SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 4
Downloaden Sie, um offline zu lesen
1
ALBERTO DA COSTA E SILVA: O VÍCIO DE ÁFRICA
Alberto da Costa e Silva encontrou em África e no tráfico atlântico de escravos a
raiz a partir da qual o Brasil necessita de ser explicado. A produção deste
intelectual brasileiro mostra que a capacidade para inovar nem sempre se reduz
às rotinas do ensino académico.
Alberto da Costa e Silva foi embaixador em Portugal de embaixador em Portugal 1989 a 1992
A atribuição ao embaixador Alberto da Costa e Silva do Prémio Camões 2014
constitui um incentivo para ler a sua obra.
Para os portugueses, trata-se também de uma ocasião para ultrapassar evidentes
limitações quanto ao conhecimento que temos da produção intelectual brasileira. É
que se contam pelos dedos as iniciativas destinadas a colmatar o nosso enorme
2
desconhecimento acerca do Brasil, sobretudo em mundos da comunicação situados
para além da música, do futebol e da televisão. Claro, algumas exceções de peso
existem, localizadas bem à margem das tretas oficiais da lusofonia - uma espécie de
discurso oficial que de tão recorrente já não convence ninguém, sobretudo quando se
procura impor pela força.
A primeira dessas exceções sucedeu entre 2000 e 2003 e tem de ser vista como
uma das mais sérias contribuições para o estudo das populações ameríndias que se
registaram em Portugal. Foi na contramão das comemorações dos descobrimentos
que, graças a Joaquim Pais de Brito, diretor do Museu Nacional de Etnologia, teve
lugar a grande exposição Os Índios, Nós. Paralelamente, o mesmo museu publicou
um conjunto de monografias em parceria com a Assírio & Alvim, que também editou o
estudo sobre os araweté de Eduardo Viveiros de Castro.
A segunda exceção foi suscitada por Abel Barros Baptista, um estudioso da obra
de Machado de Assis, que entre 2005 e 2008 pôs cá fora, na Cotovia e em vários
volumes, um “Curso breve de literatura brasileira”.
E a terceira exceção não passou despercebida: surgiu com a reedição, no início do
corrente ano, da obra de Edmundo Correia Lopes, A Escravatura – Subsídios para a
sua História (Antígona, 2014; 1.ª ed., Agência Geral das Colónias, 1944). Este
filólogo e musicólogo, dobrado de historiador da estatística e do tráfico de escravos,
aprendeu, durante cerca de uma década no Brasil - graças aos ensinamentos de Nina
Rodrigues, Artur Ramos e Mário de Andrade - a necessidade de estudar as culturas
africanas no seu lugar de origem. Contemporâneo desse outro interesse pela vida
3
intelectual do Brasil - bem representado, nos círculos oficiais do Estado Novo, por
José Osório de Oliveira e que foi também desenvolvido por alguns intelectuais da
oposição que ali conheceram o exílio, tais como Maria Archer e Jaime Cortesão -,
Edmundo Correia Lopes faleceu em 1948 na Guiné, quando ali efetuava trabalhos de
campo.
Alberto da Costa e Silva nasceu em 1931. Da sua infância, na casa grande do
Piauí e chegada ao Rio de Janeiro, escreveu umas memórias. Intitulou-as, com ironia
e gosto pelo paradoxo, Espelho do Príncipe, que lemos no exemplar da Biblioteca
Nacional de Lisboa dedicado ao poeta Alberto de Lacerda. A par da sua carreira
como diplomata, no âmbito da qual serviu como embaixador em Portugal (1989-
1992), dedicou-se à poesia, ao ensaio e à investigação histórica. Tal como um outro
diplomata brasileiro da sua geração, o grande historiador nordestino Evaldo Cabral de
Melo (irmão do poeta e também diplomata João Cabral de Melo Neto), Costa e Silva
deve ser considerado um dos maiores historiadores brasileiros da atualidade.
Se todos estes nomes, só por si, revelam o altíssimo nível intelectual dos
diplomatas brasileiros, eles também indicam que a capacidade para inovar e propor
novos quadros de análise histórica depende de lógicas que nem sempre se reduzem
às rotinas do ensino e da reprodução académica. Quais são, então, os principais
domínios e pontos de vista em que Costa e Silva inovou ou alcançou uma maior
profundidade analítica?
Para responder a esta questão identifico três linhas principais, depois de tomar em
mãos os seus principais livros de história publicados pela Editora Nova Fronteira: A
4
Enxada e a Lança: a África antes dos Portugueses (1992; 2.ª ed., 1996), 768
pp.; A Manilha e o Libambo: A África e a Escravidão, de 1500 a 1700 (Nova
Fronteira, 2002), 1071 pp.; Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos
(2004), 207 pp.; Um Rio Chamado Atlântico (Nova Fronteira, 2012), 287 pp.. Não
esqueço uma coletânea de ensaios publicada há muito em Lisboa O Vício da África e
Outros Vícios (João Sá da Costa, 1989), 215 pp.; nem a sua recente coordenação
do vol. I da História do Brasil Nação: 1808-2010 – Crise Colonial e Independência
1808-1930 (Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2011), 256 pp..
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/alberto-da-costa-e-silva-19312014-o-vicio-de-africa-1638622
(texto com adaptações, de 25-07-2014)

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Jb news informativo nr. 2139
Jb news   informativo nr. 2139Jb news   informativo nr. 2139
Jb news informativo nr. 2139JB News
 
Avaliação de Historia Edite Porto 2013
Avaliação de Historia Edite Porto 2013Avaliação de Historia Edite Porto 2013
Avaliação de Historia Edite Porto 2013Angela Maria
 
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...Shirley Braga
 
Jb news informativo nr. 2200
Jb news   informativo nr. 2200Jb news   informativo nr. 2200
Jb news informativo nr. 2200JB News
 
Jb news informativo nr. 2028
Jb news   informativo nr. 2028Jb news   informativo nr. 2028
Jb news informativo nr. 2028JB News
 

Was ist angesagt? (11)

Jb news informativo nr. 2139
Jb news   informativo nr. 2139Jb news   informativo nr. 2139
Jb news informativo nr. 2139
 
Avaliação de Historia Edite Porto 2013
Avaliação de Historia Edite Porto 2013Avaliação de Historia Edite Porto 2013
Avaliação de Historia Edite Porto 2013
 
Avaliação diagnóstica de história 8º-2013
Avaliação diagnóstica de história  8º-2013Avaliação diagnóstica de história  8º-2013
Avaliação diagnóstica de história 8º-2013
 
Tarefa 3 8 ano
Tarefa 3   8 anoTarefa 3   8 ano
Tarefa 3 8 ano
 
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 2° BIMESTR...
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 2° BIMESTR...AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 2° BIMESTR...
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 2° BIMESTR...
 
Hist9 mar2011 v1
Hist9 mar2011 v1Hist9 mar2011 v1
Hist9 mar2011 v1
 
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...
Aval. sobre a administração de portugal no brasil, as capitanias hereditárias...
 
Jb news informativo nr. 2200
Jb news   informativo nr. 2200Jb news   informativo nr. 2200
Jb news informativo nr. 2200
 
Jb news informativo nr. 2028
Jb news   informativo nr. 2028Jb news   informativo nr. 2028
Jb news informativo nr. 2028
 
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 1º BIMESTRE
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 1º BIMESTRE AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 1º BIMESTRE
AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA: 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 - II CICLO - 1º BIMESTRE
 
O abolicionismo nabuco
O abolicionismo nabucoO abolicionismo nabuco
O abolicionismo nabuco
 

Ähnlich wie Alberto da Costa e Silva

História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romeroprof.aldemir2010
 
História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romeroprof.aldemir2010
 
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberLopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberAndre Bezerra Lins
 
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaQuestões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaZé Knust
 
C:\fakepath\mario oliveira
C:\fakepath\mario oliveiraC:\fakepath\mario oliveira
C:\fakepath\mario oliveiraliterafro
 
Remanescentes Culturais Africanos no Brasil
Remanescentes Culturais Africanos no BrasilRemanescentes Culturais Africanos no Brasil
Remanescentes Culturais Africanos no BrasilTathy Pereira
 
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA Italo Delavechia
 
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7Vivian Müller
 
Elisabeth batista
Elisabeth batistaElisabeth batista
Elisabeth batistaliterafro
 
Apresentação i fcina_cronistas
Apresentação i fcina_cronistasApresentação i fcina_cronistas
Apresentação i fcina_cronistasPortuguesIFSC
 
Iaula 03 interpretação de texto snterpretação de textos
Iaula 03   interpretação de texto snterpretação de textosIaula 03   interpretação de texto snterpretação de textos
Iaula 03 interpretação de texto snterpretação de textosMarluci Brasil
 
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuítica
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuíticaApresentação 1º ano d literatura informativa e jesuítica
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuíticaGabriel Alves
 
Revisão literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismo
Revisão   literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismoRevisão   literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismo
Revisão literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismojasonrplima
 

Ähnlich wie Alberto da Costa e Silva (20)

História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romero
 
História da literatura sílvio romero
História da literatura   sílvio romeroHistória da literatura   sílvio romero
História da literatura sílvio romero
 
Guia Historia
Guia HistoriaGuia Historia
Guia Historia
 
Artigo tcc final
Artigo tcc finalArtigo tcc final
Artigo tcc final
 
Navio negreiro alves (1)
Navio negreiro alves (1)Navio negreiro alves (1)
Navio negreiro alves (1)
 
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberLopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
 
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaQuestões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
 
C:\fakepath\mario oliveira
C:\fakepath\mario oliveiraC:\fakepath\mario oliveira
C:\fakepath\mario oliveira
 
001143485_O_principe.pdf
001143485_O_principe.pdf001143485_O_principe.pdf
001143485_O_principe.pdf
 
Scena Crítica, n. 02, ano 1.pdf
Scena Crítica, n. 02, ano 1.pdfScena Crítica, n. 02, ano 1.pdf
Scena Crítica, n. 02, ano 1.pdf
 
Remanescentes Culturais Africanos no Brasil
Remanescentes Culturais Africanos no BrasilRemanescentes Culturais Africanos no Brasil
Remanescentes Culturais Africanos no Brasil
 
Resumo de literatura
Resumo de literaturaResumo de literatura
Resumo de literatura
 
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
LITERATURA INFORMATIVA E JESUÍTICA
 
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7
Curso de Produção de Texto e de Leituras Brasileiras para o CACD 2013 - Aula 7
 
Literatura brasileira
Literatura brasileiraLiteratura brasileira
Literatura brasileira
 
Elisabeth batista
Elisabeth batistaElisabeth batista
Elisabeth batista
 
Apresentação i fcina_cronistas
Apresentação i fcina_cronistasApresentação i fcina_cronistas
Apresentação i fcina_cronistas
 
Iaula 03 interpretação de texto snterpretação de textos
Iaula 03   interpretação de texto snterpretação de textosIaula 03   interpretação de texto snterpretação de textos
Iaula 03 interpretação de texto snterpretação de textos
 
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuítica
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuíticaApresentação 1º ano d literatura informativa e jesuítica
Apresentação 1º ano d literatura informativa e jesuítica
 
Revisão literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismo
Revisão   literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismoRevisão   literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismo
Revisão literatura - quinhentismo - barroco - arcadismo - romantismo
 

Alberto da Costa e Silva

  • 1. 1 ALBERTO DA COSTA E SILVA: O VÍCIO DE ÁFRICA Alberto da Costa e Silva encontrou em África e no tráfico atlântico de escravos a raiz a partir da qual o Brasil necessita de ser explicado. A produção deste intelectual brasileiro mostra que a capacidade para inovar nem sempre se reduz às rotinas do ensino académico. Alberto da Costa e Silva foi embaixador em Portugal de embaixador em Portugal 1989 a 1992 A atribuição ao embaixador Alberto da Costa e Silva do Prémio Camões 2014 constitui um incentivo para ler a sua obra. Para os portugueses, trata-se também de uma ocasião para ultrapassar evidentes limitações quanto ao conhecimento que temos da produção intelectual brasileira. É que se contam pelos dedos as iniciativas destinadas a colmatar o nosso enorme
  • 2. 2 desconhecimento acerca do Brasil, sobretudo em mundos da comunicação situados para além da música, do futebol e da televisão. Claro, algumas exceções de peso existem, localizadas bem à margem das tretas oficiais da lusofonia - uma espécie de discurso oficial que de tão recorrente já não convence ninguém, sobretudo quando se procura impor pela força. A primeira dessas exceções sucedeu entre 2000 e 2003 e tem de ser vista como uma das mais sérias contribuições para o estudo das populações ameríndias que se registaram em Portugal. Foi na contramão das comemorações dos descobrimentos que, graças a Joaquim Pais de Brito, diretor do Museu Nacional de Etnologia, teve lugar a grande exposição Os Índios, Nós. Paralelamente, o mesmo museu publicou um conjunto de monografias em parceria com a Assírio & Alvim, que também editou o estudo sobre os araweté de Eduardo Viveiros de Castro. A segunda exceção foi suscitada por Abel Barros Baptista, um estudioso da obra de Machado de Assis, que entre 2005 e 2008 pôs cá fora, na Cotovia e em vários volumes, um “Curso breve de literatura brasileira”. E a terceira exceção não passou despercebida: surgiu com a reedição, no início do corrente ano, da obra de Edmundo Correia Lopes, A Escravatura – Subsídios para a sua História (Antígona, 2014; 1.ª ed., Agência Geral das Colónias, 1944). Este filólogo e musicólogo, dobrado de historiador da estatística e do tráfico de escravos, aprendeu, durante cerca de uma década no Brasil - graças aos ensinamentos de Nina Rodrigues, Artur Ramos e Mário de Andrade - a necessidade de estudar as culturas africanas no seu lugar de origem. Contemporâneo desse outro interesse pela vida
  • 3. 3 intelectual do Brasil - bem representado, nos círculos oficiais do Estado Novo, por José Osório de Oliveira e que foi também desenvolvido por alguns intelectuais da oposição que ali conheceram o exílio, tais como Maria Archer e Jaime Cortesão -, Edmundo Correia Lopes faleceu em 1948 na Guiné, quando ali efetuava trabalhos de campo. Alberto da Costa e Silva nasceu em 1931. Da sua infância, na casa grande do Piauí e chegada ao Rio de Janeiro, escreveu umas memórias. Intitulou-as, com ironia e gosto pelo paradoxo, Espelho do Príncipe, que lemos no exemplar da Biblioteca Nacional de Lisboa dedicado ao poeta Alberto de Lacerda. A par da sua carreira como diplomata, no âmbito da qual serviu como embaixador em Portugal (1989- 1992), dedicou-se à poesia, ao ensaio e à investigação histórica. Tal como um outro diplomata brasileiro da sua geração, o grande historiador nordestino Evaldo Cabral de Melo (irmão do poeta e também diplomata João Cabral de Melo Neto), Costa e Silva deve ser considerado um dos maiores historiadores brasileiros da atualidade. Se todos estes nomes, só por si, revelam o altíssimo nível intelectual dos diplomatas brasileiros, eles também indicam que a capacidade para inovar e propor novos quadros de análise histórica depende de lógicas que nem sempre se reduzem às rotinas do ensino e da reprodução académica. Quais são, então, os principais domínios e pontos de vista em que Costa e Silva inovou ou alcançou uma maior profundidade analítica? Para responder a esta questão identifico três linhas principais, depois de tomar em mãos os seus principais livros de história publicados pela Editora Nova Fronteira: A
  • 4. 4 Enxada e a Lança: a África antes dos Portugueses (1992; 2.ª ed., 1996), 768 pp.; A Manilha e o Libambo: A África e a Escravidão, de 1500 a 1700 (Nova Fronteira, 2002), 1071 pp.; Francisco Félix de Souza, Mercador de Escravos (2004), 207 pp.; Um Rio Chamado Atlântico (Nova Fronteira, 2012), 287 pp.. Não esqueço uma coletânea de ensaios publicada há muito em Lisboa O Vício da África e Outros Vícios (João Sá da Costa, 1989), 215 pp.; nem a sua recente coordenação do vol. I da História do Brasil Nação: 1808-2010 – Crise Colonial e Independência 1808-1930 (Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2011), 256 pp.. http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/alberto-da-costa-e-silva-19312014-o-vicio-de-africa-1638622 (texto com adaptações, de 25-07-2014)