio de tudo, parecia que estava no centro de um
remoinho. Eu continuava a observá-lo, ele parecia diferente dos outros, parecia que
tinha algo especial. As esmeraldas no seu rosto cintilavam, e de repente ele fechou os
olhos, as esmeraldas tinham desaparecido e pela sua face corriam lágrimas de
esperança, esperança que o mundo se voltasse a erguer e que o sol voltasse a brilhar.
Virou a cara e reparou que eu olhava para ele atentamente, fiquei um bocado
embaraçada e reparei que os seus olhos cor de esmeralda, eram agora da cor do mar e
que as lágrimas que corriam pelo seu rosto eram pequenas pedras de sal.
       Arrumei as minhas coisas e sai porta fora. Não tive coragem de ir ter com ele,
tinha ficado um pouco envergonhada. Durante o caminho só pensava na tristeza dos
seus olhos, nesse momento senti um vazio no peito, mas pensei que no fim os seus
olhos transmitiam esperança de que um dia tudo se resolvesse.
       Ele deve ter ficado um pouco intrigado por me ver sair dali daquela maneira.
Fiquei arrependida e voltei atrás, mas ele já lá não estava.
       Cheguei a casa um pouco triste, tirei a mochila e deixei-a ao lado da porta do
meu quarto, normalmente costumo desarrumá-la e guardá-la no armário, mas naquela
altura apetecia-me estender na cama para descansar. Foi o que fiz, abri a janela, deitei-
me e olhei para o tecto. Tentei imaginar o “nada”, mas não consegui, tentei imaginar o

30
infinito e também não consegui. Fechei os olhos, o vento que entrava pela janela batia-
me na cara, imaginei que estava na praia a ouvir o som das ondas. O azul dos olhos do
rapaz reflectia-se na vasta extensão de lágrimas salgadas que se tinham juntado e
formado um grande lago azul, que junto à costa formava pequenas camadas de algodão
provocadas pelas pequenas ondas, que faziam lembrar o cabelo ondulado do rapaz.
Olhei para o fundo, onde o azul do grande lago unia-se com o tom rosado do céu,
formavam uma longa e fina linha, era a única coisa que os separava, era o equilíbrio
entre os dois. Parecia que o grande lago empurrava o céu, e este empurrava o grande
lago. Lutavam os dois entre si, uma luta entre o mal e o bem. O mal queria reduzir tudo
a cinzas, e o bem erguer-se delas. Mas os dois juntos, unidos, formavam a perfeição.
Dei por mim fixada na linha perfeita que os dois formavam, olhava imóvel para o
horizonte e sentia um vazio dentro de mim, sentia que a minha vida se resumia ao
encontro da perfeição e que finalmente a tinha encontrado.
       Depois o sol emergiu do azul e rompeu o rosado do céu, o seu brilho formava
um longo caminho no lago. Os meus olhos começaram a cintilar, tal e qual como os do
rapaz, e o vazio que estava dentro de mim encheu-se de cor. A felicidade instalou-se no
meu coração, e naquele momento desejei nunca mais acordar!




31
Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço
                                      8º ano




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Apocalipse



 O século XXI permitiu grandes avanços tecnológicos e culturais no ramo da Ciência.
Um deles foi a invenção de carros resistentes à gravidade, que eram capazes de flutuar
na atmosfera e atingir grandes velocidades em caso de emergências (deixou assim de
haver nascimentos em auto-estradas).
 Seguindo o exemplo dos carros Volkswagen, os líderes mundiais decidiram fazer
estes automóveis os “carros do povo”, economicamente acessíveis, fáceis de conduzir e
“com estilo”. Depressa, quase todos os cidadãos do mundo (que estava agora tudo unido
pela ONU) possuíam um carro destes.
 Contudo, tanto a construção como o uso destes carros causavam poluição, e em menos
de sete anos, metade da já tão danificada camada de ozono desapareceu. Era raro o rio
ou costa marítima com água limpa. Várias espécies animais e vegetais se extinguiram, e
as pessoas começaram a adoecer.
 A mortalidade subiu em todos os países. Os hospitais estavam cheios, e o governo,
não podendo ignorar mais esta situação, mandou construir mais hospitais. Edifícios
como estádios de futebol, teatros e parques de diversões foram demolidos para dar lugar
a hospitais. Em breve, a falta de espaço para hospitais obrigou as pessoas a demolir os
monumentos históricos, como a Estátua da Liberdade, a Torre de Pisa e a Torre Eiffel.
Por pedido dos egípcios, as grandes pirâmides não foram demolidas, tendo sido
construídos hospitais dentro das pirâmides.
 Vendo as Sete Maravilhas do Mundo desaparecer, tal como tudo o que era bonito e
pela qual valia a pena a lutar, as pessoas (tanto saudáveis como doentes) começaram a
entristecer-se de tal maneira que a percentagem de suicídios triplicou. Como muitos dos
suicidas eram médicos, deixou de haver menos doentes curados e mais mortes.
 Por fim, o Aquecimento Global revela-se em toda a sua glória. Inundações em escala
mundial. Os pólos desaparecem. A Madeira, o Havai, as Filipinas, o Japão, todas
desapareceram. Uma segunda Idade do Gelo aparece.
 Os únicos vestígios da presença humana neste planeta são agora apenas fósseis e
satélites artificiais que orbitam a Terra, inutilmente.


Moral da História:

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Colhemos o que semeamos. O tão chamado “Apocalipse” não é o nosso castigo. São as
nossas colheitas.


David Chorão, 8º ano




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Horizonte


       Ele olhava para o vazio, como se nada nem ninguém o rodeasse. Os seus olhos
transmitiam uma certa tristeza, parecia que o mundo tinha desabado sobre ele. E ele
olhava com olhos, de quem olha para o infinito, tinha-se esquecido de tudo, era como se
fosse o único ali sentado. Estava imóvel, parecia uma estátua, o seu rosto pálido
transmitia a sensação de solidão, como se fosse o único à face da Terra.
       Tudo em seu redor tinha movimento, tudo se mexia, tudo falava, tudo gritava,
tudo corria, e eu estava ali a olhar para ele, olhava para os seus olhos cor de esmeralda,
ele não pestanejava, apenas olhava, talvez para o “nada”. Eu observava-o atentamente,
acho que ele não se apercebeu que eu ali estava, aliás, acho que não se apercebia de
nada. Era estranho ver no meio de tanto ruído, de tanto stress, um rapaz sentado, a
olhar... simplesmente a olhar!
       Tão bom que era se todos nós olhássemos para o mundo só com olhos de olhar...
       E ele continuava ali, no meio de tudo, parecia que estava no centro de um
remoinho. Eu continuava a observá-lo, ele parecia diferente dos outros, parecia que
tinha algo especial. As esmeraldas no seu rosto cintilavam, e de repente ele fechou os
olhos, as esmeraldas tinham desaparecido e pela sua face corriam lágrimas de
esperança, esperança que o mundo se voltasse a erguer e que o sol voltasse a brilhar.
Virou a cara e reparou que eu olhava para ele atentamente, fiquei um bocado
embaraçada e reparei que os seus olhos cor de esmeralda, eram agora da cor do mar e
que as lágrimas que corriam pelo seu rosto eram pequenas pedras de sal.
       Arrumei as minhas coisas e saí porta fora. Não tive coragem de ir ter com ele,
tinha ficado um pouco envergonhada. Durante o caminho só pensava na tristeza dos
seus olhos, nesse momento senti um vazio no peito, mas pensei que no fim os seus
olhos transmitiam esperança de que um dia tudo se resolvesse.
       Ele deve ter ficado um pouco intrigado por me ver sair dali daquela maneira.
Fiquei arrependida e voltei atrás, mas ele já lá não estava.
       Cheguei a casa um pouco triste, tirei a mochila e deixei-a ao lado da porta do
meu quarto, normalmente costumo desarrumá-la e guardá-la no armário, mas naquela
altura apetecia-me estender na cama para descansar. Foi o que fiz, abri a janela, deitei-
me e olhei para o tecto. Tentei imaginar o “nada”, mas não consegui, tentei imaginar o
infinito e também não consegui. Fechei os olhos, o vento que entrava pela janela batia-

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me na cara, imaginei que estava na praia a ouvir o som das ondas. O azul dos olhos do
rapaz reflectia-se na vasta extensão de lágrimas salgadas que se tinham juntado e
formado um grande lago azul, que junto à costa formava pequenas camadas de algodão
provocadas pelas pequenas ondas, que faziam lembrar o cabelo ondulado do rapaz.
Olhei para o fundo, onde o azul do grande lago se unia com o tom rosado do céu,
formavam uma longa e fina linha, era a única coisa que os separava, era o equilíbrio
entre os dois. Parecia que o grande lago empurrava o céu e este empurrava o grande
lago. Lutavam os dois entre si, uma luta entre o mal e o bem. O mal queria reduzir tudo
a cinzas e o bem erguer-se delas. Mas os dois juntos, unidos, formavam a perfeição. Dei
por mim fixada na linha perfeita que os dois formavam, olhava imóvel para o horizonte
e sentia um vazio dentro de mim, sentia que a minha vida se resumia ao encontro da
perfeição e que finalmente a tinha encontrado.
       Depois o sol emergiu do azul e rompeu o rosado do céu, o seu brilho formava
um longo caminho no lago. Os meus olhos começaram a cintilar, tal e qual como os do
rapaz, e o vazio que estava dentro de mim encheu-se de cor. A felicidade instalou-se no
meu coração, e naquele momento desejei nunca mais acordar!




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Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço
                                      8º ano




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Fiapos da Noite


Juro solenemente que não revelo nada a ninguém.
Mas posso escrever isto no papel, certo?
Muito bem… Aqui vai. A minha amiga foi possuída por um espírito.
E não estou a delirar.
       Tudo começou depois da entrega do teste de Matemática.
Acho que a Kisa teve sempre uma auto-estima abaixo de zero, mas depois do teste…
Bem, teve negativa, não porque não soubesse a matéria, porque saber ela sabe. O
problema é o sistema nervoso. Acho que nem vale a pena dizer-lhe que tem de se
acalmar porque ela já deve ter ouvido isso, tanta vez, que na minha opinião só a
desmoraliza mais, pois ela tenta controlar-se, nota-se à distância, mas não consegue. A
Kisa está sempre com medo e nervosa com alguma coisa, mas desta vez foi demais.
Dizia que era uma inútil e que não sabia fazer nada de jeito, enquanto chorava
copiosamente no chão da casa de banho. Eu, consternada, tentava animá-la como podia,
mas desisti ao fim de algum tempo, pois, tenho de admitir que já passei exactamente
pelo mesmo e sei perfeitamente que é melhor deixar-nos um bocado sozinhas para nos
acalmarmos.
       Mas ela estava tão pálida e trémula, que de repente fez-se luz no meu espírito.
Como sempre, a Kisa estava com o IPOD nos ouvidos e então percebi que ela usava
esse IPOD como um escape ao mundo real e pela maneira como ela se estava a
comportar nos últimos dias cheguei à conclusão que ela estava com uma ligeira
depressão em cima.
- Kisa…- comecei eu - Anda vamos para casa, as aulas já acabaram.
Ela limpou os olhos com uma mão enquanto mudava mais uma vez de música.
- Ok. – respondeu ela
       Durante o caminho tentei meter conversa com assuntos mas ela só acenava com
a cabeça em concordância.
Quanto chegámos à porta da casa dela reparei que ela estava novamente à beira das
lágrimas. Abracei-a e tentei dizer alguma coisa, mas ela soluçava tanto que desisti.
- Não consigo Chiyo. A sério que não. – acabou ela por dizer.
- Claro que consegues. Só precisas de ter confiança em ti.
       Ela afastou – se e disse adeus com a mão enquanto tocava à campainha.

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- Vemo-nos amanhã! – disse eu um bocado à pressa porque já estava atrasada para a
aula de violino.
       Se eu não tivesse desatado a correr, teria visto a Kisa a afastar-se de casa e a
tomar um caminho completamente diferente do habitual.


Nessa noite, eu tentava comer a minha sopa mas não tinha apetite nenhum. Não
conseguia afastar o pressentimento de que tinha acontecido alguma coisa.
- Mana… Mana… Terra chama Chiyo! Missão suspendida pode regressar!
- O quê?! – perguntei eu sobressaltada fazendo com que a côdea do meu pão fosse parar
à sopa do meu irmão mais velho
- Já ouvi falar em guerras de tomate em Espanha, agora de pão…
- Muito engraçado Len.
- Mana, tá tudo bem? – perguntou a minha irmã mais nova.
- Sim, acho que sim…
- Não lhe ligues Yotsuba. Hoje a Chiyo está para lá de Bagdad.
- E tu hoje deves estar com a síndrome da Geografia! Cada frase que dizes é sempre
referente a uma terra!
- Como diziam os Gregos…
- Chega! – não sei porque é que estava tão irritada, normalmente eu dou-me muito bem
com os meus irmãos – Vou telefonar à Kisa!
- Boa ideia! Pode ser que ela te mude de humor! – afirmou o Len.
- Depositas sempre tanta confiança nela. – provoquei eu – Não te preocupes, se queres
um encontro é só pedir!
       O Len pôs-se muito vermelho e começou a tagarelar altíssimo com a Yotsuba
sobre o aquecimento global, mas é claro que como ela é só uma criança de nove anos
não percebeu muitos dos termos técnicos.
Fechei a porta da sala e marquei o número da Kisa mas ninguém atendeu.
- Estranho… - encolhi os ombros e desisti, muito provavelmente tinham a televisão alta
e não ouviram o telefone.
Voltei para a sala onde o Len e a Yotsuba estavam a levantar a mesa. Peguei num prato
para os ajudar quando o Len:
- Eis que regressa dos mortos, a filha do Drácula.




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Ele tinha razão. Eu estava com uma cara de moribunda, uma coisa sem explicação.
Como sempre, estava a preocupar-me para nada, porque para não variar estava a dar
demasiada importância aos meus pressentimentos esquisitos.
- Antes do Drácula do que da Britney Spears – respondi.
- Esta é a Chiyo que eu conheço! – exclamou ele com um sorriso. Tenho de admitir que
o meu irmão é muito giro. Cabelo preto para o comprido e uns olhos muito azuis. E tem
um grande sentido de humor. Deve ser por isso que as raparigas da escola dele o
perseguem incessantemente.
       A Yotsuba ainda é novinha, mas é muito querida. Tem o cabelo castanho
avermelhado e os olhos verdes. Anda sempre de totós que baloiçam de um lado para o
outro. Parece a Pippi das meias altas, sem a força e sem as meias, claro.
E eu? Sou normal. Quer dizer, sou ruiva, tenho o cabelo pelas costas ondulado, uma
franja que me tapa metade da cara e os olhos verdes, tão verdes que quase parecem
amarelos. Fim. É só. Avançando.
       Após ter levantado a mesa, fui para o meu quarto ouvir música.
Estava tranquilamente a ouvir o “Runaway” da Pink, quando a Yotsuba bateu à porta do
meu quarto entrando logo de seguida.
- O que foi? – perguntei eu sem deixar de olhar para o ecrã do computador.
- Está alguém lá fora para falar contigo.
- É a Kisa?
- Não. – achei o tom da voz dela demasiado tenso portanto virei-me e pude verificar que
ela estava muito assustada.
- Credo Yotsuba! – exclamei eu levantando-me – Estás com essa cara porquê?
       Saí do quarto e desci as escadas, indo ter ao hall de entrada, onde estava o Len
com cara de caso.
- Mas afinal o que é que se passa? – perguntei-lhe.
- Vai até à porta e já vês. – respondeu-me ele com uma expressão muito séria. De
repente fiquei preocupada. O meu irmão é uma pessoa sorridente e bem-disposta por
natureza, mas quando põe uma expressão séria, parece que o mundo inteiro vai desabar.
       Corri até à porta com o coração nas mãos e quando lá cheguei vi dois polícias
gigantescos, com uns braços com a espessura de uma casa e um pescoço como uma
chaminé.
- Sim? – inquiri eu um bocado a medo. De que eu me lembrasse, não tinha feito nada
que infringisse a lei, por isso estava ali um pouco abananada.

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- Presumo que conheça a Kisa, certo? – começou um deles.
- Sim.
- Esteve com ela o dia todo?
- Sim. – parecia que não conhecia outra palavra – Mas passa-se alguma coisa com ela?
- A sua amiga desapareceu. Ninguém a viu, ninguém sabe dela.
         Gelei por dentro.
“To runaway… Runaway” – a música continuava a tocar.
- Não… Não sei de nada que os possa ajudar – acabei por dizer – Deixei-a à porta de
casa e vi-a a tocar à campainha. Não sei mais do que isto.
- Muito bem… Obrigado na mesma – disseram eles indo se embora – No entanto se se
lembrar de mais alguma coisa, não hesite em telefonar para a esquadra.
- Assim farei.
         O Len fechou a porta visto que eu fiquei especada sem conseguir mexer um
único músculo. Estava demasiado ocupada a tentar decifrar onde raio é que a Kisa se
teria metido.
- Chiyo. É melhor ires te deitar. – sugeriu ele
         Acenei que sim com a cabeça e subi as escadas onde a Yotsuba estava sentada,
agarrada ao seu coelho de peluche.
- A Kisa fugiu? – perguntou ela
- Não sei. – respondi eu, tendo raiva de mim mesma por me aperceber que não fazia a
mais pequena ideia onde ela pudesse estar
- Ela aparece. – declarou a Yotsuba calmamente – Talvez ela precise de estar um
bocado sozinha para espairecer.
         De repente a situação pareceu-me menos negra. Talvez a Yotsuba tivesse razão.
Mesmo só com 9 anos ela é uma pessoa muito racional e incrivelmente consegue
sempre tirar uma conclusão lógica de cada caso. Ainda bem, eu cá sou daquelas pessoas
que não pensa nas consequências e o meu irmão é do género “os cães ladram e a
caravana passa”.
Despedi-me dela e subi.
Quando cheguei ao quarto, vesti o meu pijama e dirigi-me à minha secretária para
desligar o computador, quando reparei num bilhete metido à pressa debaixo do teclado.
Nele estava escrito: “Vem ter comigo ao parque”.
Não estava assinado, nem nada, por isso presumi que fosse da Kisa e para além do mais,
a janela estava aberta e eu tenho a certeza de que ela estava fechada antes de eu sair.

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Vesti-me novamente e esperei uns vinte minutos antes de pular pela janela.
          Graças a Deus que o Len estava com os phones nos ouvidos, porque eu consegui
a proeza de cair com grande estrondo em cima de um arbusto.
Sai de casa a correr em direcção ao parque, enquanto começavam a cair uns flocos de
neve.
Quando lá cheguei, não vi ninguém. Dei pelo menos umas três voltas ao parque e não
havia vivalma ali presente.
- Kisa! – chamei eu por fim. Nada.
Cansada e cheia de frio, sentei-me num dos bancos e aconcheguei-me dentro do meu
casaco.
- Fixe… Quando chegar vai ouvir-me… - resmunguei eu entre dentes
Estava quase a adormecer, quando ouvi uma voz indistinta a chamar-me.
Pulei literalmente do meu assento e comecei logo a respingar.
- Ouve lá, qual é a tua ideia?! Tu és maluca ou quê?! Fazes ideia do que… - parei. Não
era a Kisa. À luz do candeeiro estava um ruivinho a olhar para mim com um ar muito
surpreendido.
- Olá? – arriscou ele – Vim em paz.
- Desculpa. – disse eu embaraçada – Pensava que era outra pessoa.
- A Kisa.
- Sim, eu… Espera lá como é que tu…
- Como é que eu sei que tu pensas que recebeste um bilhete da Kisa para vires até ao
parque, mas ela ainda não apareceu? – ele sorriu amigavelmente – Fácil. Quem te
mandou o bilhete fui eu.
Fiquei embasbacada a olhar para ele.
- Mas tu…
- Se eu te conheço? Conheço-te muito bem Chiyo. Até sei que tens um género de
“pressentimentos”, não é assim?
          Ok, tenho de admitir que estava a ficar assustada. Como é que ele sabia o meu
nome? E os pressentimentos? Nem sequer os meus irmãos têm conhecimento disso, e eu
conto-lhes sempre tudo.
- Não te assustes. – tranquilizou-me ele com um gesto. Até parecia que me estava a ler a
mente – Não te vou fazer mal e não sou nenhum pervertido que anda por ai. A questão
aqui é a seguinte: A Kisa precisa mesmo da tua ajuda.
- Precisa? O que é que aconteceu?

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- Acho que… Promete que não contas a ninguém.
- Juro. Juro pela…
- Jura pela tua aparelhagem. – o rapaz conhecia-me mesmo! Acho que me ia ter de
habituar.
- Pela minha aparelhagem, e que eu coma os meus CDS se quebrar a promessa.
        Ele sorriu outra vez.
- Muito bem, isto é o seguinte. Acho que a tua amiga foi possuída por um espírito.
        Bloqueei como um computador velho. Quando voltei a mim articulei apenas a
seguinte pergunta:
- Onde estão as câmaras?
Ele piscou os olhos confusamente.
- Desculpa?
- Sim, as câmaras. Isto é para os “Apanhados”, certo?
- Não há câmaras Chiyo. É a verdade. A minha irmã detecta espíritos que possuem as
pessoas.
Olhei para ele desconfiada.
- Como é que te chamas?
- Claro, desculpa, que cabeça a minha! Chamo-me Raitou.
- Muito bem… Raitou. Se o que tu dizes é verdade “e espero muito sinceramente que
não seja” – pensei eu cá para mim – Quero provas. Isto não é chegar aqui e contar uma
historinha qualquer. Dá-me complementos fiáveis.
- Vi logo que ias dizer isso. – ele riu-se – Por isso mesmo tomei a liberdade de gravar
isto.
        Passou-me uma câmara de filmar, e nela via-se a Kisa sentada ao pé de um
pântano de águas turvas com uma espécie de sombra atrás dela, e quando ela levantou o
olhar o vídeo começou a fazer barulhos estranhos e de repente apagou-se.
- Meu Deus… O que é que eu faço?! – perguntei eu praticamente aos berros – Raitou!
Tens de me ajudar! – estava tão desesperada que até me agarrei com todas as minhas
forças à blusa dele.
Ele atrapalhou-se um bocado com o meu gesto repentino, mas acabou por dizer:
- Claro que te ajudo. Foi para isso que vim. Mas tens de ir ver a minha irmã. Ela é que
pediu para vir buscar-te.
Nem pensei duas vezes. Acenei logo afirmativamente com a cabeça fitando-lhe os olhos
cinzentos.

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- Sim, sim! – Vá, vamos! – exclamei. Mais uma vez ele sorriu e começou a andar a toda
a velocidade.
       Eu ia atrás tentando acompanhá-lo. De repente lembrei-me de uma coisa.
- Olha, Raitou. – chamei eu. Ele parou e esperou que eu chegasse ao pé dele. – Tu
disseste que me conhecias perfeitamente, mas eu, pelo contrário, estou a zero. Como é
que isso é possível?
       Aí ele começou a rir-se como se eu tivesse contado a melhor anedota do mundo.
Por momentos lembrou-me a Kisa, porque ela também se ria assim sempre que eu dizia
a palavra “Topogigio”.
- Desculpa… - disse ele ainda a rir-se – Tu realmente escolhes as perguntas a dedo! Mas
eu não sou a pessoa mais indicada para te responder. Pergunta à minha irmã. Ela vai
adorar essa.
- … Ok. Já agora, podes andar mais devagar?
- Isso é que já não pode ser! Mas não te preocupes, estamos quase a chegar…
- Óptimo! estou estafada.
Após andarmos mais 20 quarteirões.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Tás a gozar! Senhor! – exclamei eu ajoelhando-me e
bradando aos céus (isto no meio da rua, com algumas pessoas ainda a passarem por ali)
– Tende piedade desta sua humilde serva. Transforme os meus pés em patins e arranje-
me uma merenda para o caminho (acabei por não jantar) e transforme este vil
torcionário – apontei para o Raitou – de doces olhos cinzentos para o inferno! – calei-
me e desatei a tossir
– Quer dizer… vil torcionário de olhos cinzentos como….. manatins, que são
amorosos, para o inferno!
- Acabaste?
- Não! E salve a Kisa por favor.
- Ok, Madre Superiora, a hora das rezas acabou. – reparei que ele estava ligeiramente
corado. Se eu reparei ele também, porque virou imediatamente a cara para o outro lado
e começou a andar novamente e ainda mais depressa.
       Fizemos o resto do caminho em silêncio e quando chegamos finalmente a uma
pequena vivenda com vista para o lago e ele parou.
- Bem… É aqui. Sei que não é muito grande…
- Eu gosto. – disse eu espontaneamente – É bastante bonita.
       Ele sorriu e tocou à campainha.

44
Veio abrir a porta uma rapariga que eu calculei que fosse a irmã dele. Estava escuro e eu
não conseguir ver a cara dela, mas ela foi muito simpática e convidou-nos logo a entrar.
- Está um gelo, não está? – perguntou ela enquanto passávamos pela porta. Eu
continuava sem ver nada porque a luz continuava apagada. De repente o Raitou fez o
favor de ligar o interruptor e eu vi a rapariga mais… Como dizer? Estranhamente bonita
que se possa imaginar.
Tinha o cabelo vermelho (pois eu disse que ela não era muito comum) duas madeixas de
cabelo preto e depois alguns bocados de cabelo branco (pintado obviamente) a caírem-
lhe até à cintura. Tinha uns olhos azuis mar esverdeado e uma blusa com umas mangas
larguíssimas, sendo estas rasgadas artisticamente e umas calças de ganga à boca-de-
sino.
- Tu deves ser a Chiyo, certo? – perguntou ela sorrindo, fazendo umas covinhas.
- Sim. Sou eu, E tu és a...
- Muito prazer! – exclamou ela dando-me um vigoroso aperto de mão que me ia
derrubando – Chamo-me Youko! Provavelmente deves ter mil e uma perguntas a fazer,
por isso segue-me até à cozinha. Fiz bolachas de chocolate! Podemos falar enquanto
comemos!
- À meia-noite e meia?! – Perguntou o Raitou abismado – Já te disse que és doida?
- Olha, aqui a “doida” vai comê-las juntamente com a Chiyo – ela deve ter reparado no
meu ar esfomeado – por isso se o senhor “horas certas” quiser fazer-nos companhia está
à vontade! – a Youko sabe mesmo responder ao irmão. E agora que reparava bem, ela
devia ser mais nova do que nós. Pelo menos do que eu, mas o Raitou devia ser da minha
idade.
- Youko, se não é indiscrição, posso perguntar-te quantos anos tens?
- Ora essa, que pergunta! Claro que podes! Tenho 14 anos e se conseguir aguentar a
convivência com o meu irmão até daqui a 3 semanas, faço 15. – Ela lançou um olhar
sugestivo ao Raitou que ripostou imediatamente com um sorriso muito cínico.
- Vê lá a minha sorte! Há 14 anos que convivo contigo! – Feitas as contas, cheguei à
conclusão que ele é um ano mais velho que eu.
Ela ignorou-o completamente.
- Anda. – Disse-me ela pegando-me na mão – As bolachas já devem ter arrefecido.
         Segui-a, visto que não tinha outra opção, mas aquelas bolachas deitavam cá um
cheirinho...
Sentei-me num banco que ela me indicou.

45
Enquanto ela verificava as bolachas, pus-me a observar a cozinha. Apesar de pequena
estava bastante arrumada e tinha uma grande janela que dava para o jardim. Reparei
também que numa mesa que estava ao meu lado, estava uma fotografia com um homem
e uma mulher sentados num muro. Subitamente, olhei para os olhos do homem e eram
exactamente iguais dos da cor da Youko. Depois vi que a expressão da mulher fazia
lembrar muito o Raitou.
Estava tão entretida a descobrir mais semelhanças que nem se quer reparei que a Youko
se tinha aproximado.
- São os meus pais. – Disse ela de repente, fazendo me dar um salto do banco.
- Já tinha reparado. – Disse eu – És muito parecida com o teu pai.
- Sim... – ela sorriu tristemente – Costumava ser.
- Youko... – comecei eu. Nunca me tinha passado pela cabeça que ela e o Raitou
pudessem ser órfãos.
- E o Raitou é a cara chapada da minha mãe. Ou pelo menos era. Mas temos a nossa tia.
         Órfãos de pai e mãe. Imagino as dificuldades porque tiveram de passar. E eu que
me queixava que os meus pais estavam sempre a trabalhar e que nunca os via.
Realmente, está provado que as pessoas nunca estão satisfeitas com o que têm.
         De repente, uma ideia afligiu-me a mente. Os meus pais! Eles deviam estar
agora do trabalho e com certeza que iriam fazer a “ronda dos quartos”. O que é que
diriam quando vissem a minha cama vazia?
         Duvido muito que eles acreditem que o sangue do Houdini me corre nas veias.
- Youko estou com um pequeno problema. – disse eu
Ela olhou para mim com uma cara como se tivesse acabado de acordar de um sonho
muito profundo.
- O quê?
- Os meus pais! Eles devem estar a chegar e de certeza absoluta que vão dar pela minha
falta!
- Oh, claro, tens razão! Anda, vem comigo! – Agarrou-me no pulso e saiu da cozinha,
mas não sem antes me enfiar três bolachas pela boca abaixo.
         Subimos as escadas e ela entrou de rompante no suposto quarto do Raitou.
- Temos de ir! – Gritou ela assustando-me e ao irmão
- Bate antes de entrar! Queres ser responsável por um enfarte?! – Exclamou ele agarrado
ao peito, ofegante.


46
- Deixa-te de queixinhas! Anda, os pais da Chiyo devem estar a chegar por isso temos
que ir já para o Mundo dos Espíritos!
- Mundo do quê? – Perguntei eu, mas acho que nenhum deles me ouviu. O Raitou saiu
disparado do quarto e levou-nos até à cave. Na cave estava uma porta que ele abriu mas
que tinha tijolo e cimento a tapar a entrada.
- Ora bem... Como é que passamos? – Perguntei eu – E as minhas perguntas ainda não
foram esclarecidas! Porque é que o Raitou sabe tanto sobre mim? Há algum motivo
especial para a Kisa ter sido possuída por um espírito?
- Boas perguntas, má altura para as fazer. – Disse a Youko muito rapidamente –
Resumidamente isto é assim. O Raitou é um “Vision Guardian”, ou seja, desde que
nasceu que a missão dele é proteger a pessoa que possui o dom da visão, ou seja, tu
Chiyo. Ele sabe tudo sobre ti desde o teu primeiro minuto de vida.
- Mas... Eu fiz as contas e quando eu nasci ele só podia ter um ano no máximo!
- Sim, mas a especialidade dos “Vision’s Guardians” é terem o conhecimento total da
pessoa que estão a proteger, mesmo que seja inconscientemente.
- Mas eu não tenho o dom da visão! – Exclamei – Apenas tenho alguns
pressentimentos!
- E tu achas que isso vai derivar em quê? – Interrompeu o Raitou.
- E porquê é que só agora é que eu sei disso?
- Porque fizeste agora os 16 anos. – Explicou a Youko – É nessa idade que se dá a
mudança.
- E a Kisa?
- Pelos vistos a tua amiga tem tendência para atrair espectros e segundo as minhas
observações este não é particularmente amistoso.
- De que eu me lembre, a Kisa nunca tinha ficado assim. Bem, é verdade que ela é um
bocado nervosa, mas...
- Não é questão de ser nervosa ou não, mas se uma pessoa está mais fragilizada do que o
habitual e já tem apetências para ser possuída, então é mais do que certo que isso vai
acontecer. – Disse o Raitou desenhando com a ponta dos dedos símbolos esquisitos na
parede da porta.
- Isto claro, se um dos espíritos tiver escapado da sua prisão. Existem espíritos benignos
e malignos. Acho que nem vale a pena dizer a que classe este pertence. – Esclareceu a
Youko – É por isso que vamos agora para o Mundo dos Espíritos. A Kisa está lá.
- E ninguém vai dar pela nossa falta?

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- Não. Quando entras no Mundo dos Espíritos, o tempo pára no Mundo Real.
- Ora bem minha gente está tudo pronto. – Informou o Raitou. Olhei para a suposta
parede e verifiquei que esta tinha desaparecido. No lugar dela estava um enorme buraco
preto que onde se escapava um vento frio e sibilante.
- De certeza que é seguro? – Perguntei eu com dúvidas. Era impossível ver o fundo com
aquela escuridão. Aproximei-me e pus-me a olhar para baixo.
- Escusas de olhar. – Disse o Raitou – Isto não tem fundo.
- E esperam que eu salte ali para dentro?! – Exclamei eu.
- Yup! – Disse Youko deixando a sua cara transparecer a sua felicidade – Bora lá
Chiyo! – Sem aviso prévio, correu para mim como uma flecha de braços esticados
- Ah não, nem penses! – Guinchei eu afastando-me atabalhoadamente. A Youko com a
velocidade que ia, não conseguiu travar a tempo e atirou-se literalmente em queda livre
para o buraco.
- Oh, meu Deus! – Bradei eu espreitando para o buraco – Acabei de matar a Youko!
- Senhoras, primeiro! – Proclamou o Raitou empurrando-me com toda a força.
Berrei tanto que mais parecia que me estavam a mutilar os membros e mantinha
teimosamente os olhos fechados enquanto o vento fustigava a minha cara como lâminas
afiadas.
De repente ouvi um sonoro “splash” e senti-me molhada até ao tutano!
Vim ao de cima, preparadíssima para descarregar toda a minha ira em cima do Raitou,
quando vi a Youko rindo-se a bandeiras despregadas.
Sai de água e olhei em volta. Estávamos na rua e era tudo.............................
Absolutamente igual.
- Bem-vinda ao Mundo dos Espíritos! – Exclamou a Youko feliz.
- Obrigado... Mas isto é tudo exactamente igual ao Mundo Real.
- Nem tudo. – Disse o Raitou aparecendo de repente – Aqui não existem “pessoas
normais”.
- Tu incluído! Ainda estou para me vingar! – Prometi eu, de dedo em riste.
- Fico à espera. – Sorriu ele, divertido.
- Muito bem pombinhos! – Corámos os dois. Eu não estava interessada nele! Nada! – A
nossa missão é encontrar a Kisa! Para informações mais detalhadas vamos ter com o
“Ghost Keeper” desta região!
- Região? – Perguntei eu.
- Sim, já disse que este mundo é exactamente igual ao nosso.

48
- Então é como se isto fosse o mundo real do Além?
- Podemos dizer isso. – Esclareceu o Raitou, tentando evitar cruzar o seu olhar com o
meu.
- Vamos embora! – Ordenou a Youko, tomando a liderança. Andámos pelas ruas onde
os espíritos andavam em conversa amena ignorando-nos completamente.
- Eles não estranham andarmos entre eles?
- Não, eles não nos vêem.
        Estávamos a passar por um beco quando me deu a sensação de ter visto de
relance a Kisa.
Parei e entrei dentro do beco, mas ali só havia caixotes do lixo e latas vazias.
- O que estás a fazer? – Perguntou o Raitou – Convêm não nos separarmos.
- Pareceu-me ter visto a Kisa. – Justifiquei-me, olhando para ele. Ele franziu as
sobrancelhas e olhou para cima como se estivesse a farejar o ar. De repente agarrou-se à
cabeça e caiu desamparado no chão gemendo baixinho.
- Raitou! – Exclamei eu, baixando-me para ficar ao mesmo nível que ele – O que foi? O
que é que se passa?
- Sai... Sai daqui. – Balbuciou ele, começando a contorcer-se como se tivesse apanhado
um choque eléctrico. Obviamente que não fiz o que ele me disse, pois nunca ficaria com
a consciência limpa se lhe acontecesse alguma coisa. Olhei para a parede e vi que ela
tinha uma espécie de vórtice e que de lá saia uma espécie de energia.
Tive o pressentimento que o problema vinha dali, mas até a pessoa mais obtusa chegaria
a essa brilhante conclusão.
Peguei num pau que estava ali caído e aproximei-me cautelosamente da parede. De
repente fui assombrada por uma visão.
Vi a Kisa num meio de um pântano, pálida como a morte juntamente com outros
cadáveres. Ela movia a boca como se estivesse a dizer qualquer coisa e depois abriu os
olhos completamente brancos a começou a sangrar abundantemente da boca e a rir-se
até se engasgar e começar a arranhar-se ferindo-se de propósito como se a dor fosse
benéfica.
Virou-se de lado e sorriu para mim com um fio de sangue a escorrer-lhe novamente da
boca.
        Perante aquilo que vi, investi com todas as minhas forças contra a parede, mas
fui interrompida por um braço que me agarrou com força e me impediu de avançar.


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Continuei a movimentar o meu outro braço que tinha o pau como se estivesse a fazer
golpes de espada mas um outro golpe fez com que eu o largasse.
- Está quieta! – Ordenou a pessoa que me agarrou – Não consegues matar um “Death
Soul” com um pau! – Pela voz percebi que era de rapariga. Olhei para ela e ela olhava
para mim com tanta firmeza que parei de esbracejar como uma doida e recuei.
       Ela olhou para mim com um olhar satisfeito e percebi que tinha feito a escolha
acertada.
A rapariga fez um gesto no ar e apareceu uma foice que a representação da morte
costuma trazer. Disse para ali uma ladainha qualquer e aquilo na parede começou a
perder energia. O “Death Soul” tinha desaparecido mas deu-me a sensação que não
tinha morrido completamente e o vento soprava com tanta força que até parecia ele
furioso, a barafustar. A rapariga deve ter achado o mesmo porque agitou a foice
ameaçadoramente como se fosse pregar com ela na cabeça dele caso ele voltasse.
Depois correu para o Raitou que jazia ali no chão completamente inerte. Fiz o mesmo e
pus-me de joelhos, bem na verdade atirei praticamente para cima dele, mas isso é
apenas um pormenor... De repente ela passou com o dedo na lâmina da foice (ainda
estou para descobrir como é que ela não se cortou) e apareceu vindo do nada um sujeito
com um ar decididamente psicótico e que fazia parecer que o ar tinha ficado pesado sem
motivo aparente.
- Não te vai fazer mal. – Disse a rapariga calmamente – A sensação que sentes é apenas
passageira, vais habituar-te.
Pois, e até lá tinha que aguentar com um tipo mais gótico que o Marilyn Manson olhar-
me pelo canto do olho.
- Neji, não sejas indiscreto. – Ordenou a rapariga tentando manter-se séria, mas eu
estava a ver que ela se estava a partir a rir. – Faz o teu trabalho.
- Mas é tão emocionante! – Exclamou ele – Quer dizer, é tal e qual como dizia o teu pai!
Um humano verdadeiro! Mesmo à minha frente!
- Sonho de vida concretizado... Podes morrer em paz. – Disse a rapariga.
- Disparate! Sabes perfeitamente que eu não posso morrer assim sem mais nem menos!
       Eu olhava para eles completamente a leste. Aqueles dois tagarelavam tão
embrenhadamente que eu começava a desconfiar que eles se tinham esquecido do
Raitou!
- Desculpem... – interrompi eu suavemente – Mas, podem ajudar? É que eu gostava
muito que o meu amigo vivesse se não se importam...

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É claro que é uma maneira um bocado estúpida de pedir que “ressuscitem” uma pessoa
mas eu estava chocada com a figura que se apresentava à minha frente. Quer dizer, o
sujeito era altíssimo e tinha um cabelo preto escorrido e comprido que lhe chegava aos
ombros e uns olhos amarelos e muito assustadores. Um autêntico Marilyn Manson!
Estive tentada a perguntar-lhe se ele não tinha um olho de vidro. Vestia-se todo de preto
com correntes a envolverem o casaco de cabedal e uns botas de tropa também pretas. A
pele dele era extremamente pálida como se nunca tivesse apanhado um único raio de sol
na sua vida, porém comportava-se de uma maneira completamente normal. Bem...
excentricamente normal.
- Oh, pois! – Exclamou a rapariga – Neji, dá aqui uma mãozinha.
       O Neji aproximou-se do Raitou e colocou o seu polegar no meio da testa dele.
Depois uma espécie de halo emanou dos olhos do Neji e esfumou-se espalhando-se no
corpo todo do Raitou.
       Este começou finalmente a dar sinais de vida.
- Está vivo... – disse eu visivelmente aliviada.
- Prontinho! – Anunciou o Neji satisfeito.
- Obrigado! – Disse eu para a rapariga – Devíamos ter ficado os dois feitos num oito se
não tivesses aparecido.
- Não pude evitar. Achei estranho um “Death Soul” estar a emanar energia tão
intensamente e decidi investigar. Quando chego aqui encontro um rapaz caído no chão e
uma rapariga com um pau em punho indo atacar um demónio que a desfazia em mil
bocadinhos se ela tivesse aproximado mais um centímetro.
       Engoli em seco fazendo um enorme ruído. De repente lembrei-me da Youko.
Assustei-me à brava e perguntei abruptamente se não tinham visto uma rapariga de
cabelos vermelhos com madeixas pretas e brancas.
- Não. Ela estava convosco? - Inquiriu ela.
- Espera, ela é baixinha, um bocado estrambólica e parece uma grafonola que nunca se
cala? – Indagou o Neji.
       Não pude deixar de rir. A descrição da Youko estava perfeita e construída
apenas em três palavras. Baixinha, estrambólica e grafonola, nem o Shakespeare faria
melhor!
- É isso mesmo. – Ri eu agarrada à barriga, se bem que aquele não era o momento para
estar com risotas.
- Eu conheço-a! – Informou ele.

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- Conheces? – Perguntei eu aliviada, pelo menos era mais alguém a quem podia pedir
ajuda para a procurar visto que o Raitou encontrava-se naquele momento indisponível,
pois ainda se encontrava a começar a respirar regularmente aos poucos.
- Conheces?! – Disse a rapariga com um tom de voz surpreendido e com uma ponta de
desconfiança.
- Sim, sim! – Assegurou ele – Ela detectou-me daquela vez em que eu decidi fazer uma
visitinha ao Mundo Real, se bem que ela descobriu-me antes de eu conseguir ver um
humano...
- Um momento... – disse a rapariga lentamente – Rebobina, deixa-me lá ver se percebi.
TU foste ao Mundo Real?!
       Pela cara percebi que o Neji estava a magicar numa resposta decente para dar.
- Se eu disser que sim vais torturar-me para a eternidade? – Perguntou ele
cautelosamente.
       Ela sorriu maliciosamente e semicerrou os olhos.
- Como deves calcular.
- Então não. – Disse o Neji muito depressa.
- Pois. Depois havemos de falar sobre: “Visitas perigosas ao Mundo Real sem protecção
nenhuma, onde com toda a certeza se iria ser descoberto por um “Mystical Seeker” “
       Supus que o tal “Mystical Seeker” fosse a denominação para o poder da Youko,
mas esse pensamento foi afastado rapidamente pois o Raitou começava finalmente a
despertar!
- Raitou! – Exclamei eu ajudando-o a sentar-se – Sentes te bem?
       Ele olhou à volta com uma expressão de confusão no olhar e depois olhou para
mim e sorriu docemente.
- Então rapaz? – Perguntou a rapariga dando-lhe palmadinhas amigáveis nas costas –
Isso vai indo? Pregaste-nos cá um susto!
- O que é que aconteceu? – Perguntou ele à rapariga – E tu és?
- Tentaram possuir-te. Devo dizer que fiquei deveras impressionada. Embora tenhas
desmaiado mostraste ter um controlo de mente muito superior ao normal. – Explicou ela
– O meu nome é Shiori. E este aqui é o Neji. É o meu “Following Phantom”. A nossa
missão é guardar todos os espíritos que constituem perigo para a sociedade dos
fantasmas.




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- Andávamos à tua procura! – Exclamou o Raitou com uma cara que parecia que tinha
acabado de ganhar o Euromilhões. A Shiori pestanejou ligeiramente admirada e de
seguida olhou para o Neji que observava o Raitou com toda a curiosidade.
       Eu e o Raitou trocamos olhares cúmplices e logo de seguida perguntámos os
dois ao mesmo tempo se por acaso não tinha dado falta de algum espírito.
- Escapou algum?! – Inquiriu logo ela com um olhar muito assustado.
- Sim, e foi para o Mundo Real e possuiu a minha amiga. – Expliquei eu tentando ser o
mais concisa possível.
- Quando é que a tua amiga foi possuída? – Perguntou o Neji.
- Bem, acho que foi a noite passada.
       A Shiori fechou os olhos pedindo um momento de silêncio com a mão enquanto
se concentrava e falava muito baixinho consigo mesma. Parecia que estava a enumerar
características de qualquer coisa, pois estava a contá-las pelos dedos.
- Ela está a ver qual é o tipo de espírito que escapou e qual é a melhor maneira de o
interceptar. – Explicou o Neji baixinho. Acenei a cabeça irreflectidamente, pois estava
admirada com a quantidade de coisas que a Shiori estava ali a dizer, aquilo parecia pior
que arcaico antigo!
- Já sei!!!!! – Berrou ela de repente, fazendo com que nós os três, que olhávamos para
ela fixamente, déssemos um salto daqui até a Alcabideche!
- Cuidado... – avisou o Neji escondido atrás de mim – Ela é doida varrida...
- O espírito que possuiu a tua amiga é um “Vampire Shapeshifter”! – Anunciou-me com
uma expressão feliz.
- Isso são boas notícias, espero? – Perguntei eu esperando ansiosamente por uma
resposta positiva. A Shiori mudou a sua expressão de máxima felicidade para uma de
desalento, o que provocou a um baque no peito que até parecia que me faltava o ar. O
Raitou colocou-me a mão no ombro para me dar ânimo, mas não resultou. Ao ver o
esmorecimento espelhado nos olhos da Shiori fez-me pensar que não havia réstia de
esperança para a Kisa.
- Lá por ser um “Vampire Shapeshifter” não quer dizer que não possa ser derrotado. –
Disse a Shiori aproximando-se de mim.
- Exacto! – Apoiou o Neji – É preciso ter fibra! É preciso levantar a cabeça e encarar o
mundo de frente! É preciso...
- O que o Neji está a tentar dizer, é que não te podes deixar abater. – Consolou-me o
Raitou docemente – Se desistires agora a Kisa nunca poderá ser salva.

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Senti uma grande vontade de chorar de alívio. Todos eles tinham razão à sua
maneira e se eu desistisse então nunca colheria frutos. Porém achei que era melhor
informá-los da visão que tive antes de atacar o “Death Soul”.
- Eu tenho uma coisa para dizer. – Anunciei –Antes de atacar o “Death Soul” eu tive
uma visão. Vi a Kisa – olhei para a Shiori e para o Neji – é a minha amiga. E ela estava
tipo num pântano com outros cadáveres à volta, e ela mexia a boca como se estivesse a
falar sozinha e depois abriu os olhos e eles estavam completamente brancos e depois
começou a sangrar da boca e a engasgar-se e a arranhar-se e depois, dá a sensação que
ela se virou para mim e sorriu-me e um fio de sangue escorreu pela boca dela.
        Terminei o meu relato o mais depressa possível, pois só estar a recordar-me
daquilo que vi dá me arrepios que vão até à espinha. Pela cara do Raitou percebi que ele
estava um bocado hesitante no que havia de dizer, a Shiori olhava para mim com uma
cara completamente concentrada, como se estivesse a tentar assimilar alguma
informação extra tendo em conta o que ouviu, e o Neji... Bem, esse estava mais para lá
do que propriamente para cá. Digamos que durante algum tempo ele só vai conseguir
ouvir histórias da Bela Adormecida e coisas desse género. Acho que ele deve ter uma
imaginação muito fértil, pois ele fazia uma cara terrivelmente chocada.
- Bem... Não vai ajudar em nada se ficarmos aqui o resto do tempo. – Acabou por dizer
o Raitou – E ainda temos de encontrar a minha irmã.
- Correcto e afirmativo. – Assentiu a Shiori levantando-se – Vamos à procura dela.
- Anima-te! – Exclamou o Neji para mim – Motivação! Já agora, como é que te chamas
mesmo?
- Chiyo. – Respondi a rir-me. Por muito que me esforçasse não conseguia imaginar o
Marilyn Manson naquelas figuras. Já estava mais animada. Realmente, o Neji devia ser
especialista em levantar o moral das pessoas.
        Virei-me e vi a Shiori com as mãos estendidas, segurando uma espécie de
losango preto umas cornucópias muito rebuscadas e perfeitamente coincidentes, com
uma pedra verde jade florescente.
- E isso é? – Perguntei eu curiosa. O Raitou também se aproximou olhando por cima do
meu ombro.
- Isto? – Disse ela, mexendo na pedra fazendo com que uma espécie de fios muito finos
como cirros brancos se movessem graciosamente – Serve para procurar pessoas, ou
espíritos e etc. É bastante útil.
- E como funciona? – Inquiriu o Raitou visivelmente interessado.

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- Muito simples. Basta pôr os fios que aqui estão de uma certa ordem, dependendo do
que se quer encontrar, pessoa, espírito, animal ou outra coisa qualquer. Depois disso,
basta dizer o nome daquilo que se procura e a Pedra emite um fio de luz que basta
seguir até encontrarmos o desejado.
- Há uma coisa que eu não estou a perceber. Vamos supor que tu queres procurar
alguém chamado... Nayuki. Existem muitas pessoas com esse nome, como é que tu
sabes que o fio te está a indicar a pessoa correcta? – Perguntei eu.
- Porque Ela sabe quem procuras. Não lhe podes ocultar a tua mente, se queres procurar
um a pessoa chamada Nayuki ou Akane ou lá o que for, Ela levar-te-á à pessoa que
buscas.
- Estás a dizer que a pedra está viva? – Indagou o Raitou surpreendido.
- Tão certo em eu como me chamar Shiori. Esta Pedra é uma “Houkai Soul”, ou seja,
um espírito sagrado do Sétimo Crepúsculo.
- Sétimo Crepúsculo. – Repeti eu lentamente para assimilar bem o nome.
- Já ouvi falar disso. – Informou o Raitou – Esses Crepúsculos só se dão quando uma
alma é sacrificada brutalmente. Diz-se que os Houkais, deuses da natureza, enviam
sempre um enviado que protege a alma torturada e as leva para o descanso eterno,
ficando assim conhecidas como as “Houkai Soul”, os espíritos sagrados do Sétimo
Crepúsculo.
- Tal e qual. – Elogiou a Shiori agradavelmente surpreendida – Como é que sabes? Já
não existe muita gente com esse tipo de conhecimento.
- Sou o “Vision Guardian” da Chiyo. – Explicou ele – Passei a minha vida inteira a
estudar coisas desse género.
- Percebo. Bem, não nos vamos pôr com mais demoras, vamos lá à procura da tua irmã.
Neji... Neji? Neji!!!
- O quê? Estou aqui. – Ouvimo-lo a responder mas não o víamos em lado nenhum.
- Aonde?!
          Ele apareceu vindo do nada e pôs a sua mão no ombro da Shiori que olhava para
todos os lados, tal como eu e o Raitou, feitas baratas tontas.
- Credo homem! – Exclamou ela dando um salto enorme – Não me assustes assim!
- Desculpa. – Justificou-se estendendo-lhe um livrinho – Mas olha o que aquele “Death
Soul” deixou cair quando se foi embora.




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A Shiori folheava as páginas do livrinho rapidamente e a cada passagem de folha
um brilho de entusiasmo assentava-se cada vez mais no seu olhar até ela esboçar um
enorme sorriso de lóbulo a lóbulo.
- Neji, tu tens a consciência do que acabaste de encontrar?!
- Não me digas! – Pediu ele divertido – Será... um livro de autógrafos? Não! Espera! É
um documento de estado importantíssimo que alguém importante perdeu, e se o
devolvermos seremos considerados heróis nacionais?
- Não. Melhor. Este livro contém informações importantíssimas sobre espíritos,
maldições, demónios e a melhor maneira de os interceptar! Isto é um bem valioso de
grande magnitude! Foi escrito por um demónio convertido! Ele havia de saber o que
estava a escrever! Sabes o que aconteceria se isto caísse nas mãos erradas?
- Uma coisa má. Sendo assim, eu sou um herói! Venerem-me!
-Excelente, óptimo, maravilhoso, lindo! Agora podemos ir procurar a minha irmã?
- Sim, sim. – Disse a Shiori guardando o livrinho numa bolsa que ela trazia - Muito
bem... – Agarrou no dito cujo losango e disse baixinho o nome da Youko. A Pedra
“agitou-se” e emitiu um fiozinho que se prolongava até à rua principal fazendo depois
uma curva. Sem mais demoras, seguimos o fio, mas entretanto lembrei-me de mais uma
das minhas perguntas pertinentes.
- Shiori, ouve lá os fantasmas não nos conseguem ver. Então e a ti? Tu não és humana
pois não? Tu tens um não sei o quê de misticismo bastante forte. Consigo senti-lo.
- É muito curiosa. – Justificou o Raitou perante o olhar da Shiori.
- Estou a ver. - Ela fez uma pausa antes de começara contar - Eu nasci aqui. Mas não
sou fantasma. Sou, como já disseram um “Ghost Keeper”. A minha família habita neste
mundo há milhares de anos e somos os únicos que podemos afirmar que somos “semi-
humanos” – ela fez um sorriso malandro – Quem nasceu neste mundo não pode ser
totalmente vivo, pois se algum ser humano permanecer aqui mais de dois dias é
considerado heresia e quando morrerem, as suas almas não são aceites aqui. Ou seja,
morrem no instante a seguir e as suas almas irão vaguear para toda a eternidade, até que
aconteça um outro Sétimo Crepúsculo.
 - Deixa-me adivinhar. – Pediu o Raitou – A sacrificada vai ser a Kisa?
- É isso que eu estou a pensar. – Admitiu a Shiori – Lembro-me de o meu pai me ter
contado que conheceu um humano foi para aqui para fugir à Idade das Trevas, que o
Mundo Real atravessava.


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- Um momento – interrompi – A suposta Idade das Trevas deu-se em Inglaterra, isso foi
mais ou menos no século XI, ou XII, como é que o teu pai o conheceu?
- O tempo aqui não é igual ao vosso. Um ano aqui equivale a 250 anos no vosso mundo.
Continuando. Esse homem era algo estranho. Dizia que era perseguido e que não queria
voltar para o Mundo Real de maneira nenhuma. O meu pai tentou explicar-lhe que ele
não podia ficar porque senão morria, mas ele não fez caso. Passaram-se dois dias e ele
não morreu, pelo contrário, parecia cada vez mais vivo, porém desde a chegada dele que
começou a haver mortes.
- Mortes? Mas as pessoas daqui já não estão mortas? – Perguntou o Raitou.
- Isso foi o que intrigou o meu pai. Após ter feito alguma pesquisa descobriu porque é
que ele fugiu do Mundo Real. Era considerado um filho de Satanás. Um demónio
vampiro, “Vampire Shapeshifter” o quer dizer que muda de forma. E o destino dele no
Mundo Real nessa época era a fogueira. Então decidiu ir para aqui para se alimentar da
energia espiritual das pessoas até as suas almas não serem mais do que pó e cinzas.
- Percebo. – Disse o Raitou.
- E não só! – Adiantou o Neji – Depois de se alimentar delas, as almas ficam possuídas
por um Shougai.
- Pelo quê? – Perguntei eu. Definitivamente não tenho jeito nenhum para apanhar
definições de espíritos e muito menos os nomes deles.
- Os Shougais são o oposto dos Houkais. Se os Houkais são deuses da natureza, os
Shougais são deuses malignos que habitam nos pântanos e aproveitam-se das almas
“mortas” para encontrar um sacrificado para que aconteça um outro Sétimo Crepúsculo.
Quando isso acontecer basta apenas matar o Houkai enquanto ele inicia a passagem do
sacrificado para um “Houkai Soul” e aí os Shougais como estão a possuir as almas
“mortas” podem-se libertar e ir para o Mundo Real.
       O fio levou-nos até uma praça onde avistamos lá bem ao fundo a Youko que por
ali vagueava à nossa procura.
- Youko! – Chamou o Raitou acenando-lhe – Estamos aqui!
       Ela virou-se e começou a correr como um foguete para nós, e quando se estava a
aproximar do irmão, saltou no ar e pregou um grande carolo na cabeça dele enquanto
dava um grito digno de australopiteco.
- Eu cá é que não me aproximo dela. – Declarou o Neji à Shiori – Pode ser perigosa.
- Mas tu não a conheces?
- Sim, e ela parecia amigável. Parecia.

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- TU! – Exclamou a Youko ao Raitou fazendo gestos perfeitamente exagerados – Seu
estulto! Aboleimado! Como te atreves a deixar a tua irmã mais nova, abandonada em
busca do “Ghost Keeper”?!
- A culpa foi minha. – Interrompi eu pondo me no meio deles os dois. Ainda podia dar
uma coisinha má à Youko e estrangular o irmão se lhe desse para isso. Naquele
momento já acreditava em tudo, por isso essa hipótese parecia-me bastante plausível. O
Raitou esfregava a cabeça e sorria ligeiramente para a Youko que olhava para mim
ansiosa por uma resposta. Só me fazia lembrar os miúdos pequeninos à espera que se
lhes conte uma história antes de dormir. – Pareceu-me ter visto a Kisa num beco, mas
não era. O teu irmão veio ter comigo para me dizer que não era conveniente separarmo-
nos, mas então, um “Death Soul” – a Youko susteve a respiração – apareceu vindo do
nada e atacou-o deixando-o inconsciente.
- Credo! – Disse ela toda aflita. Apesar de se estarem sempre a picar eles gostam muito
um do outro. Amor de irmãos. Eu percebo isso. Bem demais. – Estás bem?
- Estou óptimo. Pronto para outra! – Garantiu ele sorrindo – Não te safas de mim assim
tão facilmente!
Ela sorriu.
- Continuando. – Anunciei – Eu ia atacá-lo mas então tive uma visão da Kisa...
- Estás a ver?! – Exclamou a Youko felicíssima – Os teus poderes estão a desenvolver-
se! Daqui a nada começas a dominar os poderes psíquicos!
- Poderes psíquicos? – Perguntei eu – Bem, depois explicas se tivermos tempo. Deixa-
me acabar de uma vez. Como estava a dizer, vi a Kisa no meio de um pântano rodeada
de cadáveres e comportava-se de uma maneira no mínimo esquisitíssima. Entretanto,
apareceu a Shiori.
- Olá. – Cumprimentou ela.
- Tudo bem? – Perguntou a Youko fazendo mais um dos seus sorrisos que põe logo toda
a gente à vontade.
- Que me impediu de avançar e afugentou o “Death Soul”. Depois o Neji...
- Neji?! – Perguntou a Youko. Na verdade acho que foi mais uma exclamação, mas é
irrelevante neste caso.
- Sou eu! – Respondeu ele levantando a mão como se estivesse na sala de aula e
estivesse a fazer a chamada.
- Eu conheço-te! – Afirmou ela apontando – és aquele espírito que esteve há pouco
tempo no Mundo Real!

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- Não percebo. – Disse a Shiori olhando para o Neji – Tu disseste que nunca tinhas visto
um humano, porém tu conhece-la. Isso não conta?
- Não. É mais do que obvio que ela não é um humano!
- Não? – Perguntou a Youko. Eu e o Raitou olhávamos para o Neji um bocado receosos.
Pelo nosso relacionamento com ele não podíamos esperar dali boa coisa.
- Claro que não! É mais do que óbvio que és uma extraterrestre!
- Bolas pá, és meeesmo perspicaz! – Ironizou a Youko fazendo uma cara de choque –
Apanhaste-me! Sou uma marciana!
- Eu sabia. – Disse ele fazendo uma cara convencida.
- Podem deixar a Chiyo acabar? – Pediu o Raitou.
- Obrigado Raitou. Depois, o Neji “ressuscitou” o teu irmão e...
- Ressuscitaste o meu irmão?! – Ela fez uma cara que até parecia que tinha visto S.
Gabriel. Depois correu para o Neji e atirou-se para o pescoço dele deixando-o
terrivelmente embaraçado.
       Eu, o Raitou e a Shiori (especialmente a Shiori) riamo-nos a bandeiras
despregadas e a Shiori até teve de se sentar no chão.
- Obrigado, Obrigado!
- De nada, de nada... – dizia ele dando palmadinhas na cabeça da Youko.
- Lamento interromper este momento tão bonito e comovente, mas é necessário salvar a
Kisa! – Disse eu puxando a blusa da Youko para lhe chamar a atenção.
- Certo! – Concordou ela pulando do colo do Neji – Vamos à procura do “Ghost
Keeper” e depois ao salvamento! Já agora... – virou-se para a Shiori – conheces o
“Ghost Keeper”? E porque é que consegues nos ver?
- Bem... – começou a Shiori – A verdade é que eu sou o “Ghost Keeper”. E consigo ver-
vos porque não estou morta, apenas nasci aqui.
- Oh... – disse a Youko com os olhos esbugalhados.
- Pareces um sapo. – Disse o Raitou – Acorda do transe rapariga!
- Muito prazer! – Exclamou ela fazendo vénias exageradas.
- Não é preciso fazer vénias...
       Podíamos ter ficado ali eternamente com a Youko venerando a Shiori e eu, o
Neji e o Raitou feitos parvos à espera que aquilo acabasse, mas de repente um grupo de
espíritos apareceram com o terror espelhado nas suas expressões.
- O que é que se passa? – Perguntei eu franzindo as sobrancelhas. Fosse lá o que fosse
não era coisa boa de certeza.

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- Vou investigar. – Disse o Neji dirigindo-se para eles.
- Sim, faz isso, eu vou pedir aos espíritos que se afastem, pois pode ser perigoso. –
Anunciou a Shiori – Vocês. – Disse ela para nós – Encostem-se à parede, isto pode
tornar-se uma numa multidão a fugir em debandada e, acreditem em mim, não é
agradável sermos trespassados por um espírito. Eles tem uma espécie de líquido viscoso
que é como se fosse o sangue deles, e sempre que atravessam alguém essa pessoa fica
toda coberta com um líquido prateado. Falo por experiencia própria.
- Nem vale a pena argumentar. – Sorri eu – Se precisares de ajuda grita.
- Ok.
        Fizemos o que ela nos disse e observamos o Neji a falar os espíritos que
gesticulavam furiosamente enquanto o Neji olhava e acenava com a cabeça com ar
preocupado. Entretanto a Shiori mandava os restantes espíritos para dispersarem e não
se aproximarem dali durante algum tempo e passarem palavra. Após algum tempo o
Neji disse aos espíritos para se irem embora.
- Então? – Perguntou o Raitou quando eles os dois se aproximaram – o que é que
aconteceu?
- Nada de bom. – Informou o Neji com um olhar triste – Disseram que viram
manifestações de um próximo Sétimo Crepúsculo. Ou seja, vozes vindas do nada,
sangue a sair das paredes e céu a ficar transparente mostrando o reflexo do pântano.
- Traduzindo, não há tempo a perder. – Disse a Youko com um olhar decidido – Vamos
lá pessoal! A equipa maravilha está pronta para a acção!
- Assim é que é! – Apoiou o Neji.
- Shiori mostra-nos o caminho. – Pedi eu com um olhar resoluto que ela respondeu com
um vigoroso acenar de cabeça.
- Sigam-me, o pântano fica nos arredores da cidade.


        Andámos uns dez minutos em passo acelerado, mas para mim parecia que
estávamos em modo câmara lenta. Por todo o lado viam-se poças de sangue e
murmúrios abafados que nos faziam ter arrepios na espinha. O Raitou caminhava ao
meu lado em profundo silêncio enquanto a Youko seguia em frente falando baixinho
com o Neji.
- Estás bem? – Perguntou-me o Raitou de repente. Tenho de admitir que ele me
assustou, estava tão absorta nos meus pensamentos que fez com que eu saltasse para o
lado em posição de combate. Para ser sincera, eu não fazia mínima ideia como combater

60
um espírito, um Shougai para ser concreta, mas adoptei uma posição defensiva olhando
para todos os lados como se estivesse rodeada.
- Calma. – Disse ele, mas a sua voz traía uma ponta de nervosismo. Aliás, o clima entre
todos nós era bastante incomodativo.
- Estou bem. – Respondi – Bem, talvez não esteja. Mas não há-de ser nada. Só vamos
combater contra um Shougai. Para quê preocupar-nos? – Naquele momento deu-me
para ironizar a situação.
- Pois, eu também estou nervoso. – Admitiu ele – Quem é que não está?
- Eu não. – Disse a Youko virando-se para nós – Só estou com uma pilha de nervos em
cima.
- Idem. – Concordou o Neji.
- Chegámos. – Anunciou a Shiori parando à frente de um enorme portão enferrujado
que bloqueava um longo caminho agreste sempre a subir. O portão estava fechado com
umas correntes grossíssimas que balançavam ao sabor de uma brisa que nos arrefecia
por dentro. Era como se o Vento nos estivesse a avisar para não entrarmos, mas
obviamente que essa hipótese estava fora de questão.
- Saiam da frente. – Pediu o Neji avançando para o portão com passos firmes. Com um
golpe bem aplicado, as correntes partiram-se e caíram ao chão fazendo um enorme
ruído. Ele empurrou o portão que estava bastante emperrado visto o grande chinfrim que
fazia.
- Eu vou primeiro. – Disse eu dando um passo em frente.
- Nem pensar. – Impediu-me o Raitou agarrando me pelo braço – É demasiado perigoso.
Eu vou.
- Mas... – comecei eu, mas fui impedida de responder, pois o Raitou beijou-me ali à
frente de tudo e todos sem cerimónia alguma.
- Não discutas comigo. – Acrescentou ele. E dito isto virou-me as costas e entrou
cautelosamente.
         Eu fiquei ali especada sem saber bem que reacção deveria ter, mas a Youko
chegou-se ao pé de mim e disse-me ao ouvido:
- Se sairmos desta inteiros eu aviso desde já que quero ser a madrinha. Vou adorar ter-te
como cunhada!
- Vamos. – Disse o Neji puxando-a para longe de mim. – Quando mais depressa
acabarmos com isto melhor.


61
Seguimos o caminho que se estendia á nossa frente, que parecia nunca mais acabar. Do
Raitou, nem sinal, já devia estar no cimo do monte.
       Decidimos correr o mais depressa possível, e quando chegámos vimos o Raitou
olhando para baixo com um semblante horrorizado. Á nossa frente estendia-se o
pântano. Enorme, parecia cobrir tudo o que a vista alcançava, todo ele coberto de
cadáveres que se movimentavam numa estranha dança. E foi então que eu a avistei. A
Kisa. Tal como eu tinha visto na minha visão. No meio daquela horda de mortos
decrépitos, ela estava com a água pela cintura, porém era possível ver que o pântano
tinha vários metros de profundidade. Envergava um vestido branco com rendas, um
bocado antiquado e umas longas mangas que lhe deviam chegar aos pés. O cabelo dela
crescera consideravelmente, pois agora ultrapassava-lhe os joelhos sem a menor
dificuldade. Porém, o que me assustava era os olhos dela. Em vez de serem de cor de
mel, como costumavam ser estavam brancos, tal como eu tinha visto. Ela sorriu para
nós e um fio de sangue escorreu-lhe pela boca indo cair no pescoço.
- Vai começar o ritual. – Informou a Shiori num sussurro.
- Olha lá, afinal o que possuiu a Kisa é um “Vampire Shapeshifter” ou um Shougai? –
Perguntei eu.
- Segue a minha teoria. Eu penso que foi um “Vampire Shapeshifter”, mas como já
deves ter calculado a Kisa tem apetências para ser possuída e como ela emana uma aura
muito forte um Shougai deve também a ter possuído, visto já se ter alimentado de
grande parte do seu espírito.
- Resumindo, a Kisa foi possuída por dois espíritos?
- Isso mesmo. – Corroborou a Shiori.
- Oh joy... – disse eu.
       Tal como ela dissera, o ritual tinha começado. Os cadáveres começaram a
reunir-se à volta da Kisa que olhava para eles com um ar muito solene. Depois,
começaram a passar entre eles uma faca magnificamente trabalhada em prata e com um
gume de prata também. Em cada cadáver era desferido um golpe pelo companheiro do
lado que passava ao outro e assim sucessivamente. Quando finalmente a faca chegou à
Kisa, vislumbrava-se apenas um vulto vermelho a escorrer por todo o lado. Ela agarrou
na faca calmamente e aproximou o gume do seu ombro e começou a cortar-se
lentamente até à mão.
       Sem conseguir aguentar aquele ritual masoquista, atirei-me do monte para o
pântano. Dentro de água, atrevi-me a abrir os olhos mas não via absolutamente nada.

62
Queria vir ao de cima mas não conseguia, havia qualquer coisa que me puxava para
baixo. De repente, senti uma mão a puxar-me. Era o Raitou.
- És doida?! – Perguntou-me ele furioso quando voltámos á tona.
       Olhei para trás, e a Youko, a Shiori e o Neji estavam na margem aflitíssimos
comigo.
- O que sugeres que eu faça?! – Respondi eu também já de cabeça perdida – Que fique a
assistir tranquilamente a este maravilhoso espectáculo?!
- Não, é claro que não! Nós resolvemos isto juntos, lembras-te?! Individualmente não
vamos lá!
       Subitamente lembrei-me de uma coisa. Sempre que eu lia algum livro em que o
herói ou a heroína tinha que salvar alguém, criticava sempre a maneira como eles se
comportavam quando chegava a hora de “pôr as mãos na massa”.
“- Que estupidez! – dizia eu – Dizem sempre que tem de resolver tudo sozinhos, e que
não querem de maneira nenhuma que os amigos se metam nos assuntos! Então não é
mais do que óbvio que a união faz a força?!”
“- Ora aí está uma maneira de pensar inteligente! – concordou o Len quando eu lhe
disse o que pensava – E espero bem que se tiveres de enfrentar algum desses problemas
que não te comportes do mesmo modo!”


Desatei a corar quando me lembrei disso. Estava a comportar-me rigorosamente da
mesma maneira que eu tanto reprovava!
- Tens razão. – Disse eu ao Raitou – Vamos fazer isto em grupo! – E dito isto nadei para
a margem. Quando lá cheguei o Neji ajudou-me a sair. A Youko pôs-me a mão no
ombro e a Shiori no outro.
- Vamos lá fazer isto... – disse eu com um olhar determinado.
A Kisa que jazia inanimada na água ainda agarrava a faca coberta de sangue. De repente
da água saiu uma criatura toda deformada, que é impossível descreve-la com precisão.
Estão a ver os quadros do Picasso? As caras pintadas por ele são normalíssimas
comparadas com aquela.
- Aquele é o Shougai. – Disse a Shiori.
- Não façam barulho, acho que ele ainda não nos viu, só se nos movermos. – Informou o
Neji num sussurro – e ainda falta aparecer o “Vampire Shapeshifter”.
       E foi então que ele apareceu. O “Vampire Shapeshifter”. Foi chocante na
verdade. Quando o vi, pensei que ia desfalecer. Ele era o... Len. O meu irmão.

63
- Não... Não pode ser...
- Chiyo? – Perguntaram todos.
- É o meu irmão. – Respondi num fio de voz – É o Len...
         O Shougai virou-se para nós juntamente com o “Len” e murmuraram os dois em
perfeita sintonia.
- Matem-nos.
         Os cadáveres que até ali tinham ficado completamente indiferentes à nossa
presença olharam para nós agressivamente e atiraram-se literalmente para cima de nós.
         Surpreendidos com aquele ataque repentino fomos impelidos brutalmente para o
chão húmido. O Neji sacou de duas pistolas da bainha das calças e desatou aos tiros,
sem grande sucesso, por motivos óbvios. A Shiori fez aparecer novamente a foice e fez
ali um feitiço que repeliu-os para trás durante uns escassos momentos pois eram tantos
que não fazia praticamente diferença nenhuma. A Youko e o Raitou demonstravam toda
a sua perícia em artes marciais, o que era bastante impressionante se não estivéssemos
demasiado ocupados a manter-nos vivos... De repente fui abordada por trás por um
cadáver particularmente grande que me começou a apertar o pescoço de tal maneira que
nem me conseguia movimentar. De repente, vi ao fundo uma luz a descer sobre a Kisa e
um ser tão belo que até parecia crime olhar para ele directamente. Supus que fosse um
Houkai e que estivesse ali para transformar a Kisa num “Houkai Soul” mas foi aí que o
Shougai e o “Len” emergiram das águas e agarraram o Houkai pelos pulsos e o atiraram
violentamente para uma rocha que ali estava. O Houkai começou a cantar uma canção
tão triste e melodiosa que me deu vontade de chorar. Foi então que os meus poderes
despertaram. Senti uma força magnética a fluir pelo meu corpo acima e uma pressão na
cabeça. Fechei os olhos e abri-os de repente. O cadáver que me tentava matar
desapareceu numa névoa. Fiz o mesmo mas desta vez com um pouco de mais força e
todos, mesmo todos os cadáveres desapareceram formando um espesso nevoeiro.
Cai no chão ofegante mas satisfeita comigo mesma. Eles vieram ter comigo, menos a
Youko e a Shiori que se atiraram para cima de mim felicíssimas.
- És um máximo! – Berrava-me a Youko aos ouvidos – AGORA é que tens mesmo de
casar com o meu irmão! Vai ser um copo-de-água de arromba!
- Tu deves ser a pessoa mais espectacular que eu já conheci! – Guinchava-me a Shiori
no outro ouvido – Aquilo que tu fizeste foi... Mas porque é que eu não registei em
vídeo?
- Meninas detesto ser desmancha-prazeres mas isto ainda não acabou. – Disse o Neji

64
Ele tinha razão. O Shougai e o “Len” lutavam encarniçadamente com o Houkai.
- O que é que fazemos agora? – Perguntou a Youko – Esperamos? Claro que não, ideia
estúpida! Precisamos de um plano B.
- Para ser sincera, nós nunca tivemos um plano definido. – Admitiu a Shiori.
- Então está na hora de o termos.
- Chiyo... – disse o Raitou baixinho. Desatei a corar novamente. Ainda não era capaz de
o olhar nos olhos. – Nada.
          Corri para a água e eles seguiram-me. Chegado mais ou menos ao sítio onde a
Kisa estava, verificámos que estávamos por cima da água. Aproximámo-nos dela e eu
tomei-lhe o pulso. Nada.
- Está morta? – Perguntei eu faltando-me o ar.
- Não me parece. A alma dela é que está muito danificada. – Explicou-me a Shiori.
- Com licença. – Pediu o Neji – Eu trato disto.
- Não vais tentar fazer aquilo que eu estou a pensar, pois não? – Inquiriu a Shiori.
- Podes apostar nisso.
          O Neji pôs-se no meio do Shougai do “Len” e do Houkai e formulou um feitiço
que fez com que todos os seres vivos num raio de 30 metros ficassem em modo “câmara
lenta”.
- Neji! – Berrou a Shiori lentamente.
- Tirem na daqui. – Gritou ele em resposta. E de seguida o “Len” lentamente desferiu-
lhe um golpe nas costas fazendo com que o sangue dele espirrasse por todo o lado. Ele
emitiu uns sons e caiu pesadamente. Para mim pareceu-me que o tempo tinha parado.
Olhei para o “Len” e ele tinha um horrendo sorriso da cara. Com o sangue a ferver-me
nas veias usei mais uma vez os meus poderes psíquicos e anulei o feitiço do Neji e
desloquei uma enorme massa de água formando uma esfera flutuante que atirei para ele,
mas no último momento falhei. Mesmo que não fosse o meu irmão assemelhava-se a ele
e custava-me atacá-lo.
- Chiyo. – Alguém me chamou – Não é o Len.
          Virei-me para trás, mas fui arremessada pelos ares. Tentei levantar-me, mas não
conseguia. O “Len” não me deixava. Estava ao pé de mim de mão estendida fazendo
com que eu ficasse colada à água.
- Larga-a!
          O Raitou correu para ele e desferiu-lhe um murro na cara que fez com que ele
cambaleasse para trás e caísse de costas.

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  • 1. Índice Prefácio ............................................................................................................................. 3 Poesia (3º ciclo) ................................................................................................................ 4 A Paixão ....................................................................................................................... 5 O Amor na Adolescência.............................................................................................. 7 Bolhas (feias, bonitas, boas e más) ............................................................................. 11 Passagem .................................................................................................................... 12 Mundo dos sonhos ...................................................................................................... 13 Sou .............................................................................................................................. 15 Conversa de Silêncios ................................................................................................. 17 Sozinha ....................................................................................................................... 19 Se eu te perdesse ......................................................................................................... 21 África Minha............................................................................................................... 22 Simplesmente o mar ................................................................................................... 23 Não consigo esquecer ................................................................................................. 24 Prosa (3º ciclo)................................................................................................................ 26 Apocalipse .................................................................................................................. 27 Mortais ........................................................................................................................ 29 Horizonte .................................................................................................................... 30 Apocalipse .................................................................................................................. 33 Horizonte .................................................................................................................... 35 Fiapos da Noite ........................................................................................................... 38 Momentos ................................................................................................................... 72 Sophie ......................................................................................................................... 73 Dreams ...................................................................................................................... 110 Poesia (Ensino Secundário) .......................................................................................... 112 Morro ........................................................................................................................ 113 Vivo .......................................................................................................................... 114 Palavras para que? .................................................................................................... 115 A Nossa Cidade ........................................................................................................ 116 A Nossa Cidade ........................................................................................................ 116 Adeus, meu amor… .................................................................................................. 117 Esquece!.................................................................................................................... 118 1
  • 2. Saudade..................................................................................................................... 119 Tédio e cansaço ........................................................................................................ 120 Alma Embrulhada ..................................................................................................... 121 Verão ........................................................................................................................ 122 Perdida ...................................................................................................................... 123 Rumo de ninguém ..................................................................................................... 124 Sabores ..................................................................................................................... 125 Sem Nada Perceber................................................................................................... 126 Sensação ................................................................................................................... 127 Será que falta faço?................................................................................................... 128 Sonhos ...................................................................................................................... 129 Alma Natural ............................................................................................................ 130 Ao Fim da Noite ....................................................................................................... 131 Apenas esperar.......................................................................................................... 132 Brisa Fria .................................................................................................................. 133 Guerras de Tempestades ........................................................................................... 134 Prosa (Ensino Secundário)............................................................................................ 135 Devil May Cry - The Past Records – The Last Crusades ......................................... 136 First Record .............................................................................................................. 137 À Genicarla… amizade do outro lado do oceano ..................................................... 155 Nojo .......................................................................................................................... 156 Olhai ......................................................................................................................... 157 O Herói do século XXI ............................................................................................. 158 2
  • 5. A Paixão O dia ensombrado, melancólico e absorto. Como eu. Olhei o céu de chumbo: quieto, frio, ausente… Inspirei fundo a solidão calma espelhada nas árvores e recordei: Foi num dia assim que me apaixonei, e agora estou sozinha, abandonada. Mas chega de lamúrias vou-vos contar tudo o que aconteceu: Estava no segundo ano de escolaridade não sei explicar foi amor à primeira vista, toda a gente me perguntava o que eu via nele mas eu não fazia a mínima ideia, era amor. O pior, era que para ele era uma simples rapariga. Ele “apaixonou-se” por muitas raparigas mas nunca por mim, até vos posso dizer os nomes dessas raparigas: Margarida Rute Joana Ana Laura Raquel Carla Nicole Rita Santana Alexandra E sabe se lá mais quantas que eu nunca ouvi falar… Esperei por ele quatro anos, até que um dia fiquei a saber que finalmente “gostava” de mim. Nenhum de nós avançava somos os dois muito tímidos. No dia seguinte houve a chuva de estrelas na minha escola, concorri para o impressionar e resultou, “houve namoro”. Acho que se passou uma semana e estava de férias de Carnaval, era terça-feira o último dia de férias e nós acabamos, aliás ele acabou comigo. Fiquei magoada e ainda gosto dele, mas como já disse agora estou sozinha e abandonada. 5
  • 7. O Amor na Adolescência Tinha mudado de escola e era o meu primeiro dia de aulas, estava correr tudo bem até que duas das minhas amigas resolveram apresentar-me a um rapaz chamado Rodrigo. Ele não era, e não é, nada de especial, mas não sei como, apaixonei-me por ele, demorei muito tempo a resolver contar-lhe. O problema foi quando lhe contei, ele disse que se calhar poderíamos ser amigos coloridos. Mas depois perguntei-lhe se era a sério e ele disse que estava a gozar, por isso não liguei e segui com a minha vida. Passados alguns dias, eu, a minha melhor amiga e ele saímos da escola juntos e resolvemos ir por um caminho novo, estava a correr tudo bem éramos apenas três amigos felizes… No dia seguinte saímos da escola só os dois, estava muito nervosa, mas decidi relaxar, estava a correr tudo muito bem até que tivemos a seguinte conversa: - Eras capaz de voltar a sentir alguma coisa por mim? – perguntou ele. Eu disse que não como a todas as perguntas que ele me fez, por exemplo: - Posso pôr-te o braço por cima? Posso dar-te a mão?.... Quando nos tivemos que separar nós fizemos uma coisa que nunca tínhamos feito antes, despedimo-nos com dois beijos na cara. Ia a caminho do meu destino, quando ele me liga a dizer que me amava muito e que não aguentava mais sem me dizer, quando lhe ia responder, que sorte a minha, fiquei sem bateria no telemóvel. Quando cheguei a casa, a primeira coisa que fiz foi ligar o telemóvel à bateria e telefonar-lhe. Pedi-lhe desculpa por ter ficado sem bateria no telemóvel e perguntei-lhe se o que ele me tinha dito era mesmo verdade, ele disse que sim e perguntou-me se eu queria namorar com ele, mas ninguém podia saber ou desconfiar, eu sem evitar respondi logo que sim. Mas não me consegui conter e fui logo contar às minhas melhores amigas. Estava a correr tudo bem, éramos um casal de namorados perfeitamente normal, saíamos da escola e íamos namorar um pouco, ele telefonava-me todas as noites só para me dizer DORME BEM e coisas assim… Adorava estar com ele, ao contrário do que ele era na escola, quando estava comigo era um querido. Passadas mais ou menos duas semanas, uma das minhas amigas resolveu dar com a língua nos dentes. Toda a turma ficou a saber, resultado fomos gozados e não foi pouco, ele passou-se e acabou comigo, era uma quarta-feira, tínhamos tarde livre e a primeira 7
  • 8. coisa que fiz quando cheguei a casa foi tentar resolver as coisas, e felizmente ficou tudo bem. No dia seguinte, ele telefonou-me a hora de almoço para ir ter a casa dele, nós estávamos pouco tempo juntos por isso tomei o rumo a casa dele. Quando cheguei lá estava a correr tudo bem estávamos só aos beijos, o problema foi depois… fomos para o quarto dele e tirámos as camisolas, mas tenham calma não passámos daí, ficámos só aos beijos. Por fim, tivemos que ir para a escola. Isto repetiu-se em todas as quintas-feiras, até uma que despimos as calças, mas é claro que a minha amiga Marta tinha que estragar tudo estando sempre a ligar para mim… Voltei para a escola e falei com as minhas amigas elas já me estavam a imaginar como uma adolescente grávida. Um dia, resolvi perguntar-lhe se ele gostava mesmo de mim e ele disse que estava confuso e que já não sabia, por isso acabou comigo. No dia seguinte, ele começou-se a atirar à minha melhor amiga, a Patrícia, senti-me um pouco magoada e dias depois fui parar ao hospital por causa dele. Falei com a médica e contei-lhe tudo o se tinha passado, e ela disse que se calhar me tinha enervado demais. Passadas algumas semanas chegaram as férias de Natal, ele voltou a dar esperanças a uma rapariga, a Ana Sofia, quando finalmente consegui esclarecer as coisas e estava a conseguir esquecê-lo, ele perguntou-me se eu soubesse que ele ainda gostava de mim se voltava a namorar com ele e eu disse que talvez sim. Mas fiquei tão feliz que até parece que foi um sonho, e agora não sei se foi mesmo um sonho ou é realidade. Começaram as aulas e eu estava ansiosa para saber se afinal namorava mesmo com ele. Estava a correr tudo bem, eu só estava à espera da hora de almoço, porque era uma quinta-feira, quando ele me costumava ligar, e sempre era verdade namorávamos mesmo. Ele ligou-me, e eu atendi: - Estou! – Estou, amor! Era só para saber se podias vir a minha casa. - Não sei se vai dar, as minhas amigas não me largam… Foi aí que ele teve uma reacção que me espantou imenso. - Elas também podem vir. Eu não disse nada e seguimos caminho. Quando chegámos lá ele abriu-nos a porta e entrámos, apanhámos todos uma seca, ficámos o tempo todo sentados no sofá a olhar 8
  • 9. para a lareira apagada, devia ser para ver se a conseguíamos acender com os nossos olhos. Quando fomos embora o céu estava um pouco escuro, até que começou a chover a potes, não cabíamos todos debaixo do guarda-chuva, por isso desatámos a correr. Quando finalmente chegámos à escola, estávamos completamente cheios de frio e todos molhados, acho que a água que tínhamos no corpo dava para encher uma piscina. Foi quando as coisas pioraram e tivemos de ir ao rastreio. Quando as aulas acabaram eu era para ir para a minha antiga escola, os Salesianos, mas depois a minha mãe ligou-me a dizer que estava muito frio, então voltei para trás para casa da minha amiga, Marta. No caminho encontrei o meu suposto namorado, ele escondeu-se e chamou-me, eu fui e ele beijou-me, agora tinha mesmo a certeza de que éramos namorados. Têm sido uns dias muito excitados para mim, porque estou sempre à espera de um pouco de tempo para nós no fim das aulas. Na última aula do dia mais conhecida por chá das cinco ou aulas dos berros, tive uma conversa com as minhas amigas por causa das quintas-feiras, para disfarçar comecei a dizer que amava o Zac Efron, o pior foi que quando ouve um segundo de silêncio só se ouviu a minha voz a dizer: EU AMO O ZAC EFRON!!!!!!!!!!! Fiquei muito envergonhada e comecei-me a rir que nem uma perdida. Depois da aula estava muito nervosa, até porque a minha melhor amiga também gosta dele e queria vir atrás de nós, com esta confusão toda, acabei por perdê-lo pelo caminho. Como queria passar mais tempo com ele decidi mandar um sms à minha mãe a dizer que ia para casa de uma amiga, aproveitei e mandei-lhe também um a ele a dizer que tinha até às 16:30 para estar com ele. Passado um pouco, ele mandou-me um toque mas eu não tinha dinheiro para lhe telefonar, por isso tomei rumo a casa da minha amiga. O pior é que era uma sexta-feira e teria que esperar até segunda-feira para o ver outra vez e estarmos juntos na aula de Francês. Não sei porque ansiava pela segunda-feira talvez porque queria matar saudades, mas acabou por acontecer tudo ao contrário ele acabou tudo na aula de Francês. Fiquei mal disposta, cheia de tonturas e pedi a professora para me ir acalmar, saí da sala e comecei a chorar, parecia que tinha morrido alguém, e se calhar até morreu, eu. 9
  • 10. Perguntei-lhe porquê, e ele disse que eu só lhe mentia, ele pode não acreditar mas ele é a única pessoa a quem eu nunca menti, EU AMO-O E PARECE QUE A ÚNICA PESSOA QUE NÃO O PERCEBE E ELE. Estou muito abalada e não me apetece falar nisso, já é a segunda vez que ele me deita completamente abaixo e eu tomei uma decisão, a partir de agora A LILIANA MORREU E NÃO VOLTA. Era terça-feira e eu decidi ir para os Salesianos, precisava de desabafar com alguém e pensei logo na Inês. Quando ia a caminho, fui com ele e acabou tudo como sempre aos berros e aos pontapés, o pior é que na noite anterior um dos meus ex-namorados esteve- se a atirar a mim, o primo da minha melhor amiga, o Pedro, mas isso não interessa. Não sei como ao fim de uma semana ou mais, eu e o Rodrigo conseguimos fazer as pazes, ele disse-me que ainda me amava e eu senti-me obrigada a dizer-lhe a verdade, que também o amava. Também não posso deixar de admitir que estou feliz por namorarmos outra vez, e, que nunca mais vou esquecer este namoro, um dia mais tarde talvez… eu ao ler este texto me ria de tanta confusão. Cláudia Pereira 10
  • 11. Bolhas (feias, bonitas, boas e más) Bolhas, bolhas, bolhas Bolhas de sabão Bolhas de algodão Bolhas dos pés dos crentes caminhantes Bolhas de ar e labaredas de fogo “Bolhas” do rosto de gente de idade tenra Bolhas, bolhas, bolhas Todas juntas na banheira ou no tanque Nas mãos de um bebé Ou nas de uma lavadeira Lavadeira que tem bolhas nas mãos, nos pés e nas bolhas Bolhas, bolhas, bolhas. Ana Margarida Gonçalves Coelho Torres Centeno 8º ano 11
  • 12. Passagem O pincel com tinta negra Na água límpida se desfaz De água pequenina Passa para água de criador, Água de inventor, Água de pai e de mãe, Água de caiador ou de pintor. A tinta se desfaz na água Num simples poisar de pincel. Ana Margarida Gonçalves Coelho Torres Centeno 8º ano 12
  • 13. Mundo dos sonhos O mundo dos sonhos É um mundo invisível É um mundo transparente e mágico. Só alguns é que lá vão, E esses desejam ficar lá para sempre. É um mundo onde o imaginário é real Onde os pássaros voam mais alto, Onde as palavras pairam pelo ar, Onde o arco-íris é mais colorido, Onde o mar é mais azul, Onde o sol é mais brilhante, Onde podes ser aquilo que queres, Pois o mundo dos sonhos É o melhor refúgio. Para ir lá, Não é preciso ver, Nem ouvir, Nem sentir, Basta pensar que temos asas E voamos... 13
  • 14. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço 8ºano 14
  • 15. Sou Sou aquilo que sou, Não sou aquilo que faço, Quero aquilo que sou, Não sou aquilo que quero, Apenas sou... Apenas eu... 15
  • 16. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço 8º ano 16
  • 17. Conversa de Silêncios Não sei bem o que te quero dizer Procuro palavras para algo indefinido Estamos frente a frente, olhos nos olhos E a única coisa que sei é que quero ficar assim Sinto-me perdida, confusa Trocamos silêncios Pareces também não saber o que dizer Não sei ao certo Já nem tentamos proferir palavras Para quê?! Só complicam tudo! Quero tocar-te Quero sentir a tua realidade Aproximamo-nos a medo Centímetro a centímetro A distância encurta-se O tempo parece parar No momento em que te toco, alguém chama Palavras que parecem ferir Resgatam-me para a realidade Só tenho tempo para mais um olhar Antes de despertar Mas sei que ficarás sempre aqui Para terminarmos a nossa conversa de silêncios. Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 17
  • 18. 18
  • 19. Sozinha Um dia serei uma folha, De um caderno na tua mão. Um dia serei uma palavra, Que sairá dos teus lábios Um dia serei um sussurro Numa noite escura Um dia serei um gesto Que farás sem pensar Um dia serei um resto De uma nada sem perdão Um dia serei um verso Que alguém irá repetir Um dia serei um olhar Esquecido nos teus olhos Um dia serei liberdade De cantar lá do fundo Um dia serei saudade Do tempo do passado Um dia serei nota Da música que não cantas Um dia serei fotografia De um momento parado Um dia serei magia Que não aprendeste a fazer Um dia serei alegria Por te ver Agora sou ilusão De quem procura um caminho Agora, simplesmente, Te espero Agora, simplesmente, 19
  • 20. Sou eu Agora, simplesmente, Sozinha… Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 20
  • 21. Se eu te perdesse Se eu te perdesse, Não chorava, ria, Para me lembrar de ti. Ao rir-me sei que Onde quer que estivesses Ririas comigo, como rimos agora! Se eu te perdesse Sonhava, com o dia em que te iria encontrar! Sonhava todas as noites contigo, Com o teu sorriso inconfundível, Com as tuas gargalhadas, E aí sim, chorava, Por não te poder ter ao pé de mim, Por me teres deixado sozinha, Como tinhas prometido não fazer! Se eu te perdesse, Perdia uma parte de mim, A parte que não esquece que estás lá, Quando eu precisar, a toda a hora! Se eu te perdesse Nunca mais descansava, Até te encontrar, porque, Te adoro! Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 21
  • 22. África Minha Tantas vidas que se perdem Porque ninguém vê! Tantas lágrimas que correm a juntar-se aos mares, lá longe Porque o gelo de alguns corações não derrete, por mais calor que esteja! Tanta tristeza que ensopa a terra No lugar da água que faz falta! Tantos sonhos que pisam Lugares que ficaram por descobrir! Tantas histórias que cá tão perto Parecem tão irrealizáveis como contos de fadas! Tanto “pó de perlimpimpim” Que perdeu a magia nas viagens do vento! Tantos olhos Que não viram senão nada! Tanta incerteza Num futuro tão distante! Tanta espiga Que nunca chega a crescer! África minha, Cá tão perto, lá tão longe… Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 22
  • 23. Simplesmente o mar Porque é que eu não posso ser o mar, Viver o mar, amar o mar? Porque é que eu não posso ser uma onda, Uma simples onda num ciclo vicioso, Enrolada na areia? Porque não um peixe, uma onda, Simplesmente o mar? Simples e simplesmente o mar, A solidão do mar, A beleza do mar, A simplicidade do mar… Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 23
  • 24. Não consigo esquecer Lembro-me daquelas horas De cada sessenta minutos De cada sessenta segundos Foram roubados Mudaram-me Lembro-me de cada palavra Lembro-me de cada lágrima Minha e tua O nosso olhar era um ciclo vicioso Tu começavas-me e acabavas-me Tu preenchias-me Ainda preenches, mesmo passado tanto tempo Lembro-me da chuva que caía Completando o meu estado de espírito Lembro-me de tudo o que senti Traíste-me, subjugaste-me Lembro-me de tudo o que ainda sinto: saudade Apenas não me lembro do que era Antes, muito antes de ti Esqueci-me, perdi-me sem poder evitar Não me revejo nas fotografias Tiradas há tanto tempo Não sou eu, não consigo ser Não vejo as mesmas coisas Não sinto nada Não existo concretamente Não consigo esquecer… 24
  • 25. Maria Teresa Torres Vaz Freire, 9º ano 25
  • 27. Apocalipse O século XXI permitiu grandes avanços tecnológicos e culturais no ramo da Ciência. Um deles foi a invenção de carros resistentes à gravidade, que eram capazes de flutuar na atmosfera e atingir grandes velocidades em caso de emergências (deixou assim de haver nascimentos em auto-estradas). Seguindo o exemplo dos carros Volkswagen, os líderes mundiais decidiram fazer estes automóveis os “carros do povo”, economicamente acessíveis, fáceis de conduzir e “com estilo”. Depressa, quase todos os cidadãos do mundo (que estava agora todo unido pela ONU) possuíam um carro destes. Contudo, tanto a construção como o uso destes carros causavam poluição e, em menos de sete anos, metade da já tão danificada camada de ozono desapareceu. Era raro o rio ou costa marítima com água limpa. Várias espécies animais e vegetais se extinguiram e as pessoas começaram a adoecer. A mortalidade subiu em todos os países. Os hospitais estavam cheios e o governo, não podendo ignorar mais esta situação, mandou construir mais hospitais. Edifícios como estádios de futebol, teatros e parques de diversões foram demolidos para dar lugar a hospitais. Em breve, a falta de espaço para hospitais obrigou as pessoas a demolir os monumentos históricos, como a Estátua da Liberdade, a Torre de Pisa e a Torre Eiffel. Por pedido dos egípcios, as grandes pirâmides não foram demolidas, tendo sido construídos hospitais dentro das pirâmides. Vendo as Sete Maravilhas do Mundo desaparecer, tal como tudo o que era bonito e pelo qual valia a pena a lutar, as pessoas (tanto saudáveis como doentes) começaram a entristecer de tal maneira que a percentagem de suicídios triplicou. Como muitos dos suicidas eram médicos, deixou de haver menos doentes curados e mais mortes. Por fim, o Aquecimento Global revela-se em toda a sua glória. Inundações em escala mundial. Os pólos desaparecem. A Madeira, o Havai, as Filipinas, o Japão, todas desapareceram. Uma segunda Idade do Gelo aparece. Os únicos vestígios da presença humana neste planeta são agora apenas fósseis e satélites artificiais que orbitam a Terra, inutilmente. 27
  • 28. Moral da História: Colhemos o que semeamos. O tão chamado “Apocalipse” não é o nosso castigo. São as nossas colheitas. David Chorão, 8º ano 28
  • 29. Mortais A peça acaba E os actores agradecem O prédio desaba Até as montanhas esmorecem As luzes são apagadas O livro é posto na prateleira As obras são acabadas Não duram uma semana inteira A queda de um Império A autoridade assassinada. Outra morte levada a sério Uma população vingada Tal como no farol Que sempre muda essa luz guia, Também nasce o Sol E não dura mais que um dia. David Chorão, 8º ano 29
  • 30. Horizonte Ele olhava para o vazio, como se nada nem ninguém o rodeasse. Os seus olhos transmitiam uma certa tristeza, parecia que o mundo tinha desabado sobre ele. E ele olhava com olhos, de quem olha para o infinito, tinha-se esquecido de tudo, era como se fosse o único ali sentado. Estava imóvel, parecia uma estátua, o seu rosto pálido transmitia a sensação de solidão, como se fosse o único à face da Terra. Tudo em seu redor tinha movimento, tudo se mexia, tudo falava, tudo gritava, tudo corria, e eu estava ali a olhar para ele, olhava para os seus olhos cor de esmeralda, ele não pestanejava, apenas olhava, talvez para o “nada”. Eu observava-o atentamente, acho que ele não se apercebeu que eu ali estava, aliás, acho que não se apercebia de nada. Era estranho ver no meio de tanto ruído, de tanto stress, um rapaz sentado, a olhar... simplesmente a olhar! Tão bom que era se todos nós olhássemos para o mundo só com olhos de olhar... E ele continuava ali, no meio de tudo, parecia que estava no centro de um remoinho. Eu continuava a observá-lo, ele parecia diferente dos outros, parecia que tinha algo especial. As esmeraldas no seu rosto cintilavam, e de repente ele fechou os olhos, as esmeraldas tinham desaparecido e pela sua face corriam lágrimas de esperança, esperança que o mundo se voltasse a erguer e que o sol voltasse a brilhar. Virou a cara e reparou que eu olhava para ele atentamente, fiquei um bocado embaraçada e reparei que os seus olhos cor de esmeralda, eram agora da cor do mar e que as lágrimas que corriam pelo seu rosto eram pequenas pedras de sal. Arrumei as minhas coisas e sai porta fora. Não tive coragem de ir ter com ele, tinha ficado um pouco envergonhada. Durante o caminho só pensava na tristeza dos seus olhos, nesse momento senti um vazio no peito, mas pensei que no fim os seus olhos transmitiam esperança de que um dia tudo se resolvesse. Ele deve ter ficado um pouco intrigado por me ver sair dali daquela maneira. Fiquei arrependida e voltei atrás, mas ele já lá não estava. Cheguei a casa um pouco triste, tirei a mochila e deixei-a ao lado da porta do meu quarto, normalmente costumo desarrumá-la e guardá-la no armário, mas naquela altura apetecia-me estender na cama para descansar. Foi o que fiz, abri a janela, deitei- me e olhei para o tecto. Tentei imaginar o “nada”, mas não consegui, tentei imaginar o 30
  • 31. infinito e também não consegui. Fechei os olhos, o vento que entrava pela janela batia- me na cara, imaginei que estava na praia a ouvir o som das ondas. O azul dos olhos do rapaz reflectia-se na vasta extensão de lágrimas salgadas que se tinham juntado e formado um grande lago azul, que junto à costa formava pequenas camadas de algodão provocadas pelas pequenas ondas, que faziam lembrar o cabelo ondulado do rapaz. Olhei para o fundo, onde o azul do grande lago unia-se com o tom rosado do céu, formavam uma longa e fina linha, era a única coisa que os separava, era o equilíbrio entre os dois. Parecia que o grande lago empurrava o céu, e este empurrava o grande lago. Lutavam os dois entre si, uma luta entre o mal e o bem. O mal queria reduzir tudo a cinzas, e o bem erguer-se delas. Mas os dois juntos, unidos, formavam a perfeição. Dei por mim fixada na linha perfeita que os dois formavam, olhava imóvel para o horizonte e sentia um vazio dentro de mim, sentia que a minha vida se resumia ao encontro da perfeição e que finalmente a tinha encontrado. Depois o sol emergiu do azul e rompeu o rosado do céu, o seu brilho formava um longo caminho no lago. Os meus olhos começaram a cintilar, tal e qual como os do rapaz, e o vazio que estava dentro de mim encheu-se de cor. A felicidade instalou-se no meu coração, e naquele momento desejei nunca mais acordar! 31
  • 32. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço 8º ano 32
  • 33. Apocalipse O século XXI permitiu grandes avanços tecnológicos e culturais no ramo da Ciência. Um deles foi a invenção de carros resistentes à gravidade, que eram capazes de flutuar na atmosfera e atingir grandes velocidades em caso de emergências (deixou assim de haver nascimentos em auto-estradas). Seguindo o exemplo dos carros Volkswagen, os líderes mundiais decidiram fazer estes automóveis os “carros do povo”, economicamente acessíveis, fáceis de conduzir e “com estilo”. Depressa, quase todos os cidadãos do mundo (que estava agora tudo unido pela ONU) possuíam um carro destes. Contudo, tanto a construção como o uso destes carros causavam poluição, e em menos de sete anos, metade da já tão danificada camada de ozono desapareceu. Era raro o rio ou costa marítima com água limpa. Várias espécies animais e vegetais se extinguiram, e as pessoas começaram a adoecer. A mortalidade subiu em todos os países. Os hospitais estavam cheios, e o governo, não podendo ignorar mais esta situação, mandou construir mais hospitais. Edifícios como estádios de futebol, teatros e parques de diversões foram demolidos para dar lugar a hospitais. Em breve, a falta de espaço para hospitais obrigou as pessoas a demolir os monumentos históricos, como a Estátua da Liberdade, a Torre de Pisa e a Torre Eiffel. Por pedido dos egípcios, as grandes pirâmides não foram demolidas, tendo sido construídos hospitais dentro das pirâmides. Vendo as Sete Maravilhas do Mundo desaparecer, tal como tudo o que era bonito e pela qual valia a pena a lutar, as pessoas (tanto saudáveis como doentes) começaram a entristecer-se de tal maneira que a percentagem de suicídios triplicou. Como muitos dos suicidas eram médicos, deixou de haver menos doentes curados e mais mortes. Por fim, o Aquecimento Global revela-se em toda a sua glória. Inundações em escala mundial. Os pólos desaparecem. A Madeira, o Havai, as Filipinas, o Japão, todas desapareceram. Uma segunda Idade do Gelo aparece. Os únicos vestígios da presença humana neste planeta são agora apenas fósseis e satélites artificiais que orbitam a Terra, inutilmente. Moral da História: 33
  • 34. Colhemos o que semeamos. O tão chamado “Apocalipse” não é o nosso castigo. São as nossas colheitas. David Chorão, 8º ano 34
  • 35. Horizonte Ele olhava para o vazio, como se nada nem ninguém o rodeasse. Os seus olhos transmitiam uma certa tristeza, parecia que o mundo tinha desabado sobre ele. E ele olhava com olhos, de quem olha para o infinito, tinha-se esquecido de tudo, era como se fosse o único ali sentado. Estava imóvel, parecia uma estátua, o seu rosto pálido transmitia a sensação de solidão, como se fosse o único à face da Terra. Tudo em seu redor tinha movimento, tudo se mexia, tudo falava, tudo gritava, tudo corria, e eu estava ali a olhar para ele, olhava para os seus olhos cor de esmeralda, ele não pestanejava, apenas olhava, talvez para o “nada”. Eu observava-o atentamente, acho que ele não se apercebeu que eu ali estava, aliás, acho que não se apercebia de nada. Era estranho ver no meio de tanto ruído, de tanto stress, um rapaz sentado, a olhar... simplesmente a olhar! Tão bom que era se todos nós olhássemos para o mundo só com olhos de olhar... E ele continuava ali, no meio de tudo, parecia que estava no centro de um remoinho. Eu continuava a observá-lo, ele parecia diferente dos outros, parecia que tinha algo especial. As esmeraldas no seu rosto cintilavam, e de repente ele fechou os olhos, as esmeraldas tinham desaparecido e pela sua face corriam lágrimas de esperança, esperança que o mundo se voltasse a erguer e que o sol voltasse a brilhar. Virou a cara e reparou que eu olhava para ele atentamente, fiquei um bocado embaraçada e reparei que os seus olhos cor de esmeralda, eram agora da cor do mar e que as lágrimas que corriam pelo seu rosto eram pequenas pedras de sal. Arrumei as minhas coisas e saí porta fora. Não tive coragem de ir ter com ele, tinha ficado um pouco envergonhada. Durante o caminho só pensava na tristeza dos seus olhos, nesse momento senti um vazio no peito, mas pensei que no fim os seus olhos transmitiam esperança de que um dia tudo se resolvesse. Ele deve ter ficado um pouco intrigado por me ver sair dali daquela maneira. Fiquei arrependida e voltei atrás, mas ele já lá não estava. Cheguei a casa um pouco triste, tirei a mochila e deixei-a ao lado da porta do meu quarto, normalmente costumo desarrumá-la e guardá-la no armário, mas naquela altura apetecia-me estender na cama para descansar. Foi o que fiz, abri a janela, deitei- me e olhei para o tecto. Tentei imaginar o “nada”, mas não consegui, tentei imaginar o infinito e também não consegui. Fechei os olhos, o vento que entrava pela janela batia- 35
  • 36. me na cara, imaginei que estava na praia a ouvir o som das ondas. O azul dos olhos do rapaz reflectia-se na vasta extensão de lágrimas salgadas que se tinham juntado e formado um grande lago azul, que junto à costa formava pequenas camadas de algodão provocadas pelas pequenas ondas, que faziam lembrar o cabelo ondulado do rapaz. Olhei para o fundo, onde o azul do grande lago se unia com o tom rosado do céu, formavam uma longa e fina linha, era a única coisa que os separava, era o equilíbrio entre os dois. Parecia que o grande lago empurrava o céu e este empurrava o grande lago. Lutavam os dois entre si, uma luta entre o mal e o bem. O mal queria reduzir tudo a cinzas e o bem erguer-se delas. Mas os dois juntos, unidos, formavam a perfeição. Dei por mim fixada na linha perfeita que os dois formavam, olhava imóvel para o horizonte e sentia um vazio dentro de mim, sentia que a minha vida se resumia ao encontro da perfeição e que finalmente a tinha encontrado. Depois o sol emergiu do azul e rompeu o rosado do céu, o seu brilho formava um longo caminho no lago. Os meus olhos começaram a cintilar, tal e qual como os do rapaz, e o vazio que estava dentro de mim encheu-se de cor. A felicidade instalou-se no meu coração, e naquele momento desejei nunca mais acordar! 36
  • 37. Sofia Cordeiro Fadigas Rodrigues Colaço 8º ano 37
  • 38. Fiapos da Noite Juro solenemente que não revelo nada a ninguém. Mas posso escrever isto no papel, certo? Muito bem… Aqui vai. A minha amiga foi possuída por um espírito. E não estou a delirar. Tudo começou depois da entrega do teste de Matemática. Acho que a Kisa teve sempre uma auto-estima abaixo de zero, mas depois do teste… Bem, teve negativa, não porque não soubesse a matéria, porque saber ela sabe. O problema é o sistema nervoso. Acho que nem vale a pena dizer-lhe que tem de se acalmar porque ela já deve ter ouvido isso, tanta vez, que na minha opinião só a desmoraliza mais, pois ela tenta controlar-se, nota-se à distância, mas não consegue. A Kisa está sempre com medo e nervosa com alguma coisa, mas desta vez foi demais. Dizia que era uma inútil e que não sabia fazer nada de jeito, enquanto chorava copiosamente no chão da casa de banho. Eu, consternada, tentava animá-la como podia, mas desisti ao fim de algum tempo, pois, tenho de admitir que já passei exactamente pelo mesmo e sei perfeitamente que é melhor deixar-nos um bocado sozinhas para nos acalmarmos. Mas ela estava tão pálida e trémula, que de repente fez-se luz no meu espírito. Como sempre, a Kisa estava com o IPOD nos ouvidos e então percebi que ela usava esse IPOD como um escape ao mundo real e pela maneira como ela se estava a comportar nos últimos dias cheguei à conclusão que ela estava com uma ligeira depressão em cima. - Kisa…- comecei eu - Anda vamos para casa, as aulas já acabaram. Ela limpou os olhos com uma mão enquanto mudava mais uma vez de música. - Ok. – respondeu ela Durante o caminho tentei meter conversa com assuntos mas ela só acenava com a cabeça em concordância. Quanto chegámos à porta da casa dela reparei que ela estava novamente à beira das lágrimas. Abracei-a e tentei dizer alguma coisa, mas ela soluçava tanto que desisti. - Não consigo Chiyo. A sério que não. – acabou ela por dizer. - Claro que consegues. Só precisas de ter confiança em ti. Ela afastou – se e disse adeus com a mão enquanto tocava à campainha. 38
  • 39. - Vemo-nos amanhã! – disse eu um bocado à pressa porque já estava atrasada para a aula de violino. Se eu não tivesse desatado a correr, teria visto a Kisa a afastar-se de casa e a tomar um caminho completamente diferente do habitual. Nessa noite, eu tentava comer a minha sopa mas não tinha apetite nenhum. Não conseguia afastar o pressentimento de que tinha acontecido alguma coisa. - Mana… Mana… Terra chama Chiyo! Missão suspendida pode regressar! - O quê?! – perguntei eu sobressaltada fazendo com que a côdea do meu pão fosse parar à sopa do meu irmão mais velho - Já ouvi falar em guerras de tomate em Espanha, agora de pão… - Muito engraçado Len. - Mana, tá tudo bem? – perguntou a minha irmã mais nova. - Sim, acho que sim… - Não lhe ligues Yotsuba. Hoje a Chiyo está para lá de Bagdad. - E tu hoje deves estar com a síndrome da Geografia! Cada frase que dizes é sempre referente a uma terra! - Como diziam os Gregos… - Chega! – não sei porque é que estava tão irritada, normalmente eu dou-me muito bem com os meus irmãos – Vou telefonar à Kisa! - Boa ideia! Pode ser que ela te mude de humor! – afirmou o Len. - Depositas sempre tanta confiança nela. – provoquei eu – Não te preocupes, se queres um encontro é só pedir! O Len pôs-se muito vermelho e começou a tagarelar altíssimo com a Yotsuba sobre o aquecimento global, mas é claro que como ela é só uma criança de nove anos não percebeu muitos dos termos técnicos. Fechei a porta da sala e marquei o número da Kisa mas ninguém atendeu. - Estranho… - encolhi os ombros e desisti, muito provavelmente tinham a televisão alta e não ouviram o telefone. Voltei para a sala onde o Len e a Yotsuba estavam a levantar a mesa. Peguei num prato para os ajudar quando o Len: - Eis que regressa dos mortos, a filha do Drácula. 39
  • 40. Ele tinha razão. Eu estava com uma cara de moribunda, uma coisa sem explicação. Como sempre, estava a preocupar-me para nada, porque para não variar estava a dar demasiada importância aos meus pressentimentos esquisitos. - Antes do Drácula do que da Britney Spears – respondi. - Esta é a Chiyo que eu conheço! – exclamou ele com um sorriso. Tenho de admitir que o meu irmão é muito giro. Cabelo preto para o comprido e uns olhos muito azuis. E tem um grande sentido de humor. Deve ser por isso que as raparigas da escola dele o perseguem incessantemente. A Yotsuba ainda é novinha, mas é muito querida. Tem o cabelo castanho avermelhado e os olhos verdes. Anda sempre de totós que baloiçam de um lado para o outro. Parece a Pippi das meias altas, sem a força e sem as meias, claro. E eu? Sou normal. Quer dizer, sou ruiva, tenho o cabelo pelas costas ondulado, uma franja que me tapa metade da cara e os olhos verdes, tão verdes que quase parecem amarelos. Fim. É só. Avançando. Após ter levantado a mesa, fui para o meu quarto ouvir música. Estava tranquilamente a ouvir o “Runaway” da Pink, quando a Yotsuba bateu à porta do meu quarto entrando logo de seguida. - O que foi? – perguntei eu sem deixar de olhar para o ecrã do computador. - Está alguém lá fora para falar contigo. - É a Kisa? - Não. – achei o tom da voz dela demasiado tenso portanto virei-me e pude verificar que ela estava muito assustada. - Credo Yotsuba! – exclamei eu levantando-me – Estás com essa cara porquê? Saí do quarto e desci as escadas, indo ter ao hall de entrada, onde estava o Len com cara de caso. - Mas afinal o que é que se passa? – perguntei-lhe. - Vai até à porta e já vês. – respondeu-me ele com uma expressão muito séria. De repente fiquei preocupada. O meu irmão é uma pessoa sorridente e bem-disposta por natureza, mas quando põe uma expressão séria, parece que o mundo inteiro vai desabar. Corri até à porta com o coração nas mãos e quando lá cheguei vi dois polícias gigantescos, com uns braços com a espessura de uma casa e um pescoço como uma chaminé. - Sim? – inquiri eu um bocado a medo. De que eu me lembrasse, não tinha feito nada que infringisse a lei, por isso estava ali um pouco abananada. 40
  • 41. - Presumo que conheça a Kisa, certo? – começou um deles. - Sim. - Esteve com ela o dia todo? - Sim. – parecia que não conhecia outra palavra – Mas passa-se alguma coisa com ela? - A sua amiga desapareceu. Ninguém a viu, ninguém sabe dela. Gelei por dentro. “To runaway… Runaway” – a música continuava a tocar. - Não… Não sei de nada que os possa ajudar – acabei por dizer – Deixei-a à porta de casa e vi-a a tocar à campainha. Não sei mais do que isto. - Muito bem… Obrigado na mesma – disseram eles indo se embora – No entanto se se lembrar de mais alguma coisa, não hesite em telefonar para a esquadra. - Assim farei. O Len fechou a porta visto que eu fiquei especada sem conseguir mexer um único músculo. Estava demasiado ocupada a tentar decifrar onde raio é que a Kisa se teria metido. - Chiyo. É melhor ires te deitar. – sugeriu ele Acenei que sim com a cabeça e subi as escadas onde a Yotsuba estava sentada, agarrada ao seu coelho de peluche. - A Kisa fugiu? – perguntou ela - Não sei. – respondi eu, tendo raiva de mim mesma por me aperceber que não fazia a mais pequena ideia onde ela pudesse estar - Ela aparece. – declarou a Yotsuba calmamente – Talvez ela precise de estar um bocado sozinha para espairecer. De repente a situação pareceu-me menos negra. Talvez a Yotsuba tivesse razão. Mesmo só com 9 anos ela é uma pessoa muito racional e incrivelmente consegue sempre tirar uma conclusão lógica de cada caso. Ainda bem, eu cá sou daquelas pessoas que não pensa nas consequências e o meu irmão é do género “os cães ladram e a caravana passa”. Despedi-me dela e subi. Quando cheguei ao quarto, vesti o meu pijama e dirigi-me à minha secretária para desligar o computador, quando reparei num bilhete metido à pressa debaixo do teclado. Nele estava escrito: “Vem ter comigo ao parque”. Não estava assinado, nem nada, por isso presumi que fosse da Kisa e para além do mais, a janela estava aberta e eu tenho a certeza de que ela estava fechada antes de eu sair. 41
  • 42. Vesti-me novamente e esperei uns vinte minutos antes de pular pela janela. Graças a Deus que o Len estava com os phones nos ouvidos, porque eu consegui a proeza de cair com grande estrondo em cima de um arbusto. Sai de casa a correr em direcção ao parque, enquanto começavam a cair uns flocos de neve. Quando lá cheguei, não vi ninguém. Dei pelo menos umas três voltas ao parque e não havia vivalma ali presente. - Kisa! – chamei eu por fim. Nada. Cansada e cheia de frio, sentei-me num dos bancos e aconcheguei-me dentro do meu casaco. - Fixe… Quando chegar vai ouvir-me… - resmunguei eu entre dentes Estava quase a adormecer, quando ouvi uma voz indistinta a chamar-me. Pulei literalmente do meu assento e comecei logo a respingar. - Ouve lá, qual é a tua ideia?! Tu és maluca ou quê?! Fazes ideia do que… - parei. Não era a Kisa. À luz do candeeiro estava um ruivinho a olhar para mim com um ar muito surpreendido. - Olá? – arriscou ele – Vim em paz. - Desculpa. – disse eu embaraçada – Pensava que era outra pessoa. - A Kisa. - Sim, eu… Espera lá como é que tu… - Como é que eu sei que tu pensas que recebeste um bilhete da Kisa para vires até ao parque, mas ela ainda não apareceu? – ele sorriu amigavelmente – Fácil. Quem te mandou o bilhete fui eu. Fiquei embasbacada a olhar para ele. - Mas tu… - Se eu te conheço? Conheço-te muito bem Chiyo. Até sei que tens um género de “pressentimentos”, não é assim? Ok, tenho de admitir que estava a ficar assustada. Como é que ele sabia o meu nome? E os pressentimentos? Nem sequer os meus irmãos têm conhecimento disso, e eu conto-lhes sempre tudo. - Não te assustes. – tranquilizou-me ele com um gesto. Até parecia que me estava a ler a mente – Não te vou fazer mal e não sou nenhum pervertido que anda por ai. A questão aqui é a seguinte: A Kisa precisa mesmo da tua ajuda. - Precisa? O que é que aconteceu? 42
  • 43. - Acho que… Promete que não contas a ninguém. - Juro. Juro pela… - Jura pela tua aparelhagem. – o rapaz conhecia-me mesmo! Acho que me ia ter de habituar. - Pela minha aparelhagem, e que eu coma os meus CDS se quebrar a promessa. Ele sorriu outra vez. - Muito bem, isto é o seguinte. Acho que a tua amiga foi possuída por um espírito. Bloqueei como um computador velho. Quando voltei a mim articulei apenas a seguinte pergunta: - Onde estão as câmaras? Ele piscou os olhos confusamente. - Desculpa? - Sim, as câmaras. Isto é para os “Apanhados”, certo? - Não há câmaras Chiyo. É a verdade. A minha irmã detecta espíritos que possuem as pessoas. Olhei para ele desconfiada. - Como é que te chamas? - Claro, desculpa, que cabeça a minha! Chamo-me Raitou. - Muito bem… Raitou. Se o que tu dizes é verdade “e espero muito sinceramente que não seja” – pensei eu cá para mim – Quero provas. Isto não é chegar aqui e contar uma historinha qualquer. Dá-me complementos fiáveis. - Vi logo que ias dizer isso. – ele riu-se – Por isso mesmo tomei a liberdade de gravar isto. Passou-me uma câmara de filmar, e nela via-se a Kisa sentada ao pé de um pântano de águas turvas com uma espécie de sombra atrás dela, e quando ela levantou o olhar o vídeo começou a fazer barulhos estranhos e de repente apagou-se. - Meu Deus… O que é que eu faço?! – perguntei eu praticamente aos berros – Raitou! Tens de me ajudar! – estava tão desesperada que até me agarrei com todas as minhas forças à blusa dele. Ele atrapalhou-se um bocado com o meu gesto repentino, mas acabou por dizer: - Claro que te ajudo. Foi para isso que vim. Mas tens de ir ver a minha irmã. Ela é que pediu para vir buscar-te. Nem pensei duas vezes. Acenei logo afirmativamente com a cabeça fitando-lhe os olhos cinzentos. 43
  • 44. - Sim, sim! – Vá, vamos! – exclamei. Mais uma vez ele sorriu e começou a andar a toda a velocidade. Eu ia atrás tentando acompanhá-lo. De repente lembrei-me de uma coisa. - Olha, Raitou. – chamei eu. Ele parou e esperou que eu chegasse ao pé dele. – Tu disseste que me conhecias perfeitamente, mas eu, pelo contrário, estou a zero. Como é que isso é possível? Aí ele começou a rir-se como se eu tivesse contado a melhor anedota do mundo. Por momentos lembrou-me a Kisa, porque ela também se ria assim sempre que eu dizia a palavra “Topogigio”. - Desculpa… - disse ele ainda a rir-se – Tu realmente escolhes as perguntas a dedo! Mas eu não sou a pessoa mais indicada para te responder. Pergunta à minha irmã. Ela vai adorar essa. - … Ok. Já agora, podes andar mais devagar? - Isso é que já não pode ser! Mas não te preocupes, estamos quase a chegar… - Óptimo! estou estafada. Após andarmos mais 20 quarteirões. - Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Tás a gozar! Senhor! – exclamei eu ajoelhando-me e bradando aos céus (isto no meio da rua, com algumas pessoas ainda a passarem por ali) – Tende piedade desta sua humilde serva. Transforme os meus pés em patins e arranje- me uma merenda para o caminho (acabei por não jantar) e transforme este vil torcionário – apontei para o Raitou – de doces olhos cinzentos para o inferno! – calei- me e desatei a tossir – Quer dizer… vil torcionário de olhos cinzentos como….. manatins, que são amorosos, para o inferno! - Acabaste? - Não! E salve a Kisa por favor. - Ok, Madre Superiora, a hora das rezas acabou. – reparei que ele estava ligeiramente corado. Se eu reparei ele também, porque virou imediatamente a cara para o outro lado e começou a andar novamente e ainda mais depressa. Fizemos o resto do caminho em silêncio e quando chegamos finalmente a uma pequena vivenda com vista para o lago e ele parou. - Bem… É aqui. Sei que não é muito grande… - Eu gosto. – disse eu espontaneamente – É bastante bonita. Ele sorriu e tocou à campainha. 44
  • 45. Veio abrir a porta uma rapariga que eu calculei que fosse a irmã dele. Estava escuro e eu não conseguir ver a cara dela, mas ela foi muito simpática e convidou-nos logo a entrar. - Está um gelo, não está? – perguntou ela enquanto passávamos pela porta. Eu continuava sem ver nada porque a luz continuava apagada. De repente o Raitou fez o favor de ligar o interruptor e eu vi a rapariga mais… Como dizer? Estranhamente bonita que se possa imaginar. Tinha o cabelo vermelho (pois eu disse que ela não era muito comum) duas madeixas de cabelo preto e depois alguns bocados de cabelo branco (pintado obviamente) a caírem- lhe até à cintura. Tinha uns olhos azuis mar esverdeado e uma blusa com umas mangas larguíssimas, sendo estas rasgadas artisticamente e umas calças de ganga à boca-de- sino. - Tu deves ser a Chiyo, certo? – perguntou ela sorrindo, fazendo umas covinhas. - Sim. Sou eu, E tu és a... - Muito prazer! – exclamou ela dando-me um vigoroso aperto de mão que me ia derrubando – Chamo-me Youko! Provavelmente deves ter mil e uma perguntas a fazer, por isso segue-me até à cozinha. Fiz bolachas de chocolate! Podemos falar enquanto comemos! - À meia-noite e meia?! – Perguntou o Raitou abismado – Já te disse que és doida? - Olha, aqui a “doida” vai comê-las juntamente com a Chiyo – ela deve ter reparado no meu ar esfomeado – por isso se o senhor “horas certas” quiser fazer-nos companhia está à vontade! – a Youko sabe mesmo responder ao irmão. E agora que reparava bem, ela devia ser mais nova do que nós. Pelo menos do que eu, mas o Raitou devia ser da minha idade. - Youko, se não é indiscrição, posso perguntar-te quantos anos tens? - Ora essa, que pergunta! Claro que podes! Tenho 14 anos e se conseguir aguentar a convivência com o meu irmão até daqui a 3 semanas, faço 15. – Ela lançou um olhar sugestivo ao Raitou que ripostou imediatamente com um sorriso muito cínico. - Vê lá a minha sorte! Há 14 anos que convivo contigo! – Feitas as contas, cheguei à conclusão que ele é um ano mais velho que eu. Ela ignorou-o completamente. - Anda. – Disse-me ela pegando-me na mão – As bolachas já devem ter arrefecido. Segui-a, visto que não tinha outra opção, mas aquelas bolachas deitavam cá um cheirinho... Sentei-me num banco que ela me indicou. 45
  • 46. Enquanto ela verificava as bolachas, pus-me a observar a cozinha. Apesar de pequena estava bastante arrumada e tinha uma grande janela que dava para o jardim. Reparei também que numa mesa que estava ao meu lado, estava uma fotografia com um homem e uma mulher sentados num muro. Subitamente, olhei para os olhos do homem e eram exactamente iguais dos da cor da Youko. Depois vi que a expressão da mulher fazia lembrar muito o Raitou. Estava tão entretida a descobrir mais semelhanças que nem se quer reparei que a Youko se tinha aproximado. - São os meus pais. – Disse ela de repente, fazendo me dar um salto do banco. - Já tinha reparado. – Disse eu – És muito parecida com o teu pai. - Sim... – ela sorriu tristemente – Costumava ser. - Youko... – comecei eu. Nunca me tinha passado pela cabeça que ela e o Raitou pudessem ser órfãos. - E o Raitou é a cara chapada da minha mãe. Ou pelo menos era. Mas temos a nossa tia. Órfãos de pai e mãe. Imagino as dificuldades porque tiveram de passar. E eu que me queixava que os meus pais estavam sempre a trabalhar e que nunca os via. Realmente, está provado que as pessoas nunca estão satisfeitas com o que têm. De repente, uma ideia afligiu-me a mente. Os meus pais! Eles deviam estar agora do trabalho e com certeza que iriam fazer a “ronda dos quartos”. O que é que diriam quando vissem a minha cama vazia? Duvido muito que eles acreditem que o sangue do Houdini me corre nas veias. - Youko estou com um pequeno problema. – disse eu Ela olhou para mim com uma cara como se tivesse acabado de acordar de um sonho muito profundo. - O quê? - Os meus pais! Eles devem estar a chegar e de certeza absoluta que vão dar pela minha falta! - Oh, claro, tens razão! Anda, vem comigo! – Agarrou-me no pulso e saiu da cozinha, mas não sem antes me enfiar três bolachas pela boca abaixo. Subimos as escadas e ela entrou de rompante no suposto quarto do Raitou. - Temos de ir! – Gritou ela assustando-me e ao irmão - Bate antes de entrar! Queres ser responsável por um enfarte?! – Exclamou ele agarrado ao peito, ofegante. 46
  • 47. - Deixa-te de queixinhas! Anda, os pais da Chiyo devem estar a chegar por isso temos que ir já para o Mundo dos Espíritos! - Mundo do quê? – Perguntei eu, mas acho que nenhum deles me ouviu. O Raitou saiu disparado do quarto e levou-nos até à cave. Na cave estava uma porta que ele abriu mas que tinha tijolo e cimento a tapar a entrada. - Ora bem... Como é que passamos? – Perguntei eu – E as minhas perguntas ainda não foram esclarecidas! Porque é que o Raitou sabe tanto sobre mim? Há algum motivo especial para a Kisa ter sido possuída por um espírito? - Boas perguntas, má altura para as fazer. – Disse a Youko muito rapidamente – Resumidamente isto é assim. O Raitou é um “Vision Guardian”, ou seja, desde que nasceu que a missão dele é proteger a pessoa que possui o dom da visão, ou seja, tu Chiyo. Ele sabe tudo sobre ti desde o teu primeiro minuto de vida. - Mas... Eu fiz as contas e quando eu nasci ele só podia ter um ano no máximo! - Sim, mas a especialidade dos “Vision’s Guardians” é terem o conhecimento total da pessoa que estão a proteger, mesmo que seja inconscientemente. - Mas eu não tenho o dom da visão! – Exclamei – Apenas tenho alguns pressentimentos! - E tu achas que isso vai derivar em quê? – Interrompeu o Raitou. - E porquê é que só agora é que eu sei disso? - Porque fizeste agora os 16 anos. – Explicou a Youko – É nessa idade que se dá a mudança. - E a Kisa? - Pelos vistos a tua amiga tem tendência para atrair espectros e segundo as minhas observações este não é particularmente amistoso. - De que eu me lembre, a Kisa nunca tinha ficado assim. Bem, é verdade que ela é um bocado nervosa, mas... - Não é questão de ser nervosa ou não, mas se uma pessoa está mais fragilizada do que o habitual e já tem apetências para ser possuída, então é mais do que certo que isso vai acontecer. – Disse o Raitou desenhando com a ponta dos dedos símbolos esquisitos na parede da porta. - Isto claro, se um dos espíritos tiver escapado da sua prisão. Existem espíritos benignos e malignos. Acho que nem vale a pena dizer a que classe este pertence. – Esclareceu a Youko – É por isso que vamos agora para o Mundo dos Espíritos. A Kisa está lá. - E ninguém vai dar pela nossa falta? 47
  • 48. - Não. Quando entras no Mundo dos Espíritos, o tempo pára no Mundo Real. - Ora bem minha gente está tudo pronto. – Informou o Raitou. Olhei para a suposta parede e verifiquei que esta tinha desaparecido. No lugar dela estava um enorme buraco preto que onde se escapava um vento frio e sibilante. - De certeza que é seguro? – Perguntei eu com dúvidas. Era impossível ver o fundo com aquela escuridão. Aproximei-me e pus-me a olhar para baixo. - Escusas de olhar. – Disse o Raitou – Isto não tem fundo. - E esperam que eu salte ali para dentro?! – Exclamei eu. - Yup! – Disse Youko deixando a sua cara transparecer a sua felicidade – Bora lá Chiyo! – Sem aviso prévio, correu para mim como uma flecha de braços esticados - Ah não, nem penses! – Guinchei eu afastando-me atabalhoadamente. A Youko com a velocidade que ia, não conseguiu travar a tempo e atirou-se literalmente em queda livre para o buraco. - Oh, meu Deus! – Bradei eu espreitando para o buraco – Acabei de matar a Youko! - Senhoras, primeiro! – Proclamou o Raitou empurrando-me com toda a força. Berrei tanto que mais parecia que me estavam a mutilar os membros e mantinha teimosamente os olhos fechados enquanto o vento fustigava a minha cara como lâminas afiadas. De repente ouvi um sonoro “splash” e senti-me molhada até ao tutano! Vim ao de cima, preparadíssima para descarregar toda a minha ira em cima do Raitou, quando vi a Youko rindo-se a bandeiras despregadas. Sai de água e olhei em volta. Estávamos na rua e era tudo............................. Absolutamente igual. - Bem-vinda ao Mundo dos Espíritos! – Exclamou a Youko feliz. - Obrigado... Mas isto é tudo exactamente igual ao Mundo Real. - Nem tudo. – Disse o Raitou aparecendo de repente – Aqui não existem “pessoas normais”. - Tu incluído! Ainda estou para me vingar! – Prometi eu, de dedo em riste. - Fico à espera. – Sorriu ele, divertido. - Muito bem pombinhos! – Corámos os dois. Eu não estava interessada nele! Nada! – A nossa missão é encontrar a Kisa! Para informações mais detalhadas vamos ter com o “Ghost Keeper” desta região! - Região? – Perguntei eu. - Sim, já disse que este mundo é exactamente igual ao nosso. 48
  • 49. - Então é como se isto fosse o mundo real do Além? - Podemos dizer isso. – Esclareceu o Raitou, tentando evitar cruzar o seu olhar com o meu. - Vamos embora! – Ordenou a Youko, tomando a liderança. Andámos pelas ruas onde os espíritos andavam em conversa amena ignorando-nos completamente. - Eles não estranham andarmos entre eles? - Não, eles não nos vêem. Estávamos a passar por um beco quando me deu a sensação de ter visto de relance a Kisa. Parei e entrei dentro do beco, mas ali só havia caixotes do lixo e latas vazias. - O que estás a fazer? – Perguntou o Raitou – Convêm não nos separarmos. - Pareceu-me ter visto a Kisa. – Justifiquei-me, olhando para ele. Ele franziu as sobrancelhas e olhou para cima como se estivesse a farejar o ar. De repente agarrou-se à cabeça e caiu desamparado no chão gemendo baixinho. - Raitou! – Exclamei eu, baixando-me para ficar ao mesmo nível que ele – O que foi? O que é que se passa? - Sai... Sai daqui. – Balbuciou ele, começando a contorcer-se como se tivesse apanhado um choque eléctrico. Obviamente que não fiz o que ele me disse, pois nunca ficaria com a consciência limpa se lhe acontecesse alguma coisa. Olhei para a parede e vi que ela tinha uma espécie de vórtice e que de lá saia uma espécie de energia. Tive o pressentimento que o problema vinha dali, mas até a pessoa mais obtusa chegaria a essa brilhante conclusão. Peguei num pau que estava ali caído e aproximei-me cautelosamente da parede. De repente fui assombrada por uma visão. Vi a Kisa num meio de um pântano, pálida como a morte juntamente com outros cadáveres. Ela movia a boca como se estivesse a dizer qualquer coisa e depois abriu os olhos completamente brancos a começou a sangrar abundantemente da boca e a rir-se até se engasgar e começar a arranhar-se ferindo-se de propósito como se a dor fosse benéfica. Virou-se de lado e sorriu para mim com um fio de sangue a escorrer-lhe novamente da boca. Perante aquilo que vi, investi com todas as minhas forças contra a parede, mas fui interrompida por um braço que me agarrou com força e me impediu de avançar. 49
  • 50. Continuei a movimentar o meu outro braço que tinha o pau como se estivesse a fazer golpes de espada mas um outro golpe fez com que eu o largasse. - Está quieta! – Ordenou a pessoa que me agarrou – Não consegues matar um “Death Soul” com um pau! – Pela voz percebi que era de rapariga. Olhei para ela e ela olhava para mim com tanta firmeza que parei de esbracejar como uma doida e recuei. Ela olhou para mim com um olhar satisfeito e percebi que tinha feito a escolha acertada. A rapariga fez um gesto no ar e apareceu uma foice que a representação da morte costuma trazer. Disse para ali uma ladainha qualquer e aquilo na parede começou a perder energia. O “Death Soul” tinha desaparecido mas deu-me a sensação que não tinha morrido completamente e o vento soprava com tanta força que até parecia ele furioso, a barafustar. A rapariga deve ter achado o mesmo porque agitou a foice ameaçadoramente como se fosse pregar com ela na cabeça dele caso ele voltasse. Depois correu para o Raitou que jazia ali no chão completamente inerte. Fiz o mesmo e pus-me de joelhos, bem na verdade atirei praticamente para cima dele, mas isso é apenas um pormenor... De repente ela passou com o dedo na lâmina da foice (ainda estou para descobrir como é que ela não se cortou) e apareceu vindo do nada um sujeito com um ar decididamente psicótico e que fazia parecer que o ar tinha ficado pesado sem motivo aparente. - Não te vai fazer mal. – Disse a rapariga calmamente – A sensação que sentes é apenas passageira, vais habituar-te. Pois, e até lá tinha que aguentar com um tipo mais gótico que o Marilyn Manson olhar- me pelo canto do olho. - Neji, não sejas indiscreto. – Ordenou a rapariga tentando manter-se séria, mas eu estava a ver que ela se estava a partir a rir. – Faz o teu trabalho. - Mas é tão emocionante! – Exclamou ele – Quer dizer, é tal e qual como dizia o teu pai! Um humano verdadeiro! Mesmo à minha frente! - Sonho de vida concretizado... Podes morrer em paz. – Disse a rapariga. - Disparate! Sabes perfeitamente que eu não posso morrer assim sem mais nem menos! Eu olhava para eles completamente a leste. Aqueles dois tagarelavam tão embrenhadamente que eu começava a desconfiar que eles se tinham esquecido do Raitou! - Desculpem... – interrompi eu suavemente – Mas, podem ajudar? É que eu gostava muito que o meu amigo vivesse se não se importam... 50
  • 51. É claro que é uma maneira um bocado estúpida de pedir que “ressuscitem” uma pessoa mas eu estava chocada com a figura que se apresentava à minha frente. Quer dizer, o sujeito era altíssimo e tinha um cabelo preto escorrido e comprido que lhe chegava aos ombros e uns olhos amarelos e muito assustadores. Um autêntico Marilyn Manson! Estive tentada a perguntar-lhe se ele não tinha um olho de vidro. Vestia-se todo de preto com correntes a envolverem o casaco de cabedal e uns botas de tropa também pretas. A pele dele era extremamente pálida como se nunca tivesse apanhado um único raio de sol na sua vida, porém comportava-se de uma maneira completamente normal. Bem... excentricamente normal. - Oh, pois! – Exclamou a rapariga – Neji, dá aqui uma mãozinha. O Neji aproximou-se do Raitou e colocou o seu polegar no meio da testa dele. Depois uma espécie de halo emanou dos olhos do Neji e esfumou-se espalhando-se no corpo todo do Raitou. Este começou finalmente a dar sinais de vida. - Está vivo... – disse eu visivelmente aliviada. - Prontinho! – Anunciou o Neji satisfeito. - Obrigado! – Disse eu para a rapariga – Devíamos ter ficado os dois feitos num oito se não tivesses aparecido. - Não pude evitar. Achei estranho um “Death Soul” estar a emanar energia tão intensamente e decidi investigar. Quando chego aqui encontro um rapaz caído no chão e uma rapariga com um pau em punho indo atacar um demónio que a desfazia em mil bocadinhos se ela tivesse aproximado mais um centímetro. Engoli em seco fazendo um enorme ruído. De repente lembrei-me da Youko. Assustei-me à brava e perguntei abruptamente se não tinham visto uma rapariga de cabelos vermelhos com madeixas pretas e brancas. - Não. Ela estava convosco? - Inquiriu ela. - Espera, ela é baixinha, um bocado estrambólica e parece uma grafonola que nunca se cala? – Indagou o Neji. Não pude deixar de rir. A descrição da Youko estava perfeita e construída apenas em três palavras. Baixinha, estrambólica e grafonola, nem o Shakespeare faria melhor! - É isso mesmo. – Ri eu agarrada à barriga, se bem que aquele não era o momento para estar com risotas. - Eu conheço-a! – Informou ele. 51
  • 52. - Conheces? – Perguntei eu aliviada, pelo menos era mais alguém a quem podia pedir ajuda para a procurar visto que o Raitou encontrava-se naquele momento indisponível, pois ainda se encontrava a começar a respirar regularmente aos poucos. - Conheces?! – Disse a rapariga com um tom de voz surpreendido e com uma ponta de desconfiança. - Sim, sim! – Assegurou ele – Ela detectou-me daquela vez em que eu decidi fazer uma visitinha ao Mundo Real, se bem que ela descobriu-me antes de eu conseguir ver um humano... - Um momento... – disse a rapariga lentamente – Rebobina, deixa-me lá ver se percebi. TU foste ao Mundo Real?! Pela cara percebi que o Neji estava a magicar numa resposta decente para dar. - Se eu disser que sim vais torturar-me para a eternidade? – Perguntou ele cautelosamente. Ela sorriu maliciosamente e semicerrou os olhos. - Como deves calcular. - Então não. – Disse o Neji muito depressa. - Pois. Depois havemos de falar sobre: “Visitas perigosas ao Mundo Real sem protecção nenhuma, onde com toda a certeza se iria ser descoberto por um “Mystical Seeker” “ Supus que o tal “Mystical Seeker” fosse a denominação para o poder da Youko, mas esse pensamento foi afastado rapidamente pois o Raitou começava finalmente a despertar! - Raitou! – Exclamei eu ajudando-o a sentar-se – Sentes te bem? Ele olhou à volta com uma expressão de confusão no olhar e depois olhou para mim e sorriu docemente. - Então rapaz? – Perguntou a rapariga dando-lhe palmadinhas amigáveis nas costas – Isso vai indo? Pregaste-nos cá um susto! - O que é que aconteceu? – Perguntou ele à rapariga – E tu és? - Tentaram possuir-te. Devo dizer que fiquei deveras impressionada. Embora tenhas desmaiado mostraste ter um controlo de mente muito superior ao normal. – Explicou ela – O meu nome é Shiori. E este aqui é o Neji. É o meu “Following Phantom”. A nossa missão é guardar todos os espíritos que constituem perigo para a sociedade dos fantasmas. 52
  • 53. - Andávamos à tua procura! – Exclamou o Raitou com uma cara que parecia que tinha acabado de ganhar o Euromilhões. A Shiori pestanejou ligeiramente admirada e de seguida olhou para o Neji que observava o Raitou com toda a curiosidade. Eu e o Raitou trocamos olhares cúmplices e logo de seguida perguntámos os dois ao mesmo tempo se por acaso não tinha dado falta de algum espírito. - Escapou algum?! – Inquiriu logo ela com um olhar muito assustado. - Sim, e foi para o Mundo Real e possuiu a minha amiga. – Expliquei eu tentando ser o mais concisa possível. - Quando é que a tua amiga foi possuída? – Perguntou o Neji. - Bem, acho que foi a noite passada. A Shiori fechou os olhos pedindo um momento de silêncio com a mão enquanto se concentrava e falava muito baixinho consigo mesma. Parecia que estava a enumerar características de qualquer coisa, pois estava a contá-las pelos dedos. - Ela está a ver qual é o tipo de espírito que escapou e qual é a melhor maneira de o interceptar. – Explicou o Neji baixinho. Acenei a cabeça irreflectidamente, pois estava admirada com a quantidade de coisas que a Shiori estava ali a dizer, aquilo parecia pior que arcaico antigo! - Já sei!!!!! – Berrou ela de repente, fazendo com que nós os três, que olhávamos para ela fixamente, déssemos um salto daqui até a Alcabideche! - Cuidado... – avisou o Neji escondido atrás de mim – Ela é doida varrida... - O espírito que possuiu a tua amiga é um “Vampire Shapeshifter”! – Anunciou-me com uma expressão feliz. - Isso são boas notícias, espero? – Perguntei eu esperando ansiosamente por uma resposta positiva. A Shiori mudou a sua expressão de máxima felicidade para uma de desalento, o que provocou a um baque no peito que até parecia que me faltava o ar. O Raitou colocou-me a mão no ombro para me dar ânimo, mas não resultou. Ao ver o esmorecimento espelhado nos olhos da Shiori fez-me pensar que não havia réstia de esperança para a Kisa. - Lá por ser um “Vampire Shapeshifter” não quer dizer que não possa ser derrotado. – Disse a Shiori aproximando-se de mim. - Exacto! – Apoiou o Neji – É preciso ter fibra! É preciso levantar a cabeça e encarar o mundo de frente! É preciso... - O que o Neji está a tentar dizer, é que não te podes deixar abater. – Consolou-me o Raitou docemente – Se desistires agora a Kisa nunca poderá ser salva. 53
  • 54. Senti uma grande vontade de chorar de alívio. Todos eles tinham razão à sua maneira e se eu desistisse então nunca colheria frutos. Porém achei que era melhor informá-los da visão que tive antes de atacar o “Death Soul”. - Eu tenho uma coisa para dizer. – Anunciei –Antes de atacar o “Death Soul” eu tive uma visão. Vi a Kisa – olhei para a Shiori e para o Neji – é a minha amiga. E ela estava tipo num pântano com outros cadáveres à volta, e ela mexia a boca como se estivesse a falar sozinha e depois abriu os olhos e eles estavam completamente brancos e depois começou a sangrar da boca e a engasgar-se e a arranhar-se e depois, dá a sensação que ela se virou para mim e sorriu-me e um fio de sangue escorreu pela boca dela. Terminei o meu relato o mais depressa possível, pois só estar a recordar-me daquilo que vi dá me arrepios que vão até à espinha. Pela cara do Raitou percebi que ele estava um bocado hesitante no que havia de dizer, a Shiori olhava para mim com uma cara completamente concentrada, como se estivesse a tentar assimilar alguma informação extra tendo em conta o que ouviu, e o Neji... Bem, esse estava mais para lá do que propriamente para cá. Digamos que durante algum tempo ele só vai conseguir ouvir histórias da Bela Adormecida e coisas desse género. Acho que ele deve ter uma imaginação muito fértil, pois ele fazia uma cara terrivelmente chocada. - Bem... Não vai ajudar em nada se ficarmos aqui o resto do tempo. – Acabou por dizer o Raitou – E ainda temos de encontrar a minha irmã. - Correcto e afirmativo. – Assentiu a Shiori levantando-se – Vamos à procura dela. - Anima-te! – Exclamou o Neji para mim – Motivação! Já agora, como é que te chamas mesmo? - Chiyo. – Respondi a rir-me. Por muito que me esforçasse não conseguia imaginar o Marilyn Manson naquelas figuras. Já estava mais animada. Realmente, o Neji devia ser especialista em levantar o moral das pessoas. Virei-me e vi a Shiori com as mãos estendidas, segurando uma espécie de losango preto umas cornucópias muito rebuscadas e perfeitamente coincidentes, com uma pedra verde jade florescente. - E isso é? – Perguntei eu curiosa. O Raitou também se aproximou olhando por cima do meu ombro. - Isto? – Disse ela, mexendo na pedra fazendo com que uma espécie de fios muito finos como cirros brancos se movessem graciosamente – Serve para procurar pessoas, ou espíritos e etc. É bastante útil. - E como funciona? – Inquiriu o Raitou visivelmente interessado. 54
  • 55. - Muito simples. Basta pôr os fios que aqui estão de uma certa ordem, dependendo do que se quer encontrar, pessoa, espírito, animal ou outra coisa qualquer. Depois disso, basta dizer o nome daquilo que se procura e a Pedra emite um fio de luz que basta seguir até encontrarmos o desejado. - Há uma coisa que eu não estou a perceber. Vamos supor que tu queres procurar alguém chamado... Nayuki. Existem muitas pessoas com esse nome, como é que tu sabes que o fio te está a indicar a pessoa correcta? – Perguntei eu. - Porque Ela sabe quem procuras. Não lhe podes ocultar a tua mente, se queres procurar um a pessoa chamada Nayuki ou Akane ou lá o que for, Ela levar-te-á à pessoa que buscas. - Estás a dizer que a pedra está viva? – Indagou o Raitou surpreendido. - Tão certo em eu como me chamar Shiori. Esta Pedra é uma “Houkai Soul”, ou seja, um espírito sagrado do Sétimo Crepúsculo. - Sétimo Crepúsculo. – Repeti eu lentamente para assimilar bem o nome. - Já ouvi falar disso. – Informou o Raitou – Esses Crepúsculos só se dão quando uma alma é sacrificada brutalmente. Diz-se que os Houkais, deuses da natureza, enviam sempre um enviado que protege a alma torturada e as leva para o descanso eterno, ficando assim conhecidas como as “Houkai Soul”, os espíritos sagrados do Sétimo Crepúsculo. - Tal e qual. – Elogiou a Shiori agradavelmente surpreendida – Como é que sabes? Já não existe muita gente com esse tipo de conhecimento. - Sou o “Vision Guardian” da Chiyo. – Explicou ele – Passei a minha vida inteira a estudar coisas desse género. - Percebo. Bem, não nos vamos pôr com mais demoras, vamos lá à procura da tua irmã. Neji... Neji? Neji!!! - O quê? Estou aqui. – Ouvimo-lo a responder mas não o víamos em lado nenhum. - Aonde?! Ele apareceu vindo do nada e pôs a sua mão no ombro da Shiori que olhava para todos os lados, tal como eu e o Raitou, feitas baratas tontas. - Credo homem! – Exclamou ela dando um salto enorme – Não me assustes assim! - Desculpa. – Justificou-se estendendo-lhe um livrinho – Mas olha o que aquele “Death Soul” deixou cair quando se foi embora. 55
  • 56. A Shiori folheava as páginas do livrinho rapidamente e a cada passagem de folha um brilho de entusiasmo assentava-se cada vez mais no seu olhar até ela esboçar um enorme sorriso de lóbulo a lóbulo. - Neji, tu tens a consciência do que acabaste de encontrar?! - Não me digas! – Pediu ele divertido – Será... um livro de autógrafos? Não! Espera! É um documento de estado importantíssimo que alguém importante perdeu, e se o devolvermos seremos considerados heróis nacionais? - Não. Melhor. Este livro contém informações importantíssimas sobre espíritos, maldições, demónios e a melhor maneira de os interceptar! Isto é um bem valioso de grande magnitude! Foi escrito por um demónio convertido! Ele havia de saber o que estava a escrever! Sabes o que aconteceria se isto caísse nas mãos erradas? - Uma coisa má. Sendo assim, eu sou um herói! Venerem-me! -Excelente, óptimo, maravilhoso, lindo! Agora podemos ir procurar a minha irmã? - Sim, sim. – Disse a Shiori guardando o livrinho numa bolsa que ela trazia - Muito bem... – Agarrou no dito cujo losango e disse baixinho o nome da Youko. A Pedra “agitou-se” e emitiu um fiozinho que se prolongava até à rua principal fazendo depois uma curva. Sem mais demoras, seguimos o fio, mas entretanto lembrei-me de mais uma das minhas perguntas pertinentes. - Shiori, ouve lá os fantasmas não nos conseguem ver. Então e a ti? Tu não és humana pois não? Tu tens um não sei o quê de misticismo bastante forte. Consigo senti-lo. - É muito curiosa. – Justificou o Raitou perante o olhar da Shiori. - Estou a ver. - Ela fez uma pausa antes de começara contar - Eu nasci aqui. Mas não sou fantasma. Sou, como já disseram um “Ghost Keeper”. A minha família habita neste mundo há milhares de anos e somos os únicos que podemos afirmar que somos “semi- humanos” – ela fez um sorriso malandro – Quem nasceu neste mundo não pode ser totalmente vivo, pois se algum ser humano permanecer aqui mais de dois dias é considerado heresia e quando morrerem, as suas almas não são aceites aqui. Ou seja, morrem no instante a seguir e as suas almas irão vaguear para toda a eternidade, até que aconteça um outro Sétimo Crepúsculo. - Deixa-me adivinhar. – Pediu o Raitou – A sacrificada vai ser a Kisa? - É isso que eu estou a pensar. – Admitiu a Shiori – Lembro-me de o meu pai me ter contado que conheceu um humano foi para aqui para fugir à Idade das Trevas, que o Mundo Real atravessava. 56
  • 57. - Um momento – interrompi – A suposta Idade das Trevas deu-se em Inglaterra, isso foi mais ou menos no século XI, ou XII, como é que o teu pai o conheceu? - O tempo aqui não é igual ao vosso. Um ano aqui equivale a 250 anos no vosso mundo. Continuando. Esse homem era algo estranho. Dizia que era perseguido e que não queria voltar para o Mundo Real de maneira nenhuma. O meu pai tentou explicar-lhe que ele não podia ficar porque senão morria, mas ele não fez caso. Passaram-se dois dias e ele não morreu, pelo contrário, parecia cada vez mais vivo, porém desde a chegada dele que começou a haver mortes. - Mortes? Mas as pessoas daqui já não estão mortas? – Perguntou o Raitou. - Isso foi o que intrigou o meu pai. Após ter feito alguma pesquisa descobriu porque é que ele fugiu do Mundo Real. Era considerado um filho de Satanás. Um demónio vampiro, “Vampire Shapeshifter” o quer dizer que muda de forma. E o destino dele no Mundo Real nessa época era a fogueira. Então decidiu ir para aqui para se alimentar da energia espiritual das pessoas até as suas almas não serem mais do que pó e cinzas. - Percebo. – Disse o Raitou. - E não só! – Adiantou o Neji – Depois de se alimentar delas, as almas ficam possuídas por um Shougai. - Pelo quê? – Perguntei eu. Definitivamente não tenho jeito nenhum para apanhar definições de espíritos e muito menos os nomes deles. - Os Shougais são o oposto dos Houkais. Se os Houkais são deuses da natureza, os Shougais são deuses malignos que habitam nos pântanos e aproveitam-se das almas “mortas” para encontrar um sacrificado para que aconteça um outro Sétimo Crepúsculo. Quando isso acontecer basta apenas matar o Houkai enquanto ele inicia a passagem do sacrificado para um “Houkai Soul” e aí os Shougais como estão a possuir as almas “mortas” podem-se libertar e ir para o Mundo Real. O fio levou-nos até uma praça onde avistamos lá bem ao fundo a Youko que por ali vagueava à nossa procura. - Youko! – Chamou o Raitou acenando-lhe – Estamos aqui! Ela virou-se e começou a correr como um foguete para nós, e quando se estava a aproximar do irmão, saltou no ar e pregou um grande carolo na cabeça dele enquanto dava um grito digno de australopiteco. - Eu cá é que não me aproximo dela. – Declarou o Neji à Shiori – Pode ser perigosa. - Mas tu não a conheces? - Sim, e ela parecia amigável. Parecia. 57
  • 58. - TU! – Exclamou a Youko ao Raitou fazendo gestos perfeitamente exagerados – Seu estulto! Aboleimado! Como te atreves a deixar a tua irmã mais nova, abandonada em busca do “Ghost Keeper”?! - A culpa foi minha. – Interrompi eu pondo me no meio deles os dois. Ainda podia dar uma coisinha má à Youko e estrangular o irmão se lhe desse para isso. Naquele momento já acreditava em tudo, por isso essa hipótese parecia-me bastante plausível. O Raitou esfregava a cabeça e sorria ligeiramente para a Youko que olhava para mim ansiosa por uma resposta. Só me fazia lembrar os miúdos pequeninos à espera que se lhes conte uma história antes de dormir. – Pareceu-me ter visto a Kisa num beco, mas não era. O teu irmão veio ter comigo para me dizer que não era conveniente separarmo- nos, mas então, um “Death Soul” – a Youko susteve a respiração – apareceu vindo do nada e atacou-o deixando-o inconsciente. - Credo! – Disse ela toda aflita. Apesar de se estarem sempre a picar eles gostam muito um do outro. Amor de irmãos. Eu percebo isso. Bem demais. – Estás bem? - Estou óptimo. Pronto para outra! – Garantiu ele sorrindo – Não te safas de mim assim tão facilmente! Ela sorriu. - Continuando. – Anunciei – Eu ia atacá-lo mas então tive uma visão da Kisa... - Estás a ver?! – Exclamou a Youko felicíssima – Os teus poderes estão a desenvolver- se! Daqui a nada começas a dominar os poderes psíquicos! - Poderes psíquicos? – Perguntei eu – Bem, depois explicas se tivermos tempo. Deixa- me acabar de uma vez. Como estava a dizer, vi a Kisa no meio de um pântano rodeada de cadáveres e comportava-se de uma maneira no mínimo esquisitíssima. Entretanto, apareceu a Shiori. - Olá. – Cumprimentou ela. - Tudo bem? – Perguntou a Youko fazendo mais um dos seus sorrisos que põe logo toda a gente à vontade. - Que me impediu de avançar e afugentou o “Death Soul”. Depois o Neji... - Neji?! – Perguntou a Youko. Na verdade acho que foi mais uma exclamação, mas é irrelevante neste caso. - Sou eu! – Respondeu ele levantando a mão como se estivesse na sala de aula e estivesse a fazer a chamada. - Eu conheço-te! – Afirmou ela apontando – és aquele espírito que esteve há pouco tempo no Mundo Real! 58
  • 59. - Não percebo. – Disse a Shiori olhando para o Neji – Tu disseste que nunca tinhas visto um humano, porém tu conhece-la. Isso não conta? - Não. É mais do que obvio que ela não é um humano! - Não? – Perguntou a Youko. Eu e o Raitou olhávamos para o Neji um bocado receosos. Pelo nosso relacionamento com ele não podíamos esperar dali boa coisa. - Claro que não! É mais do que óbvio que és uma extraterrestre! - Bolas pá, és meeesmo perspicaz! – Ironizou a Youko fazendo uma cara de choque – Apanhaste-me! Sou uma marciana! - Eu sabia. – Disse ele fazendo uma cara convencida. - Podem deixar a Chiyo acabar? – Pediu o Raitou. - Obrigado Raitou. Depois, o Neji “ressuscitou” o teu irmão e... - Ressuscitaste o meu irmão?! – Ela fez uma cara que até parecia que tinha visto S. Gabriel. Depois correu para o Neji e atirou-se para o pescoço dele deixando-o terrivelmente embaraçado. Eu, o Raitou e a Shiori (especialmente a Shiori) riamo-nos a bandeiras despregadas e a Shiori até teve de se sentar no chão. - Obrigado, Obrigado! - De nada, de nada... – dizia ele dando palmadinhas na cabeça da Youko. - Lamento interromper este momento tão bonito e comovente, mas é necessário salvar a Kisa! – Disse eu puxando a blusa da Youko para lhe chamar a atenção. - Certo! – Concordou ela pulando do colo do Neji – Vamos à procura do “Ghost Keeper” e depois ao salvamento! Já agora... – virou-se para a Shiori – conheces o “Ghost Keeper”? E porque é que consegues nos ver? - Bem... – começou a Shiori – A verdade é que eu sou o “Ghost Keeper”. E consigo ver- vos porque não estou morta, apenas nasci aqui. - Oh... – disse a Youko com os olhos esbugalhados. - Pareces um sapo. – Disse o Raitou – Acorda do transe rapariga! - Muito prazer! – Exclamou ela fazendo vénias exageradas. - Não é preciso fazer vénias... Podíamos ter ficado ali eternamente com a Youko venerando a Shiori e eu, o Neji e o Raitou feitos parvos à espera que aquilo acabasse, mas de repente um grupo de espíritos apareceram com o terror espelhado nas suas expressões. - O que é que se passa? – Perguntei eu franzindo as sobrancelhas. Fosse lá o que fosse não era coisa boa de certeza. 59
  • 60. - Vou investigar. – Disse o Neji dirigindo-se para eles. - Sim, faz isso, eu vou pedir aos espíritos que se afastem, pois pode ser perigoso. – Anunciou a Shiori – Vocês. – Disse ela para nós – Encostem-se à parede, isto pode tornar-se uma numa multidão a fugir em debandada e, acreditem em mim, não é agradável sermos trespassados por um espírito. Eles tem uma espécie de líquido viscoso que é como se fosse o sangue deles, e sempre que atravessam alguém essa pessoa fica toda coberta com um líquido prateado. Falo por experiencia própria. - Nem vale a pena argumentar. – Sorri eu – Se precisares de ajuda grita. - Ok. Fizemos o que ela nos disse e observamos o Neji a falar os espíritos que gesticulavam furiosamente enquanto o Neji olhava e acenava com a cabeça com ar preocupado. Entretanto a Shiori mandava os restantes espíritos para dispersarem e não se aproximarem dali durante algum tempo e passarem palavra. Após algum tempo o Neji disse aos espíritos para se irem embora. - Então? – Perguntou o Raitou quando eles os dois se aproximaram – o que é que aconteceu? - Nada de bom. – Informou o Neji com um olhar triste – Disseram que viram manifestações de um próximo Sétimo Crepúsculo. Ou seja, vozes vindas do nada, sangue a sair das paredes e céu a ficar transparente mostrando o reflexo do pântano. - Traduzindo, não há tempo a perder. – Disse a Youko com um olhar decidido – Vamos lá pessoal! A equipa maravilha está pronta para a acção! - Assim é que é! – Apoiou o Neji. - Shiori mostra-nos o caminho. – Pedi eu com um olhar resoluto que ela respondeu com um vigoroso acenar de cabeça. - Sigam-me, o pântano fica nos arredores da cidade. Andámos uns dez minutos em passo acelerado, mas para mim parecia que estávamos em modo câmara lenta. Por todo o lado viam-se poças de sangue e murmúrios abafados que nos faziam ter arrepios na espinha. O Raitou caminhava ao meu lado em profundo silêncio enquanto a Youko seguia em frente falando baixinho com o Neji. - Estás bem? – Perguntou-me o Raitou de repente. Tenho de admitir que ele me assustou, estava tão absorta nos meus pensamentos que fez com que eu saltasse para o lado em posição de combate. Para ser sincera, eu não fazia mínima ideia como combater 60
  • 61. um espírito, um Shougai para ser concreta, mas adoptei uma posição defensiva olhando para todos os lados como se estivesse rodeada. - Calma. – Disse ele, mas a sua voz traía uma ponta de nervosismo. Aliás, o clima entre todos nós era bastante incomodativo. - Estou bem. – Respondi – Bem, talvez não esteja. Mas não há-de ser nada. Só vamos combater contra um Shougai. Para quê preocupar-nos? – Naquele momento deu-me para ironizar a situação. - Pois, eu também estou nervoso. – Admitiu ele – Quem é que não está? - Eu não. – Disse a Youko virando-se para nós – Só estou com uma pilha de nervos em cima. - Idem. – Concordou o Neji. - Chegámos. – Anunciou a Shiori parando à frente de um enorme portão enferrujado que bloqueava um longo caminho agreste sempre a subir. O portão estava fechado com umas correntes grossíssimas que balançavam ao sabor de uma brisa que nos arrefecia por dentro. Era como se o Vento nos estivesse a avisar para não entrarmos, mas obviamente que essa hipótese estava fora de questão. - Saiam da frente. – Pediu o Neji avançando para o portão com passos firmes. Com um golpe bem aplicado, as correntes partiram-se e caíram ao chão fazendo um enorme ruído. Ele empurrou o portão que estava bastante emperrado visto o grande chinfrim que fazia. - Eu vou primeiro. – Disse eu dando um passo em frente. - Nem pensar. – Impediu-me o Raitou agarrando me pelo braço – É demasiado perigoso. Eu vou. - Mas... – comecei eu, mas fui impedida de responder, pois o Raitou beijou-me ali à frente de tudo e todos sem cerimónia alguma. - Não discutas comigo. – Acrescentou ele. E dito isto virou-me as costas e entrou cautelosamente. Eu fiquei ali especada sem saber bem que reacção deveria ter, mas a Youko chegou-se ao pé de mim e disse-me ao ouvido: - Se sairmos desta inteiros eu aviso desde já que quero ser a madrinha. Vou adorar ter-te como cunhada! - Vamos. – Disse o Neji puxando-a para longe de mim. – Quando mais depressa acabarmos com isto melhor. 61
  • 62. Seguimos o caminho que se estendia á nossa frente, que parecia nunca mais acabar. Do Raitou, nem sinal, já devia estar no cimo do monte. Decidimos correr o mais depressa possível, e quando chegámos vimos o Raitou olhando para baixo com um semblante horrorizado. Á nossa frente estendia-se o pântano. Enorme, parecia cobrir tudo o que a vista alcançava, todo ele coberto de cadáveres que se movimentavam numa estranha dança. E foi então que eu a avistei. A Kisa. Tal como eu tinha visto na minha visão. No meio daquela horda de mortos decrépitos, ela estava com a água pela cintura, porém era possível ver que o pântano tinha vários metros de profundidade. Envergava um vestido branco com rendas, um bocado antiquado e umas longas mangas que lhe deviam chegar aos pés. O cabelo dela crescera consideravelmente, pois agora ultrapassava-lhe os joelhos sem a menor dificuldade. Porém, o que me assustava era os olhos dela. Em vez de serem de cor de mel, como costumavam ser estavam brancos, tal como eu tinha visto. Ela sorriu para nós e um fio de sangue escorreu-lhe pela boca indo cair no pescoço. - Vai começar o ritual. – Informou a Shiori num sussurro. - Olha lá, afinal o que possuiu a Kisa é um “Vampire Shapeshifter” ou um Shougai? – Perguntei eu. - Segue a minha teoria. Eu penso que foi um “Vampire Shapeshifter”, mas como já deves ter calculado a Kisa tem apetências para ser possuída e como ela emana uma aura muito forte um Shougai deve também a ter possuído, visto já se ter alimentado de grande parte do seu espírito. - Resumindo, a Kisa foi possuída por dois espíritos? - Isso mesmo. – Corroborou a Shiori. - Oh joy... – disse eu. Tal como ela dissera, o ritual tinha começado. Os cadáveres começaram a reunir-se à volta da Kisa que olhava para eles com um ar muito solene. Depois, começaram a passar entre eles uma faca magnificamente trabalhada em prata e com um gume de prata também. Em cada cadáver era desferido um golpe pelo companheiro do lado que passava ao outro e assim sucessivamente. Quando finalmente a faca chegou à Kisa, vislumbrava-se apenas um vulto vermelho a escorrer por todo o lado. Ela agarrou na faca calmamente e aproximou o gume do seu ombro e começou a cortar-se lentamente até à mão. Sem conseguir aguentar aquele ritual masoquista, atirei-me do monte para o pântano. Dentro de água, atrevi-me a abrir os olhos mas não via absolutamente nada. 62
  • 63. Queria vir ao de cima mas não conseguia, havia qualquer coisa que me puxava para baixo. De repente, senti uma mão a puxar-me. Era o Raitou. - És doida?! – Perguntou-me ele furioso quando voltámos á tona. Olhei para trás, e a Youko, a Shiori e o Neji estavam na margem aflitíssimos comigo. - O que sugeres que eu faça?! – Respondi eu também já de cabeça perdida – Que fique a assistir tranquilamente a este maravilhoso espectáculo?! - Não, é claro que não! Nós resolvemos isto juntos, lembras-te?! Individualmente não vamos lá! Subitamente lembrei-me de uma coisa. Sempre que eu lia algum livro em que o herói ou a heroína tinha que salvar alguém, criticava sempre a maneira como eles se comportavam quando chegava a hora de “pôr as mãos na massa”. “- Que estupidez! – dizia eu – Dizem sempre que tem de resolver tudo sozinhos, e que não querem de maneira nenhuma que os amigos se metam nos assuntos! Então não é mais do que óbvio que a união faz a força?!” “- Ora aí está uma maneira de pensar inteligente! – concordou o Len quando eu lhe disse o que pensava – E espero bem que se tiveres de enfrentar algum desses problemas que não te comportes do mesmo modo!” Desatei a corar quando me lembrei disso. Estava a comportar-me rigorosamente da mesma maneira que eu tanto reprovava! - Tens razão. – Disse eu ao Raitou – Vamos fazer isto em grupo! – E dito isto nadei para a margem. Quando lá cheguei o Neji ajudou-me a sair. A Youko pôs-me a mão no ombro e a Shiori no outro. - Vamos lá fazer isto... – disse eu com um olhar determinado. A Kisa que jazia inanimada na água ainda agarrava a faca coberta de sangue. De repente da água saiu uma criatura toda deformada, que é impossível descreve-la com precisão. Estão a ver os quadros do Picasso? As caras pintadas por ele são normalíssimas comparadas com aquela. - Aquele é o Shougai. – Disse a Shiori. - Não façam barulho, acho que ele ainda não nos viu, só se nos movermos. – Informou o Neji num sussurro – e ainda falta aparecer o “Vampire Shapeshifter”. E foi então que ele apareceu. O “Vampire Shapeshifter”. Foi chocante na verdade. Quando o vi, pensei que ia desfalecer. Ele era o... Len. O meu irmão. 63
  • 64. - Não... Não pode ser... - Chiyo? – Perguntaram todos. - É o meu irmão. – Respondi num fio de voz – É o Len... O Shougai virou-se para nós juntamente com o “Len” e murmuraram os dois em perfeita sintonia. - Matem-nos. Os cadáveres que até ali tinham ficado completamente indiferentes à nossa presença olharam para nós agressivamente e atiraram-se literalmente para cima de nós. Surpreendidos com aquele ataque repentino fomos impelidos brutalmente para o chão húmido. O Neji sacou de duas pistolas da bainha das calças e desatou aos tiros, sem grande sucesso, por motivos óbvios. A Shiori fez aparecer novamente a foice e fez ali um feitiço que repeliu-os para trás durante uns escassos momentos pois eram tantos que não fazia praticamente diferença nenhuma. A Youko e o Raitou demonstravam toda a sua perícia em artes marciais, o que era bastante impressionante se não estivéssemos demasiado ocupados a manter-nos vivos... De repente fui abordada por trás por um cadáver particularmente grande que me começou a apertar o pescoço de tal maneira que nem me conseguia movimentar. De repente, vi ao fundo uma luz a descer sobre a Kisa e um ser tão belo que até parecia crime olhar para ele directamente. Supus que fosse um Houkai e que estivesse ali para transformar a Kisa num “Houkai Soul” mas foi aí que o Shougai e o “Len” emergiram das águas e agarraram o Houkai pelos pulsos e o atiraram violentamente para uma rocha que ali estava. O Houkai começou a cantar uma canção tão triste e melodiosa que me deu vontade de chorar. Foi então que os meus poderes despertaram. Senti uma força magnética a fluir pelo meu corpo acima e uma pressão na cabeça. Fechei os olhos e abri-os de repente. O cadáver que me tentava matar desapareceu numa névoa. Fiz o mesmo mas desta vez com um pouco de mais força e todos, mesmo todos os cadáveres desapareceram formando um espesso nevoeiro. Cai no chão ofegante mas satisfeita comigo mesma. Eles vieram ter comigo, menos a Youko e a Shiori que se atiraram para cima de mim felicíssimas. - És um máximo! – Berrava-me a Youko aos ouvidos – AGORA é que tens mesmo de casar com o meu irmão! Vai ser um copo-de-água de arromba! - Tu deves ser a pessoa mais espectacular que eu já conheci! – Guinchava-me a Shiori no outro ouvido – Aquilo que tu fizeste foi... Mas porque é que eu não registei em vídeo? - Meninas detesto ser desmancha-prazeres mas isto ainda não acabou. – Disse o Neji 64
  • 65. Ele tinha razão. O Shougai e o “Len” lutavam encarniçadamente com o Houkai. - O que é que fazemos agora? – Perguntou a Youko – Esperamos? Claro que não, ideia estúpida! Precisamos de um plano B. - Para ser sincera, nós nunca tivemos um plano definido. – Admitiu a Shiori. - Então está na hora de o termos. - Chiyo... – disse o Raitou baixinho. Desatei a corar novamente. Ainda não era capaz de o olhar nos olhos. – Nada. Corri para a água e eles seguiram-me. Chegado mais ou menos ao sítio onde a Kisa estava, verificámos que estávamos por cima da água. Aproximámo-nos dela e eu tomei-lhe o pulso. Nada. - Está morta? – Perguntei eu faltando-me o ar. - Não me parece. A alma dela é que está muito danificada. – Explicou-me a Shiori. - Com licença. – Pediu o Neji – Eu trato disto. - Não vais tentar fazer aquilo que eu estou a pensar, pois não? – Inquiriu a Shiori. - Podes apostar nisso. O Neji pôs-se no meio do Shougai do “Len” e do Houkai e formulou um feitiço que fez com que todos os seres vivos num raio de 30 metros ficassem em modo “câmara lenta”. - Neji! – Berrou a Shiori lentamente. - Tirem na daqui. – Gritou ele em resposta. E de seguida o “Len” lentamente desferiu- lhe um golpe nas costas fazendo com que o sangue dele espirrasse por todo o lado. Ele emitiu uns sons e caiu pesadamente. Para mim pareceu-me que o tempo tinha parado. Olhei para o “Len” e ele tinha um horrendo sorriso da cara. Com o sangue a ferver-me nas veias usei mais uma vez os meus poderes psíquicos e anulei o feitiço do Neji e desloquei uma enorme massa de água formando uma esfera flutuante que atirei para ele, mas no último momento falhei. Mesmo que não fosse o meu irmão assemelhava-se a ele e custava-me atacá-lo. - Chiyo. – Alguém me chamou – Não é o Len. Virei-me para trás, mas fui arremessada pelos ares. Tentei levantar-me, mas não conseguia. O “Len” não me deixava. Estava ao pé de mim de mão estendida fazendo com que eu ficasse colada à água. - Larga-a! O Raitou correu para ele e desferiu-lhe um murro na cara que fez com que ele cambaleasse para trás e caísse de costas. 65