O documento discute os documentários reflexivos, que representam o próprio processo de filmagem e construção da narrativa documental. Esses filmes questionam a noção de que um documentário só é bom quando é convincente, revelando as escolhas do cineasta e a negociação com os espectadores. Exemplos como os filmes de Evaldo Mocarzel e o documentário "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, ilustram essa abordagem reflexiva.
A obra do cineasta mais velho do mundo em actividade (net)
Doc Reflex sobre representação
1. J A Q U E S D I O G O
A N D R E M I R A N D A
Documentário Reflexivo
O D O C U M E N T Á R I O É , A N T E S D E M A I S N A D A ,
U M A R E P R E S E N T A Ç Ã O D O M U N D O .
2. A própria distinção entre filmes feita por NICHOLS
(2005: 27) expressa a linha tênue que separa o real do
imaginário: segundo o autor, todo filme pode ser
considerado um documentário, pois coloca-se em
evidência a cultura que o produz, partindo da realidade
da mesma. Sob este aspecto, os filmes podem se dividir
em duas grandes categorias:
documentários de satisfação de desejos ( denominados
ficção)
documentários de representação social (denominados
não-ficção). Isso não significa que a ficção não possa se
basear num fato real ou que não-ficção não recorra a
recursos como a simulação de situações históricas.
3. Os documentários reflexivos nos mostram
exatamente como eles são: Uma representação.
São documentários metalingüísticos onde podemos
ver ao mesmo tempo o documentário e a sua
construção. Um misto entre o que é mostrado com o
próprio modo de como isto (é/foi )feito.
4. “O modo reflexivo preocupa-se com o processo de
negociação entre cineasta e espectador, indagando as
responsabilidades e conseqüências da produção do
documentário para cineasta, atores sociais e
públicos. Desta forma, “O lema segundo o qual um
documentário só é bom quando é convincente é o
que o modo reflexivo do documentário questiona.”
(NICHOLS, 2005: 163)
5. Para Silvio Ra-Rin não há necessária
correspondência entre fragmentação narrativa e
descontinuidade, características da auto-
reflexividade, e uma maior consciência textual,
justificando que revelar marcas autorais e
metodologias empregadas nos filmes nem sempre
funcionam como uma intervenção crítica na política
da comunicação.
6. [...] A verdade da filmagem significa revelar em que
situação, em que momento ela se dá – e todo o
aleatório que pode acontecer nela... É
importantíssima, porque revela a contingência da
verdade que você tem... revela muito mais a verdade
da filmagem do que a filmagem da verdade [...]
Eduardo Coutinho, diretor de “Cabra
marcado para morrer .
7. Exemplos de documentários Reflexivos
Á Margem da Imagem, À Margem do Concreto, do cineasta
Evaldo Mocarzel
Nos filmes o diretor fala sobre a problemática da produção do
documentário, chegando até a convidar seus entrevistados
para discutir como deveriam ser filmados.
Em À Margem da Imagem, o diretor pergunta aos
entrevistados como eles gostariam de ser vistos pelas pessoas,
como a imagem deles deveria ser passada para o público e
como eles acham que são vistos pela sociedade. Ainda
aparecem os entrevistados em um cinema assistindo ao filme
que participaram e suas reações quando se vêem na tela.
Após a sessão, Mocarzel colhe a a opinião deles sobre o que
acabaram de assistir.
8. Eduardo Coutinho
Nascido em São Paulo, Coutinho iniciou sua carreira no teatro.
Integrante do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE nos anos
60, já no Rio de Janeiro, trabalhou na produção do primeiro filme
do Centro, o longa "Cinco vezes favela" (1962). No total, Eduardo
Coutinho dirigiu 24 filmes em sua trajetória no cinema nacional.
Responsável por obras-primas do gênero documentário, Eduardo
Coutinho foi homenageado na Mostra Internacional de Cinema de
São Paulo no ano passado e recebeu o Kikito de Cristal em
Gramado, em 2007, pelo conjunto de sua obra. Como roteirista,
trabalhou com nomes como Leon Hirszman (em "Garota de
Ipanema", de 1967), Zelito Viana (em "Os condenados", de 1975) e
Bruno Barreto (em "Dona Flor e seus dois maridos, de 1976).
Fonte: Cinemateca Brasileira
Faleceu em 02 de fevereiro de 2014
9. Cabra Marcado Pra Morrer
Narrativa semidocumental sobre a vida de João Pedro
Teixeira, líder camponês da Paraíba assassinado em 1962.
A produção do filme foi interrompida em 1964, em razão do
golpe militar.
Dezessete anos depois, o cineasta recolheu os depoimentos
dos camponeses que trabalharam nas primeiras filmagens.
Parte da história das Ligas Camponesas de Galileia e de Sapé e
a vida de João Pedro surgem através das palavras de sua
viúva, Elizabeth Teixeira, que fala sobre sua trajetória nesses
20 anos e das dificuldades da família perseguida pela ditadura
militar.
Fonte: 35 Mostra Internacional de Cinema / São Paulo - 2011
10. Cena do filme de ficção
“Cabra Marcado Para Morrer”
A imagem se trata da
reconstituiçao da vida
deJoão Pedro Teixeira
11. Cena do documentário
“Cabra Marcado Para Morrer”
Cena em que Elizabeth
está com as amigas,
depois de revelar toda a
verdade da estoria de
sua vida.