O texto descreve as impressões pessoais da autora sobre as enchentes na região serrana do Rio de Janeiro. Ela fala sobre sentimentos de perda e luto, e revela seu comprometimento em ajudar as vítimas, cobrando responsabilidade das autoridades para evitar novas tragédias.
1. A formiga boa
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando
cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas.
Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos, arrepiados, passavam o dia
cochilando nas tocas.
A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de
alguém.
Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro. Bateu na porta – tique, tique,
tique… Apareceu uma formiga, friorenta, embrulhada num xalinho de paina.
– Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
– Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...
A formiga olhou-a de alto a baixo.
– E o que fez durante o bom tempo, que não construiu a sua casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um acesso de tosse:
– Eu cantava, bem sabe...
– Ah!... Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós trabalhávamos para encher as tulhas?
– Isso mesmo, era eu...
– Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou.
Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos: que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora!
Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, curou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
(LOBATO, Monteiro. A cigarra e as formigas. Fábulas. 35. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 9)
Vocabulário:
• faina – tarefa difícil
• tulhas – recipiente para armazenar cereais
• manquitolando – mancando
• xalinho – manta para cobrir os ombros
• paina – tecido macio
O texto “A formiga boa” é uma versão do escritor brasileiro Monteiro Lobato para a clássica fábula “A cigarra e a
formiga”, de autoria atribuída a Esopo, fabulista grego do século VI a.C. Com base nesse texto, responda as
questões
1. O terceiro parágrafo do texto I dialoga com o texto II porque ambos defendem a ideia de que
(A) os artistas são uma classe que não precisa trabalhar.
(B) a classe dos artistas também é uma classe trabalhadora.
(C) a classe dos trabalhadores deve sustentar a dos artistas.
(D) o trabalho é um castigo cuja execução é atenuada pela música.
(E) a atitude das formigas deve servir de exemplo para os humanos.
2. No texto II, o uso de diminutivos, como em “cansadinha” (l. 1) e “amiguinha”(l.17), para se referir à cigarra,
denota uma das seguintes intenções abaixo:
(A) Ironizar o tamanho da personagem, maior que a formiga.
(B) Referir-se às dimensões diminutas da personagem.
(C) Traduzir pejorativamente o caráter da personagem.
(D) Intensificar as características negativas da personagem.
(E) Demonstrar afetividade em relação à personagem.
3. No trecho “ – Que quer? – perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.” (l. 9), foram
usados dois travessões para, respectivamente,
(A) destacar as palavras do narrador e introduzir a fala da personagem (discurso direto).
(B) indicar a fala da personagem (discurso indireto) e uni-la às palavras do narrador.
(C) separar a fala da personagem (discurso indireto) e introduzir as palavras do narrador.
(D) introduzir a fala da personagem (discurso direto) e separá-la das palavras do narrador.
(E) unir as palavras do narrador à fala da personagem (discurso indireto).
Leia:
Construção
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
2. E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse
máquina Ergueu no patamar quatro
paredes sólidas Tijolo com tijolo num
desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um
príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um
náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse
música
E tropeçou no céu como se fosse um
bêbado E flutuou no ar como se fosse um
pássaro
E se acabou no chão feito um pacote
flácido Agonizou no meio do passeio
público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego[...]
(BUARQUE, Chico. Construção. Disponível em:<http://www.letras.terra.com.br/chico-buarque/45124>. Acesso em:
01 ago. 2009.)
Segundo o gramático Celso Cunha, “elipse é a omissão de um termo que o contexto ou a situação permite
facilmente suprir.” (CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardo Álvares,
1978. P. 439.).
4. No verso “Beijou sua mulher como se fosse a última” (verso 2), é possível perceber duas possibilidades de
preenchimento da elipse. As duas possíveis palavras elípticas em questão são
(A) beijou e vez.
(B) vez e mulher.
(C) vez e amou.
(D) amou e mulher.
(E) amou e beijou.
5. Na construção de seus argumentos, o autor do texto I faz referência a uma situação descrita no texto III. Assinale
a opção em que se identifica essa situação.
(A) Um sonho realizado.
(B) A vida amorosa do trabalhador.
(C) Uma crise social resolvida.
(D) A queda do operário.
(E) O sacrifício do empregador.
Leia:
Cuidado e responsabilidade: sobre as enchentes na região serrana do RJ
Inauguramos o BoletIN de 2011 falando sobre as enchentes que tomaram a região serrana do Rio de Janeiro.
Pessoalmente, posso dizer que os sentimentos de caos, de perda e de “orfandade” tomam meu coração. Guardadas as
devidas proporções, nos últimos dois anos, vivi uma experiência pessoal de perda de família, de casa, de referências.
Um período de luto mesmo, e foi justamente em Teresópolis que encontrei abrigo, onde tenho residência. Assim como
em Teresópolis, vejo que os outros municípios da região também foram abatidos por essa tragédia. Sei que existem
pessoas maravilhosas que vivem nesses lugares, ou melhor, viveram, ainda não sei. No caso de Teresópolis, as
pessoas me acolheram com carinho mesmo, e algumas delas se foram nos escombros.
Trata-se de um luto alargado, sinto que perdi outro pedaço de família, de referências, de lembranças. Claro que
estou falando de uma definição de família que não se reduz ao grau de parentesco, como se aqueles que não tivessem
laços
de sangue, heranças, estivessem fora do “contrato de legitimidade”, numa posição inferior. Não! Quando falo de família,
falo de um sentimento recíproco entre estima, respeito e amor, que nos une em diferentes planos de afetividade,
independente de raça, etnia, gênero, orientação sexual, enfim, a diferença não é para nos apartar, mas para nos tornar
comuns uns aos outros, com reconhecimento recíproco.
Essa ligação visceral que tenho com o interior do estado do Rio deve-se, em grande medida, à sua influência em
minha trajetória de vida e profissional.
3. Afinal, são quase 18 anos estudando, pesquisando, formando e, principalmente, aprendendo com e no cotidiano das
pessoas e das instituições desses vários municípios. É uma fonte permanente da teoria viva de tanto falo em meus
trabalhos, e 40 acredito que ainda falo pouco. Sou professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, e o Instituto de Medicina Social (onde trabalho) tem essa tradição de extensão, muito estimulada pelo Prof. Hésio
Cordeiro na década de 80 e, agora, com a Profª. Regina Henriques, Subreitora de Extensão da UERJ, que é também
pesquisadora do LAPPIS. Sinto-me honrada com esse percurso. Sempre adorei trabalhar com essa realidade interiorana.
O interior tem a ver com meus pais, com minha avó querida já falecida, enfim, tem a ver com minha origem, com quem
fui, sou e serei.
Entendo que se trata de uma obrigação civil minha, orgânica, de buscar contribuir e ajudar as pessoas a
diminuírem sua dor e seu sofrimento. Confesso que me sinto órfã e novamente invadida por esse sentimento de perda
incalculável, de um vazio que não se preenche. Solidarizo-me com cada uma dessas vítimas que, mesmo perdendo seus
parentes, não deixam de lutar pela vida de todos. O povo do Rio de Janeiro é guerreiro, heroico e solidário e, por isso,
mais do que nunca, devemos cobrar das autoridades a responsabilidade sobre esses fatos e, de forma incansável e
implacável, cobrar medidas eficazes, para impedir que novas tragédias aconteçam. Temos de ter cuidado e
responsabilidade com o mundo em que vivemos e que construímos, aqui e agora. A responsabilidade se faz em ação, da
qual não podemos nos esquivar.
PINHEIRO, Roseni. Disponível em: <http://www.lappis.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1398&sid=20>. Acesso em: 20 abr.
6. A autora, nesse artigo, adota um recurso por meio do qual deixa transparecer muitas impressões pessoais sobre
as enchentes na região serrana do Rio de Janeiro e sobre sua própria vida. Assinale a alternativa que aponta esse
recurso.
(A) O emprego de muitos advérbios de modo, como em [...] Pessoalmente [...] (l. 3).
(B) O emprego de verbos no presente do indicativo.
(C) A referência a Teresópolis, feita no primeiro parágrafo.
(D) O emprego de verbos e pronomes na primeira pessoa do singular.
7. A autora revela explicitamente o seu comprometimento em ajudar as vítimas das enchentes na região serrana do
Rio de Janeiro num dos períodos abaixo transcritos. Assinale-o.
(A) [...] No caso de Teresópolis, as pessoas me acolheram com carinho mesmo, e algumas delas se foram nos
escombros. [...] (l. 14-16)
(B) [...] Essa ligação visceral que tenho com o interior do estado do Rio deve-se, em grande medida, à sua influência
em minha trajetória de vida e profissional. [...] (l. 31-34)
(C) [...] Entendo que se trata de uma obrigação civil minha, orgânica, de buscar contribuir e ajudar as pessoas
a diminuírem sua dor e seu sofrimento. [...] (l. 52-54)
(D) [...] Solidarizo-me com cada uma dessas vítimas que, mesmo perdendo seus parentes, não deixam de lutar pela
vida de todos. [...] (l. 57-59)
8. [...] O povo do Rio de Janeiro é guerreiro, heroico e solidário e, mais do que nunca, devemos cobrar das
autoridades a responsabilidade sobre esses fatos e, de forma incansável e implacável, cobrar medidas eficazes, para
impedir que novas tragédias aconteçam. [...] (l. 59-65). O trecho sublinhado, introduzido pelo termo para, exprime a
ideia de
(A) finalidade. (B) consequência. (C) causa. (D) oposição.
9. [...] Sei que existem pessoas maravilhosas que vivem nesses lugares, [...] (l. 12-13) O vocábulo que destacado
nesse fragmento se refere ao termo anterior - pessoas maravilhosas. Então, assinale a alternativa na qual o vocábulo
destacado também retoma um termo anteriormente expresso.
(A) [...] Claro que estou falando de uma definição de família que não se reduz ao grau de parentesco [...] (l.19-21)
(B) [...] Quando falo de família, falo de um sentimento recíproco entre estima, respeito e amor, que nos une
em diferentes planos de afetividade [...] (l. 24-26)
(C) [...] Entendo que se trata de uma obrigação civil minha, orgânica, de buscar contribuir e ajudar as pessoas a
diminuírem sua dor e seu sofrimento. [...] (l. 52-54)
(D) [...] Confesso que me sinto órfã e novamente invadida por esse sentimento de perda incalculável, de um vazio
que não se preenche. [...] (l. 55-57)
10. [...] Pessoalmente, posso dizer que os sentimentos de caos, de perda e de “orfandade” tomam meu coração. [...]
(l. 3-5)
O emprego das aspas na palavra orfandade justifica-se, pois a autora
(A) fez uso de um neologismo, ou seja, de uma palavra nova criada por ela.
(B) utilizou a palavra em seu sentido real e quis dar ênfase a essa ideia.
(C) empregou a palavra fora de seu sentido real.
(D) quis imprimir um tom sarcástico à ideia.
11. [...] Trata-se de um luto alargado, _____ sinto que perdi outro pedaço de família, de referências, de lembranças.
[...] (l. 17-19)
4. 12. Um conectivo poderia ser empregado na lacuna criada nesse fragmento do texto, desde que fosse mantido o seu
sentido original. Trata-se do seguinte termo:
(A) entretanto. (B) mas. (C) ou. (D) pois
13. A autora afirma manter um forte vínculo afetivo com municípios interioranos. Isso se deve principalmente
(A) à sua trajetória profissional, exercida por 18 anos em favor da população dessas cidades.
(B) ao fato de ter vivido em Teresópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro.
(C) à associação que pode ser feita entre família e esses municípios.
(D) ao fato de as cidades interioranas serem muito tranquilas.
Leia a charge:
14. Além da capacidade da fala, o cachorro da charge apresenta outro atributo que o aproxima dos seres humanos.
Trata-se da(o)
(A) ausência do faro apurado, típico dos cães.
(B) manifestação de sentimento de
indignação.
(C) desespero diante de situações
adversas.
(D) individualismo diante da dor alheia.
15. A charge chama atenção para o
descuido das autoridades com as tragédias
naturais e suas consequências para a
população. O fragmento do texto I que
dialoga com essa ideia é
(A) [...] Assim como em Teresópolis, vejo
que os outros municípios da região também
foram abatidos por essa tragédia. [...] (l.
10-12)
(B) [...] Afinal, são quase 18 anos
estudando, pesquisando, formando e,
principalmente, aprendendo com e no
cotidiano das pessoas e das instituições desses vários municípios. [...] (l. 35-38)
(C) [...] Entendo que se trata de uma obrigação civil minha, orgânica, de buscar contribuir e ajudar as pessoas a
diminuírem sua dor e seu sofrimento. [...] (l. 52-54)
(D) [...] devemos cobrar das autoridades a responsabilidade sobre esses fatos e, de forma incansável e
implacável, cobrar medidas eficazes, para impedir que novas tragédias aconteçam. [...] (l. 61-65)
Leia:
16. A pergunta feita pelo homem traz implicitamente a ideia de que
(A) o pagamento dos impostos não
garante qualidade de vida ao cidadão.
(B) todo cidadão deve ter seus
impostos pagos antecipadamente.
(C) o resgate da mulher está
condicionado à quitação de seus
impostos.
(D) o não pagamento de impostos é
uma das causas do aumento de
desastres ambientais.
17. O cachorro dessa charge se opõe
ao do texto II por demonstrar uma
postura de
(A) inércia.
(B) ativismo.
(C) militância.
(D) participação.