Aprender com a Biblioteca Escolar: Literacia da Informação
1. Formação: “Aprender com a Biblioteca Escolar”
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Formação: “Aprender com a Biblioteca Escolar”
Módulo: 2. Aprender a ensinar de forma transversal com a biblioteca
escolar
2.1. Diferentes conceitos de literacia:
Tarefa: 2.1.3. da informação
O deve e o haver
Antes de trilharmos os caminhos sinuosos do “deve e do haver”, relativamente
ao investimento feito e a fazer pela bibliotecas escolares e pelo professores
bibliotecários, na importante missão de evangelizar os nossos alunos e sobretudo os
seus pais/encarregados de educação/comunidade (na continuidade do anterior tema
tratado por nós) na nobre e premente tarefa da literacia da informação, e no uso
correto das ferramentas de trabalho ao seu dispor, gostaríamos de definir esta
vertente da literacia, e que ganha um importante impulso com o advento das
tecnologias da informação e o acesso a esta através de novas plataformas e recursos.
O que é a literacia da informação?
Tendo como referencial um artigo de CALIXTO (2001) que, teve origem numa
investigação sobre os papéis educacionais das Bibliotecas Públicas em Portugal,
aferiu-se que, as bibliotecas desempenham um papel primordial, quer apoiando o
crescimento da literacia e da aprendizagem ao longo da vida, quer apoiando a
educação formal.
A literacia é, normalmente, associada às competências de leitura e escrita. Mas,
cada vez mais, o seu conceito tem sido expandido face ao aparecimento e
desenvolvimento de outros formatos: audiovisual, digitais,… associando-se
expressões como Literacia do Audiovisual e Literacia Informática.
O novo paradigma da sociedade em que, as reformas sociais e tecnológicas
surgidas nas últimas décadas e as novas teorias educacionais, assim como, a difusão
do conceito da aprendizagem ao longo da vida: “APRENDER A APRENDER”, em
detrimento da simples transmissão de conhecimentos, veio dar uma nova visão e
grandeza ao papel tradicional das bibliotecas. O “bum” da informação acessível e,
consequentemente, as capacidades de armazenamento e recuperação de dados pelos
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seus equipamentos, vieram engrandecer o conceito tradicional na formação de
utilizadores.
Torna-se claro, para nós, que ser capaz de ler não define a literacia no complexo
mundo de hoje. O conceito de literacia inclui a literacia informática, a literacia do
consumidor, a literacia da informação e a literacia visual. Por outras palavras, os
adultos letrados devem ser capazes de obter e perceber a informação em diferentes
suportes. Além do mais, compreender é a chave. Literacia significa ser capaz de
perceber bem ideias novas para as usar quando necessárias. Literacia significa saber
como aprender. (STRIPLING, Barbara K. . ERIC,1992)
A literacia de informação é um conjunto de competências de aprendizagem e
pensamento crítico necessárias para aceder, avaliar, e usar a informação de forma
eficiente. Estudantes com elevada literacia de informação têm a capacidade não só de
navegar por uma grande variedade de sistemas de pesquisa de informação, mas
também avaliá-los e selecioná-los. Compreendem como a informação está
organizada, o que pode facilitar a sua forma de encontrar a informação.
O pensamento crítico e as competências analíticas também ajudam os alunos ao
nível das capacidades cognitivas necessárias para a avaliação e utilização da
informação em qualquer altura das suas vidas.
Aprender a aprender está no cerne da literacia de informação, o que em última
análise incrementa o sentido da descoberta, o espírito inquisitivo e o gosto pela
aprendizagem ao longo da vida.
Qual o papel das Bibliotecas Escolares
Os estudantes de hoje não são já aqueles que o nosso sistema de educação
desenhou pra que fossem ensinados. Os nossos alunos (e, claro está, aqueles que
frequentam a biblioteca, ávidos de carregar no teclado e fazer do rato o seu brinquedo
favorito) são alunos digitais, não dotados de uma sabedoria informática
cromossomática, e que há poucos anos assustava alguns professores, menos
preparados para esta realidade, mas, ainda assim, alunos que nasceram num contexto
digital.
A diferente linguagem entre aquilo que Prensky chama de “Digital Natives” –
Nativos Digitais, aqueles que nasceram e desenvolveram-se num ambiente de
tecnologia digital (ao ponto de citar o Dr. Bruce D. Perry, ao afirmar que diferentes
tipos de experiencia conduzem a estruturas diferentes do cérebro) e os “Digital
Immigrants” – Emigrantes Digitais, aqueles que não nasceram na era digital e tentam,
tal como os emigrantes, adaptar-se a um novo ambiente.
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Claro está que esta descontinuidade comunicacional irá, a médio prazo, conduzir
à incompreensão e à não apropriação de conceitos fundamentais ao nível da
aprendizagem. Nós ou muitos de nós, professores da geração dos imigrantes digitais,
que falamos ainda uma linguagem pré-digital, teremos, com urgência de aprender esta
nova linguagem sob pena de perdermos os nossos alunos, as nossas escolas.
Esta é uma temática a que, recorrentemente voltamos, para abordar o problema
da reforma educativa, que deveriam centrar-se, sobretudo nas questões do currículo e
na sua operacionalização (mais na forma do que no conteúdo), do que em outras
questiúnculas acessórias que em nada melhorarão o nosso sistema educativo.
A pergunta que se impõem, perante este, quase, hiato comunicacional é a
seguinte: Devem os nativos digitais aprender de forma diferente ou os imigrantes
digitais ensinar de forma diferente? Devemos, nós, reconsiderar a nossa metodologia
para atingir os fins desejados?
Como educadores temos de saber ensinar (ainda que jogando!) utilizando a
linguagem, os recursos e os anseios dos nossos “nativos digitais” sob pena de, como
atrás referi, não conseguirmos comunicar e muito menos ensinar. Devemos também
ser capazes de compreender alguns perigos da era digital e (in)formar os menos
avisados para os perigos do desconhecido que se esconde atrás do ecrã (como
facilmente se pode comprovar pelo pequeno estudo que adiante apresentamos).
Se dissermos que no interior das instituições escolares, a biblioteca terá sido a
que mais evoluiu, não andaremos muito longe da verdade. Evoluiu de um centro de
recursos centralizado no livro, de um lugar austero e silencioso, onde a informação se
“arrumava” em armários fechados, para aquilo a que, não raras vezes, chamo de
“centro cultural”, numa designação o mais ampla possível que revela um espaço
alegre, vivido e dinâmico, onde a informação flui por diferentes canais e está ao
serviço de metas que vão para além do saber académico, exercendo sobre alunos e
professores uma atração “quase fatal”. A biblioteca terá, necessariamente de ser vista
como exemplo de integração num mundo novo e tomar a dianteira de um processo
que se adivinha difícil mas, ao mesmo tempo, cheio de desafios e novidades.
Neste sentido, o planeamento e desenvolvimento de políticas de informação na
escola são prementes, assim como a implementação de programas formativos de
literacia, pois está tarefa não cabe apenas às TIC nem à Biblioteca Escolar.
Obviamente a Biblioteca Escolar deve apresentar-se como parceiro ativo, interveniente
e primordial neste domínio, tal como o professor-bibliotecário, em função dum público
mais exigente e que (apesar de tudo), por vezes, revela dificuldades em matéria
informática.
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A Biblioteca Escolar neste contexto afirma-se como um verdadeiro instrumento
de suporte para estas aprendizagens/treino de competências/construção de
conhecimento, mas também cabe a ela, promover e dinamizar ações de intervenção
direta nas políticas/metas de escola.
Por onde começar? Mitos e verdades
As bibliotecas escolares e, por inerência, os professores bibliotecários e as suas
equipas, devem investir cada vez mais na formação, na utilização pedagógica e na
diversidade de saberes e conhecimentos.
Neste contexto (que engloba quase um novo paradigma educacional; centrado
na utilização de recursos multimédia), as escolas e, necessariamente, as bibliotecas
escolares foram enquadradas num Plano Tecnológico feito de pernas para o ar, sem a
necessária contextualização e preparação, quer de alunos, quer de professores.
As escolas foram invadidas de recursos, mas não da capacidade para os utilizar
num espaço de aprendizagem.
O acesso e o uso da informação exigem a aquisição de um conjunto de
competências que permitam o reconhecimento das fontes informacionais fiáveis, o
conhecimento dos mecanismos de filtragem, organização e apropriação da
informação.
Este é e será, nos tempos mais próximos, o grande desafio das bibliotecas
escolares e dos professores bibliotecários: A gestão de um espaço de aprendizagem e
lazer, que não se pretende se possa transformar num espaço de lazer com pequenos
nichos de aprendizagem, sabendo nós que a missão principal continua a ser a
promoção da leitura e o apoio ao currículo. Dispomos, agora, de outras “armas” para o
fazer. Resta-nos promover e orientar a sua utilização, fundando uma “nova ordem
social” dentro das Bibliotecas Escolares.
As bibliotecas não são ilhas, não se podem fechar sobre si mesmas, estão ou
devem estar imersas na sociedade e fazem parte da comunidade que servem. Se a
sociedade evolui e se transforma, a biblioteca tem, não só o dever, como a missão de
evoluir e de se transformar, não meramente em termos tecnológicos mas também na
atitude e no próprio conceito.
“Este crescente reconhecimento da importância da informação no desenvolvimento
dos indivíduos e das sociedades e as novas possibilidades que o advento da Web 2.0
trouxe exigem transformações profundas ao nível da educação a que as bibliotecas
escolares não podem ficar alheadas.”
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A adoção de modelos de pesquisa, como são exemplo o BIG6 e o PLUS é
fundamental, para que alunos e professores possam comunicar/trabalhando, usando a
mesma linguagem.
A necessidade de adoção de um modelo de pesquisa e todo o trabalho de
formação que envolve a materialização desse modelo, é um trabalho que deve ser
desenvolvido pelas bibliotecas escolares, em conjunto com os professores. Os nossos
alunos não podem, e não devem, ser técnicos de jogos e facebook; devem ir além
disso e privilegiar a aprendizagem quando lidam com as novas tecnologias.
Exemplo prático sobre a não informação de pais e alunos
A este respeito e pegando num inquérito lançado a todos os alunos das turmas
de 9.º ano, versando a temática “Facebook”, foi possível verificar que:
- Há um grande desconhecimento por parte dos pais;
- Há pouca informação sobre os diversos perigos das redes sociais para os
filhos.
Em junho de 2012, na biblioteca da EB de Argoncilhe, e a propósito de, em
turma de 9.º ano, apenas terem autorização de serem fotografados, metade dos
alunos da turma, fez-se um pequeno inquérito. Pretendia-se, tão só averiguar, afinal,
quantos alunos tinham fotografias suas na internet, possivelmente com
desconhecimento dos pais, que haviam assinado autorizações a proibir a captação de
imagens (foto ou vídeo) dos seus educandos.
O estudo centrou-se na rede social “facebook” e na publicação (ou não) de fotos
dos utilizadores no seu perfil.
Os resultados foram, no mínimo, surpreendentes, embora o contacto com os
jovens desta e doutras idades deixasse antever resultados próximos dos obtidos.
Estes resultados foram apresentados aos pais e encarregados de educação
numa atividade denominada “Segurança na Internet e Redes Sociais”.
Foram inquiridos um total de 90 alunos, pertencentes a três turmas do 9.º ano. O
gráfico apresenta os resultados finais e incide sobre duas questões principais: “Tens
conta no facebook?” e “Tens fotos publicadas no teu perfil do facebook?”, constituindo
os resultados uma prova inequívoca da diferença de visão de alunos e pais e
encarregados de educação, nomeadamente quanto ao perigo a que estão expostos os
nossos jovens, muitas vezes sem o conhecimento das famílias.
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Através deste simples estudo pode-se concluir que a formação que a Biblioteca
Escolar possa dar a jovens, mas também, e sobretudo aos pais e encarregados de
educação, é fundamental numa época de redes sociais, partilha de conhecimentos
online, plataformas de acesso, redes de partilha de documentos. Ter acesso ao
conhecimento, como vimos, é fundamental; mas mais importante é compreende-lo,
saber filtrá-lo, para que se possa ter acesso ao verdadeiro saber.