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MBA DE GESTÃO EM SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA
Disciplina: Responsabilidade Social Corporativa
Prof. Prof. JUVENAL CORREIA FILHO
As Corporações e O Arquétipo de Destruição
Consuelo Marques
Jean Michel da Silva
Trabalho desenvolvido a partir da leitura do livro
A Corporação, de Joel Barkan, desenvolvida
durante a disciplina de Responsabilidade Social
Corporativa do MBA de Gestão em
Sustentabilidade Corporativa, empregado como
avaliação da referida disciplina.
Curitiba, Paraná
Maio / 2013
 
RESUMO
Este artigo analisa algumas questões levantadas por Joel Barkan em seu
livro a Corporação. São tratados assuntos como a característica externalizadora
das corporações, o arquétipo bem definido e estabelecido das mesmas – neste
ponto recorre-se a conceitos da Psicologia Analítica de Jung; também é feito um
estudo sobre a Corporação Psicopata, além da análise de cases que retratam o
quão devastadora tem sido a relação entre empresas e sociedade.
1. INTRODUÇÃO
É um fato afirmar que nos dias atuais as corporações ditam o ritmo de
nossas vidas. O que compramos, comemos, assistimos, qual roupa devemos
vestir e como nos comportar. A corporação nos dita regras, e até mesmo
controlam a sociedade.
Sua origem tem na necessidade humana de criar um ser, um ente, uma
instituição com direitos de pessoas, porém sem deveres de pessoas; sem moral e
sem consciência. As empresas criadas como “pessoas jurídicas” poderiam ser
levadas a julgamento, mas sem comprometer as pessoas de carne e osso que
comandam a corporação e ditam suas ações. De acordo com Bakan (2008), o
sucesso da corporação está ligado a sua talentosa forma, “e a razão de seu
notável crescimento ao longo dos três últimos séculos foi, e é, sua capacidade de
combinar o capital, e portanto o poder econômico de um ilimitado número de
pessoas.”
Esse ser dotado de muita ganância e sem nenhuma consciência tornou-se
tão poderoso e influenciável a ponto de tornar o governo um ente vulnerável às
suas decisões. No momento em que se instalam na esfera pública, são as
corporações que controlam os setores da sociedade.
Por pressão dos lobbies, o governo retrocede, e deixa de exercer sua
função reguladora. Bakan (2008) afirma que existe uma nova forma de regulação
para ditar o ritmo das corporações: o mercado. Porém, este modelo de regulação
 
encontra uma barreira considerável: ao contrário do governo, que é escolhido
pelas pessoas através do voto, sendo que cada pessoa tem direito
igualitariamente a um voto; no mercado a pessoa basicamente tem seu poder
relacionado ao seu poder de aquisição. Em resumo, para o governo: pessoa =
voto, para a corporação: pessoa = cifra. Sendo assim, ainda que controlado pela
sociedade, a regulação da corporação pelo mercado é desigual, favorece apenas
uma parte desta sociedade; aquela com maior poder aquisitivo.
Qual seria então um modelo de regulamentação destas corporações?
Deixá-la nas mãos dos acionistas continuaria não resolvendo o problema, pois
estes estão focados apenas nos lucros. E os consumidores? O desafio aqui é
como eles terão acesso a informações sobre a produção do produto, a análise do
ciclo de vida; onde se disponibilizariam essas informações e quão representativa
seria a fatia de consumidores conscientes que poderia provocar pressão suficiente
na corporação para que esta mude suas atitudes impensadas e psicopatas, visto
que movimentos desta natureza ainda são esporádicos e sem força.
Porém, dentre todas estas, as sanções formais do governo ainda tornam-se
a melhor alternativa (regulações através de leis exequíveis). Bakan (2008), afirma
que as regulações exigem que as corporações sejam responsáveis, tanto social
quanto ambientalmente. Definem padrões apropriados para o comportamento
corporativo, onde o governo dita as regras; governo este que tem como único
propósito “proteger e promover os interesses da população e refletir o desejo das
pessoas”. Por este meio, buscam-se valores sociais que vão além de interesses
de acionistas e “riquezas que ditam os comportamentos de corporações e
mercados.”
2. A COPORAÇÃO E SEU ARQUÉTIPO DEFINIDO
A má fama das corporações se arrasta ao longo do século XX e chega aos
dias de hoje. O profissional que optou, ou foi condicionado a escolher, pelo
 
trabalho dentro destas instituições, acaba por perceber que a competição pelo
mercado tem ficado cada vez mais acirrada e a ética tem sido deixada em
segundo plano.
Numa luta indiscriminada pelo poder e pela alta lucratividade a qualquer
custo, muitas organizações escolhem métodos fraudulentos e ilegais com o intuito
de garantir fatia do mercado, cortar custo e ter mais rentabilidade – tudo isto à
custa de funcionários, estrategicamente denominados por “colaboradores”, meio
ambiente e sociedade em geral.
E de acordo com Bakan (2008) estas e outras características são
facilmente identificadas em algumas corporações “doentes”. Entre muitas,
destacamos:
a) Incapacidade de seguir as normas sociais e condutas dentro da lei;
b) Descaso pelos sentimentos alheios;
c) Incapacidade de manter relações duradouras;
d) Descaso pela segurança alheia;
e) Insinceridades: repetidas mentiras e trapaças para obter lucro e;
f) Incapacidade de sentir culpa.
Segundo o autor, todas estas características podem ser observadas nas
corporações deficientes de qualquer moral ou ética. Ao analisarmos as
corporações como extensões da mentalidade humana – visto que elas não
existiram caso não houvesse pessoas para gerenciá-las – pode-se notar que este
padrão repetitivo e doentio acabou por criar um arquétipo bem definido
envolvendo o egoísmo e a necessidade descontrolada de tirar vantagens sobre o
próximo. Vale trazer aqui a definição de arquétipo – termo este criado pelo
psiquiatra suíço pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung.
Segundo Jung (2002) os arquétipos são estruturas virtuais, primordiais da
psique, responsáveis por padrões e tendências de comportamentos comuns.
 
“Para Jung, os arquétipos hereditários e representam o aspecto psíquico do
cérebro. São universais, comuns a todos os seres humanos e ordenam imagens
reconhecíveis pelos efeitos que produzem. Pode-se percebê-los pelos complexos
que todos temos, pelas imagens arquetípicas que geram, assim como pelas
tendências culturais coletivas.” (Novaes, 2005).
Ao construirmos uma instituição dotada de valores completamente
distorcidos, na qual a moral e o respeito à vida e ao planeta são questões
indiferentes ( pois, teoricamente, não influenciam aos números de “EBITIDA”, logo
não são de interesse às corporações) , acabamos por criar um padrão de
comportamento, no qual ser socioambientalmente irresponsável se torna algo
comum e impassível de questionamento.
“Em todas as tomadas de decisão corporativas, a
riqueza intangível da vida e sua fragilidade
tornam-se invisíveis em meio a cálculos abstratos
e análises de custo e benefício” (Barkan, 2008, pg.
77).
Ainda utilizando a metáfora da corporação como um “ser vivo” com
comportamento altamente doentio e contagioso, percebemos a forte presença de
um sentimento destruidor em sua essência: o egoísmo. As empresas estão cada
vez mais centradas em si mesmas e enxergam os seus funcionários
(“colaboradores”) como peças, infelizmente, necessárias ao funcionamento de
toda a engrenagem.
“[para a corporação, trabalhadores] não são seres
humanos e sim recursos humanos. Para a
corporação moralmente cega, eles são
ferramentas para gerar o maior lucro possível. E ‘
a ferramenta’ pode ser tratada como um simples
 
pedaço de metal: você usa se quiser e joga fora
se não quiser mais” (Barkan, pg. 82, 2008)
Bakan (2008) dá o nome a estas instituições de “corporações psicopatas”.
Para entendermos este paralelo, vale o um pequeno aprofundamento no tema. A
palavra psicopata foi descrita pela primeira vez em 19411
pelo psiquiatra Hervey M
Cleckey. O médico classificou como portadores desta característica, pessoas
egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com frequência, adotam
comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se
divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Raramente
aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos.
A maneira desumana com que as corporações vem tratando a sociedade e
meio ambiente, retrata nitidamente o perfil psicopata de suas relações. Ela não
consegue seguir preceitos morais para evitar o prejuízo ao próximo. Elas vivem
em busca de seus próprios objetivos egoístas. “A corporação, assim como a
personalidade psicopata com que se parece, está programada para explorar os
outros visando o lucro” (Bakan, pg. 82, 2008).
O arquétipo da destruição está moldado e operante. E uma das maneiras
da corporação terceirizar as reponsabilidades de sua loucura desenfreada pelo
lucro é tentar repassar o peso de suas decisões catastróficas aos outros através
da externalização.
3. A EXTERNALIZAÇÃO
Não sendo regida por preceitos morais e éticos, levando em consideração
apenas seus próprios interesses, a única obrigação da corporação é agradar seus
acionistas. Para este ser psicopata, todas as outras relações negativas possíveis
com comunidade, meio ambiente, consumidores e colaboradores são
____________
1
LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: <
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso em: 20 de Maio
de 2013.
 
consideradas como “problema dos outros”; externalidades. Milton Friedman (in
BAKAN, pg.72, 2008) apresenta um conceito de externalidade:
“Uma externalidade é o efeito de uma transação
para um terceiro que não havia consentido em
participar da realização dessa transação.”
Porém, visto o tamanho e a magnitude da influência da corporação, as
externalidades por elas causadas podem ter seus efeitos sentidos no mundo como
um todo. “Externalizar os custos embutidos na corporação está na raiz de muitas
doenças ambientais e sociais do mundo”. (BAKAN, 2008)
Talvez a situação mais polêmica e discutida de externalizaçao é a questão
envolvendo os produtos “Made in China”. Nos dias atuais é praticamente
impossível fugir de um produto feito por chineses. As grandes empresas de varejo
importam a grande maioria de seus produtos da nova grande potência que se
tornou a China. Mao de obra disponível e barata é o principal fator que leva as
empresas a procurar fornecedores chineses. Porém, como se dá a produção
destes produtos? Quais as reais condições de trabalho destas pessoas que estão
nas fabricas? Qual o custo real do produto adquirido?
O projeto “The Story of Stuff” lançado em 2010, mostra à população
mundial, em formato de vídeo, uma provocação sobre como devastamos os
recursos naturais e exploramos pessoas para mantermos hábitos de consumo
insustentáveis, impulsionados pela mídia de massa que nos força a ter novas
necessidades.
Sara Bongiorni, uma jornalista americana, aceitou o desafio de juntamente
com sua família permanecer um período sem consumir produto algum fabricado
na China. O resultado dessa “odisseia” foi o livro “Um ano sem Made in China”,
onde a mesma relata os desafios e dificuldades de passar um ano inteiro
verificando a origem de cada produto antes de compra-lo, e recusá-lo caso fosse
chinês. Sara não foi motivada por nenhum cunho político, o que ela pretendia
 
verificar era a dependência extrema dos norte-americanos aos produtos chineses.
E confirmou, pois cada vez que precisava de um produto, a dificuldade de
encontrar um não chinês era evidente. Além disso, as despesas com roupas,
móveis, brinquedos, sapatos, etc., tornaram-se muito mais altas, visto que os
produtos chineses são vendidos a preços baixíssimos no mercado, o que
dificilmente paga o seu custo real. Esse fato exemplifica a ciência da exploração,
maximizar o lucro “sugando” o trabalho de pessoas pagas por produção, em
condições de miséria e sofrimento.
O caso dos trabalhadores chineses, entre tantos outros de externalização, é
uma das provas do uso da análise de custos e benefícios utilizados pelas
corporações. A forma como é constituída uma corporação, sua necessidade de
atingir os interesses financeiros acima de tudo, sua prioridade em explorar acima
de beneficiar, faz com que as decisões sejam baseadas apenas nos benefícios
para as corporações e não nos custos, e este é o seu negócio e o principal motivo
pelo qual a corporação não assume suas externalidades. “Cada custo que ela
consegue descarregar em outra pessoa é um benefício para si mesma, um
caminho direto para o lucro” (BARKAN, 2008).
Quem paga o preço das decisões tomadas pelas corporações? Acidentes
de trabalho, mortes, destruição crônica do meio ambiente, diminuição da
qualidade de vida de pessoas, exploração, desvalorização da vida humana e
poluição. Estes são o preço que a sociedade, embora às vezes não os veja, paga
direta ou indiretamente, mais cedo ou mais tarde, pela deficiência da consciência
deste ser psicopata que é a corporação.
O egoísmo da corporação não tem limites, e dele muitas pessoas
diretamente já se tornaram vítimas, em situações que mudaram suas vidas para
sempre.
 
4. VÍTIMAS DO EGOÍSMO (CASES DE INSUCESSO)
Ainda tendo Barkan (2008) como base deste artigo, pode-se citar dois
“cases” de insucesso, nos quais a irresponsabilidade e o egoísmo doentio das
corporações foi responsável pela destruição de vidas, de famílias e do meio
ambiente.
Case 1 - General Motors e Patrícia Anderson.
O primeiro caso trazido por Barkan, nos leva a uma profunda reflexão a
respeito da vida e dos valores distorcidos de uma sociedade detentora de muitas
corporações psicopatas. O autor narra o caso de Patricia Anderson e o famoso
carro Chevrolet Malibu 1979. Era natal de 1993. Patrícia voltava de casa com
seus quatro filhos. A moça, ao ver o sinal ficar vermelho, pára o carro. No entanto
um veículo em alta velocidade não vê o carro parado e colide fortemente com o
Chevrolet Malibu. Patricia e os filhos sofreram graves queimaduras de segundo e
terceiro graus que acabaram por desfigurar seus rostos – o motorista, que por
sinal estava bêbado, nada sofreu além de pequenos arranhões. Patrícia
processou a General Motors, culpado a companhia pela explosão e pelo incêndio.
De acordo com os advogados de Anderson, “O tanque do combustível de seu
Malibu, não tinha proteção adequada contra o impacto de uma colisão” ( Barkan,
pg 73, 2008).
Após longo julgamento, o júri decidiu que a GM realmente era culpada, pois
havia posicionado o tanque de combustível de forma perigosa com o intuito de
cortar custos. O juiz da Surprema corte de Los Angeles, Ernest G. Williams,
deliberou com o seguinte texto:
“A corte considera que evidências claras e
convincentes demonstraram que o tanque de
combustível do acusado foi colocado atrás do eixo
dos automóveis no projeto de fabricação do
modelo em questão, com o objetivo de maximizar
 
os lucros, em detrimento da segurança pública” (
Barkan, pg 73, 2008)
Segundo provas coletadas, a GM estava ciente desta possibilidade
incêndios quando projetou o Malibu e alguns de seus outros modelos. Após o caso
ter ganhado espaço na mídia, outros 6 casos vieram a tona, mostrando que o
problema realmente era sério e necessitava atenção.
Algo muito discutido enquanto acontecia o processo era o valor da vida
humana. Tanto júri, quanto acusados, não conseguiam entrar num consenso de
como indenizar as vítimas. A empresa argumentava que seria necessário estimar
o valor em dólares para ser feita a restituição – um ponto controverso. No fim do
caso, a corporação teve a audácia de indicar que os jurados “ eram humanos
demais” para avaliar a situação. Que eles valorizavam a vida de acordo com seus
próprios interesses, motivos familiares, afetivos, de amizade, e outros “intangíveis”
que fazem “a vida valer a pena”.
Analisado os fatos, podemos perceber o quão egoísta é a
corporação e como somente o resultado das vendas é o que interessa.
“Os executivos não têm autoridade para levar em
consideração os efeitos prejudiciais que uma
decisão pode ter para outras pessoas, como
Patrícia Anderson e seus filhos, ou para o meio
ambiente, a menos que esses efeitos tenham
consequências negativas para a própria
corporação.” ( Barkan, pg 76, 2008)
CASE 2 – Nike e o massacre aos direitos humanos
Outro caso interessante citado pelo autor, aconteceu na Republica
Dominicana. Charles Kernaghan, diretor do Comitê Nacional do Trabalho,
 
descobriu depois de seguir o destino do lixo até aterros sanitários, graves
problemas que afetavam diretamente os direitos humanos.
Pode-se dizer que ele achou “ouro” meio a tanta sujeira. Em uma de suas
incursões ele encontrou cópias de documentos internacionais de precificação da
Nike em uma caixa que havia sido deixada por um dos caminhões de lixo. Lá,
continham números que mostravam o quanto os trabalhadores eram explorados
pela corporação de renome internacional.
“O objetivo da empresa era maximizar o lucro que podia
espremer de meninas e jovens mulheres que costuram
roupas para a nike em fábrica que exploram a mão de
obra barata em países em desenvolvimento [...] Somando
todas as unidades, os cálculos exigiam que cada camisa
levasse no máximo 6,6 minutos para ser fabricada, o que
significa um custo de trabalho de 8 centavos de dólar para
uma camisa que a Nike vende nos EUA por 22,99
dólares.” ( Barkan, pg. 78, 2008)
De acordo com Kernaghan, a maioria destas trabalhadoras são tratadas
como verdadeiras escravas. Ficam trancafiadas em ambientes impróprios, são
supervisionadas por guardas que as humilham e as agridem por qualquer motivo e
repetem o mesmo movimento (de costurar) cerca de 2000 vezes por dia. Isto
demonstra o quão doentio é o processo de exploração criado pelas corporações.
5. Conclusão
Tendo em vista todo o triste cenário no qual as corporações são as
principais protagonistas, pode-se acreditar que toda esta situação jamais se
inverterá e que nos resta apenas acompanhar estes fatos. No entanto, existe a
possibilidade de revertemos esta realidade. Não podemos assistir passivos toda
esta destruição que vem sendo causada, dia após dia, por empresas gananciosas
 
e egoístas. Os tempos são outros. Consumidores tem se tornado cada vez mais
exigentes e mais interessados em conhecer a procedência dos produtos que
consomem, assim como a índole das corporações e todos os envolvidos no
processo: da matéria prima à logística reversa – para onde está indo o lixo
produzido pelos produtos vendidos pelas corporações?
De acordo com Barkan (2008) as corporações são criações nossas, e como
criaturas feitas pelo homem, ainda temos o poder para controla-las e reverter todo
este panorama.
“Chegou a hora de usar este poder, não só
colocando em ação as leis de revogação de
alvará, mas também, num sentido mais amplo,
submetendo as corporações a controles
democráticos mais rigorosos” (Bakan, pg 192,
2008)
Temos que ter em mente que a corporação não é um ser independente. Ela
foi uma ferramenta criada pelo Estado com o intuito de desenvolver a política
social e econômica. Dessa maneira, ela acaba por ter apenas um objetivo
institucional: “servir ao interesse público (e não apenas um conceito circular de
interesse público que se ajusta aos interesses comerciais)” (Barkan, 2008).
Segundo o autor, existe a possibilidade se recriarmos as corporações como
seres não-psicopatas. Existe a real possibilidade de reconstruí-las para servir,
promover e ser responsável por setores mais amplos da sociedade do que apenas
por si mesmas e seus acionistas. Existe aí um grande desafio ( e uma grande
oportunidade): há que se encontrar um meio de controlar a corporação e submetê-
la às restrições democráticas e de proteger os cidadãos de suas tendências
perigosas.
 
Barkan (2008) lista algumas maneiras de fazer com que as corporações se
transformem a médio e longo prazo. São elas:
a) Melhoria do Sistema Regulatório;
O sistema regulador deveria ser revisto para melhorar a prestação de
contas e evitar tanto a “captura da agência” quanto as tendências
centralizadoras e burocráticas do regime atual e dos anteriores.
b) Fortalecer a Democracia Política;
As eleições deveriam ser financiadas pelo poder público, as doações
corporativas deveria ser pouco a pouco eliminadas e o lobby e o fluxo
pendular de pessoal entre o serviço público e as empresas deveriam ter
mais restrições.
c) Criação de uma Esfera Pública Forte;
Grupos sociais e interesses considerados importantes para o bem público
deveriam ser governados e protegidos por administrações públicas.
d) Desafiar o Neoliberalismo Internacional.
As nações deveriam unir-se para afastar as ideologias e as práticas das
instituições internacionais, como a OMC, O FMI e o Banco Mundial, do
fundamentalismo do mercado e sua facilitação por meio da desregulação e
da privatização.
Existem saídas para todo este problema criado por nós: as corporações.
Precisamos reunir esforços para se inverta todo este panorama doentio e
psicopata que hoje vemos.
“O mais importante é não nos esquecermos da
mais subversiva das verdades: as corporações
são nossa criação. Elas não tem vida, poderes e
capacidades além das que nós, por meio dos
governos, lhe damos” (Barkan, pg 199, 2008).
 
6. REFERÊCIAS
BAKAN, Joel. A corporação. São Paulo, Editora Novo Conceito,2008.
JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Tradução: Dora
Mariana R. Ferreira da Silva. Petópolis, Ed. Vozes, 2002.
LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: <
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso
em: 20 de Maio de 2013.
NOVAES, Adenáuer. Mito Pessoal e Destino Humano. Salvador: Fundação Lar
Harmonia, 2005, p. 250.

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Análise da natureza destrutiva da corporação e seu arquétipo definido

  • 1.   MBA DE GESTÃO EM SUSTENTABILIDADE CORPORATIVA Disciplina: Responsabilidade Social Corporativa Prof. Prof. JUVENAL CORREIA FILHO As Corporações e O Arquétipo de Destruição Consuelo Marques Jean Michel da Silva Trabalho desenvolvido a partir da leitura do livro A Corporação, de Joel Barkan, desenvolvida durante a disciplina de Responsabilidade Social Corporativa do MBA de Gestão em Sustentabilidade Corporativa, empregado como avaliação da referida disciplina. Curitiba, Paraná Maio / 2013
  • 2.   RESUMO Este artigo analisa algumas questões levantadas por Joel Barkan em seu livro a Corporação. São tratados assuntos como a característica externalizadora das corporações, o arquétipo bem definido e estabelecido das mesmas – neste ponto recorre-se a conceitos da Psicologia Analítica de Jung; também é feito um estudo sobre a Corporação Psicopata, além da análise de cases que retratam o quão devastadora tem sido a relação entre empresas e sociedade. 1. INTRODUÇÃO É um fato afirmar que nos dias atuais as corporações ditam o ritmo de nossas vidas. O que compramos, comemos, assistimos, qual roupa devemos vestir e como nos comportar. A corporação nos dita regras, e até mesmo controlam a sociedade. Sua origem tem na necessidade humana de criar um ser, um ente, uma instituição com direitos de pessoas, porém sem deveres de pessoas; sem moral e sem consciência. As empresas criadas como “pessoas jurídicas” poderiam ser levadas a julgamento, mas sem comprometer as pessoas de carne e osso que comandam a corporação e ditam suas ações. De acordo com Bakan (2008), o sucesso da corporação está ligado a sua talentosa forma, “e a razão de seu notável crescimento ao longo dos três últimos séculos foi, e é, sua capacidade de combinar o capital, e portanto o poder econômico de um ilimitado número de pessoas.” Esse ser dotado de muita ganância e sem nenhuma consciência tornou-se tão poderoso e influenciável a ponto de tornar o governo um ente vulnerável às suas decisões. No momento em que se instalam na esfera pública, são as corporações que controlam os setores da sociedade. Por pressão dos lobbies, o governo retrocede, e deixa de exercer sua função reguladora. Bakan (2008) afirma que existe uma nova forma de regulação para ditar o ritmo das corporações: o mercado. Porém, este modelo de regulação
  • 3.   encontra uma barreira considerável: ao contrário do governo, que é escolhido pelas pessoas através do voto, sendo que cada pessoa tem direito igualitariamente a um voto; no mercado a pessoa basicamente tem seu poder relacionado ao seu poder de aquisição. Em resumo, para o governo: pessoa = voto, para a corporação: pessoa = cifra. Sendo assim, ainda que controlado pela sociedade, a regulação da corporação pelo mercado é desigual, favorece apenas uma parte desta sociedade; aquela com maior poder aquisitivo. Qual seria então um modelo de regulamentação destas corporações? Deixá-la nas mãos dos acionistas continuaria não resolvendo o problema, pois estes estão focados apenas nos lucros. E os consumidores? O desafio aqui é como eles terão acesso a informações sobre a produção do produto, a análise do ciclo de vida; onde se disponibilizariam essas informações e quão representativa seria a fatia de consumidores conscientes que poderia provocar pressão suficiente na corporação para que esta mude suas atitudes impensadas e psicopatas, visto que movimentos desta natureza ainda são esporádicos e sem força. Porém, dentre todas estas, as sanções formais do governo ainda tornam-se a melhor alternativa (regulações através de leis exequíveis). Bakan (2008), afirma que as regulações exigem que as corporações sejam responsáveis, tanto social quanto ambientalmente. Definem padrões apropriados para o comportamento corporativo, onde o governo dita as regras; governo este que tem como único propósito “proteger e promover os interesses da população e refletir o desejo das pessoas”. Por este meio, buscam-se valores sociais que vão além de interesses de acionistas e “riquezas que ditam os comportamentos de corporações e mercados.” 2. A COPORAÇÃO E SEU ARQUÉTIPO DEFINIDO A má fama das corporações se arrasta ao longo do século XX e chega aos dias de hoje. O profissional que optou, ou foi condicionado a escolher, pelo
  • 4.   trabalho dentro destas instituições, acaba por perceber que a competição pelo mercado tem ficado cada vez mais acirrada e a ética tem sido deixada em segundo plano. Numa luta indiscriminada pelo poder e pela alta lucratividade a qualquer custo, muitas organizações escolhem métodos fraudulentos e ilegais com o intuito de garantir fatia do mercado, cortar custo e ter mais rentabilidade – tudo isto à custa de funcionários, estrategicamente denominados por “colaboradores”, meio ambiente e sociedade em geral. E de acordo com Bakan (2008) estas e outras características são facilmente identificadas em algumas corporações “doentes”. Entre muitas, destacamos: a) Incapacidade de seguir as normas sociais e condutas dentro da lei; b) Descaso pelos sentimentos alheios; c) Incapacidade de manter relações duradouras; d) Descaso pela segurança alheia; e) Insinceridades: repetidas mentiras e trapaças para obter lucro e; f) Incapacidade de sentir culpa. Segundo o autor, todas estas características podem ser observadas nas corporações deficientes de qualquer moral ou ética. Ao analisarmos as corporações como extensões da mentalidade humana – visto que elas não existiram caso não houvesse pessoas para gerenciá-las – pode-se notar que este padrão repetitivo e doentio acabou por criar um arquétipo bem definido envolvendo o egoísmo e a necessidade descontrolada de tirar vantagens sobre o próximo. Vale trazer aqui a definição de arquétipo – termo este criado pelo psiquiatra suíço pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung. Segundo Jung (2002) os arquétipos são estruturas virtuais, primordiais da psique, responsáveis por padrões e tendências de comportamentos comuns.
  • 5.   “Para Jung, os arquétipos hereditários e representam o aspecto psíquico do cérebro. São universais, comuns a todos os seres humanos e ordenam imagens reconhecíveis pelos efeitos que produzem. Pode-se percebê-los pelos complexos que todos temos, pelas imagens arquetípicas que geram, assim como pelas tendências culturais coletivas.” (Novaes, 2005). Ao construirmos uma instituição dotada de valores completamente distorcidos, na qual a moral e o respeito à vida e ao planeta são questões indiferentes ( pois, teoricamente, não influenciam aos números de “EBITIDA”, logo não são de interesse às corporações) , acabamos por criar um padrão de comportamento, no qual ser socioambientalmente irresponsável se torna algo comum e impassível de questionamento. “Em todas as tomadas de decisão corporativas, a riqueza intangível da vida e sua fragilidade tornam-se invisíveis em meio a cálculos abstratos e análises de custo e benefício” (Barkan, 2008, pg. 77). Ainda utilizando a metáfora da corporação como um “ser vivo” com comportamento altamente doentio e contagioso, percebemos a forte presença de um sentimento destruidor em sua essência: o egoísmo. As empresas estão cada vez mais centradas em si mesmas e enxergam os seus funcionários (“colaboradores”) como peças, infelizmente, necessárias ao funcionamento de toda a engrenagem. “[para a corporação, trabalhadores] não são seres humanos e sim recursos humanos. Para a corporação moralmente cega, eles são ferramentas para gerar o maior lucro possível. E ‘ a ferramenta’ pode ser tratada como um simples
  • 6.   pedaço de metal: você usa se quiser e joga fora se não quiser mais” (Barkan, pg. 82, 2008) Bakan (2008) dá o nome a estas instituições de “corporações psicopatas”. Para entendermos este paralelo, vale o um pequeno aprofundamento no tema. A palavra psicopata foi descrita pela primeira vez em 19411 pelo psiquiatra Hervey M Cleckey. O médico classificou como portadores desta característica, pessoas egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com frequência, adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos. A maneira desumana com que as corporações vem tratando a sociedade e meio ambiente, retrata nitidamente o perfil psicopata de suas relações. Ela não consegue seguir preceitos morais para evitar o prejuízo ao próximo. Elas vivem em busca de seus próprios objetivos egoístas. “A corporação, assim como a personalidade psicopata com que se parece, está programada para explorar os outros visando o lucro” (Bakan, pg. 82, 2008). O arquétipo da destruição está moldado e operante. E uma das maneiras da corporação terceirizar as reponsabilidades de sua loucura desenfreada pelo lucro é tentar repassar o peso de suas decisões catastróficas aos outros através da externalização. 3. A EXTERNALIZAÇÃO Não sendo regida por preceitos morais e éticos, levando em consideração apenas seus próprios interesses, a única obrigação da corporação é agradar seus acionistas. Para este ser psicopata, todas as outras relações negativas possíveis com comunidade, meio ambiente, consumidores e colaboradores são ____________ 1 LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso em: 20 de Maio de 2013.
  • 7.   consideradas como “problema dos outros”; externalidades. Milton Friedman (in BAKAN, pg.72, 2008) apresenta um conceito de externalidade: “Uma externalidade é o efeito de uma transação para um terceiro que não havia consentido em participar da realização dessa transação.” Porém, visto o tamanho e a magnitude da influência da corporação, as externalidades por elas causadas podem ter seus efeitos sentidos no mundo como um todo. “Externalizar os custos embutidos na corporação está na raiz de muitas doenças ambientais e sociais do mundo”. (BAKAN, 2008) Talvez a situação mais polêmica e discutida de externalizaçao é a questão envolvendo os produtos “Made in China”. Nos dias atuais é praticamente impossível fugir de um produto feito por chineses. As grandes empresas de varejo importam a grande maioria de seus produtos da nova grande potência que se tornou a China. Mao de obra disponível e barata é o principal fator que leva as empresas a procurar fornecedores chineses. Porém, como se dá a produção destes produtos? Quais as reais condições de trabalho destas pessoas que estão nas fabricas? Qual o custo real do produto adquirido? O projeto “The Story of Stuff” lançado em 2010, mostra à população mundial, em formato de vídeo, uma provocação sobre como devastamos os recursos naturais e exploramos pessoas para mantermos hábitos de consumo insustentáveis, impulsionados pela mídia de massa que nos força a ter novas necessidades. Sara Bongiorni, uma jornalista americana, aceitou o desafio de juntamente com sua família permanecer um período sem consumir produto algum fabricado na China. O resultado dessa “odisseia” foi o livro “Um ano sem Made in China”, onde a mesma relata os desafios e dificuldades de passar um ano inteiro verificando a origem de cada produto antes de compra-lo, e recusá-lo caso fosse chinês. Sara não foi motivada por nenhum cunho político, o que ela pretendia
  • 8.   verificar era a dependência extrema dos norte-americanos aos produtos chineses. E confirmou, pois cada vez que precisava de um produto, a dificuldade de encontrar um não chinês era evidente. Além disso, as despesas com roupas, móveis, brinquedos, sapatos, etc., tornaram-se muito mais altas, visto que os produtos chineses são vendidos a preços baixíssimos no mercado, o que dificilmente paga o seu custo real. Esse fato exemplifica a ciência da exploração, maximizar o lucro “sugando” o trabalho de pessoas pagas por produção, em condições de miséria e sofrimento. O caso dos trabalhadores chineses, entre tantos outros de externalização, é uma das provas do uso da análise de custos e benefícios utilizados pelas corporações. A forma como é constituída uma corporação, sua necessidade de atingir os interesses financeiros acima de tudo, sua prioridade em explorar acima de beneficiar, faz com que as decisões sejam baseadas apenas nos benefícios para as corporações e não nos custos, e este é o seu negócio e o principal motivo pelo qual a corporação não assume suas externalidades. “Cada custo que ela consegue descarregar em outra pessoa é um benefício para si mesma, um caminho direto para o lucro” (BARKAN, 2008). Quem paga o preço das decisões tomadas pelas corporações? Acidentes de trabalho, mortes, destruição crônica do meio ambiente, diminuição da qualidade de vida de pessoas, exploração, desvalorização da vida humana e poluição. Estes são o preço que a sociedade, embora às vezes não os veja, paga direta ou indiretamente, mais cedo ou mais tarde, pela deficiência da consciência deste ser psicopata que é a corporação. O egoísmo da corporação não tem limites, e dele muitas pessoas diretamente já se tornaram vítimas, em situações que mudaram suas vidas para sempre.
  • 9.   4. VÍTIMAS DO EGOÍSMO (CASES DE INSUCESSO) Ainda tendo Barkan (2008) como base deste artigo, pode-se citar dois “cases” de insucesso, nos quais a irresponsabilidade e o egoísmo doentio das corporações foi responsável pela destruição de vidas, de famílias e do meio ambiente. Case 1 - General Motors e Patrícia Anderson. O primeiro caso trazido por Barkan, nos leva a uma profunda reflexão a respeito da vida e dos valores distorcidos de uma sociedade detentora de muitas corporações psicopatas. O autor narra o caso de Patricia Anderson e o famoso carro Chevrolet Malibu 1979. Era natal de 1993. Patrícia voltava de casa com seus quatro filhos. A moça, ao ver o sinal ficar vermelho, pára o carro. No entanto um veículo em alta velocidade não vê o carro parado e colide fortemente com o Chevrolet Malibu. Patricia e os filhos sofreram graves queimaduras de segundo e terceiro graus que acabaram por desfigurar seus rostos – o motorista, que por sinal estava bêbado, nada sofreu além de pequenos arranhões. Patrícia processou a General Motors, culpado a companhia pela explosão e pelo incêndio. De acordo com os advogados de Anderson, “O tanque do combustível de seu Malibu, não tinha proteção adequada contra o impacto de uma colisão” ( Barkan, pg 73, 2008). Após longo julgamento, o júri decidiu que a GM realmente era culpada, pois havia posicionado o tanque de combustível de forma perigosa com o intuito de cortar custos. O juiz da Surprema corte de Los Angeles, Ernest G. Williams, deliberou com o seguinte texto: “A corte considera que evidências claras e convincentes demonstraram que o tanque de combustível do acusado foi colocado atrás do eixo dos automóveis no projeto de fabricação do modelo em questão, com o objetivo de maximizar
  • 10.   os lucros, em detrimento da segurança pública” ( Barkan, pg 73, 2008) Segundo provas coletadas, a GM estava ciente desta possibilidade incêndios quando projetou o Malibu e alguns de seus outros modelos. Após o caso ter ganhado espaço na mídia, outros 6 casos vieram a tona, mostrando que o problema realmente era sério e necessitava atenção. Algo muito discutido enquanto acontecia o processo era o valor da vida humana. Tanto júri, quanto acusados, não conseguiam entrar num consenso de como indenizar as vítimas. A empresa argumentava que seria necessário estimar o valor em dólares para ser feita a restituição – um ponto controverso. No fim do caso, a corporação teve a audácia de indicar que os jurados “ eram humanos demais” para avaliar a situação. Que eles valorizavam a vida de acordo com seus próprios interesses, motivos familiares, afetivos, de amizade, e outros “intangíveis” que fazem “a vida valer a pena”. Analisado os fatos, podemos perceber o quão egoísta é a corporação e como somente o resultado das vendas é o que interessa. “Os executivos não têm autoridade para levar em consideração os efeitos prejudiciais que uma decisão pode ter para outras pessoas, como Patrícia Anderson e seus filhos, ou para o meio ambiente, a menos que esses efeitos tenham consequências negativas para a própria corporação.” ( Barkan, pg 76, 2008) CASE 2 – Nike e o massacre aos direitos humanos Outro caso interessante citado pelo autor, aconteceu na Republica Dominicana. Charles Kernaghan, diretor do Comitê Nacional do Trabalho,
  • 11.   descobriu depois de seguir o destino do lixo até aterros sanitários, graves problemas que afetavam diretamente os direitos humanos. Pode-se dizer que ele achou “ouro” meio a tanta sujeira. Em uma de suas incursões ele encontrou cópias de documentos internacionais de precificação da Nike em uma caixa que havia sido deixada por um dos caminhões de lixo. Lá, continham números que mostravam o quanto os trabalhadores eram explorados pela corporação de renome internacional. “O objetivo da empresa era maximizar o lucro que podia espremer de meninas e jovens mulheres que costuram roupas para a nike em fábrica que exploram a mão de obra barata em países em desenvolvimento [...] Somando todas as unidades, os cálculos exigiam que cada camisa levasse no máximo 6,6 minutos para ser fabricada, o que significa um custo de trabalho de 8 centavos de dólar para uma camisa que a Nike vende nos EUA por 22,99 dólares.” ( Barkan, pg. 78, 2008) De acordo com Kernaghan, a maioria destas trabalhadoras são tratadas como verdadeiras escravas. Ficam trancafiadas em ambientes impróprios, são supervisionadas por guardas que as humilham e as agridem por qualquer motivo e repetem o mesmo movimento (de costurar) cerca de 2000 vezes por dia. Isto demonstra o quão doentio é o processo de exploração criado pelas corporações. 5. Conclusão Tendo em vista todo o triste cenário no qual as corporações são as principais protagonistas, pode-se acreditar que toda esta situação jamais se inverterá e que nos resta apenas acompanhar estes fatos. No entanto, existe a possibilidade de revertemos esta realidade. Não podemos assistir passivos toda esta destruição que vem sendo causada, dia após dia, por empresas gananciosas
  • 12.   e egoístas. Os tempos são outros. Consumidores tem se tornado cada vez mais exigentes e mais interessados em conhecer a procedência dos produtos que consomem, assim como a índole das corporações e todos os envolvidos no processo: da matéria prima à logística reversa – para onde está indo o lixo produzido pelos produtos vendidos pelas corporações? De acordo com Barkan (2008) as corporações são criações nossas, e como criaturas feitas pelo homem, ainda temos o poder para controla-las e reverter todo este panorama. “Chegou a hora de usar este poder, não só colocando em ação as leis de revogação de alvará, mas também, num sentido mais amplo, submetendo as corporações a controles democráticos mais rigorosos” (Bakan, pg 192, 2008) Temos que ter em mente que a corporação não é um ser independente. Ela foi uma ferramenta criada pelo Estado com o intuito de desenvolver a política social e econômica. Dessa maneira, ela acaba por ter apenas um objetivo institucional: “servir ao interesse público (e não apenas um conceito circular de interesse público que se ajusta aos interesses comerciais)” (Barkan, 2008). Segundo o autor, existe a possibilidade se recriarmos as corporações como seres não-psicopatas. Existe a real possibilidade de reconstruí-las para servir, promover e ser responsável por setores mais amplos da sociedade do que apenas por si mesmas e seus acionistas. Existe aí um grande desafio ( e uma grande oportunidade): há que se encontrar um meio de controlar a corporação e submetê- la às restrições democráticas e de proteger os cidadãos de suas tendências perigosas.
  • 13.   Barkan (2008) lista algumas maneiras de fazer com que as corporações se transformem a médio e longo prazo. São elas: a) Melhoria do Sistema Regulatório; O sistema regulador deveria ser revisto para melhorar a prestação de contas e evitar tanto a “captura da agência” quanto as tendências centralizadoras e burocráticas do regime atual e dos anteriores. b) Fortalecer a Democracia Política; As eleições deveriam ser financiadas pelo poder público, as doações corporativas deveria ser pouco a pouco eliminadas e o lobby e o fluxo pendular de pessoal entre o serviço público e as empresas deveriam ter mais restrições. c) Criação de uma Esfera Pública Forte; Grupos sociais e interesses considerados importantes para o bem público deveriam ser governados e protegidos por administrações públicas. d) Desafiar o Neoliberalismo Internacional. As nações deveriam unir-se para afastar as ideologias e as práticas das instituições internacionais, como a OMC, O FMI e o Banco Mundial, do fundamentalismo do mercado e sua facilitação por meio da desregulação e da privatização. Existem saídas para todo este problema criado por nós: as corporações. Precisamos reunir esforços para se inverta todo este panorama doentio e psicopata que hoje vemos. “O mais importante é não nos esquecermos da mais subversiva das verdades: as corporações são nossa criação. Elas não tem vida, poderes e capacidades além das que nós, por meio dos governos, lhe damos” (Barkan, pg 199, 2008).
  • 14.   6. REFERÊCIAS BAKAN, Joel. A corporação. São Paulo, Editora Novo Conceito,2008. JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Tradução: Dora Mariana R. Ferreira da Silva. Petópolis, Ed. Vozes, 2002. LILIENFELD, Scott O. O Que é um psicopata? Disponível em: < http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata_.html> Acesso em: 20 de Maio de 2013. NOVAES, Adenáuer. Mito Pessoal e Destino Humano. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2005, p. 250.