1. Émile Durkheim
Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um
dos pais da Sociologia tendo sido o fundador da escola francesa, posterior a Marx, que combinava a
pesquisa empírica com a teoria sociológica. É amplamente reconhecido como um dos melhores
teóricos do conceito da coesão social.1
Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma
definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é
ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a
consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa
preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização deste, desde que consiga
integrar-se a essa estrutura.
Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de
uma solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de
modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir,
numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam
do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica).
A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: Da
divisão do trabalho social (1893); Regras do método sociológico(1895); O suicídio (1897); As formas
elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a
preeminência durkheimiana no mundo inteiro.
Para ocorrer o processo de efetivação do ensino e do trabalho
docente, Codo (2000) afirma ser necessário a efetivação de
algumas especificidades, dentre elas, a criação de um vínculo
afetivo entre professor e aluno, para que o processo de
ensino aprendizagem seja efetivado. O que eu quero dizer, é
que para existir a construção do conhecimento de forma
efetiva, é necessário nos conhecermos! Para isso, temos um
importante instrumento: o Fórum! Dentro desse ambiente
podemos discutir questões, dúvidas, colocar
questionamentos.
Nesse contexto, a Sociologia(1) será a ciência que utilizaremos para
descobrir, analisar e compreender os fenômenos sociais que estão a
nossa volta, que englobam desde questões econômicas, políticas,
culturais e educacionais, buscando tornar mais clara as relações que
existem entre os homens e a sociedade.
2. Em nossa primeira web aula, discutimos o papel do positivismo e a
influência do pensamento durkheiminiano sobre a sociedade,
principalmente na educação. Como vimos, Emile Durkheim(2),
nasceu em Épinal (França) a 15 de abril de 1858. Estudou na École
Normale Supérieure de Paris, tendo-se doutorado em Filosofia.
Ocupou a primeira cátedra de Sociologia criada na França, na
Universidade de Bordéus, em 1887. Aí permaneceu até 1902, quando
foi convidado a lecionar Sociologia e Pedagogia na Sorbonne.
Dentre todas as categorias trabalhadas, acredito que as questões
sobre os fatos sociais são essenciais, pois segundo Durkheim, são
eles que direcionam nossas ações cotidianas. Devemos pensar esses
fatos sociais como “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores
aos indivíduos, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual
se lhe impõem” (Durkheim,1988, p. 48) lembrando sempre de suas
categorias: coercitividade (coerção) no momento em que algum fato
é imposto pela sociedade aos indivíduos, exterioridade (exterior) não
dependendo do individuo para existir, e generalidade (geral) pois
atinge um grande número de pessoas, ou seja, uma coletividade.
Esta definição do fato social pode, além do mais ser confirmada por
meio de uma experiência característica: basta, para tal, que se
observe a maneira pela qual são educadas as crianças. Toda a
educação consiste num esforço contínuo para impor às crianças
maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam
espontaneamente, - observação que salta aos olhos todas as vezes
que os fatos encarados tais quais são e tais quais sempre foram.
Desde os primeiros anos de vida, são as crianças forçadas a comer,
beber, dormir em horas regulares, são constrangidas a terem hábitos
higiênicos, a serem calmas e obedientes; mais tarde, obrigamo-las a
aprender a pensar nos demais, a respeitar usos e conveniências,
3. forçamo-las ao trabalho, etc.., etc. Se, com o tempo, essa coerção
deixa se ser sentida, é porque pouco a pouco dá lugar a hábitos, a
tendências internas que a tornam inútil, mas que não a substituem
senão dela derivam. [...] Ora, estes últimos se tornam
particularmente instrutivos quando lembramos que a educação tem
justamente por objetivo formar o ser social; pode-se então perceber,
como que num resumo, de que maneira este ser constitui através da
história. A pressão de todos os instantes que sofre a criança é a
própria pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem,
pressão de que tanto os pais quanto os mestres não são senão
representantes e intermediários (...) (DURKHEIM,1998, p. 48-49)
Nesse contexto, podemos compreender que a sociedade estabelece
para os indivíduos, dentro dos grupos nos quais esses pertencem,
quais caminhos devem ser trilhados para a formação moral dos
indivíduos, sendo essencial o cumprimento das leis estabelecidas
socialmente sobre a possibilidade de uma punição. Aqui podemos
encaixar a questão da família, da política, da ideologia, da escola.
Aqui coloco mais uma questão para reflexão(1): muitas das ações
que os indivíduos realizam parecem ser por vontade própria,
independente da forma como a sociedade estabelece os seus
princípios universais. Um estudo feito por Durkheim, sobre um tema
que ainda hoje é considerado um tabu (o suicídio) provou
sociologicamente, a sua teoria de que antes da vontade do individuo,
existe a sociedade.
Parece um pouco estranho achar que o suicídio está vinculado
ao que ocorre em sociedade. Lembram que em nossa tele
aula trabalhamos a categoria anomia social, sendo que essa
categoria define um momento em que a sociedade encontra-
se em um estado de caos, com problemas em seu
funcionamento (lembram da analogia entre o corpo humano e
a sociedade!) o que gera conflitos entre as partes existentes:
4. indivíduos, política, religião, estado, escola, família. Pois bem,
segundo Durkheim, aparentemente, o suicídio tem todas as
características de um ato individual, entretanto, ao colher os
dados sobre os índices de suicídio na França, analisando-os
mediante as regras sociológicas, o pensador construiu um
esquema de análise com base em dados estatísticos que
demonstra que existe regularidade na taxa de suicídio
durante um determinado período de tempo. Segundo
Cancian, Durkheim cruzou os dados com variáveis que
incluem a idade, o sexo, o lugar de residência, a religião, o
estado civil, sendo que a partir da análise desse cruzamento,
foi possível ao autor desvelar as características sociais dos
suicidas e apresentar explicações sobre as determinações
sociais que influenciam ou causam o ato do suicídio. Nesse
contexto, Durkheim estabeleceu três categorias de suicídios,
sendo eles: suicídio altruísta, suicídio egoísta e suicídio
anômic
Nesse estudoDurkheimcolocaanecessidade de umprocessoeducativoparaomeioemque o
individuoestáinserido,levandoemconsideraçãoaquestãosocial,políticae cultural do
sujeito,nãodefendendoumsistemaeducativoúnico,e sim, umaeducaçãodirigidamedianteo
papel doindividuoemsociedade,paraa formaçãomoral do mesmo.
A educaçãoé umainstituiçãoformadoradospadrõesmoraisdosindivíduos,sendonecessário,
como já discutimosemnossotexto“Culturae Sociedade”que aeducaçãoe a escolatemo
papel de socializarosindivíduosparaque ele se desenvolva(socialmente,profissionalmente)
dentrodospadrõespré-estabelecidosaseugruposocial,ouseja:
socializar-se é aprenderasermembroda sociedade,e aprenderasermembroda sociedade é
aprenderoseudevidolugarnela.Sóassim, é possível preservarasociedade (RODRIGUES,
2000, p.33).
Como na concepção durkheiminiana, a educação é um forte
instrumento de coesão social, cabe ao Estado ofertá-la e
supervisioná-la, instituindo os princípios básicos para a
concretização da moral da sociedade, que através da escola,
seriam transmitidos as crianças e aos jovens. Podemos dizer
que é na escola, que aprendemos a nos tornar membros da
5. sociedade, sendo que é dentro dela que passamos grande
parte de nossas vidas nos socializando com outros indivíduos.
Título: O trabalho como elemento central na
constituição do ser social
Antes de começarmos nossa discussão do trabalho do professor,
acredito ser importante definirmos o que Marx pensa sobre o
trabalho. Partimos do pressuposto de que é por meio do trabalho, no
sentido marxista, que realizamos transformações intencionais,
planejadas, que tem como resultado um produto real e concreto que
antes só existia na mente humana. MARX (1985, p. 149), argumenta
que é precisamente o trabalho que diferencia os homens dos outros
animais quando afirma que:
O textoa seguiré um trechoclássicodo livroOCapital de Marx quandoele define aconcepção
real do trabalho.
Uma aranha executaoperaçõessemelhantesasdotecelão,e a abelhaenvergonha maisde um
arquitetohumanocoma construção dosfavosde suacolméia.Mas o que distingue,de
antemão,opior arquitetodamelhorabelhaé que ele construiuofavoemsuacabeça, antes
de construí-loemcera. Nofimdo processode trabalhoobtém-se umresultadoque jánoinício
deste existiunaimaginaçãodotrabalhadore,portantoidealmente.
É através do trabalho humano que as realizações objetivam e
exteriorizam os sujeitos que fazem parte do mundo. Esse trabalho é
atividade humana que transforma o mundo ao mesmo tempo em que
transforma o sujeito. “Ao atuar, por meio deste movimento, sobre a
natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo
tempo, sua própria natureza” (Marx, 1985, p.149). É assim que o
homem se reconhece em seu trabalho e se orgulha daquilo que
constrói, dando-lhe significados. Aqui podemos compreender que o
homem se reconhece no mundo através do seu trabalho!
Mas segundo Marx, o processo de trabalho no modo de produção
capitalista impede a realização do trabalho criativo, e
consequentemente, a formação do trabalhador como responsável
6. pela construção social. Vocês podem estar se perguntando: Como e
por que isso acontece? Marx deu uma resposta muito bem clara: em
virtude do processo de divisão da sociedade em classes sociais,
através da mais valia e da propriedade privada dos meios de
produção. Como consequência desse processo, temos a categoria da
Alienação como elemento que impede os sujeitos de se
compreenderem como produtores de tudo: política, cultural,
ideologia, musica, prédios, casas, educação.
Mas será que conseguimos romper com a alienação imposta pela
sociedade capitalista? Vinicius de Moraes, na poesia “O homem em
construção” demonstra como esse processo se efetiva. Leia a poesia
e responda a essa questão: Em que momento podemos verificar a
ruptura da alienação imposta pelo trabalho alienado? Guarde sua
resposta para daqui a pouco!
E por que trabalhar a ruptura da alienação em Marx, no processo de
formação de professores? Lembram da resposta a pergunta lançada
acima? Pois bem, o professor é um dos responsáveis por ajudar no
processo de ruptura da leitura de mundo imposta pela sociedade
capitalista. Isso mesmo! Somos mediadores do conhecimento, e para
isso temos que ter claro que ideologicamente, a sociedade não quer,
na maioria das vezes, que sejamos livres de fato e de direito. Livre no
sentido do pensamento, de nossas escolhas, ações.
Para isso, torna-se essencial compreender o papel e o trabalho do
professor nesse processo, elencando três características principais: a
relação com o produto do seu trabalho, o saber e o saber fazer e a
questão do vinculo afetivo.
A primeira especificidade do trabalho do professor diz respeito ao
produto do seu trabalho. Segundo CODO (2000), o produto do
trabalho do professor é a formação de outra pessoa, ou seja, o aluno
educado. Façamos um paralelo entre o trabalhador de uma fábrica de
autopeças e o trabalhador docente. O produto, o resultado final, não
pertence ao trabalhador em ambos os casos. No caso do operário, as
7. peças são para o carro, propriedade do empresário e, no caso do
professor, a “peça” é o aluno. Mas podemos distinguir uma
especificidade entre ambos.
A diferença está na qualidade do vínculo que o trabalhador necessitou
estabelecer com seu produto para que a atividade se realize. Em um
caso, a atividade de trabalho tem que se objetivar em um sujeito, o
aluno; no outro, num objeto. No primeiro caso, o trabalhador precisa
formalizar um acordo, negociar para poder desenvolver a sua
atividade, no segundo ele não tem na sua frente “um outro”, mas um
objeto sobre o qual imprime sua atividade. (CODO 2000, p.45).
O segundo aspecto particular é que o saber e o saber-fazer
estão especificamente relacionados ao professor, e são as
condições centrais para o desenvolvimento do seu trabalho,
embora determinados pelas condições econômicas, políticas,
sociais e culturais. Portanto, há determinações internas e
externas ao exercício profissional, e o professor faz a
mediação entre essas determinações na sua prática
profissional. A diferença da atuação do professor, comparada
a outros trabalhadores assalariados, está em se objetivar,
através do seu trabalho, em um outro sujeito, o aluno em seu
processo de formação.
Ressalte-se que essa relação direta e imediata do professor
com o outro é permeada pelo vínculo afetivo, considerado um
terceiro aspecto essencial do trabalho docente. O vínculo
afetivo é aqui entendido como uma relação de compromisso,
de respeito às potencialidades e aos limites do outro, de
condução ética do trabalho de ensinar.
Nesse sentido, Marx colocaria que o trabalho docente deve
ser antes de mais nada, um trabalho pedagógico e político. As
três características que colocamos acima (relação com seu
produto de trabalho, seu saber e saber fazer e a necessidade
da construção de um vínculo afetivo) demonstram que nosso
trabalho é muito mais do que transmitir conhecimentos,
8. realizar ações burocráticas (aplicar provas, corrigir provas,
montar aula, trabalhos...) é formar o individuo para se
reconhecer como produtor da realidade social; é romper com
os paradigmas impostos pela sociedade alienante; é
possibilitar ao aluno se desenvolver em sua plenitude (Marx
chama isso de ominilateralidade).
Web 2
Weber e a formação da sociedade Capitalista:
a importância da reforma protestante no
surgimento de um novo ethos social.
Pessoal, continuando nosso caminho sobre como a sociologia
interpreta a realidade social, fundamentado até agora em Durkheim
(que concebe a sociedade como um organismo biológico, sendo que
muitas vezes ela se encontra em estado de anomia social, sendo
necessário o estabelecimento de novas leis e regras para a efetivação
da harmonia social e seu progresso); em Marx (sociedade capitalista
desigual por natureza, pois é dividida em duas classes sociais, sendo
que existe a exploração de uma classe sobre a outra, o que
impossibilita a liberdade do individuo dentre outras coisas!), acredito
ser interessante refletirmos um pouco sobre o pensamento de mais
um autor essencial: Max Weber.
Weber não é muito conhecido no meio pedagógico, por ser
considerado um pensador que tem sua obra mais vinculada à
interpretação da política capitalista moderna. Mas mesmo assim,
acho necessário conhecer um pouco mais sobre este intelectual muito
importante para as Ciências Sociais.
Uma questão interessante é a leitura que ele realizou sobre o
surgimento do modo de produção capitalista, sendo que essa leitura
está vinculada especificamente à Reforma Protestante de Martin
Lutero e João Calvino.
9. Max Weber se propôs a explicar o surgimento do modo de produção
capitalista, não pelo viés econômico (como fez Marx), mas pela
questão subjetiva dos indivíduos e de como essas ações (lembrando
que ele desenvolve a questão da ação social afetiva, tradicional,
racional com relação a fins e racional com relação a valores) geram
os fenômenos sociais.
Para Weber, em alguns países do ocidente europeu, a ética
protestante instituiu alguns valores que ajudaram a criar em certos
indivíduos, predisposições morais e motivações para se envolverem
na produção e no comércio típico capitalista.
Na crença protestante, os homens já nascem predestinados à
salvação ou ao inferno, embora não pudessem saber ao certo o seu
destino. Para tentar fugir de serem vistos como pecadores, eles
dedicaram-se a glorificar a Deus por meio do trabalho e da busca
pelo sucesso na profissão. Com isso, princípios como disciplina,
dedicação ao trabalho, vocação, poupança são sinônimos de
salvação, sendo essas características, na leitura de Weber, essenciais
para o surgimento do capitalismo, pois a grande dedicação ao
trabalho resultaria no sucesso e enriquecimento.
A citação abaixo nos mostrará melhor como Weber pensou nos
princípios do protestantismo como eixo inicial do capitalismo:
Nesse sentido, o protestantismo: 1) separa radicalmente o homem de
Deus, já que os desígnios d'Ele não podem ser conhecidos pela
limitada mente humana; 2) desenvolve a teoria da Predestinação (já
que não podemos agir moralmente e assim garantir a salvação, só
podemos imaginar que alguns são predestinados à salvação, embora
não possamos nos certificar de quais são os escolhidos); 3) como
substituto à idéia católica das boas ações que garantem a salvação,
cria-se a idéia de que o sucesso na vida mundana é um sinal de que
se é predestinado. Com isso, o protestantismo cria uma ética
inteiramente nova: a ética do trabalho. Se Deus quer a Glória, se
10. todo o Universo é criado para a Glória de Deus, e se os homens são
escolhidos ou não nesse Universo por Deus, sem que nós possamos
garantir nenhuma salvação, então apenas podemos nos contentar (e
procurar nos tranquilizar) com a idéia de que, se somos prósperos, se
engrandecemos a glória divina, então devemos ter sido escolhidos.
Daí porque a riqueza é o sinal de nossa salvação, e
consequentemente, a ética é a da produção da glória divina, a
produção da prosperidade, da riqueza. No entanto, esta riqueza deve
ser produzida para a Glória de Deus e não para a glória humana
mundana. O sinal da salvação é dado pela prosperidade do homem
que acumula, e não pelo homem que gasta - pois este último não
trabalha pela glória de Deus, portanto não deve ser um escolhido.A
ética protestante, como ética do trabalho feito para a acumulação (e
não para os gastos, as despesas, o consumo da riqueza) é o fator
cultural determinante para o desenvolvimento do capitalismo,
segundo Weber.
Continuando na questão da sociedade capitalista, Weber coloca que
as diversas formas de dominação existentes são fruto das ações dos
homens, visto que na leitura weberiana é o individuo que constitui a
sociedade através da ação que realiza. Essa ação pode ser política,
cultural, amorosa, econômica dentre outras, mas sempre terá uma
finalidade. Nesse sentido, acredito ser interessante compreendermos
um pouco mais a questão da dominação política, em virtude de
representar os interesses de toda uma população.
As formas de dominação instituídas por Weber (a tradicional, a
carismática e a legal) são representações do poder instituídas pelos
próprios homens. Vamos focalizar a dominação legal que representa
o Estado Capitalista Democrático, ou seja, a Democracia.
Para Weber, a dominação legal é aquela em que a obediência baseia-
se na observação de estatutos, leis, normas e acordos estabelecidos
em sociedade. Vamos pensar em como isso se efetiva nas escolas?
11. Se pensarmos na escola como uma instituição inserida na teia de
relações sociais, podemos perceber que ela é constituída por diversas
regras, que possibilitam muitas atividades: os currículos, os
conteúdos, a hierarquia, as políticas educacionais que direcionam um
sistema educacional nacional. Para que as escolas funcionem, torna-
se necessário a instituição de um inúmero conjunto de regras e
normas que direcionem a prática pedagógica. Dentro dessa prática
pedagógica, instituem-se práticas burocráticas, que dão direção ao
processo de ensino de um país, por exemplo: Imaginem se cada
escola ensinasse conteúdos que achassem interessante para seus
alunos, sem seguir um plano geral, instituído socialmente. Cada
aluno seria formado de uma forma, teria acesso a conteúdos restritos
a vontade de professores e da direção pedagógica. Quero deixar bem
claro, que não estou falando de homogeneização de ensino (onde
todos devem apreender da mesma forma, tirando a autonomia da
escola, a especificidade da região e o trabalho e autonomia do
professor), mas sim, da necessidade de um direcionamento geral
para o processo de ensino aprendizagem de um país. Por isso a
existência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9394/96), dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Nesse contexto, existe a formação os professores também dentro de
uma diretriz. Em nosso caso, temos a diretriz nacional do curso de
Pedagogia, que estabelece categorias essenciais para a formação do
pedagogo, sendo que para Weber isso representa a burocratização do
processo de ensino, necessário ao desenvolvimento da sociedade
capitalista moderna. Interessante o pensamento weberiano sobre a
nossa sociedade, não é?
Só gostaria de reafirmar um aspecto: todos os autores trabalhados
interpretaram a sociedade capitalista em um determinado momento
histórico, tendo cada um uma leitura especifica sobre essa realidade.
Não existe um pensador certo e outro errado, o que existe são
diferentes pontos de vista sobre o mesmo objeto de estudo, sendo
12. essencial discernirmos as categorias trabalhadas por Durkheim, Marx
e Weber dentro de suas teorias, pois cada uma trás um conjunto de
especificidades. Devemos ter cuidado para não “misturar” as
categorias explicativas no que chamamos ecletismo teórico ou seja,
relacionar aspectos que são diferentes ideologicamente, dando a
entender que toda teoria explicativa da realidade social é igual.
Reafirmando o que disse no final do nosso texto: O que é importante
salientar, é que nenhum dos pensadores trabalhados fornece em suas
teorias, métodos e técnicas prontas para a Educação, mas apontam
como é extremamente importante o papel do processo educativo na
construção da sociedade, para o indivíduo, para a classe e, portanto,
para a nossa história.
Pela antropologia, cultura é o modo como os indivíduos ou
comunidades respondem as suas próprias necessidades e desejos
simbólicos. O ser humano, ao contrário dos animais, não vive de
acordo com seus instintos, isto é, regido por leis biológicas, invariável
para todas as espécies, mas a partir da sua capacidade de pensar, a
realidade que o circunda o faz construir novos significados para essa
natureza, que vão além daqueles percebidos imediatamente. A essa
construção simbólica, que vai guiar toda ação humana, dá-se o nome
de cultura. A cultura, nesse sentido amplo, engloba a língua que
falamos, as idéias de um grupo, as crenças, os costumes, os códigos,
as instituições, as ferramentas, a arte, a religião, a ciência, enfim,
toda as esferas da atividade humana. Mesmo as atividades básicas de
qualquer espécie, como a reprodução e a alimentação, são realizadas
de acordo com regras, usos e costumes de cada cultura particular. Os
rituais de namoro e casamento, os usos referentes à alimentação (o
que se come, como se come), o preparo dos alimentos, o tipo de
roupa que vestimos, a língua que falamos, as palavras de nosso
vocabulário, tudo isso é regulado pela cultura à qual pertencemos. A
função da cultura é tornar a vida segura e contínua para a sociedade
humana. Ela é o "cimento" que dá unidade a um determinado grupo
13. de pessoas que dividem os mesmos usos e costumes, os mesmos
valores. Deste ponto de vista, podemos dizer que tudo o que faz
parte do mundo humano é cultura.
Para compreendermos o processo de constituição da cultura
brasileira, devemos voltar ao processo de colonização do Brasil, pois
a formação do povo brasileiro iniciou-se nesse momento, em que o
povo europeu entra em contato, através das grandes navegações,
com o povo indígena que já habitava as terras brasileiras. Junto a
esse momento, o povo negro, fruto do processo escravista, também
faz parte da formação do que convencionamos chamar de cultura
brasileira. Somos fruto da miscigenaçãodas raças branca X negra X
indígena.
Gilberto Freire, autor pernambucano, foi o primeiro
estudioso sobre a cultura brasileira. Em seu livro “Casa
Grande e Senzala” de 1933, Freire escreve que a integração
social entre o negro, o branco e o índio efetuou-se de forma
harmoniosa, sendo que essa miscigenação proporcionou um
equilíbrio entre os diversos grupos culturais, sendo que essa
“mistura” se deu sobre relações sociais que se
fundamentavam sobre o trabalho escravo e no poder do
senhor de engenho e da família patriarcal, um dos processos
da colonização portuguesa no Brasil.
Dessa relação, surgiria uma cultura genuinamente brasileira,
fundamentada na fusão dos vocabulários das raças, nas
práticas diárias, nas crenças e nas representações de poder, o
que segundo Freire resulta em um processo de
democratização racial entre os indivíduos. É dessa relação
entre poder e sobrevivência, respectivamente entre brancos e
negros, que surgiria uma cultura propriamente brasileira
expressa na fusão do vocabulário das duas raças, nas práticas
diárias, nas crenças e nas representações de poder, o que
resultou em um processo democratização racial entre os
indivíduos.
14. Muitos estudiosos acreditavam que a leitura feita por Freire
era romântica e não apresentava a questão da contradição
existente entre os diversos grupos culturais existentes no
Brasil. Florestan Fernandes é um desses autores de cunho
marxista, que acreditava que a leitura freiriana mascarava a
questão do conflito de classes existentes entre dominantes e
dominados, estabelecendo a diferença entre os grupos como
algo natural.
Em seu livro “A integração do Negro na Sociedade de Classes” de
1978, Florestan busca compreender o processo de exclusão do negro
na formação da cultura brasileira. Para Fernandes, o negro e sua
cultura sempre participaram do processo de desenvolvimento do país,
mas sempre em posição de inferioridade dentro da estrutura social,
visto que no inicio do processo de colonização eles eram visto como
mercadorias e depois da abolição da escravidão em 1888, a presença
do negro sempre foi vinculada ao trabalho não capacitado.
Nesse processo, a sociedade brasileira ideologicamente e
historicamente colocou o negro a margem da sociedade, visto que
com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil (desenvolvimento
das cidades, da produção, comércio) os negros passaram a concorrer
com os trabalhadores imigrantes (alemães, italianos, japoneses), que
já estavam acostumados com o trabalho nos princípios do modo de
produção capitalista. Vamos ilustrar um pouco essa questão: Imagine
um negro, que antes da abolição da escravidão era visto como
mercadoria:
Sergio Buarque de Holanda também discute de forma
interessante o que chamamos da formação dohomem
cordial. Em seu livro Raízes do Brasil (2003), a formação da
cultura brasileira tem relação com o período de transição do
Brasil tradicional para uma ordem moderna, onde o modelo
agrário, rural e patriarcal dava lugar para o modelo industrial,
urbano e democrático.
15. A formação da cultura brasileira tem relação o período que o Brasil
atravessava desde o século XIX sob uma prolongada crise de
transição de uma ordem tradicional a uma ordem moderna. Tratava-
se de uma revolução lenta, com a superação de um modelo agrário,
rural e patriarcal, por um outro modelo - industrial urbano e
democrático. A dificuldade de ultrapassagem para esta última fase se
originava de uma série de entraves que a estrutura colonial havia
legado e que se manifestava desde então no modo de ser do
brasileiro. Premido entre os novos imperativos da civilização ocidental
e os condicionantes arcaicos da sua formação histórica, o Brasil
assistia a um impasse na definição de seu destino (HOLLANDA,
2007).
Nesse contexto, podemos estabelecer a relação entre o português, o
índio e o negro, fundado na questão da dominação legal do branco
sobre as outras culturas, instituindo uma relação de superioridade e
de poder sobre o homem simples (fruto da mistura de raças). Sendo
assim, esse homem cordial aceita as estruturas sociais vigentes, sem
questionar, pois é muito forte culturalmente, o domínio de uma classe
sobre a outra.
Abordamos aqui três autores importantes para a discussão da
formação do povo brasileiro, cada um com sua leitura de mundo que
possibilitou várias interpretações sobre a nossa cultura.
Independente da concepção teórica (marxista ou tradicional)
podemos chegar a uma conclusão sobre a diversidade cultural
brasileira: Somos fruto do processo de miscigenação das raças. O que
devemos ter claro enquanto educadores, que esse processo muitas
vezes é visto de forma etnocêntrica, sendo essencial possibilitarmos
aos nossos alunos a real e histórica constituição da cultura brasileira,
elencando suas contradições e especificidades.
O vídeo abaixo é fruto de um documentário sobre o livro “O povo
brasileiro” de Darcy Ribeiro e sintetiza bem nossa discussão. Antes de
16. finalizar, quero deixar um questionamento: Podemos compreender a
cultura brasileira e consequentemente a forma como ela se coloca em
nossa sociedade (escola, família, meios de comunicação de massa)
sem analisá-la historicamente?