SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 3
Universidades católicas


A recente nomeação da Reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
causou diversas reações na comunidade acadêmica da Universidade: estranheza,
contrariedade e aprovação. Aparentemente, o motivo foi a escolha, pelo Grão Chanceler da
Universidade, não do primeiro nome da lista tríplice que lhe foi apresentada, mas do
terceiro. Reações até certo ponto compreensíveis.
Talvez algumas reações decorreram da interpretação equivocada do processo de escolha do
Reitor e Vice Reitor da PUC-SP. Conforme o Estatuto da PUC-SP, compete ao Conselho
Superior da Universidade (CONSUN) “organizar, através de consulta direta à comunidade,
por meio de processo eletivo, a lista tríplice de nomes de professores para escolha e
nomeação do Reitor e respectivo Vice Reitor, nos termos deste Estatuto, encaminhando-a
ao Grão Chanceler” (Art 21/XXII).
E prevê ainda o mesmo Estatuto que ao Grão Chanceler compete ”escolher e nomear o
Reitor e o Vice Reitor dentre os professores de uma lista tríplice organizada e encaminhada
pelo CONSUN” (Art. 43/II). Portanto, não se trata de escolha direta do Reitor e do Vice
pela comunidade universitária; se assim fosse, não haveria sentido na apresentação de uma
lista tríplice pelo CONSUN, e estaria prevista a eleição direta, pura e simples, do Reitor e
do Vice pela comunidade universitária. Mas não é isso o que consta no Estatuto.
É verdade que a escolha do Reitor recaiu, tradicionalmente, sobre o nome mais votado,
pelas razões que a Autoridade competente julgou convincentes; eu mesmo, na escolha
precedente, procedi assim. Mas se, desta vez, seguiu outra ordem, é porque esta
possibilidade sempre esteve implicada na própria apresentação da lista tríplice pelo
CONSUN ao Grão Chanceler.
Toda essa questão leva a refletir algo mais sobre as Universidades Católicas, que estão
ligadas à Igreja e são regidas, quanto à sua natureza e missão, pela Constituição Apostólica
Ex Corde Ecclesiae (“Do Coração da Igreja”, 1991), do papa João Paulo II. Elas têm sua
origem “do coração da Igreja” e expressam, da maneira que lhes é própria, a missão da
Igreja na busca e explicitação do verdadeiro saber (“sapientia”) e do bem da humanidade.
No que se refere ao ordenamento acadêmico, elas seguem a legislação civil do país onde se




                                                                                          1
encontram; mas quanto à sua identidade, orientação e objetivos específicos, elas estão
sujeitas às normas da Igreja.
Uma universidade católica, como qualquer outra, é uma comunidade de estudiosos, dos
vários campos do saber humano; também ela se dedica à pesquisa, ao ensino e às várias
formas de serviço à sociedade, compatíveis com sua identidade e missão. Enquanto
“católica” e, em nosso caso, também “pontifícia”, ela está ligada à Igreja, segue suas
diretrizes e deve realizar suas atividades de maneira coerente com os ideais, princípios e
comportamentos católicos; nem se poderia esperar que fosse diversamente, ou até o
contrário disso.
No entanto, não equivale isso a dizer que todos os que frequentam a universidade católica
devam ser confessionalmente católicos; a própria PUC-SP acolhe muitos estudantes que
não professam a fé católica e são todos bem vindos; a liberdade de consciência é
plenamente respeitada e o credo católico não é imposto a ninguém. Mas é certo que a
própria universidade tem a missão de apresentar e honrar a sua identidade diante de todos
os que a frequentam e integram a comunidade acadêmica.
A liberdade de pensamento, ensino e manifestação das ideias, consagrada pelas
Constituições dos países democráticos, assegura esse direito às instituições confessionais e
não confessionais. Regimes totalitários, geralmente, são intolerantes em relação a
universidades “confessionais”, ou que não se alinhem plenamente ao pensamento único e
oficial, impedindo até mesmo a sua existência e livre atuação.
Poderia parecer que as universidades católicas e outras, de tipo confessional, existem
apenas para a vantagem das próprias Instituições que as mantêm, mas isso é outro
equívoco. Elas são, antes de mais nada, instituições de educação, ensino, formação de
pessoas e de fomento da cultura dos povos, à luz de suas próprias percepções e
interpretações da realidade. E não deve ser visto como um dano para a sociedade que haja
instituições com diversos tipos de diretrizes na educação e na formação dos cidadãos. O
conjunto da cultura e do convívio social fica enriquecido com uma sadia pluralidade
educacional. Contrariamente, se tudo tendesse ao pensamento oficial e único, haveria o
risco de uma cultura monótona e com horizontes sempre mais estreitos. Isso não
representaria um benefício para a convivência plural e democrática.




                                                                                          2
A universidade católica tem uma contribuição específica a dar para a formação cultural; e
essa contribuição decorre da visão cristã sobre o homem e o mundo, que tem
desdobramentos, entre outras coisas, na filosofia em geral, na antropologia, na ética,
educação, na psicologia, na economia, na política e também na técnica. Esses princípios
cristãos oferecem uma forma própria de interpretação sobre o homem, a sociedade, as
relações sociais e a história; e também, sobre a natureza e a interação do homem com o
ambiente da vida.
Mais uma vez, entendo que a universidade católica não tem a finalidade de impor as
expressões próprias de uma “cultura cristã” às pessoas e ao convívio social, mas de as
oferecer como contribuição, que procede da sua própria autoconsciência, para o
enriquecimento da cultura e da vida social. A universidade católica é, por excelência, um
espaço de diálogo cultural, onde ela tem muito a oferecer, ex corde Ecclesiae, a partir do
âmago de sua identidade, da sua mensagem e da experiência secular da Igreja.


                           Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. de 08.12.2012
                                                                   Card. Odilo P. Scherer
                                                                  Arcebispo de São Paulo




                                                                                        3

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt? (6)

EDUCAÇÃO TEOLÓGICA - Como será o amanhã?
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA - Como será o amanhã?EDUCAÇÃO TEOLÓGICA - Como será o amanhã?
EDUCAÇÃO TEOLÓGICA - Como será o amanhã?
 
Palavras D.Policarpo
Palavras D.PolicarpoPalavras D.Policarpo
Palavras D.Policarpo
 
41 socialismo no brasil atual significaria anarquia
41   socialismo no brasil atual significaria anarquia41   socialismo no brasil atual significaria anarquia
41 socialismo no brasil atual significaria anarquia
 
A lei 11645_08_diante_do_poder_local_ desafios_a_sua_implantacao
A lei 11645_08_diante_do_poder_local_ desafios_a_sua_implantacaoA lei 11645_08_diante_do_poder_local_ desafios_a_sua_implantacao
A lei 11645_08_diante_do_poder_local_ desafios_a_sua_implantacao
 
Artigo Dom Filippo
Artigo Dom FilippoArtigo Dom Filippo
Artigo Dom Filippo
 
Novos talentos, vícios antigos - os renovadores e a política educacional
Novos talentos, vícios antigos - os renovadores e a política educacionalNovos talentos, vícios antigos - os renovadores e a política educacional
Novos talentos, vícios antigos - os renovadores e a política educacional
 

Ähnlich wie Universidades Católicas

Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbrazForum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
Gilbraz Aragão
 
Icitudo rei socialis
Icitudo rei socialisIcitudo rei socialis
Icitudo rei socialis
Aida Fonseca
 
Candomblé e educação
Candomblé e educaçãoCandomblé e educação
Candomblé e educação
joaopedro2003
 
Bibli. universitaria
Bibli. universitariaBibli. universitaria
Bibli. universitaria
Biblio 2010
 
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à Luz Da ConstituiçãO Federal
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à  Luz Da ConstituiçãO FederalO Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à  Luz Da ConstituiçãO Federal
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à Luz Da ConstituiçãO Federal
rowalino
 
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdfCiencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
VIEIRA RESENDE
 

Ähnlich wie Universidades Católicas (20)

Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbrazForum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
Forum dialogo na assembleia legislativa, fala de gilbraz
 
Historia da Educação Brasileira
Historia da Educação BrasileiraHistoria da Educação Brasileira
Historia da Educação Brasileira
 
tcc pós graduação artigo ensino religioso Manoel Colares 2016 0_344155
 tcc pós  graduação artigo ensino religioso  Manoel Colares 2016 0_344155 tcc pós  graduação artigo ensino religioso  Manoel Colares 2016 0_344155
tcc pós graduação artigo ensino religioso Manoel Colares 2016 0_344155
 
Projeto de pesquisa
Projeto de pesquisaProjeto de pesquisa
Projeto de pesquisa
 
Centesimus Annus
Centesimus AnnusCentesimus Annus
Centesimus Annus
 
Centesimus Annus
Centesimus AnnusCentesimus Annus
Centesimus Annus
 
Icitudo rei socialis
Icitudo rei socialisIcitudo rei socialis
Icitudo rei socialis
 
Icitudo rei socialis
Icitudo rei socialisIcitudo rei socialis
Icitudo rei socialis
 
Candomblé e educação
Candomblé e educaçãoCandomblé e educação
Candomblé e educação
 
Bibli. universitaria
Bibli. universitariaBibli. universitaria
Bibli. universitaria
 
Igreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/SociedadeIgreja e Cultura/Sociedade
Igreja e Cultura/Sociedade
 
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à Luz Da ConstituiçãO Federal
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à  Luz Da ConstituiçãO FederalO Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à  Luz Da ConstituiçãO Federal
O Uso De Crucifixos E Bblias Em PréDios PúBlicos à Luz Da ConstituiçãO Federal
 
MODELOS E PRÁTICAS DO ENSINO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA EM SALA DE AUL...
MODELOS E PRÁTICAS DO ENSINO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA EM SALA DE AUL...MODELOS E PRÁTICAS DO ENSINO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA EM SALA DE AUL...
MODELOS E PRÁTICAS DO ENSINO RELIGIOSO E DIVERSIDADE RELIGIOSA EM SALA DE AUL...
 
Fides et Ratio
Fides et RatioFides et Ratio
Fides et Ratio
 
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdfCiencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
Ciencia Contemplativa - B. Alan Wallace.pdf
 
7424 34663-1-pb
7424 34663-1-pb7424 34663-1-pb
7424 34663-1-pb
 
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)DEIM -    conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
DEIM - conhecendo as Diretrizes para Educação na Igreja Metodista (ED na CMP)
 
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
DEIM - conhecendo o documento (Escola Dominical da Catedral Metodista de Pira...
 
Livro - Escola Dominical, o que vc precisa saber
Livro - Escola Dominical, o que vc precisa saber Livro - Escola Dominical, o que vc precisa saber
Livro - Escola Dominical, o que vc precisa saber
 
Filosofia e maçonaria
Filosofia e maçonariaFilosofia e maçonaria
Filosofia e maçonaria
 

Mehr von Ivani Coutinho

JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
Ivani Coutinho
 
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
Ivani Coutinho
 
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
Ivani Coutinho
 
Decreto para o Ano da Fé - Arquidiocese de São Paulo
Decreto para o Ano da Fé -  Arquidiocese de São PauloDecreto para o Ano da Fé -  Arquidiocese de São Paulo
Decreto para o Ano da Fé - Arquidiocese de São Paulo
Ivani Coutinho
 
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
Ivani Coutinho
 
Escala de setembro e outubro 2012
Escala de setembro e outubro 2012Escala de setembro e outubro 2012
Escala de setembro e outubro 2012
Ivani Coutinho
 
Escala de preparações de missas - setembro e outubro 2012
Escala de preparações de missas -  setembro e outubro 2012Escala de preparações de missas -  setembro e outubro 2012
Escala de preparações de missas - setembro e outubro 2012
Ivani Coutinho
 
Roteiro da pré catequese - 2º semestre
Roteiro da pré catequese - 2º semestreRoteiro da pré catequese - 2º semestre
Roteiro da pré catequese - 2º semestre
Ivani Coutinho
 
Verbum Domini ii parte lit palavra (4)
Verbum Domini ii parte lit palavra  (4)Verbum Domini ii parte lit palavra  (4)
Verbum Domini ii parte lit palavra (4)
Ivani Coutinho
 
Jornal Paroquia Santa Bernadette - edição 36
Jornal Paroquia Santa Bernadette -  edição 36Jornal Paroquia Santa Bernadette -  edição 36
Jornal Paroquia Santa Bernadette - edição 36
Ivani Coutinho
 
Escala de preparação de missas julho e agosto
Escala de preparação de missas julho e agostoEscala de preparação de missas julho e agosto
Escala de preparação de missas julho e agosto
Ivani Coutinho
 
Escala de ministros comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
Escala de ministros  comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]Escala de ministros  comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
Escala de ministros comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
Ivani Coutinho
 
Jornal santa bernadette edição 35 revisado
Jornal santa bernadette edição 35   revisadoJornal santa bernadette edição 35   revisado
Jornal santa bernadette edição 35 revisado
Ivani Coutinho
 
Equipes de-pastoral-liturgica
Equipes de-pastoral-liturgicaEquipes de-pastoral-liturgica
Equipes de-pastoral-liturgica
Ivani Coutinho
 

Mehr von Ivani Coutinho (17)

JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
JORNAL BERNADETTE DE LOURDES - EDIÇÃO 39 - MARÇO/2013
 
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
Escala celebrações equipes responsávies-jan.fev.2013 (salvo automaticamente)
 
Escalas de Ministros
Escalas de Ministros Escalas de Ministros
Escalas de Ministros
 
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 38 - Dezembro/2012
 
Decreto para o Ano da Fé - Arquidiocese de São Paulo
Decreto para o Ano da Fé -  Arquidiocese de São PauloDecreto para o Ano da Fé -  Arquidiocese de São Paulo
Decreto para o Ano da Fé - Arquidiocese de São Paulo
 
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 37
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 37Jornal Bernadette de Lourdes - edição 37
Jornal Bernadette de Lourdes - edição 37
 
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
Escala de Ministros Leitores -setembro e outubro 2012
 
Escala de setembro e outubro 2012
Escala de setembro e outubro 2012Escala de setembro e outubro 2012
Escala de setembro e outubro 2012
 
Escala de preparações de missas - setembro e outubro 2012
Escala de preparações de missas -  setembro e outubro 2012Escala de preparações de missas -  setembro e outubro 2012
Escala de preparações de missas - setembro e outubro 2012
 
Roteiro da pré catequese - 2º semestre
Roteiro da pré catequese - 2º semestreRoteiro da pré catequese - 2º semestre
Roteiro da pré catequese - 2º semestre
 
50 ag cnbb
50 ag cnbb50 ag cnbb
50 ag cnbb
 
Verbum Domini ii parte lit palavra (4)
Verbum Domini ii parte lit palavra  (4)Verbum Domini ii parte lit palavra  (4)
Verbum Domini ii parte lit palavra (4)
 
Jornal Paroquia Santa Bernadette - edição 36
Jornal Paroquia Santa Bernadette -  edição 36Jornal Paroquia Santa Bernadette -  edição 36
Jornal Paroquia Santa Bernadette - edição 36
 
Escala de preparação de missas julho e agosto
Escala de preparação de missas julho e agostoEscala de preparação de missas julho e agosto
Escala de preparação de missas julho e agosto
 
Escala de ministros comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
Escala de ministros  comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]Escala de ministros  comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
Escala de ministros comunhão e leitores - julho e agosto 2012[1]
 
Jornal santa bernadette edição 35 revisado
Jornal santa bernadette edição 35   revisadoJornal santa bernadette edição 35   revisado
Jornal santa bernadette edição 35 revisado
 
Equipes de-pastoral-liturgica
Equipes de-pastoral-liturgicaEquipes de-pastoral-liturgica
Equipes de-pastoral-liturgica
 

Universidades Católicas

  • 1. Universidades católicas A recente nomeação da Reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) causou diversas reações na comunidade acadêmica da Universidade: estranheza, contrariedade e aprovação. Aparentemente, o motivo foi a escolha, pelo Grão Chanceler da Universidade, não do primeiro nome da lista tríplice que lhe foi apresentada, mas do terceiro. Reações até certo ponto compreensíveis. Talvez algumas reações decorreram da interpretação equivocada do processo de escolha do Reitor e Vice Reitor da PUC-SP. Conforme o Estatuto da PUC-SP, compete ao Conselho Superior da Universidade (CONSUN) “organizar, através de consulta direta à comunidade, por meio de processo eletivo, a lista tríplice de nomes de professores para escolha e nomeação do Reitor e respectivo Vice Reitor, nos termos deste Estatuto, encaminhando-a ao Grão Chanceler” (Art 21/XXII). E prevê ainda o mesmo Estatuto que ao Grão Chanceler compete ”escolher e nomear o Reitor e o Vice Reitor dentre os professores de uma lista tríplice organizada e encaminhada pelo CONSUN” (Art. 43/II). Portanto, não se trata de escolha direta do Reitor e do Vice pela comunidade universitária; se assim fosse, não haveria sentido na apresentação de uma lista tríplice pelo CONSUN, e estaria prevista a eleição direta, pura e simples, do Reitor e do Vice pela comunidade universitária. Mas não é isso o que consta no Estatuto. É verdade que a escolha do Reitor recaiu, tradicionalmente, sobre o nome mais votado, pelas razões que a Autoridade competente julgou convincentes; eu mesmo, na escolha precedente, procedi assim. Mas se, desta vez, seguiu outra ordem, é porque esta possibilidade sempre esteve implicada na própria apresentação da lista tríplice pelo CONSUN ao Grão Chanceler. Toda essa questão leva a refletir algo mais sobre as Universidades Católicas, que estão ligadas à Igreja e são regidas, quanto à sua natureza e missão, pela Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae (“Do Coração da Igreja”, 1991), do papa João Paulo II. Elas têm sua origem “do coração da Igreja” e expressam, da maneira que lhes é própria, a missão da Igreja na busca e explicitação do verdadeiro saber (“sapientia”) e do bem da humanidade. No que se refere ao ordenamento acadêmico, elas seguem a legislação civil do país onde se 1
  • 2. encontram; mas quanto à sua identidade, orientação e objetivos específicos, elas estão sujeitas às normas da Igreja. Uma universidade católica, como qualquer outra, é uma comunidade de estudiosos, dos vários campos do saber humano; também ela se dedica à pesquisa, ao ensino e às várias formas de serviço à sociedade, compatíveis com sua identidade e missão. Enquanto “católica” e, em nosso caso, também “pontifícia”, ela está ligada à Igreja, segue suas diretrizes e deve realizar suas atividades de maneira coerente com os ideais, princípios e comportamentos católicos; nem se poderia esperar que fosse diversamente, ou até o contrário disso. No entanto, não equivale isso a dizer que todos os que frequentam a universidade católica devam ser confessionalmente católicos; a própria PUC-SP acolhe muitos estudantes que não professam a fé católica e são todos bem vindos; a liberdade de consciência é plenamente respeitada e o credo católico não é imposto a ninguém. Mas é certo que a própria universidade tem a missão de apresentar e honrar a sua identidade diante de todos os que a frequentam e integram a comunidade acadêmica. A liberdade de pensamento, ensino e manifestação das ideias, consagrada pelas Constituições dos países democráticos, assegura esse direito às instituições confessionais e não confessionais. Regimes totalitários, geralmente, são intolerantes em relação a universidades “confessionais”, ou que não se alinhem plenamente ao pensamento único e oficial, impedindo até mesmo a sua existência e livre atuação. Poderia parecer que as universidades católicas e outras, de tipo confessional, existem apenas para a vantagem das próprias Instituições que as mantêm, mas isso é outro equívoco. Elas são, antes de mais nada, instituições de educação, ensino, formação de pessoas e de fomento da cultura dos povos, à luz de suas próprias percepções e interpretações da realidade. E não deve ser visto como um dano para a sociedade que haja instituições com diversos tipos de diretrizes na educação e na formação dos cidadãos. O conjunto da cultura e do convívio social fica enriquecido com uma sadia pluralidade educacional. Contrariamente, se tudo tendesse ao pensamento oficial e único, haveria o risco de uma cultura monótona e com horizontes sempre mais estreitos. Isso não representaria um benefício para a convivência plural e democrática. 2
  • 3. A universidade católica tem uma contribuição específica a dar para a formação cultural; e essa contribuição decorre da visão cristã sobre o homem e o mundo, que tem desdobramentos, entre outras coisas, na filosofia em geral, na antropologia, na ética, educação, na psicologia, na economia, na política e também na técnica. Esses princípios cristãos oferecem uma forma própria de interpretação sobre o homem, a sociedade, as relações sociais e a história; e também, sobre a natureza e a interação do homem com o ambiente da vida. Mais uma vez, entendo que a universidade católica não tem a finalidade de impor as expressões próprias de uma “cultura cristã” às pessoas e ao convívio social, mas de as oferecer como contribuição, que procede da sua própria autoconsciência, para o enriquecimento da cultura e da vida social. A universidade católica é, por excelência, um espaço de diálogo cultural, onde ela tem muito a oferecer, ex corde Ecclesiae, a partir do âmago de sua identidade, da sua mensagem e da experiência secular da Igreja. Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. de 08.12.2012 Card. Odilo P. Scherer Arcebispo de São Paulo 3