Análise do comportamento eleitoral e identidade ideológica do povo brasileiro
1. Aluno: Jean Michel Gallo Soldatelli
Nº USP – 6441052
Prova final – FLP0425 – Teorias do Comportamento Eleitoral e Identidade
Ideológica
Prof. André Singer – período noturno
Utilizando a bibliografia obrigatória do curso, exponha qual é, em sua visão, a lógica
do eleitorado brasileiro. Procure exemplificar seu ponto de vista com os casos
estudados.
Apesar da jovem democracia, a formação do pensamento do eleitorado
brasileiro vem se constituindo há tempos, antes mesmo de quando o mesmo
tinha poder de voto. Passando do populismo de Getúlio Vargas às Diretas, a
criação de um pensamento político estruturado na sociedade brasileira sempre
foi um desafio. Historicamente, eleitores se moldam de acordo com a situação
atual do país, deles próprios, ou de sua classe.
Iniciando as análises pelo populismo, que surgiu quando havia uma brecha de
comando após a queda da burguesia agrária, percebemos que Getúlio Vargas
se uniu a burguesia para um governo que através de uma série de direitos
coletivos cai nos braços do povo. Com essa idéia, percebemos que o proletário
faz um salto individual, e desta forma tem um pensamento individualista onde o
salto social tem uma menor importância.
O populismo não é de classe, é da massa. Afinal, a classe é organizada e
organiza o poder, prova disso são, por exemplo, as centrais sindicais que
posteriormente seriam um dos berços de um dos maiores partidos do país
atualmente. Já a massa é desorganizada, logo precisa de alguém para
organizá-la. Desta forma, podemos perceber que a sociedade via o governo
como uma necessidade, é o meio para que as melhorias possam acontecer.
Esta necessidade de um governo forte tem raízes ainda no coronelismo, onde
o coronel centralizava as necessidades e os benefícios em troca do controle
político. E hoje, revivemos um novo tipo de populismo, onde através do
enriquecimento do país uma série de medidas taxativas tornaram possíveis um
2. conjunto de benefícios as classes mais baixas da sociedade, voltando a lógica
do salto social.
Desta primeira análise podemos tirar uma hipótese interessante: uma grande
parte da população é massa, que vota de acordo com os benefícios adquiridos.
Portanto, a população tem como um padrão de voto baseado nas melhorias
econômicas: se a economia vai bem, a situação provavelmente fica no poder,
do contrário a oposição ganha. E como a grande maioria do eleitorado não
possuí um voto ideológico, se as coisas estiverem ruins a oposição irá ganhar,
independente de qual seja essa oposição.
Um dos pontos mais interessantes para analisarmos a lógica do eleitorado
brasileiro são as conexões que fazem na hora de compor o raciocínio e, com
isso, como se enquadram nos diferentes tipos grupos de votos. O problema é
que estas conexões demandam um alto nível de conhecimento não apenas
sobre política, mas econômicas, sociais, psicológicas, entre outras. E o povo
brasileiro, em sua grande parte, não possuí estes conhecimentos e muitas
vezes nem o interessa tê-los. Isso acontece por inúmeros motivos, que vão
desde fatores familiares (eu gosto de certo candidato pois minha família gosta)
até pela própria descrença no sistema de governo, o que torna o eleitor
acomodado e menos propenso a sequer estipular suas próprias opiniões.
Visto isso, podemos analisar o eleitorado brasileiro é usando como base a
separação nos grupos de votos: ideológico, quase-ideológicos, interesses de
grupo, nature of times e sem centralidade. A porcentagem dos grupos
considerados ideológico ou quase-ideológicos (aqueles que fazem todas ou
quase todas as conexões de idéias) não é suficiente para a eleição ou não de
alguém ou algum partido. Portanto, as decisões ficam nas mãos de três grupos:
aqueles que possuem interesses de grupo, e aí podemos incluir tanto raças,
religiões, níveis sociais, entre outros; aqueles que votam com um critério
comparativo, chamados de “nature of times”, ou seja, votam no Alckmin pois
acham que na época do FHC era melhor; e por último, e mais definitivo, os
“sem centralidade”, que decidem seus votos de acordo com critérios como
simpatia, e portanto são os mais atingidos pela propaganda política. Com isso,
podemos chegar em outra hipótese: o eleitorado brasileiro tem dificuldades ou
3. desinteresse em realizar conexões lógicas e não entende as ideologias como
um todo, e assim as decisões são moldadas de acordo com interesses
individuais ou propagandas políticas. Desta forma a coerência passa
despercebida, o que explica o alto número de promessas contraditórias feitas
apenas para angariar a maior fatia do eleitorado possível, como por exemplo o
aumento do bolsa família e a diminuição dos impostos.
Outro ponto que define a lógica do eleitorado brasileiro são os objetos de voto,
ou seja, os partidos. Nossos governantes são eleitos por votos majoritários, e
as eleições majoritárias tendem ao bipartidarismo. Porém, o caso brasileiro não
é tão maniqueísta como o americano pela presença de outros partidos que
forçam uma maior dispersão na linha do posicionamento político. Por exemplo,
a presença do PFL, partido visto como bem mais extremista do que o PSDB na
direita, acaba forçando este a tender mais para o centro. No outro lado isso não
é diferente, já que o PSOL por exemplo é bem mais extremista que o PT. A
diferença fica por conta do PMDB, que pelo menos nas décadas de 80/90
representavam os interesses do centro. A queda de popularidade do PMDB por
conta da falta de identificação sociológica com o povo acabou o empurrando
para a direita, apesar disso a herança do coronelismo preserva suas forças o
que o torna indispensável para o governo. Este deslocamento do PMDB abriu
espaço para dois movimentos: a abertura do espaço dominado pelo PT na
centro-esquerda e a tentativa de novos partidos (mas velhas figuras) de
abocanharem esta brecha de posicionamento, como acontece agora com o
PSD.
Assim temos um conjunto de partidos que se moldam ao perfil do consumidor e
que apesar de se posicionarem como de esquerda, centro, ou direita, abraçam
algumas mesmas causas em busca de popularidade. Isto reforça a menor
importância da ideologia frente o partido. Ou seja, a identificação partidária é
muito mais forte do que a identificação ideológica. Continuando o raciocínio, a
identificação com o candidato é por vezes maior que a identificação partidária,
pois se identificar com uma pessoa é muito mais fácil do que se identificar com
crenças e objetivos. Isso ajuda a explicar, por exemplo, a popularidade de Lula
mesmo no período onde seu partido sofreu com as acusações de corrupção,
ele usou a identificação pessoal e os benefícios propostos e se afastou da
4. característica partidária para ser eleito. Por outro lado, em cargos com menor
envolvimento pessoal, como deputados e vereadores, as decisões são
tomadas com grande influência partidária, o que indica a forte ligação partidária
frente a ideológica.
Portanto, na minha visão, podemos analisar o eleitorado brasileiro como um
eleitorado que ainda precisa amadurecer, ainda é bastante influenciado por
suas raízes históricas e possuí uma alta desinformação e descrença em
ideologias, o que o torna mais manipulável pelos partidos e candidatos.
Com tudo isso, podemos construir algumas hipóteses sobre a lógica do
eleitorado brasileiro.
A primeira é a de que as raízes da formação do pensamento do eleitor
brasileiro estão mais fortes na história do que nos fatos ou na ideologia dos
partidos.
Outra hipótese que podemos considerar é que o voto partidário é muito mais
forte do que o voto ideológico no Brasil.
Por último a fragilidade da conexões lógicas e da ideologia no eleitorado
brasileiro.
Por fim, a principal tese que consideraria é que o processo de decisão e a
conexão das idéias da maioria dos brasileiros é simples.
Voto retrospectivo, onde o eleitor está preocupado com os resultados e os
governantes são os meios, desta forma ele coloca a racionalidade no passado,
ou seja, ele não sabe como resolver mas sabe quem resolveu.
Voto prospectivo, ideológico, ou seja, pautado na equiparação de valores e na
busca de informações para que se faça uma conexão lógica que defina os
candidatos e partidos que mais se assemelham ao seu pensamento.