SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
Jorge Barbosa
FILOSOFIA
Curso de Artes Visuais
Fevereiro, 2013




C O N T R I B U TO D E D E S C A R T E S PA R A A F I LO S O F I A
                           MODERNA




    Descartes, logo no início do Discurso do Método, manifesta o seu desencanto por não encontrar
um conhecimento certo em filosofia. Tudo o que estudou lhe parece sem fundamento.

    A história da filosofia mostra uma sucessão inacabada de opiniões, que depois são refutadas
numa sucessão contínua. Por isso, quer empreender, com firmeza e com segurança, a construção de
uma filosofia certa e duradoura. Com esse objetivo, propõe-se eliminar previamente todas as fontes
possíveis de erro e de incerteza. Embora seja sua intenção criticar a filosofia aristotélica, que dominava
na sua época, a verdade é que mantém a divisão de Aristóteles das faculdades da alma: sentidos
exteriores, sentido comum, memória, imaginação e entendimento. Todas essas faculdades, à exceção
do entendimento, funcionam graças à união do corpo com a alma. Os sentidos dependem da ação
dos objetos exteriores, que imprimem neles imagens à maneira de um carimbo em cera. Segundo
Descartes, possuímos uma dupla memória, sensitiva e intelectual. A primeira depende da imaginação,
que está ligada a imagens com origem no corpo, a segunda depende do entendimento. Só o
entendimento é espiritual e pode funcionar separadamente do corpo. Por isso, é a única faculdade
capaz de intuir clara e distintamente as ideias ou as “naturezas simples”1, prescindindo das
imagens e das impressões, e a única a ser capaz de alcançar a verdade. Os sentidos e a imaginação
podem ajudar-nos, mas também podem criar-nos dificuldades.

     A causa principal dos nossos erros provém dos sentidos e da imaginação. Desde a infância, em
que vivemos sob o domínio dos sentidos, adquirimos muitos preconceitos, e é necessário eliminá-los
previamente se quisermos chegar à verdade e à certeza. Daqui resulta a insistência com que
Descartes tenta desligar-se dos sentidos e da imaginação, excluindo da sua investigação todos os
elementos procedentes da experiência sensível, recorrendo só a elementos procedentes da sua
interioridade intelectual. Para proceder com garantia de alcançar a verdade é indispensável um
trabalho prévio de depuração e de libertação dos sentidos.


1 “Naturezas simples” é um termo que se refere aos últimos elementos, a que se acede através da análise, e que são
conhecidos por via das ideias claras e distintas, através da intuição. Há três tipos de naturezas simples: 1) materiais, que
estão só nos corpos (movimento, extensão…); 2) espirituais, que estão só na mente (pensar, duvidar, amar…); 3)
comuns a ambas (a existência, o tempo…)
Descartes prescinde da experiência sensível como ponto de partida. Para se preservar do erro e
alcançar a verdade, só confia no uso puro da sua razão recolhida dentro de si mesma, funcionando de
portas fechadas, desligada de qualquer tipo de contacto com o mundo da experiência sensível, tendo
em vista fazer as suas deduções rigorosamente a partir de ideias claras e distintas. Não parte da
realidade das coisas para chegar à ideia, mas da ideia para chegar à realidade. A sua investigação, tal
como a de Kant (que veremos mais tarde), será puramente interna, tal como a percebe a razão

Os Motivos para Duvidar

    Trata-se de colocar em dúvida os conhecimentos até então tidos como certos, até que não reste
qualquer motivo para duvidar, mesmo que essa dúvida nos pareça exagerada ou até ridícula. Não será
necessário recusar, uma a uma, todas a nossas ideias isoladamente - trabalho impensável -, bastará
contestar a origem de onde elas provêm. Essa dúvida situa-se, então, em três níveis concretos:

Os Sentidos podem enganar-nos

    É certamente difícil admitir que os sentidos nos enganem sempre, mas, ainda que remota, existe a
possibilidade de isso acontecer, isto é, não podemos ter a certeza absoluta de que não nos enganem,
porque é possível que algumas vezes o façam. Portanto, devemos considerar provisoriamente falsos
todos os dados que tenham origem nos sentidos, até porque quando somos enganados por eles não
temos consciência do erro em que estamos a incorrer.

A Confusão entre a vigília e o sono

     Duvidar dos dados com origem nos sentidos permite-nos pôr em dúvida que os objetos
percepcionados sejam tal como os percepcionamos, mas não nos permite duvidar da sua existência.
No entanto, quem não sonhou alguma vez e não se representou em sonhos as mesmas coisas que
vivenciou em estado de vigília e até com maior intensidade, sendo enganado, enquanto dormia, por
essas ilusões? Parece fácil saber quando estou acordado ou a dormir, e, assim, evitar o erro. “Mas se
pensar nisso com atenção, lembro-me de que muitas vezes ilusões desta natureza me enganaram
enquanto dormia; e ao acordar com esse pensamento, vejo muito claramente que não há indícios certos
para distinguir o sono da vigília, a tal ponto que fico baralhado e é tão grande a confusão que quase me
convenço de que ainda continuo a dormir.”2 Desta dificuldade, que consiste em distinguir com toda a
evidência a vigília do sono, resulta o imperativo de duvidar da existência de um mundo exterior ao
meu pensamento. Assim, de novo provisoriamente, Descartes considera falsa a existência desse
mundo exterior ao pensamento.

A Hipótese do génio maligno

     É possível, diz Descartes, duvidar de todas as percepções dos sentidos, porque, às vezes, nos
enganam, e, para além disso, acontece que, em certas ocasiões, não conseguimos distinguir se o que
se está a passar é um sonho ou uma realidade. Deste modo, a dúvida não abrange somente uma


2   in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
determinada sensação, mas toda a realidade exterior ao pensamento: pode acontecer que tudo não
passe de um sonho. Apesar desta enorme dúvida, há algo que pode parecer uma certeza, pelo
menos, temporária: nem em sonhos é possível duvidar das verdades matemáticas, segundo as quais
2+2=4, e um quadrado não pode ter mais de quatro lados. Por outras palavras, é possível duvidar de
tudo o que se conhece a posteriori, mas não parece possível duvidar do que conhecemos a priori.
Mesmo assim, Descartes ainda encontra razões para prosseguir na sua dúvida metódica: inventa a
hipótese de um génio maligno, de um diabrete que andasse por aí a brincar connosco, fazendo-nos
ter por certo o conhecimento a priori.

     Ninguém nos garante que não estejamos sob o domínio de um deus maligno, “astucioso,
enganador e poderoso” que nos esteja a confundir no que diz respeito às noções matemáticas.
“Assim, suporei que há, não um verdadeiro Deus - que é a fonte suprema de verdade -, mas um génio
maligno, tão astucioso e enganador quanto poderoso, o qual recorre a todo o seu engenho para me
enganar.” 3 A hipótese do génio maligno é uma metáfora que faz com que a dúvida incida também
sobre a própria razão. Por outras palavras, quem é que me garante que, quando somo 2+2 ou faço
operações semelhantes, cuja conclusão se manifesta evidente, eu estou na verdade? Teremos de
considerar também provisoriamente falsas - ou, pelo menos, duvidosas - as matemáticas.



Em Busca da Certeza
     Em resumo, a nossa natureza humana pode ser de tal forma que nos engane quando acreditamos
saber que algo é verdadeiro ou falso. Também é possível, então, duvidar das certezas das matemáticas.
No entanto, há algo que escapa ao poder do génio maligno e à própria possibilidade de a natureza
humana funcionar mal: se o deus maligno me engana, então existo; se me engano a mim mesmo,
também existo, pelo que, desta forma, Descartes vai superar a dúvida hiperbólica, esta dúvida que põe
em causa, não só a toda a existência exterior ao nosso pensamento, mas a própria razão matemática.
Isto é, a dúvida conduz à consciência de duvidar e, por conseguinte, de pensar, e
assim vai assumir que “penso, então existo”.

     O núcleo central da filosofia cartesiana é o estudo do fundamento em que se baseia o
conhecimento humano. Com Descartes, podemos dizer que surge a epistemologia, ou teoria do
conhecimento, como tema central da filosofia moderna. Quais são as verdades que podemos
conhecer com certeza? Esta é a questão central do Discurso do Método, e, sobretudo, da primeira das
suas Meditações. Para ele, a dúvida, tal como a consciência da ignorância para Sócrates e Platão, é o
primeiro passo para todas as certezas.

    Abandonando a filosofia escolástica medieval e aristotélica, por as considerar incapazes de dar
resposta às exigências científicas da sua época, Descartes vai inspirar-se nas matemáticas para
desenvolver um método que traga a certeza ao espírito humano em todas as questões. Considerará


3   in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
certas só aquelas ideias que se apresentem na nossa mente com clareza (sem dúvidas para a
consciência) e com distinção (passadas pelo crivo da análise).

    Descartes pretendia fundar o edifício da filosofia em alicerces inamovíveis, com tanta solidez que
conseguisse resistir à dúvida mais radical dos cépticos, e achava que alcançaria esta sua pretensão
seguindo um método estritamente racional e dedutivo, semelhante ao que ele próprio
usava na matemática (sobretudo, geometria) com tão bons resultados. Para isso, precisava de um
ponto de partida incontroverso, um princípio indiscutível, certo, seguro: uma primeira verdade
que ninguém pudesse pôr em causa.

    Essa primeira verdade reúne as seguintes condições:

    1.    É clara: corresponde à presença e manifestação de uma ideia na inteligência que a intui
      de modo inequívoco e manifesto.

    2. É distinta: uma representação mental não deve conter nada que pertença a outras.
     Distinta é uma ideia, quando as suas partes ou componentes são diferentes umas das outras e
     conhecidas com clareza pela consciência.

    3. É evidente: os primeiros princípios na ordem das razões devem ser conhecidos por si
     mesmos e exigem um perfeita inteligibilidade. As ideias simples (claras e distintas) são inteligíveis
     por si mesmas; as ideias compostas têm de ser decompostas nos seus elementos para se
     tornarem inteligíveis (análise).



Proposta de Interpretação
     O “Penso, logo existo” (“cogito”) não é um enunciado, ou uma proposição lógica. Para isso, seria
indispensável que a primeira verdade de Descartes fosse “tudo o que pensa existe” e que “penso”
fosse a segunda; a partir destas duas verdades, retiraria a conclusão “existo”. Discutir a sua primeira
verdade (“Penso, logo existo”) estritamente do ponto de vista lógico ou analítico pode ser ocioso, ou
é mesmo uma pura perda de tempo.

    Na verdade, a filosofia de Descartes teve uma influência poderosa, para o bem e para o mal, em
toda a filosofia e ciência modernas. Como é que isso foi possível, se Descartes foi um bom geómetra,
mas não tão genial que a história da geometria fosse marcada por ele, foi um fraco teólogo (a sua
teoria a respeito de Deus é realmente muito pobre), a sua ontologia (filosofia do ser) é medíocre…
como é que foi, então, possível que Descartes tenha desempenhado um papel tão relevante na
filosofia e ciência modernas?

    Permitam-me que recorra a uma metáfora de Deleuze que compara os filósofos aos pássaros (e
também aos peixes). Os pássaros lançam gritos e entoam cantos. Um grito de amor de um pássaro
não é o mesmo que um canto nupcial. Um pássaro pode lançar um grito de aviso de perigo: isso não
é um canto. Mas é uma mensagem. É uma imagem do seu pensamento, a respeito da realidade. Não é
o pensamento, é a imagem dele.

     Há, como nos pássaros, gritos filosóficos da razão, e gritos filosóficos da desrazão (se me é
permitido dizer assim). O “penso, logo existo” é um grito da razão, não é um canto, um discurso
filosófico. Por exemplo, um outro filósofo, Leibniz, lançou um grito da razão: “tudo tem uma razão”.
Isto é um grito. Deste grito resultou um longo discurso, um canto harmonioso e até, por vezes muito
belo do filósofo, o seu discurso. Este grito “tudo tem uma razão” ecoou por muito tempo, e outros
filósofos, como Hegel, fizeram dele um canto ainda mais belo e talvez mais confuso, mais “tipo” jazz.
Dostoiewski, um escritor russo, lançou um grito da desrazão que me impressionou (há muitos, muitos
anos): “Não ficarei tranquilo, nem vos deixarei tranquilos, enquanto não me forem prestadas contas
de todas as vítimas da História.” (mais ou menos isto) O que é que os distingue?

    •        Nos gritos da razão, a frase começa por “ninguém pode negar”. Ninguém pode negar que
        se penso, então existo. Esta coisa não suporta uma análise lógica, mas quem é que pode negar, a
        não ser por uma questão puramente formal, que se “penso, então existo”? Ora digam lá. “tu
        pensas, mas não existes”. O “penso, logo existo” pode ser uma asneira, mas olhe que a sua de
        admitir que penso, mas não existo não lhe fica nada atrás. Isto é um grito da razão. O canto, o
        discurso filosófico vem depois.

    •       Nos gritos da desrazão, a frase começa por “eu posso negar”, posso negar que 2+2=4.
        Posso negar que seja impossível prestar contas por todas as vítimas da História. Posso, porque
        quero. Os gritos da desrazão também podem dar, e dão, origem a belos cantos.



     Então, o que pretende Descartes com o seu grito? Muito simplesmente, propor uma viragem
fundamental na filosofia do seu tempo. O homem era “um anima racional”, ideia esta que vinha desde
Aristóteles (discípulo de Platão). O que determinava o homem era a sua racionalidade, e, em nome
dela, a filosofia afastava-se da ciência emergente no século XVI e XVII (Copérnico, Galileu…). Para
Descartes, o homem continua racional, mas a sua racionalidade tem de ser a da matemática. O que é
complicado ou complexo, tem de ser simplificado. Só assim se conseguem resolver as grandes
equações. E, se simplificarmos todas as grandes equações do universo e da vida, aquilo que
resolveremos, em cada passo, será muito fácil e de evidência garantida.

     O seu grito, de Descartes, foi ouvido porque era o que interessava ser ouvido naquele tempo. A
ciência moderna haveria de se desenvolver até pontos difíceis de imaginar por Descartes, com base
no seu grito e com algum desprezo pelo seu canto. O Homem vai ser capaz, através de
procedimentos de simplificação dos problemas, de resolver todos os que se lhe apresentem. Era esta
a crença de Descartes, foi esta a crença dos modernos.
Só que não é bem assim, e agora Descartes parece muito distante e desatualizado. E está de
facto, sobretudo, desatualizado. Mas o seu grito ainda ecoa, e ecoa de forma estridente naqueles que,
por razões estritamente analíticas, o criticam ou desprezam.



    (continua: 2. As Regras do Método, 3. As Provas da Existência de Deus)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Transtornos de atenção e de aprendizagem
Transtornos de atenção e de aprendizagemTranstornos de atenção e de aprendizagem
Transtornos de atenção e de aprendizagemCaio Grimberg
 
Inteligência Emocional (2).pptx
Inteligência Emocional (2).pptxInteligência Emocional (2).pptx
Inteligência Emocional (2).pptxElidaine
 
O racionalismo cartesiano
O racionalismo cartesianoO racionalismo cartesiano
O racionalismo cartesianoJoaquim Melro
 
Trabalho teoria do conhecimento
Trabalho teoria do conhecimentoTrabalho teoria do conhecimento
Trabalho teoria do conhecimentoJoão Bastos
 
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?Nicholas Gimenes
 
Racionalismo - Filosofia
Racionalismo - FilosofiaRacionalismo - Filosofia
Racionalismo - FilosofiaCarson Souza
 
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecido
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecidoJohn Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecido
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecidoHelena Serrão
 
Importância do estudo
Importância do estudoImportância do estudo
Importância do estudoStenio Cleber
 
Síntese da obra "Ética para um jovem"
Síntese da obra "Ética para um jovem"Síntese da obra "Ética para um jovem"
Síntese da obra "Ética para um jovem"Helena Serrão
 
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOS
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOSA IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOS
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOSflaviaalessio
 
Educação segundo a metodologia de Pestalozzi
Educação segundo a metodologia de PestalozziEducação segundo a metodologia de Pestalozzi
Educação segundo a metodologia de Pestalozziejkavaliacao
 

Mais procurados (20)

Pensamento
PensamentoPensamento
Pensamento
 
Método indutivo - Filosofia
Método indutivo - FilosofiaMétodo indutivo - Filosofia
Método indutivo - Filosofia
 
PESTALOZZI
PESTALOZZI PESTALOZZI
PESTALOZZI
 
Transtornos de atenção e de aprendizagem
Transtornos de atenção e de aprendizagemTranstornos de atenção e de aprendizagem
Transtornos de atenção e de aprendizagem
 
Inteligência Emocional (2).pptx
Inteligência Emocional (2).pptxInteligência Emocional (2).pptx
Inteligência Emocional (2).pptx
 
O racionalismo cartesiano
O racionalismo cartesianoO racionalismo cartesiano
O racionalismo cartesiano
 
Trabalho teoria do conhecimento
Trabalho teoria do conhecimentoTrabalho teoria do conhecimento
Trabalho teoria do conhecimento
 
Assertividade
AssertividadeAssertividade
Assertividade
 
Ceticismo
CeticismoCeticismo
Ceticismo
 
Etica de kant novo
Etica de kant novoEtica de kant novo
Etica de kant novo
 
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?
PSICOLOGIA AMBIENTAL: Por quê não agimos?
 
Racionalismo - Filosofia
Racionalismo - FilosofiaRacionalismo - Filosofia
Racionalismo - Filosofia
 
Ceticismo slides
Ceticismo slidesCeticismo slides
Ceticismo slides
 
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecido
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecidoJohn Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecido
John Rawls e a teoria da justiça como equidade - Retirado de autor desconhecido
 
Importância do estudo
Importância do estudoImportância do estudo
Importância do estudo
 
Síntese da obra "Ética para um jovem"
Síntese da obra "Ética para um jovem"Síntese da obra "Ética para um jovem"
Síntese da obra "Ética para um jovem"
 
O Sentido Da Vida
O Sentido Da VidaO Sentido Da Vida
O Sentido Da Vida
 
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOS
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOSA IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOS
A IMPORTÂNCIA DO CONVÍVIO FAMILIAR ENTRE PAIS E FILHOS DE 0 A 4 ANOS
 
Stuart mill
Stuart millStuart mill
Stuart mill
 
Educação segundo a metodologia de Pestalozzi
Educação segundo a metodologia de PestalozziEducação segundo a metodologia de Pestalozzi
Educação segundo a metodologia de Pestalozzi
 

Semelhante a Descartes - Contributo para a Modernidade

Ppt o racionalismo de descartes
Ppt o racionalismo de descartesPpt o racionalismo de descartes
Ppt o racionalismo de descartesAnaKlein1
 
Racionalismo
RacionalismoRacionalismo
RacionalismoPelo Siro
 
Racionalismo
RacionalismoRacionalismo
RacionalismoPelo Siro
 
Resumos de Filosofia- Racionalismo e Empirismo
Resumos de Filosofia- Racionalismo e EmpirismoResumos de Filosofia- Racionalismo e Empirismo
Resumos de Filosofia- Racionalismo e EmpirismoAna Catarina
 
Descartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo IIIDescartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo IIImluisavalente
 
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02Helena Serrão
 
Resumo filosofia (3)
Resumo filosofia (3)Resumo filosofia (3)
Resumo filosofia (3)Mateus Ferraz
 
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...Helena Serrão
 
Filosofia aula 7
Filosofia aula 7Filosofia aula 7
Filosofia aula 7Erica Frau
 
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medio
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medioCap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medio
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medioJocelia Sousa
 
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. Descartes
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. DescartesTeoria Explicativa do Conhecimento - R. Descartes
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. DescartesJorge Barbosa
 
O cogito cartesiano
O cogito cartesianoO cogito cartesiano
O cogito cartesianoLídia Neves
 
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01gildapirescosta
 
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJ
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJFilosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJ
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJJoana Pinto
 

Semelhante a Descartes - Contributo para a Modernidade (20)

Ppt o racionalismo de descartes
Ppt o racionalismo de descartesPpt o racionalismo de descartes
Ppt o racionalismo de descartes
 
Racionalismo
RacionalismoRacionalismo
Racionalismo
 
Racionalismo
RacionalismoRacionalismo
Racionalismo
 
Aula 07 - Descartes e o Racionalismo
Aula 07 - Descartes e o RacionalismoAula 07 - Descartes e o Racionalismo
Aula 07 - Descartes e o Racionalismo
 
A Dúvida Cartesiana/metódica
A Dúvida Cartesiana/metódicaA Dúvida Cartesiana/metódica
A Dúvida Cartesiana/metódica
 
Resumos de Filosofia- Racionalismo e Empirismo
Resumos de Filosofia- Racionalismo e EmpirismoResumos de Filosofia- Racionalismo e Empirismo
Resumos de Filosofia- Racionalismo e Empirismo
 
Descartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo IIIDescartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo III
 
DESCARTES 11ANO
DESCARTES 11ANODESCARTES 11ANO
DESCARTES 11ANO
 
Aula 5-descartes-e-o-racionalismo
Aula 5-descartes-e-o-racionalismoAula 5-descartes-e-o-racionalismo
Aula 5-descartes-e-o-racionalismo
 
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02
Comodescartesultrapassaocepticismo 120217104847-phpapp02
 
Resumo filosofia (3)
Resumo filosofia (3)Resumo filosofia (3)
Resumo filosofia (3)
 
Descartes críticas
Descartes críticasDescartes críticas
Descartes críticas
 
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...
Como Descartes ultrapassao cepticismo 120217104847-phpapp02-130130123609-phpa...
 
Filosofia aula 7
Filosofia aula 7Filosofia aula 7
Filosofia aula 7
 
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medio
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medioCap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medio
Cap.02 A dúvida aula de filosofia 1º ano ensino medio
 
1 desca alunos
1 desca alunos1 desca alunos
1 desca alunos
 
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. Descartes
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. DescartesTeoria Explicativa do Conhecimento - R. Descartes
Teoria Explicativa do Conhecimento - R. Descartes
 
O cogito cartesiano
O cogito cartesianoO cogito cartesiano
O cogito cartesiano
 
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01
Unidade2 capiiteoriasexplicativasdoconhecimento-110227081909-phpapp01
 
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJ
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJFilosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJ
Filosofia - Ato de conhecer, Descartes, Ceticismo, CVJ
 

Mais de Jorge Barbosa

Ideias em Debate sobre Educação Prioritária
Ideias em Debate sobre Educação PrioritáriaIdeias em Debate sobre Educação Prioritária
Ideias em Debate sobre Educação PrioritáriaJorge Barbosa
 
Assuntos para Debate na Educação
Assuntos para Debate na EducaçãoAssuntos para Debate na Educação
Assuntos para Debate na EducaçãoJorge Barbosa
 
Rapport cn num_education_oct14
Rapport cn num_education_oct14Rapport cn num_education_oct14
Rapport cn num_education_oct14Jorge Barbosa
 
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida Portuguesa
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida PortuguesaProposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida Portuguesa
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida PortuguesaJorge Barbosa
 
Organização do Ano Letivo 2014/2015
Organização do Ano Letivo 2014/2015Organização do Ano Letivo 2014/2015
Organização do Ano Letivo 2014/2015Jorge Barbosa
 
Relatorio Educacao Especial
Relatorio Educacao EspecialRelatorio Educacao Especial
Relatorio Educacao EspecialJorge Barbosa
 
Sentimentos Acráticos, Empatia e Autoconsciência
Sentimentos Acráticos, Empatia e AutoconsciênciaSentimentos Acráticos, Empatia e Autoconsciência
Sentimentos Acráticos, Empatia e AutoconsciênciaJorge Barbosa
 
Afetos, Emoções e Conceitos Aparentados
Afetos, Emoções e Conceitos AparentadosAfetos, Emoções e Conceitos Aparentados
Afetos, Emoções e Conceitos AparentadosJorge Barbosa
 
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...Jorge Barbosa
 
Despacho Normativo 6/2014
Despacho Normativo 6/2014Despacho Normativo 6/2014
Despacho Normativo 6/2014Jorge Barbosa
 
guião reforma estado
guião reforma estadoguião reforma estado
guião reforma estadoJorge Barbosa
 
Revolução kantiana
Revolução kantianaRevolução kantiana
Revolução kantianaJorge Barbosa
 
O Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de SócratesO Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de SócratesJorge Barbosa
 
Estado Crítico da Democracia - Publicação recente
Estado Crítico da Democracia - Publicação recenteEstado Crítico da Democracia - Publicação recente
Estado Crítico da Democracia - Publicação recenteJorge Barbosa
 
Comunicacão associacões CSH ao MEC
Comunicacão associacões CSH ao MECComunicacão associacões CSH ao MEC
Comunicacão associacões CSH ao MECJorge Barbosa
 
Introdução a Espinosa
Introdução a EspinosaIntrodução a Espinosa
Introdução a EspinosaJorge Barbosa
 
Comunicacão do Presidente
Comunicacão do PresidenteComunicacão do Presidente
Comunicacão do PresidenteJorge Barbosa
 

Mais de Jorge Barbosa (20)

Ideias em Debate sobre Educação Prioritária
Ideias em Debate sobre Educação PrioritáriaIdeias em Debate sobre Educação Prioritária
Ideias em Debate sobre Educação Prioritária
 
Assuntos para Debate na Educação
Assuntos para Debate na EducaçãoAssuntos para Debate na Educação
Assuntos para Debate na Educação
 
Rapport cn num_education_oct14
Rapport cn num_education_oct14Rapport cn num_education_oct14
Rapport cn num_education_oct14
 
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida Portuguesa
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida PortuguesaProposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida Portuguesa
Proposta Honesta e Concreta de Reestruturação da Dívida Portuguesa
 
Organização do Ano Letivo 2014/2015
Organização do Ano Letivo 2014/2015Organização do Ano Letivo 2014/2015
Organização do Ano Letivo 2014/2015
 
Relatorio Educacao Especial
Relatorio Educacao EspecialRelatorio Educacao Especial
Relatorio Educacao Especial
 
Sentimentos Acráticos, Empatia e Autoconsciência
Sentimentos Acráticos, Empatia e AutoconsciênciaSentimentos Acráticos, Empatia e Autoconsciência
Sentimentos Acráticos, Empatia e Autoconsciência
 
Afetos, Emoções e Conceitos Aparentados
Afetos, Emoções e Conceitos AparentadosAfetos, Emoções e Conceitos Aparentados
Afetos, Emoções e Conceitos Aparentados
 
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...
regime de seleção, recrutamento e mobilidade do pessoal docente dos ensinos b...
 
Despacho Normativo 6/2014
Despacho Normativo 6/2014Despacho Normativo 6/2014
Despacho Normativo 6/2014
 
guião reforma estado
guião reforma estadoguião reforma estado
guião reforma estado
 
A Ética - Espinosa
A Ética - EspinosaA Ética - Espinosa
A Ética - Espinosa
 
A Cidade
A CidadeA Cidade
A Cidade
 
Velha do Postigo
Velha do PostigoVelha do Postigo
Velha do Postigo
 
Revolução kantiana
Revolução kantianaRevolução kantiana
Revolução kantiana
 
O Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de SócratesO Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
 
Estado Crítico da Democracia - Publicação recente
Estado Crítico da Democracia - Publicação recenteEstado Crítico da Democracia - Publicação recente
Estado Crítico da Democracia - Publicação recente
 
Comunicacão associacões CSH ao MEC
Comunicacão associacões CSH ao MECComunicacão associacões CSH ao MEC
Comunicacão associacões CSH ao MEC
 
Introdução a Espinosa
Introdução a EspinosaIntrodução a Espinosa
Introdução a Espinosa
 
Comunicacão do Presidente
Comunicacão do PresidenteComunicacão do Presidente
Comunicacão do Presidente
 

Último

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasillucasp132400
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSilvana Silva
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasCasa Ciências
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaJúlio Sandes
 

Último (20)

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 BrasilGoverno Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
Governo Provisório Era Vargas 1930-1934 Brasil
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptxSlides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
Slides 1 - O gênero textual entrevista.pptx
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
 

Descartes - Contributo para a Modernidade

  • 1. Jorge Barbosa FILOSOFIA Curso de Artes Visuais Fevereiro, 2013 C O N T R I B U TO D E D E S C A R T E S PA R A A F I LO S O F I A MODERNA Descartes, logo no início do Discurso do Método, manifesta o seu desencanto por não encontrar um conhecimento certo em filosofia. Tudo o que estudou lhe parece sem fundamento. A história da filosofia mostra uma sucessão inacabada de opiniões, que depois são refutadas numa sucessão contínua. Por isso, quer empreender, com firmeza e com segurança, a construção de uma filosofia certa e duradoura. Com esse objetivo, propõe-se eliminar previamente todas as fontes possíveis de erro e de incerteza. Embora seja sua intenção criticar a filosofia aristotélica, que dominava na sua época, a verdade é que mantém a divisão de Aristóteles das faculdades da alma: sentidos exteriores, sentido comum, memória, imaginação e entendimento. Todas essas faculdades, à exceção do entendimento, funcionam graças à união do corpo com a alma. Os sentidos dependem da ação dos objetos exteriores, que imprimem neles imagens à maneira de um carimbo em cera. Segundo Descartes, possuímos uma dupla memória, sensitiva e intelectual. A primeira depende da imaginação, que está ligada a imagens com origem no corpo, a segunda depende do entendimento. Só o entendimento é espiritual e pode funcionar separadamente do corpo. Por isso, é a única faculdade capaz de intuir clara e distintamente as ideias ou as “naturezas simples”1, prescindindo das imagens e das impressões, e a única a ser capaz de alcançar a verdade. Os sentidos e a imaginação podem ajudar-nos, mas também podem criar-nos dificuldades. A causa principal dos nossos erros provém dos sentidos e da imaginação. Desde a infância, em que vivemos sob o domínio dos sentidos, adquirimos muitos preconceitos, e é necessário eliminá-los previamente se quisermos chegar à verdade e à certeza. Daqui resulta a insistência com que Descartes tenta desligar-se dos sentidos e da imaginação, excluindo da sua investigação todos os elementos procedentes da experiência sensível, recorrendo só a elementos procedentes da sua interioridade intelectual. Para proceder com garantia de alcançar a verdade é indispensável um trabalho prévio de depuração e de libertação dos sentidos. 1 “Naturezas simples” é um termo que se refere aos últimos elementos, a que se acede através da análise, e que são conhecidos por via das ideias claras e distintas, através da intuição. Há três tipos de naturezas simples: 1) materiais, que estão só nos corpos (movimento, extensão…); 2) espirituais, que estão só na mente (pensar, duvidar, amar…); 3) comuns a ambas (a existência, o tempo…)
  • 2. Descartes prescinde da experiência sensível como ponto de partida. Para se preservar do erro e alcançar a verdade, só confia no uso puro da sua razão recolhida dentro de si mesma, funcionando de portas fechadas, desligada de qualquer tipo de contacto com o mundo da experiência sensível, tendo em vista fazer as suas deduções rigorosamente a partir de ideias claras e distintas. Não parte da realidade das coisas para chegar à ideia, mas da ideia para chegar à realidade. A sua investigação, tal como a de Kant (que veremos mais tarde), será puramente interna, tal como a percebe a razão Os Motivos para Duvidar Trata-se de colocar em dúvida os conhecimentos até então tidos como certos, até que não reste qualquer motivo para duvidar, mesmo que essa dúvida nos pareça exagerada ou até ridícula. Não será necessário recusar, uma a uma, todas a nossas ideias isoladamente - trabalho impensável -, bastará contestar a origem de onde elas provêm. Essa dúvida situa-se, então, em três níveis concretos: Os Sentidos podem enganar-nos É certamente difícil admitir que os sentidos nos enganem sempre, mas, ainda que remota, existe a possibilidade de isso acontecer, isto é, não podemos ter a certeza absoluta de que não nos enganem, porque é possível que algumas vezes o façam. Portanto, devemos considerar provisoriamente falsos todos os dados que tenham origem nos sentidos, até porque quando somos enganados por eles não temos consciência do erro em que estamos a incorrer. A Confusão entre a vigília e o sono Duvidar dos dados com origem nos sentidos permite-nos pôr em dúvida que os objetos percepcionados sejam tal como os percepcionamos, mas não nos permite duvidar da sua existência. No entanto, quem não sonhou alguma vez e não se representou em sonhos as mesmas coisas que vivenciou em estado de vigília e até com maior intensidade, sendo enganado, enquanto dormia, por essas ilusões? Parece fácil saber quando estou acordado ou a dormir, e, assim, evitar o erro. “Mas se pensar nisso com atenção, lembro-me de que muitas vezes ilusões desta natureza me enganaram enquanto dormia; e ao acordar com esse pensamento, vejo muito claramente que não há indícios certos para distinguir o sono da vigília, a tal ponto que fico baralhado e é tão grande a confusão que quase me convenço de que ainda continuo a dormir.”2 Desta dificuldade, que consiste em distinguir com toda a evidência a vigília do sono, resulta o imperativo de duvidar da existência de um mundo exterior ao meu pensamento. Assim, de novo provisoriamente, Descartes considera falsa a existência desse mundo exterior ao pensamento. A Hipótese do génio maligno É possível, diz Descartes, duvidar de todas as percepções dos sentidos, porque, às vezes, nos enganam, e, para além disso, acontece que, em certas ocasiões, não conseguimos distinguir se o que se está a passar é um sonho ou uma realidade. Deste modo, a dúvida não abrange somente uma 2 in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
  • 3. determinada sensação, mas toda a realidade exterior ao pensamento: pode acontecer que tudo não passe de um sonho. Apesar desta enorme dúvida, há algo que pode parecer uma certeza, pelo menos, temporária: nem em sonhos é possível duvidar das verdades matemáticas, segundo as quais 2+2=4, e um quadrado não pode ter mais de quatro lados. Por outras palavras, é possível duvidar de tudo o que se conhece a posteriori, mas não parece possível duvidar do que conhecemos a priori. Mesmo assim, Descartes ainda encontra razões para prosseguir na sua dúvida metódica: inventa a hipótese de um génio maligno, de um diabrete que andasse por aí a brincar connosco, fazendo-nos ter por certo o conhecimento a priori. Ninguém nos garante que não estejamos sob o domínio de um deus maligno, “astucioso, enganador e poderoso” que nos esteja a confundir no que diz respeito às noções matemáticas. “Assim, suporei que há, não um verdadeiro Deus - que é a fonte suprema de verdade -, mas um génio maligno, tão astucioso e enganador quanto poderoso, o qual recorre a todo o seu engenho para me enganar.” 3 A hipótese do génio maligno é uma metáfora que faz com que a dúvida incida também sobre a própria razão. Por outras palavras, quem é que me garante que, quando somo 2+2 ou faço operações semelhantes, cuja conclusão se manifesta evidente, eu estou na verdade? Teremos de considerar também provisoriamente falsas - ou, pelo menos, duvidosas - as matemáticas. Em Busca da Certeza Em resumo, a nossa natureza humana pode ser de tal forma que nos engane quando acreditamos saber que algo é verdadeiro ou falso. Também é possível, então, duvidar das certezas das matemáticas. No entanto, há algo que escapa ao poder do génio maligno e à própria possibilidade de a natureza humana funcionar mal: se o deus maligno me engana, então existo; se me engano a mim mesmo, também existo, pelo que, desta forma, Descartes vai superar a dúvida hiperbólica, esta dúvida que põe em causa, não só a toda a existência exterior ao nosso pensamento, mas a própria razão matemática. Isto é, a dúvida conduz à consciência de duvidar e, por conseguinte, de pensar, e assim vai assumir que “penso, então existo”. O núcleo central da filosofia cartesiana é o estudo do fundamento em que se baseia o conhecimento humano. Com Descartes, podemos dizer que surge a epistemologia, ou teoria do conhecimento, como tema central da filosofia moderna. Quais são as verdades que podemos conhecer com certeza? Esta é a questão central do Discurso do Método, e, sobretudo, da primeira das suas Meditações. Para ele, a dúvida, tal como a consciência da ignorância para Sócrates e Platão, é o primeiro passo para todas as certezas. Abandonando a filosofia escolástica medieval e aristotélica, por as considerar incapazes de dar resposta às exigências científicas da sua época, Descartes vai inspirar-se nas matemáticas para desenvolver um método que traga a certeza ao espírito humano em todas as questões. Considerará 3 in Meditações Metafísicas, primeira meditação, Descartes
  • 4. certas só aquelas ideias que se apresentem na nossa mente com clareza (sem dúvidas para a consciência) e com distinção (passadas pelo crivo da análise). Descartes pretendia fundar o edifício da filosofia em alicerces inamovíveis, com tanta solidez que conseguisse resistir à dúvida mais radical dos cépticos, e achava que alcançaria esta sua pretensão seguindo um método estritamente racional e dedutivo, semelhante ao que ele próprio usava na matemática (sobretudo, geometria) com tão bons resultados. Para isso, precisava de um ponto de partida incontroverso, um princípio indiscutível, certo, seguro: uma primeira verdade que ninguém pudesse pôr em causa. Essa primeira verdade reúne as seguintes condições: 1. É clara: corresponde à presença e manifestação de uma ideia na inteligência que a intui de modo inequívoco e manifesto. 2. É distinta: uma representação mental não deve conter nada que pertença a outras. Distinta é uma ideia, quando as suas partes ou componentes são diferentes umas das outras e conhecidas com clareza pela consciência. 3. É evidente: os primeiros princípios na ordem das razões devem ser conhecidos por si mesmos e exigem um perfeita inteligibilidade. As ideias simples (claras e distintas) são inteligíveis por si mesmas; as ideias compostas têm de ser decompostas nos seus elementos para se tornarem inteligíveis (análise). Proposta de Interpretação O “Penso, logo existo” (“cogito”) não é um enunciado, ou uma proposição lógica. Para isso, seria indispensável que a primeira verdade de Descartes fosse “tudo o que pensa existe” e que “penso” fosse a segunda; a partir destas duas verdades, retiraria a conclusão “existo”. Discutir a sua primeira verdade (“Penso, logo existo”) estritamente do ponto de vista lógico ou analítico pode ser ocioso, ou é mesmo uma pura perda de tempo. Na verdade, a filosofia de Descartes teve uma influência poderosa, para o bem e para o mal, em toda a filosofia e ciência modernas. Como é que isso foi possível, se Descartes foi um bom geómetra, mas não tão genial que a história da geometria fosse marcada por ele, foi um fraco teólogo (a sua teoria a respeito de Deus é realmente muito pobre), a sua ontologia (filosofia do ser) é medíocre… como é que foi, então, possível que Descartes tenha desempenhado um papel tão relevante na filosofia e ciência modernas? Permitam-me que recorra a uma metáfora de Deleuze que compara os filósofos aos pássaros (e também aos peixes). Os pássaros lançam gritos e entoam cantos. Um grito de amor de um pássaro não é o mesmo que um canto nupcial. Um pássaro pode lançar um grito de aviso de perigo: isso não
  • 5. é um canto. Mas é uma mensagem. É uma imagem do seu pensamento, a respeito da realidade. Não é o pensamento, é a imagem dele. Há, como nos pássaros, gritos filosóficos da razão, e gritos filosóficos da desrazão (se me é permitido dizer assim). O “penso, logo existo” é um grito da razão, não é um canto, um discurso filosófico. Por exemplo, um outro filósofo, Leibniz, lançou um grito da razão: “tudo tem uma razão”. Isto é um grito. Deste grito resultou um longo discurso, um canto harmonioso e até, por vezes muito belo do filósofo, o seu discurso. Este grito “tudo tem uma razão” ecoou por muito tempo, e outros filósofos, como Hegel, fizeram dele um canto ainda mais belo e talvez mais confuso, mais “tipo” jazz. Dostoiewski, um escritor russo, lançou um grito da desrazão que me impressionou (há muitos, muitos anos): “Não ficarei tranquilo, nem vos deixarei tranquilos, enquanto não me forem prestadas contas de todas as vítimas da História.” (mais ou menos isto) O que é que os distingue? • Nos gritos da razão, a frase começa por “ninguém pode negar”. Ninguém pode negar que se penso, então existo. Esta coisa não suporta uma análise lógica, mas quem é que pode negar, a não ser por uma questão puramente formal, que se “penso, então existo”? Ora digam lá. “tu pensas, mas não existes”. O “penso, logo existo” pode ser uma asneira, mas olhe que a sua de admitir que penso, mas não existo não lhe fica nada atrás. Isto é um grito da razão. O canto, o discurso filosófico vem depois. • Nos gritos da desrazão, a frase começa por “eu posso negar”, posso negar que 2+2=4. Posso negar que seja impossível prestar contas por todas as vítimas da História. Posso, porque quero. Os gritos da desrazão também podem dar, e dão, origem a belos cantos. Então, o que pretende Descartes com o seu grito? Muito simplesmente, propor uma viragem fundamental na filosofia do seu tempo. O homem era “um anima racional”, ideia esta que vinha desde Aristóteles (discípulo de Platão). O que determinava o homem era a sua racionalidade, e, em nome dela, a filosofia afastava-se da ciência emergente no século XVI e XVII (Copérnico, Galileu…). Para Descartes, o homem continua racional, mas a sua racionalidade tem de ser a da matemática. O que é complicado ou complexo, tem de ser simplificado. Só assim se conseguem resolver as grandes equações. E, se simplificarmos todas as grandes equações do universo e da vida, aquilo que resolveremos, em cada passo, será muito fácil e de evidência garantida. O seu grito, de Descartes, foi ouvido porque era o que interessava ser ouvido naquele tempo. A ciência moderna haveria de se desenvolver até pontos difíceis de imaginar por Descartes, com base no seu grito e com algum desprezo pelo seu canto. O Homem vai ser capaz, através de procedimentos de simplificação dos problemas, de resolver todos os que se lhe apresentem. Era esta a crença de Descartes, foi esta a crença dos modernos.
  • 6. Só que não é bem assim, e agora Descartes parece muito distante e desatualizado. E está de facto, sobretudo, desatualizado. Mas o seu grito ainda ecoa, e ecoa de forma estridente naqueles que, por razões estritamente analíticas, o criticam ou desprezam. (continua: 2. As Regras do Método, 3. As Provas da Existência de Deus)