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A VIAGEM DO AMOR




Da autoria de:
BIANCA DAS NEVES
2005
Capítulo I

Margarida chega sozinha a casa, pela primeira vez. Desolada pela morte de seu pai, está
agora só no seu vasto universo, que ela própria desconhecia.
Acabara de herdar um extenso património empresarial e uma fortuna cujo número é
difícil de calcular.
Sente que tem o mundo às costas.

Despe o casaco preto, coloca na aparelhagem um disco de Andrea Boccelli e serve-se de
um copo de whisky.
Cansada, triste e confusa, deita-se na chaise-longue da sala e de imediato as primeiras
lágrimas rolam pela sua face pálida, como cacos de cristais espalhados em chão de
mármore.

Cerra os olhos numa tentativa vã de afastar a dor e a solidão no seu coração, que lhe
pesa como uma rocha, que sangra como um pássaro ferido.

                                       Capitulo II

Margarida havia tido uma infância feliz, embora demasiado protegida pelo seu pai que,
num esforço de a isolar dos males da vida, a encerrara em casa como um rouxinol numa
gaiola.
O seu universo está agora confinado à residência onde ainda vive, uma bela moradia no
Restelo, rodeada de jardins verdejantes, onde as flores coloridas parecem pedras
preciosas e os pássaros cantam alegremente. No ponto mais alto desse jardim avista-se o
Rio Tejo, como se de um espelho de prata se tratasse. A Torre de Belém, ao fundo,
parece-se com um navio, imóvel, encalhado nas águas.

A mãe morrera ao dar à luz Margarida. O pai, como promessa de a tentar salvar, em vão
jurara fidelidade à mulher amada até ao fim dos seus dias. Por essa razão, não tornara a
casar, embora não faltassem pretendentes, até ao último momento da sua existência.

Margarida e o pai tornaram-se assim, ao longo dos anos, um só corpo, uma só voz.

Ela foi crescendo, pensando que era uma princesa prisioneira na torre de um antigo
castelo medieval, sonhando com o seu príncipe encantado, do qual nunca vira o rosto.

Jamais se sentiu amada e todos aqueles que amou eram apenas fruto da sua imaginação,
personagens tiradas dos romances que lera, ou dos filmes de amor que vira no cinema.

                                       Capitulo III

O primeiro raio de sol iluminou-lhe o rosto e o seu despertar foi sereno, quase celestial,
pois as aves cantavam no jardim sons harmoniosos, optimistas e que a pouco e pouco se
foram tornando mais nítidos.
Abriu os olhos devagar. Primeiro um, depois o outro. Tentou perceber onde se
encontrava. Finalmente vê o grande quadro, retrato seu e do pai, que havia sido pintado
por um famoso artista amigo da família. O retrato permanecia estático no tempo, no
cimo da lareira. Não envelhecera como haviam envelhecido os que lá estavam
retratados.
Sentou-se num movimento lento na chaise-longue de veludo encarnado. Compôs os
seus longos cabelos negros como a noite e, respirando fundo, levanta-se, dirigindo-se
até à longa escadaria que dava acesso ao andar superior da casa.

Desloca-se até à suite. Entra no quarto de banho e prepara uma banheira de imersão com
água quente e nuvens de espuma perfumadas na esperança de, ao afundar-se nelas, seja
levada a levitar para fora da sua realidade que se transformara, agora que o pai havia
falecido.

Margarida despe as roupas tristes que vestia e, nua como uma estátua grega de mármore
fino, contempla-se ao espelho. É a primeira vez que se olha como mulher totalmente
livre, como verdadeira dona de si própria, do seu espírito e do seu corpo.
Acaricia a pele branca. Primeiro a cara, depois o pescoço. Quando começa a abraçar os
seus peitos firmes como pomos verdes, fecha os olhos e imagina que um dos seus
príncipes a enlaça. De imediato o seu corpo estremece e Margarida lança um gemido
ávido. Lentamente, leva as mãos ao seu sexo e uma agitação de sentimentos toma conta
de Margarida. Não percebe se o que faz é pecado ou algo natural, mas não consegue
conter-se até que, extasiada, as suas pernas fraquejam e cai de prazer no tapete que
embeleza o chão do seu quarto.
Jamais sentira uma sensação como aquela. Deitada na banheira de espuma, confusa e
espantada, começa a pensar que é tempo de ir à busca do amor que há muito lhe estava
interdito. Agora é independente e poderá fazer o que entender e como entender. Uma
alegria de criança invade Margarida.
Sai de imediato da banheira e, ainda encharcada, dirige-se ao telefone. Faz uma
chamada para as Docas do Porto de Lisboa, ordenando que lhe prepararem o iate que
possuía. Iria viajar. Iria à procura do homem que a iria amar até ao fim da vida.

                                     Capitulo IV

Estava um lindo dia de Primavera, um daqueles dias que apenas Lisboa conhece,
quando Margarida entra no iate onde a tripulação, em fila, a espera para a saudar. A
mesma é composta pelo Almirante que iria tripular o barco, dois marinheiros e uma
camareira, que iria estar mais próxima de Margarida. O primeiro a falar, como lhe
competia, era o Almirante Vicente:
- Bom dia, D. Margarida. Seja bem-vinda a bordo. Sou o Almirante Vicente, encarregue
de a levar a bom porto.
O Almirante Vicente era um homem de pele escura, típica do homem habituado a
domar o mar. O cabelo branco a lembrar salinas dava-lhe um brilho especial aos olhos
azuis como o céu. O corpo de Vicente mais parecia um baluarte, percebendo-se as
formas viris e másculas através da farda que envergava.
- Muito prazer, Almirante Vicente. Está um dia estupendo para zarparmos, não está? –
diz Margarida, sorridente e simpatizando de imediato com o Almirante.
- De facto, minha Senhora. O mar está calmo e o tempo aprazível. Vai ser uma viagem
serena. Mas deixe-me apresentar-lhe a restante tripulação.
E assim Margarida conhece os dois marinheiros que com ela iriam viajar. O marujo
Correia e o marujo Rodrigues. Eram dois belos jovens, de corpo robusto, embora mal
saído da adolescência.
Duas particularidades se destacam no marujo Correia: tinha uma cicatriz no queixo, ao
jeito de Harrison Ford, o herói da saga Indiana Jones e uma tatuagem no pescoço,
imperceptível, o que lhe dava uma aparência de arruaceiro.
O marujo Rodrigues, por seu turno, tinha uma pele lisa como pêssego, quase imberbe.
Uns olhos grandes cor de azeitona e pestanas longas como penas de pavão.
Margarida cumprimenta, por fim, a camareira Soraia. Rapariga nova, corpo de sereia,
esbelta e alta, de longos cabelos ruivos presos por dois ganchos, de forma a não lhe
tapar o rosto. Nos lábios, um sorriso de menina.

Estando já Margarida instalada no seu quarto de madeira clara, com uma cama de
formato redondo ao fundo e uma grande mesa rodeada de cómodos sofás de pele à
entrada, batem-lhe à porta:
- Entre – grita Margarida.
Era o Almirante Vicente:
- Desculpe incomodar, D. Margarida. Está tudo pronto para começarmos a viagem.
Resta-me apenas saber para onde vamos. A capitania do Porto de Lisboa não tinha esta
informação… e sem ela, nada feito.
Margarida lança uma gargalhada.
- Cabeça a minha. Sem destino não se chega a lado nenhum, não é verdade?
- Realmente – diz Vicente sorrindo.
- Pois bem. Preciso mesmo é de gastar dinheiro. Conhecer pessoas, fazer compras e
divertir-me. Esquecer este mês horrível que infelizmente vivi. – desabafa Margarida –
Que lhe parece a Côte d’Azur? Cannes e Nice é tudo o que devo precisar.
- Assim seja. Vou fazer os contactos necessários e saímos quanto antes. Uma óptima
viagem e qualquer problema poderá falar-me.
- Muito obrigado. Faço minhas as suas palavras.

Quando o Almirante Vicente sai do quarto, Margarida lança-se para a cama e abraça
uma das muitas almofadas forradas a seda que lhe adornam o leito. Sente-se cada vez
mais livre. Sente-se cada vez mais feliz. Adormece.

                                     Capitulo V

Quando Margarida acorda do seu sono encontrava-se já em alto mar. O cheiro da
maresia invadia-lhe o quarto, fazendo-a encher o peito de ar. Um ar tão puro e leve
como há muito não se lembrava de respirar.
Num ápice, saiu da cama e pelo intercomunicador pede a Soraia que lhe leve o jantar ao
convés com um Möet & Chandon gelado para fazer um brinde aos seus sonhos e ao seu
contentamento.
Vestida com o seu roupão de um delicado linho branco, o corpo de Margarida adivinha-
se discretamente. Curvas harmoniosas, a brancura do tecido podia ser a da sua própria
pele. Os seios mal cobertos parecem uma escultura de areia fina.
É-lhe servido uma bela posta de salmão e ostras, iluminada apenas por uma lua cheia
brilhante, como um tesouro de moedas de prata, e muitas velas. Margarida não se cansa
de olhar as estrelas e adivinhar nelas o feitio das constelações. Ao ver uma estrela
cadente, fecha os olhos e pede um desejo secreto e ousado.

O leve balançar do barco no mar põe Margarida num estado de leveza que lhe desperta a
imaginação e os sentidos. Sonha com piratas e sereias, lembra-se da Ilha dos Amores de
Os Lusíadas, de Camões.
Contudo, é posta de novo à realidade com a chegada, de mansinho, do marujo Correia.
- Espero não vir incomodá-la, Senhora. Mas vi-a de longe, de olhos postos nas estrelas,
e achei melhor vir ver se estava bem.
- Estava a espiar-me, marujo Correia?
- Não, minha Senhora. De modo algum… estava apenas… bom, não sei… vi-a e… -
gaguejava atrapalhado o marujo Correia.
Cruzando as suas longas pernas sedosas como pedras de beira rio, Margarida volta-se
ligeiramente para Correia e interroga-o:
- Não me acha suficientemente bonita para poder ser espiada?
- Claro que sim, minha Senhora. Mas juro-lhe que não era o caso… eu só estava…
- Não importa. Sente-se um pouco comigo. Faz-me companhia – convidou Margarida,
com o coração prestes a sair-lhe do peito com o espanto da ousadia que estava a ter com
o marujo.
- Não sei, Senhora. Não sei se deva. O meu colega… o Almirante…
- Quem manda no seu colega, no Almirante, neste barco, sou eu. Se lhe digo para sentar
é para se sentar… se for esse o seu desejo, claro! – disse Margarida experimentando,
pela primeira vez, o seu lado autoritário.
 O marinheiro puxou a cadeira e sentou-se a medo. Estava com umas calças brancas
justas, mais largas ao fundo, uma t-shirt às riscas azuis e brancas que, estando colada ao
peito, deixava adivinhar o corpo bem feito do marujo Correia. Na cabeça, um chapéu
branco displicentemente atirado para o lado e uma madeixa de cabelo pendia-lhe sobre a
testa. Era o pirata com quem Margarida havia sonhado.
Durante uns breves momentos não trocaram palavras. Contemplavam o mar como quem
o via pela primeira vez. Margarida então pergunta-lhe:
- Essa cicatriz que tem no queixo, como a fez?
Correia não respondeu logo. Suspirou, ajeitou o chapéu, lançou um olhar de lado a
Margarida e respondeu:
- Nos arraiais dos Santos Populares, há 3 anos.
- Algum namorado ciumento? – perguntou Margarida
- Antes um mancebo bêbado, que não parava de lançar piropos a uma jovem fadista que
cantava à porta de uma taberna. – contou o marinheiro – Defendeu-se de mim dando-me
com a navalha.
- Era bela, a jovem?
- Porque haveria de o ser? – replicou Correia
- Se não fosse, não lutaria por ela.
Nisto, Margarida observa o pescoço do marujo e repara, de novo, na tatuagem. Era um
belo desenho de uma sereia de cabelos esvoaçantes, tocando uma guitarra. Em baixo, o
nome Ariadne.
- É ela? – perguntou
- Quem? O quê?
- A rapariga da tatuagem. – insistiu Margarida.
- Sim… era. Era. – sublinhou Correia.
- Que aconteceu? Porquê era e não é?
- Destinos diferentes. Outros fados. Não importa.
Assim que acaba de dizer estas palavras, o marinheiro levanta-se apressado e, de modo
rude, sem nunca abrandar os passos, despede-se de Margarida.
Esta, surpresa pela reacção, percebe que tocara numa ferida profunda do marinheiro.
Ergue-se e corre atrás dele.
- Espere – gritava Margarida – desculpe.
E, agarrando já no braço do marujo, fá-lo virar-se para ela.
Num instante irreflectido, os lábios de ambos transformaram-se num só. Eram beijos
instintivos mas apetecidos desde o primeiro instante. Margarida passava ansiosamente
as mãos pelas costas largas e robustas do marujo Correia, que respondia esmagando-a
contra si, ao mesmo tempo que esta sentia o sexo dele crescer, aumentando assim o
desejo de o ter dentro dela.
Margarida liberta-se dele e corre para o quarto. O marinheiro, confuso, não sabe o que
fazer.
Ela, voltando-se, pergunta-lhe:
- Vens ou preferes esperar pelo canto da sereia?
Correia corre imediatamente ao encontro dela e assim que ambos entram no quarto
Margarida é atirada para cima da cama, espalhando as almofadas pelo chão.
Correia dirige-se a ela e de novo os dois amantes despertam um terramoto de beijos,
ajoelhados por cima do colchão macio, resguardado por uma bonita colcha de cetim
azul.
Por longos momentos ficaram a admirar-se. Beijos atrás de beijos, carícias atrás de
carícias. As línguas saborearam longamente os corpos. As mãos dos amantes
percorreram cada recanto dos corpos ávidos de amor.
Margarida despe, por fim, a t-shirt do marujo e afoga a sua boca no peito forte e bem
desenhado deste. Com a língua circunda-lhe os mamilos, cravando-lhe as mãos nas
costas, levando-o a soltar um gemido de prazer. Ao descer pelo corpo do marujo chega,
finalmente, ao seu sexo erecto e firme como um tronco de árvore. Beija-o, primeiro
delicadamente e suga-o, fervorosamente, depois. O marujo Correia agarra os cabelos de
Margarida e, balanceando o corpo suavemente, marca o ritmo.
O marinheiro, não aguentando mais de satisfação, deita-se por cima de Margarida,
desejoso de provar o sabor da sua carne, de cheirar o perfume da sua pele.
Beija e toca desenfreadamente os seios de Margarida até que, com o sexo forte e
pujante, a penetra loucamente, levando os dois amantes ao êxtase, enquanto os corpos se
movem um por cima do outro, como um veleiro navegando no mar.
Margarida marca o compasso desta dança de prazer, agarrando e apertando as nádegas
firmes e lisas do marinheiro, obrigando-o a ir mais fundo, levando-a a soltar gemidos
loucos de prazer, numa luxúria desgovernada.
Estando a fazer a ronda pelo iate, verificando se estava tudo em ordem, o marujo
Rodrigues foi despertado pelo barulho que saía do quarto de Margarida. Curioso,
resolveu espreitar pela janela.
Lá dentro vislumbrava o corpo escultural de Correia ondulando sobre o de Margarida.
Ficou atónito com o que via. De imediato começou a tocar, suavemente, o seu membro
que parecia despertar. A cabeça e o corpo de Margarida contorcendo-se estavam a
deixá-lo excitado. Ora mirava um, ora mirava outro. Sentia igual desejo pelos dois. Do
Correia desejava a envergadura do corpo e de Margarida a pele e a sensualidade que
possuía.
Não se pôde conter. Despiu ali as calças e, sem tirar os olhos daquela cena lasciva,
imaginando-se entre aqueles dois amantes, satisfez-se de imediato.
Os orgasmos acontecerem em simultâneo, como se os três fossem um só corpo que se
satisfazia, secreto, de prazer. Os gemidos de dentro do quarto abafaram os gemidos de
Rodrigues.


                                     Capitulo VI
Na manhã seguinte, ao despertar, Margarida procura o corpo quente de Correia, na ânsia
de o acariciar, de procurar um primeiro carinho matinal. Mas era em vão. Ao seu lado,
onde outrora houvera amor, apenas um espaço vazio, frio. Amor?... Margarida solta
uma risada ao pensar em tal.
- Terá sido amor? – pergunta em voz alta, como se esperasse uma resposta dos anjos.

Nisto, ouve Soraia à porta do quarto. Vinha trazer-lhe o pequeno-almoço.
- Bom dia, Soraia. Entre, entre. Como está o dia? – questiona Margarida.
- Ameno, Senhora. Embora o sol se esteja a tornar forte.
- Óptimo. O que se quer é bom tempo. – diz Margarida alegremente, enquanto se
levanta da cama – Não te queres sentar? Vamos conversar um pouco, enquanto como
este manjar que me trouxeste.
- Era um prazer, Senhora. Mas tenho muito serviço a fazer que não se pode atrasar – diz
Soraia, admirada pelo convite.
- Anda. Deixa o serviço. Quero que te sentes. Não gosto de tomar as refeições sozinha –
insistiu Margarida.
Soraia senta-se, ajeitando a farda.
- Como está a correr tudo aqui, no barco? Estás a dar-te bem? – pergunta de imediato
Margarida.
- Muito bem, Senhora. É a minha primeira vez, quer dizer, em barcos particulares.
Soraia havia já servido em cruzeiros de longo curso. Mas cansara-se. As viagens eram
longas demais, intermináveis, e fartara-se do constante assédio que os homens,
tripulantes do navio ou viajantes, lhe faziam.
- E dos dois marinheiros? Dás-te bem com eles?
- Até agora não tivemos um único problema. Parecem-me muito correctos. O Rodrigues
é muito espontâneo e engraçado. Já o Correia, enfim, fala pouco. Não me parece uma
pessoa feliz – explica Soraia.
- Atrai-te algum deles? – pergunta, maliciosamente, Margarida.
Soraia corou e advertiu que não.
- De modo algum, minha Senhora. Tenho o meu Vasco em terra e gosto muito dele.
Estamos noivos e tudo.
- Estava a meter-me contigo, Soraia. Muitos parabéns pelo noivado. Espero que tenhas
toda a sorte que uma vida merece – desejou Margarida.
O resto do tempo passaram-no a falar de frivolidades. Margarida não insistiu mais na
conversa dos marujos, para não levantar suspeitas.

                                     Capitulo VII

Os dois dias seguintes à noite luxuriante que tivera, Margarida passou-os sem ver o
marujo Correia.
De imediato percebe que este a estava a evitar e questiona-se se aquela fantástica noite
teria sido um erro, se deveria ou não ter acontecido.
Por muito grande que o iate fosse, ele não conseguiria esconder-se para sempre.
Margarida estava preocupada com ele. Não o queria assustar e muito menos fazê-lo
sofrer. Tinha de o encontrar para puderem conversar como dois adultos. Vai então à sua
procura.

Enquanto percorria o amplo barco esbarra-se com o Almirante Vicente. Já nem se
lembrava dele e uma sensação de remorso infantil percorreu-lhe a mente. De certo que o
Almirante Vicente pensava que Margarida era muito mal-educada, uma vez que ainda
não o havia convidado a tomar uma refeição com ela, pelo menos para conversarem. Era
o mínimo que a dona de um iate poderia fazer ao homem que estava encarregue de
comandar o barco.
- Almirante Vicente. Que surpresa. Como está?
- Muito bem, e a Senhora?
- Muito feliz por esta viagem tão calma. Espero que não esteja a sentir falta de nada –
diz Margarida.
- Claro que não. Quer dizer… apenas de uma coisa – refere o Almirante Vicente, com
um grande sorriso nos lábios.
- De quê? Diga-me já que providencio de imediato o que lhe falta.
- A sua companhia. É disso que sinto falta… da sua companhia.
Margarida fica sem palavras e muito atrapalhada.
- Oh! Almirante Vicente. Mas isso resolve-se já com um almoço. Que lhe parece? Hoje?
- Com certeza. Pode ser às 13 horas?
- Às 13 horas está óptimo. Até já.

Afastam-se um do outro. Margarida envergonhada pela cena que se passara e o
Almirante Vicente radiante por, finalmente, ir desfrutar da sua companhia.

Margarida dirige-se então ao quarto dos marinheiros a fim de se encontrar com o marujo
Correia. Bate à porta e de imediato quem lhe atende é o marujo Rodrigues, de calções
brancos e tronco nu. O rosto era parecido ao de Tadzio, o belo rapaz do filme Morte em
Veneza, de Visconti. Margarida contempla por breves momentos o corpo do marinheiro.
A pele lisa de um branco angelical, uns braços fortes embora transparecessem ternura.
Imagina como seria ser envolvida por aquele jovem.
É desperta para a realidade quando Rodrigues lhe pergunta:
- Deseja alguma, minha Senhora? Há algum problema?
- Não… não… está tudo bem. Vinha saber do marujo Correia. Já não o vejo…
- Há dois dias, não é verdade, minha Senhora? – diz o marinheiro, saindo-lhe estas
palavras da boca de forma impensada. Logo fica atrapalhado e tenta desfazer-se do erro.
- Julgo eu, claro.
- Do que é que você sabe? Por que diz há dois dias? – inquiriu Margarida, furiosa.
- Do que está falar, minha Senhora? Saber de quê? Há alguma coisa a saber? Apenas
calculei que não o vê há dois dias pois andamos embarcados apenas há três.
- E daí?
- Daí que o terá visto no primeiro dia, quando chegou ao iate. E ninguém se preocupa
com uma pessoa se não o vê durante um dia. Mas se não o vê durante o segundo dia, aí
sim, já se pode começar a ficar preocupado. Percebe, minha Senhora? Foi por dedução,
nada mais. – tentou safar-se o marujo Rodrigues.
- Hum… muito bem. Realmente não o vejo desde o dia em que embarquei. Mas não
respondeu à minha pergunta. Sabe ou não sabe onde está o marujo Correia? Sabe se ele
está bem? – insistiu, arrogante, Margarida.
- Não sei onde ele está, minha Senhora. Talvez ajudando o meu Almirante, no leme.
Mas se precisar de alguma coisa, estou certo que poderei fazer as mesmas coisas que
ele.
- Não preciso de nada seu. O meu assunto é com ele e não consigo. – refere Margarida,
irritada com a insolência do marujo Rodrigues.
Antes de voltar costa e se dirigir para o quarto, a fim de se arranjar para o almoço com o
Almirante Vicente, ordena ao marinheiro:
- Quando estiver com o marujo Correia diga-lhe que o procurei e que preciso que venha
ter comigo. Com urgência. Logo, de imediato. Entendeu?
- Fique descansada, minha Senhora. Assim o farei – responde Rodrigues, com um
sorriso matreiro.

                                    Capitulo VIII

O almoço com o Almirante Vicente decorreu de uma forma calma. Falaram da arte de
navegar os mares, dos perigos, lendas e mitos que cercam esse mundo ainda pouco
conhecido, apesar das extraordinárias inovações da ciência e da tecnologia.
Vicente diz a Margarida que no dia seguinte deverão estar já na Côte D’Azur, mais
precisamente em Cannes.
- Ah, mal posso esperar por ancorar lá. É um sitio encantador. Conheço-o como as
palmas da minha mão. As ruas, as praias, as lojas, os melhores restaurantes. Tudo. É um
paraíso na terra. – diz Margarida, cheia de satisfação.
- Conheço mal. Quando se vai em trabalho apenas pensamos no barco, se está tudo em
ordem para a viagem de regresso. – refere o Almirante Vicente – Quem sabe se não me
faz uma visita guiada a esse “paraíso na terra”, como diz.

Margarida ficara com a sensação que o Almirante a tentava seduzir. Não poucas vezes
arriscava a tocar-lhe na mão, mas Margarida recuava sempre. E o olhar dele não a
enganava.
No entanto, a cabeça de Margarida estava com o marujo Correia. Não conseguia
esquecer aquela pele trigueira, o seu cheiro a sal, o sabor dos longos e quentes beijos
que trocaram. E os braços fortes mas carinhosos, aqueles braços que a faziam sentir
segura e distante das feridas da vida.
Só queria estar com ele, ambos despidos, na sua cama, como Adão e Eva a desafiar as
leis do Éden. Ansiava poder repetir a noite que tivera com ele.

Quando era já noite alta e apenas a lua e as estrelas eram companheiras de Margarida,
aparece, finalmente, o marujo Correia.
- Soube que esteve à minha procura.
- Sim, estive. Onde te meteste? Fiquei preocupada. – disse Margarida, abraçando-o.
Ele, porém, permaneceu imóvel, mais duro e hirto que uma viga de aço.
- O que é que se passou? Porque me estás a evitar? – perguntava, ansiosamente,
Margarida.
- Porque foi um erro… aquela noite foi um erro – disse o marinheiro, pensativo, fixando
o mar.
- Um erro? Dizes que foi um erro? Eu dei-me a ti como a ninguém! Não podes negar
que houve entre nós uma química muito forte, uma explosão de sentimentos que não
soubemos controlar! – dizia Margarida, revoltada com as afirmações de Correia.
- Não nego nada disso. Mas não nego também o meu coração e o que ele contém dentro
dele. O meu coração está prisioneiro. Não se consegue soltar.
- Da fadista? É de Ariadne que falas? – grita Margarida, voltando com força a cara do
marinheiro de forma a que a tatuagem que lhe está impressa no pescoço fique voltada
para ela.
- Sim. É da fadista. É da Ariadne… e do destino.
- Mas não me disseste que não havia mais nada entre vocês? Que conversa é essa? O
que me estás a querer dizer?
- Ela já não tem nada comigo. Está longe. Fora do nosso país. Agora eu, minha Senhora,
eu sim, continuo com ela. O meu coração está com ela e a minha pele tem a sua marca.
– diz o marujo Correia, deixando Margarida boquiaberta com tudo aquilo.
- Quer dizer que a nossa noite de amor não significou nada para ti? – pergunta,
desesperada, Margarida.
- Significou sim, minha Senhora. A certeza de que ainda amo Ariadne. Não nego que
me deixei levar pelo prazer e que muito me arrependo disso. Não queria que tudo aquilo
tivesse acontecido. Mas uma vez que ocorreu, só me resta arrepender-me e não voltar a
fazer o mesmo.

Margarida não quis ouvir mais nada. Volta costas e vai refugiar-se no seu quarto.
Primeiro em passos lentos, mas rapidamente começa a correr movida pelas lágrimas
que, incontroláveis, saíam dos seus olhos.
Quanto ao marujo Correia, foi incapaz de reagir. Ficou a vê-la a desaparecer, estéril de
reacções ou de palavras. Só queria lançar-se ao mar e nadar para longe daquele barco.

Margarida tranca a porta do quarto a sete chaves e, num ataque de fúria ingovernável,
começa a deitar ao chão tudo aquilo que se encontrava nas prateleiras do seu aposento.
Livros, pequenas estatuetas de cerâmica, molduras com fotografias suas e do seu
querido pai. Tudo numa tentativa de exorcizar a dor que sentia, a frustração de se sentir
usada.
Num choro soluçado só uma pergunta lhe invade repetidamente o espírito: – Porquê?
Mas porquê?
Quando finalmente se acalma, senta-se diante do espelho. Enxuga as lágrimas, penteia
delicadamente os cabelos. Coloca um bâton e um pouco de blush. Olha para a sua
imagem reflectida no espelho e, mirando-a nos olhos, diz, tentando convencer-se:
- Esquece. Não era homem para ti. Precisas de mais e melhor. Amanhã será um novo
dia e estarás na Côte d’Azur, centro do que de melhor há no mundo.

                                      Capitulo IX

Estava já perto da hora de almoço quando faltava pouco para o iate de Margarida
aportar na Marina de Cannes. Estava radiante com o seu reencontro com aquela região
privilegiada do Sul de França. Via já a longa extensão de praias e o belíssimo edifício
do Hotel Carlton, onde iria ficar hospedada.
De imediato, berra por Soraia para que reúna todo o pessoal do barco, a fim de
transportarem as suas bagagens para o carro e para se despedir de todos eles, pois o
regresso a casa, Margarida iria fazê-lo de avião.
Quando finalmente atracaram, estava já um Mercedes prateado à espera de Margarida,
enviado pela gerência do Hotel.
Enquanto as malas de viagem iam sendo trazidas para terra, ela despede-se da
tripulação. Abraça fortemente Soraia, desejando-lhe, mais uma vez, felicidades para o
seu noivado. Cumprimenta secamente o marujo Rodrigues e, com o coração estilhaçado,
dá um beijo leve na face de Correia, que lhe retribui com um sentido e carinhoso abraço.
Ao ouvido sussurra-lhe:
- Obrigado por tudo e desculpe se a magoei. Jamais esquecerei tudo o que houve.
Instantaneamente, ao ouvir tais palavras, uma lágrima grossa rola dos olhos de
Margarida que Correia seca com um beijo. Iria ser o último beijo trocado entre ambos.
Jamais se voltarão a ver.
Com o Almirante Vicente foi mais cerimoniosa. Afinal, era a pessoa mais velha do
grupo e o homem que havia conduzido o iate até ali.
- Muito obrigado, Almirante Vicente. A viagem não podia ter sido mais agradável. Não
sei como lhe poderei agradecer.
- Muito fácil. Telefone-me quando chegar a Lisboa. Quem sabe se não podemos
combinar um almoço ou mesmo um jantar. Fico à espera. Combinado?
Margarida nada disse. Desceu as escadas e entrou no automóvel que prontamente
arrancou. Ela foi acenando numa última despedida. Mas os seus olhos não deixavam de
fixar o marujo Correia. Este, cabisbaixo, acenou-lhe timidamente.
Margarida fecha o vidro esfumado do carro e arranjando o cabelo, suspira fundo
pensando:
- É o nosso fim. Agora, tenho de pensar no futuro.
E uma paz interior inunda o espírito de Margarida. Uma nova fase da sua vida iria agora
começar.

                                       Capitulo X

O chauffer deixou Margarida no esplêndido e luxuoso Hotel Carlton. O Hotel fica
situado na famosa Boulevard de La Croisette, a pouco menos de 800 metros do Palácio
dos Festivais onde, anualmente, acontece o prestigiado Festival de Cinema de Cannes.
Margarida nem queria crer que estava ali.
Assim que entra no Hotel pela porta principal cercada de colunas marmóreas, encimada
por um belo relógio, os olhos de Margarida são levados a admirar um luxo e uma
opulência raros.
No sumptuoso hall do Hotel caminha-se sobre um chão de mármore polido aos losangos
brancos delimitados a castanho, acompanhado por duas filas de imponentes colunas que
nos levam até ao deslumbrante tecto branco, adornado com dezenas de grandes
candeeiros. O efeito de luz é surpreendente. Margarida havia entrado num mundo de
fantasia e sonho.
Escolhera para seu quarto uma suite num andar elevado, para assim poder desfrutar da
magnífica vista sobre o mar e a praia. Já se imaginava com uma flûte de champanhe e
um belo pôr-do-sol no horizonte.
O aposento era requintado e com todas as comodidades e compunha-se de quatro
divisões. Uma sala, o quarto propriamente dito, um quarto de vestir e uma casa de
banho monumental.
Na sala, um bonito tapete de motivos vegetais cobria praticamente toda a área. O papel
de parede claro e os sofás cor de creme transmitiam uma sensação de leveza e de bem-
estar. No tecto, um lustre de cristal iluminava a pontos azuis e amarelos, reflexos da luz
passando pelas contas cristalinas, toda a divisão. Parecia que tinha toda a constelação do
céu dentro da sala. Um mini-bar, com uma excelente garrafeira, era um convite a um
belo serão com os amigos ou, e melhor ainda, com o homem que queria encontrar e
amar.
O quarto, de dimensões generosas, acompanhava a sala em matéria de decoração.
Linhas puras, materiais nobres, harmonia de cores, tudo evocando um clima de
sensualidade e glamour, despertando a imaginação de Margarida. Lembrava-se dos
filmes antigos que via e das actrizes que admirava. Sentia-se uma delas.
O quarto tinha uma cama grandiosa de mogno com uma coberta magnífica, de uma bela
seda castanha clara, com motivos geométricos. Em frente do leito, um belo coxim com
assento forrado também a seda clara. Junto das janelas que dão vista para o mar, duas
senhorinhas e uma pequena mesa de apoio são o chamamento ideal para um chá calmo
com o livro ideal de uma vida.
Margarida puxa os reposteiros e um sol intenso iluminou-lhe a face. Ela sorri, abre as
portas e, já na varanda, grita: - Estou feliz! Estou feliz!
Ao fundo, na marina, soa alto uma sirene de um navio de luxo, parecendo que lhe
respondia, que lhe saudava.

                                     Capitulo XI

Margarida resolve ficar a descansar no primeiro dia em que se acomoda no Hotel.
Depois de dormir algumas horas naquela cama que mais parecia digna de uma rainha do
que para uma hóspede de um hotel, resolve começar a arrumar as suas coisas, tomando,
em seguida, um banho relaxante na banheira de hidromassagem do seu quarto e pasma
longas horas frente ao azul do mar que avista da varanda.
Manda vir através do serviço de quarto um lanche composto por frutas de várias
qualidades e uma garrafa de champanhe para ir degustando ao longo da tarde.
Antes da hora do jantar marca uma ida ao cabeleireiro do Hotel para cuidar do seu
cabelo e fazer uma limpeza de pele. Mas tudo isso só após uma longa e revigorante
sessão de banho Vichy acompanhada de uma boa massagem Shiatsu. Margarida
pretende sentir-se tão bela por fora com se sente por dentro.

O resultado foi espantoso. Quando se olha no espelho do quarto fica admirada com o
que vê. Uma linda mulher estava ali à sua frente, produzida para espantar tanto o
homem mais distraído como o mais exigente. Sentia-se uma autêntica femme fatale.
Vai até ao quarto de vestir e escolhe um vestido novo que ainda não tivera ocasião de
estrear. Era um espantoso vestido comprido, estilo Império, de seda cor de ouro velho
com alguma pedraria nas alças. O rosto era emoldurado por um par de brincos com
pingentes que tombavam sobre os seus ombros descobertos.

Margarida estava deslumbrante quando desce até ao Restaurant La Côte, o restaurante
principal do Hotel. É uma sala arredondada, de mesas cilíndricas e cadeiras de veludo
azul. Uma excelente combinação com o mar e o céu que das enormes janelas se podem
admirar. No tecto, uma imensa cúpula iluminada em vidro abrilhanta o espaço.
O ambiente que se vivia era calmo. Um músico toca suavemente uma melodia ao piano.
Na atmosfera misturam-se diversos idiomas e diferentes risos, e um aroma a perfume
envolve o lugar, inebriando os sentidos.
Margarida desloca-se pairando pela carpete fofa e cómoda quando, de repente, ouve
chamar o seu nome:
- Margarida! Margarida!
Surpresa, volta a cabeça tentando perceber quem a chama. Uma mão acena-lhe e um
rosto sorridente aproxima-se:
- Margarida? És a Margarida, não és? Estou a reconhecer-te.
- Sim, sou Margarida, de facto. Mas você… é?
- Não te recordas de mim? Pois claro que não. Como podias. Naquela altura sabias lá tu
quem eu era.
- Naquela altura? Qual altura?
- Sou o Mário Bragança, do Colégio onde andámos.
- Mário? – diz Margarida, confusa.
- Sim. Eu era o patinho feio do Colégio. Lembras-te de um rapaz cheio de borbulhas, de
óculos de massa castanho e que andava sempre a chatear-te e a mandar-te papelinhos
nos recreios? Andava um ano abaixo do teu e tinha aulas em frente à tua sala.
- Mário?! Aquele fedelho insuportável que andava sempre atrás de mim e das minhas
colegas? Esse Mário? – dizia Margarida, rindo-se.
- Esse Mário, Margarida. – respondeu-lhe corando, mas rindo.

Mário era agora um homem feito e muito bem parecido. Não seria propriamente um
metrossexual mas o cuidado com a aparência era evidente. Tinha cabelos castanhos
claros, deixando antever uns quantos já esbranquiçados que lhe aumentavam o charme.
Uns bonitos olhos verdes, expressivos, e um rosto bem masculino, com lábios grossos,
daqueles que estão sempre a pedir um beijo. Pelo corpo percebia-se que devia passar
largas horas a praticar desporto no ginásio. A camisa que trazia vestida deixava
adivinhar o peito musculado e as costas largas. Parecia um antigo gladiador romano ou
um jogador olímpico da Grécia Antiga.

Depois da primeira troca de abraços e de beijos, Mário pergunta a Margarida se está
sozinha e se não quer juntar-se a ele na mesa do restaurante para jantarem os dois e
conversarem.
Margarida diz-lhe que está só e aceita atenciosamente o convite.
Já sentados à mesa a conversa reinicia-se:
- Mas diz-me Margarida, o que fazes aqui por Cannes?
- Nada de especial. Precisei sair de Lisboa. Pôr a cabeça em ordem, descansar, recuperar
energias e, acima de tudo, conhecer caras novas. Bom, acho que devia ter pensado
também em reencontrar caras antigas. – diz Margarida, rindo-se do que acabara de dizer
– Então e tu? Que fazes por aqui? Deixa-me adivinhar… férias com a mulher e os
filhos?
- Nada disso. Vim cá por causa de um Congresso de Medicina que terminou anteontem
e resolvi, em boa hora pelo que vejo, estender a minha estadia aqui por mais uns
tempos. Para descansar e também para pôr a cabeça em ordem.
- Mas és médico, é?
- Sim. Sou cirurgião plástico. Conseguias alguma vez adivinhar? – pergunta Mário com
entoação trocista.
- Não, de modo algum. Não te imaginava nada a aumentar peitos de mulheres ou a
desengordurá-las do seu interior através de lipoaspirações.
Riram-se os dois muito do que Margarida acabara de dizer. O ambiente à mesa era
descontraído e os dois estavam muito felizes por se tornarem a encontrar depois de
tantos anos passados. Cada um falou da sua vida.
Mário contou que possuía duas clínicas de cirurgia plástica, uma em Portugal e outra no
Brasil e referiu quais os projectos futuros a nível profissional que tinha em mente. E se
este aspecto da sua vida parecia correr melhor que nunca, a nível pessoal a vida de
Mário era triste, com episódios que o marcaram muito profundamente.
Tinha perdido, para sempre, a mulher e o filho. A mulher de Mário, Jessica, nunca fora
uma boa esposa. Havia cometido várias infidelidades, por vezes com amigos bem
próximos do marido. No entanto, Mário aguentava e desculpava todas as traições da
mulher por amor ao filho, nascido um ano após o casamento, não negando a Margarida
que, cada vez que era traído, sentia uma dor tão forte que parecia que lhe espetavam
uma seta bem afiada directamente no coração.
Tudo terminou numa noite em que Jessica resolveu ir com o filho para casa do amante,
aproveitando uma semana em que Mário estava ausente no Brasil. Após alguns excessos
de álcool e algum sexo, Jessica acaba por discutir com o amante. Transtornada, coloca o
filho no carro e parte desnorteada para casa. Foram encontrados na manhã seguinte, já
sem vida, despistados algures na estrada de Sintra.
Margarida fica horrorizada perante a história que Mário acaba de narrar… e chora.
Perante o sofrimento genuíno daquele homem, não conseguia dizer palavra alguma para
o confortar. Percebe que os seus problemas, ao pé dos dele, não são nada. Pega-lhe
delicadamente na mão e leva-a à boca para a beijar, na esperança de que do beijo
saíssem palavras.
Mas Mário insiste.
- Então e a tua vida Margarida? O que fazes, com quem estás?
- Fazer, não faço nada. E também não estou com ninguém. A minha vida não teve, até à
data, grande interesse.
- Não digas isso. Não acredito nada.
- Verdade. Estive sempre presa ao meu pai. Tínhamos uma relação algo obsessiva. Ele
tentou sempre proteger-me, não me dando grande liberdade para agir ou até mesmo para
pensar. Morreu há muito pouco tempo, deixando-me neste mundo sozinha, quase sem
amigos. E por culpa dele, percebes?
- Claro que sim. Eras o bem mais precioso dele e quis salvaguardar-te. É compreensível.
Mas porquê Cannes, então? – pergunta Mário.
- Resolvi empreender esta viagem para descansar e perceber o que iria fazer da minha
vida. Acabei de herdar uma fortuna em bens e dinheiro. Tenho que saber o que vou
fazer. Se fico com as empresas, se vendo as quotas, se fico em Portugal. Eu não sei.
Ando um pouco perdida. – desabafa Margarida.
- E de amores?
- De amores, nada. Qualquer homem que se tentava aproximar de mim, o meu pai
arranjava maneira de o afastar. Havia sempre qualquer coisa que ele não gostava e era o
suficiente para me fazer a vida negra… e a ele também. Nunca conseguiu perceber que
eu havia crescido e que me tornara mulher.
- Quem sabe se não é aqui que descobres o amor. Estás na terra perfeita para isso. –
brinca Mário, rindo-se e fazendo sorrir Margarida.
- É… Quem sabe?

                                     Capitulo XII

Margarida chega à sua suite satisfeitíssima com a noite que acabara de ter. Sentia-se
bem em ter reatado uma ligação com o seu passado tão longínquo. Era uma forma de
pensar em si mesma e de como as coisas mudam, como uns desaparecem para, anos
depois, se voltarem a encontrar, já crescidos e transformados. Talvez fosse o destino. E
o Mário estava completamente diferente daquilo que era. Cresceu e tornara-se um
homem extremamente interessante. Mal podia esperar pelo dia de amanhã. Haviam
combinado encontrarem-se de manhã, ao pequeno-almoço, para depois darem um
passeio pelas ruas de Cannes.
Margarida adormece com as janelas do quarto abertas e uma brisa marítima invade-lhe
o espaço. Ao fundo, o som monótono e relaxante das ondas do mar. Dorme
profundamente até ao nascer do novo dia.

Pelas nove horas da manhã os dois amigos reencontrados encontram-se no Restaurante
da Praia, pertencente ao Hotel. Tomam um luxuoso pequeno-almoço com o mar como
papel de parede. O tempo estava ameno, com um sol a adivinhar um dia lindo e um céu
azul a lembrar o de Portugal.
Ambos estavam muito bem dispostos e com uma enorme expectativa em relação ao dia
que iriam passar juntos.
Mário propõe que comecem por visitar o Musée de La Castre e depois o Musée de
l’Enfance. O primeiro trata-se de um museu instalado no antigo Castelo de Cannes, do
século XI. É um imponente castelo de altas torres circulares e de grandes muralhas
defensivas. Margarida fica maravilhada com o que vê e lembra-se do seu castelo
imaginário onde ela se julgava prisioneira, esperando pelo seu Príncipe salvador. Dentro
do Castelo visitam ainda a Capela de Santa Ana, do século XII, onde estão expostos
mais de duzentos espantosos instrumentos musicais de todo o mundo.
Já o Musée de l’Enfance, próximo da grande Praça 18 de Junho, Margarida lembrava-se
dele. Já o havia visitado com o pai. É o local ideal para fazer soltar os sonhos de rapazes
e raparigas. Lá estão expostos mais de 150 anos de brinquedos e móveis em miniatura,
estando presente uma reconstituição quase exacta da vida quotidiana da segunda metade
do século XIX, através de lindas casinhas de bonecas.

- Que museu mais mimoso, Mário. Uma maravilha. Fez-me recordar as histórias que a
minha avó contava, de quando era criança. – diz Margarida, feliz como uma
adolescente.
- Realmente são brinquedos espantosos. Nada como hoje. Os brinquedos actualmente
são feios e agressivos. Mas sabes, tudo isto deu-me fome. E se fossemos a uma
geladaria que conheço que tem umas taças de gelados como nunca vi. Acho que era um
bom almoço, não achas?
- Hum… se acho. Eu adoro gelados. Estou contigo nessa ideia.
Foram então até à famosa geladaria Vilfeu Père e Filhos – Mestres em Gelados, a mais
antiga de Cannes, na Rua dos Estados Unidos.
Margarida fica extasiada frente à vitrina dos gelados. Milhares de cores adivinhavam
sabores diferentes e exóticos. Parecia que estava perante uma paleta de cores de um
pintor gigante.
Mário pediu uma grande taça de gelados de fruta, enquanto que Margarida escolheu um
crepe de gelado de frutos secos. Para acompanhar, uma garrafa de champanhe francês.
Brindavam a uma amizade renascida, a um encontro feliz de duas pessoas que se
encontravam só.

O resto da tarde foi passado a passearem nos parques de Cannes. Visitaram o Jardim
das Oliveiras e o Square du 8 Mai 1945. As árvores e as flores deixavam um perfume
deslumbrante nos caminhos por onde passavam e o canto dos pássaros criava um
ambiente de romantismo e de tranquilidade. Por várias vezes descansaram nos bancos
de jardim, conversando sobre os vários interesses de cada um. Música, arte, projectos,
ambições, frustrações. Sentiam-se cada vez mais próximos um do outro. As primeiras
inibições haviam passado e tratavam-se já como se jamais se tivessem deixado de falar,
como se a vida não os tivesse separado nunca.
Passavam já das seis horas da tarde quando voltaram ao Hotel. Margarida estava
cansada e só pensava num banho relaxante e numa pequena sesta para restabelecer
forças. No entanto, haviam combinado jantar juntos. Mário iria levá-la ao restaurante La
Palme d’Or, no Hotel Martinez, próximo do local onde ambos estavam hospedados.
Tinha que estar de arrasar para esse encontro.

Margarida nem quis acreditar quando entra na sua suite. Um sem número de Margaridas
brancas e amarelas adornavam o seu espaço. Centenas, milhares de Margaridas. Não
havia um único espaço vazio que não tivesse uma Margarida. Por cima da cama, um
manto de pétalas cobriam o leito e no centro, um envelope. Margarida abre o envelope e
lê o cartão que estava no seu interior: “Estas Margaridas que te envio não são para
contemplação tua, mas antes que sejam elas a admirarem e a conhecerem a mais Bela da
sua espécie – TU.”
Margarida beija o cartão e atira-se para cima da cama, tentando abraçar todas aquelas
pétalas de flor mandadas por Mário. Uma alegria crescente e infantil invade-lhe o
coração, sentindo-se a mulher mais especial à face da terra. Estava, sem dúvida, a
apaixonar-se. Mas seria possível? Em tão pouco tempo? Não queria racionalizar nem
colocar entraves. Muito menos criar falsas ilusões. Lembrava-se ainda do marujo
Correia e daquilo que tinha acontecido. Agora iria em frente, espontânea como sempre
tinha sido até então com Mário, mas mais prudente.

                                     Capitulo XIII

Após descansar no meio de todas aquelas flores e de ter tomado um banho calmante,
Margarida arranjou-se e o resultado foi espantoso. Um formidável tailleur preto. O
casaco, de oito botões em duas filas de quatro e uma saia ajustada, direita, pelo joelho.
Uma camisa com um vistoso laço branco e um folho a sair das mangas semi-longas do
casaco davam um toque clássico ao conjunto. Na cintura, um cinto discreto caía
pendurado. Como alfinete de peito, uma enorme camélia com pérolas e nas mãos, umas
luvas pretas sem dedos. Nos pés, uns esbeltos sapatos altos de desenho italiano e nas
pernas, uns collants opacos brancos. Como jóia, apenas uns brincos simples de
diamantes, herdados da mãe.
Margarida sentia-se cheia de confiança e de amor-próprio. Aquela noite, pressentia,
podia ser decisiva para algo que nem ela própria sabia. Mas ia esperançosa de que algo
de muito bom iria acontecer.

À hora combinada, Margarida encontrou-se com Mário no bar do Hotel. Ele estava
extremamente ansioso e nervoso, de tal forma que havia já bebido dois whiskys e teria
pedido um terceiro se Margarida, entretanto, não tivesse chegado.
Mas ela ficou algum tempo a olhá-lo de longe. Estava extremamente bonito e elegante.
Envergava um belo fato preto e uma camisa branca cuja gola saía por cima da fina
lapela acetinada do casaco. Na cintura, um belo cinto também preto. Parecia um top-
model acabado de sair de um desfile Armani. A barba estava primorosamente bem feita.
O cabelo penteado para trás dava-lhe um certo ar de toureiro ou, pelo menos, de um
verdadeiro homem latino.
Margarida respirou fundo e apressou-se a ir ter com ele:
- Olá Mário. Espero não me ter atrasado.
Mário vira-se automaticamente e, ao vê-la, fica sem fala.
- Então!!! Não dizes nada? - pergunta Margarida, ao vê-lo boquiaberto olhando para ela.
- Desculpa… mas… fiquei sem palavras. Estás linda, Margarida. Sinto que vou ser o
homem mais odiado de toda a Cannes, ou melhor, de toda a Côte d’Azur.
- Que disparate! Estou normalíssima! Exagero teu. – diz Margarida, numa falsa
modéstia – Mas primeiro quero agradecer-te todas aquelas flores no meu quarto. Foi a
surpresa mais bonita que alguma vez me fizeram. Obrigada.
E, imediatamente, Margarida beija Mário, quase tocando o canto da boca. Mário ficou
atrapalhado, e agradeceu. Era a maneira que tinha encontrado para lhe dizer o quanto
este reencontro o fazia feliz.
Dirigiram-se então para o restaurante. Quando lá chegaram tinham uma mesa reservada
bem ao pé da janela com vista para o mar, onde as luzes da cidade se reflectiam criando
belas constelações de novas estrelas na água.
O restaurante não podia ter mais charme do que aquele que possuía. Decorado em estilo
art deco, todo o restaurante é inteiramente dedicado à magia da sétima arte. Nas
paredes, retratos originais das grandes figuras do cinema embelezam e dão um toque
fascinante ao espaço. Os materiais mais nobres foram usados no mobiliário e o chão, em
madeira escura, tem no centro uma enorme carpete azul com Palmas de Ouro, honrando
os prémios de cinema que anualmente são entregues naquela localidade. Pequenas
estatuetas de bronze repousam sobre o centro das mesas e no tecto, espelhos e dourados
reforçam o ambiente.

Ambos escolheram o menu “Palma de Ouro”, composto por várias entradas, um prato
de peixe e outro de carne, soberbamente cozinhados, sobremesas e vinho. Tudo
confeccionado no maior requinte com o intuito de se degustar lentamente, fazendo
despertar os cinco sentidos. Ali, nada é deixado ao acaso. Desde a louça onde são
servidos os manjares, passando pelos copos e pela própria disposição dos alimentos no
prato, tudo é pensado em favor do requinte.

A noite decorreu serena. Parte do tempo foi passado com as mãos dadas por cima da
mesa e os olhos de um fixados nos do outro.
Era a primeira noite verdadeiramente romântica que Margarida conhecera. A música do
piano tocada baixinho, a luz das velas tremelicando à dança da brisa que vinha do mar,
o suave tilintar dos talheres nos pratos, os sorrisos enamorados. O peito enchia-se de
uma alegria que lhe era nova e os olhos, esses, transmitiam uma luz verdadeiramente
espantosa.
Mário era um homem realmente bondoso, com um apurado sentido de humor e muito
inteligente. Possuía já uma experiência de vida intensa, por vezes muito difícil e
magoada. Margarida, uma mulher generosa, fora do seu tempo e sonhadora. Uma união
de afecto estava consolidada.

                                    Capitulo XIV

O caminho até ao Hotel foi feito pela praia. Ambos tiraram os sapatos e passearam
lentamente junto ao mar olhando a lua prateada reflectida na água, de mãos dadas.
Nessa altura imperou o silêncio, como se tivessem medo de dizer alguma coisa que
pudesse deitar por terra o maravilhoso jantar que haviam tido. Mas a verdade é que
estavam os dois nervosos sobre o que iriam fazer ou dizer quando chegassem ao Hotel.
Mário tinha medo de ofender Margarida, convidando-a a subir até ao seu quarto. E
Margarida rezava para que tal acontecesse, embora se sentisse nervosa.
Enquanto continuavam com as mãos entrecruzadas e a andar na areia, começam a ouvir
uma orquestra a tocar os primeiros acordes da música Summertime, de Gershwin. Não
percebem de onde ela vem, mas o cenário e a música tornam o momento perfeito, quase
idílico.
- A Senhorita concede-me a honra desta dança? – diz Mário para Margarida,
oferecendo-lha a mão.
Margarida ri-se, mas não declina:
- Com certeza, Cavalheiro. Um prazer.
Os corpos abraçam-se e movem-se suavemente ao som da música e da aragem que corre
à beira-mar.
Mário, embalado pela melodia, pelo luar e pela paixão sempre crescente, beija
suavemente os lábios de Margarida.
Margarida retribui, carinhosamente, com um beijo mais longo e o coração prestes a sair-
lhe do peito. A dança termina com um forte e longo abraço, e outro beijo.
De novo em silêncio, caminham até ao Hotel. Quando os olhares se cruzam,
imediatamente um sorriso aflora aos lábios. Estavam ambos a transbordar de alegria e
de ansiedade.

Chegados finalmente ao hall do Hotel, ficam um pouco atrapalhados sem saberem o que
dizer. Margarida deu o mote:
- Foi uma noite fantástica. O jantar, o passeio, a dança… os beijos.
- Foi a noite mais especial da minha vida, Margarida.
- Bom… eu…
- Porque não subimos até ao meu quarto. Podíamos fazer um brinde a esta noite.
Mandávamos vir uma garrafa de champanhe e algum caviar pelo serviço de quarto. Que
me dizes? – pergunta Mário, receando a resposta.
- Acho uma excelente ideia. Penso que esta noite merece realmente ser brindada.

No elevador, não largaram as mãos nem deixaram de se olhar fixamente um para o
outro.
Mário estava instalado numa suite da penthouse, baptizada com o nome de Suite Sean
Connery, o herói de James Bond ou o inesquecível monge-detective de O Nome da
Rosa.
Era um aposento imponente. Compunha-se de duas salas de grandes dimensões,
fechadas por portas de correr, podendo-se transformar em um só salão. A decoração era
de uma enorme sobriedade e bom-gosto, com requinte e elegância. Dois enormes sofás
com almofadas em tom pastel, um belíssimo tapete persa servia de moldura a uma mesa
de centro rectangular com embutidos de motivos florais. Três graciosas poltronas
forradas a seda harmonizavam o espaço. Uma enorme janela dava acesso para uma
varanda de grandes dimensões, com uma vista privilegiada sobre o amarelo da areia fina
da praia e onde o azul do mar se confundia com o azul do céu.
O quarto era quase tão grande quanto as salas. Uma principesca cama colocada ao
centro, guardada por duas belíssimas mesinhas de cabeceira, um coxim de seda escura e
duas senhorinhas de desenho elegante junto de um deslumbrante toucador. Uma imensa
janela arredondada quase circunda o quarto.
Margarida estava deslumbrada com a suite. Senta-se num dos sofás e diz, gozando com
Mário:
- Se soubesse tinha pedido esta suite. É maravilhosa.
- Não seja por isso. Sempre te podes mudar para cá. Ficava-te bem mais económico. –
brinca Mário, rindo-se.
- É. Quem sabe se não o faço, espertinho.
- Não tarda chega o serviço de quarto com o champanhe, o caviar e uns belos morangos
aux chantilly que encomendei.
- Hum… isso tudo parece-me terrivelmente afrodisíaco. Uma autêntica alquimia de um
sábio mago.
- Oh Margarida. Como estás bonita. Como esta noite foi um sonho que espero não acabe
nunca.
Mário ajoelha-se aos pés de Margarida e pousa delicadamente a cabeça nas pernas
esguias dela, enlaçando-as com os braços. Margarida afaga carinhosamente os cabelos
de Mário e, quase sussurrando, exclama:
- Acho que me estou a apaixonar. Nunca me senti assim na vida. Que transformação
provocaste tu em mim?
Mário pousa o queixo nas pernas dela e olha para cima, em direcção aos olhos de
Margarida, e responde:
- Nem eu sei que transformações provocaste tu em mim. Mas sinto que foram boas.
Sinto-me cada vez mais ligado em ti. Julgo até que desde os tempos de colégio me sinto
ligado a ti. – confidencia Mário, continuando de seguida – Já reparaste que as três
primeiras letras dos nossos nomes são idênticas? M-A-R. E como vieste tu para
Cannes? Por mar. Foi o mar que nos uniu, Margarida. Vieste trazida pelas ondas até
mim… como uma sereia!
Margarida lacrimejou comovida. Nunca ouvira palavras tão belas e mágicas como
aquelas.
Um beijo os tornou a unir, para logo a campainha do quarto os desunir. Era o serviço de
quarto com o champanhe e as demais iguarias que Mário havia pedido.
Mário colocou uma iluminação suave na sala e acendeu umas quantas velas. Serviu uma
flûte de champanhe a Margarida e outra para ele e, com emoção, disse:
- Que a vida não nos torne a separar. Um brinde.
Os copos tocaram levemente um no outro, e os lábios saborearam o gosto fresco da
bebida.
Mário escolhe um morango delicado e oferece-o a Margarida que, de uma forma
lasciva, o vai buscar às mãos de Mário. Mário estremece quando os lábios de Margarida
tocam nos seus dedos, sorvendo-os de forma erótica.
Margarida vai até ao rádio e põe a tocar uma música calma, para dar ambiente.
Chegando ao pé de Mário, atira-o para o sofá e diz-lhe que não se levante. Dá uns
passos para trás e oferece a Mário um “strip-tease” sensual.
Margarida começa a dançar, ondulando o corpo ao som dos acordes. Desabotoa
vagarosamente os botões do casaco do tailleur e quando este se encontra totalmente
aberto, Margarida coloca as mãos nos seus seios, acariciando-os ou apalpando-os
alternadamente. Mário está excitadíssimo e o seu sexo endurecido começa a incomodá-
lo dentro das calças.
Já de costas, Margarida abre o fecho da saia, que desliza lentamente pelas pernas.
Inclina-se suavemente e retira a saia dos seus pés, abanando as nádegas como uma
odalisca.
Mário não consegue deixar de acariciar o seu membro erecto. Nunca vira uma cena tão
terrivelmente lúbrica.
Margarida havia já despido a sua camisa e os seus seios brancos e delicados estavam já
soltos do soutien preto que os encerrava. Os mamilos manifestavam já o entusiasmo que
ela estava sentindo.
Mário não se conteve. Impetuoso, despe simultaneamente as calças e os boxers
rasgando, de seguida, a camisa, fazendo com que os botões resvalem aos saltos como
pérolas, pelo chão da sala.
Prostrado junto de Margarida, retira-lhe os collants e a tanguinha rendada que usava.
Não vacila em beijar o sexo de Margarida, lambendo delicadamente os seus lábios,
enquanto as mãos nos quadris a forçam a esmagar-se contra a cara de Mário.
O prazer sem limites que experimentavam era muito. Margarida suspirava e gemia
descontroladamente, enquanto Mário continuava loucamente a percorrer com os seus
lábios grossos, o corpo de Margarida.
Pouco depois, consegue libertar-se de Mário e corre, nua, até à varanda, murmurando:
- Vamos fazer amor aqui. Com o mar, a lua e as estrelas como testemunhas.
- E se alguém nos vê?
- Irão ficar cheios de inveja, de certeza.
Mário nem pensou mais. Margarida havia-o empurrado para cima de uma mesa,
derrubando o candeeiro e os jornais que estavam sobre ela.
E a boca de Margarida foi ao encontro das virilhas de Mário, percorrendo com os lábios
e a língua toda a zona envolvente do membro viripotente. O gozo era desmesurado e
Mário, agarrando a cabeça de Margarida, faz com que a boca dela percorra todo o pénis
endurecido. Ela chupa-o sofregamente, fazendo movimentos verticais fortes e
estimulantes.
- Pára Margarida. Estou lá quase…
- Então penetra-me. Quero sentir-te dentro de mim, como um macho forte.
E assim, com Margarida encostada à varanda, de costas para o mar, Mário penetra-a.
Primeiro de modo suave mas à medida que o prazer aumentava, a dança sexual tornou-
se mais liberta, mais animal. Margarida cravejava as unhas nas costas de Minotauro de
Mário, aumentando o ritmo da penetração.
O clímax foi apoteótico. Os corpos debatiam-se como se fossem gladiadores disputando
a vida numa arena.
Os amantes caíram extasiados no chão da varanda, abraçando-se.

                                    Capitulo XV

Margarida e Mário permaneceram juntos a restante semana, completamente enamorados
um pelo outro. Margarida acabou por mudar-se para a suite de Mário, havendo todas as
noites muito romance e amor.
O sexo entre eles era perfeito. Conjugavam perfeitamente nas fantasias e nos gostos de
cada um.
Margarida sentia-se bem no papel de mulher fatal e Mário adorava ser subjugado por
aquela mulher sem tabus, incrivelmente jovem e fresca.
Viajaram ainda até ao Mónaco, onde estiveram dois dias. O tempo que não passaram
entre os lençóis, usaram-no a passear, a fazer praia ou a jogar no casino.
Mas estava na altura de regressar a Portugal. Mário tinha a agenda sobrecarregada de
mulheres prontas a rejuvenescerem e Margarida tinha que se inteirar dos assuntos das
empresas deixadas pelo pai. Decidira que iria continuar com o património que o pai, a
muito custo e com muito suor, havia construído.
Margarida queria também remodelar toda a mansão do Restelo, numa tentativa de
apagar os vestígios do passado e oferecer ao futuro um novo aspecto e um novo brilho.
Em relação ao jardim, queria transformá-lo num jardim japonês, rodeado de caminhos
de água, pequenas cascatas e erva delicadamente aparada. Precisava de manter o
equilíbrio espiritual agora encontrado com Mário.

Já no avião, de regresso a casa, Margarida confidencia a Mário:
- Estou com muito medo de regressar a casa. Com medo de, ao chegar, perceber que
tudo o que houve entre nós foi um sonho do qual estou prestes a acordar. E não quero,
de maneira nenhuma, que tal aconteça.
- Não te vou dizer que não seja um sonho, meu amor. Mas é um sonho a dois. Como tal,
é preciso que um de nós acorde para que o sonho se desvaneça. E por mim, não acordo
nunca.
- Diz-me uma coisa, Mário.
- O que quiseres.
- Amas-me?
Mário olhou carinhosamente para os olhos apavorados de Margarida, que espera uma
resposta. O tempo da resposta pareceu uma eternidade. Mas, por fim, disse:
- Mais do que o céu e a terra juntos. Amo-te como nunca amei ninguém. Sei que parece
frase feita, mas é a mais pura da verdade. Amo-te muito, Margarida.
Margarida sorri. Sabe que Mário diz a verdade. E sabe também que Mário tem certeza
do amor que ela sente por ele. E, sem qualquer pudor, resolve perguntar-lhe:
- Casa comigo, Mário. Vamos aterrar em Lisboa e partamos imediatamente para minha
casa. Como noivos.
Mário ficou atónito. Nem sabia o que dizer. A cabeça andava à roda como um carrossel
da feira popular. Nunca recebera antes uma proposta para casar. Margarida antecipava-
se e ele não sabia como reagir.
- Bom… deixa-me respirar… este mundo realmente está perdido! Agora até as senhoras
pedem em casamento. Onde já se viu?!
Margarida riu-se. Tinha deixado Mário completamente desarmado. Parecia uma criança
que fora apanhada a roubar um doce.
- Não tens de responder já. Só quero que saibas que estou preparada para amar-te o resto
da minha vida, até ao fim dos séculos.
Mário dá-lhe um beijo salgado. Dos seus olhos rolavam grossas lágrimas de júbilo.
Cada uma delas representava um “sim” efectivo à proposta que Margarida lhe fizera.
Mas da sua boca, por enquanto, não conseguia sair qualquer sílaba ou vocábulo.
Margarida abraça-o, mas Mário imediatamente levanta-se da cadeira e desaparece no
longo corredor do avião.
Margarida fica baralhada:
- Mas que terei eu feito? Porque se levantou ele daqui?
Quando estava decidida a ir procurá-lo, uma hospedeira de bordo aproxima-se de
Margarida, oferecendo-lhe uma flûte de champanhe. E uma voz soa nos altifalantes do
avião:
- Atenção, Senhoras e Senhores. Daqui fala o vosso Comandante Ferreira. Tenho o
prazer de vos anunciar que o Sr. Mário Bragança está, a partir deste momento, para
sempre noivo da Sra. Margarida Dias pelo que diz “sim” ao pedido de casamento. Aos
noivos, peço uma salva de palmas.
Ouvidas estas palavras, Mário aparece junto de Margarida. Os dois, frente a frente,
começam a rir descontrolados pela cena típica de filme de escalão B que se acabara de
passar. Mas mais do que a situação, eram os nervos que tomavam agora conta deles.
Mário encheu o peito de ar, deu mais uns passos e estende a mão a Margarida. Esta
retribui fazendo o mesmo. Em poucos segundos, um anel magnífico de ouro e
diamantes circundava o dedo de Margarida.
- Espero, Margarida, que seja a ultima vez que me estragas uns planos. – diz Mário
rindo – Mas nem por isso estou menos feliz. Eu quero e muito casar contigo. Ser para
sempre teu e ter-te para sempre comigo. Que este anel simbolize todo o amor que
vivemos e havemos de viver juntos… e sim, aceito casar contigo.
Um beijo apaixonado dos amantes selou o compromisso. Uma saudação estridente dos
passageiros do avião deu inicio às festividades, que iriam durar até à data feliz de um
casamento afortunado.

Assim foi a viagem de amor de Margarida.


                                         FIM

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A viagem do amor bianca das neves

  • 1. A VIAGEM DO AMOR Da autoria de: BIANCA DAS NEVES 2005
  • 2. Capítulo I Margarida chega sozinha a casa, pela primeira vez. Desolada pela morte de seu pai, está agora só no seu vasto universo, que ela própria desconhecia. Acabara de herdar um extenso património empresarial e uma fortuna cujo número é difícil de calcular. Sente que tem o mundo às costas. Despe o casaco preto, coloca na aparelhagem um disco de Andrea Boccelli e serve-se de um copo de whisky. Cansada, triste e confusa, deita-se na chaise-longue da sala e de imediato as primeiras lágrimas rolam pela sua face pálida, como cacos de cristais espalhados em chão de mármore. Cerra os olhos numa tentativa vã de afastar a dor e a solidão no seu coração, que lhe pesa como uma rocha, que sangra como um pássaro ferido. Capitulo II Margarida havia tido uma infância feliz, embora demasiado protegida pelo seu pai que, num esforço de a isolar dos males da vida, a encerrara em casa como um rouxinol numa gaiola. O seu universo está agora confinado à residência onde ainda vive, uma bela moradia no Restelo, rodeada de jardins verdejantes, onde as flores coloridas parecem pedras preciosas e os pássaros cantam alegremente. No ponto mais alto desse jardim avista-se o Rio Tejo, como se de um espelho de prata se tratasse. A Torre de Belém, ao fundo, parece-se com um navio, imóvel, encalhado nas águas. A mãe morrera ao dar à luz Margarida. O pai, como promessa de a tentar salvar, em vão jurara fidelidade à mulher amada até ao fim dos seus dias. Por essa razão, não tornara a casar, embora não faltassem pretendentes, até ao último momento da sua existência. Margarida e o pai tornaram-se assim, ao longo dos anos, um só corpo, uma só voz. Ela foi crescendo, pensando que era uma princesa prisioneira na torre de um antigo castelo medieval, sonhando com o seu príncipe encantado, do qual nunca vira o rosto. Jamais se sentiu amada e todos aqueles que amou eram apenas fruto da sua imaginação, personagens tiradas dos romances que lera, ou dos filmes de amor que vira no cinema. Capitulo III O primeiro raio de sol iluminou-lhe o rosto e o seu despertar foi sereno, quase celestial, pois as aves cantavam no jardim sons harmoniosos, optimistas e que a pouco e pouco se foram tornando mais nítidos. Abriu os olhos devagar. Primeiro um, depois o outro. Tentou perceber onde se encontrava. Finalmente vê o grande quadro, retrato seu e do pai, que havia sido pintado por um famoso artista amigo da família. O retrato permanecia estático no tempo, no cimo da lareira. Não envelhecera como haviam envelhecido os que lá estavam retratados.
  • 3. Sentou-se num movimento lento na chaise-longue de veludo encarnado. Compôs os seus longos cabelos negros como a noite e, respirando fundo, levanta-se, dirigindo-se até à longa escadaria que dava acesso ao andar superior da casa. Desloca-se até à suite. Entra no quarto de banho e prepara uma banheira de imersão com água quente e nuvens de espuma perfumadas na esperança de, ao afundar-se nelas, seja levada a levitar para fora da sua realidade que se transformara, agora que o pai havia falecido. Margarida despe as roupas tristes que vestia e, nua como uma estátua grega de mármore fino, contempla-se ao espelho. É a primeira vez que se olha como mulher totalmente livre, como verdadeira dona de si própria, do seu espírito e do seu corpo. Acaricia a pele branca. Primeiro a cara, depois o pescoço. Quando começa a abraçar os seus peitos firmes como pomos verdes, fecha os olhos e imagina que um dos seus príncipes a enlaça. De imediato o seu corpo estremece e Margarida lança um gemido ávido. Lentamente, leva as mãos ao seu sexo e uma agitação de sentimentos toma conta de Margarida. Não percebe se o que faz é pecado ou algo natural, mas não consegue conter-se até que, extasiada, as suas pernas fraquejam e cai de prazer no tapete que embeleza o chão do seu quarto. Jamais sentira uma sensação como aquela. Deitada na banheira de espuma, confusa e espantada, começa a pensar que é tempo de ir à busca do amor que há muito lhe estava interdito. Agora é independente e poderá fazer o que entender e como entender. Uma alegria de criança invade Margarida. Sai de imediato da banheira e, ainda encharcada, dirige-se ao telefone. Faz uma chamada para as Docas do Porto de Lisboa, ordenando que lhe prepararem o iate que possuía. Iria viajar. Iria à procura do homem que a iria amar até ao fim da vida. Capitulo IV Estava um lindo dia de Primavera, um daqueles dias que apenas Lisboa conhece, quando Margarida entra no iate onde a tripulação, em fila, a espera para a saudar. A mesma é composta pelo Almirante que iria tripular o barco, dois marinheiros e uma camareira, que iria estar mais próxima de Margarida. O primeiro a falar, como lhe competia, era o Almirante Vicente: - Bom dia, D. Margarida. Seja bem-vinda a bordo. Sou o Almirante Vicente, encarregue de a levar a bom porto. O Almirante Vicente era um homem de pele escura, típica do homem habituado a domar o mar. O cabelo branco a lembrar salinas dava-lhe um brilho especial aos olhos azuis como o céu. O corpo de Vicente mais parecia um baluarte, percebendo-se as formas viris e másculas através da farda que envergava. - Muito prazer, Almirante Vicente. Está um dia estupendo para zarparmos, não está? – diz Margarida, sorridente e simpatizando de imediato com o Almirante. - De facto, minha Senhora. O mar está calmo e o tempo aprazível. Vai ser uma viagem serena. Mas deixe-me apresentar-lhe a restante tripulação. E assim Margarida conhece os dois marinheiros que com ela iriam viajar. O marujo Correia e o marujo Rodrigues. Eram dois belos jovens, de corpo robusto, embora mal saído da adolescência.
  • 4. Duas particularidades se destacam no marujo Correia: tinha uma cicatriz no queixo, ao jeito de Harrison Ford, o herói da saga Indiana Jones e uma tatuagem no pescoço, imperceptível, o que lhe dava uma aparência de arruaceiro. O marujo Rodrigues, por seu turno, tinha uma pele lisa como pêssego, quase imberbe. Uns olhos grandes cor de azeitona e pestanas longas como penas de pavão. Margarida cumprimenta, por fim, a camareira Soraia. Rapariga nova, corpo de sereia, esbelta e alta, de longos cabelos ruivos presos por dois ganchos, de forma a não lhe tapar o rosto. Nos lábios, um sorriso de menina. Estando já Margarida instalada no seu quarto de madeira clara, com uma cama de formato redondo ao fundo e uma grande mesa rodeada de cómodos sofás de pele à entrada, batem-lhe à porta: - Entre – grita Margarida. Era o Almirante Vicente: - Desculpe incomodar, D. Margarida. Está tudo pronto para começarmos a viagem. Resta-me apenas saber para onde vamos. A capitania do Porto de Lisboa não tinha esta informação… e sem ela, nada feito. Margarida lança uma gargalhada. - Cabeça a minha. Sem destino não se chega a lado nenhum, não é verdade? - Realmente – diz Vicente sorrindo. - Pois bem. Preciso mesmo é de gastar dinheiro. Conhecer pessoas, fazer compras e divertir-me. Esquecer este mês horrível que infelizmente vivi. – desabafa Margarida – Que lhe parece a Côte d’Azur? Cannes e Nice é tudo o que devo precisar. - Assim seja. Vou fazer os contactos necessários e saímos quanto antes. Uma óptima viagem e qualquer problema poderá falar-me. - Muito obrigado. Faço minhas as suas palavras. Quando o Almirante Vicente sai do quarto, Margarida lança-se para a cama e abraça uma das muitas almofadas forradas a seda que lhe adornam o leito. Sente-se cada vez mais livre. Sente-se cada vez mais feliz. Adormece. Capitulo V Quando Margarida acorda do seu sono encontrava-se já em alto mar. O cheiro da maresia invadia-lhe o quarto, fazendo-a encher o peito de ar. Um ar tão puro e leve como há muito não se lembrava de respirar. Num ápice, saiu da cama e pelo intercomunicador pede a Soraia que lhe leve o jantar ao convés com um Möet & Chandon gelado para fazer um brinde aos seus sonhos e ao seu contentamento. Vestida com o seu roupão de um delicado linho branco, o corpo de Margarida adivinha- se discretamente. Curvas harmoniosas, a brancura do tecido podia ser a da sua própria pele. Os seios mal cobertos parecem uma escultura de areia fina. É-lhe servido uma bela posta de salmão e ostras, iluminada apenas por uma lua cheia brilhante, como um tesouro de moedas de prata, e muitas velas. Margarida não se cansa de olhar as estrelas e adivinhar nelas o feitio das constelações. Ao ver uma estrela cadente, fecha os olhos e pede um desejo secreto e ousado. O leve balançar do barco no mar põe Margarida num estado de leveza que lhe desperta a imaginação e os sentidos. Sonha com piratas e sereias, lembra-se da Ilha dos Amores de Os Lusíadas, de Camões.
  • 5. Contudo, é posta de novo à realidade com a chegada, de mansinho, do marujo Correia. - Espero não vir incomodá-la, Senhora. Mas vi-a de longe, de olhos postos nas estrelas, e achei melhor vir ver se estava bem. - Estava a espiar-me, marujo Correia? - Não, minha Senhora. De modo algum… estava apenas… bom, não sei… vi-a e… - gaguejava atrapalhado o marujo Correia. Cruzando as suas longas pernas sedosas como pedras de beira rio, Margarida volta-se ligeiramente para Correia e interroga-o: - Não me acha suficientemente bonita para poder ser espiada? - Claro que sim, minha Senhora. Mas juro-lhe que não era o caso… eu só estava… - Não importa. Sente-se um pouco comigo. Faz-me companhia – convidou Margarida, com o coração prestes a sair-lhe do peito com o espanto da ousadia que estava a ter com o marujo. - Não sei, Senhora. Não sei se deva. O meu colega… o Almirante… - Quem manda no seu colega, no Almirante, neste barco, sou eu. Se lhe digo para sentar é para se sentar… se for esse o seu desejo, claro! – disse Margarida experimentando, pela primeira vez, o seu lado autoritário. O marinheiro puxou a cadeira e sentou-se a medo. Estava com umas calças brancas justas, mais largas ao fundo, uma t-shirt às riscas azuis e brancas que, estando colada ao peito, deixava adivinhar o corpo bem feito do marujo Correia. Na cabeça, um chapéu branco displicentemente atirado para o lado e uma madeixa de cabelo pendia-lhe sobre a testa. Era o pirata com quem Margarida havia sonhado. Durante uns breves momentos não trocaram palavras. Contemplavam o mar como quem o via pela primeira vez. Margarida então pergunta-lhe: - Essa cicatriz que tem no queixo, como a fez? Correia não respondeu logo. Suspirou, ajeitou o chapéu, lançou um olhar de lado a Margarida e respondeu: - Nos arraiais dos Santos Populares, há 3 anos. - Algum namorado ciumento? – perguntou Margarida - Antes um mancebo bêbado, que não parava de lançar piropos a uma jovem fadista que cantava à porta de uma taberna. – contou o marinheiro – Defendeu-se de mim dando-me com a navalha. - Era bela, a jovem? - Porque haveria de o ser? – replicou Correia - Se não fosse, não lutaria por ela. Nisto, Margarida observa o pescoço do marujo e repara, de novo, na tatuagem. Era um belo desenho de uma sereia de cabelos esvoaçantes, tocando uma guitarra. Em baixo, o nome Ariadne. - É ela? – perguntou - Quem? O quê? - A rapariga da tatuagem. – insistiu Margarida. - Sim… era. Era. – sublinhou Correia. - Que aconteceu? Porquê era e não é? - Destinos diferentes. Outros fados. Não importa. Assim que acaba de dizer estas palavras, o marinheiro levanta-se apressado e, de modo rude, sem nunca abrandar os passos, despede-se de Margarida. Esta, surpresa pela reacção, percebe que tocara numa ferida profunda do marinheiro. Ergue-se e corre atrás dele. - Espere – gritava Margarida – desculpe. E, agarrando já no braço do marujo, fá-lo virar-se para ela.
  • 6. Num instante irreflectido, os lábios de ambos transformaram-se num só. Eram beijos instintivos mas apetecidos desde o primeiro instante. Margarida passava ansiosamente as mãos pelas costas largas e robustas do marujo Correia, que respondia esmagando-a contra si, ao mesmo tempo que esta sentia o sexo dele crescer, aumentando assim o desejo de o ter dentro dela. Margarida liberta-se dele e corre para o quarto. O marinheiro, confuso, não sabe o que fazer. Ela, voltando-se, pergunta-lhe: - Vens ou preferes esperar pelo canto da sereia? Correia corre imediatamente ao encontro dela e assim que ambos entram no quarto Margarida é atirada para cima da cama, espalhando as almofadas pelo chão. Correia dirige-se a ela e de novo os dois amantes despertam um terramoto de beijos, ajoelhados por cima do colchão macio, resguardado por uma bonita colcha de cetim azul. Por longos momentos ficaram a admirar-se. Beijos atrás de beijos, carícias atrás de carícias. As línguas saborearam longamente os corpos. As mãos dos amantes percorreram cada recanto dos corpos ávidos de amor. Margarida despe, por fim, a t-shirt do marujo e afoga a sua boca no peito forte e bem desenhado deste. Com a língua circunda-lhe os mamilos, cravando-lhe as mãos nas costas, levando-o a soltar um gemido de prazer. Ao descer pelo corpo do marujo chega, finalmente, ao seu sexo erecto e firme como um tronco de árvore. Beija-o, primeiro delicadamente e suga-o, fervorosamente, depois. O marujo Correia agarra os cabelos de Margarida e, balanceando o corpo suavemente, marca o ritmo. O marinheiro, não aguentando mais de satisfação, deita-se por cima de Margarida, desejoso de provar o sabor da sua carne, de cheirar o perfume da sua pele. Beija e toca desenfreadamente os seios de Margarida até que, com o sexo forte e pujante, a penetra loucamente, levando os dois amantes ao êxtase, enquanto os corpos se movem um por cima do outro, como um veleiro navegando no mar. Margarida marca o compasso desta dança de prazer, agarrando e apertando as nádegas firmes e lisas do marinheiro, obrigando-o a ir mais fundo, levando-a a soltar gemidos loucos de prazer, numa luxúria desgovernada. Estando a fazer a ronda pelo iate, verificando se estava tudo em ordem, o marujo Rodrigues foi despertado pelo barulho que saía do quarto de Margarida. Curioso, resolveu espreitar pela janela. Lá dentro vislumbrava o corpo escultural de Correia ondulando sobre o de Margarida. Ficou atónito com o que via. De imediato começou a tocar, suavemente, o seu membro que parecia despertar. A cabeça e o corpo de Margarida contorcendo-se estavam a deixá-lo excitado. Ora mirava um, ora mirava outro. Sentia igual desejo pelos dois. Do Correia desejava a envergadura do corpo e de Margarida a pele e a sensualidade que possuía. Não se pôde conter. Despiu ali as calças e, sem tirar os olhos daquela cena lasciva, imaginando-se entre aqueles dois amantes, satisfez-se de imediato. Os orgasmos acontecerem em simultâneo, como se os três fossem um só corpo que se satisfazia, secreto, de prazer. Os gemidos de dentro do quarto abafaram os gemidos de Rodrigues. Capitulo VI
  • 7. Na manhã seguinte, ao despertar, Margarida procura o corpo quente de Correia, na ânsia de o acariciar, de procurar um primeiro carinho matinal. Mas era em vão. Ao seu lado, onde outrora houvera amor, apenas um espaço vazio, frio. Amor?... Margarida solta uma risada ao pensar em tal. - Terá sido amor? – pergunta em voz alta, como se esperasse uma resposta dos anjos. Nisto, ouve Soraia à porta do quarto. Vinha trazer-lhe o pequeno-almoço. - Bom dia, Soraia. Entre, entre. Como está o dia? – questiona Margarida. - Ameno, Senhora. Embora o sol se esteja a tornar forte. - Óptimo. O que se quer é bom tempo. – diz Margarida alegremente, enquanto se levanta da cama – Não te queres sentar? Vamos conversar um pouco, enquanto como este manjar que me trouxeste. - Era um prazer, Senhora. Mas tenho muito serviço a fazer que não se pode atrasar – diz Soraia, admirada pelo convite. - Anda. Deixa o serviço. Quero que te sentes. Não gosto de tomar as refeições sozinha – insistiu Margarida. Soraia senta-se, ajeitando a farda. - Como está a correr tudo aqui, no barco? Estás a dar-te bem? – pergunta de imediato Margarida. - Muito bem, Senhora. É a minha primeira vez, quer dizer, em barcos particulares. Soraia havia já servido em cruzeiros de longo curso. Mas cansara-se. As viagens eram longas demais, intermináveis, e fartara-se do constante assédio que os homens, tripulantes do navio ou viajantes, lhe faziam. - E dos dois marinheiros? Dás-te bem com eles? - Até agora não tivemos um único problema. Parecem-me muito correctos. O Rodrigues é muito espontâneo e engraçado. Já o Correia, enfim, fala pouco. Não me parece uma pessoa feliz – explica Soraia. - Atrai-te algum deles? – pergunta, maliciosamente, Margarida. Soraia corou e advertiu que não. - De modo algum, minha Senhora. Tenho o meu Vasco em terra e gosto muito dele. Estamos noivos e tudo. - Estava a meter-me contigo, Soraia. Muitos parabéns pelo noivado. Espero que tenhas toda a sorte que uma vida merece – desejou Margarida. O resto do tempo passaram-no a falar de frivolidades. Margarida não insistiu mais na conversa dos marujos, para não levantar suspeitas. Capitulo VII Os dois dias seguintes à noite luxuriante que tivera, Margarida passou-os sem ver o marujo Correia. De imediato percebe que este a estava a evitar e questiona-se se aquela fantástica noite teria sido um erro, se deveria ou não ter acontecido. Por muito grande que o iate fosse, ele não conseguiria esconder-se para sempre. Margarida estava preocupada com ele. Não o queria assustar e muito menos fazê-lo sofrer. Tinha de o encontrar para puderem conversar como dois adultos. Vai então à sua procura. Enquanto percorria o amplo barco esbarra-se com o Almirante Vicente. Já nem se lembrava dele e uma sensação de remorso infantil percorreu-lhe a mente. De certo que o Almirante Vicente pensava que Margarida era muito mal-educada, uma vez que ainda
  • 8. não o havia convidado a tomar uma refeição com ela, pelo menos para conversarem. Era o mínimo que a dona de um iate poderia fazer ao homem que estava encarregue de comandar o barco. - Almirante Vicente. Que surpresa. Como está? - Muito bem, e a Senhora? - Muito feliz por esta viagem tão calma. Espero que não esteja a sentir falta de nada – diz Margarida. - Claro que não. Quer dizer… apenas de uma coisa – refere o Almirante Vicente, com um grande sorriso nos lábios. - De quê? Diga-me já que providencio de imediato o que lhe falta. - A sua companhia. É disso que sinto falta… da sua companhia. Margarida fica sem palavras e muito atrapalhada. - Oh! Almirante Vicente. Mas isso resolve-se já com um almoço. Que lhe parece? Hoje? - Com certeza. Pode ser às 13 horas? - Às 13 horas está óptimo. Até já. Afastam-se um do outro. Margarida envergonhada pela cena que se passara e o Almirante Vicente radiante por, finalmente, ir desfrutar da sua companhia. Margarida dirige-se então ao quarto dos marinheiros a fim de se encontrar com o marujo Correia. Bate à porta e de imediato quem lhe atende é o marujo Rodrigues, de calções brancos e tronco nu. O rosto era parecido ao de Tadzio, o belo rapaz do filme Morte em Veneza, de Visconti. Margarida contempla por breves momentos o corpo do marinheiro. A pele lisa de um branco angelical, uns braços fortes embora transparecessem ternura. Imagina como seria ser envolvida por aquele jovem. É desperta para a realidade quando Rodrigues lhe pergunta: - Deseja alguma, minha Senhora? Há algum problema? - Não… não… está tudo bem. Vinha saber do marujo Correia. Já não o vejo… - Há dois dias, não é verdade, minha Senhora? – diz o marinheiro, saindo-lhe estas palavras da boca de forma impensada. Logo fica atrapalhado e tenta desfazer-se do erro. - Julgo eu, claro. - Do que é que você sabe? Por que diz há dois dias? – inquiriu Margarida, furiosa. - Do que está falar, minha Senhora? Saber de quê? Há alguma coisa a saber? Apenas calculei que não o vê há dois dias pois andamos embarcados apenas há três. - E daí? - Daí que o terá visto no primeiro dia, quando chegou ao iate. E ninguém se preocupa com uma pessoa se não o vê durante um dia. Mas se não o vê durante o segundo dia, aí sim, já se pode começar a ficar preocupado. Percebe, minha Senhora? Foi por dedução, nada mais. – tentou safar-se o marujo Rodrigues. - Hum… muito bem. Realmente não o vejo desde o dia em que embarquei. Mas não respondeu à minha pergunta. Sabe ou não sabe onde está o marujo Correia? Sabe se ele está bem? – insistiu, arrogante, Margarida. - Não sei onde ele está, minha Senhora. Talvez ajudando o meu Almirante, no leme. Mas se precisar de alguma coisa, estou certo que poderei fazer as mesmas coisas que ele. - Não preciso de nada seu. O meu assunto é com ele e não consigo. – refere Margarida, irritada com a insolência do marujo Rodrigues. Antes de voltar costa e se dirigir para o quarto, a fim de se arranjar para o almoço com o Almirante Vicente, ordena ao marinheiro:
  • 9. - Quando estiver com o marujo Correia diga-lhe que o procurei e que preciso que venha ter comigo. Com urgência. Logo, de imediato. Entendeu? - Fique descansada, minha Senhora. Assim o farei – responde Rodrigues, com um sorriso matreiro. Capitulo VIII O almoço com o Almirante Vicente decorreu de uma forma calma. Falaram da arte de navegar os mares, dos perigos, lendas e mitos que cercam esse mundo ainda pouco conhecido, apesar das extraordinárias inovações da ciência e da tecnologia. Vicente diz a Margarida que no dia seguinte deverão estar já na Côte D’Azur, mais precisamente em Cannes. - Ah, mal posso esperar por ancorar lá. É um sitio encantador. Conheço-o como as palmas da minha mão. As ruas, as praias, as lojas, os melhores restaurantes. Tudo. É um paraíso na terra. – diz Margarida, cheia de satisfação. - Conheço mal. Quando se vai em trabalho apenas pensamos no barco, se está tudo em ordem para a viagem de regresso. – refere o Almirante Vicente – Quem sabe se não me faz uma visita guiada a esse “paraíso na terra”, como diz. Margarida ficara com a sensação que o Almirante a tentava seduzir. Não poucas vezes arriscava a tocar-lhe na mão, mas Margarida recuava sempre. E o olhar dele não a enganava. No entanto, a cabeça de Margarida estava com o marujo Correia. Não conseguia esquecer aquela pele trigueira, o seu cheiro a sal, o sabor dos longos e quentes beijos que trocaram. E os braços fortes mas carinhosos, aqueles braços que a faziam sentir segura e distante das feridas da vida. Só queria estar com ele, ambos despidos, na sua cama, como Adão e Eva a desafiar as leis do Éden. Ansiava poder repetir a noite que tivera com ele. Quando era já noite alta e apenas a lua e as estrelas eram companheiras de Margarida, aparece, finalmente, o marujo Correia. - Soube que esteve à minha procura. - Sim, estive. Onde te meteste? Fiquei preocupada. – disse Margarida, abraçando-o. Ele, porém, permaneceu imóvel, mais duro e hirto que uma viga de aço. - O que é que se passou? Porque me estás a evitar? – perguntava, ansiosamente, Margarida. - Porque foi um erro… aquela noite foi um erro – disse o marinheiro, pensativo, fixando o mar. - Um erro? Dizes que foi um erro? Eu dei-me a ti como a ninguém! Não podes negar que houve entre nós uma química muito forte, uma explosão de sentimentos que não soubemos controlar! – dizia Margarida, revoltada com as afirmações de Correia. - Não nego nada disso. Mas não nego também o meu coração e o que ele contém dentro dele. O meu coração está prisioneiro. Não se consegue soltar. - Da fadista? É de Ariadne que falas? – grita Margarida, voltando com força a cara do marinheiro de forma a que a tatuagem que lhe está impressa no pescoço fique voltada para ela. - Sim. É da fadista. É da Ariadne… e do destino. - Mas não me disseste que não havia mais nada entre vocês? Que conversa é essa? O que me estás a querer dizer?
  • 10. - Ela já não tem nada comigo. Está longe. Fora do nosso país. Agora eu, minha Senhora, eu sim, continuo com ela. O meu coração está com ela e a minha pele tem a sua marca. – diz o marujo Correia, deixando Margarida boquiaberta com tudo aquilo. - Quer dizer que a nossa noite de amor não significou nada para ti? – pergunta, desesperada, Margarida. - Significou sim, minha Senhora. A certeza de que ainda amo Ariadne. Não nego que me deixei levar pelo prazer e que muito me arrependo disso. Não queria que tudo aquilo tivesse acontecido. Mas uma vez que ocorreu, só me resta arrepender-me e não voltar a fazer o mesmo. Margarida não quis ouvir mais nada. Volta costas e vai refugiar-se no seu quarto. Primeiro em passos lentos, mas rapidamente começa a correr movida pelas lágrimas que, incontroláveis, saíam dos seus olhos. Quanto ao marujo Correia, foi incapaz de reagir. Ficou a vê-la a desaparecer, estéril de reacções ou de palavras. Só queria lançar-se ao mar e nadar para longe daquele barco. Margarida tranca a porta do quarto a sete chaves e, num ataque de fúria ingovernável, começa a deitar ao chão tudo aquilo que se encontrava nas prateleiras do seu aposento. Livros, pequenas estatuetas de cerâmica, molduras com fotografias suas e do seu querido pai. Tudo numa tentativa de exorcizar a dor que sentia, a frustração de se sentir usada. Num choro soluçado só uma pergunta lhe invade repetidamente o espírito: – Porquê? Mas porquê? Quando finalmente se acalma, senta-se diante do espelho. Enxuga as lágrimas, penteia delicadamente os cabelos. Coloca um bâton e um pouco de blush. Olha para a sua imagem reflectida no espelho e, mirando-a nos olhos, diz, tentando convencer-se: - Esquece. Não era homem para ti. Precisas de mais e melhor. Amanhã será um novo dia e estarás na Côte d’Azur, centro do que de melhor há no mundo. Capitulo IX Estava já perto da hora de almoço quando faltava pouco para o iate de Margarida aportar na Marina de Cannes. Estava radiante com o seu reencontro com aquela região privilegiada do Sul de França. Via já a longa extensão de praias e o belíssimo edifício do Hotel Carlton, onde iria ficar hospedada. De imediato, berra por Soraia para que reúna todo o pessoal do barco, a fim de transportarem as suas bagagens para o carro e para se despedir de todos eles, pois o regresso a casa, Margarida iria fazê-lo de avião. Quando finalmente atracaram, estava já um Mercedes prateado à espera de Margarida, enviado pela gerência do Hotel. Enquanto as malas de viagem iam sendo trazidas para terra, ela despede-se da tripulação. Abraça fortemente Soraia, desejando-lhe, mais uma vez, felicidades para o seu noivado. Cumprimenta secamente o marujo Rodrigues e, com o coração estilhaçado, dá um beijo leve na face de Correia, que lhe retribui com um sentido e carinhoso abraço. Ao ouvido sussurra-lhe: - Obrigado por tudo e desculpe se a magoei. Jamais esquecerei tudo o que houve. Instantaneamente, ao ouvir tais palavras, uma lágrima grossa rola dos olhos de Margarida que Correia seca com um beijo. Iria ser o último beijo trocado entre ambos. Jamais se voltarão a ver.
  • 11. Com o Almirante Vicente foi mais cerimoniosa. Afinal, era a pessoa mais velha do grupo e o homem que havia conduzido o iate até ali. - Muito obrigado, Almirante Vicente. A viagem não podia ter sido mais agradável. Não sei como lhe poderei agradecer. - Muito fácil. Telefone-me quando chegar a Lisboa. Quem sabe se não podemos combinar um almoço ou mesmo um jantar. Fico à espera. Combinado? Margarida nada disse. Desceu as escadas e entrou no automóvel que prontamente arrancou. Ela foi acenando numa última despedida. Mas os seus olhos não deixavam de fixar o marujo Correia. Este, cabisbaixo, acenou-lhe timidamente. Margarida fecha o vidro esfumado do carro e arranjando o cabelo, suspira fundo pensando: - É o nosso fim. Agora, tenho de pensar no futuro. E uma paz interior inunda o espírito de Margarida. Uma nova fase da sua vida iria agora começar. Capitulo X O chauffer deixou Margarida no esplêndido e luxuoso Hotel Carlton. O Hotel fica situado na famosa Boulevard de La Croisette, a pouco menos de 800 metros do Palácio dos Festivais onde, anualmente, acontece o prestigiado Festival de Cinema de Cannes. Margarida nem queria crer que estava ali. Assim que entra no Hotel pela porta principal cercada de colunas marmóreas, encimada por um belo relógio, os olhos de Margarida são levados a admirar um luxo e uma opulência raros. No sumptuoso hall do Hotel caminha-se sobre um chão de mármore polido aos losangos brancos delimitados a castanho, acompanhado por duas filas de imponentes colunas que nos levam até ao deslumbrante tecto branco, adornado com dezenas de grandes candeeiros. O efeito de luz é surpreendente. Margarida havia entrado num mundo de fantasia e sonho. Escolhera para seu quarto uma suite num andar elevado, para assim poder desfrutar da magnífica vista sobre o mar e a praia. Já se imaginava com uma flûte de champanhe e um belo pôr-do-sol no horizonte. O aposento era requintado e com todas as comodidades e compunha-se de quatro divisões. Uma sala, o quarto propriamente dito, um quarto de vestir e uma casa de banho monumental. Na sala, um bonito tapete de motivos vegetais cobria praticamente toda a área. O papel de parede claro e os sofás cor de creme transmitiam uma sensação de leveza e de bem- estar. No tecto, um lustre de cristal iluminava a pontos azuis e amarelos, reflexos da luz passando pelas contas cristalinas, toda a divisão. Parecia que tinha toda a constelação do céu dentro da sala. Um mini-bar, com uma excelente garrafeira, era um convite a um belo serão com os amigos ou, e melhor ainda, com o homem que queria encontrar e amar. O quarto, de dimensões generosas, acompanhava a sala em matéria de decoração. Linhas puras, materiais nobres, harmonia de cores, tudo evocando um clima de sensualidade e glamour, despertando a imaginação de Margarida. Lembrava-se dos filmes antigos que via e das actrizes que admirava. Sentia-se uma delas. O quarto tinha uma cama grandiosa de mogno com uma coberta magnífica, de uma bela seda castanha clara, com motivos geométricos. Em frente do leito, um belo coxim com assento forrado também a seda clara. Junto das janelas que dão vista para o mar, duas
  • 12. senhorinhas e uma pequena mesa de apoio são o chamamento ideal para um chá calmo com o livro ideal de uma vida. Margarida puxa os reposteiros e um sol intenso iluminou-lhe a face. Ela sorri, abre as portas e, já na varanda, grita: - Estou feliz! Estou feliz! Ao fundo, na marina, soa alto uma sirene de um navio de luxo, parecendo que lhe respondia, que lhe saudava. Capitulo XI Margarida resolve ficar a descansar no primeiro dia em que se acomoda no Hotel. Depois de dormir algumas horas naquela cama que mais parecia digna de uma rainha do que para uma hóspede de um hotel, resolve começar a arrumar as suas coisas, tomando, em seguida, um banho relaxante na banheira de hidromassagem do seu quarto e pasma longas horas frente ao azul do mar que avista da varanda. Manda vir através do serviço de quarto um lanche composto por frutas de várias qualidades e uma garrafa de champanhe para ir degustando ao longo da tarde. Antes da hora do jantar marca uma ida ao cabeleireiro do Hotel para cuidar do seu cabelo e fazer uma limpeza de pele. Mas tudo isso só após uma longa e revigorante sessão de banho Vichy acompanhada de uma boa massagem Shiatsu. Margarida pretende sentir-se tão bela por fora com se sente por dentro. O resultado foi espantoso. Quando se olha no espelho do quarto fica admirada com o que vê. Uma linda mulher estava ali à sua frente, produzida para espantar tanto o homem mais distraído como o mais exigente. Sentia-se uma autêntica femme fatale. Vai até ao quarto de vestir e escolhe um vestido novo que ainda não tivera ocasião de estrear. Era um espantoso vestido comprido, estilo Império, de seda cor de ouro velho com alguma pedraria nas alças. O rosto era emoldurado por um par de brincos com pingentes que tombavam sobre os seus ombros descobertos. Margarida estava deslumbrante quando desce até ao Restaurant La Côte, o restaurante principal do Hotel. É uma sala arredondada, de mesas cilíndricas e cadeiras de veludo azul. Uma excelente combinação com o mar e o céu que das enormes janelas se podem admirar. No tecto, uma imensa cúpula iluminada em vidro abrilhanta o espaço. O ambiente que se vivia era calmo. Um músico toca suavemente uma melodia ao piano. Na atmosfera misturam-se diversos idiomas e diferentes risos, e um aroma a perfume envolve o lugar, inebriando os sentidos. Margarida desloca-se pairando pela carpete fofa e cómoda quando, de repente, ouve chamar o seu nome: - Margarida! Margarida! Surpresa, volta a cabeça tentando perceber quem a chama. Uma mão acena-lhe e um rosto sorridente aproxima-se: - Margarida? És a Margarida, não és? Estou a reconhecer-te. - Sim, sou Margarida, de facto. Mas você… é? - Não te recordas de mim? Pois claro que não. Como podias. Naquela altura sabias lá tu quem eu era. - Naquela altura? Qual altura? - Sou o Mário Bragança, do Colégio onde andámos. - Mário? – diz Margarida, confusa.
  • 13. - Sim. Eu era o patinho feio do Colégio. Lembras-te de um rapaz cheio de borbulhas, de óculos de massa castanho e que andava sempre a chatear-te e a mandar-te papelinhos nos recreios? Andava um ano abaixo do teu e tinha aulas em frente à tua sala. - Mário?! Aquele fedelho insuportável que andava sempre atrás de mim e das minhas colegas? Esse Mário? – dizia Margarida, rindo-se. - Esse Mário, Margarida. – respondeu-lhe corando, mas rindo. Mário era agora um homem feito e muito bem parecido. Não seria propriamente um metrossexual mas o cuidado com a aparência era evidente. Tinha cabelos castanhos claros, deixando antever uns quantos já esbranquiçados que lhe aumentavam o charme. Uns bonitos olhos verdes, expressivos, e um rosto bem masculino, com lábios grossos, daqueles que estão sempre a pedir um beijo. Pelo corpo percebia-se que devia passar largas horas a praticar desporto no ginásio. A camisa que trazia vestida deixava adivinhar o peito musculado e as costas largas. Parecia um antigo gladiador romano ou um jogador olímpico da Grécia Antiga. Depois da primeira troca de abraços e de beijos, Mário pergunta a Margarida se está sozinha e se não quer juntar-se a ele na mesa do restaurante para jantarem os dois e conversarem. Margarida diz-lhe que está só e aceita atenciosamente o convite. Já sentados à mesa a conversa reinicia-se: - Mas diz-me Margarida, o que fazes aqui por Cannes? - Nada de especial. Precisei sair de Lisboa. Pôr a cabeça em ordem, descansar, recuperar energias e, acima de tudo, conhecer caras novas. Bom, acho que devia ter pensado também em reencontrar caras antigas. – diz Margarida, rindo-se do que acabara de dizer – Então e tu? Que fazes por aqui? Deixa-me adivinhar… férias com a mulher e os filhos? - Nada disso. Vim cá por causa de um Congresso de Medicina que terminou anteontem e resolvi, em boa hora pelo que vejo, estender a minha estadia aqui por mais uns tempos. Para descansar e também para pôr a cabeça em ordem. - Mas és médico, é? - Sim. Sou cirurgião plástico. Conseguias alguma vez adivinhar? – pergunta Mário com entoação trocista. - Não, de modo algum. Não te imaginava nada a aumentar peitos de mulheres ou a desengordurá-las do seu interior através de lipoaspirações. Riram-se os dois muito do que Margarida acabara de dizer. O ambiente à mesa era descontraído e os dois estavam muito felizes por se tornarem a encontrar depois de tantos anos passados. Cada um falou da sua vida. Mário contou que possuía duas clínicas de cirurgia plástica, uma em Portugal e outra no Brasil e referiu quais os projectos futuros a nível profissional que tinha em mente. E se este aspecto da sua vida parecia correr melhor que nunca, a nível pessoal a vida de Mário era triste, com episódios que o marcaram muito profundamente. Tinha perdido, para sempre, a mulher e o filho. A mulher de Mário, Jessica, nunca fora uma boa esposa. Havia cometido várias infidelidades, por vezes com amigos bem próximos do marido. No entanto, Mário aguentava e desculpava todas as traições da mulher por amor ao filho, nascido um ano após o casamento, não negando a Margarida que, cada vez que era traído, sentia uma dor tão forte que parecia que lhe espetavam uma seta bem afiada directamente no coração. Tudo terminou numa noite em que Jessica resolveu ir com o filho para casa do amante, aproveitando uma semana em que Mário estava ausente no Brasil. Após alguns excessos
  • 14. de álcool e algum sexo, Jessica acaba por discutir com o amante. Transtornada, coloca o filho no carro e parte desnorteada para casa. Foram encontrados na manhã seguinte, já sem vida, despistados algures na estrada de Sintra. Margarida fica horrorizada perante a história que Mário acaba de narrar… e chora. Perante o sofrimento genuíno daquele homem, não conseguia dizer palavra alguma para o confortar. Percebe que os seus problemas, ao pé dos dele, não são nada. Pega-lhe delicadamente na mão e leva-a à boca para a beijar, na esperança de que do beijo saíssem palavras. Mas Mário insiste. - Então e a tua vida Margarida? O que fazes, com quem estás? - Fazer, não faço nada. E também não estou com ninguém. A minha vida não teve, até à data, grande interesse. - Não digas isso. Não acredito nada. - Verdade. Estive sempre presa ao meu pai. Tínhamos uma relação algo obsessiva. Ele tentou sempre proteger-me, não me dando grande liberdade para agir ou até mesmo para pensar. Morreu há muito pouco tempo, deixando-me neste mundo sozinha, quase sem amigos. E por culpa dele, percebes? - Claro que sim. Eras o bem mais precioso dele e quis salvaguardar-te. É compreensível. Mas porquê Cannes, então? – pergunta Mário. - Resolvi empreender esta viagem para descansar e perceber o que iria fazer da minha vida. Acabei de herdar uma fortuna em bens e dinheiro. Tenho que saber o que vou fazer. Se fico com as empresas, se vendo as quotas, se fico em Portugal. Eu não sei. Ando um pouco perdida. – desabafa Margarida. - E de amores? - De amores, nada. Qualquer homem que se tentava aproximar de mim, o meu pai arranjava maneira de o afastar. Havia sempre qualquer coisa que ele não gostava e era o suficiente para me fazer a vida negra… e a ele também. Nunca conseguiu perceber que eu havia crescido e que me tornara mulher. - Quem sabe se não é aqui que descobres o amor. Estás na terra perfeita para isso. – brinca Mário, rindo-se e fazendo sorrir Margarida. - É… Quem sabe? Capitulo XII Margarida chega à sua suite satisfeitíssima com a noite que acabara de ter. Sentia-se bem em ter reatado uma ligação com o seu passado tão longínquo. Era uma forma de pensar em si mesma e de como as coisas mudam, como uns desaparecem para, anos depois, se voltarem a encontrar, já crescidos e transformados. Talvez fosse o destino. E o Mário estava completamente diferente daquilo que era. Cresceu e tornara-se um homem extremamente interessante. Mal podia esperar pelo dia de amanhã. Haviam combinado encontrarem-se de manhã, ao pequeno-almoço, para depois darem um passeio pelas ruas de Cannes. Margarida adormece com as janelas do quarto abertas e uma brisa marítima invade-lhe o espaço. Ao fundo, o som monótono e relaxante das ondas do mar. Dorme profundamente até ao nascer do novo dia. Pelas nove horas da manhã os dois amigos reencontrados encontram-se no Restaurante da Praia, pertencente ao Hotel. Tomam um luxuoso pequeno-almoço com o mar como papel de parede. O tempo estava ameno, com um sol a adivinhar um dia lindo e um céu azul a lembrar o de Portugal.
  • 15. Ambos estavam muito bem dispostos e com uma enorme expectativa em relação ao dia que iriam passar juntos. Mário propõe que comecem por visitar o Musée de La Castre e depois o Musée de l’Enfance. O primeiro trata-se de um museu instalado no antigo Castelo de Cannes, do século XI. É um imponente castelo de altas torres circulares e de grandes muralhas defensivas. Margarida fica maravilhada com o que vê e lembra-se do seu castelo imaginário onde ela se julgava prisioneira, esperando pelo seu Príncipe salvador. Dentro do Castelo visitam ainda a Capela de Santa Ana, do século XII, onde estão expostos mais de duzentos espantosos instrumentos musicais de todo o mundo. Já o Musée de l’Enfance, próximo da grande Praça 18 de Junho, Margarida lembrava-se dele. Já o havia visitado com o pai. É o local ideal para fazer soltar os sonhos de rapazes e raparigas. Lá estão expostos mais de 150 anos de brinquedos e móveis em miniatura, estando presente uma reconstituição quase exacta da vida quotidiana da segunda metade do século XIX, através de lindas casinhas de bonecas. - Que museu mais mimoso, Mário. Uma maravilha. Fez-me recordar as histórias que a minha avó contava, de quando era criança. – diz Margarida, feliz como uma adolescente. - Realmente são brinquedos espantosos. Nada como hoje. Os brinquedos actualmente são feios e agressivos. Mas sabes, tudo isto deu-me fome. E se fossemos a uma geladaria que conheço que tem umas taças de gelados como nunca vi. Acho que era um bom almoço, não achas? - Hum… se acho. Eu adoro gelados. Estou contigo nessa ideia. Foram então até à famosa geladaria Vilfeu Père e Filhos – Mestres em Gelados, a mais antiga de Cannes, na Rua dos Estados Unidos. Margarida fica extasiada frente à vitrina dos gelados. Milhares de cores adivinhavam sabores diferentes e exóticos. Parecia que estava perante uma paleta de cores de um pintor gigante. Mário pediu uma grande taça de gelados de fruta, enquanto que Margarida escolheu um crepe de gelado de frutos secos. Para acompanhar, uma garrafa de champanhe francês. Brindavam a uma amizade renascida, a um encontro feliz de duas pessoas que se encontravam só. O resto da tarde foi passado a passearem nos parques de Cannes. Visitaram o Jardim das Oliveiras e o Square du 8 Mai 1945. As árvores e as flores deixavam um perfume deslumbrante nos caminhos por onde passavam e o canto dos pássaros criava um ambiente de romantismo e de tranquilidade. Por várias vezes descansaram nos bancos de jardim, conversando sobre os vários interesses de cada um. Música, arte, projectos, ambições, frustrações. Sentiam-se cada vez mais próximos um do outro. As primeiras inibições haviam passado e tratavam-se já como se jamais se tivessem deixado de falar, como se a vida não os tivesse separado nunca. Passavam já das seis horas da tarde quando voltaram ao Hotel. Margarida estava cansada e só pensava num banho relaxante e numa pequena sesta para restabelecer forças. No entanto, haviam combinado jantar juntos. Mário iria levá-la ao restaurante La Palme d’Or, no Hotel Martinez, próximo do local onde ambos estavam hospedados. Tinha que estar de arrasar para esse encontro. Margarida nem quis acreditar quando entra na sua suite. Um sem número de Margaridas brancas e amarelas adornavam o seu espaço. Centenas, milhares de Margaridas. Não havia um único espaço vazio que não tivesse uma Margarida. Por cima da cama, um
  • 16. manto de pétalas cobriam o leito e no centro, um envelope. Margarida abre o envelope e lê o cartão que estava no seu interior: “Estas Margaridas que te envio não são para contemplação tua, mas antes que sejam elas a admirarem e a conhecerem a mais Bela da sua espécie – TU.” Margarida beija o cartão e atira-se para cima da cama, tentando abraçar todas aquelas pétalas de flor mandadas por Mário. Uma alegria crescente e infantil invade-lhe o coração, sentindo-se a mulher mais especial à face da terra. Estava, sem dúvida, a apaixonar-se. Mas seria possível? Em tão pouco tempo? Não queria racionalizar nem colocar entraves. Muito menos criar falsas ilusões. Lembrava-se ainda do marujo Correia e daquilo que tinha acontecido. Agora iria em frente, espontânea como sempre tinha sido até então com Mário, mas mais prudente. Capitulo XIII Após descansar no meio de todas aquelas flores e de ter tomado um banho calmante, Margarida arranjou-se e o resultado foi espantoso. Um formidável tailleur preto. O casaco, de oito botões em duas filas de quatro e uma saia ajustada, direita, pelo joelho. Uma camisa com um vistoso laço branco e um folho a sair das mangas semi-longas do casaco davam um toque clássico ao conjunto. Na cintura, um cinto discreto caía pendurado. Como alfinete de peito, uma enorme camélia com pérolas e nas mãos, umas luvas pretas sem dedos. Nos pés, uns esbeltos sapatos altos de desenho italiano e nas pernas, uns collants opacos brancos. Como jóia, apenas uns brincos simples de diamantes, herdados da mãe. Margarida sentia-se cheia de confiança e de amor-próprio. Aquela noite, pressentia, podia ser decisiva para algo que nem ela própria sabia. Mas ia esperançosa de que algo de muito bom iria acontecer. À hora combinada, Margarida encontrou-se com Mário no bar do Hotel. Ele estava extremamente ansioso e nervoso, de tal forma que havia já bebido dois whiskys e teria pedido um terceiro se Margarida, entretanto, não tivesse chegado. Mas ela ficou algum tempo a olhá-lo de longe. Estava extremamente bonito e elegante. Envergava um belo fato preto e uma camisa branca cuja gola saía por cima da fina lapela acetinada do casaco. Na cintura, um belo cinto também preto. Parecia um top- model acabado de sair de um desfile Armani. A barba estava primorosamente bem feita. O cabelo penteado para trás dava-lhe um certo ar de toureiro ou, pelo menos, de um verdadeiro homem latino. Margarida respirou fundo e apressou-se a ir ter com ele: - Olá Mário. Espero não me ter atrasado. Mário vira-se automaticamente e, ao vê-la, fica sem fala. - Então!!! Não dizes nada? - pergunta Margarida, ao vê-lo boquiaberto olhando para ela. - Desculpa… mas… fiquei sem palavras. Estás linda, Margarida. Sinto que vou ser o homem mais odiado de toda a Cannes, ou melhor, de toda a Côte d’Azur. - Que disparate! Estou normalíssima! Exagero teu. – diz Margarida, numa falsa modéstia – Mas primeiro quero agradecer-te todas aquelas flores no meu quarto. Foi a surpresa mais bonita que alguma vez me fizeram. Obrigada. E, imediatamente, Margarida beija Mário, quase tocando o canto da boca. Mário ficou atrapalhado, e agradeceu. Era a maneira que tinha encontrado para lhe dizer o quanto este reencontro o fazia feliz.
  • 17. Dirigiram-se então para o restaurante. Quando lá chegaram tinham uma mesa reservada bem ao pé da janela com vista para o mar, onde as luzes da cidade se reflectiam criando belas constelações de novas estrelas na água. O restaurante não podia ter mais charme do que aquele que possuía. Decorado em estilo art deco, todo o restaurante é inteiramente dedicado à magia da sétima arte. Nas paredes, retratos originais das grandes figuras do cinema embelezam e dão um toque fascinante ao espaço. Os materiais mais nobres foram usados no mobiliário e o chão, em madeira escura, tem no centro uma enorme carpete azul com Palmas de Ouro, honrando os prémios de cinema que anualmente são entregues naquela localidade. Pequenas estatuetas de bronze repousam sobre o centro das mesas e no tecto, espelhos e dourados reforçam o ambiente. Ambos escolheram o menu “Palma de Ouro”, composto por várias entradas, um prato de peixe e outro de carne, soberbamente cozinhados, sobremesas e vinho. Tudo confeccionado no maior requinte com o intuito de se degustar lentamente, fazendo despertar os cinco sentidos. Ali, nada é deixado ao acaso. Desde a louça onde são servidos os manjares, passando pelos copos e pela própria disposição dos alimentos no prato, tudo é pensado em favor do requinte. A noite decorreu serena. Parte do tempo foi passado com as mãos dadas por cima da mesa e os olhos de um fixados nos do outro. Era a primeira noite verdadeiramente romântica que Margarida conhecera. A música do piano tocada baixinho, a luz das velas tremelicando à dança da brisa que vinha do mar, o suave tilintar dos talheres nos pratos, os sorrisos enamorados. O peito enchia-se de uma alegria que lhe era nova e os olhos, esses, transmitiam uma luz verdadeiramente espantosa. Mário era um homem realmente bondoso, com um apurado sentido de humor e muito inteligente. Possuía já uma experiência de vida intensa, por vezes muito difícil e magoada. Margarida, uma mulher generosa, fora do seu tempo e sonhadora. Uma união de afecto estava consolidada. Capitulo XIV O caminho até ao Hotel foi feito pela praia. Ambos tiraram os sapatos e passearam lentamente junto ao mar olhando a lua prateada reflectida na água, de mãos dadas. Nessa altura imperou o silêncio, como se tivessem medo de dizer alguma coisa que pudesse deitar por terra o maravilhoso jantar que haviam tido. Mas a verdade é que estavam os dois nervosos sobre o que iriam fazer ou dizer quando chegassem ao Hotel. Mário tinha medo de ofender Margarida, convidando-a a subir até ao seu quarto. E Margarida rezava para que tal acontecesse, embora se sentisse nervosa. Enquanto continuavam com as mãos entrecruzadas e a andar na areia, começam a ouvir uma orquestra a tocar os primeiros acordes da música Summertime, de Gershwin. Não percebem de onde ela vem, mas o cenário e a música tornam o momento perfeito, quase idílico. - A Senhorita concede-me a honra desta dança? – diz Mário para Margarida, oferecendo-lha a mão. Margarida ri-se, mas não declina: - Com certeza, Cavalheiro. Um prazer. Os corpos abraçam-se e movem-se suavemente ao som da música e da aragem que corre à beira-mar.
  • 18. Mário, embalado pela melodia, pelo luar e pela paixão sempre crescente, beija suavemente os lábios de Margarida. Margarida retribui, carinhosamente, com um beijo mais longo e o coração prestes a sair- lhe do peito. A dança termina com um forte e longo abraço, e outro beijo. De novo em silêncio, caminham até ao Hotel. Quando os olhares se cruzam, imediatamente um sorriso aflora aos lábios. Estavam ambos a transbordar de alegria e de ansiedade. Chegados finalmente ao hall do Hotel, ficam um pouco atrapalhados sem saberem o que dizer. Margarida deu o mote: - Foi uma noite fantástica. O jantar, o passeio, a dança… os beijos. - Foi a noite mais especial da minha vida, Margarida. - Bom… eu… - Porque não subimos até ao meu quarto. Podíamos fazer um brinde a esta noite. Mandávamos vir uma garrafa de champanhe e algum caviar pelo serviço de quarto. Que me dizes? – pergunta Mário, receando a resposta. - Acho uma excelente ideia. Penso que esta noite merece realmente ser brindada. No elevador, não largaram as mãos nem deixaram de se olhar fixamente um para o outro. Mário estava instalado numa suite da penthouse, baptizada com o nome de Suite Sean Connery, o herói de James Bond ou o inesquecível monge-detective de O Nome da Rosa. Era um aposento imponente. Compunha-se de duas salas de grandes dimensões, fechadas por portas de correr, podendo-se transformar em um só salão. A decoração era de uma enorme sobriedade e bom-gosto, com requinte e elegância. Dois enormes sofás com almofadas em tom pastel, um belíssimo tapete persa servia de moldura a uma mesa de centro rectangular com embutidos de motivos florais. Três graciosas poltronas forradas a seda harmonizavam o espaço. Uma enorme janela dava acesso para uma varanda de grandes dimensões, com uma vista privilegiada sobre o amarelo da areia fina da praia e onde o azul do mar se confundia com o azul do céu. O quarto era quase tão grande quanto as salas. Uma principesca cama colocada ao centro, guardada por duas belíssimas mesinhas de cabeceira, um coxim de seda escura e duas senhorinhas de desenho elegante junto de um deslumbrante toucador. Uma imensa janela arredondada quase circunda o quarto. Margarida estava deslumbrada com a suite. Senta-se num dos sofás e diz, gozando com Mário: - Se soubesse tinha pedido esta suite. É maravilhosa. - Não seja por isso. Sempre te podes mudar para cá. Ficava-te bem mais económico. – brinca Mário, rindo-se. - É. Quem sabe se não o faço, espertinho. - Não tarda chega o serviço de quarto com o champanhe, o caviar e uns belos morangos aux chantilly que encomendei. - Hum… isso tudo parece-me terrivelmente afrodisíaco. Uma autêntica alquimia de um sábio mago. - Oh Margarida. Como estás bonita. Como esta noite foi um sonho que espero não acabe nunca. Mário ajoelha-se aos pés de Margarida e pousa delicadamente a cabeça nas pernas esguias dela, enlaçando-as com os braços. Margarida afaga carinhosamente os cabelos de Mário e, quase sussurrando, exclama:
  • 19. - Acho que me estou a apaixonar. Nunca me senti assim na vida. Que transformação provocaste tu em mim? Mário pousa o queixo nas pernas dela e olha para cima, em direcção aos olhos de Margarida, e responde: - Nem eu sei que transformações provocaste tu em mim. Mas sinto que foram boas. Sinto-me cada vez mais ligado em ti. Julgo até que desde os tempos de colégio me sinto ligado a ti. – confidencia Mário, continuando de seguida – Já reparaste que as três primeiras letras dos nossos nomes são idênticas? M-A-R. E como vieste tu para Cannes? Por mar. Foi o mar que nos uniu, Margarida. Vieste trazida pelas ondas até mim… como uma sereia! Margarida lacrimejou comovida. Nunca ouvira palavras tão belas e mágicas como aquelas. Um beijo os tornou a unir, para logo a campainha do quarto os desunir. Era o serviço de quarto com o champanhe e as demais iguarias que Mário havia pedido. Mário colocou uma iluminação suave na sala e acendeu umas quantas velas. Serviu uma flûte de champanhe a Margarida e outra para ele e, com emoção, disse: - Que a vida não nos torne a separar. Um brinde. Os copos tocaram levemente um no outro, e os lábios saborearam o gosto fresco da bebida. Mário escolhe um morango delicado e oferece-o a Margarida que, de uma forma lasciva, o vai buscar às mãos de Mário. Mário estremece quando os lábios de Margarida tocam nos seus dedos, sorvendo-os de forma erótica. Margarida vai até ao rádio e põe a tocar uma música calma, para dar ambiente. Chegando ao pé de Mário, atira-o para o sofá e diz-lhe que não se levante. Dá uns passos para trás e oferece a Mário um “strip-tease” sensual. Margarida começa a dançar, ondulando o corpo ao som dos acordes. Desabotoa vagarosamente os botões do casaco do tailleur e quando este se encontra totalmente aberto, Margarida coloca as mãos nos seus seios, acariciando-os ou apalpando-os alternadamente. Mário está excitadíssimo e o seu sexo endurecido começa a incomodá- lo dentro das calças. Já de costas, Margarida abre o fecho da saia, que desliza lentamente pelas pernas. Inclina-se suavemente e retira a saia dos seus pés, abanando as nádegas como uma odalisca. Mário não consegue deixar de acariciar o seu membro erecto. Nunca vira uma cena tão terrivelmente lúbrica. Margarida havia já despido a sua camisa e os seus seios brancos e delicados estavam já soltos do soutien preto que os encerrava. Os mamilos manifestavam já o entusiasmo que ela estava sentindo. Mário não se conteve. Impetuoso, despe simultaneamente as calças e os boxers rasgando, de seguida, a camisa, fazendo com que os botões resvalem aos saltos como pérolas, pelo chão da sala. Prostrado junto de Margarida, retira-lhe os collants e a tanguinha rendada que usava. Não vacila em beijar o sexo de Margarida, lambendo delicadamente os seus lábios, enquanto as mãos nos quadris a forçam a esmagar-se contra a cara de Mário. O prazer sem limites que experimentavam era muito. Margarida suspirava e gemia descontroladamente, enquanto Mário continuava loucamente a percorrer com os seus lábios grossos, o corpo de Margarida. Pouco depois, consegue libertar-se de Mário e corre, nua, até à varanda, murmurando: - Vamos fazer amor aqui. Com o mar, a lua e as estrelas como testemunhas. - E se alguém nos vê?
  • 20. - Irão ficar cheios de inveja, de certeza. Mário nem pensou mais. Margarida havia-o empurrado para cima de uma mesa, derrubando o candeeiro e os jornais que estavam sobre ela. E a boca de Margarida foi ao encontro das virilhas de Mário, percorrendo com os lábios e a língua toda a zona envolvente do membro viripotente. O gozo era desmesurado e Mário, agarrando a cabeça de Margarida, faz com que a boca dela percorra todo o pénis endurecido. Ela chupa-o sofregamente, fazendo movimentos verticais fortes e estimulantes. - Pára Margarida. Estou lá quase… - Então penetra-me. Quero sentir-te dentro de mim, como um macho forte. E assim, com Margarida encostada à varanda, de costas para o mar, Mário penetra-a. Primeiro de modo suave mas à medida que o prazer aumentava, a dança sexual tornou- se mais liberta, mais animal. Margarida cravejava as unhas nas costas de Minotauro de Mário, aumentando o ritmo da penetração. O clímax foi apoteótico. Os corpos debatiam-se como se fossem gladiadores disputando a vida numa arena. Os amantes caíram extasiados no chão da varanda, abraçando-se. Capitulo XV Margarida e Mário permaneceram juntos a restante semana, completamente enamorados um pelo outro. Margarida acabou por mudar-se para a suite de Mário, havendo todas as noites muito romance e amor. O sexo entre eles era perfeito. Conjugavam perfeitamente nas fantasias e nos gostos de cada um. Margarida sentia-se bem no papel de mulher fatal e Mário adorava ser subjugado por aquela mulher sem tabus, incrivelmente jovem e fresca. Viajaram ainda até ao Mónaco, onde estiveram dois dias. O tempo que não passaram entre os lençóis, usaram-no a passear, a fazer praia ou a jogar no casino. Mas estava na altura de regressar a Portugal. Mário tinha a agenda sobrecarregada de mulheres prontas a rejuvenescerem e Margarida tinha que se inteirar dos assuntos das empresas deixadas pelo pai. Decidira que iria continuar com o património que o pai, a muito custo e com muito suor, havia construído. Margarida queria também remodelar toda a mansão do Restelo, numa tentativa de apagar os vestígios do passado e oferecer ao futuro um novo aspecto e um novo brilho. Em relação ao jardim, queria transformá-lo num jardim japonês, rodeado de caminhos de água, pequenas cascatas e erva delicadamente aparada. Precisava de manter o equilíbrio espiritual agora encontrado com Mário. Já no avião, de regresso a casa, Margarida confidencia a Mário: - Estou com muito medo de regressar a casa. Com medo de, ao chegar, perceber que tudo o que houve entre nós foi um sonho do qual estou prestes a acordar. E não quero, de maneira nenhuma, que tal aconteça. - Não te vou dizer que não seja um sonho, meu amor. Mas é um sonho a dois. Como tal, é preciso que um de nós acorde para que o sonho se desvaneça. E por mim, não acordo nunca. - Diz-me uma coisa, Mário. - O que quiseres. - Amas-me?
  • 21. Mário olhou carinhosamente para os olhos apavorados de Margarida, que espera uma resposta. O tempo da resposta pareceu uma eternidade. Mas, por fim, disse: - Mais do que o céu e a terra juntos. Amo-te como nunca amei ninguém. Sei que parece frase feita, mas é a mais pura da verdade. Amo-te muito, Margarida. Margarida sorri. Sabe que Mário diz a verdade. E sabe também que Mário tem certeza do amor que ela sente por ele. E, sem qualquer pudor, resolve perguntar-lhe: - Casa comigo, Mário. Vamos aterrar em Lisboa e partamos imediatamente para minha casa. Como noivos. Mário ficou atónito. Nem sabia o que dizer. A cabeça andava à roda como um carrossel da feira popular. Nunca recebera antes uma proposta para casar. Margarida antecipava- se e ele não sabia como reagir. - Bom… deixa-me respirar… este mundo realmente está perdido! Agora até as senhoras pedem em casamento. Onde já se viu?! Margarida riu-se. Tinha deixado Mário completamente desarmado. Parecia uma criança que fora apanhada a roubar um doce. - Não tens de responder já. Só quero que saibas que estou preparada para amar-te o resto da minha vida, até ao fim dos séculos. Mário dá-lhe um beijo salgado. Dos seus olhos rolavam grossas lágrimas de júbilo. Cada uma delas representava um “sim” efectivo à proposta que Margarida lhe fizera. Mas da sua boca, por enquanto, não conseguia sair qualquer sílaba ou vocábulo. Margarida abraça-o, mas Mário imediatamente levanta-se da cadeira e desaparece no longo corredor do avião. Margarida fica baralhada: - Mas que terei eu feito? Porque se levantou ele daqui? Quando estava decidida a ir procurá-lo, uma hospedeira de bordo aproxima-se de Margarida, oferecendo-lhe uma flûte de champanhe. E uma voz soa nos altifalantes do avião: - Atenção, Senhoras e Senhores. Daqui fala o vosso Comandante Ferreira. Tenho o prazer de vos anunciar que o Sr. Mário Bragança está, a partir deste momento, para sempre noivo da Sra. Margarida Dias pelo que diz “sim” ao pedido de casamento. Aos noivos, peço uma salva de palmas. Ouvidas estas palavras, Mário aparece junto de Margarida. Os dois, frente a frente, começam a rir descontrolados pela cena típica de filme de escalão B que se acabara de passar. Mas mais do que a situação, eram os nervos que tomavam agora conta deles. Mário encheu o peito de ar, deu mais uns passos e estende a mão a Margarida. Esta retribui fazendo o mesmo. Em poucos segundos, um anel magnífico de ouro e diamantes circundava o dedo de Margarida. - Espero, Margarida, que seja a ultima vez que me estragas uns planos. – diz Mário rindo – Mas nem por isso estou menos feliz. Eu quero e muito casar contigo. Ser para sempre teu e ter-te para sempre comigo. Que este anel simbolize todo o amor que vivemos e havemos de viver juntos… e sim, aceito casar contigo. Um beijo apaixonado dos amantes selou o compromisso. Uma saudação estridente dos passageiros do avião deu inicio às festividades, que iriam durar até à data feliz de um casamento afortunado. Assim foi a viagem de amor de Margarida. FIM