Este documento apresenta uma análise histórica da participação da mulher na sociedade e no esporte ao longo dos tempos. Inicialmente descreve como a mulher era vista na sociedade romana e durante a Idade Média, quando era considerada um ser inferior e seu papel se restringia basicamente à reprodução e aos afazeres domésticos. Posteriormente, o documento aborda o avanço da participação feminina no esporte de forma recreativa inicialmente e, mais tarde, em competições regionais, continentais e mundiais, com a primeira participação olí
1. FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO
DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
A PARTICIPAÇÃO DA MULHER EM ESPORTES COMPETITIVOS
ISMAR KATH
Monografia apresentada à
Faculdade Estadual de Ciências e
Letras de Campo Mourão, para
obtenção do título de especialista,
área de concentração – Educação
Física na Educação Básica, sob
orientação da professora Helena
3. Agradecimentos
Agradeço aos meus pais, que com carinho, dedicação e amor me conduziram
durante toda minha vida, ensinando, educando e mostrando caminhos, dando todo o apoio e
o incentivo nos momentos de fraqueza
Aos meus amigos que, na rotina do cotidiano que nos leva à acomodação e ao
desânimo, estiveram ao nosso lado dando aquela palavra de carinho e incentivo,
À Walkiria, companheira de todos os momentos, que com companheirismo, amor,
paciência e dedicação, esteve sempre comigo.
A todos os professores pela grande contribuição dada ao longo de todo o curso e,
em especial, na execução deste trabalho.
A todos o meu muito obrigado!
3
4. Todo mérito deste trabalho dedico
especialmente aos meus pais,
Hugo e Herta, porque são a fonte
de toda a força e coragem para
enfrentar todas as lutas.
Para Walkiria, que, em todos os
momentos, esteve me dando o
apoio e o carinho necessários para
que eu não desistisse de meus
objetivos.
Para a equipe de futsal feminino
do Colégio Estadual Prof. Jaelson
Biácio (Piquirivaí – Campo
Mourão), formada em 1997, que
inspirou e motivou o início deste
estudo.
4
5. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................... 5
CAPÍTULO I....................................................................................................................... 6
1 - UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE 6
– O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional................... 15
1.1 – O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil........................................... 24
CAPÍTULO II..................................................................................................................... 31
2 - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER....................... 31
2.1 – O Esqueleto................................................................................................................ 31
2.2 – Sistema vascular e respiratório................................................................................... 34
2.3 – Sistema muscular....................................................................................................... 37
CAPÍTULO III.................................................................................................................... 41
3 - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO ORGANISMO
FEMININO......................................................................................................................... 41
3.1 – Menstruação............................................................................................................... 42
3.2 - Exercícios e distúrbios menstruais.............................................................................. 50
3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação.................................................... 55
3.4 – Gravidez e parto......................................................................................................... 59
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 63
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 65
5
6. INTRODUÇÃO
Os registros que se referem à participação da mulher no esporte são recentes e estão
relacionados à sua ascensão na sociedade moderna.
As competições esportivas eram privilégio dos homens, já que se considerava que a
prática do esporte por mulheres as tornavam “masculinizadas” e viris, além de
supostamente provocarem outros prejuízos ao organismo feminino, inclusive a sua
esterilização. Até mesmo a prática da Educação Física só foi aceita após uma série de
discussões.
A participação da mulher no esporte se iniciou de forma meramente recreativa. Em
alguns lugares promoveram-se algumas competições regionais de determinadas
modalidades praticadas por mulheres, e com o passar do tempo surgiram outros eventos
esportivos para mulheres de caráter regional, continental e mundial, sendo que a primeira
participação da mulher em uma Olimpíada aconteceu em 1928, em Amsterdã.
Existem algumas particularidades que devem ser levadas em conta quando falamos
da participação feminina em atividades físicas e esportivas:
• menstruação
• gravidez
• diferenças orgânicas (esqueleto, sistema muscular, sangue, etc.)
6
7. • fatores sócio-culturais
Essas diferenças e particularidades não permitem, sem um estudo mais aprofundado,
afirmar que determinado esporte ou atividade física sejam contra-indicadas para o sexo
feminino.
O aumento significativo da prática de esportes de alto nível pelas mulheres é um
fato, sendo que algumas modalidades, anteriormente praticadas quase que exclusivamente
pelo sexo masculino, têm sido cada vez mais difundidas e praticadas também por atletas do
sexo feminino, sendo que algumas destas modalidades passam a apresentar características
diferenciadas e próprias (tamanho do campo de jogo, peso da bola, etc.).
Temos observado, em nosso trabalho como profissional da Educação Física, que
algumas equipes femininas, incluindo principalmente equipes de nível escolar, superam em
qualidade técnica muitas equipes masculinas, sendo inferiorizadas, em algumas vezes,
apenas na questão física.
Através de um trabalho de pesquisa bibliográfica, procuraremos questionar e
analisar alguns aspectos que ainda são considerados “tabus”, em relação à participação das
mulheres nas práticas desportivas, seja por aspectos físicos, psicológicos ou sociais, e
verificar até que ponto conceitos que discriminavam o sexo feminino no cenário esportivo
podem ser considerados procedentes ou não.
7
8. I – UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE
Desde o tempo dos hominídeos, tanto a posição da mulher quanto a do homem era
bem definida: ela encarregada da coleta, e ele da caça e de serviços mais pesados. Essa
tradição tem se mantido através dos tempos.
A família romana tinha como prioridade o sexo masculino, sendo que as meninas e
os que apresentavam algum tipo deficiência não tinham o mesmo valor. Conquistar terras
era lei, e, por isso, o padrão de corpo da sociedade, principalmente dos soldados, era
representado pelo homem com disciplina, dotado de um físico atlético e forte, com coragem
e rapidez para enfrentar o inimigo, o que, com certeza, descartava a necessidade do “corpo
mulher” para este objetivo.
Podemos citar um fato interessante na cultura romana. As filhas, ao nascerem,
recebiam o nome feminino do pai, ou seja, se o nome do pai fosse Júlio, a filha seria
chamada de Júlia. Caso houvesse mais de uma filha, o nome era mantido, acrescido de um
complemento (mais "nova", mais "velha" ou então "primeira", "segunda"). Esta falta de
identidade das mulheres ocorria porque eram consideradas partes anônimas e sem
importância para a família.
8
9. O “corpo mulher” era associado à reprodução, tendo como destino o casamento,
sendo considerado aos 14 anos em "idade núbil". A virgindade era altamente considerada,
tanto que maridos e pais poderiam matar filhas e mulheres não castas.
O casamento era um "dever cívico" que o homem deveria cumprir, sendo a mulher
um ser periférico tão importante quanto qualquer outro objeto da casa, pois não contribuía
em nada, Mais tarde, alguns passaram a vê-la como companheira, desde que seus interesses
fossem mantidos.
Por outro lado, as mulheres eram consideradas perigosas e alvos de todas as falhas
humanas. Temia-se que os homens, tomados por uma paixão, poderiam ficar dependentes
da mulher amada, mergulhando em dolorosa escravidão e "perderiam a cabeça".
“Um homem honesto só teria oportunidade de vislumbrar a nudez da amada se a lua
passasse na hora certa pela janela aberta”. (Veyne, 1991, p. 197)
Claramente se percebe, na Antiguidade, que o “corpo mulher” representava pavor,
pelos "poderes" que os próprios homens desconheciam.
No início da Idade Média, ocorre a mudança da cidade para o campo. O contato
entre as pessoas, bem como a vida, deixa de ocorrer nas ruas e construções urbanas, para se
estabelecer nas casas e cabanas construídas no campo. O feudalismo se estrutura,
caracterizando um sistema de pessoas com autoridade fracionada, onde cada um dos grupos
9
10. tem um dono, o senhor feudal, proprietário de um espaço de terra, que detém o poder de
comandar e punir aqueles que trabalham ao seu redor, os vassalos.
O Cristianismo consolida a sua influência na época, principalmente no início do
reinado de Carlos Magno, que, não sendo simpático às mulheres, as proibiu de ajudar na
missa e educar meninos, com o pretexto da fragilidade do sexo e a instabilidade da mente.
Após a sua morte, as mulheres voltaram a ter prestígio no espaço religioso.
As mulheres e os filhos deveriam prestar obediência e respeito ao pai. Embora, anos
mais tarde, a mulher pudesse intervir junto ao marido, isto ocorria de forma restrita e sem o
conhecimento da sociedade, porque, como corpo frágil, deveria ter responsabilidades
menores. A mulher só era considerada esposa, devido à ênfase da mulher como corpo
reprodutor, sendo considerada uma peça uterina de pouco valor, resguardado de pudores e
restrições, do nascimento até à morte.
O ódio direcionado à mulher pode ser sentido nas torturas corporais dos
inquisidores da época, nas quais as mulheres que eram acusadas de bruxaria eram
submetidas. Eram-lhes depilados todos os pelos; o corpo era perfurado por agulhas em
busca de zonas insensíveis, consideradas a marca da bruxa; mergulhavam-nas nuas com os
pés amarrados com um peso e, caso flutuassem, eram inocentadas; ficavam nuas expostas à
execração pública ou ainda eram postas à prova pelo ferro em brasa.
A imagem da mulher foi dualizada. Para contrapor à feiticeira lasciva, a Igreja
Católica impôs a figura de Maria, que tenta resgatar a dignidade e a pureza da mulher: a
10
11. mãe que gera ao mesmo tempo em que permanece virgem. Restringiu-se a mulher à vida
dócil e doméstica do seu lar, sob a proteção de seu marido e senhor. Criando estereótipos
que ora tendem para o mal (a bruxa), ora para o bem (a virgem), a Igreja nada mais fez do
que tentar desconstruir e classificar a figura ambígua e que tanto teme: a mulher.
Portanto, justamente aquelas mulheres que tinham vida pública e eram livres
sexualmente foram torturadas e obrigadas a se declararem bruxas, para morrerem nas
fogueiras.
O auge desta discriminação se deu com a reforma gregoriana (Papa Gregório VII),
que no final do séc. XI enclausurou a mulher, diminuindo seu acesso aos espaços públicos e
fortalecendo o celibato aos padres.
O prazer e as mulheres eram considerados pela Igreja culpáveis, porque afastavam o
homem de Deus; eram, portanto, o pior dos pecados, pior do que a busca desenfreada do
poder e da riqueza.
“A única mulher considerada era a
Virgem Maria, cultuada como modelo
ideal de mulher, enaltecendo
princípios imaculados, sendo que as
outras mulheres eram vistas como
descendentes de Eva, símbolo de
pecado e tentação, e... quanto mais a
Virgem era exaltada, mais as mulheres
comuns eram consideradas longe da
mulher encarnada por ela”. (Muraro,
1992, p. 106)
11
12. Mistificava-se Eva como o símbolo do mal, pela sua fraqueza e leviandade. Em
contrapartida, Maria é a representação da imagem materna que concebeu sem pecado, ou
seja, sem sexo, sem desejo e sem sensualidade.
A perseguição à mulher se espalhou ao longo dos anos na sociedade centralizada
pela dominação da Igreja e do sexo masculino. Aquelas que exerciam alguma profissão
eram caçadas, sendo o saber feminino sufocado pelo saber masculino.
Neste quadro, o corpo da mulher de alta estirpe era colocado sob vigília desde a
infância, para que não fosse um estímulo para o pecado dos homens, estando preparado
para casar. O corpo da mulher deveria ser imóvel para manter o pudor, vestindo-se e
penteando-se às escondidas. Os corpos mulheres menos poderosos deveriam ocupar-se da
oração ou do trabalho em tecido.
É quase que desnecessário citar que as mulheres eram barradas nas universidades,
onde os rapazes eram educados. Estes rapazes eram incentivados, nesta época, a proezas
amorosas, enquanto as mulheres sofriam as restrições da lei.
O poder patriarcal sobre a feminilidade era reforçado, pelo perigo que o corpo
mulher representava. Porém, na ausência do marido, as mulheres geriam as propriedades,
exercendo um papel econômico.
12
13. As mulheres nos primeiros tempos da Idade Média representavam importantes
reservas de força de trabalho, manipuladas de acordo com os desejos e as necessidades dos
homens.
O corpo feminino era um tabu, recoberto de vestimentas longas e protegido para se
manter casto, submetido à sexualidade masculina. O corpo nu era reservado à clausura e à
solidão, sendo permitido em momentos de privacidade, recebendo um tratamento especial à
base de ervas, principalmente para evitar a transpiração. O corpo feminino tinha o "poder
fogoso" de destruição, representado o perigo da carne. Nas cerimônias pagãs, porém, o
corpo nu feminino era permitido como forma de provocar a fertilidade dos campos e da
chuva.
A sexualidade feminina, explicitada pelo orgasmo, era reprimida, porque esta
manifestação era própria das prostitutas ou das ligações com o demônio, reforçando que o
papel da mulher na sociedade deveria se associar ao de "Maria" e não ao de "Eva"...
Como pode se comprovar, valorizava-se o belo do corpo, mas tal beleza deveria se
manter escondida, sendo exibida somente por maníacos. O corpo era uma fonte de signos
desejável, mas ao mesmo tempo representava uma ameaçadora condenação.
Após a Inquisição, os papéis sociais de homens e mulheres foram normatizados
culturalmente, e cada qual deveria desenvolver as características que lhes eram atribuídas.
A mulher se caracterizava pela sexualidade desmedida, pela passividade e pela fraqueza de
13
14. intelecto e de espírito. O homem pela força para dominar e pelo papel de agente ativo no
processo do saber e, por isso mesmo, o único capaz de criar.
Contrapondo-se aos valores vigentes, uma mulher ousou desafiar os homens: Joana
D'Arc, a qual comandava as tropas guerreiras e vestia-se com roupas masculinas, para
pavor do poder masculino. Este dado é relevante porque ela foi condenada à fogueira, pois
os homens não admitiam que uma mulher pudesse competir com eles, desestabilizando suas
regras de conduta.
Ainda neste período, o espaço das festas foi valorizado, com a exibição de ricos
trajes e maquiagem por parte dos mais nobres. Ocorreu uma excessiva valorização do
vestuário como forma de invólucro social.
Os trajes aqueciam, ornamentavam, protegiam e reforçavam a diferença entre os
sexos, além de marcar etapas da vida, contribuindo na construção da personalidade. No
final da Idade Média, as mulheres ousaram mais em relação às roupas, valorizando a
silhueta através da cintura marcada, do decote do ombro, inspirando sedução. Percebe-se,
portanto, um declínio na rigidez dos limites que eram impostos ao corpo mulher na época.
Dessa forma, ficam evidenciadas as tatuagens no corpo mulher, impressas ao longo
do tempo pelos valores de uma cultura masculina, nas concepções da ética, da estética, do
higiênico e da educação. Ora, privilegiam-se Evas, ora cultiva-se a permanência de Marias.
O “corpo mulher” numa visão dicotômica, maniqueísta. Hoje, importa superar esta
dualidade.
14
15. Na Europa do séc. XIX e do início do presente século, a Educação Física recebeu
várias elaborações pedagógicas, às quais foram acrescidas três temáticas: uma educação
física para todas as classes sociais, uma educação física infantil e uma educação física
feminina.
A Educação Física na "Era do Capital" não foi sistematizada apenas para atender
todas as classes, no sentido de homens adultos, mas incluía o atendimento às crianças e às
mulheres. Não foi à toa que esses dois grupos foram incorporados na prática da atividade
física principalmente a partir da segunda metade do séc. XIX, nos países europeus,
especialmente na Inglaterra, na Alemanha, na França e na Bélgica.
As mulheres e as crianças foram objetos de preocupação social, não no aspecto
político, pois elas não votavam na chamada "sociedade democrática", mas pela importância
desses dois grupos na produção material. Como exemplo, podemos citar que, em 1790, a
produção britânica de carvão, devido, entre outros fatores, à introdução da mão-de-obra de
mulheres e crianças, ou seja, a exploração do trabalho de mulheres e crianças fazia parte da
estratégia para a diminuição dos gastos, já que pagava para as crianças a metade do salário
de um adulto, e aumento dos lucros.
A sobrevivência naquelas dias levava toda a família a estar nas fábricas,
principalmente na têxtil, exigindo o sacrifício dos filhos ao deus chamado Capital. Nas
fábricas existiam os postos específicos para cada membro da família (crianças, moças,
mulheres e homens adultos)..
15
16. 1.1 - O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional
A participação oficial de mulher dentro do esporte é relativamente recente e está
relacionada à sua emancipação na sociedade moderna, no início do século XX.
A dança era a única atividade física permitida para as mulheres, sendo que estas
eram excluídas totalmente dos jogos olímpicos, até mesmo como simples espectadoras.
Caso esta regra fosse violada, a mulher se expunha à própria morte.
Durante a Idade Média e a Renascença algumas mulheres caçavam, sendo que todas
pertenciam obrigatoriamente à nobreza.
As disputas desportivas eram consideradas masculinizantes e prejudiciais ao frágil
organismo feminino, sendo propagado até mesmo o conceito de que determinadas práticas
físicas poderiam levar à esterilização. A própria Educação Física para a mulher só foi aceita
após uma série de discussões, sendo que a participação da mulher na prática desportiva só
aconteceria algum tempo mais tarde.
Culturalmente, na maioria das sociedades organizadas, as meninas, desde a sua
infância, não são estimuladas, e muitas vezes são até mesmo impedidas, de participar de
brincadeiras consideradas mais agressivas e atléticas, largamente praticadas pelos meninos.
Isso faz com que elas percam grandes oportunidades de conhecer e desenvolver suas
potencialidades.
16
17. “Os meninos quase sempre brincam
com bolas, ou com brinquedos de
guerra, que oferecem excelentes
possibilidades de integração com as
atividades físicas, enquanto que as
meninas se entretêm com bonecas e
brinquedos ‘passivos’.
Conseqüentemente, os meninos são
mais ativos e conseguem liderança
através da força física, enquanto as
meninas se dedicam às atividades
manipulativas e recebem
reconhecimento pela atividade verbal".
(MASSUCAT e HATA, 1989, p. 20).
Apesar do grande impulso dado para a estruturação do esporte moderno em 1932,
por Thomas Arnold, diretor do Colégio de Rúgbi, que introduziu um sistema de educação
que permitia maior participação e iniciativa por parte dos alunos, as garotas continuaram
sendo excluídas deste contexto. Apenas os cursos de danças e algumas lições de ginástica
lhes eram permitidas, durante a sua formação. Em 1913, George Hébert estabelecia uma
seção feminina no seu “Colégio de Atletas” em Reims, para a formação de monitoras de
educação física.
Alguns dos primeiros registros de participação feminina em atividades esportivas
mostram claramente uma finalidade apenas recreativa. Aos poucos surgiram competições
de caráter local e, posteriormente, campeonatos regionais, continentais e mundiais.
Certas modalidades esportivas são praticadas pelo sexo feminino há muito tempo. O
jogo de bochas é praticado desde o século XIII, sendo que a mulher nele se iniciou muito
cedo.
17
18. O cricket é praticado por mulheres desde o século passado e o arco e flecha têm
registros de participação feminina datados de 1770, na Inglaterra. Nesta modalidade, as
mulheres participaram dos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis, sendo extinta esta
disputa após 1920.
No tênis, a mulher participa de campeonatos oficiais desde o século passado. Maud
Watson foi a primeira vencedora de um campeonato de simples feminino em Wimbledon,
em 1884. Helen Wills Moody, com oito conquistas, é a recordista de vitórias, sendo quatro
delas consecutivas. Entre as brasileiras, Maria Ester Bueno se destaca como a única latino-
americana campeã em Wimbledon, tendo conquistado três campeonatos de simples (1959,
1960, 1964) e cinco vezes o campeonato de duplas femininas.
Em 1900, em Paris, as mulheres participaram do torneio de tênis dos Jogos
Olímpicos, nas modalidades de simples feminino e de duplas mistas. O uniforme era
composto de uma saia branca à altura do tornozelo.
O golfe, com origem na Escócia, no século XV, teve, oficialmente, a Sra. M. Scott
como a primeira vencedora do campeonato inglês desta modalidade, em 1893. A
participação feminina no golfe é fato que remonta a um passado muito distante.
Há registros de participação feminina na modalidade de hóquei sobre a grama, na
Europa, desde o século passado, com referências oficiais de disputas entre equipes
femininas da Irlanda desde 1896, e de campeonatos contra equipes inglesas desde 1898.
18
19. Em 1899, as senhoritas Lucas e Graeme venceram o primeiro campeonato inglês de
duplas de badminton (esporte semelhante ao tênis).
Na natação, há registros oficiais da participação feminina em campeonatos
organizados desde o século passado. Como exemplo, Srta. Hilda Thorn venceu a prova das
100 jardas do campeonato nacional feminino da Inglaterra em 1901, com o tempo de 1' 30"
4/10.
Na esgrima, a participação feminina parece ter se iniciado na Itália, depois na
França e se espalhado posteriormente por toda a Europa.
No atletismo, a participação parece ter acontecido mais tardiamente, na Inglaterra,
durante a Primeira Grande Guerra, por ocasião de alguns espetáculos beneficentes.
No remo e no caiaque as referências que temos são ainda mais recentes, sendo que
a inclusão destas modalidades nos Jogos Olímpicos ocorreu depois de passado muito
tempo.
O esporte feminino tomou impulso e passou a ser organizado no setor internacional,
com a criação da União Esportiva Feminina Internacional, em Paris, em 1922. Passou a se
organizar, a partir de então, diversos campeonatos mundiais nas modalidades esportivas
para o sexo feminino.
19
20. Historicamente, a participação feminina nos Jogos Olímpicos enfrentou sérias
restrições, inclusive pelo próprio idealizador dos Jogos da Era Moderna: Pierri de Fredi, o
Barão de Coubertin.
"O Barão (Coubertin) argumentava
com o axioma de Proust, declarando:
ou se fecham, ou se abrem todas as
portas. E como o acesso a todas as
portas não era permitido às mulheres,
por que permitir-lhes a entrada
nalgumas, proibindo-as nas restantes?
...Ele nem sequer admitia a realização
de uma Olimpíada feminina, que seria
qualquer coisa de impraticável,
desinteressante, inestética e incorreta."
(Esteves apud Romero, 1990, p. 276)
O Barão de Coubertin chegou a deixar a presidência do Comitê Olímpico
Internacional, em 1928, em protesto pela autorização da participação feminina. Entretanto,
pouco a pouco, as mulheres impuseram sua presença.
Mesmo sendo exclusivamente masculinos, os primeiros Jogos Modernos (Atenas,
1896) tiveram uma participação feminina. A Rainha Olga, da Grécia participou
simbolicamente, abrindo o concurso de tiro, disparando com um fuzil nacarado.
Em 1900, as mulheres participaram da competição de tênis, em Paris. Houve um
torneio simples feminino e um de duplas mistas. O uniforme era composto de uma saia
branca à altura do tornozelo. Nos Jogos seguintes (Saint Louis, 1904), as mulheres
participaram do arco e flecha.
20
21. Porém, o grande marco do início da projeção da participação feminino no cenário
esportivo internacional ocorreu em 1928, em Amsterdã, quando pela primeira vez
oficializou-se a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, nas provas de atletismo.
Nos cinqüenta anos seguintes a mulher integrou-se cada vez mais no mundo dos
esportes competitivos, participando oficialmente de um grande número de modalidades. É
facilmente observável a contínua melhoria dos resultados esportivos obtidos pelas mulheres
nos últimos anos, como por exemplo, nas provas de atletismo e natação, como podemos
observados no quadro abaixo, onde são comparados resultados obtidos nos Jogos
Olímpicos de Amsterdã (1928), de Munique (1972) e Montreal (1976).
Quadro nº 1 - Resultados de algumas provas do atletismo, disputadas por mulheres em
Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976)
Provas Amsterdã (1928) Munique (1972) Montreal (1976)
100 metros 12"2 11"1 11"08
800 metros 2'16"8 1'58"6 1'54"94
4x100 metros 48"4 42"8 42"55
Salto em altura 1,59 m 1,92 m 1,93 m
Lançamento do disco 39,62 m 66,62 m 69,00 m
Fonte: PINI, 1978, p. 206.
Quadro nº 2 - Resultados de algumas provas da natação, disputadas por mulheres em
Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976)
Provas Amsterdã (1928) Munique (1972) Montreal (1976)
21
22. 100 m nado livre 1'11''00 58"6 55"65
200 m nado peito 3'12"6 2'41"7 2'13"43
400 m nado livre 5"42"8 4'19"00 4'09"89
4x100 m nado livre 4'47"6 3'55"2 3'44"82
Fonte: PINI, 1978, p. 206.
Atualmente, as mulheres participam de numerosas competições, dentro dos Jogos
Olímpicos, mas, curiosamente, permanecem excluídas de esportes dos quais poderiam
participar sem risco e brilhar sem perigo para a sua estética, como, por exemplo, os esportes
à vela. É que, na verdade, não se fez um estudo científico a respeito das conseqüências a
longo prazo da prática de algumas modalidades esportivas em função das capacidades
orgânicas femininas.
Em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, as mulheres iniciam sua participação
oficial nas modalidades de futebol e softbol (adaptação do beisebol), até então modalidades
exclusivamente masculinas. Homens e mulheres simultaneamente iniciaram a disputa do
vôlei de praia em Jogos Olímpicos. No atletismo, a prova dos 3.000 metros para mulheres
foi substituída por uma de 5.000 metros, além da inclusão do salto triplo feminino.
22
23. Quadro nº 3 - PARTICIPAÇÃO FEMININA NOS JOGOS OLÍMPICOS
CIDADE ANO MASC. FEM. TOTAL % MASC. % FEM.
Atenas 1896 311 0 311 100 0
Paris 1900 1060 16 1076 98,5 1,5
St. Louis 1904 619 6 625 99,0 1,0
Londres 1908 1999 36 2035 98,2 1,8
Estocolmo 1912 2490 57 2547 97,8 2,2
Antuérpia 1920 2543 64 2607 97,5 2,5
Paris 1924 2820 136 2956 95,4 4,6
Amsterdã 1928 2724 290 3014 90,4 9,6
Los Angeles 1932 1281 127 1408 91,0 9,0
Berlim 1936 3738 328 4066 91,9 8,1
Londres 1948 3714 385 4099 90,6 9,4
Helsinque 1952 4407 518 4925 89,5 10,5
Melbourne 1956 2958 384 3342 88,5 11,5
Roma 1960 4738 537 5275 89,8 10,2
Tóquio 1964 4457 683 5140 86,7 13,3
México 1968 4750 781 5531 85,9 14,1
Munique 1972 5848 1299 7147 81,8 18,2
Montreal 1976 4915 1274 6189 79,4 20,6
Moscou 1980 4265 1088 5353 79,7 20,3
Los Angeles 1984 5458 1620 7078 77,1 22,9
Seul 1988 6983 2438 9421 74,1 25,9
Barcelona 1992 7108 2851 9959 71,4 28,6
Fonte: Telecurso 2000 – Educação para o Esporte (p. 88)
23
24. Gráfico nº 1 - Comparação entre a participação masculina e feminina na História dos Jogos
Olímpicos
120
100
1896
1900
1904
80 1908
1912
1920
1924
1928
1932
60 1948
1952
1956
1960
1964
1968
40 1976
1980
1984
1992
20
0
% MASC. % FEM.
Fonte: Quadro nº 3
24
25. Através da análise do quadro e do gráfico acima, podemos concluir que a
participação feminina dentro dos Jogos Olímpicos vem crescendo a cada edição, sendo que,
em 1928, houve um aumento considerável, transformando os Jogos Olímpicos de Amsterdã
como um marco da afirmação do avanço da participação feminina no cenário esportivo
mundial.
Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, a participação feminina chegou a
28,6%, índice jamais alcançado anteriormente. Porém, ainda podemos considerar que esta
porcentagem tende a crescer ainda mais, estabelecendo parâmetros de igualdade de
participação para os dois sexos nas próximas edições.
1.2 - O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil
É necessário, para uma melhor compreensão da participação feminina na história
esportiva brasileira, uma análise simultânea entre os conceitos de esporte e educação física
nas diferentes épocas da história do nosso país.
A Educação Física no Brasil e, conseqüentemente, a prática desportiva, esteve
diretamente associada à vida militar, principal reduto de recursos humanos até a criação das
escolas de Educação Física, espaço vedado às mulheres até há bem pouco tempo.
É visível a presença do preconceito sobre a participação feminina nos esportes
dentro da literatura existente no Brasil, com argumentos baseados na suposta
25
26. "masculinização" da mulher esportista e na permanência de posturas declaradamente
discriminatórias.
Podemos observar a existência de uma normatização intensa de uma estética
feminina, como, por exemplo, nos textos de Pini, que distingue entre o poder e o dever de
as mulheres participarem de qualquer modalidade esportiva.
"Em nosso ver, a mulher não deve
participar de modalidades esportivas
como o rúgbi, o futebol, as lutas, além
de outras, por exigirem condições
especiais de treinamento e pelo enorme
'desgaste físico' que acarretam, além da
violência dos contatos físicos que
podem surgir no ardor das disputas.
Em compensação, existem outras
modalidades esportivas que devem
merecer sua preferência, pois melhor
se coadunam com seu organismo e sua
maneira de ser." (Pini, 1978, p. 209)
Íris de Carvalho pleiteia, em depoimento prestado à Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) sobre a Mulher, instalada pelo Congresso Nacional em 1976, a paridade dos
prêmios esportivos masculinos e femininos no mesmo tipo de prova e a eliminação do
decreto-lei 3.199 que proibia às mulheres algumas práticas esportivas, como o futebol, que
hoje é intensamente praticada entre o sexo feminino.
Em um artigo datado de 1970, o professor Carlos Catalano Calleja defendia que as
mulheres não deviam participar de competições de judô, principalmente infantis e mistas,
porque as meninas venciam os garotos e "perder de menina é um tanto vexatório e pode
ocasionar uma problemática que iria afetar a personalidade em formação do menino". Tal
26
27. professor defendia a prática do judô para o sexo feminino sob a forma utilitária de defesa
pessoal a partir da adolescência, indo frontalmente contra a prática do judô-competição por
mulheres. Tal artigo destaca a máxima de que "homens sempre devem ganhar de
mulheres", que deveria causar impacto não só na vida das meninas como também dos
meninos.
Durante um bom tempo no Império, a Educação Física era vedada às meninas. O
primeiro livro editado no Brasil sobre o assunto deixa claro seu posicionamento: "Tratado
de educação física-moral dos meninos" (1828).
Vejamos o regulamento expedido pelo presidente da província do Amazonas, em
1852, que não deixa dúvidas quanto ao impedimento da participação das meninas:
[para os meninos] a instrução
compreenderá a educação física, moral
e intelectual (...); e para o sexo
feminino a mesma instrução
intelectual, mas modificada, e as
prendas próprias ao sexo (...). As
meninas não farão exercícios
ginásticos. (Romero, 1990, p. 279)
A grande proposta formalizada de educação física no geral, e específica para as
mulheres, aparece no parecer de Rui Barbosa ao projeto de 1882 "Reforma do ensino
primário e várias instituições complementares da instituição pública". O parecer recomenda
a instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola primária e tendo em vista,
em relação à mulher, a harmonia das formas femininas e as exigências da maternidade
futura.
27
28. O parecer de Rui Barbosa parece muito próximo ao conceito do dever-ser esportivo
de Pini.
Na época republicana, a primeira referência de destaque parece ser a Reforma
Fernando de Azevedo (1928) que traz em seu texto a afirmação de que a Educação Física
aplicada à mulher seria conformada a seu sexo e às suas condições peculiares:
"Concordam [os educadores] que para
a regeneração do povo é preciso
restituir à mulher a saúde, fortemente
comprometida, a estabilidade e o
equilíbrio. (...) A educação física da
mulher deve ser, portanto, integral,
higiênica e plástica e, abrangendo com
os trabalhos manuais, os jogos infantis,
a ginástica educativa e os esportes,
cingir-se exclusivamente aos jogos e
esportes menos violentos e de todo
incompatíveis com a delicadeza do
organismo das mães" (Azevedo apud
Romero, 1990, p. 281).
Nessa época, é necessário salientar, que existe uma diferença entre os conceitos de
mulheres que executavam exercícios ginásticos e as que praticavam esportes. O texto de
Fernando Azevedo afirmava que a atividade física para a mulher-mãe e dona de casa era
necessária, mas "no esporte, como um campo de predominância masculina com objetivos
de vitória, rendimento e sucesso social é que as dificuldades aparecem".
Na década de 20 encontramos registros referentes às primeiras exibições esportivas
femininas públicas, todas relacionadas à natação, que tentavam romper as barreiras
antepostas à mulher no desporto, ao se apresentarem em público para nadar, ainda que
envoltas com costumes de banho abundantes em babados e dobras.
28
29. Como já citamos, Maria Lenk é a primeira brasileira a participar de Jogos
Olímpicos (Los Angeles, 1932). A composição das delegações brasileiras que participariam
dos Jogos Olímpicos mostra uma lenta e irregular progressão da presença feminina,
comprovando a dificuldade de penetração das mulheres num reduto considerado masculino.
Outro indicador da dificuldade enfrentada pelas mulheres dentro do cenário
esportivo no Brasil é apresentada nas datas das primeiras competições masculinas e
femininas em campeonatos brasileiros. Vejamos alguns casos:
• Natação masculina - 1898; natação feminina - 1935,
• Atletismo e basquetebol masculinos - 1925; atletismo e basquetebol femininos - 1940,
• Tênis masculino - 1923; tênis feminino - 1947.
Podemos citar ainda o futebol, que somente nos últimos anos tem proporcionado
alguns poucos campeonatos para as mulheres brasileiras, que, em pouco tempo, já mostram
bons resultados em competições internacionais, como por exemplo, a terceira colocação na
Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, em 1999.
O Estado Novo foi responsável pela implantação de medidas normatizadoras da
prática esportiva feminina. O decreto-lei 3.199, de 1941, proíbe às mulheres a prática de
esportes "incompatíveis com as condições de sua natureza". Tal decreto foi regulamentado
em 1965 por uma deliberação do Conselho Nacional de Desportos que proibia às mulheres
29
30. a prática de lutas de qualquer natureza, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático,
pólo, rúgbi, halterofilismo e beisebol.
Nos depoimentos prestados à já citada CPI da Mulher em 1976, Iris de Carvalho e
Maria Lenk recomendam a eliminação dessa deliberação:
"(...) É nobre que os legisladores e os
dirigentes se preocupem com a mulher
e queiram protegê-la. Tais cuidados
não deixam de ser uma discriminação
contra o homem, que fica entregue à
própria sorte. Certos esportes por ele
livremente praticados podem
ocasionar-lhe lesões irreversíveis. No
entanto... não seria mais certo conferir
à mulher o direito de escolher, por livre
manifestação de vontade?" (Carvalho
apud Romero, 1990, p. 284-285)
Existe um relato terrível sobre a participação de mulheres no campeonato sul-
americano de judô em 1979, na Argentina. Como a deliberação brasileira já citada proibia a
participação de mulheres em qualquer tipo de luta, Joaquim Mamed, diretor da
Confederação Brasileira de Judô, registrou as desportistas com nomes masculinos. Após a
vitória da equipe, a trama foi descoberta e, atendendo a uma intimação do Conselho
Nacional de desportos, Mamed se apresentou com uma equipe trajando quimono e com as
medalhas conquistadas no peito. Desta forma, após quatorze anos de vigência, a
deliberação 7/65 foi revogada.
Hoje em dia, apesar de barreiras ainda não vencidas totalmente, o esporte feminino
brasileiro se encontra em estágio bem avançado, com destaque internacional para diversas
modalidades, como o voleibol, o basquetebol e o futebol. Outras modalidades mostram
30
31. claro avanço técnico e em número de praticantes, como a ginástica artística, o judô e o
handebol.
Outra grande barreira ainda enfrentada pelas mulheres quanto à sua participação em
algumas modalidades esportivas são alguns conceitos relacionados às diferenças entre as
capacidades orgânicas do homem e da mulher. Considerando que algumas destas diferenças
são reais e comprovadas, determinados esportes carecem de adaptações para que possam
ser praticadas pelo sexo feminino.
A análise destes aspectos orgânicos se constitui como ponto central do
prosseguimento deste trabalho de pesquisa.
31
32. II - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER
Este capítulo analisará as características que tornam os corpos do homem e da
mulher diferentes, quanto aos aspectos significativos para a prática da atividade física e dos
desportos em geral.
A mulher do século XX deseja ser igual ao homem. Além das diferenças anatômicas
evidentes relativas aos órgãos genitais e aos caracteres sexuais secundários, o homem e a
mulher apresentam importantes diferenças morfológicas.
2.1. - O Esqueleto
Com a mesma altura em relação ao homem, a bacia da mulher é mais larga, o talhe e
os ombros são mais estreitos, os fêmures mais convergentes e a lordose lombar mais
acentuada.
Com o mesmo peso em relação ao homem, a mulher apresenta um esqueleto mais
frágil, um tecido adiposo subcutâneo mais abundante e, sobretudo, um tecido muscular
menos desenvolvido.
O esqueleto da mulher apresenta características de forma e de desenvolvimento
claramente distintas em relação ao esqueleto do homem, com ossos menores, mais leves e
com tuberosidades, apófises e cristas mais delicadas e menos salientes. As articulações e o
32
33. aparelho capsuligamentar são mais delicados e mais adaptáveis aos esforços de natureza
leve.
A conformação do tórax é diferente nos dois sexos. O tórax da mulher é menor e
mais estreito no seu conjunto, com ombros menores e a abertura inferior mais ampla em
relação ao homem.
A pelve da mulher, condicionada à função da procriação, faz exceção a todos os
outros ossos do esqueleto, sendo mais larga e mais ampla que a do homem. Apresenta uma
morfologia particular, que lhe permite desenvolver equilíbrios estáticos e dinâmicos
diferentes dos do homem, tanto nas condições normais quanto na correspondente à
gestação, que lhe é específica. Nesta condição, o aparelho capsuligamentar das articulações
pélvicas torna-se mais flácido, permitindo modificações das conexões dos ossos pélvicas
durante a mecânica do parto. Além do mais, os ilíacos da mulher apresentam acetábulos
voltados mais em direção antero-lateral em relação aos do homem, condicionando
articulações coxofemorais diferentes das do homem. Nessas condições, há maior
convergência dos fêmures para o plano mediano que dão aos membros inferiores femininos
um aspecto que lembra o da letra "X".
A maior largura da bacia feminina e a maior convergência dos fêmures para o plano
mediano imprimem à marcha da mulher uma movimentação balanceada lateralmente, para
a direita e para a esquerda, diferente da do homem, que é mais firme e retilínea. O tronco da
mulher, na maioria dos casos, é mais comprido do que o do homem, o contrário
33
34. acontecendo com os membros inferiores. Por essa razão, a mulher geralmente tem o passo
menor do que o do homem.
A coluna vertebral, por sua vez, apresenta a curvatura antero-posterior da região
lombossacra (lordose) mais acentuada da que a do homem, o que se relaciona também à
função da procriação e proporciona uma estática diferente ao organismo feminino em
relação ao homem.
No homem, pela menor largura da bacia e pela menor convergência dos fêmures em
relação ao plano mediano (na maioria das vezes os membros inferiores masculinos
obedecem a um ligeiro valgismo, lembrando o aspecto de uma letra "O" alongada no
sentido vertical), os membros inferiores se tornam mais adaptáveis às longas caminhadas,
contribuindo para imprimir maior rapidez às corridas e maior eficiência motora aos saltos e
arremessos.
Em relação a diferenças entre os aspectos físicos relacionados ao esqueleto, o
homem médio é aproximadamente 14 a 15 centímetros mais alto que a mulher. O homem
também é mais pesado cerca de 20 a 25 por cento, apesar de as mulheres serem
proporcionalmente portadoras de mais tecido adiposo.
Por causa de sua maior altura, ombros mais largos e quadris mais estreitos, o centro
de gravidade do homem é diferente do da mulher. Isto pode facilitar certos tipos de padrões
de movimento, como o salto. Em relação à altura, a circunferência da caixa torácica da
mulher é menor do que a do homem e sua cavidade abdominal é mais larga e maior.
34
35. Em geral, a calcificação de certas partes do esqueleto começa mais cedo na menina
do que no menino. A junta do joelho feminino é mais estável do que a do masculino; o
ombro da menina é menos largo; o pélvis ósseo do menino é mais profundo e mais estreito.
Na estrutura facial, o homem é propenso a ter os ossos do nariz salientes, ossos
molares altos e um queixo quadrado e pesado. O ângulo do braço da mulher tende a seguir
o ângulo produzido por seus ombros estreitos e quadris levemente ressaltados.
2.2 - Sistema vascular e respiratório
O sangue apresenta diferenças significativas entre os dois sexos, com valores
menores para a mulher.
O volume total de sangue é menor na mulher, com 58 ml por quilo do peso
corpóreo, enquanto no homem este volume é de 64 ml por quilo. Para um mesmo volume
de sangue, existe cerca de 10 por cento a menos de hemácias, com menor quantidade de
hemoglobina por hemácia, o que diminui a quantidade desse pigmento no sangue da
mulher. A quantidade total de hemoglobina na mulher é de 0,86 % do peso corpóreo,
enquanto no homem esta quantidade é de 1,16 %, o que corresponde a uma diferença de 25
a 30 % a menos para a mulher.
35
36. Sendo a hemoglobina responsável pelo transporte de oxigênio pelo sangue e
sabendo-se que 1,0 grama de hemoglobina transporta igual quantidade de oxigênio nos dois
sexos, podemos entender que, em igualdade de condições físicas e de trabalho a realizar, a
mulher apresenta desvantagem em relação ao homem, pois sua capacidade de transporte de
oxigênio é menor.
O homem normalmente tem um coração maior que a mulher e essa diferença faz-se
sentir no coração das mulheres durante a marcha rápida.
A soma de glóbulos vermelhos no sangue é maior. A pressão sanguínea do homem
médio é 5 a 10 milímetros mais alta do que a mulher. A mulher, portanto, tem uma
limitação circulatória, resultando em efeitos sobre sua resistência cardíaca que acabam por
afetar a resistência geral.
Levando-se em conta a as diferenças entre o nível de hemoglobina (Hb), o volume
sanguíneo e as diferenças entre as dimensões funcionais do sistema aeróbico de homens e
mulheres, pode-se concluir que, se os demais fatores fossem iguais, o VO2 máximo da
mulher seria igual ao do homem, se ambos possuíssem a mesma Hb e o mesmo volume
sanguíneo total.
A função respiratória da mulher também é menos eficiente, levando-se em conta
todos os parâmetros respiratórios, estáticos e dinâmicos, inferiores aos do homem, tanto em
repouso quanto sob condições de trabalho muscular.
36
37. Os demais sistemas ou aparelhos orgânicos também são mais delicados na mulher,
impondo diferenças sensíveis no tocante à sua capacidade funcional, em relação à do
homem.
Baseados em resultados de estudos feitos por Pate, Barnes e Miller, podemos chegar
a algumas conclusões em relação a certos aspectos fisiológicos na comparação entre o
desempenho de homens e mulheres.
Nestes estudos, em ambiente laboratorial, homens e mulheres eram submetidos a
um teste progressivo na esteira rolante, com avaliação para VO2 máximo, relações de
permuta respiratória (R), hematócrito e meoglobina, ácido lático e ácido 2,3-
difosfoglicérico (2,3-DPG - que facilita a dissociação do oxigênio da hemoglobina). A
composição corporal era avaliada por pesagem hidrostática.
As composições corporais eram quase as mesmas (17,8% para as mulheres e 6,3%
para os homens), sendo que os homens eram mais pesados que as mulheres.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
1. não houve diferenças significativas no VO2 máximo, (55,8 e 55,1 ml/kg/min
para homens e mulheres, respectivamente), na freqüência cardíaca máxima
(186 e 189 batimentos por minuto);
2. os níveis de ácido lático após o exercício eram bastante semelhantes e as
concentrações de 2,3-DPG eram semelhantes em ambos os grupos.
37
38. Após o término desses estudos, chegou-se à conclusão que, quando homens e
mulheres exibem padrões de treinamento e de desempenho semelhantes, a maioria de suas
características fisiológicas é semelhante. Outros estudos evidenciam resultados
semelhantes. Uma implicação prática para os resultados desta natureza é que, nos
ambientes tanto da educação física como quanto nos desportos, onde o desempenho e o
condicionamento se baseiam na capacidade aeróbica, homens e mulheres podem e devem
ser colocados em grupamentos comuns.
A diferença de VO2 máximo entre homem e mulher é negligenciável nos primeiros
anos e mais pronunciada durante a fase da vida adulta. Essa relação tem como base o fato
das diferenças no tamanho e composição do corpo entre homens e mulheres serem
mínimas antes da puberdade e máximas durante a vida adulta.
2.3 - Sistema muscular
Embora a maioria dos homens seja mais forte que as mulheres, não há provas de
que o sexo afete de alguma forma os componentes musculares da mulher. O tecido
musculoso do homem e da mulher são iguais.
Há uma proporção muscular maior no homem e as pessoas com um componente
muscular grande tendem a ser mais fortes do que as que possuem pequeno componente
muscular e componente gorduroso grande. Quando as mulheres executam trabalhos
pesados servindo-se dos músculos, desenvolvem uma força muscular proporcional ao seu
tamanho e igual à de um homem de igual tamanho e massa muscular. Obviamente, o modo
de vida característico de cada sociedade, determina, em parte, o total de trabalho fisiológico
38
39. que cada indivíduo, homem ou mulher, farão. Na cultura norte-americana, o costume
social e os hábitos limitam o trabalho muscular da mulher. O potencial de força das
mulheres raramente é completamente desenvolvido.
A força muscular geral da mulher equivale a dois terços da do homem. Entretanto,
convém lembrar que as diferenças de força variam de acordo com cada grupo muscular. Por
exemplo, em comparação com os homens, as mulheres são mais fracas no tórax, nos
ombros e nos braços, enquanto são mais fortes nas pernas. Provavelmente, isto se relaciona
ao fato de ambos os sexos utilizarem suas pernas em igual intensidade, para ficar de pé,
subir escadas, andar, correr e outros movimentos do cotidiano, enquanto, na maioria das
sociedades, as mulheres têm pouca oportunidade de utilizar os membros superiores, como o
exemplo da sociedade norte-americana citado no parágrafo acima.
Alguns testes demonstraram que, apesar das semelhanças dos níveis de força dos
membros inferiores, os homens demonstraram certa superioridade na força isocinética para
velocidades mais rápidas de movimento. As razões para essa diferença são desconhecidas,
mas podem estar relacionadas com diferenças no tipo de fibras musculares ou nos padrões
de recrutamento das fibras entre os sexos. Porém, julga-se necessário uma pesquisa mais
ampla nessa área.
Muito tem se falado que a mulher atleta tem um aspecto “masculinizado”, o que tira
o encanto e a formosura de um corpo feminino delicado por natureza.
39
40. Este fato deve-se, sobretudo, ao tipo de vestimenta utilizado em determinadas
modalidades esportivas, a uma certa ausência de charme em algumas praticantes ou a um
corte de cabelos mais curto, mas nunca à realidade biológica. As mulheres virilizadas pelo
esporte certamente são aquelas que têm tendências andrógenas naturais e que vencem as
competições devido a sua morfologia, como no caso das arremessadoras de peso.
Há alguns anos, pensava-se que o aumento da atividade no córtex adrenal devido ao
esforço físico poderia causar um estado de hiperandrogenia, que não parece fazer sentido,
pois não foram encontradas diferenças significativas entre as dosagens hormonais das
desportistas e das não-desportistas.
As únicas alterações registradas são de ordem morfológica e geralmente o aumento
da cintura escapular é responsável pelo aumento do diâmetro bdeltoidiano, sem que o
morfograma seja modificado no sentido andrógeno, o que não caracteriza uma suposta
“masculinização” da atleta.
Com relação à preocupação estética feminina, recomenda-se a realização de
exercícios como a ginástica rítmica ou de relaxamento, da natação suave e outros exercícios
leves e graciosos, com a finalidade de modelar o corpo.
No plano psicológico, o espírito de competição pode ocasionar nas mulheres uma
agressividade máscula, que, geralmente, já existe anteriormente, mas se revela a partir do
momento da escolha do esporte.
40
41. Porém, o que deve realmente ser levado em conta são os benefícios do esporte com
a presença de pequenas sobrecargas ponderais. Para isso, basta lembrarmos as silhuetas
longas e esbeltas das velocistas, das jogadoras de voleibol e das evoluções graciosas das
ginastas e das patinadoras, para nos convencermos dos benefícios que o esporte pode trazer
à mulher que deseja ser “ainda mais mulher”.
41
42. III - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO
ORGANISMO FEMININO
O organismo feminino apresenta certas características e funções biológicas
peculiares, que devem ser estudadas de uma forma especial, para que as atividades físicas
praticadas pelas mulheres sejam adequadas a tais características.
Existem diferentes tipos de exercícios físicos a serem recomendados, de acordo com
a idade e ao estágio de desenvolvimento puberal da mulher.
Entre nove e 12 anos de idade ocorre o período pré-puberal, onde é indicada a
ginástica geral, e não se recomenda que um órgão ou membro seja mais solicitado que o
outro. Ou seja, a especialização esportiva não deve ocorrer nesta fase.
Entre os 12 e 15 anos de idade, temos o período puberal, onde é necessário dosar os
esforços em função das qualidades de potência e resistência de cada indivíduo. A educação
respiratória é importante nesta fase e permite um bom apoio para o desenvolvimento
mamário.
Entre os 15 e 16 anos temos a idade de desenvolvimento muscular, onde já são
permitidos os exercícios de força.
42
43. Na fase adulta, existem outras considerações importantes relacionadas ao exercício
físico e ao desenvolvimento do organismo feminino que precisam ser levadas em
consideração, entre os quais podemos destacar a menstruação e os fenômenos relacionados
à gravidez. Neste capítulo estaremos analisando a influência destes dois aspectos
relacionados exclusivamente ao desenvolvimento da mulher, além de um pequeno estudo
sobre lesões das mamas e dos órgãos reprodutores da mulher.
3.1 - Menstruação
A menstruação, que é uma função fisiológica como tantas outras, era considerada no
passado como um castigo divino de influência cósmica lunar, através do qual ocorria a
excreção de substâncias tóxicas orgânicas, fazendo com que a mulher se torne impura neste
período, devendo ficar isolada de tudo e de todos. Essa e outras crendices sobre a
menstruação perduraram por séculos, prejudicando a mulher em vários sentidos, incluindo
as jovens atletas nos dias de hoje, que, por vezes, ainda sofrem com uma série de
transtornos psicossomáticos que interferem diretamente no rendimento do trabalho
esportivo, unicamente por medo e ignorância.
Ainda hoje, a menstruação continua a ser o maior problema de atletas mal
esclarecidas ou mal preparadas psicologicamente para enfrentar a competição nesse
período. O fator emocional chega a ser tão forte para algumas mulheres, que é comum o
fluxo menstrual antecipar-se muitos dias, vindo a ocorrer exatamente na data de uma
competição importante.
43
44. O foco primário acerca do ciclo menstrual nos esportes está relacionado com o
surgimento de um padrão irregular (oligomenorréia) ou com a cessação que se prolonga por
mais de 90 dias (amenorréia). A amenorréia primária é definida como a demora da menarca
além dos 16 anos de idade, enquanto amenorréia secundária é a ausência da menstruação
em mulheres que já menstruam.
O ciclo menstrual (ovulatório) é um fenômeno fisiológico complexo. Podem ser
identificados vários tipos de amenorréia secundária, entre eles a anovulação crônica
hipotalâmica, a anovolução crônica hipofisária, a retroalimentação inadequada para o
hipotálamo ou a hipófise e outras disfunções endócrinas ou metabólicas.
A amenorréia atlética foi colocada na categoria geral de anovulação crônica. Os
pesquisadores têm tido dificuldade em evidenciar uma relação de causa e efeito entre
fatores específicos da participação nos esportes e a amenorréia secundária.
Estaremos analisando mais profundamente os aspectos relacionados ao fenômeno da
menstruação no prosseguimento deste estudo.
Em comparação com a mulher comum, comprovou-se que a mulher americana
atleta inicia a sua menstruação (menarca) mais tarde, conforme quadro e gráfico a seguir.
44
45. Quadro nº 4 – Comparação entre a idade da menarca em mulheres americanas
Categorias Idade da menarca
Não-atletas 13,02
Atletas secundárias 13,05
Nadadoras competitivas 13,4
Atletas de pista e campo de nível nacional 13,58
Atletas olímpicas (Jogos de Montreal, 1976). 13,66
Corredoras de meia-distância de nível nacional 14,1
Atletas olímpicas de voleibol 14,18
Corredoras de nível nacional 14,2
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS, 1989, p. 284
Gráfico nº 2 – Comparação da idade da menarca em mulheres americanas
14,4 Não-atletas
14,2
Atletas secundárias
14
13,8
Nadadoras competitivas
13,6
13,4 Atletas de pista e campo de
nível nacional
13,2
13 Corredoras de m eia-distância
de nível nacional
12,8
Atletas olím picas de voleibol
12,6
12,4 Corredoras de nível nacional
Idade da menarca
Fonte: Quadro nº 4
Como é demonstrado no gráfico, atletas tanto secundaristas quanto universitárias
alcançaram a menarca mais tarde do que as não-atletas, e os vários grupos de atletas
nacionais e olímpicas chegaram à menarca muito depois que atletas secundaristas e
universitárias. Esses resultados indicam claramente uma menarca mais tardia para atletas de
45
46. porte nacional e internacional e sugerem uma relação entre menarca retardada e níveis de
competição mais avançados.
Por outro lado, constatou-se que a idade da menarca para atletas húngaras é pouco
afetada pela competição atlética e, que em nadadoras suecas, a idade da menarca foi
ligeiramente mais precoce do que em não-atletas, enquanto que em nadadoras mais jovens,
entre 10 e 12 anos de idade, constatou-se uma maturidade sexual mais avançada, indicada
pelo desenvolvimento das mamas e dos pêlos pubianos, nas finalistas de uma competição
nacional em comparação com as semifinalistas do mesmo grupo etário. Esses resultados
sugerem a possibilidade de existir diferentes relações de maturidade para esporte e níveis
competitivos entre mulheres atletas de diferentes países. Porém, vale salientar que ao
contrário dos resultados mais atuais apresentados nos estudos com mulheres americanas
apresentados no gráfico anterior, essas informações obtidas com estudos com mulheres da
Hungria e da Suécia foram obtidas cerca de 25 anos atrás, numa época em que o nível de
treinamento e de competição eram muito diferentes que os atuais, fator que deve influenciar
sobremaneira os resultados obtidos.
Cabe-nos analisar, portanto, possíveis fatores que retardam a menarca em mulheres
altamente qualificadas fisicamente e qual o significado deste retardamento.
Foi constado que o exercício produz um aumento na prolactina, um dos hormônios
secretados pela hipófise e responsável pela preparação das mamas para a amamentação. Na
atleta adolescente, isto poderia criar o que se chama de "impregnação prolactínica" do
ovário em maturação, o que seria suficiente para retardar ainda mais a maturação do ovário
46
47. por outro hormônio denominado folículo-estimulante. Por sua vez, isso poderia resultar em
retardo da menarca ou na ausência de menstruação (amenorréia) transitória bastante
observada nas mães que amamentam.
Estudos realizados por MALINA, TATE e BAYLOR sugerem dois significados
principais para a relação entre a menarca tardia e o sucesso nos desportos, sendo um de
relacionado com aspectos fisiológicos e outro com aspectos sociológicos.
As características físicas e fisiológicas associadas à maturação tardia são, sob
muitos aspectos, favoráveis para o sucesso no desempenho atlético. Por exemplo, a mulher
com maturação mais tardia possui pernas mais compridas, quadris mais estreitos e menos
peso por unidade de altura e menos gordura corporal relativa em comparação com a mulher
com maturação mais precoce. Na natação, porém, a maturação mais precoce pode ser
benéfica, pois a maior força e a gordura corporal tendem a aprimorar o desempenho da
mulher nesse desporto. Isso se relaciona muito bem aos resultados obtidos nos estudos
feitos com nadadoras suecas mencionados anteriormente.
No aspecto social, a mulher americana madura é, em termos genéricos,
"socializada" longe das competições esportivas. Ou seja, as meninas cuja maturação é mais
tardia, tendem a permanecer por mais tempo nas competições esportivas e, por
conseqüência, tendo maior possibilidade de competir em níveis mais elevados. Por outro
lado, depois que a mulher tiver desenvolvido todas as suas características sexuais, é
submetida à pressão social, e seus interesses afastam-se do esporte e se dirigem para
47
48. objetivos familiares ou de carreira. Embora atualmente este panorama já esteja se
modificando, ainda constitui-se em fator importante.
Com base em diversos estudos realizados, chegou-se à conclusão que o exercício
parece não influenciar de maneira significativa os distúrbios menstruais.
3.2 – Exercícios e distúrbios menstruais
Numa pesquisa realizada por DALE e outros estudiosos, chegou-se ao resultado de
que um terço das corredoras de longa distância apresentam amenorréia, isto é, cessação da
menstruação durante suas temporadas de treinamento e de competição. Nota-se a incidência
de amenorréia em 34% de um grupo de corredoras e de 23% em um grupo que praticava
jogging (trote) e de apenas 4% em grupo que não corria. Neste estudo, ficaram definidas
como corredoras as mulheres que corriam mais de 48 km por semana e que combinavam
corrida de longa distância, porém lenta, com um trabalho de velocidade. Por outro lado, as
trotadoras (joggers) foram definidas como as mulheres que corriam lenta e livremente de 8
a 48 km por semana. Os resultados obtidos podem ser analisados na tabela e no gráfico
abaixo.
Quadro nº 5 – Número médio de menstruações entre três categorias de mulheres americanas
48
49. Categoria Nº médio de menstruações por ano
Corredoras 9,16
Trotadoras 10,32
Controle (não corredoras) 11,85
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 284.
GRÁFICO Nº 3 – Comparação entre o número médio de menstruações entre três categorias
de mulheres americanas
12
10
8
Corredoras
6
Trotadoras
Controle (não
4
corredoras)
2
0
Nº médio de
menstruações por ano
Fonte – Quadro nº 5
Um detalhe interessante a ser mencionado, é que até 24% das corredoras tinham
cinco ou menos menstruações por ano. Além disso, a incidência de amenorréia parece ser
49
50. muito maior nas corredoras e trotadoras com menarca de início mais tardio, que não
tiveram nenhuma gravidez ou que haviam tomado hormônios anticoncepcionais.
A causa da amenorréia em mulheres atletas é desconhecida. Porém, qualquer que
seja a causa, parece ter relação com a intensidade do treinamento. Acredita-se que pode ser
causada pelo próprio treinamento ou competição ou por outros fatores relacionados como
redução do peso corporal ou estresse psicológico geral. No caso do treinamento
propriamente dito, é importante salientar que um treinamento mais intenso pode gerar um
melhor desempenho, conseqüentemente, um maior estresse.
Foi demonstrado que uma redução das reservas adiposas do organismo, obtida
através do treinamento, está associada à amenorréia. No caso específico de fundistas e
ginastas, essa continua sendo uma possível razão para a amenorréia destas.
É provável que, com a suspensão do treinamento, dos exercícios e das competições,
as menstruações readquirem um padrão normal e as funções procriativas da mulher se
revelam normais sob todos os aspectos.
A dismenorréia (menstruação dolorosa) provavelmente não é nem agravada e nem
curada pela participação nos esportes. Quando muito, pode ser menos comum nas mulheres
fisicamente ativas. A dismenorréia, se não for intensa, não dificulta o desempenho atlético,
pelo menos do ponto de vista fisiológico. Porém, é possível que fatores psicológicos
relacionados desempenhem um papel importante.
50
51. A participação em atividades esportivas tem relação com a dismenorréia. O fator
intensidade do exercício parece importante, pois se observou que um grupo de mulheres
que seguiam um programa de exercícios regular tinha menos problemas nesse aspecto.
A dismenorréia parece afetar especialmente as nadadoras, que são advertidas por
alguns médicos para que evitem as piscinas durante a menstruação, para evitar o risco de
contaminação bacteriana do endométrio, através da abertura do canal uterino. Apesar de
tudo, o treinamento e a competição não parecem causar problemas.
3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação
O fato de as mulheres competirem ou não durante o seu fluxo menstrual constitui-se
assunto essencialmente individual. Porém, alguns aspectos podem ser analisados a respeito.
Das atletas olímpicas examinadas nos Jogos Olímpicos de Tóquio, 69% competiram
sempre durante a menstruação, apesar de apenas 34% treinarem durante esse período. Dos
31% que às vezes competiam durante a menstruação, todas participavam de grandes
pelejas, especialmente as que consistiam em competições entre equipes.
Do ponto de vista médico, existe uma discordância sobre o assunto. Alguns médicos
acreditam que o treinamento e a competição durante o período menstrual não devem ser
permitidos nos esportes em que se observa grande incidência de distúrbios menstruais,
como a corrida de fundo, o esqui, a ginástica, o tênis e o remo. Quase todos os médicos
51
52. reprovam a natação durante a menstruação. Isso é interessante, pois foi determinado que,
durante a menstruação, não existe contaminação bacteriana da água da piscina e nenhum
sinal de aumento nas infecções bacterianas dos órgãos genitais das nadadoras. Além disso,
o Dr. A. J. Ryan sugeriu que o uso do tampão intravaginal é conveniente e confortável para
a maioria das nadadoras durante a menstruação.
Com base nessas informações, não se pode estabelecer nenhum motivo para que a
mulher não treine ou participe de competições durante o período da menstruação, desde que
sua experiência própria lhe mostre que não haverá nenhum incômodo e que seu
desempenho não será afetado. É importante salientar também que, para as mulheres
competitivas, não é nada agradável a idéia de perder três ou quatro dias de treinamento. Da
mesma forma, não é recomendável que se force uma mulher a participar de um treinamento
ou competição, quando ela se sente mal e o seu desempenho torna-se muito precário
durante esse período.
O fluxo menstrual corresponde a uma etapa do ciclo menstrual em que a mulher
readquire suas melhores condições de funcionamento orgânico, o que possibilita um ótimo
desempenho físico, sendo que algumas atletas chegam a alcançar seus melhores resultados
exatamente nesse período.
Tal fato é tão significativo que ocorre, em diversas competições, uma espécie de
doping artificial, que consiste na utilização de hormônios (progesterona e estrógenos) para
deslocar o fluxo menstrual da atleta, visando à sua participação na competição com o
máximo de desempenho. Esse procedimento artificial, antecipando ou retardamento o fluxo
52
53. menstrual da atleta, com o objetivo de a atleta poder participar com o máximo rendimento
de uma competição, além de fraudulento e desleal, é contra-indicado para a saúde da
mulher. Além disso, todo agente que proporciona condições artificiais ao atleta na
competição é considerado dopador.
A capacidade física da mulher varia de acordo com o período do ciclo menstrual em
que ela se encontra. Na primeira fase, também chamada "proliferativa" ou "estrogênica",
ocorre a fixação de água no organismo (ação anabolizante). Por volta do 14º dia, verifica-se
a ovulação, com ligeira diminuição de hormônios no sangue, que aumenta de novo por
volta do 18º dia, para cair novamente até atingir seus níveis iniciais, na fase pré-menstrual.
Essa primeira fase do ciclo menstrual se caracteriza por pequenas alterações orgânicas, que
não chegam a perturbar muito a eficiência do trabalho físico e esportivo.
Na segunda fase do ciclo menstrual, ocorrem alterações mais intensas, mesmo em
mulheres com ciclo normal, que acarretam perturbações do psiquismo, cansaço, mal-estar
geral, além de outras que constituem a "síndrome pré-menstrual". Tais modificações podem
trazer efeitos significativos sobre o rendimento muscular, em determinadas atletas,
tornando seus resultados abaixo do que seria esperado.
A progesterona provoca a eliminação da água que havia sido fixada pela ação dos
estrógenos. Contudo, durante a menstruação, a mulher encontra-se menos perturbada que
na fase anterior, estando livre dos problemas que caracterizam a fase pré-menstrual,
readquirindo suas melhores condições de funcionamento orgânico e de eficiência do
trabalho muscular.
53
54. É fato comprovado que atletas em plena menstruação encontram-se com a sua
dinamometria, o tono neurovegetativo, a velocidade, a destreza, a habilidade e a resistência
ao cansaço em seus níveis normais, permitindo que a mulher obtenha seus melhores
resultados físicos e técnicos, qualquer seja a modalidade praticada, inclusive a natação. Não
são raros os casos em que atletas em pleno fluxo menstrual conseguiram superar recordes
olímpicos e mundiais.
A queda de rendimento de atletas em fase de menstruação, portanto, deve-se, na
grande maioria dos casos, a um consenso psicológico negativo de que as mulheres devem
reduzir suas atividades físicas nesse período, resultando em preocupações sem
fundamento, geradas por falta de informação e orientação.
Mulheres com plena capacidade têm apresentado uma queda de rendimento físico
durante a fase da menstruação devido ao desconhecimento de suas funções biológicas,
acreditando que, na fase da menstruação propriamente dita, seu corpo se encontre em um
nível inferior, o que, cientificamente, não se constata concretamente.
As diferenças de capacidade física do organismo da mulher durante as diferentes
fases do ciclo menstrual podem ser identificadas no quadro a seguir
Quadro nº 6 – Representação esquemática das variações aproximadas da capacidade física
da mulher durante o ciclo menstrual (mulher ginecologicamente normal, com ciclo
menstrual de 28 dias).
54
55. Nº de dias Períodos Capacidade física
5 Tensão pré-menstrual Mínima
5 Fluxo menstrual Aumento progressivo (rápido)
8-9 Influência estrogênica Máxima
9-10 Influência progesterônica Diminuição progressiva (lenta)
Fonte: PINI, 1978, p. 218.
Vale ressaltar que a mulher com disfunções do ciclo menstrual apresenta a
"síndrome pré-menstrual" de maneira mais intensa, apresentando cólica uterina, cefaléia,
tontura, náusea, vômito, retenção hídrica e outras anomalias. A mulher que apresenta tais
sintomas deve se afastar das competições esportivas e, em alguns casos, permanecer em
repouso. É sabido, porém, que a atividade esportiva bem conduzida, atua de maneira
benéfica no organismo da mulher, tendendo para a regularização daquela atividade cíclica
fisiológica. Por outro lado, a atividade física excessiva pode causar perturbações sérias no
ciclo menstrual da atleta.
Portanto, a normalidade do ciclo menstrual da atleta demonstra a boa receptividade
do seu organismo em relação ao trabalho físico e esportivo por ela realizado.
A grande maioria dos autores é unânime em afirmar que a atividade esportiva
racionalmente conduzida não ocasiona nenhuma perturbação na menarca, no ciclo
menstrual e na história obstétrica atual ou ulterior da mulher-atleta, preparando-a para
transpor com facilidade as perturbações que se podem instalar por ocasião do climatério.
55
56. 3.4 - Gravidez e parto
Antes de abordarmos a gravidez com relação à atividade física, é importante
reconhecermos as transformações fisiológicas que ocorrem no organismo feminino durante
este período.
Em posição sentada ou deitada, o VO2 em repouso é mais alto. Em início de
gravidez, o débito cardíaco é proporcionalmente mais alto que o VO2, ocasionando uma
redução na diferença arteriovenosa de oxigênio. Por volta do sétimo e oitavo mês, o débito
cardíaco, em posição deitada, é reduzido e, para fornecer o oxigênio requerido, a diferença
arteriovenosa aumenta.
A gravidez não tem impedido certas mulheres de levar ao nível de competição sua
atividade física. Nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsinque, uma mulher com três meses
e meio de gravidez chegou a ganhar uma medalha de bronze.
Quanto aos efeitos do treinamento intenso em atletas de nível internacional, eles não
parecem prejudicar a gravidez e o parto, sendo que 87,2% das atletas entrevistadas tiveram
mesmo seus períodos de trabalho de parto diminuídos. Notou-se também uma redução para
a metade no número de cesarianas entre atletas, em comparação com as mulheres
sedentárias.
56
57. A gravidez não parece ter efeitos dignos de maior atenção sobre as respostas
fisiológicas ao esforço. Parece que até a 36ª semana de gravidez. A mulher pode se dedicar
sensatamente a atividades esportivas em que não precise erguer pesos.
Quanto ao período pós-parto, observou-se que o exercício diminuía as dores
lombares e a fadiga crônica das mulheres com musculatura abdominal fraca e com um
passado hipocinético.
É comum as atletas retornarem ao treinamento e à competição em um período de
três a cinco meses após o parto. Parece que fazem tudo tão bem como antes da gravidez e,
em alguns casos, chegam a melhorar seus desempenhos, apresentando melhores condições
e mais equilibradas, tanto física como psiquicamente.
Existem duas escolas de pensamento no que diz respeito aos efeitos da participação
atlética sobre a gravidez e o parto.
Uma teoria considera que, em virtude da hipertrofia da musculatura pélvica que
acompanha a participação nos esportes, os músculos tornam-se menos extensíveis e, por
conseqüência, geram dificuldades durante o trabalho de parto. A outra teoria enfatiza os
efeitos favoráveis ocasionados por músculos abominais mais fortes sobre o parto.
Várias pesquisas foram realizadas até o momento, com o objetivo de esclarecer o
problema, sendo que alguns resultados obtidos podem ser resumidos no quadro abaixo.
57
58. Quadro nº 7 - Efeitos da participação atlética sobre a gestação e o parto
Variável Atleta X não-atleta
Complicações da gestação Menor número
Duração do trabalho de parto Mais curta
Número de cesarianas Menor
Rupturas teciduais durante o parto Menos
Abortos espontâneos Menor número
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 289.
É evidente, analisarmos tais dados, que as mulheres atletas costumam ter menos
complicações relacionadas à gravidez e ao parto do que as mulheres normais não-atletas.
Uma das questões mais polêmicas sobre a atleta é se esta deve continuar
treinamento ou competindo durante o período de gravidez. Sabe-se que existem mulheres
que competem durante os três ou quatro primeiros meses de gestação e outras até poucos
dias antes do trabalho de parto.
Foi relatado que uma corredora com seis meses e meio de gestação registrou um
tempo de 4 horas nos primeiros treinamentos para a Maratona Olímpica nos Estados
Unidos, sendo que dez semanas depois deu à luz um filho sadio.
Ainda mais, foi demonstrado que o exercício durante a gravidez não constitui um
estresse fisiológico mais intenso durante a gravidez do que antes dela, desde que sejam
minimizadas as atividades com levantamento de pesos, sendo que alguns médicos
prescrevem com freqüência várias formas de exercício durante a gravidez.
58
59. É preciso, porém, enfatizar que a participação da mulher em competições ou em
programas de exercícios deve ser determinada em uma base individual e sempre com o
acompanhamento médico.
Com relação ao desempenho após o parto, 46% das mulheres atletas que
participaram dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, e que continuaram em competições
atléticas após o parto, conseguiram superar seus resultados anteriores por volta do final do
primeiro ano após o trabalho de parto; 31% superaram seus desempenhos entre o primeiro e
o segundo ano após o parto. Isto sugere que o parto não afeta o desempenho atlético. Além
disso, foi demonstrado que o exercício não influencia o VO2 máximo, o fluxo sanguíneo
coronariano em resposta ao estresse e nem a estrutura miocárdica na prole masculina de
ratazanas treinadas durante a gravidez. Portanto, parece não haver qualquer influência
negativa do exercício realizado durante a gravidez sobre os futuros filhos.
As pílulas anticoncepcionais já foram usadas pela grande maioria das mulheres
durante um período tempo bastante considerável. Os efeitos dessas substâncias químicas
sobre o desempenho atlético, porém, ainda são desconhecidos. Contudo, um estudo indicou
que as mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais são menos ativas do que as que não
tomam.
Outro estudo mais recente indicou que tanto a endurance muscular quanto à
produção total de força são cerca de 20% menores em mulheres que usam
anticoncepcionais orais.
59
60. Ainda se torna necessário muito estudo sobre o problema, mas algumas autoridades
médicas acham que, considerando os efeitos metabólicos já conhecidos das pílulas
anticoncepcionais, seria surpreendente não encontrar qualquer alteração no desempenho
atlético.
3.5 - LESÕES DAS MAMAS E DOS ÓRGÃOS REPRODUTORES
Na verdade, as lesões dos órgãos reprodutores são mais comuns nos homens do que
nas mulheres. A lesão mais comum na mulher atinge as mamas. Como exemplo, podemos
citar que golpes repetidos na mama podem resultar em contusões e hemorragias dentro do
tecido adiposo frouxo, o que pode resultar em necrose gordurosa (morte do tecido adiposo).
A mulher, em relação ao homem, encontra uma relativa desvantagem na prática
desportiva, devido ao volume de suas mamas. Este fato é verdadeiro, sobretudo nas
mulheres que têm forte compleição ou que sentem dores devidas à congestão pré-
menstrual.
Na Antiguidade, este desconforto era eliminado pelas amazonas de forma radical,
mediante a amputação do seio direito para poderem atirar melhor com o arco e a flecha.
Hoje em dia, esta solução extrema pode ser evitada, o que, sem dúvida, é ótimo para
a estética das mulheres atletas desta modalidade.
60
61. Apenas as hipertrofias mamárias de puberdade, às vezes enormes, justificam
intervenções cirúrgicas e, deve-se reconhecer que a cirurgia corretiva dos seios apresenta
resultados muitas vezes notáveis.
A prática desportiva pode beneficiar muito a estética dos seios. Os exercícios do
grande músculo peitoral promovem a formação de uma sólida base de sustentação para os
seios. O desenvolvimento da caixa torácica permite que os seios repousem sobre uma base
inclinada e não vertical, o que limita o risco de ptose mamária.
Na mulher, os seios são glândulas ao mesmo tempo frágeis e expostas ao
traumatismo. A sensibilidade das glândulas mamárias ao choques e traumatismos repetidos
é bem conhecida, além de ser acompanhada por uma repercussão psicológica, com efeito,
nefasto sobre a qualidade dos desempenhos posteriores.
Convém que as mulheres utilizem protetores mamários na maioria dos esportes de
contato físico. Nos esportes sem contato, é recomendável o uso de um bom sutiã protetor, a
fim de minimizar os movimentos laterais e para cima e para baixo das mamas, que ocorrem
durante os saltos e na corrida.
Devido à sua posição e forma e ao fato de repousarem sobre uma parede rígida, as
glândulas mamárias e os seios estão expostos aos choques, às lesões traumáticas e, mais
raramente, pelas feridas.
61
62. As contusões mamárias normalmente ocorrem após um choque frontal direto que
esmaga a glândula contra o gradil costal e produz uma lesão no ponto de aplicação. Na
maioria dos casos, as lesões são cutâneas ou subcutâneas e se resumem a uma equimose
discreta e dor na região atingida. Às vezes, a glândula é atingida, causando um hematoma
difuso ou localizado, que pode necessitar de uma drenagem cirúrgica. Raramente, porém, se
observa um derrame sanguíneo localizado no espaço retromamário.
Os traumatismos dos órgãos genitais femininos, em geral, ficam limitados a
pequenas contusões e lacerações da genitália externa. Os órgãos internos, como os ovários,
o útero e as trompas, estão bem protegidos em virtude de sua posição profunda dentro da
pelve óssea. A única lesão séria conhecida desses órgãos foi a ruptura da parede vaginal,
após uma queda numa competição de esqui aquático. Quanto a esse problema, foi
recomendado o uso de roupas de borracha pelas mulheres que praticam essa modalidade.
Nas demais modalidades, praticamente não existe o risco de lesões sérias ou
permanentes das mamas ou dos órgãos reprodutores.
Em geral, as mulheres atletas sofrem as mesmas lesões e em número relativamente
igual aos homens, com uma freqüência ligeiramente maior de lesões relacionadas à rótula e
às articulações nas mulheres.
62