O documento discute a dor como o quinto sinal vital e sua definição, epidemiologia e fisiologia. Resumidamente:
1) A dor é definida como uma experiência subjetiva relacionada a lesões reais ou potenciais segundo a IASP;
2) As afecções musculoesqueléticas são as causas mais comuns de dor no Brasil, acometendo 70% da população;
3) A dor afeta a qualidade de vida física e psicológica dos indivíduos e sua prevalência aumenta com a idade
2. Definição de Dor
Segundo a Associação Internacional para o
Estudo da Dor (IASP) a Dor é definida como:
“Uma experiência sensorial e emocional
desagradável que é associada a lesões reais
ou potenciais ou descrita em termos de tais
lesões. A dor é sempre subjetiva. Cada
indivíduo aprende a utilizar este termo
através de suas experiências”.
Este conceito não admite uma relação direta
entre lesão tecidual e dor e enfatiza o
aspecto de subjetividade na interpretação
do fenômeno doloroso.
A expressão da dor varia não somente de
um indivíduo para outro, mas também de
acordo com as diferentes culturas”...
3. EPIDEMIOLOGIA DA DOR
No Brasil as afecções do aparelho locomotor são
as causas mais freqüentes de dor. Lombalgias
ocorre em aproximadamente 70% dos brasileiros,
cefaléias, dores abdominais e dor generalizada
são também muito prevalentes em nosso meio.
Mais de 1/3 dos brasileiros julga que a dor
crônica os limita para as atividades habituais e
mais de ¾ para as atividades recreacionais,
relações sociais e familiares.
Aproximadamente 10% a 50% dos indivíduos
procura clínicas gerais devido a dor.
A prevalência de dor nas unidades de internação
hospitalar oscila entre 45% a 80%.
4. EPIDEMIOLOGIA DA DOR
A prevalência da dor varia, entre os sexos, de
acordo com a prevalência natural das lesões
causais.
A enxaqueca, as dores faciais, a fibromialgia, a
síndrome do cólon irritável, a artrite reumatóide e
a dor por lesões de esforços repetitivos são mais
comuns nas mulheres.
A prevalência da dor eleva-se com o progredir da
idade.
Estima-se que 80% a 85% dos indivíduos com
mais de 65 anos apresenta pelo menos um
problema significativo de saúde que os
predisponha a apresentar dor.
5. EFEITOS DA DOR NA
QUALIDADE DE VIDA
1.1- Aspectos Físicos
Diminuição da capacidade funcional
Diminuição da força e da resistência
Náusea e perda de apetite
Transtornos do sono causando irritabilidade,
fadiga e dependência em medicamentos e álcool
em uma tentativa de facilitar o sono.
Dependência Química
6. EFEITOS DA DOR NA
QUALIDADE DE VIDA
1.2- Aspectos psicológicos
Diminuição da alegria e do humor
Aumento da ansiedade e do temor
Depressão, sofrimento.
Dificuldade de concentração
Somatização
Perda do controle
Perdas sociais
Diminuição das relações sociais
Diminuição da atividade sexual e afetiva
Aumento da necessidade de cuidados
Tensão financeira como resultado de contas médicas,
medicamentos e perda de renda devido ao tempo fora do
trabalho
7. FISIOLOGIA DA DOR
O primeiro passo na sequência dos
eventos que origina o fenômeno sensitivo-
doloroso é a transformação dos estímulos
ambientais em potenciais de ação que, das
fibras nervosas periféricas, são
transmitidas para o SNC.
8. FISIOLOGIA DA DOR
Os receptores nociceptivos são
representados por terminações nervosas
livres presentes nas fibras mielínicas finas
A-delta e amielínicas C.
Os nociceptores relacionados com as fibras
C respondem à estimulação mecânica,
térmica e/ou química intensas e, os
relacionados às fibras A-delta, à
estimulação mecânica e/ou térmica
intensas.
9. FISIOLOGIA DA DOR
As fibras C – amielínicas são responsáveis pela
transmissão da dor tipo lenta, e estão localizadas em
estruturas profundas: músculos, tendões, vísceras.
São conduzidas após o corno posterior da substância
cinzenta da medula espinhal (CPME) principalmente ao
feixe paleoespinotalâmico , sem organização
somatotópica precisa , por este motivo a dor
transmitida pelas fibras lentas C é difícil de ser
localizada e quantificada
As fibras A – mielínicas são responsáveis pela
transmissão da dor tipo rápida , e estão localizadas na
pele , músculos, tendões. São conduzidas após o
CPME principalmente ao feixe neoespinotalâmico ,
com organização somatotópica precisa e detalhada,
por este motivo a dor somática pode ser precisa e
quantificável.
11. FISIOLOGIA DA DOR
A atividade dos receptores nociceptivos das fibras
C é modulada pela ação de substâncias químicas,
denominadas algogênicas, liberadas em elevada
concentração no ambiente tecidual em
decorrência de processos inflamatórios,
traumáticos e/ou isquêmicos.
São originadas de células lesadas.
Dentre as substâncias algogênicas, destacam-se:
a acetilcolina, as prostaglandinas, a histamina, a
serotonina, a bradicinina, o leucotrieno, a
substância P, a tromboxana, o fator de ativação
plaquetário, os radicais ácidos e os íons potássio.
12. FISIOLOGIA DA DOR
As fibras projetam-se nas unidades celulares do
corno posterior da substância cinzenta da medula
espinhal (CPME).
O CPME não é apenas uma estação de coleta de
informações transmitidas pelos aferentes
primários.
Contém interneurônios que interferem no
processamento das informações sensitivas,
inibindo ou facilitando a transmissão dos
potenciais veiculados pelos aferentes primários
para os sistemas de projeção supra-segmentares.
13. FISIOLOGIA DA DOR
A transmissão das informações
nociceptivas da medula espinhal para as
estruturas encefálicas é realizada
mediante sistemas neuronais que
compõem o trato espinotalâmico,
espinorreticular, espinomesencefálico,
espinocervical e outros.
15. FISIOLOGIA DA DOR
Tipos de dor
Velocidade de transmissão:
Dor rápida (f. neoespinotalâmico):
até 0,1’’ após estímulo
fibras mielinizadas (tipo A)
típica dos tecidos superficiais (corte, etc.)
são inibidas por pressão
melhor localizada
nociceptores mecânicos, térmicos, álgicos
Dor lenta (f. paleoespinotalâmico):
após 1’’ do estímulo
fibras amielínicas (tipo C)
todos tecidos (destruição, principalmente)
pobremente localizada
Nociceptores mecânicos, térmicos, álgicos, químicos
16. Estruturas orgânicas e sensibilidade à
dor
Estruturas muito Estruturas pouco
sensíveis: ou nada Sensíveis:
Pele ( picada, calor, inflamação)
Dentina e polpa dentária (picada •Ossos
e inflamação) •Tecido Hepático
Pleura parietal (inflamação e
•Superfícies articulares
tração)
Peritônio parietal ( inflamação e •Pleura visceral e
compressão) parênquima pulmonar
Cápsula Hepática ( distensão) •Peritônio Visceral
Músculo Cardíaco ( anóxia) •Pericárdio visceral
Sinóvia •Parênquima cerebral
Periósteo
17. Estruturas orgânicas e
sensibilidade à dor
A ativação de nociceptores viscerais decorre da
irritação das superfícies mucosa e serosa, torção ou
tração do mesentério, distensão ou contração de uma
víscera oca e resultado do impacto direto, tais como
ocorre nos traumatismo. Estímulos similares são
necessários para provocar dor na bexiga, ureter ou
uretra.
Os nociceptores gastro-intestinais reagem mais
intensamente à dilatação excessiva ou à contração do
intestino e/ou torção do mesentério.
18. Tipos de Dor
1. Dor Cutânea ou superficial
2. Dor Profunda
3. Dor visceral
4. Dor referida
5. Dor irradiada
19. Dor Cutânea ou superficial
(somática)
Provocada por:
Traumatismos, calor ou frio intensos,
substâncias cáusticas e venenos.
Intensidade:
Depende muito do tipo e da intensidade
do estímulo: é sentida no local exato do
estímulo e a sensação tem qualidade
própria para os diferentes estímulos.
20.
21. Tipos de Dor
1. Dor Cutânea ou superficial
2. Dor Profunda
3. Dor visceral
4. Dor referida
5. Dor irradiada
23. Tipos de Dor
1. Dor Cutânea ou superficial
2. Dor Profunda
3. Dor visceral
4. Dor referida
5. Dor irradiada
24. Dor Visceral
Provocada por:
Distensão, tração, inflamação, isquemia e
contração espasmódica.
Qualidade:
Varia conforme a víscera:
Coração
Pleura
Vísceras ocas
Vísceras sólidas
25. Dor Visceral
É percebida nas regiões que correspondem
à sua origem embriológica
Coração – retroesternal
Intestino delgado – região umbilical
Apêndice - epigástrio
26. Tipos de Dor
1. Dor Cutânea ou superficial
2. Dor Profunda
3. Dor visceral
4. Dor referida
5. Dor irradiada
27. Dor Referida
Profunda que se projeta à
distância – metamérica.
Convergência
das vias
aferentes
cutâneas e
profundas de
um mesmo
segmento
28. Dor Referida
Não tem localização muito precisa e é
contínua
EX.: Angina ou IAM
29. Tipos de Dor
1. Dor Cutânea ou superficial
2. Dor Profunda
3. Dor visceral
4. Dor referida
5. Dor irradiada
30. Dor Irradiada
Provocada por: irritação direta de um
nervo sensitivo ou misto. É sentida
exatamente no território correspondente à
raiz nervosa estimulada – superficial e
profunda
Ex: Dor ciática: percepção da dor em
território que é inervado pela raiz nervosa
estimulada.
31.
32. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
33. 1.Localização
A melhor forma é pedir ao paciente que
aponte com o dedo onde dói.
Outros elementos podem ser retirados ao
ver o paciente apontar: Ex: mão fechada
retroesternal X ponta do dedo no
precórdio.
34.
35. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
38. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
39. 3.Caráter ou Qualidade
1. Queimação: úlcera péptica
2. Em pontada ou Fincada: Dor pleurítica
3. Dor pulsátil: Alguns Tipos de cefaléia
4. Dor em cólica: intestinal, menstrual
5. Dor surda ( contínua, mas imprecisa e
que não tem grande intensidade): –dor
lombar
6. Dor constritiva/ aperto: IAM
7. Dor contínua: Pancreatite aguda
8. Dor do membro Fantasma: dor no
membro amputado
40.
41. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
46. Avaliação da Intensidade da Dor
- Escala Linear Analógica Visual - indicada por
uma linha reta, com extremidades significando de
um lado, ausência de dor, do lado oposto, a
maior intensidade de dor já sentida pela criança,
a qual localiza-a no contínuo da escala, o grau da
intensidade de sua dor.
47. Avaliação da Intensidade da Dor
- Escala Linear Analógica Não Visual - constitui-se
em outra variante da escala apresentada
anteriormente, na qual é feita a quantificação da
intensidade dolorosa através de escores que variam
de zero a dez, sendo essa caracterizada por dor leve,
intensa, aguda ou muito intensa
49. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
50. 5.Duração
Tempo decorrido entre o início da dor e o
exame
Contínua
Cíclica ( periódica)
51. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
52. Classificação quanto à
evolução
DOR AGUDA - Aquela que se manifesta
transitoriamente durante um período relativamente
curto, de minutos a algumas semanas, associada a
lesões em tecidos ou órgãos, ocasionadas por
inflamação, infecção, traumatismo ou outras causas.
Normalmente desaparece quando a causa é
corretamente diagnosticada e tratada
DOR CRÔNICA - Tem duração prolongada, que pode
se estender de vários meses a vários anos e que está
quase sempre associada a um processo de doença
crônica. A dor crônica pode também ser conseqüência
de uma lesão já previamente tratada.
Exemplos: Dor ocasionada pela artrite reumatóide (inflamação das
articulações), dor do paciente com câncer, dor relacionada a esforços
repetitivos durante o trabalho, dor nas costas e outras.
53. Classificação quanto à
evolução
DOR RECORRENTE - Apresenta períodos
de curta duração que, no entanto, se
repetem com freqüência, podendo ocorrer
durante toda a vida do indivíduo, mesmo
sem estar associada a um processo
específico. Um exemplo clássico deste tipo
de dor é a enxaqueca
54. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
55. Relação com as Funções Orgânicas
Leva em conta a localização da dor e os
órgãos situados na área.
Ex: Tórax
retroesternal
cervical
epigástrica
lombar
baixo ventre
pernas
56. Características semiológicas da DOR
Localização
Irradiação
Caráter ou qualidade
Intensidade
Duração
Evolução
Relação com as funções orgânicas
Fatores desencadeantes ou agravantes
Fatores que aliviam
Manifestações concomitantes
58. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
59. 9.Fatores que Aliviam
Também pode estar relacionados com as
funções orgânicas
Posições antálgicas
Indução de vômito
Resposta a analgésicos já utilizados
60. Características semiológicas da DOR
1. Localização
2. Irradiação
3. Caráter ou qualidade
4. Intensidade
5. Duração
6. Evolução
7. Relação com as funções orgânicas
8. Fatores desencadeantes ou agravantes
9. Fatores que aliviam
10. Manifestações concomitantes
61. 10.Manifestações Concomitantes
A própria dor, quando muito intensa pode
provocar outros sintomas.
Cólicas: náuseas, vômitos, sudorese, palidez e mal-
estar.
É freqüente que a dor se acompanhe de
manifestações relacionadas diretamente com sua
causa.
Ex.: na cólica nefrética, náuseas e vômitos estão freqüentemente
associados aos episódios mais intensos, independentemente do
ponto de obstrução, em conseqüência aos reflexos viscero-
viscerais renointestinais. Num grande número de pacientes
também podem ser observados sintomas de descarga adrenérgica
como palidez cutânea, sudorese e taquicardia.
62. Termos relacionados à dor
Analgesia – ausência de dor à
estimulação nociva
Anestesia dolorosa – dor em uma área
anestesiada
Causalgia – dor queimante que persiste
após lesão nervorsa traumática
Disestesia- sensação anormal
deságradável
Hiperalgesia- sensibilidade aumentada à
estimulação nociva, limiar da dor reduzido
63. Termos relacionados à dor
Hiperestesia – sensibilidade aumentada à
estimulação , excluindo os sentidos especiais,
mas incluindo sensibilidade cutânea
Hiperpatia – reação dolorosa excessiva e
retardada após um estímulo repetitivo
Hipoalgesia – sensibilidade diminuída à
estimulação nociva
Hipoestesia - sensibilidade diminuída à
estimulação nociva , excluindo as sensações
especiais
Neuralgia – dor na distribuição de um ou mais
nervos
64. Bibliografia
• DOR – Epidemiologia, fisiopatologia, avaliação,
síndromes dolorosas e tratamento
• DOR – Diagnóstico e Tratamento.
• A NEUROLOGIA QUE TODO MÉDICO DEVE SABER
• DOR – Fundamentos Abordagem Clínica Tratamento
– Kazanowski & Laccetti – Guanabara Koogan.
• Fisiopatologia da Dor – Educação Médica
Continuada – SBA
• Farmacologia – Rang Dale
• As Bases Diagnósticas da Terapêutica – Goodman e
Gilman.
Notas do Editor
Refere-se ao local onde a dor está sendo sentida. Motivo de apontar com o dedo: onde dói? No fígado – pode ser HD, Epigástrio e até mesmo o HE.