O documento conta a história de um juiz severo que passou a tratar as pessoas com mais compaixão depois de ser preso e maltratado por seus próprios guardas, que aplicaram nele as mesmas punições cruéis que ele impunha. Jesus ensinou que só é possível exercer a justiça com amor e compreensão, após aprender com a vida.
AUTORA VILMA DIAS - MARIA ANTES DE SER MARIA (1).ppt
Emitir julgamento
1.
2. Com base no conto “O Juiz Reformado”, do livro Jesus no Lar, pelo Espírito
Neio Lúcio. Momentos de Paz Maria da Luz.
Conta-nos assim o autor:
Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia muita cautela
no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em derredor do
mesmo tema.
- É difícil não criticar, comentava Mateus, com lealdade, porque, a todo
instante, o homem de mediana educação é compelido a emitir pareceres
na atividade comum.
- Sim, concordava André, muito franco, não é fácil agir com acerto, sem
analisar detidamente.
3. Depois de vários depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir,
interferiu Jesus sem afetação:
- Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe,
no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta,
sob os princípios da retidão. Todavia, é necessário não inclinar o espírito
aos desvarios do sentimento, para não sermos vitimados por nós mesmos.
Seremos julgados pela medida que aplicarmos aos outros. O rigor
responde ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...
E, transcorridos alguns instantes, contou:
4. - Quando Israel vivia sob o governo dos grandes juízes, existiu um
magistrado austero e violento, em destacada cidade do povo escolhido,
que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob a sua
orientação. Abusando dos poderes que a lei lhe conferia, criou
ordenações tirânicas para a punição das mínimas faltas. Multiplicou
infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e
inventou variados instrumentos de flagelação.
O povo, asfixiados por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo
de severa fiscalização, qual se fora rebanho de bravios animais. Trabalharia,
descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela
autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos, nas prisões, com
pesadas multas de toda espécie.
5. Se bem mandava o juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural
malvadez. Assim foi que, certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite, à
casa de um filho enfermo, foi aprisionado, sem qualquer consideração, por
um grupo de guardas bêbedos e inconscientes que o conduziram a escura
enxovia que ele mesmo havia inaugurado, semanas antes. Não lhe valeram a
apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia. Tomado
por temível ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e
espancado sem piedade, afirmando os sentinelas que assim procediam,
obedecendo às instruções do grande juiz, que era ele próprio. Somente no
dia imediato foi desfeito o equivoco, quando o infeliz homem público já
havia sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para
os outros.
6. O legislador atribulado reconheceu, então, que era perigoso transmitir o
poder a subalternos e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e
santificante é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do
Reinado do Amor entre os homens.
Desde a singular ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o
juiz reformado, embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam,
ergueu, sobre o tribunal, a benefício de todos, o coração de pai
compreensivo e amoroso.
Lá fora, brilhavam estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago.
Depois de longa pausa, o Mestre concluiu:
7. - Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e
servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da
renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em
nome do Pai.
Reflexão:
Os homens diferem entre si em muitos aspectos. Poder-se-ia dizer que não
existem duas pessoas iguais no Universo.
A Psicologia determina que o homem só pode se tornar equilibrado no
ambiente em que vive no dia em que perceber a seguinte verdade: “Eu sou
eu, diferente de todos os outros, e igual apenas a mim mesmo”.
8. Apesar de parecer obvia esta afirmação, ela não tem nada de obvia, isto
porque costumamos julgar o mundo em que vivemos pelos padrões, pelos
modelos ou paradigmas que desenvolvemos em nós, e que não são
exatamente iguais ao dos nossos semelhantes. As diferenças entre as pessoas
que se relacionam e trocam experiências são infinitas. As pessoas se
diferenciam em raça, em cor, em religião, em idade, em inteligência, em
conhecimento e sabedoria, em espiritualidade, em interesses, em
moralidade, em sentimentos e valores, na estrutura física, na forma de se
relacionar com o mundo, e assim por diante. Como fazer então para
socializar a humanidade, através de padrões comuns, se as pessoas são todas
diferentes, umas das outras?
9. A regra da boa convivência está em perceber as diferenças e estabelecer um
código de direitos e de deveres, baseado no princípio de que o meu direito
vai até o limite do direito alheio. Por isto, o homem criou regras, as leis que
regem todas as relações sociais, através dos códigos civis, dos códigos
penais, dos códigos de direitos e outros instrumentos de avaliação da relação
de direitos e deveres de cada pessoa, em sua posição de cidadão. É pelos
padrões estabelecidos que se julga se determinada ação é legal ou não é; se é
normal ou não é; e se é direito ou não é. Assim, o hábito de julgar
acompanha o homem desde sua criação, e quanto mais prisioneiro aos
padrões ele se encontrar, maior será a sua tendência de julgar a
conformidade com esses padrões.
10. Um mundo perfeito, será aquele em que as leis não serão mais necessárias,
porque o homem agirá por consciência pura. Saberá que é importante,
saberá que é necessário, reconhecerá as diferenças, respeitará as diferenças
e, portanto, agirá conforme a lei maior, que resume todas as outras: Amará o
seu semelhante como a si próprio. Jesus nos ensina em seu Evangelho que
não devemos julgar os nossos semelhantes. Pois, com a mesma medida que
julgarmos seremos julgados. Isto significa que, quanto mais disseminarmos
a intolerância, a intransigência, em relação às ações e aos pensamentos do
próximo, mais estaremos sujeitos a sermos avaliados pelo mesmo
instrumento.
11. Assim, para que não haja constrangimento, sofrimento, ou dor, é preciso que
a lei a ser aplicada seja baseada no amor, na compreensão, na misericórdia.
Muitas são as situações em que somos obrigados a emitir julgamentos; a
estabelecer critérios para esses julgamentos, e tomar decisão, em relação a
eles. Profissionalmente falando, às vezes, nós somos levados a decidir o
futuro imediato de alguém, pressionados por contingências particulares.
Escolhemos pessoas para ocupar vagas, por exemplo; selecionar pessoas
para demissão; escolher colaboradores para promoção; e, assim por diante.
Sempre estaremos sendo submetidos a esse tipo de prova, e nos sentimos
inquietos com essa obrigação de ter que fazê-lo.
12. Todos nós, de uma forma ou de outra, estamos sempre sendo obrigados a
julgar alguma coisa, a decidir alguma coisa, e sempre influenciamos no
destino de alguém. O sentimento que nutrimos é que não nos cabe julgar e,
portanto, nunca nos sentimos à vontade para decidir o destino das pessoas,
com quem convivemos. Mais grave, ainda, é a posição daquele que tem o
julgamento como profissão. Seja para julgar um delito ou, mesmo, para
reprimir ou impedir ações. Sua situação é muito mais difícil, pois, se divide
entre a obrigação daquilo que lhe compete e o sentimento que nutre em
relação ao seu semelhante. Mas, sem o constrangimentos da lei, o homem
do mundo tornaria a vida em sociedade um caos.
13. Conscientizar as pessoas para os seus deveres e para os seus direitos não
basta. Pois, cada qual tem um nível de percepção diferente, e está motivado
a agir conforme suas próprias convicções. Por isto, o constrangimento é
sempre necessário para o estabelecimento da disciplina no cumprimento dos
padrões que são aceitos pela sociedade.
Não julgar não significa se acomodar diante do erro, diante daquilo que nos
parece nocivo à convivência humana. Não devemos julgar os sentimentos,
os motivos que cada um tem para agir desta ou daquela maneira. Mas,
podemos sempre confrontar comportamentos sem julgá-los, os que nos
pareçam inadequados ao meio em que vivemos.
14. Não julgar significa respeitar o direito que cada um tem, como filho de
Deus; direito de sentir, de pensar, e de agir como bem entender. Mas isto
não significa deixar que essa ação possa comprometer a harmonia do mundo
em que vivemos. Não julgar é reconhecer nos outros os nossos próprios
erros, aceitando que eles possam tê-los, assim, como, nós os temos. Porém,
não é deixar de perceber que o erro existe e está presente. A misericórdia
está em perdoar sempre, mas também proporcionar a oportunidade de
refazer aquilo que foi desfeito, de ajustar aquilo que foi desajustado. A lei de
justiça de Deus atua assim sobre as criaturas, dando a elas autonomia de
curso. A lei de Deus é essencialmente uma lei de misericórdia, de amor, mas
é também uma lei de justiça.
15. Toda vez que julgamos alguém, ultrapassamos a fronteira dos nossos
direitos e invadimos os direitos do semelhante. Não nos compete julgá-lo.
Mas nos compete sempre impedir que atitudes erradas possam comprometer
o meio em que vivemos.
Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo. Nova página: Espiritismo com humor.