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FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO
              DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA
 ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA




   A PARTICIPAÇÃO DA MULHER EM ESPORTES COMPETITIVOS




                      ISMAR KATH




                                   Monografia      apresentada       à
                                   Faculdade Estadual de Ciências e
                                   Letras de Campo Mourão, para
                                   obtenção do título de especialista,
                                   área de concentração – Educação
                                   Física na Educação Básica, sob
                                   orientação da professora Helena
CAMPO MOURÃO, NOVEMBRO DE 1999




                                 2
Agradecimentos




       Agradeço aos meus pais, que com carinho, dedicação e amor me conduziram
durante toda minha vida, ensinando, educando e mostrando caminhos, dando todo o apoio e
o incentivo nos momentos de fraqueza


       Aos meus amigos que, na rotina do cotidiano que nos leva à acomodação e ao
desânimo, estiveram ao nosso lado dando aquela palavra de carinho e incentivo,


       À Walkiria, companheira de todos os momentos, que com companheirismo, amor,
paciência e dedicação, esteve sempre comigo.


       A todos os professores pela grande contribuição dada ao longo de todo o curso e,
em especial, na execução deste trabalho.


       A todos o meu muito obrigado!




                                                                                      3
Todo mérito deste trabalho dedico
especialmente aos meus pais,
Hugo e Herta, porque são a fonte
de toda a força e coragem para
enfrentar todas as lutas.
Para Walkiria, que, em todos os
momentos, esteve me dando o
apoio e o carinho necessários para
que eu não desistisse de meus
objetivos.
Para a equipe de futsal feminino
do Colégio Estadual Prof. Jaelson
Biácio (Piquirivaí – Campo
Mourão), formada em 1997, que
inspirou e motivou o início deste
estudo.




                                4
SUMÁRIO




INTRODUÇÃO................................................................................................................... 5

CAPÍTULO I.......................................................................................................................   6

1 - UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE                                                                        6

– O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional................... 15

1.1 – O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil........................................... 24

CAPÍTULO II..................................................................................................................... 31

2    - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER....................... 31

2.1 – O Esqueleto................................................................................................................ 31

2.2 – Sistema vascular e respiratório................................................................................... 34

2.3 – Sistema muscular....................................................................................................... 37

CAPÍTULO III.................................................................................................................... 41

3 - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO ORGANISMO

FEMININO......................................................................................................................... 41

3.1 – Menstruação............................................................................................................... 42

3.2 - Exercícios e distúrbios menstruais.............................................................................. 50

3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação.................................................... 55

3.4 – Gravidez e parto......................................................................................................... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 63

BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 65



                                                                                                                                    5
INTRODUÇÃO



       Os registros que se referem à participação da mulher no esporte são recentes e estão

relacionados à sua ascensão na sociedade moderna.



       As competições esportivas eram privilégio dos homens, já que se considerava que a

prática do esporte por mulheres as tornavam “masculinizadas” e viris, além de

supostamente provocarem outros prejuízos ao organismo feminino, inclusive a sua

esterilização. Até mesmo a prática da Educação Física só foi aceita após uma série de

discussões.



       A participação da mulher no esporte se iniciou de forma meramente recreativa. Em

alguns lugares promoveram-se algumas competições regionais de determinadas

modalidades praticadas por mulheres, e com o passar do tempo surgiram outros eventos

esportivos para mulheres de caráter regional, continental e mundial, sendo que a primeira

participação da mulher em uma Olimpíada aconteceu em 1928, em Amsterdã.



       Existem algumas particularidades que devem ser levadas em conta quando falamos

da participação feminina em atividades físicas e esportivas:

           •   menstruação

           •   gravidez

           •   diferenças orgânicas (esqueleto, sistema muscular, sangue, etc.)




                                                                                          6
•   fatores sócio-culturais



       Essas diferenças e particularidades não permitem, sem um estudo mais aprofundado,

afirmar que determinado esporte ou atividade física sejam contra-indicadas para o sexo

feminino.



       O aumento significativo da prática de esportes de alto nível pelas mulheres é um

fato, sendo que algumas modalidades, anteriormente praticadas quase que exclusivamente

pelo sexo masculino, têm sido cada vez mais difundidas e praticadas também por atletas do

sexo feminino, sendo que algumas destas modalidades passam a apresentar características

diferenciadas e próprias (tamanho do campo de jogo, peso da bola, etc.).



       Temos observado, em nosso trabalho como profissional da Educação Física, que

algumas equipes femininas, incluindo principalmente equipes de nível escolar, superam em

qualidade técnica muitas equipes masculinas, sendo inferiorizadas, em algumas vezes,

apenas na questão física.



       Através de um trabalho de pesquisa bibliográfica, procuraremos questionar e

analisar alguns aspectos que ainda são considerados “tabus”, em relação à participação das

mulheres nas práticas desportivas, seja por aspectos físicos, psicológicos ou sociais, e

verificar até que ponto conceitos que discriminavam o sexo feminino no cenário esportivo

podem ser considerados procedentes ou não.




                                                                                         7
I – UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE




       Desde o tempo dos hominídeos, tanto a posição da mulher quanto a do homem era

bem definida: ela encarregada da coleta, e ele da caça e de serviços mais pesados. Essa

tradição tem se mantido através dos tempos.



       A família romana tinha como prioridade o sexo masculino, sendo que as meninas e

os que apresentavam algum tipo deficiência não tinham o mesmo valor. Conquistar terras

era lei, e, por isso, o padrão de corpo da sociedade, principalmente dos soldados, era

representado pelo homem com disciplina, dotado de um físico atlético e forte, com coragem

e rapidez para enfrentar o inimigo, o que, com certeza, descartava a necessidade do “corpo

mulher” para este objetivo.



       Podemos citar um fato interessante na cultura romana. As filhas, ao nascerem,

recebiam o nome feminino do pai, ou seja, se o nome do pai fosse Júlio, a filha seria

chamada de Júlia. Caso houvesse mais de uma filha, o nome era mantido, acrescido de um

complemento (mais "nova", mais "velha" ou então "primeira", "segunda"). Esta falta de

identidade das mulheres ocorria porque eram consideradas partes anônimas e sem

importância para a família.




                                                                                        8
O “corpo mulher” era associado à reprodução, tendo como destino o casamento,

sendo considerado aos 14 anos em "idade núbil". A virgindade era altamente considerada,

tanto que maridos e pais poderiam matar filhas e mulheres não castas.



       O casamento era um "dever cívico" que o homem deveria cumprir, sendo a mulher

um ser periférico tão importante quanto qualquer outro objeto da casa, pois não contribuía

em nada, Mais tarde, alguns passaram a vê-la como companheira, desde que seus interesses

fossem mantidos.



       Por outro lado, as mulheres eram consideradas perigosas e alvos de todas as falhas

humanas. Temia-se que os homens, tomados por uma paixão, poderiam ficar dependentes

da mulher amada, mergulhando em dolorosa escravidão e "perderiam a cabeça".



       “Um homem honesto só teria oportunidade de vislumbrar a nudez da amada se a lua

passasse na hora certa pela janela aberta”. (Veyne, 1991, p. 197)



       Claramente se percebe, na Antiguidade, que o “corpo mulher” representava pavor,

pelos "poderes" que os próprios homens desconheciam.



       No início da Idade Média, ocorre a mudança da cidade para o campo. O contato

entre as pessoas, bem como a vida, deixa de ocorrer nas ruas e construções urbanas, para se

estabelecer nas casas e cabanas construídas no campo. O feudalismo se estrutura,

caracterizando um sistema de pessoas com autoridade fracionada, onde cada um dos grupos




                                                                                          9
tem um dono, o senhor feudal, proprietário de um espaço de terra, que detém o poder de

comandar e punir aqueles que trabalham ao seu redor, os vassalos.



       O Cristianismo consolida a sua influência na época, principalmente no início do

reinado de Carlos Magno, que, não sendo simpático às mulheres, as proibiu de ajudar na

missa e educar meninos, com o pretexto da fragilidade do sexo e a instabilidade da mente.

Após a sua morte, as mulheres voltaram a ter prestígio no espaço religioso.



       As mulheres e os filhos deveriam prestar obediência e respeito ao pai. Embora, anos

mais tarde, a mulher pudesse intervir junto ao marido, isto ocorria de forma restrita e sem o

conhecimento da sociedade, porque, como corpo frágil, deveria ter responsabilidades

menores. A mulher só era considerada esposa, devido à ênfase da mulher como corpo

reprodutor, sendo considerada uma peça uterina de pouco valor, resguardado de pudores e

restrições, do nascimento até à morte.



       O ódio direcionado à mulher pode ser sentido nas torturas corporais dos

inquisidores da época, nas quais as mulheres que eram acusadas de bruxaria eram

submetidas. Eram-lhes depilados todos os pelos; o corpo era perfurado por agulhas em

busca de zonas insensíveis, consideradas a marca da bruxa; mergulhavam-nas nuas com os

pés amarrados com um peso e, caso flutuassem, eram inocentadas; ficavam nuas expostas à

execração pública ou ainda eram postas à prova pelo ferro em brasa.



       A imagem da mulher foi dualizada. Para contrapor à feiticeira lasciva, a Igreja

Católica impôs a figura de Maria, que tenta resgatar a dignidade e a pureza da mulher: a


                                                                                          10
mãe que gera ao mesmo tempo em que permanece virgem. Restringiu-se a mulher à vida

dócil e doméstica do seu lar, sob a proteção de seu marido e senhor. Criando estereótipos

que ora tendem para o mal (a bruxa), ora para o bem (a virgem), a Igreja nada mais fez do

que tentar desconstruir e classificar a figura ambígua e que tanto teme: a mulher.



       Portanto, justamente aquelas mulheres que tinham vida pública e eram livres

sexualmente foram torturadas e obrigadas a se declararem bruxas, para morrerem nas

fogueiras.

       O auge desta discriminação se deu com a reforma gregoriana (Papa Gregório VII),

que no final do séc. XI enclausurou a mulher, diminuindo seu acesso aos espaços públicos e

fortalecendo o celibato aos padres.



       O prazer e as mulheres eram considerados pela Igreja culpáveis, porque afastavam o

homem de Deus; eram, portanto, o pior dos pecados, pior do que a busca desenfreada do

poder e da riqueza.




                                                            “A única mulher considerada era a
                                                            Virgem Maria, cultuada como modelo
                                                            ideal    de    mulher,    enaltecendo
                                                            princípios imaculados, sendo que as
                                                            outras mulheres eram vistas como
                                                            descendentes de Eva, símbolo de
                                                            pecado e tentação, e... quanto mais a
                                                            Virgem era exaltada, mais as mulheres
                                                            comuns eram consideradas longe da
                                                            mulher encarnada por ela”. (Muraro,
                                                            1992, p. 106)




                                                                                              11
Mistificava-se Eva como o símbolo do mal, pela sua fraqueza e leviandade. Em

contrapartida, Maria é a representação da imagem materna que concebeu sem pecado, ou

seja, sem sexo, sem desejo e sem sensualidade.



       A perseguição à mulher se espalhou ao longo dos anos na sociedade centralizada

pela dominação da Igreja e do sexo masculino. Aquelas que exerciam alguma profissão

eram caçadas, sendo o saber feminino sufocado pelo saber masculino.



       Neste quadro, o corpo da mulher de alta estirpe era colocado sob vigília desde a

infância, para que não fosse um estímulo para o pecado dos homens, estando preparado

para casar. O corpo da mulher deveria ser imóvel para manter o pudor, vestindo-se e

penteando-se às escondidas. Os corpos mulheres menos poderosos deveriam ocupar-se da

oração ou do trabalho em tecido.



       É quase que desnecessário citar que as mulheres eram barradas nas universidades,

onde os rapazes eram educados. Estes rapazes eram incentivados, nesta época, a proezas

amorosas, enquanto as mulheres sofriam as restrições da lei.



       O poder patriarcal sobre a feminilidade era reforçado, pelo perigo que o corpo

mulher representava. Porém, na ausência do marido, as mulheres geriam as propriedades,

exercendo um papel econômico.




                                                                                     12
As mulheres nos primeiros tempos da Idade Média representavam importantes

reservas de força de trabalho, manipuladas de acordo com os desejos e as necessidades dos

homens.



         O corpo feminino era um tabu, recoberto de vestimentas longas e protegido para se

manter casto, submetido à sexualidade masculina. O corpo nu era reservado à clausura e à

solidão, sendo permitido em momentos de privacidade, recebendo um tratamento especial à

base de ervas, principalmente para evitar a transpiração. O corpo feminino tinha o "poder

fogoso" de destruição, representado o perigo da carne. Nas cerimônias pagãs, porém, o

corpo nu feminino era permitido como forma de provocar a fertilidade dos campos e da

chuva.



         A sexualidade feminina, explicitada pelo orgasmo, era reprimida, porque esta

manifestação era própria das prostitutas ou das ligações com o demônio, reforçando que o

papel da mulher na sociedade deveria se associar ao de "Maria" e não ao de "Eva"...



         Como pode se comprovar, valorizava-se o belo do corpo, mas tal beleza deveria se

manter escondida, sendo exibida somente por maníacos. O corpo era uma fonte de signos

desejável, mas ao mesmo tempo representava uma ameaçadora condenação.



         Após a Inquisição, os papéis sociais de homens e mulheres foram normatizados

culturalmente, e cada qual deveria desenvolver as características que lhes eram atribuídas.

A mulher se caracterizava pela sexualidade desmedida, pela passividade e pela fraqueza de




                                                                                         13
intelecto e de espírito. O homem pela força para dominar e pelo papel de agente ativo no

processo do saber e, por isso mesmo, o único capaz de criar.



       Contrapondo-se aos valores vigentes, uma mulher ousou desafiar os homens: Joana

D'Arc, a qual comandava as tropas guerreiras e vestia-se com roupas masculinas, para

pavor do poder masculino. Este dado é relevante porque ela foi condenada à fogueira, pois

os homens não admitiam que uma mulher pudesse competir com eles, desestabilizando suas

regras de conduta.



       Ainda neste período, o espaço das festas foi valorizado, com a exibição de ricos

trajes e maquiagem por parte dos mais nobres. Ocorreu uma excessiva valorização do

vestuário como forma de invólucro social.



       Os trajes aqueciam, ornamentavam, protegiam e reforçavam a diferença entre os

sexos, além de marcar etapas da vida, contribuindo na construção da personalidade. No

final da Idade Média, as mulheres ousaram mais em relação às roupas, valorizando a

silhueta através da cintura marcada, do decote do ombro, inspirando sedução. Percebe-se,

portanto, um declínio na rigidez dos limites que eram impostos ao corpo mulher na época.



       Dessa forma, ficam evidenciadas as tatuagens no corpo mulher, impressas ao longo

do tempo pelos valores de uma cultura masculina, nas concepções da ética, da estética, do

higiênico e da educação. Ora, privilegiam-se Evas, ora cultiva-se a permanência de Marias.

O “corpo mulher” numa visão dicotômica, maniqueísta. Hoje, importa superar esta

dualidade.


                                                                                        14
Na Europa do séc. XIX e do início do presente século, a Educação Física recebeu

várias elaborações pedagógicas, às quais foram acrescidas três temáticas: uma educação

física para todas as classes sociais, uma educação física infantil e uma educação física

feminina.



       A Educação Física na "Era do Capital" não foi sistematizada apenas para atender

todas as classes, no sentido de homens adultos, mas incluía o atendimento às crianças e às

mulheres. Não foi à toa que esses dois grupos foram incorporados na prática da atividade

física principalmente a partir da segunda metade do séc. XIX, nos países europeus,

especialmente na Inglaterra, na Alemanha, na França e na Bélgica.



       As mulheres e as crianças foram objetos de preocupação social, não no aspecto

político, pois elas não votavam na chamada "sociedade democrática", mas pela importância

desses dois grupos na produção material. Como exemplo, podemos citar que, em 1790, a

produção britânica de carvão, devido, entre outros fatores, à introdução da mão-de-obra de

mulheres e crianças, ou seja, a exploração do trabalho de mulheres e crianças fazia parte da

estratégia para a diminuição dos gastos, já que pagava para as crianças a metade do salário

de um adulto, e aumento dos lucros.



       A sobrevivência naquelas dias levava toda a família a estar nas fábricas,

principalmente na têxtil, exigindo o sacrifício dos filhos ao deus chamado Capital. Nas

fábricas existiam os postos específicos para cada membro da família (crianças, moças,

mulheres e homens adultos)..


                                                                                         15
1.1 - O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional


       A participação oficial de mulher dentro do esporte é relativamente recente e está

relacionada à sua emancipação na sociedade moderna, no início do século XX.



       A dança era a única atividade física permitida para as mulheres, sendo que estas

eram excluídas totalmente dos jogos olímpicos, até mesmo como simples espectadoras.

Caso esta regra fosse violada, a mulher se expunha à própria morte.



       Durante a Idade Média e a Renascença algumas mulheres caçavam, sendo que todas

pertenciam obrigatoriamente à nobreza.



       As disputas desportivas eram consideradas masculinizantes e prejudiciais ao frágil

organismo feminino, sendo propagado até mesmo o conceito de que determinadas práticas

físicas poderiam levar à esterilização. A própria Educação Física para a mulher só foi aceita

após uma série de discussões, sendo que a participação da mulher na prática desportiva só

aconteceria algum tempo mais tarde.



       Culturalmente, na maioria das sociedades organizadas, as meninas, desde a sua

infância, não são estimuladas, e muitas vezes são até mesmo impedidas, de participar de

brincadeiras consideradas mais agressivas e atléticas, largamente praticadas pelos meninos.

Isso faz com que elas percam grandes oportunidades de conhecer e desenvolver suas

potencialidades.


                                                                                          16
“Os meninos quase sempre brincam
                                                           com bolas, ou com brinquedos de
                                                           guerra, que oferecem excelentes
                                                           possibilidades de integração com as
                                                           atividades físicas, enquanto que as
                                                           meninas se entretêm com bonecas e
                                                           brinquedos                 ‘passivos’.
                                                           Conseqüentemente, os meninos são
                                                           mais ativos e conseguem liderança
                                                           através da força física, enquanto as
                                                           meninas se dedicam às atividades
                                                           manipulativas        e       recebem
                                                           reconhecimento pela atividade verbal".
                                                           (MASSUCAT e HATA, 1989, p. 20).



        Apesar do grande impulso dado para a estruturação do esporte moderno em 1932,

por Thomas Arnold, diretor do Colégio de Rúgbi, que introduziu um sistema de educação

que permitia maior participação e iniciativa por parte dos alunos, as garotas continuaram

sendo excluídas deste contexto. Apenas os cursos de danças e algumas lições de ginástica

lhes eram permitidas, durante a sua formação. Em 1913, George Hébert estabelecia uma

seção feminina no seu “Colégio de Atletas” em Reims, para a formação de monitoras de

educação física.



        Alguns dos primeiros registros de participação feminina em atividades esportivas

mostram claramente uma finalidade apenas recreativa. Aos poucos surgiram competições

de caráter local e, posteriormente, campeonatos regionais, continentais e mundiais.



        Certas modalidades esportivas são praticadas pelo sexo feminino há muito tempo. O

jogo de bochas é praticado desde o século XIII, sendo que a mulher nele se iniciou muito

cedo.




                                                                                              17
O cricket é praticado por mulheres desde o século passado e o arco e flecha têm

registros de participação feminina datados de 1770, na Inglaterra. Nesta modalidade, as

mulheres participaram dos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis, sendo extinta esta

disputa após 1920.



       No tênis, a mulher participa de campeonatos oficiais desde o século passado. Maud

Watson foi a primeira vencedora de um campeonato de simples feminino em Wimbledon,

em 1884. Helen Wills Moody, com oito conquistas, é a recordista de vitórias, sendo quatro

delas consecutivas. Entre as brasileiras, Maria Ester Bueno se destaca como a única latino-

americana campeã em Wimbledon, tendo conquistado três campeonatos de simples (1959,

1960, 1964) e cinco vezes o campeonato de duplas femininas.



       Em 1900, em Paris, as mulheres participaram do torneio de tênis dos Jogos

Olímpicos, nas modalidades de simples feminino e de duplas mistas. O uniforme era

composto de uma saia branca à altura do tornozelo.



       O golfe, com origem na Escócia, no século XV, teve, oficialmente, a Sra. M. Scott

como a primeira vencedora do campeonato inglês desta modalidade, em 1893. A

participação feminina no golfe é fato que remonta a um passado muito distante.



       Há registros de participação feminina na modalidade de hóquei sobre a grama, na

Europa, desde o século passado, com referências oficiais de disputas entre equipes

femininas da Irlanda desde 1896, e de campeonatos contra equipes inglesas desde 1898.




                                                                                        18
Em 1899, as senhoritas Lucas e Graeme venceram o primeiro campeonato inglês de

duplas de badminton (esporte semelhante ao tênis).



         Na natação, há registros oficiais da participação feminina em campeonatos

organizados desde o século passado. Como exemplo, Srta. Hilda Thorn venceu a prova das

100 jardas do campeonato nacional feminino da Inglaterra em 1901, com o tempo de 1' 30"

4/10.



         Na esgrima, a participação feminina parece ter se iniciado na Itália, depois na

França e se espalhado posteriormente por toda a Europa.



         No atletismo, a participação parece ter acontecido mais tardiamente, na Inglaterra,

durante a Primeira Grande Guerra, por ocasião de alguns espetáculos beneficentes.



         No remo e no caiaque as referências que temos são ainda mais recentes, sendo que

a inclusão destas modalidades nos Jogos Olímpicos ocorreu depois de passado muito

tempo.



         O esporte feminino tomou impulso e passou a ser organizado no setor internacional,

com a criação da União Esportiva Feminina Internacional, em Paris, em 1922. Passou a se

organizar, a partir de então, diversos campeonatos mundiais nas modalidades esportivas

para o sexo feminino.




                                                                                          19
Historicamente, a participação feminina nos Jogos Olímpicos enfrentou sérias

restrições, inclusive pelo próprio idealizador dos Jogos da Era Moderna: Pierri de Fredi, o

Barão de Coubertin.



                                                          "O Barão (Coubertin) argumentava
                                                          com o axioma de Proust, declarando:
                                                          ou se fecham, ou se abrem todas as
                                                          portas. E como o acesso a todas as
                                                          portas não era permitido às mulheres,
                                                          por que permitir-lhes a entrada
                                                          nalgumas, proibindo-as nas restantes?
                                                          ...Ele nem sequer admitia a realização
                                                          de uma Olimpíada feminina, que seria
                                                          qualquer coisa de impraticável,
                                                          desinteressante, inestética e incorreta."
                                                          (Esteves apud Romero, 1990, p. 276)




       O Barão de Coubertin chegou a deixar a presidência do Comitê Olímpico

Internacional, em 1928, em protesto pela autorização da participação feminina. Entretanto,

pouco a pouco, as mulheres impuseram sua presença.



       Mesmo sendo exclusivamente masculinos, os primeiros Jogos Modernos (Atenas,

1896) tiveram uma participação feminina. A Rainha Olga, da Grécia participou

simbolicamente, abrindo o concurso de tiro, disparando com um fuzil nacarado.



       Em 1900, as mulheres participaram da competição de tênis, em Paris. Houve um

torneio simples feminino e um de duplas mistas. O uniforme era composto de uma saia

branca à altura do tornozelo. Nos Jogos seguintes (Saint Louis, 1904), as mulheres

participaram do arco e flecha.




                                                                                                20
Porém, o grande marco do início da projeção da participação feminino no cenário

esportivo internacional ocorreu em 1928, em Amsterdã, quando pela primeira vez

oficializou-se a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, nas provas de atletismo.



         Nos cinqüenta anos seguintes a mulher integrou-se cada vez mais no mundo dos

esportes competitivos, participando oficialmente de um grande número de modalidades. É

facilmente observável a contínua melhoria dos resultados esportivos obtidos pelas mulheres

nos últimos anos, como por exemplo, nas provas de atletismo e natação, como podemos

observados no quadro abaixo, onde são comparados resultados obtidos nos Jogos

Olímpicos de Amsterdã (1928), de Munique (1972) e Montreal (1976).




Quadro nº 1 - Resultados de algumas provas do atletismo, disputadas por mulheres em

Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976)



Provas                       Amsterdã (1928)   Munique (1972)        Montreal (1976)
100 metros                   12"2              11"1                  11"08
800 metros                   2'16"8            1'58"6                1'54"94
4x100 metros                 48"4              42"8                  42"55
Salto em altura              1,59 m            1,92 m                1,93 m
Lançamento do disco          39,62 m           66,62 m               69,00 m
Fonte: PINI, 1978, p. 206.




Quadro nº 2 - Resultados de algumas provas da natação, disputadas por mulheres em

Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976)



Provas                       Amsterdã (1928)   Munique (1972)        Montreal (1976)


                                                                                           21
100 m nado livre             1'11''00          58"6                   55"65
200 m nado peito             3'12"6            2'41"7                 2'13"43
400 m nado livre             5"42"8            4'19"00                4'09"89
4x100 m nado livre           4'47"6            3'55"2                 3'44"82
Fonte: PINI, 1978, p. 206.




        Atualmente, as mulheres participam de numerosas competições, dentro dos Jogos

Olímpicos, mas, curiosamente, permanecem excluídas de esportes dos quais poderiam

participar sem risco e brilhar sem perigo para a sua estética, como, por exemplo, os esportes

à vela. É que, na verdade, não se fez um estudo científico a respeito das conseqüências a

longo prazo da prática de algumas modalidades esportivas em função das capacidades

orgânicas femininas.



        Em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, as mulheres iniciam sua participação

oficial nas modalidades de futebol e softbol (adaptação do beisebol), até então modalidades

exclusivamente masculinas. Homens e mulheres simultaneamente iniciaram a disputa do

vôlei de praia em Jogos Olímpicos. No atletismo, a prova dos 3.000 metros para mulheres

foi substituída por uma de 5.000 metros, além da inclusão do salto triplo feminino.




                                                                                          22
Quadro nº 3 - PARTICIPAÇÃO FEMININA NOS JOGOS OLÍMPICOS




CIDADE           ANO          MASC.           FEM.        TOTAL   % MASC.   % FEM.
Atenas           1896         311             0           311     100       0
Paris            1900         1060            16          1076    98,5      1,5
St. Louis        1904         619             6           625     99,0      1,0
Londres          1908         1999            36          2035    98,2      1,8
Estocolmo        1912         2490            57          2547    97,8      2,2
Antuérpia        1920         2543            64          2607    97,5      2,5
Paris            1924         2820            136         2956    95,4      4,6
Amsterdã         1928         2724            290         3014    90,4      9,6
Los Angeles      1932         1281            127         1408    91,0      9,0
Berlim           1936         3738            328         4066    91,9      8,1
Londres          1948         3714            385         4099    90,6      9,4
Helsinque        1952         4407            518         4925    89,5      10,5
Melbourne        1956         2958            384         3342    88,5      11,5
Roma             1960         4738            537         5275    89,8      10,2
Tóquio           1964         4457            683         5140    86,7      13,3
México           1968         4750            781         5531    85,9      14,1
Munique          1972         5848            1299        7147    81,8      18,2
Montreal         1976         4915            1274        6189    79,4      20,6
Moscou           1980         4265            1088        5353    79,7      20,3
Los Angeles      1984         5458            1620        7078    77,1      22,9
Seul             1988         6983            2438        9421    74,1      25,9
Barcelona        1992         7108            2851        9959    71,4      28,6
Fonte: Telecurso 2000 – Educação para o Esporte (p. 88)




                                                                                     23
Gráfico nº 1 - Comparação entre a participação masculina e feminina na História dos Jogos

Olímpicos


   120




   100



                                                                         1896
                                                                         1900
                                                                         1904
    80                                                                   1908
                                                                         1912
                                                                         1920
                                                                         1924
                                                                         1928
                                                                         1932
    60                                                                   1948
                                                                         1952
                                                                         1956
                                                                         1960
                                                                         1964
                                                                         1968
    40                                                                   1976
                                                                         1980
                                                                         1984
                                                                         1992



    20




     0
                     % MASC.                       % FEM.



Fonte: Quadro nº 3




                                                                                       24
Através da análise do quadro e do gráfico acima, podemos concluir que a

participação feminina dentro dos Jogos Olímpicos vem crescendo a cada edição, sendo que,

em 1928, houve um aumento considerável, transformando os Jogos Olímpicos de Amsterdã

como um marco da afirmação do avanço da participação feminina no cenário esportivo

mundial.



       Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, a participação feminina chegou a

28,6%, índice jamais alcançado anteriormente. Porém, ainda podemos considerar que esta

porcentagem tende a crescer ainda mais, estabelecendo parâmetros de igualdade de

participação para os dois sexos nas próximas edições.



1.2 - O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil



       É necessário, para uma melhor compreensão da participação feminina na história

esportiva brasileira, uma análise simultânea entre os conceitos de esporte e educação física

nas diferentes épocas da história do nosso país.



       A Educação Física no Brasil e, conseqüentemente, a prática desportiva, esteve

diretamente associada à vida militar, principal reduto de recursos humanos até a criação das

escolas de Educação Física, espaço vedado às mulheres até há bem pouco tempo.



       É visível a presença do preconceito sobre a participação feminina nos esportes

dentro da literatura existente no Brasil, com argumentos baseados na suposta




                                                                                         25
"masculinização" da mulher esportista e na permanência de posturas declaradamente

discriminatórias.



       Podemos observar a existência de uma normatização intensa de uma estética

feminina, como, por exemplo, nos textos de Pini, que distingue entre o poder e o dever de

as mulheres participarem de qualquer modalidade esportiva.



                                                         "Em nosso ver, a mulher não deve
                                                         participar de modalidades esportivas
                                                         como o rúgbi, o futebol, as lutas, além
                                                         de outras, por exigirem condições
                                                         especiais de treinamento e pelo enorme
                                                         'desgaste físico' que acarretam, além da
                                                         violência dos contatos físicos que
                                                         podem surgir no ardor das disputas.
                                                         Em compensação, existem outras
                                                         modalidades esportivas que devem
                                                         merecer sua preferência, pois melhor
                                                         se coadunam com seu organismo e sua
                                                         maneira de ser." (Pini, 1978, p. 209)



       Íris de Carvalho pleiteia, em depoimento prestado à Comissão Parlamentar de

Inquérito (CPI) sobre a Mulher, instalada pelo Congresso Nacional em 1976, a paridade dos

prêmios esportivos masculinos e femininos no mesmo tipo de prova e a eliminação do

decreto-lei 3.199 que proibia às mulheres algumas práticas esportivas, como o futebol, que

hoje é intensamente praticada entre o sexo feminino.



       Em um artigo datado de 1970, o professor Carlos Catalano Calleja defendia que as

mulheres não deviam participar de competições de judô, principalmente infantis e mistas,

porque as meninas venciam os garotos e "perder de menina é um tanto vexatório e pode

ocasionar uma problemática que iria afetar a personalidade em formação do menino". Tal


                                                                                              26
professor defendia a prática do judô para o sexo feminino sob a forma utilitária de defesa

pessoal a partir da adolescência, indo frontalmente contra a prática do judô-competição por

mulheres. Tal artigo destaca a máxima de que "homens sempre devem ganhar de

mulheres", que deveria causar impacto não só na vida das meninas como também dos

meninos.



          Durante um bom tempo no Império, a Educação Física era vedada às meninas. O

primeiro livro editado no Brasil sobre o assunto deixa claro seu posicionamento: "Tratado

de educação física-moral dos meninos" (1828).



          Vejamos o regulamento expedido pelo presidente da província do Amazonas, em

1852, que não deixa dúvidas quanto ao impedimento da participação das meninas:

                                                          [para os meninos] a instrução
                                                          compreenderá a educação física, moral
                                                          e intelectual (...); e para o sexo
                                                          feminino      a    mesma     instrução
                                                          intelectual, mas modificada, e as
                                                          prendas próprias ao sexo (...). As
                                                          meninas      não    farão   exercícios
                                                          ginásticos. (Romero, 1990, p. 279)



          A grande proposta formalizada de educação física no geral, e específica para as

mulheres, aparece no parecer de Rui Barbosa ao projeto de 1882 "Reforma do ensino

primário e várias instituições complementares da instituição pública". O parecer recomenda

a instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola primária e tendo em vista,

em relação à mulher, a harmonia das formas femininas e as exigências da maternidade

futura.




                                                                                             27
O parecer de Rui Barbosa parece muito próximo ao conceito do dever-ser esportivo

de Pini.

       Na época republicana, a primeira referência de destaque parece ser a Reforma

Fernando de Azevedo (1928) que traz em seu texto a afirmação de que a Educação Física

aplicada à mulher seria conformada a seu sexo e às suas condições peculiares:



                                                           "Concordam [os educadores] que para
                                                           a regeneração do povo é preciso
                                                           restituir à mulher a saúde, fortemente
                                                           comprometida, a estabilidade e o
                                                           equilíbrio. (...) A educação física da
                                                           mulher deve ser, portanto, integral,
                                                           higiênica e plástica e, abrangendo com
                                                           os trabalhos manuais, os jogos infantis,
                                                           a ginástica educativa e os esportes,
                                                           cingir-se exclusivamente aos jogos e
                                                           esportes menos violentos e de todo
                                                           incompatíveis com a delicadeza do
                                                           organismo das mães" (Azevedo apud
                                                           Romero, 1990, p. 281).




       Nessa época, é necessário salientar, que existe uma diferença entre os conceitos de

mulheres que executavam exercícios ginásticos e as que praticavam esportes. O texto de

Fernando Azevedo afirmava que a atividade física para a mulher-mãe e dona de casa era

necessária, mas "no esporte, como um campo de predominância masculina com objetivos

de vitória, rendimento e sucesso social é que as dificuldades aparecem".



       Na década de 20 encontramos registros referentes às primeiras exibições esportivas

femininas públicas, todas relacionadas à natação, que tentavam romper as barreiras

antepostas à mulher no desporto, ao se apresentarem em público para nadar, ainda que

envoltas com costumes de banho abundantes em babados e dobras.



                                                                                                28
Como já citamos, Maria Lenk é a primeira brasileira a participar de Jogos

Olímpicos (Los Angeles, 1932). A composição das delegações brasileiras que participariam

dos Jogos Olímpicos mostra uma lenta e irregular progressão da presença feminina,

comprovando a dificuldade de penetração das mulheres num reduto considerado masculino.



       Outro indicador da dificuldade enfrentada pelas mulheres dentro do cenário

esportivo no Brasil é apresentada nas datas das primeiras competições masculinas e

femininas em campeonatos brasileiros. Vejamos alguns casos:

•   Natação masculina - 1898; natação feminina - 1935,

•   Atletismo e basquetebol masculinos - 1925; atletismo e basquetebol femininos - 1940,

•   Tênis masculino - 1923; tênis feminino - 1947.



       Podemos citar ainda o futebol, que somente nos últimos anos tem proporcionado

alguns poucos campeonatos para as mulheres brasileiras, que, em pouco tempo, já mostram

bons resultados em competições internacionais, como por exemplo, a terceira colocação na

Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, em 1999.



       O Estado Novo foi responsável pela implantação de medidas normatizadoras da

prática esportiva feminina. O decreto-lei 3.199, de 1941, proíbe às mulheres a prática de

esportes "incompatíveis com as condições de sua natureza". Tal decreto foi regulamentado

em 1965 por uma deliberação do Conselho Nacional de Desportos que proibia às mulheres




                                                                                       29
a prática de lutas de qualquer natureza, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático,

pólo, rúgbi, halterofilismo e beisebol.



       Nos depoimentos prestados à já citada CPI da Mulher em 1976, Iris de Carvalho e

Maria Lenk recomendam a eliminação dessa deliberação:

                                                          "(...) É nobre que os legisladores e os
                                                          dirigentes se preocupem com a mulher
                                                          e queiram protegê-la. Tais cuidados
                                                          não deixam de ser uma discriminação
                                                          contra o homem, que fica entregue à
                                                          própria sorte. Certos esportes por ele
                                                          livremente       praticados      podem
                                                          ocasionar-lhe lesões irreversíveis. No
                                                          entanto... não seria mais certo conferir
                                                          à mulher o direito de escolher, por livre
                                                          manifestação de vontade?" (Carvalho
                                                          apud Romero, 1990, p. 284-285)




       Existe um relato terrível sobre a participação de mulheres no campeonato sul-

americano de judô em 1979, na Argentina. Como a deliberação brasileira já citada proibia a

participação de mulheres em qualquer tipo de luta, Joaquim Mamed, diretor da

Confederação Brasileira de Judô, registrou as desportistas com nomes masculinos. Após a

vitória da equipe, a trama foi descoberta e, atendendo a uma intimação do Conselho

Nacional de desportos, Mamed se apresentou com uma equipe trajando quimono e com as

medalhas conquistadas no peito. Desta forma, após quatorze anos de vigência, a

deliberação 7/65 foi revogada.



       Hoje em dia, apesar de barreiras ainda não vencidas totalmente, o esporte feminino

brasileiro se encontra em estágio bem avançado, com destaque internacional para diversas

modalidades, como o voleibol, o basquetebol e o futebol. Outras modalidades mostram



                                                                                                30
claro avanço técnico e em número de praticantes, como a ginástica artística, o judô e o

handebol.



       Outra grande barreira ainda enfrentada pelas mulheres quanto à sua participação em

algumas modalidades esportivas são alguns conceitos relacionados às diferenças entre as

capacidades orgânicas do homem e da mulher. Considerando que algumas destas diferenças

são reais e comprovadas, determinados esportes carecem de adaptações para que possam

ser praticadas pelo sexo feminino.



       A análise destes aspectos orgânicos se constitui como ponto central do

prosseguimento deste trabalho de pesquisa.




                                                                                       31
II - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER




       Este capítulo analisará as características que tornam os corpos do homem e da

mulher diferentes, quanto aos aspectos significativos para a prática da atividade física e dos

desportos em geral.



       A mulher do século XX deseja ser igual ao homem. Além das diferenças anatômicas

evidentes relativas aos órgãos genitais e aos caracteres sexuais secundários, o homem e a

mulher apresentam importantes diferenças morfológicas.



2.1. - O Esqueleto



       Com a mesma altura em relação ao homem, a bacia da mulher é mais larga, o talhe e

os ombros são mais estreitos, os fêmures mais convergentes e a lordose lombar mais

acentuada.



       Com o mesmo peso em relação ao homem, a mulher apresenta um esqueleto mais

frágil, um tecido adiposo subcutâneo mais abundante e, sobretudo, um tecido muscular

menos desenvolvido.



       O esqueleto da mulher apresenta características de forma e de desenvolvimento

claramente distintas em relação ao esqueleto do homem, com ossos menores, mais leves e

com tuberosidades, apófises e cristas mais delicadas e menos salientes. As articulações e o


                                                                                           32
aparelho capsuligamentar são mais delicados e mais adaptáveis aos esforços de natureza

leve.



        A conformação do tórax é diferente nos dois sexos. O tórax da mulher é menor e

mais estreito no seu conjunto, com ombros menores e a abertura inferior mais ampla em

relação ao homem.



        A pelve da mulher, condicionada à função da procriação, faz exceção a todos os

outros ossos do esqueleto, sendo mais larga e mais ampla que a do homem. Apresenta uma

morfologia particular, que lhe permite desenvolver equilíbrios estáticos e dinâmicos

diferentes dos do homem, tanto nas condições normais quanto na correspondente à

gestação, que lhe é específica. Nesta condição, o aparelho capsuligamentar das articulações

pélvicas torna-se mais flácido, permitindo modificações das conexões dos ossos pélvicas

durante a mecânica do parto. Além do mais, os ilíacos da mulher apresentam acetábulos

voltados mais em direção antero-lateral em relação aos do homem, condicionando

articulações coxofemorais diferentes das do homem. Nessas condições, há maior

convergência dos fêmures para o plano mediano que dão aos membros inferiores femininos

um aspecto que lembra o da letra "X".



        A maior largura da bacia feminina e a maior convergência dos fêmures para o plano

mediano imprimem à marcha da mulher uma movimentação balanceada lateralmente, para

a direita e para a esquerda, diferente da do homem, que é mais firme e retilínea. O tronco da

mulher, na maioria dos casos, é mais comprido do que o do homem, o contrário




                                                                                          33
acontecendo com os membros inferiores. Por essa razão, a mulher geralmente tem o passo

menor do que o do homem.



       A coluna vertebral, por sua vez, apresenta a curvatura antero-posterior da região

lombossacra (lordose) mais acentuada da que a do homem, o que se relaciona também à

função da procriação e proporciona uma estática diferente ao organismo feminino em

relação ao homem.



       No homem, pela menor largura da bacia e pela menor convergência dos fêmures em

relação ao plano mediano (na maioria das vezes os membros inferiores masculinos

obedecem a um ligeiro valgismo, lembrando o aspecto de uma letra "O" alongada no

sentido vertical), os membros inferiores se tornam mais adaptáveis às longas caminhadas,

contribuindo para imprimir maior rapidez às corridas e maior eficiência motora aos saltos e

arremessos.



       Em relação a diferenças entre os aspectos físicos relacionados ao esqueleto, o

homem médio é aproximadamente 14 a 15 centímetros mais alto que a mulher. O homem

também é mais pesado cerca de 20 a 25 por cento, apesar de as mulheres serem

proporcionalmente portadoras de mais tecido adiposo.



       Por causa de sua maior altura, ombros mais largos e quadris mais estreitos, o centro

de gravidade do homem é diferente do da mulher. Isto pode facilitar certos tipos de padrões

de movimento, como o salto. Em relação à altura, a circunferência da caixa torácica da

mulher é menor do que a do homem e sua cavidade abdominal é mais larga e maior.


                                                                                         34
Em geral, a calcificação de certas partes do esqueleto começa mais cedo na menina

do que no menino. A junta do joelho feminino é mais estável do que a do masculino; o

ombro da menina é menos largo; o pélvis ósseo do menino é mais profundo e mais estreito.



       Na estrutura facial, o homem é propenso a ter os ossos do nariz salientes, ossos

molares altos e um queixo quadrado e pesado. O ângulo do braço da mulher tende a seguir

o ângulo produzido por seus ombros estreitos e quadris levemente ressaltados.




2.2 - Sistema vascular e respiratório



       O sangue apresenta diferenças significativas entre os dois sexos, com valores

menores para a mulher.



       O volume total de sangue é menor na mulher, com 58 ml por quilo do peso

corpóreo, enquanto no homem este volume é de 64 ml por quilo. Para um mesmo volume

de sangue, existe cerca de 10 por cento a menos de hemácias, com menor quantidade de

hemoglobina por hemácia, o que diminui a quantidade desse pigmento no sangue da

mulher. A quantidade total de hemoglobina na mulher é de 0,86 % do peso corpóreo,

enquanto no homem esta quantidade é de 1,16 %, o que corresponde a uma diferença de 25

a 30 % a menos para a mulher.




                                                                                      35
Sendo a hemoglobina responsável pelo transporte de oxigênio pelo sangue e

sabendo-se que 1,0 grama de hemoglobina transporta igual quantidade de oxigênio nos dois

sexos, podemos entender que, em igualdade de condições físicas e de trabalho a realizar, a

mulher apresenta desvantagem em relação ao homem, pois sua capacidade de transporte de

oxigênio é menor.



        O homem normalmente tem um coração maior que a mulher e essa diferença faz-se

sentir no coração das mulheres durante a marcha rápida.



        A soma de glóbulos vermelhos no sangue é maior. A pressão sanguínea do homem

médio é 5 a 10 milímetros mais alta do que a mulher. A mulher, portanto, tem uma

limitação circulatória, resultando em efeitos sobre sua resistência cardíaca que acabam por

afetar a resistência geral.



        Levando-se em conta a as diferenças entre o nível de hemoglobina (Hb), o volume

sanguíneo e as diferenças entre as dimensões funcionais do sistema aeróbico de homens e

mulheres, pode-se concluir que, se os demais fatores fossem iguais, o VO2 máximo da

mulher seria igual ao do homem, se ambos possuíssem a mesma Hb e o mesmo volume

sanguíneo total.



        A função respiratória da mulher também é menos eficiente, levando-se em conta

todos os parâmetros respiratórios, estáticos e dinâmicos, inferiores aos do homem, tanto em

repouso quanto sob condições de trabalho muscular.




                                                                                        36
Os demais sistemas ou aparelhos orgânicos também são mais delicados na mulher,

impondo diferenças sensíveis no tocante à sua capacidade funcional, em relação à do

homem.



       Baseados em resultados de estudos feitos por Pate, Barnes e Miller, podemos chegar

a algumas conclusões em relação a certos aspectos fisiológicos na comparação entre o

desempenho de homens e mulheres.



       Nestes estudos, em ambiente laboratorial, homens e mulheres eram submetidos a

um teste progressivo na esteira rolante, com avaliação para VO2 máximo, relações de

permuta respiratória (R), hematócrito e meoglobina, ácido lático e ácido 2,3-

difosfoglicérico (2,3-DPG - que facilita a dissociação do oxigênio da hemoglobina). A

composição corporal era avaliada por pesagem hidrostática.



       As composições corporais eram quase as mesmas (17,8% para as mulheres e 6,3%

para os homens), sendo que os homens eram mais pesados que as mulheres.



       Os resultados obtidos foram os seguintes:

          1.   não houve diferenças significativas no VO2 máximo, (55,8 e 55,1 ml/kg/min

               para homens e mulheres, respectivamente), na freqüência cardíaca máxima

               (186 e 189 batimentos por minuto);

          2. os níveis de ácido lático após o exercício eram bastante semelhantes e as

               concentrações de 2,3-DPG eram semelhantes em ambos os grupos.




                                                                                      37
Após o término desses estudos, chegou-se à conclusão que, quando homens e

mulheres exibem padrões de treinamento e de desempenho semelhantes, a maioria de suas

características   fisiológicas   é semelhante.   Outros estudos      evidenciam resultados

semelhantes. Uma implicação prática para os resultados desta natureza é que, nos

ambientes tanto da educação física como quanto nos desportos, onde o desempenho e o

condicionamento se baseiam na capacidade aeróbica, homens e mulheres podem e devem

ser colocados em grupamentos comuns.



       A diferença de VO2 máximo entre homem e mulher é negligenciável nos primeiros

anos e mais pronunciada durante a fase da vida adulta. Essa relação tem como base o fato

das diferenças no tamanho e        composição do corpo entre homens e mulheres serem

mínimas antes da puberdade e máximas durante a vida adulta.



2.3 - Sistema muscular



       Embora a maioria dos homens seja mais forte que as mulheres, não há provas de

que o sexo afete de alguma forma os componentes musculares da mulher. O tecido

musculoso do homem e da mulher são iguais.

       Há uma proporção muscular maior no homem e as pessoas com um componente

muscular grande tendem a ser mais fortes do que as que possuem pequeno componente

muscular e componente gorduroso grande. Quando as mulheres executam trabalhos

pesados servindo-se dos músculos, desenvolvem uma força muscular proporcional ao seu

tamanho e igual à de um homem de igual tamanho e massa muscular. Obviamente, o modo

de vida característico de cada sociedade, determina, em parte, o total de trabalho fisiológico


                                                                                           38
que cada indivíduo, homem ou mulher, farão. Na cultura norte-americana, o costume

social e os hábitos limitam o trabalho muscular da mulher. O potencial de força das

mulheres raramente é completamente desenvolvido.



       A força muscular geral da mulher equivale a dois terços da do homem. Entretanto,

convém lembrar que as diferenças de força variam de acordo com cada grupo muscular. Por

exemplo, em comparação com os homens, as mulheres são mais fracas no tórax, nos

ombros e nos braços, enquanto são mais fortes nas pernas. Provavelmente, isto se relaciona

ao fato de ambos os sexos utilizarem suas pernas em igual intensidade, para ficar de pé,

subir escadas, andar, correr e outros movimentos do cotidiano, enquanto, na maioria das

sociedades, as mulheres têm pouca oportunidade de utilizar os membros superiores, como o

exemplo da sociedade norte-americana citado no parágrafo acima.



       Alguns testes demonstraram que, apesar das semelhanças dos níveis de força dos

membros inferiores, os homens demonstraram certa superioridade na força isocinética para

velocidades mais rápidas de movimento. As razões para essa diferença são desconhecidas,

mas podem estar relacionadas com diferenças no tipo de fibras musculares ou nos padrões

de recrutamento das fibras entre os sexos. Porém, julga-se necessário uma pesquisa mais

ampla nessa área.



       Muito tem se falado que a mulher atleta tem um aspecto “masculinizado”, o que tira

o encanto e a formosura de um corpo feminino delicado por natureza.




                                                                                       39
Este fato deve-se, sobretudo, ao tipo de vestimenta utilizado em determinadas

modalidades esportivas, a uma certa ausência de charme em algumas praticantes ou a um

corte de cabelos mais curto, mas nunca à realidade biológica. As mulheres virilizadas pelo

esporte certamente são aquelas que têm tendências andrógenas naturais e que vencem as

competições devido a sua morfologia, como no caso das arremessadoras de peso.



       Há alguns anos, pensava-se que o aumento da atividade no córtex adrenal devido ao

esforço físico poderia causar um estado de hiperandrogenia, que não parece fazer sentido,

pois não foram encontradas diferenças significativas entre as dosagens hormonais das

desportistas e das não-desportistas.



       As únicas alterações registradas são de ordem morfológica e geralmente o aumento

da cintura escapular é responsável pelo aumento do diâmetro bdeltoidiano, sem que o

morfograma seja modificado no sentido andrógeno, o que não caracteriza uma suposta

“masculinização” da atleta.



       Com relação à preocupação estética feminina, recomenda-se a realização de

exercícios como a ginástica rítmica ou de relaxamento, da natação suave e outros exercícios

leves e graciosos, com a finalidade de modelar o corpo.



       No plano psicológico, o espírito de competição pode ocasionar nas mulheres uma

agressividade máscula, que, geralmente, já existe anteriormente, mas se revela a partir do

momento da escolha do esporte.




                                                                                        40
Porém, o que deve realmente ser levado em conta são os benefícios do esporte com

a presença de pequenas sobrecargas ponderais. Para isso, basta lembrarmos as silhuetas

longas e esbeltas das velocistas, das jogadoras de voleibol e das evoluções graciosas das

ginastas e das patinadoras, para nos convencermos dos benefícios que o esporte pode trazer

à mulher que deseja ser “ainda mais mulher”.




                                                                                       41
III - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO

                               ORGANISMO FEMININO




       O organismo feminino apresenta certas características e funções biológicas

peculiares, que devem ser estudadas de uma forma especial, para que as atividades físicas

praticadas pelas mulheres sejam adequadas a tais características.



       Existem diferentes tipos de exercícios físicos a serem recomendados, de acordo com

a idade e ao estágio de desenvolvimento puberal da mulher.



       Entre nove e 12 anos de idade ocorre o período pré-puberal, onde é indicada a

ginástica geral, e não se recomenda que um órgão ou membro seja mais solicitado que o

outro. Ou seja, a especialização esportiva não deve ocorrer nesta fase.



       Entre os 12 e 15 anos de idade, temos o período puberal, onde é necessário dosar os

esforços em função das qualidades de potência e resistência de cada indivíduo. A educação

respiratória é importante nesta fase e permite um bom apoio para o desenvolvimento

mamário.



       Entre os 15 e 16 anos temos a idade de desenvolvimento muscular, onde já são

permitidos os exercícios de força.




                                                                                        42
Na fase adulta, existem outras considerações importantes relacionadas ao exercício

físico e ao desenvolvimento do organismo feminino que precisam ser levadas em

consideração, entre os quais podemos destacar a menstruação e os fenômenos relacionados

à gravidez. Neste capítulo estaremos analisando a influência destes dois aspectos

relacionados exclusivamente ao desenvolvimento da mulher, além de um pequeno estudo

sobre lesões das mamas e dos órgãos reprodutores da mulher.



       3.1 - Menstruação



       A menstruação, que é uma função fisiológica como tantas outras, era considerada no

passado como um castigo divino de influência cósmica lunar, através do qual ocorria a

excreção de substâncias tóxicas orgânicas, fazendo com que a mulher se torne impura neste

período, devendo ficar isolada de tudo e de todos. Essa e outras crendices sobre a

menstruação perduraram por séculos, prejudicando a mulher em vários sentidos, incluindo

as jovens atletas nos dias de hoje, que, por vezes, ainda sofrem com uma série de

transtornos psicossomáticos que interferem diretamente no rendimento do trabalho

esportivo, unicamente por medo e ignorância.



       Ainda hoje, a menstruação continua a ser o maior problema de atletas mal

esclarecidas ou mal preparadas psicologicamente para enfrentar a competição nesse

período. O fator emocional chega a ser tão forte para algumas mulheres, que é comum o

fluxo menstrual antecipar-se muitos dias, vindo a ocorrer exatamente na data de uma

competição importante.




                                                                                       43
O foco primário acerca do ciclo menstrual nos esportes está relacionado com o

surgimento de um padrão irregular (oligomenorréia) ou com a cessação que se prolonga por

mais de 90 dias (amenorréia). A amenorréia primária é definida como a demora da menarca

além dos 16 anos de idade, enquanto amenorréia secundária é a ausência da menstruação

em mulheres que já menstruam.



       O ciclo menstrual (ovulatório) é um fenômeno fisiológico complexo. Podem ser

identificados vários tipos de amenorréia secundária, entre eles a anovulação crônica

hipotalâmica, a anovolução crônica hipofisária, a retroalimentação inadequada para o

hipotálamo ou a hipófise e outras disfunções endócrinas ou metabólicas.



       A amenorréia atlética foi colocada na categoria geral de anovulação crônica. Os

pesquisadores têm tido dificuldade em evidenciar uma relação de causa e efeito entre

fatores específicos da participação nos esportes e a amenorréia secundária.



       Estaremos analisando mais profundamente os aspectos relacionados ao fenômeno da

menstruação no prosseguimento deste estudo.



       Em comparação com a mulher comum, comprovou-se que a mulher americana

atleta inicia a sua menstruação (menarca) mais tarde, conforme quadro e gráfico a seguir.




                                                                                        44
Quadro nº 4 – Comparação entre a idade da menarca em mulheres americanas



Categorias                                              Idade da menarca
Não-atletas                                             13,02
Atletas secundárias                                     13,05
Nadadoras competitivas                                  13,4
Atletas de pista e campo de nível nacional              13,58
Atletas olímpicas (Jogos de Montreal, 1976).            13,66
Corredoras de meia-distância de nível nacional          14,1
Atletas olímpicas de voleibol                           14,18
Corredoras de nível nacional                            14,2
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS, 1989, p. 284




Gráfico nº 2 – Comparação da idade da menarca em mulheres americanas


   14,4                                                          Não-atletas

   14,2
                                                                 Atletas secundárias
    14

   13,8
                                                                 Nadadoras competitivas
   13,6
   13,4                                                          Atletas de pista e campo de
                                                                 nível nacional
   13,2
    13                                                           Corredoras de m eia-distância
                                                                 de nível nacional
   12,8
                                                                 Atletas olím picas de voleibol
   12,6
   12,4                                                          Corredoras de nível nacional
                           Idade da menarca


Fonte: Quadro nº 4

          Como é demonstrado no gráfico, atletas tanto secundaristas quanto universitárias

alcançaram a menarca mais tarde do que as não-atletas, e os vários grupos de atletas

nacionais e olímpicas chegaram à menarca muito depois que atletas secundaristas e

universitárias. Esses resultados indicam claramente uma menarca mais tardia para atletas de


                                                                                               45
porte nacional e internacional e sugerem uma relação entre menarca retardada e níveis de

competição mais avançados.



       Por outro lado, constatou-se que a idade da menarca para atletas húngaras é pouco

afetada pela competição atlética e, que em nadadoras suecas, a idade da menarca foi

ligeiramente mais precoce do que em não-atletas, enquanto que em nadadoras mais jovens,

entre 10 e 12 anos de idade, constatou-se uma maturidade sexual mais avançada, indicada

pelo desenvolvimento das mamas e dos pêlos pubianos, nas finalistas de uma competição

nacional em comparação com as semifinalistas do mesmo grupo etário. Esses resultados

sugerem a possibilidade de existir diferentes relações de maturidade para esporte e níveis

competitivos entre mulheres atletas de diferentes países. Porém, vale salientar que ao

contrário dos resultados mais atuais apresentados nos estudos com mulheres americanas

apresentados no gráfico anterior, essas informações obtidas com estudos com mulheres da

Hungria e da Suécia foram obtidas cerca de 25 anos atrás, numa época em que o nível de

treinamento e de competição eram muito diferentes que os atuais, fator que deve influenciar

sobremaneira os resultados obtidos.



       Cabe-nos analisar, portanto, possíveis fatores que retardam a menarca em mulheres

altamente qualificadas fisicamente e qual o significado deste retardamento.



       Foi constado que o exercício produz um aumento na prolactina, um dos hormônios

secretados pela hipófise e responsável pela preparação das mamas para a amamentação. Na

atleta adolescente, isto poderia criar o que se chama de "impregnação prolactínica" do

ovário em maturação, o que seria suficiente para retardar ainda mais a maturação do ovário


                                                                                        46
por outro hormônio denominado folículo-estimulante. Por sua vez, isso poderia resultar em

retardo da menarca ou na ausência de menstruação (amenorréia) transitória bastante

observada nas mães que amamentam.



       Estudos realizados por MALINA, TATE e BAYLOR sugerem dois significados

principais para a relação entre a menarca tardia e o sucesso nos desportos, sendo um de

relacionado com aspectos fisiológicos e outro com aspectos sociológicos.



       As características físicas e fisiológicas associadas à maturação tardia são, sob

muitos aspectos, favoráveis para o sucesso no desempenho atlético. Por exemplo, a mulher

com maturação mais tardia possui pernas mais compridas, quadris mais estreitos e menos

peso por unidade de altura e menos gordura corporal relativa em comparação com a mulher

com maturação mais precoce. Na natação, porém, a maturação mais precoce pode ser

benéfica, pois a maior força e a gordura corporal tendem a aprimorar o desempenho da

mulher nesse desporto. Isso se relaciona muito bem aos resultados obtidos nos estudos

feitos com nadadoras suecas mencionados anteriormente.



       No aspecto social, a mulher americana madura é, em termos genéricos,

"socializada" longe das competições esportivas. Ou seja, as meninas cuja maturação é mais

tardia, tendem a permanecer por mais tempo nas competições esportivas e, por

conseqüência, tendo maior possibilidade de competir em níveis mais elevados. Por outro

lado, depois que a mulher tiver desenvolvido todas as suas características sexuais, é

submetida à pressão social, e seus interesses afastam-se do esporte e se dirigem para




                                                                                      47
objetivos familiares ou de carreira. Embora atualmente este panorama já esteja se

modificando, ainda constitui-se em fator importante.



          Com base em diversos estudos realizados, chegou-se à conclusão que o exercício

parece não influenciar de maneira significativa os distúrbios menstruais.




          3.2 – Exercícios e distúrbios menstruais


          Numa pesquisa realizada por DALE e outros estudiosos, chegou-se ao resultado de

que um terço das corredoras de longa distância apresentam amenorréia, isto é, cessação da

menstruação durante suas temporadas de treinamento e de competição. Nota-se a incidência

de amenorréia em 34% de um grupo de corredoras e de 23% em um grupo que praticava

jogging (trote) e de apenas 4% em grupo que não corria. Neste estudo, ficaram definidas

como corredoras as mulheres que corriam mais de 48 km por semana e que combinavam

corrida de longa distância, porém lenta, com um trabalho de velocidade. Por outro lado, as

trotadoras (joggers) foram definidas como as mulheres que corriam lenta e livremente de 8

a 48 km por semana. Os resultados obtidos podem ser analisados na tabela e no gráfico

abaixo.




Quadro nº 5 – Número médio de menstruações entre três categorias de mulheres americanas




                                                                                        48
Categoria                           Nº médio de menstruações por ano

           Corredoras                                        9,16

           Trotadoras                                       10,32

           Controle (não corredoras)                        11,85
Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 284.




GRÁFICO Nº 3 – Comparação entre o número médio de menstruações entre três categorias

de mulheres americanas



                             12



                             10



                              8

                                                            Corredoras

                              6
                                                            Trotadoras

                                                            Controle (não
                              4
                                                            corredoras)


                              2



                              0
                                      Nº médio de
                                  menstruações por ano

       Fonte – Quadro nº 5


       Um detalhe interessante a ser mencionado, é que até 24% das corredoras tinham

cinco ou menos menstruações por ano. Além disso, a incidência de amenorréia parece ser



                                                                                    49
muito maior nas corredoras e trotadoras com menarca de início mais tardio, que não

tiveram nenhuma gravidez ou que haviam tomado hormônios anticoncepcionais.



       A causa da amenorréia em mulheres atletas é desconhecida. Porém, qualquer que

seja a causa, parece ter relação com a intensidade do treinamento. Acredita-se que pode ser

causada pelo próprio treinamento ou competição ou por outros fatores relacionados como

redução do peso corporal ou estresse psicológico geral. No caso do treinamento

propriamente dito, é importante salientar que um treinamento mais intenso pode gerar um

melhor desempenho, conseqüentemente, um maior estresse.



       Foi demonstrado que uma redução das reservas adiposas do organismo, obtida

através do treinamento, está associada à amenorréia. No caso específico de fundistas e

ginastas, essa continua sendo uma possível razão para a amenorréia destas.



       É provável que, com a suspensão do treinamento, dos exercícios e das competições,

as menstruações readquirem um padrão normal e as funções procriativas da mulher se

revelam normais sob todos os aspectos.



       A dismenorréia (menstruação dolorosa) provavelmente não é nem agravada e nem

curada pela participação nos esportes. Quando muito, pode ser menos comum nas mulheres

fisicamente ativas. A dismenorréia, se não for intensa, não dificulta o desempenho atlético,

pelo menos do ponto de vista fisiológico. Porém, é possível que fatores psicológicos

relacionados desempenhem um papel importante.




                                                                                         50
A participação em atividades esportivas tem relação com a dismenorréia. O fator

intensidade do exercício parece importante, pois se observou que um grupo de mulheres

que seguiam um programa de exercícios regular tinha menos problemas nesse aspecto.



       A dismenorréia parece afetar especialmente as nadadoras, que são advertidas por

alguns médicos para que evitem as piscinas durante a menstruação, para evitar o risco de

contaminação bacteriana do endométrio, através da abertura do canal uterino. Apesar de

tudo, o treinamento e a competição não parecem causar problemas.




       3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação



       O fato de as mulheres competirem ou não durante o seu fluxo menstrual constitui-se

assunto essencialmente individual. Porém, alguns aspectos podem ser analisados a respeito.



       Das atletas olímpicas examinadas nos Jogos Olímpicos de Tóquio, 69% competiram

sempre durante a menstruação, apesar de apenas 34% treinarem durante esse período. Dos

31% que às vezes competiam durante a menstruação, todas participavam de grandes

pelejas, especialmente as que consistiam em competições entre equipes.



       Do ponto de vista médico, existe uma discordância sobre o assunto. Alguns médicos

acreditam que o treinamento e a competição durante o período menstrual não devem ser

permitidos nos esportes em que se observa grande incidência de distúrbios menstruais,

como a corrida de fundo, o esqui, a ginástica, o tênis e o remo. Quase todos os médicos


                                                                                        51
reprovam a natação durante a menstruação. Isso é interessante, pois foi determinado que,

durante a menstruação, não existe contaminação bacteriana da água da piscina e nenhum

sinal de aumento nas infecções bacterianas dos órgãos genitais das nadadoras. Além disso,

o Dr. A. J. Ryan sugeriu que o uso do tampão intravaginal é conveniente e confortável para

a maioria das nadadoras durante a menstruação.



       Com base nessas informações, não se pode estabelecer nenhum motivo para que a

mulher não treine ou participe de competições durante o período da menstruação, desde que

sua experiência própria lhe mostre que não haverá nenhum incômodo e que seu

desempenho não será afetado. É importante salientar também que, para as mulheres

competitivas, não é nada agradável a idéia de perder três ou quatro dias de treinamento. Da

mesma forma, não é recomendável que se force uma mulher a participar de um treinamento

ou competição, quando ela se sente mal e o seu desempenho torna-se muito precário

durante esse período.



       O fluxo menstrual corresponde a uma etapa do ciclo menstrual em que a mulher

readquire suas melhores condições de funcionamento orgânico, o que possibilita um ótimo

desempenho físico, sendo que algumas atletas chegam a alcançar seus melhores resultados

exatamente nesse período.



       Tal fato é tão significativo que ocorre, em diversas competições, uma espécie de

doping artificial, que consiste na utilização de hormônios (progesterona e estrógenos) para

deslocar o fluxo menstrual da atleta, visando à sua participação na competição com o

máximo de desempenho. Esse procedimento artificial, antecipando ou retardamento o fluxo


                                                                                         52
menstrual da atleta, com o objetivo de a atleta poder participar com o máximo rendimento

de uma competição, além de fraudulento e desleal, é contra-indicado para a saúde da

mulher. Além disso, todo agente que proporciona condições artificiais ao atleta na

competição é considerado dopador.



       A capacidade física da mulher varia de acordo com o período do ciclo menstrual em

que ela se encontra. Na primeira fase, também chamada "proliferativa" ou "estrogênica",

ocorre a fixação de água no organismo (ação anabolizante). Por volta do 14º dia, verifica-se

a ovulação, com ligeira diminuição de hormônios no sangue, que aumenta de novo por

volta do 18º dia, para cair novamente até atingir seus níveis iniciais, na fase pré-menstrual.

Essa primeira fase do ciclo menstrual se caracteriza por pequenas alterações orgânicas, que

não chegam a perturbar muito a eficiência do trabalho físico e esportivo.



       Na segunda fase do ciclo menstrual, ocorrem alterações mais intensas, mesmo em

mulheres com ciclo normal, que acarretam perturbações do psiquismo, cansaço, mal-estar

geral, além de outras que constituem a "síndrome pré-menstrual". Tais modificações podem

trazer efeitos significativos sobre o rendimento muscular, em determinadas atletas,

tornando seus resultados abaixo do que seria esperado.



       A progesterona provoca a eliminação da água que havia sido fixada pela ação dos

estrógenos. Contudo, durante a menstruação, a mulher encontra-se menos perturbada que

na fase anterior, estando livre dos problemas que caracterizam a fase pré-menstrual,

readquirindo suas melhores condições de funcionamento orgânico e de eficiência do

trabalho muscular.


                                                                                           53
É fato comprovado que atletas em plena menstruação encontram-se com a sua

dinamometria, o tono neurovegetativo, a velocidade, a destreza, a habilidade e a resistência

ao cansaço em seus níveis normais, permitindo que a mulher obtenha seus melhores

resultados físicos e técnicos, qualquer seja a modalidade praticada, inclusive a natação. Não

são raros os casos em que atletas em pleno fluxo menstrual conseguiram superar recordes

olímpicos e mundiais.



       A queda de rendimento de atletas em fase de menstruação, portanto, deve-se, na

grande maioria dos casos, a um consenso psicológico negativo de que as mulheres devem

reduzir suas atividades físicas nesse período, resultando           em preocupações sem

fundamento, geradas por falta de informação e orientação.



       Mulheres com plena capacidade têm apresentado uma queda de rendimento físico

durante a fase da menstruação devido ao desconhecimento de suas funções biológicas,

acreditando que, na fase da menstruação propriamente dita, seu corpo se encontre em um

nível inferior, o que, cientificamente, não se constata concretamente.



       As diferenças de capacidade física do organismo da mulher durante as diferentes

fases do ciclo menstrual podem ser identificadas no quadro a seguir




Quadro nº 6 – Representação esquemática das variações aproximadas da capacidade física
da mulher durante o ciclo menstrual (mulher ginecologicamente normal, com ciclo
menstrual de 28 dias).


                                                                                          54
Nº de dias     Períodos                    Capacidade física
              5              Tensão pré-menstrual        Mínima
              5              Fluxo menstrual             Aumento progressivo (rápido)
              8-9            Influência estrogênica      Máxima
              9-10           Influência progesterônica   Diminuição progressiva (lenta)
Fonte: PINI, 1978, p. 218.




         Vale ressaltar que a mulher com disfunções do ciclo menstrual apresenta a

"síndrome pré-menstrual" de maneira mais intensa, apresentando cólica uterina, cefaléia,

tontura, náusea, vômito, retenção hídrica e outras anomalias. A mulher que apresenta tais

sintomas deve se afastar das competições esportivas e, em alguns casos, permanecer em

repouso. É sabido, porém, que a atividade esportiva bem conduzida, atua de maneira

benéfica no organismo da mulher, tendendo para a regularização daquela atividade cíclica

fisiológica. Por outro lado, a atividade física excessiva pode causar perturbações sérias no

ciclo menstrual da atleta.



         Portanto, a normalidade do ciclo menstrual da atleta demonstra a boa receptividade

do seu organismo em relação ao trabalho físico e esportivo por ela realizado.



         A grande maioria dos autores é unânime em afirmar que a atividade esportiva

racionalmente conduzida não ocasiona nenhuma perturbação na menarca, no ciclo

menstrual e na história obstétrica atual ou ulterior da mulher-atleta, preparando-a para

transpor com facilidade as perturbações que se podem instalar por ocasião do climatério.




                                                                                           55
3.4 - Gravidez e parto



       Antes de abordarmos a gravidez com relação à atividade física, é importante

reconhecermos as transformações fisiológicas que ocorrem no organismo feminino durante

este período.



       Em posição sentada ou deitada, o VO2 em repouso é mais alto. Em início de

gravidez, o débito cardíaco é proporcionalmente mais alto que o VO2, ocasionando uma

redução na diferença arteriovenosa de oxigênio. Por volta do sétimo e oitavo mês, o débito

cardíaco, em posição deitada, é reduzido e, para fornecer o oxigênio requerido, a diferença

arteriovenosa aumenta.



       A gravidez não tem impedido certas mulheres de levar ao nível de competição sua

atividade física. Nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsinque, uma mulher com três meses

e meio de gravidez chegou a ganhar uma medalha de bronze.



       Quanto aos efeitos do treinamento intenso em atletas de nível internacional, eles não

parecem prejudicar a gravidez e o parto, sendo que 87,2% das atletas entrevistadas tiveram

mesmo seus períodos de trabalho de parto diminuídos. Notou-se também uma redução para

a metade no número de cesarianas entre atletas, em comparação com as mulheres

sedentárias.




                                                                                         56
A gravidez não parece ter efeitos dignos de maior atenção sobre as respostas

fisiológicas ao esforço. Parece que até a 36ª semana de gravidez. A mulher pode se dedicar

sensatamente a atividades esportivas em que não precise erguer pesos.



       Quanto ao período pós-parto, observou-se que o exercício diminuía as dores

lombares e a fadiga crônica das mulheres com musculatura abdominal fraca e com um

passado hipocinético.



       É comum as atletas retornarem ao treinamento e à competição em um período de

três a cinco meses após o parto. Parece que fazem tudo tão bem como antes da gravidez e,

em alguns casos, chegam a melhorar seus desempenhos, apresentando melhores condições

e mais equilibradas, tanto física como psiquicamente.



       Existem duas escolas de pensamento no que diz respeito aos efeitos da participação

atlética sobre a gravidez e o parto.



       Uma teoria considera que, em virtude da hipertrofia da musculatura pélvica que

acompanha a participação nos esportes, os músculos tornam-se menos extensíveis e, por

conseqüência, geram dificuldades durante o trabalho de parto. A outra teoria enfatiza os

efeitos favoráveis ocasionados por músculos abominais mais fortes sobre o parto.



       Várias pesquisas foram realizadas até o momento, com o objetivo de esclarecer o

problema, sendo que alguns resultados obtidos podem ser resumidos no quadro abaixo.




                                                                                        57
Quadro nº 7 - Efeitos da participação atlética sobre a gestação e o parto



Variável                                         Atleta X não-atleta
Complicações da gestação                         Menor número
Duração do trabalho de parto                     Mais curta
Número de cesarianas                             Menor
Rupturas teciduais durante o parto               Menos
Abortos espontâneos                              Menor número

Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 289.




       É evidente, analisarmos tais dados, que as mulheres atletas costumam ter menos

complicações relacionadas à gravidez e ao parto do que as mulheres normais não-atletas.



       Uma das questões mais polêmicas sobre a atleta é se esta deve continuar

treinamento ou competindo durante o período de gravidez. Sabe-se que existem mulheres

que competem durante os três ou quatro primeiros meses de gestação e outras até poucos

dias antes do trabalho de parto.



       Foi relatado que uma corredora com seis meses e meio de gestação registrou um

tempo de 4 horas nos primeiros treinamentos para a Maratona Olímpica nos Estados

Unidos, sendo que dez semanas depois deu à luz um filho sadio.



       Ainda mais, foi demonstrado que o exercício durante a gravidez não constitui um

estresse fisiológico mais intenso durante a gravidez do que antes dela, desde que sejam

minimizadas as atividades com levantamento de pesos, sendo que alguns médicos

prescrevem com freqüência várias formas de exercício durante a gravidez.



                                                                                          58
É preciso, porém, enfatizar que a participação da mulher em competições ou em

programas de exercícios deve ser determinada em uma base individual e sempre com o

acompanhamento médico.



       Com relação ao desempenho após o parto, 46% das mulheres atletas que

participaram dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, e que continuaram em competições

atléticas após o parto, conseguiram superar seus resultados anteriores por volta do final do

primeiro ano após o trabalho de parto; 31% superaram seus desempenhos entre o primeiro e

o segundo ano após o parto. Isto sugere que o parto não afeta o desempenho atlético. Além

disso, foi demonstrado que o exercício não influencia o VO2 máximo, o fluxo sanguíneo

coronariano em resposta ao estresse e nem a estrutura miocárdica na prole masculina de

ratazanas treinadas durante a gravidez. Portanto, parece não haver qualquer influência

negativa do exercício realizado durante a gravidez sobre os futuros filhos.



       As pílulas anticoncepcionais já foram usadas pela grande maioria das mulheres

durante um período tempo bastante considerável. Os efeitos dessas substâncias químicas

sobre o desempenho atlético, porém, ainda são desconhecidos. Contudo, um estudo indicou

que as mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais são menos ativas do que as que não

tomam.



       Outro estudo mais recente indicou que tanto a endurance muscular quanto à

produção total de força são cerca de 20% menores em mulheres que usam

anticoncepcionais orais.


                                                                                         59
Ainda se torna necessário muito estudo sobre o problema, mas algumas autoridades

médicas acham que, considerando os efeitos metabólicos já conhecidos das pílulas

anticoncepcionais, seria surpreendente não encontrar qualquer alteração no desempenho

atlético.




        3.5 - LESÕES DAS MAMAS E DOS ÓRGÃOS REPRODUTORES



        Na verdade, as lesões dos órgãos reprodutores são mais comuns nos homens do que

nas mulheres. A lesão mais comum na mulher atinge as mamas. Como exemplo, podemos

citar que golpes repetidos na mama podem resultar em contusões e hemorragias dentro do

tecido adiposo frouxo, o que pode resultar em necrose gordurosa (morte do tecido adiposo).



        A mulher, em relação ao homem, encontra uma relativa desvantagem na prática

desportiva, devido ao volume de suas mamas. Este fato é verdadeiro, sobretudo nas

mulheres que têm forte compleição ou que sentem dores devidas à congestão pré-

menstrual.



        Na Antiguidade, este desconforto era eliminado pelas amazonas de forma radical,

mediante a amputação do seio direito para poderem atirar melhor com o arco e a flecha.



        Hoje em dia, esta solução extrema pode ser evitada, o que, sem dúvida, é ótimo para

a estética das mulheres atletas desta modalidade.


                                                                                         60
Apenas as hipertrofias mamárias de puberdade, às vezes enormes, justificam

intervenções cirúrgicas e, deve-se reconhecer que a cirurgia corretiva dos seios apresenta

resultados muitas vezes notáveis.



       A prática desportiva pode beneficiar muito a estética dos seios. Os exercícios do

grande músculo peitoral promovem a formação de uma sólida base de sustentação para os

seios. O desenvolvimento da caixa torácica permite que os seios repousem sobre uma base

inclinada e não vertical, o que limita o risco de ptose mamária.



       Na mulher, os seios são glândulas ao mesmo tempo frágeis e expostas ao

traumatismo. A sensibilidade das glândulas mamárias ao choques e traumatismos repetidos

é bem conhecida, além de ser acompanhada por uma repercussão psicológica, com efeito,

nefasto sobre a qualidade dos desempenhos posteriores.



       Convém que as mulheres utilizem protetores mamários na maioria dos esportes de

contato físico. Nos esportes sem contato, é recomendável o uso de um bom sutiã protetor, a

fim de minimizar os movimentos laterais e para cima e para baixo das mamas, que ocorrem

durante os saltos e na corrida.



       Devido à sua posição e forma e ao fato de repousarem sobre uma parede rígida, as

glândulas mamárias e os seios estão expostos aos choques, às lesões traumáticas e, mais

raramente, pelas feridas.




                                                                                        61
As contusões mamárias normalmente ocorrem após um choque frontal direto que

esmaga a glândula contra o gradil costal e produz uma lesão no ponto de aplicação. Na

maioria dos casos, as lesões são cutâneas ou subcutâneas e se resumem a uma equimose

discreta e dor na região atingida. Às vezes, a glândula é atingida, causando um hematoma

difuso ou localizado, que pode necessitar de uma drenagem cirúrgica. Raramente, porém, se

observa um derrame sanguíneo localizado no espaço retromamário.



       Os traumatismos dos órgãos genitais femininos, em geral, ficam limitados a

pequenas contusões e lacerações da genitália externa. Os órgãos internos, como os ovários,

o útero e as trompas, estão bem protegidos em virtude de sua posição profunda dentro da

pelve óssea. A única lesão séria conhecida desses órgãos foi a ruptura da parede vaginal,

após uma queda numa competição de esqui aquático. Quanto a esse problema, foi

recomendado o uso de roupas de borracha pelas mulheres que praticam essa modalidade.

       Nas demais modalidades, praticamente não existe o risco de lesões sérias ou

permanentes das mamas ou dos órgãos reprodutores.



       Em geral, as mulheres atletas sofrem as mesmas lesões e em número relativamente

igual aos homens, com uma freqüência ligeiramente maior de lesões relacionadas à rótula e

às articulações nas mulheres.




                                                                                       62
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A participaçao da mulher em esportes competitivos

  • 1. FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA A PARTICIPAÇÃO DA MULHER EM ESPORTES COMPETITIVOS ISMAR KATH Monografia apresentada à Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, para obtenção do título de especialista, área de concentração – Educação Física na Educação Básica, sob orientação da professora Helena
  • 3. Agradecimentos Agradeço aos meus pais, que com carinho, dedicação e amor me conduziram durante toda minha vida, ensinando, educando e mostrando caminhos, dando todo o apoio e o incentivo nos momentos de fraqueza Aos meus amigos que, na rotina do cotidiano que nos leva à acomodação e ao desânimo, estiveram ao nosso lado dando aquela palavra de carinho e incentivo, À Walkiria, companheira de todos os momentos, que com companheirismo, amor, paciência e dedicação, esteve sempre comigo. A todos os professores pela grande contribuição dada ao longo de todo o curso e, em especial, na execução deste trabalho. A todos o meu muito obrigado! 3
  • 4. Todo mérito deste trabalho dedico especialmente aos meus pais, Hugo e Herta, porque são a fonte de toda a força e coragem para enfrentar todas as lutas. Para Walkiria, que, em todos os momentos, esteve me dando o apoio e o carinho necessários para que eu não desistisse de meus objetivos. Para a equipe de futsal feminino do Colégio Estadual Prof. Jaelson Biácio (Piquirivaí – Campo Mourão), formada em 1997, que inspirou e motivou o início deste estudo. 4
  • 5. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................... 5 CAPÍTULO I....................................................................................................................... 6 1 - UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE 6 – O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional................... 15 1.1 – O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil........................................... 24 CAPÍTULO II..................................................................................................................... 31 2 - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER....................... 31 2.1 – O Esqueleto................................................................................................................ 31 2.2 – Sistema vascular e respiratório................................................................................... 34 2.3 – Sistema muscular....................................................................................................... 37 CAPÍTULO III.................................................................................................................... 41 3 - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO ORGANISMO FEMININO......................................................................................................................... 41 3.1 – Menstruação............................................................................................................... 42 3.2 - Exercícios e distúrbios menstruais.............................................................................. 50 3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação.................................................... 55 3.4 – Gravidez e parto......................................................................................................... 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 63 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................. 65 5
  • 6. INTRODUÇÃO Os registros que se referem à participação da mulher no esporte são recentes e estão relacionados à sua ascensão na sociedade moderna. As competições esportivas eram privilégio dos homens, já que se considerava que a prática do esporte por mulheres as tornavam “masculinizadas” e viris, além de supostamente provocarem outros prejuízos ao organismo feminino, inclusive a sua esterilização. Até mesmo a prática da Educação Física só foi aceita após uma série de discussões. A participação da mulher no esporte se iniciou de forma meramente recreativa. Em alguns lugares promoveram-se algumas competições regionais de determinadas modalidades praticadas por mulheres, e com o passar do tempo surgiram outros eventos esportivos para mulheres de caráter regional, continental e mundial, sendo que a primeira participação da mulher em uma Olimpíada aconteceu em 1928, em Amsterdã. Existem algumas particularidades que devem ser levadas em conta quando falamos da participação feminina em atividades físicas e esportivas: • menstruação • gravidez • diferenças orgânicas (esqueleto, sistema muscular, sangue, etc.) 6
  • 7. fatores sócio-culturais Essas diferenças e particularidades não permitem, sem um estudo mais aprofundado, afirmar que determinado esporte ou atividade física sejam contra-indicadas para o sexo feminino. O aumento significativo da prática de esportes de alto nível pelas mulheres é um fato, sendo que algumas modalidades, anteriormente praticadas quase que exclusivamente pelo sexo masculino, têm sido cada vez mais difundidas e praticadas também por atletas do sexo feminino, sendo que algumas destas modalidades passam a apresentar características diferenciadas e próprias (tamanho do campo de jogo, peso da bola, etc.). Temos observado, em nosso trabalho como profissional da Educação Física, que algumas equipes femininas, incluindo principalmente equipes de nível escolar, superam em qualidade técnica muitas equipes masculinas, sendo inferiorizadas, em algumas vezes, apenas na questão física. Através de um trabalho de pesquisa bibliográfica, procuraremos questionar e analisar alguns aspectos que ainda são considerados “tabus”, em relação à participação das mulheres nas práticas desportivas, seja por aspectos físicos, psicológicos ou sociais, e verificar até que ponto conceitos que discriminavam o sexo feminino no cenário esportivo podem ser considerados procedentes ou não. 7
  • 8. I – UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA PRESENÇA DA MULHER NA SOCIEDADE Desde o tempo dos hominídeos, tanto a posição da mulher quanto a do homem era bem definida: ela encarregada da coleta, e ele da caça e de serviços mais pesados. Essa tradição tem se mantido através dos tempos. A família romana tinha como prioridade o sexo masculino, sendo que as meninas e os que apresentavam algum tipo deficiência não tinham o mesmo valor. Conquistar terras era lei, e, por isso, o padrão de corpo da sociedade, principalmente dos soldados, era representado pelo homem com disciplina, dotado de um físico atlético e forte, com coragem e rapidez para enfrentar o inimigo, o que, com certeza, descartava a necessidade do “corpo mulher” para este objetivo. Podemos citar um fato interessante na cultura romana. As filhas, ao nascerem, recebiam o nome feminino do pai, ou seja, se o nome do pai fosse Júlio, a filha seria chamada de Júlia. Caso houvesse mais de uma filha, o nome era mantido, acrescido de um complemento (mais "nova", mais "velha" ou então "primeira", "segunda"). Esta falta de identidade das mulheres ocorria porque eram consideradas partes anônimas e sem importância para a família. 8
  • 9. O “corpo mulher” era associado à reprodução, tendo como destino o casamento, sendo considerado aos 14 anos em "idade núbil". A virgindade era altamente considerada, tanto que maridos e pais poderiam matar filhas e mulheres não castas. O casamento era um "dever cívico" que o homem deveria cumprir, sendo a mulher um ser periférico tão importante quanto qualquer outro objeto da casa, pois não contribuía em nada, Mais tarde, alguns passaram a vê-la como companheira, desde que seus interesses fossem mantidos. Por outro lado, as mulheres eram consideradas perigosas e alvos de todas as falhas humanas. Temia-se que os homens, tomados por uma paixão, poderiam ficar dependentes da mulher amada, mergulhando em dolorosa escravidão e "perderiam a cabeça". “Um homem honesto só teria oportunidade de vislumbrar a nudez da amada se a lua passasse na hora certa pela janela aberta”. (Veyne, 1991, p. 197) Claramente se percebe, na Antiguidade, que o “corpo mulher” representava pavor, pelos "poderes" que os próprios homens desconheciam. No início da Idade Média, ocorre a mudança da cidade para o campo. O contato entre as pessoas, bem como a vida, deixa de ocorrer nas ruas e construções urbanas, para se estabelecer nas casas e cabanas construídas no campo. O feudalismo se estrutura, caracterizando um sistema de pessoas com autoridade fracionada, onde cada um dos grupos 9
  • 10. tem um dono, o senhor feudal, proprietário de um espaço de terra, que detém o poder de comandar e punir aqueles que trabalham ao seu redor, os vassalos. O Cristianismo consolida a sua influência na época, principalmente no início do reinado de Carlos Magno, que, não sendo simpático às mulheres, as proibiu de ajudar na missa e educar meninos, com o pretexto da fragilidade do sexo e a instabilidade da mente. Após a sua morte, as mulheres voltaram a ter prestígio no espaço religioso. As mulheres e os filhos deveriam prestar obediência e respeito ao pai. Embora, anos mais tarde, a mulher pudesse intervir junto ao marido, isto ocorria de forma restrita e sem o conhecimento da sociedade, porque, como corpo frágil, deveria ter responsabilidades menores. A mulher só era considerada esposa, devido à ênfase da mulher como corpo reprodutor, sendo considerada uma peça uterina de pouco valor, resguardado de pudores e restrições, do nascimento até à morte. O ódio direcionado à mulher pode ser sentido nas torturas corporais dos inquisidores da época, nas quais as mulheres que eram acusadas de bruxaria eram submetidas. Eram-lhes depilados todos os pelos; o corpo era perfurado por agulhas em busca de zonas insensíveis, consideradas a marca da bruxa; mergulhavam-nas nuas com os pés amarrados com um peso e, caso flutuassem, eram inocentadas; ficavam nuas expostas à execração pública ou ainda eram postas à prova pelo ferro em brasa. A imagem da mulher foi dualizada. Para contrapor à feiticeira lasciva, a Igreja Católica impôs a figura de Maria, que tenta resgatar a dignidade e a pureza da mulher: a 10
  • 11. mãe que gera ao mesmo tempo em que permanece virgem. Restringiu-se a mulher à vida dócil e doméstica do seu lar, sob a proteção de seu marido e senhor. Criando estereótipos que ora tendem para o mal (a bruxa), ora para o bem (a virgem), a Igreja nada mais fez do que tentar desconstruir e classificar a figura ambígua e que tanto teme: a mulher. Portanto, justamente aquelas mulheres que tinham vida pública e eram livres sexualmente foram torturadas e obrigadas a se declararem bruxas, para morrerem nas fogueiras. O auge desta discriminação se deu com a reforma gregoriana (Papa Gregório VII), que no final do séc. XI enclausurou a mulher, diminuindo seu acesso aos espaços públicos e fortalecendo o celibato aos padres. O prazer e as mulheres eram considerados pela Igreja culpáveis, porque afastavam o homem de Deus; eram, portanto, o pior dos pecados, pior do que a busca desenfreada do poder e da riqueza. “A única mulher considerada era a Virgem Maria, cultuada como modelo ideal de mulher, enaltecendo princípios imaculados, sendo que as outras mulheres eram vistas como descendentes de Eva, símbolo de pecado e tentação, e... quanto mais a Virgem era exaltada, mais as mulheres comuns eram consideradas longe da mulher encarnada por ela”. (Muraro, 1992, p. 106) 11
  • 12. Mistificava-se Eva como o símbolo do mal, pela sua fraqueza e leviandade. Em contrapartida, Maria é a representação da imagem materna que concebeu sem pecado, ou seja, sem sexo, sem desejo e sem sensualidade. A perseguição à mulher se espalhou ao longo dos anos na sociedade centralizada pela dominação da Igreja e do sexo masculino. Aquelas que exerciam alguma profissão eram caçadas, sendo o saber feminino sufocado pelo saber masculino. Neste quadro, o corpo da mulher de alta estirpe era colocado sob vigília desde a infância, para que não fosse um estímulo para o pecado dos homens, estando preparado para casar. O corpo da mulher deveria ser imóvel para manter o pudor, vestindo-se e penteando-se às escondidas. Os corpos mulheres menos poderosos deveriam ocupar-se da oração ou do trabalho em tecido. É quase que desnecessário citar que as mulheres eram barradas nas universidades, onde os rapazes eram educados. Estes rapazes eram incentivados, nesta época, a proezas amorosas, enquanto as mulheres sofriam as restrições da lei. O poder patriarcal sobre a feminilidade era reforçado, pelo perigo que o corpo mulher representava. Porém, na ausência do marido, as mulheres geriam as propriedades, exercendo um papel econômico. 12
  • 13. As mulheres nos primeiros tempos da Idade Média representavam importantes reservas de força de trabalho, manipuladas de acordo com os desejos e as necessidades dos homens. O corpo feminino era um tabu, recoberto de vestimentas longas e protegido para se manter casto, submetido à sexualidade masculina. O corpo nu era reservado à clausura e à solidão, sendo permitido em momentos de privacidade, recebendo um tratamento especial à base de ervas, principalmente para evitar a transpiração. O corpo feminino tinha o "poder fogoso" de destruição, representado o perigo da carne. Nas cerimônias pagãs, porém, o corpo nu feminino era permitido como forma de provocar a fertilidade dos campos e da chuva. A sexualidade feminina, explicitada pelo orgasmo, era reprimida, porque esta manifestação era própria das prostitutas ou das ligações com o demônio, reforçando que o papel da mulher na sociedade deveria se associar ao de "Maria" e não ao de "Eva"... Como pode se comprovar, valorizava-se o belo do corpo, mas tal beleza deveria se manter escondida, sendo exibida somente por maníacos. O corpo era uma fonte de signos desejável, mas ao mesmo tempo representava uma ameaçadora condenação. Após a Inquisição, os papéis sociais de homens e mulheres foram normatizados culturalmente, e cada qual deveria desenvolver as características que lhes eram atribuídas. A mulher se caracterizava pela sexualidade desmedida, pela passividade e pela fraqueza de 13
  • 14. intelecto e de espírito. O homem pela força para dominar e pelo papel de agente ativo no processo do saber e, por isso mesmo, o único capaz de criar. Contrapondo-se aos valores vigentes, uma mulher ousou desafiar os homens: Joana D'Arc, a qual comandava as tropas guerreiras e vestia-se com roupas masculinas, para pavor do poder masculino. Este dado é relevante porque ela foi condenada à fogueira, pois os homens não admitiam que uma mulher pudesse competir com eles, desestabilizando suas regras de conduta. Ainda neste período, o espaço das festas foi valorizado, com a exibição de ricos trajes e maquiagem por parte dos mais nobres. Ocorreu uma excessiva valorização do vestuário como forma de invólucro social. Os trajes aqueciam, ornamentavam, protegiam e reforçavam a diferença entre os sexos, além de marcar etapas da vida, contribuindo na construção da personalidade. No final da Idade Média, as mulheres ousaram mais em relação às roupas, valorizando a silhueta através da cintura marcada, do decote do ombro, inspirando sedução. Percebe-se, portanto, um declínio na rigidez dos limites que eram impostos ao corpo mulher na época. Dessa forma, ficam evidenciadas as tatuagens no corpo mulher, impressas ao longo do tempo pelos valores de uma cultura masculina, nas concepções da ética, da estética, do higiênico e da educação. Ora, privilegiam-se Evas, ora cultiva-se a permanência de Marias. O “corpo mulher” numa visão dicotômica, maniqueísta. Hoje, importa superar esta dualidade. 14
  • 15. Na Europa do séc. XIX e do início do presente século, a Educação Física recebeu várias elaborações pedagógicas, às quais foram acrescidas três temáticas: uma educação física para todas as classes sociais, uma educação física infantil e uma educação física feminina. A Educação Física na "Era do Capital" não foi sistematizada apenas para atender todas as classes, no sentido de homens adultos, mas incluía o atendimento às crianças e às mulheres. Não foi à toa que esses dois grupos foram incorporados na prática da atividade física principalmente a partir da segunda metade do séc. XIX, nos países europeus, especialmente na Inglaterra, na Alemanha, na França e na Bélgica. As mulheres e as crianças foram objetos de preocupação social, não no aspecto político, pois elas não votavam na chamada "sociedade democrática", mas pela importância desses dois grupos na produção material. Como exemplo, podemos citar que, em 1790, a produção britânica de carvão, devido, entre outros fatores, à introdução da mão-de-obra de mulheres e crianças, ou seja, a exploração do trabalho de mulheres e crianças fazia parte da estratégia para a diminuição dos gastos, já que pagava para as crianças a metade do salário de um adulto, e aumento dos lucros. A sobrevivência naquelas dias levava toda a família a estar nas fábricas, principalmente na têxtil, exigindo o sacrifício dos filhos ao deus chamado Capital. Nas fábricas existiam os postos específicos para cada membro da família (crianças, moças, mulheres e homens adultos).. 15
  • 16. 1.1 - O avanço da participação da mulher no cenário esportivo internacional A participação oficial de mulher dentro do esporte é relativamente recente e está relacionada à sua emancipação na sociedade moderna, no início do século XX. A dança era a única atividade física permitida para as mulheres, sendo que estas eram excluídas totalmente dos jogos olímpicos, até mesmo como simples espectadoras. Caso esta regra fosse violada, a mulher se expunha à própria morte. Durante a Idade Média e a Renascença algumas mulheres caçavam, sendo que todas pertenciam obrigatoriamente à nobreza. As disputas desportivas eram consideradas masculinizantes e prejudiciais ao frágil organismo feminino, sendo propagado até mesmo o conceito de que determinadas práticas físicas poderiam levar à esterilização. A própria Educação Física para a mulher só foi aceita após uma série de discussões, sendo que a participação da mulher na prática desportiva só aconteceria algum tempo mais tarde. Culturalmente, na maioria das sociedades organizadas, as meninas, desde a sua infância, não são estimuladas, e muitas vezes são até mesmo impedidas, de participar de brincadeiras consideradas mais agressivas e atléticas, largamente praticadas pelos meninos. Isso faz com que elas percam grandes oportunidades de conhecer e desenvolver suas potencialidades. 16
  • 17. “Os meninos quase sempre brincam com bolas, ou com brinquedos de guerra, que oferecem excelentes possibilidades de integração com as atividades físicas, enquanto que as meninas se entretêm com bonecas e brinquedos ‘passivos’. Conseqüentemente, os meninos são mais ativos e conseguem liderança através da força física, enquanto as meninas se dedicam às atividades manipulativas e recebem reconhecimento pela atividade verbal". (MASSUCAT e HATA, 1989, p. 20). Apesar do grande impulso dado para a estruturação do esporte moderno em 1932, por Thomas Arnold, diretor do Colégio de Rúgbi, que introduziu um sistema de educação que permitia maior participação e iniciativa por parte dos alunos, as garotas continuaram sendo excluídas deste contexto. Apenas os cursos de danças e algumas lições de ginástica lhes eram permitidas, durante a sua formação. Em 1913, George Hébert estabelecia uma seção feminina no seu “Colégio de Atletas” em Reims, para a formação de monitoras de educação física. Alguns dos primeiros registros de participação feminina em atividades esportivas mostram claramente uma finalidade apenas recreativa. Aos poucos surgiram competições de caráter local e, posteriormente, campeonatos regionais, continentais e mundiais. Certas modalidades esportivas são praticadas pelo sexo feminino há muito tempo. O jogo de bochas é praticado desde o século XIII, sendo que a mulher nele se iniciou muito cedo. 17
  • 18. O cricket é praticado por mulheres desde o século passado e o arco e flecha têm registros de participação feminina datados de 1770, na Inglaterra. Nesta modalidade, as mulheres participaram dos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis, sendo extinta esta disputa após 1920. No tênis, a mulher participa de campeonatos oficiais desde o século passado. Maud Watson foi a primeira vencedora de um campeonato de simples feminino em Wimbledon, em 1884. Helen Wills Moody, com oito conquistas, é a recordista de vitórias, sendo quatro delas consecutivas. Entre as brasileiras, Maria Ester Bueno se destaca como a única latino- americana campeã em Wimbledon, tendo conquistado três campeonatos de simples (1959, 1960, 1964) e cinco vezes o campeonato de duplas femininas. Em 1900, em Paris, as mulheres participaram do torneio de tênis dos Jogos Olímpicos, nas modalidades de simples feminino e de duplas mistas. O uniforme era composto de uma saia branca à altura do tornozelo. O golfe, com origem na Escócia, no século XV, teve, oficialmente, a Sra. M. Scott como a primeira vencedora do campeonato inglês desta modalidade, em 1893. A participação feminina no golfe é fato que remonta a um passado muito distante. Há registros de participação feminina na modalidade de hóquei sobre a grama, na Europa, desde o século passado, com referências oficiais de disputas entre equipes femininas da Irlanda desde 1896, e de campeonatos contra equipes inglesas desde 1898. 18
  • 19. Em 1899, as senhoritas Lucas e Graeme venceram o primeiro campeonato inglês de duplas de badminton (esporte semelhante ao tênis). Na natação, há registros oficiais da participação feminina em campeonatos organizados desde o século passado. Como exemplo, Srta. Hilda Thorn venceu a prova das 100 jardas do campeonato nacional feminino da Inglaterra em 1901, com o tempo de 1' 30" 4/10. Na esgrima, a participação feminina parece ter se iniciado na Itália, depois na França e se espalhado posteriormente por toda a Europa. No atletismo, a participação parece ter acontecido mais tardiamente, na Inglaterra, durante a Primeira Grande Guerra, por ocasião de alguns espetáculos beneficentes. No remo e no caiaque as referências que temos são ainda mais recentes, sendo que a inclusão destas modalidades nos Jogos Olímpicos ocorreu depois de passado muito tempo. O esporte feminino tomou impulso e passou a ser organizado no setor internacional, com a criação da União Esportiva Feminina Internacional, em Paris, em 1922. Passou a se organizar, a partir de então, diversos campeonatos mundiais nas modalidades esportivas para o sexo feminino. 19
  • 20. Historicamente, a participação feminina nos Jogos Olímpicos enfrentou sérias restrições, inclusive pelo próprio idealizador dos Jogos da Era Moderna: Pierri de Fredi, o Barão de Coubertin. "O Barão (Coubertin) argumentava com o axioma de Proust, declarando: ou se fecham, ou se abrem todas as portas. E como o acesso a todas as portas não era permitido às mulheres, por que permitir-lhes a entrada nalgumas, proibindo-as nas restantes? ...Ele nem sequer admitia a realização de uma Olimpíada feminina, que seria qualquer coisa de impraticável, desinteressante, inestética e incorreta." (Esteves apud Romero, 1990, p. 276) O Barão de Coubertin chegou a deixar a presidência do Comitê Olímpico Internacional, em 1928, em protesto pela autorização da participação feminina. Entretanto, pouco a pouco, as mulheres impuseram sua presença. Mesmo sendo exclusivamente masculinos, os primeiros Jogos Modernos (Atenas, 1896) tiveram uma participação feminina. A Rainha Olga, da Grécia participou simbolicamente, abrindo o concurso de tiro, disparando com um fuzil nacarado. Em 1900, as mulheres participaram da competição de tênis, em Paris. Houve um torneio simples feminino e um de duplas mistas. O uniforme era composto de uma saia branca à altura do tornozelo. Nos Jogos seguintes (Saint Louis, 1904), as mulheres participaram do arco e flecha. 20
  • 21. Porém, o grande marco do início da projeção da participação feminino no cenário esportivo internacional ocorreu em 1928, em Amsterdã, quando pela primeira vez oficializou-se a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos, nas provas de atletismo. Nos cinqüenta anos seguintes a mulher integrou-se cada vez mais no mundo dos esportes competitivos, participando oficialmente de um grande número de modalidades. É facilmente observável a contínua melhoria dos resultados esportivos obtidos pelas mulheres nos últimos anos, como por exemplo, nas provas de atletismo e natação, como podemos observados no quadro abaixo, onde são comparados resultados obtidos nos Jogos Olímpicos de Amsterdã (1928), de Munique (1972) e Montreal (1976). Quadro nº 1 - Resultados de algumas provas do atletismo, disputadas por mulheres em Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976) Provas Amsterdã (1928) Munique (1972) Montreal (1976) 100 metros 12"2 11"1 11"08 800 metros 2'16"8 1'58"6 1'54"94 4x100 metros 48"4 42"8 42"55 Salto em altura 1,59 m 1,92 m 1,93 m Lançamento do disco 39,62 m 66,62 m 69,00 m Fonte: PINI, 1978, p. 206. Quadro nº 2 - Resultados de algumas provas da natação, disputadas por mulheres em Amsterdã (1928), Munique (1972) e Montreal (1976) Provas Amsterdã (1928) Munique (1972) Montreal (1976) 21
  • 22. 100 m nado livre 1'11''00 58"6 55"65 200 m nado peito 3'12"6 2'41"7 2'13"43 400 m nado livre 5"42"8 4'19"00 4'09"89 4x100 m nado livre 4'47"6 3'55"2 3'44"82 Fonte: PINI, 1978, p. 206. Atualmente, as mulheres participam de numerosas competições, dentro dos Jogos Olímpicos, mas, curiosamente, permanecem excluídas de esportes dos quais poderiam participar sem risco e brilhar sem perigo para a sua estética, como, por exemplo, os esportes à vela. É que, na verdade, não se fez um estudo científico a respeito das conseqüências a longo prazo da prática de algumas modalidades esportivas em função das capacidades orgânicas femininas. Em 1996, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, as mulheres iniciam sua participação oficial nas modalidades de futebol e softbol (adaptação do beisebol), até então modalidades exclusivamente masculinas. Homens e mulheres simultaneamente iniciaram a disputa do vôlei de praia em Jogos Olímpicos. No atletismo, a prova dos 3.000 metros para mulheres foi substituída por uma de 5.000 metros, além da inclusão do salto triplo feminino. 22
  • 23. Quadro nº 3 - PARTICIPAÇÃO FEMININA NOS JOGOS OLÍMPICOS CIDADE ANO MASC. FEM. TOTAL % MASC. % FEM. Atenas 1896 311 0 311 100 0 Paris 1900 1060 16 1076 98,5 1,5 St. Louis 1904 619 6 625 99,0 1,0 Londres 1908 1999 36 2035 98,2 1,8 Estocolmo 1912 2490 57 2547 97,8 2,2 Antuérpia 1920 2543 64 2607 97,5 2,5 Paris 1924 2820 136 2956 95,4 4,6 Amsterdã 1928 2724 290 3014 90,4 9,6 Los Angeles 1932 1281 127 1408 91,0 9,0 Berlim 1936 3738 328 4066 91,9 8,1 Londres 1948 3714 385 4099 90,6 9,4 Helsinque 1952 4407 518 4925 89,5 10,5 Melbourne 1956 2958 384 3342 88,5 11,5 Roma 1960 4738 537 5275 89,8 10,2 Tóquio 1964 4457 683 5140 86,7 13,3 México 1968 4750 781 5531 85,9 14,1 Munique 1972 5848 1299 7147 81,8 18,2 Montreal 1976 4915 1274 6189 79,4 20,6 Moscou 1980 4265 1088 5353 79,7 20,3 Los Angeles 1984 5458 1620 7078 77,1 22,9 Seul 1988 6983 2438 9421 74,1 25,9 Barcelona 1992 7108 2851 9959 71,4 28,6 Fonte: Telecurso 2000 – Educação para o Esporte (p. 88) 23
  • 24. Gráfico nº 1 - Comparação entre a participação masculina e feminina na História dos Jogos Olímpicos 120 100 1896 1900 1904 80 1908 1912 1920 1924 1928 1932 60 1948 1952 1956 1960 1964 1968 40 1976 1980 1984 1992 20 0 % MASC. % FEM. Fonte: Quadro nº 3 24
  • 25. Através da análise do quadro e do gráfico acima, podemos concluir que a participação feminina dentro dos Jogos Olímpicos vem crescendo a cada edição, sendo que, em 1928, houve um aumento considerável, transformando os Jogos Olímpicos de Amsterdã como um marco da afirmação do avanço da participação feminina no cenário esportivo mundial. Nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, a participação feminina chegou a 28,6%, índice jamais alcançado anteriormente. Porém, ainda podemos considerar que esta porcentagem tende a crescer ainda mais, estabelecendo parâmetros de igualdade de participação para os dois sexos nas próximas edições. 1.2 - O avanço da participação esportiva da mulher no Brasil É necessário, para uma melhor compreensão da participação feminina na história esportiva brasileira, uma análise simultânea entre os conceitos de esporte e educação física nas diferentes épocas da história do nosso país. A Educação Física no Brasil e, conseqüentemente, a prática desportiva, esteve diretamente associada à vida militar, principal reduto de recursos humanos até a criação das escolas de Educação Física, espaço vedado às mulheres até há bem pouco tempo. É visível a presença do preconceito sobre a participação feminina nos esportes dentro da literatura existente no Brasil, com argumentos baseados na suposta 25
  • 26. "masculinização" da mulher esportista e na permanência de posturas declaradamente discriminatórias. Podemos observar a existência de uma normatização intensa de uma estética feminina, como, por exemplo, nos textos de Pini, que distingue entre o poder e o dever de as mulheres participarem de qualquer modalidade esportiva. "Em nosso ver, a mulher não deve participar de modalidades esportivas como o rúgbi, o futebol, as lutas, além de outras, por exigirem condições especiais de treinamento e pelo enorme 'desgaste físico' que acarretam, além da violência dos contatos físicos que podem surgir no ardor das disputas. Em compensação, existem outras modalidades esportivas que devem merecer sua preferência, pois melhor se coadunam com seu organismo e sua maneira de ser." (Pini, 1978, p. 209) Íris de Carvalho pleiteia, em depoimento prestado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Mulher, instalada pelo Congresso Nacional em 1976, a paridade dos prêmios esportivos masculinos e femininos no mesmo tipo de prova e a eliminação do decreto-lei 3.199 que proibia às mulheres algumas práticas esportivas, como o futebol, que hoje é intensamente praticada entre o sexo feminino. Em um artigo datado de 1970, o professor Carlos Catalano Calleja defendia que as mulheres não deviam participar de competições de judô, principalmente infantis e mistas, porque as meninas venciam os garotos e "perder de menina é um tanto vexatório e pode ocasionar uma problemática que iria afetar a personalidade em formação do menino". Tal 26
  • 27. professor defendia a prática do judô para o sexo feminino sob a forma utilitária de defesa pessoal a partir da adolescência, indo frontalmente contra a prática do judô-competição por mulheres. Tal artigo destaca a máxima de que "homens sempre devem ganhar de mulheres", que deveria causar impacto não só na vida das meninas como também dos meninos. Durante um bom tempo no Império, a Educação Física era vedada às meninas. O primeiro livro editado no Brasil sobre o assunto deixa claro seu posicionamento: "Tratado de educação física-moral dos meninos" (1828). Vejamos o regulamento expedido pelo presidente da província do Amazonas, em 1852, que não deixa dúvidas quanto ao impedimento da participação das meninas: [para os meninos] a instrução compreenderá a educação física, moral e intelectual (...); e para o sexo feminino a mesma instrução intelectual, mas modificada, e as prendas próprias ao sexo (...). As meninas não farão exercícios ginásticos. (Romero, 1990, p. 279) A grande proposta formalizada de educação física no geral, e específica para as mulheres, aparece no parecer de Rui Barbosa ao projeto de 1882 "Reforma do ensino primário e várias instituições complementares da instituição pública". O parecer recomenda a instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola primária e tendo em vista, em relação à mulher, a harmonia das formas femininas e as exigências da maternidade futura. 27
  • 28. O parecer de Rui Barbosa parece muito próximo ao conceito do dever-ser esportivo de Pini. Na época republicana, a primeira referência de destaque parece ser a Reforma Fernando de Azevedo (1928) que traz em seu texto a afirmação de que a Educação Física aplicada à mulher seria conformada a seu sexo e às suas condições peculiares: "Concordam [os educadores] que para a regeneração do povo é preciso restituir à mulher a saúde, fortemente comprometida, a estabilidade e o equilíbrio. (...) A educação física da mulher deve ser, portanto, integral, higiênica e plástica e, abrangendo com os trabalhos manuais, os jogos infantis, a ginástica educativa e os esportes, cingir-se exclusivamente aos jogos e esportes menos violentos e de todo incompatíveis com a delicadeza do organismo das mães" (Azevedo apud Romero, 1990, p. 281). Nessa época, é necessário salientar, que existe uma diferença entre os conceitos de mulheres que executavam exercícios ginásticos e as que praticavam esportes. O texto de Fernando Azevedo afirmava que a atividade física para a mulher-mãe e dona de casa era necessária, mas "no esporte, como um campo de predominância masculina com objetivos de vitória, rendimento e sucesso social é que as dificuldades aparecem". Na década de 20 encontramos registros referentes às primeiras exibições esportivas femininas públicas, todas relacionadas à natação, que tentavam romper as barreiras antepostas à mulher no desporto, ao se apresentarem em público para nadar, ainda que envoltas com costumes de banho abundantes em babados e dobras. 28
  • 29. Como já citamos, Maria Lenk é a primeira brasileira a participar de Jogos Olímpicos (Los Angeles, 1932). A composição das delegações brasileiras que participariam dos Jogos Olímpicos mostra uma lenta e irregular progressão da presença feminina, comprovando a dificuldade de penetração das mulheres num reduto considerado masculino. Outro indicador da dificuldade enfrentada pelas mulheres dentro do cenário esportivo no Brasil é apresentada nas datas das primeiras competições masculinas e femininas em campeonatos brasileiros. Vejamos alguns casos: • Natação masculina - 1898; natação feminina - 1935, • Atletismo e basquetebol masculinos - 1925; atletismo e basquetebol femininos - 1940, • Tênis masculino - 1923; tênis feminino - 1947. Podemos citar ainda o futebol, que somente nos últimos anos tem proporcionado alguns poucos campeonatos para as mulheres brasileiras, que, em pouco tempo, já mostram bons resultados em competições internacionais, como por exemplo, a terceira colocação na Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, em 1999. O Estado Novo foi responsável pela implantação de medidas normatizadoras da prática esportiva feminina. O decreto-lei 3.199, de 1941, proíbe às mulheres a prática de esportes "incompatíveis com as condições de sua natureza". Tal decreto foi regulamentado em 1965 por uma deliberação do Conselho Nacional de Desportos que proibia às mulheres 29
  • 30. a prática de lutas de qualquer natureza, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático, pólo, rúgbi, halterofilismo e beisebol. Nos depoimentos prestados à já citada CPI da Mulher em 1976, Iris de Carvalho e Maria Lenk recomendam a eliminação dessa deliberação: "(...) É nobre que os legisladores e os dirigentes se preocupem com a mulher e queiram protegê-la. Tais cuidados não deixam de ser uma discriminação contra o homem, que fica entregue à própria sorte. Certos esportes por ele livremente praticados podem ocasionar-lhe lesões irreversíveis. No entanto... não seria mais certo conferir à mulher o direito de escolher, por livre manifestação de vontade?" (Carvalho apud Romero, 1990, p. 284-285) Existe um relato terrível sobre a participação de mulheres no campeonato sul- americano de judô em 1979, na Argentina. Como a deliberação brasileira já citada proibia a participação de mulheres em qualquer tipo de luta, Joaquim Mamed, diretor da Confederação Brasileira de Judô, registrou as desportistas com nomes masculinos. Após a vitória da equipe, a trama foi descoberta e, atendendo a uma intimação do Conselho Nacional de desportos, Mamed se apresentou com uma equipe trajando quimono e com as medalhas conquistadas no peito. Desta forma, após quatorze anos de vigência, a deliberação 7/65 foi revogada. Hoje em dia, apesar de barreiras ainda não vencidas totalmente, o esporte feminino brasileiro se encontra em estágio bem avançado, com destaque internacional para diversas modalidades, como o voleibol, o basquetebol e o futebol. Outras modalidades mostram 30
  • 31. claro avanço técnico e em número de praticantes, como a ginástica artística, o judô e o handebol. Outra grande barreira ainda enfrentada pelas mulheres quanto à sua participação em algumas modalidades esportivas são alguns conceitos relacionados às diferenças entre as capacidades orgânicas do homem e da mulher. Considerando que algumas destas diferenças são reais e comprovadas, determinados esportes carecem de adaptações para que possam ser praticadas pelo sexo feminino. A análise destes aspectos orgânicos se constitui como ponto central do prosseguimento deste trabalho de pesquisa. 31
  • 32. II - DIFERENÇAS ORGÂNICAS ENTRE O HOMEM E A MULHER Este capítulo analisará as características que tornam os corpos do homem e da mulher diferentes, quanto aos aspectos significativos para a prática da atividade física e dos desportos em geral. A mulher do século XX deseja ser igual ao homem. Além das diferenças anatômicas evidentes relativas aos órgãos genitais e aos caracteres sexuais secundários, o homem e a mulher apresentam importantes diferenças morfológicas. 2.1. - O Esqueleto Com a mesma altura em relação ao homem, a bacia da mulher é mais larga, o talhe e os ombros são mais estreitos, os fêmures mais convergentes e a lordose lombar mais acentuada. Com o mesmo peso em relação ao homem, a mulher apresenta um esqueleto mais frágil, um tecido adiposo subcutâneo mais abundante e, sobretudo, um tecido muscular menos desenvolvido. O esqueleto da mulher apresenta características de forma e de desenvolvimento claramente distintas em relação ao esqueleto do homem, com ossos menores, mais leves e com tuberosidades, apófises e cristas mais delicadas e menos salientes. As articulações e o 32
  • 33. aparelho capsuligamentar são mais delicados e mais adaptáveis aos esforços de natureza leve. A conformação do tórax é diferente nos dois sexos. O tórax da mulher é menor e mais estreito no seu conjunto, com ombros menores e a abertura inferior mais ampla em relação ao homem. A pelve da mulher, condicionada à função da procriação, faz exceção a todos os outros ossos do esqueleto, sendo mais larga e mais ampla que a do homem. Apresenta uma morfologia particular, que lhe permite desenvolver equilíbrios estáticos e dinâmicos diferentes dos do homem, tanto nas condições normais quanto na correspondente à gestação, que lhe é específica. Nesta condição, o aparelho capsuligamentar das articulações pélvicas torna-se mais flácido, permitindo modificações das conexões dos ossos pélvicas durante a mecânica do parto. Além do mais, os ilíacos da mulher apresentam acetábulos voltados mais em direção antero-lateral em relação aos do homem, condicionando articulações coxofemorais diferentes das do homem. Nessas condições, há maior convergência dos fêmures para o plano mediano que dão aos membros inferiores femininos um aspecto que lembra o da letra "X". A maior largura da bacia feminina e a maior convergência dos fêmures para o plano mediano imprimem à marcha da mulher uma movimentação balanceada lateralmente, para a direita e para a esquerda, diferente da do homem, que é mais firme e retilínea. O tronco da mulher, na maioria dos casos, é mais comprido do que o do homem, o contrário 33
  • 34. acontecendo com os membros inferiores. Por essa razão, a mulher geralmente tem o passo menor do que o do homem. A coluna vertebral, por sua vez, apresenta a curvatura antero-posterior da região lombossacra (lordose) mais acentuada da que a do homem, o que se relaciona também à função da procriação e proporciona uma estática diferente ao organismo feminino em relação ao homem. No homem, pela menor largura da bacia e pela menor convergência dos fêmures em relação ao plano mediano (na maioria das vezes os membros inferiores masculinos obedecem a um ligeiro valgismo, lembrando o aspecto de uma letra "O" alongada no sentido vertical), os membros inferiores se tornam mais adaptáveis às longas caminhadas, contribuindo para imprimir maior rapidez às corridas e maior eficiência motora aos saltos e arremessos. Em relação a diferenças entre os aspectos físicos relacionados ao esqueleto, o homem médio é aproximadamente 14 a 15 centímetros mais alto que a mulher. O homem também é mais pesado cerca de 20 a 25 por cento, apesar de as mulheres serem proporcionalmente portadoras de mais tecido adiposo. Por causa de sua maior altura, ombros mais largos e quadris mais estreitos, o centro de gravidade do homem é diferente do da mulher. Isto pode facilitar certos tipos de padrões de movimento, como o salto. Em relação à altura, a circunferência da caixa torácica da mulher é menor do que a do homem e sua cavidade abdominal é mais larga e maior. 34
  • 35. Em geral, a calcificação de certas partes do esqueleto começa mais cedo na menina do que no menino. A junta do joelho feminino é mais estável do que a do masculino; o ombro da menina é menos largo; o pélvis ósseo do menino é mais profundo e mais estreito. Na estrutura facial, o homem é propenso a ter os ossos do nariz salientes, ossos molares altos e um queixo quadrado e pesado. O ângulo do braço da mulher tende a seguir o ângulo produzido por seus ombros estreitos e quadris levemente ressaltados. 2.2 - Sistema vascular e respiratório O sangue apresenta diferenças significativas entre os dois sexos, com valores menores para a mulher. O volume total de sangue é menor na mulher, com 58 ml por quilo do peso corpóreo, enquanto no homem este volume é de 64 ml por quilo. Para um mesmo volume de sangue, existe cerca de 10 por cento a menos de hemácias, com menor quantidade de hemoglobina por hemácia, o que diminui a quantidade desse pigmento no sangue da mulher. A quantidade total de hemoglobina na mulher é de 0,86 % do peso corpóreo, enquanto no homem esta quantidade é de 1,16 %, o que corresponde a uma diferença de 25 a 30 % a menos para a mulher. 35
  • 36. Sendo a hemoglobina responsável pelo transporte de oxigênio pelo sangue e sabendo-se que 1,0 grama de hemoglobina transporta igual quantidade de oxigênio nos dois sexos, podemos entender que, em igualdade de condições físicas e de trabalho a realizar, a mulher apresenta desvantagem em relação ao homem, pois sua capacidade de transporte de oxigênio é menor. O homem normalmente tem um coração maior que a mulher e essa diferença faz-se sentir no coração das mulheres durante a marcha rápida. A soma de glóbulos vermelhos no sangue é maior. A pressão sanguínea do homem médio é 5 a 10 milímetros mais alta do que a mulher. A mulher, portanto, tem uma limitação circulatória, resultando em efeitos sobre sua resistência cardíaca que acabam por afetar a resistência geral. Levando-se em conta a as diferenças entre o nível de hemoglobina (Hb), o volume sanguíneo e as diferenças entre as dimensões funcionais do sistema aeróbico de homens e mulheres, pode-se concluir que, se os demais fatores fossem iguais, o VO2 máximo da mulher seria igual ao do homem, se ambos possuíssem a mesma Hb e o mesmo volume sanguíneo total. A função respiratória da mulher também é menos eficiente, levando-se em conta todos os parâmetros respiratórios, estáticos e dinâmicos, inferiores aos do homem, tanto em repouso quanto sob condições de trabalho muscular. 36
  • 37. Os demais sistemas ou aparelhos orgânicos também são mais delicados na mulher, impondo diferenças sensíveis no tocante à sua capacidade funcional, em relação à do homem. Baseados em resultados de estudos feitos por Pate, Barnes e Miller, podemos chegar a algumas conclusões em relação a certos aspectos fisiológicos na comparação entre o desempenho de homens e mulheres. Nestes estudos, em ambiente laboratorial, homens e mulheres eram submetidos a um teste progressivo na esteira rolante, com avaliação para VO2 máximo, relações de permuta respiratória (R), hematócrito e meoglobina, ácido lático e ácido 2,3- difosfoglicérico (2,3-DPG - que facilita a dissociação do oxigênio da hemoglobina). A composição corporal era avaliada por pesagem hidrostática. As composições corporais eram quase as mesmas (17,8% para as mulheres e 6,3% para os homens), sendo que os homens eram mais pesados que as mulheres. Os resultados obtidos foram os seguintes: 1. não houve diferenças significativas no VO2 máximo, (55,8 e 55,1 ml/kg/min para homens e mulheres, respectivamente), na freqüência cardíaca máxima (186 e 189 batimentos por minuto); 2. os níveis de ácido lático após o exercício eram bastante semelhantes e as concentrações de 2,3-DPG eram semelhantes em ambos os grupos. 37
  • 38. Após o término desses estudos, chegou-se à conclusão que, quando homens e mulheres exibem padrões de treinamento e de desempenho semelhantes, a maioria de suas características fisiológicas é semelhante. Outros estudos evidenciam resultados semelhantes. Uma implicação prática para os resultados desta natureza é que, nos ambientes tanto da educação física como quanto nos desportos, onde o desempenho e o condicionamento se baseiam na capacidade aeróbica, homens e mulheres podem e devem ser colocados em grupamentos comuns. A diferença de VO2 máximo entre homem e mulher é negligenciável nos primeiros anos e mais pronunciada durante a fase da vida adulta. Essa relação tem como base o fato das diferenças no tamanho e composição do corpo entre homens e mulheres serem mínimas antes da puberdade e máximas durante a vida adulta. 2.3 - Sistema muscular Embora a maioria dos homens seja mais forte que as mulheres, não há provas de que o sexo afete de alguma forma os componentes musculares da mulher. O tecido musculoso do homem e da mulher são iguais. Há uma proporção muscular maior no homem e as pessoas com um componente muscular grande tendem a ser mais fortes do que as que possuem pequeno componente muscular e componente gorduroso grande. Quando as mulheres executam trabalhos pesados servindo-se dos músculos, desenvolvem uma força muscular proporcional ao seu tamanho e igual à de um homem de igual tamanho e massa muscular. Obviamente, o modo de vida característico de cada sociedade, determina, em parte, o total de trabalho fisiológico 38
  • 39. que cada indivíduo, homem ou mulher, farão. Na cultura norte-americana, o costume social e os hábitos limitam o trabalho muscular da mulher. O potencial de força das mulheres raramente é completamente desenvolvido. A força muscular geral da mulher equivale a dois terços da do homem. Entretanto, convém lembrar que as diferenças de força variam de acordo com cada grupo muscular. Por exemplo, em comparação com os homens, as mulheres são mais fracas no tórax, nos ombros e nos braços, enquanto são mais fortes nas pernas. Provavelmente, isto se relaciona ao fato de ambos os sexos utilizarem suas pernas em igual intensidade, para ficar de pé, subir escadas, andar, correr e outros movimentos do cotidiano, enquanto, na maioria das sociedades, as mulheres têm pouca oportunidade de utilizar os membros superiores, como o exemplo da sociedade norte-americana citado no parágrafo acima. Alguns testes demonstraram que, apesar das semelhanças dos níveis de força dos membros inferiores, os homens demonstraram certa superioridade na força isocinética para velocidades mais rápidas de movimento. As razões para essa diferença são desconhecidas, mas podem estar relacionadas com diferenças no tipo de fibras musculares ou nos padrões de recrutamento das fibras entre os sexos. Porém, julga-se necessário uma pesquisa mais ampla nessa área. Muito tem se falado que a mulher atleta tem um aspecto “masculinizado”, o que tira o encanto e a formosura de um corpo feminino delicado por natureza. 39
  • 40. Este fato deve-se, sobretudo, ao tipo de vestimenta utilizado em determinadas modalidades esportivas, a uma certa ausência de charme em algumas praticantes ou a um corte de cabelos mais curto, mas nunca à realidade biológica. As mulheres virilizadas pelo esporte certamente são aquelas que têm tendências andrógenas naturais e que vencem as competições devido a sua morfologia, como no caso das arremessadoras de peso. Há alguns anos, pensava-se que o aumento da atividade no córtex adrenal devido ao esforço físico poderia causar um estado de hiperandrogenia, que não parece fazer sentido, pois não foram encontradas diferenças significativas entre as dosagens hormonais das desportistas e das não-desportistas. As únicas alterações registradas são de ordem morfológica e geralmente o aumento da cintura escapular é responsável pelo aumento do diâmetro bdeltoidiano, sem que o morfograma seja modificado no sentido andrógeno, o que não caracteriza uma suposta “masculinização” da atleta. Com relação à preocupação estética feminina, recomenda-se a realização de exercícios como a ginástica rítmica ou de relaxamento, da natação suave e outros exercícios leves e graciosos, com a finalidade de modelar o corpo. No plano psicológico, o espírito de competição pode ocasionar nas mulheres uma agressividade máscula, que, geralmente, já existe anteriormente, mas se revela a partir do momento da escolha do esporte. 40
  • 41. Porém, o que deve realmente ser levado em conta são os benefícios do esporte com a presença de pequenas sobrecargas ponderais. Para isso, basta lembrarmos as silhuetas longas e esbeltas das velocistas, das jogadoras de voleibol e das evoluções graciosas das ginastas e das patinadoras, para nos convencermos dos benefícios que o esporte pode trazer à mulher que deseja ser “ainda mais mulher”. 41
  • 42. III - CONSIDERAÇÕES GINECOLÓGICAS ESPECÍFICAS DO ORGANISMO FEMININO O organismo feminino apresenta certas características e funções biológicas peculiares, que devem ser estudadas de uma forma especial, para que as atividades físicas praticadas pelas mulheres sejam adequadas a tais características. Existem diferentes tipos de exercícios físicos a serem recomendados, de acordo com a idade e ao estágio de desenvolvimento puberal da mulher. Entre nove e 12 anos de idade ocorre o período pré-puberal, onde é indicada a ginástica geral, e não se recomenda que um órgão ou membro seja mais solicitado que o outro. Ou seja, a especialização esportiva não deve ocorrer nesta fase. Entre os 12 e 15 anos de idade, temos o período puberal, onde é necessário dosar os esforços em função das qualidades de potência e resistência de cada indivíduo. A educação respiratória é importante nesta fase e permite um bom apoio para o desenvolvimento mamário. Entre os 15 e 16 anos temos a idade de desenvolvimento muscular, onde já são permitidos os exercícios de força. 42
  • 43. Na fase adulta, existem outras considerações importantes relacionadas ao exercício físico e ao desenvolvimento do organismo feminino que precisam ser levadas em consideração, entre os quais podemos destacar a menstruação e os fenômenos relacionados à gravidez. Neste capítulo estaremos analisando a influência destes dois aspectos relacionados exclusivamente ao desenvolvimento da mulher, além de um pequeno estudo sobre lesões das mamas e dos órgãos reprodutores da mulher. 3.1 - Menstruação A menstruação, que é uma função fisiológica como tantas outras, era considerada no passado como um castigo divino de influência cósmica lunar, através do qual ocorria a excreção de substâncias tóxicas orgânicas, fazendo com que a mulher se torne impura neste período, devendo ficar isolada de tudo e de todos. Essa e outras crendices sobre a menstruação perduraram por séculos, prejudicando a mulher em vários sentidos, incluindo as jovens atletas nos dias de hoje, que, por vezes, ainda sofrem com uma série de transtornos psicossomáticos que interferem diretamente no rendimento do trabalho esportivo, unicamente por medo e ignorância. Ainda hoje, a menstruação continua a ser o maior problema de atletas mal esclarecidas ou mal preparadas psicologicamente para enfrentar a competição nesse período. O fator emocional chega a ser tão forte para algumas mulheres, que é comum o fluxo menstrual antecipar-se muitos dias, vindo a ocorrer exatamente na data de uma competição importante. 43
  • 44. O foco primário acerca do ciclo menstrual nos esportes está relacionado com o surgimento de um padrão irregular (oligomenorréia) ou com a cessação que se prolonga por mais de 90 dias (amenorréia). A amenorréia primária é definida como a demora da menarca além dos 16 anos de idade, enquanto amenorréia secundária é a ausência da menstruação em mulheres que já menstruam. O ciclo menstrual (ovulatório) é um fenômeno fisiológico complexo. Podem ser identificados vários tipos de amenorréia secundária, entre eles a anovulação crônica hipotalâmica, a anovolução crônica hipofisária, a retroalimentação inadequada para o hipotálamo ou a hipófise e outras disfunções endócrinas ou metabólicas. A amenorréia atlética foi colocada na categoria geral de anovulação crônica. Os pesquisadores têm tido dificuldade em evidenciar uma relação de causa e efeito entre fatores específicos da participação nos esportes e a amenorréia secundária. Estaremos analisando mais profundamente os aspectos relacionados ao fenômeno da menstruação no prosseguimento deste estudo. Em comparação com a mulher comum, comprovou-se que a mulher americana atleta inicia a sua menstruação (menarca) mais tarde, conforme quadro e gráfico a seguir. 44
  • 45. Quadro nº 4 – Comparação entre a idade da menarca em mulheres americanas Categorias Idade da menarca Não-atletas 13,02 Atletas secundárias 13,05 Nadadoras competitivas 13,4 Atletas de pista e campo de nível nacional 13,58 Atletas olímpicas (Jogos de Montreal, 1976). 13,66 Corredoras de meia-distância de nível nacional 14,1 Atletas olímpicas de voleibol 14,18 Corredoras de nível nacional 14,2 Fonte: FOX, BOWERS, FOSS, 1989, p. 284 Gráfico nº 2 – Comparação da idade da menarca em mulheres americanas 14,4 Não-atletas 14,2 Atletas secundárias 14 13,8 Nadadoras competitivas 13,6 13,4 Atletas de pista e campo de nível nacional 13,2 13 Corredoras de m eia-distância de nível nacional 12,8 Atletas olím picas de voleibol 12,6 12,4 Corredoras de nível nacional Idade da menarca Fonte: Quadro nº 4 Como é demonstrado no gráfico, atletas tanto secundaristas quanto universitárias alcançaram a menarca mais tarde do que as não-atletas, e os vários grupos de atletas nacionais e olímpicas chegaram à menarca muito depois que atletas secundaristas e universitárias. Esses resultados indicam claramente uma menarca mais tardia para atletas de 45
  • 46. porte nacional e internacional e sugerem uma relação entre menarca retardada e níveis de competição mais avançados. Por outro lado, constatou-se que a idade da menarca para atletas húngaras é pouco afetada pela competição atlética e, que em nadadoras suecas, a idade da menarca foi ligeiramente mais precoce do que em não-atletas, enquanto que em nadadoras mais jovens, entre 10 e 12 anos de idade, constatou-se uma maturidade sexual mais avançada, indicada pelo desenvolvimento das mamas e dos pêlos pubianos, nas finalistas de uma competição nacional em comparação com as semifinalistas do mesmo grupo etário. Esses resultados sugerem a possibilidade de existir diferentes relações de maturidade para esporte e níveis competitivos entre mulheres atletas de diferentes países. Porém, vale salientar que ao contrário dos resultados mais atuais apresentados nos estudos com mulheres americanas apresentados no gráfico anterior, essas informações obtidas com estudos com mulheres da Hungria e da Suécia foram obtidas cerca de 25 anos atrás, numa época em que o nível de treinamento e de competição eram muito diferentes que os atuais, fator que deve influenciar sobremaneira os resultados obtidos. Cabe-nos analisar, portanto, possíveis fatores que retardam a menarca em mulheres altamente qualificadas fisicamente e qual o significado deste retardamento. Foi constado que o exercício produz um aumento na prolactina, um dos hormônios secretados pela hipófise e responsável pela preparação das mamas para a amamentação. Na atleta adolescente, isto poderia criar o que se chama de "impregnação prolactínica" do ovário em maturação, o que seria suficiente para retardar ainda mais a maturação do ovário 46
  • 47. por outro hormônio denominado folículo-estimulante. Por sua vez, isso poderia resultar em retardo da menarca ou na ausência de menstruação (amenorréia) transitória bastante observada nas mães que amamentam. Estudos realizados por MALINA, TATE e BAYLOR sugerem dois significados principais para a relação entre a menarca tardia e o sucesso nos desportos, sendo um de relacionado com aspectos fisiológicos e outro com aspectos sociológicos. As características físicas e fisiológicas associadas à maturação tardia são, sob muitos aspectos, favoráveis para o sucesso no desempenho atlético. Por exemplo, a mulher com maturação mais tardia possui pernas mais compridas, quadris mais estreitos e menos peso por unidade de altura e menos gordura corporal relativa em comparação com a mulher com maturação mais precoce. Na natação, porém, a maturação mais precoce pode ser benéfica, pois a maior força e a gordura corporal tendem a aprimorar o desempenho da mulher nesse desporto. Isso se relaciona muito bem aos resultados obtidos nos estudos feitos com nadadoras suecas mencionados anteriormente. No aspecto social, a mulher americana madura é, em termos genéricos, "socializada" longe das competições esportivas. Ou seja, as meninas cuja maturação é mais tardia, tendem a permanecer por mais tempo nas competições esportivas e, por conseqüência, tendo maior possibilidade de competir em níveis mais elevados. Por outro lado, depois que a mulher tiver desenvolvido todas as suas características sexuais, é submetida à pressão social, e seus interesses afastam-se do esporte e se dirigem para 47
  • 48. objetivos familiares ou de carreira. Embora atualmente este panorama já esteja se modificando, ainda constitui-se em fator importante. Com base em diversos estudos realizados, chegou-se à conclusão que o exercício parece não influenciar de maneira significativa os distúrbios menstruais. 3.2 – Exercícios e distúrbios menstruais Numa pesquisa realizada por DALE e outros estudiosos, chegou-se ao resultado de que um terço das corredoras de longa distância apresentam amenorréia, isto é, cessação da menstruação durante suas temporadas de treinamento e de competição. Nota-se a incidência de amenorréia em 34% de um grupo de corredoras e de 23% em um grupo que praticava jogging (trote) e de apenas 4% em grupo que não corria. Neste estudo, ficaram definidas como corredoras as mulheres que corriam mais de 48 km por semana e que combinavam corrida de longa distância, porém lenta, com um trabalho de velocidade. Por outro lado, as trotadoras (joggers) foram definidas como as mulheres que corriam lenta e livremente de 8 a 48 km por semana. Os resultados obtidos podem ser analisados na tabela e no gráfico abaixo. Quadro nº 5 – Número médio de menstruações entre três categorias de mulheres americanas 48
  • 49. Categoria Nº médio de menstruações por ano Corredoras 9,16 Trotadoras 10,32 Controle (não corredoras) 11,85 Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 284. GRÁFICO Nº 3 – Comparação entre o número médio de menstruações entre três categorias de mulheres americanas 12 10 8 Corredoras 6 Trotadoras Controle (não 4 corredoras) 2 0 Nº médio de menstruações por ano Fonte – Quadro nº 5 Um detalhe interessante a ser mencionado, é que até 24% das corredoras tinham cinco ou menos menstruações por ano. Além disso, a incidência de amenorréia parece ser 49
  • 50. muito maior nas corredoras e trotadoras com menarca de início mais tardio, que não tiveram nenhuma gravidez ou que haviam tomado hormônios anticoncepcionais. A causa da amenorréia em mulheres atletas é desconhecida. Porém, qualquer que seja a causa, parece ter relação com a intensidade do treinamento. Acredita-se que pode ser causada pelo próprio treinamento ou competição ou por outros fatores relacionados como redução do peso corporal ou estresse psicológico geral. No caso do treinamento propriamente dito, é importante salientar que um treinamento mais intenso pode gerar um melhor desempenho, conseqüentemente, um maior estresse. Foi demonstrado que uma redução das reservas adiposas do organismo, obtida através do treinamento, está associada à amenorréia. No caso específico de fundistas e ginastas, essa continua sendo uma possível razão para a amenorréia destas. É provável que, com a suspensão do treinamento, dos exercícios e das competições, as menstruações readquirem um padrão normal e as funções procriativas da mulher se revelam normais sob todos os aspectos. A dismenorréia (menstruação dolorosa) provavelmente não é nem agravada e nem curada pela participação nos esportes. Quando muito, pode ser menos comum nas mulheres fisicamente ativas. A dismenorréia, se não for intensa, não dificulta o desempenho atlético, pelo menos do ponto de vista fisiológico. Porém, é possível que fatores psicológicos relacionados desempenhem um papel importante. 50
  • 51. A participação em atividades esportivas tem relação com a dismenorréia. O fator intensidade do exercício parece importante, pois se observou que um grupo de mulheres que seguiam um programa de exercícios regular tinha menos problemas nesse aspecto. A dismenorréia parece afetar especialmente as nadadoras, que são advertidas por alguns médicos para que evitem as piscinas durante a menstruação, para evitar o risco de contaminação bacteriana do endométrio, através da abertura do canal uterino. Apesar de tudo, o treinamento e a competição não parecem causar problemas. 3.3 – Treinamento e competição durante a menstruação O fato de as mulheres competirem ou não durante o seu fluxo menstrual constitui-se assunto essencialmente individual. Porém, alguns aspectos podem ser analisados a respeito. Das atletas olímpicas examinadas nos Jogos Olímpicos de Tóquio, 69% competiram sempre durante a menstruação, apesar de apenas 34% treinarem durante esse período. Dos 31% que às vezes competiam durante a menstruação, todas participavam de grandes pelejas, especialmente as que consistiam em competições entre equipes. Do ponto de vista médico, existe uma discordância sobre o assunto. Alguns médicos acreditam que o treinamento e a competição durante o período menstrual não devem ser permitidos nos esportes em que se observa grande incidência de distúrbios menstruais, como a corrida de fundo, o esqui, a ginástica, o tênis e o remo. Quase todos os médicos 51
  • 52. reprovam a natação durante a menstruação. Isso é interessante, pois foi determinado que, durante a menstruação, não existe contaminação bacteriana da água da piscina e nenhum sinal de aumento nas infecções bacterianas dos órgãos genitais das nadadoras. Além disso, o Dr. A. J. Ryan sugeriu que o uso do tampão intravaginal é conveniente e confortável para a maioria das nadadoras durante a menstruação. Com base nessas informações, não se pode estabelecer nenhum motivo para que a mulher não treine ou participe de competições durante o período da menstruação, desde que sua experiência própria lhe mostre que não haverá nenhum incômodo e que seu desempenho não será afetado. É importante salientar também que, para as mulheres competitivas, não é nada agradável a idéia de perder três ou quatro dias de treinamento. Da mesma forma, não é recomendável que se force uma mulher a participar de um treinamento ou competição, quando ela se sente mal e o seu desempenho torna-se muito precário durante esse período. O fluxo menstrual corresponde a uma etapa do ciclo menstrual em que a mulher readquire suas melhores condições de funcionamento orgânico, o que possibilita um ótimo desempenho físico, sendo que algumas atletas chegam a alcançar seus melhores resultados exatamente nesse período. Tal fato é tão significativo que ocorre, em diversas competições, uma espécie de doping artificial, que consiste na utilização de hormônios (progesterona e estrógenos) para deslocar o fluxo menstrual da atleta, visando à sua participação na competição com o máximo de desempenho. Esse procedimento artificial, antecipando ou retardamento o fluxo 52
  • 53. menstrual da atleta, com o objetivo de a atleta poder participar com o máximo rendimento de uma competição, além de fraudulento e desleal, é contra-indicado para a saúde da mulher. Além disso, todo agente que proporciona condições artificiais ao atleta na competição é considerado dopador. A capacidade física da mulher varia de acordo com o período do ciclo menstrual em que ela se encontra. Na primeira fase, também chamada "proliferativa" ou "estrogênica", ocorre a fixação de água no organismo (ação anabolizante). Por volta do 14º dia, verifica-se a ovulação, com ligeira diminuição de hormônios no sangue, que aumenta de novo por volta do 18º dia, para cair novamente até atingir seus níveis iniciais, na fase pré-menstrual. Essa primeira fase do ciclo menstrual se caracteriza por pequenas alterações orgânicas, que não chegam a perturbar muito a eficiência do trabalho físico e esportivo. Na segunda fase do ciclo menstrual, ocorrem alterações mais intensas, mesmo em mulheres com ciclo normal, que acarretam perturbações do psiquismo, cansaço, mal-estar geral, além de outras que constituem a "síndrome pré-menstrual". Tais modificações podem trazer efeitos significativos sobre o rendimento muscular, em determinadas atletas, tornando seus resultados abaixo do que seria esperado. A progesterona provoca a eliminação da água que havia sido fixada pela ação dos estrógenos. Contudo, durante a menstruação, a mulher encontra-se menos perturbada que na fase anterior, estando livre dos problemas que caracterizam a fase pré-menstrual, readquirindo suas melhores condições de funcionamento orgânico e de eficiência do trabalho muscular. 53
  • 54. É fato comprovado que atletas em plena menstruação encontram-se com a sua dinamometria, o tono neurovegetativo, a velocidade, a destreza, a habilidade e a resistência ao cansaço em seus níveis normais, permitindo que a mulher obtenha seus melhores resultados físicos e técnicos, qualquer seja a modalidade praticada, inclusive a natação. Não são raros os casos em que atletas em pleno fluxo menstrual conseguiram superar recordes olímpicos e mundiais. A queda de rendimento de atletas em fase de menstruação, portanto, deve-se, na grande maioria dos casos, a um consenso psicológico negativo de que as mulheres devem reduzir suas atividades físicas nesse período, resultando em preocupações sem fundamento, geradas por falta de informação e orientação. Mulheres com plena capacidade têm apresentado uma queda de rendimento físico durante a fase da menstruação devido ao desconhecimento de suas funções biológicas, acreditando que, na fase da menstruação propriamente dita, seu corpo se encontre em um nível inferior, o que, cientificamente, não se constata concretamente. As diferenças de capacidade física do organismo da mulher durante as diferentes fases do ciclo menstrual podem ser identificadas no quadro a seguir Quadro nº 6 – Representação esquemática das variações aproximadas da capacidade física da mulher durante o ciclo menstrual (mulher ginecologicamente normal, com ciclo menstrual de 28 dias). 54
  • 55. Nº de dias Períodos Capacidade física 5 Tensão pré-menstrual Mínima 5 Fluxo menstrual Aumento progressivo (rápido) 8-9 Influência estrogênica Máxima 9-10 Influência progesterônica Diminuição progressiva (lenta) Fonte: PINI, 1978, p. 218. Vale ressaltar que a mulher com disfunções do ciclo menstrual apresenta a "síndrome pré-menstrual" de maneira mais intensa, apresentando cólica uterina, cefaléia, tontura, náusea, vômito, retenção hídrica e outras anomalias. A mulher que apresenta tais sintomas deve se afastar das competições esportivas e, em alguns casos, permanecer em repouso. É sabido, porém, que a atividade esportiva bem conduzida, atua de maneira benéfica no organismo da mulher, tendendo para a regularização daquela atividade cíclica fisiológica. Por outro lado, a atividade física excessiva pode causar perturbações sérias no ciclo menstrual da atleta. Portanto, a normalidade do ciclo menstrual da atleta demonstra a boa receptividade do seu organismo em relação ao trabalho físico e esportivo por ela realizado. A grande maioria dos autores é unânime em afirmar que a atividade esportiva racionalmente conduzida não ocasiona nenhuma perturbação na menarca, no ciclo menstrual e na história obstétrica atual ou ulterior da mulher-atleta, preparando-a para transpor com facilidade as perturbações que se podem instalar por ocasião do climatério. 55
  • 56. 3.4 - Gravidez e parto Antes de abordarmos a gravidez com relação à atividade física, é importante reconhecermos as transformações fisiológicas que ocorrem no organismo feminino durante este período. Em posição sentada ou deitada, o VO2 em repouso é mais alto. Em início de gravidez, o débito cardíaco é proporcionalmente mais alto que o VO2, ocasionando uma redução na diferença arteriovenosa de oxigênio. Por volta do sétimo e oitavo mês, o débito cardíaco, em posição deitada, é reduzido e, para fornecer o oxigênio requerido, a diferença arteriovenosa aumenta. A gravidez não tem impedido certas mulheres de levar ao nível de competição sua atividade física. Nos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsinque, uma mulher com três meses e meio de gravidez chegou a ganhar uma medalha de bronze. Quanto aos efeitos do treinamento intenso em atletas de nível internacional, eles não parecem prejudicar a gravidez e o parto, sendo que 87,2% das atletas entrevistadas tiveram mesmo seus períodos de trabalho de parto diminuídos. Notou-se também uma redução para a metade no número de cesarianas entre atletas, em comparação com as mulheres sedentárias. 56
  • 57. A gravidez não parece ter efeitos dignos de maior atenção sobre as respostas fisiológicas ao esforço. Parece que até a 36ª semana de gravidez. A mulher pode se dedicar sensatamente a atividades esportivas em que não precise erguer pesos. Quanto ao período pós-parto, observou-se que o exercício diminuía as dores lombares e a fadiga crônica das mulheres com musculatura abdominal fraca e com um passado hipocinético. É comum as atletas retornarem ao treinamento e à competição em um período de três a cinco meses após o parto. Parece que fazem tudo tão bem como antes da gravidez e, em alguns casos, chegam a melhorar seus desempenhos, apresentando melhores condições e mais equilibradas, tanto física como psiquicamente. Existem duas escolas de pensamento no que diz respeito aos efeitos da participação atlética sobre a gravidez e o parto. Uma teoria considera que, em virtude da hipertrofia da musculatura pélvica que acompanha a participação nos esportes, os músculos tornam-se menos extensíveis e, por conseqüência, geram dificuldades durante o trabalho de parto. A outra teoria enfatiza os efeitos favoráveis ocasionados por músculos abominais mais fortes sobre o parto. Várias pesquisas foram realizadas até o momento, com o objetivo de esclarecer o problema, sendo que alguns resultados obtidos podem ser resumidos no quadro abaixo. 57
  • 58. Quadro nº 7 - Efeitos da participação atlética sobre a gestação e o parto Variável Atleta X não-atleta Complicações da gestação Menor número Duração do trabalho de parto Mais curta Número de cesarianas Menor Rupturas teciduais durante o parto Menos Abortos espontâneos Menor número Fonte: FOX, BOWERS, FOSS. 1989, p. 289. É evidente, analisarmos tais dados, que as mulheres atletas costumam ter menos complicações relacionadas à gravidez e ao parto do que as mulheres normais não-atletas. Uma das questões mais polêmicas sobre a atleta é se esta deve continuar treinamento ou competindo durante o período de gravidez. Sabe-se que existem mulheres que competem durante os três ou quatro primeiros meses de gestação e outras até poucos dias antes do trabalho de parto. Foi relatado que uma corredora com seis meses e meio de gestação registrou um tempo de 4 horas nos primeiros treinamentos para a Maratona Olímpica nos Estados Unidos, sendo que dez semanas depois deu à luz um filho sadio. Ainda mais, foi demonstrado que o exercício durante a gravidez não constitui um estresse fisiológico mais intenso durante a gravidez do que antes dela, desde que sejam minimizadas as atividades com levantamento de pesos, sendo que alguns médicos prescrevem com freqüência várias formas de exercício durante a gravidez. 58
  • 59. É preciso, porém, enfatizar que a participação da mulher em competições ou em programas de exercícios deve ser determinada em uma base individual e sempre com o acompanhamento médico. Com relação ao desempenho após o parto, 46% das mulheres atletas que participaram dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, e que continuaram em competições atléticas após o parto, conseguiram superar seus resultados anteriores por volta do final do primeiro ano após o trabalho de parto; 31% superaram seus desempenhos entre o primeiro e o segundo ano após o parto. Isto sugere que o parto não afeta o desempenho atlético. Além disso, foi demonstrado que o exercício não influencia o VO2 máximo, o fluxo sanguíneo coronariano em resposta ao estresse e nem a estrutura miocárdica na prole masculina de ratazanas treinadas durante a gravidez. Portanto, parece não haver qualquer influência negativa do exercício realizado durante a gravidez sobre os futuros filhos. As pílulas anticoncepcionais já foram usadas pela grande maioria das mulheres durante um período tempo bastante considerável. Os efeitos dessas substâncias químicas sobre o desempenho atlético, porém, ainda são desconhecidos. Contudo, um estudo indicou que as mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais são menos ativas do que as que não tomam. Outro estudo mais recente indicou que tanto a endurance muscular quanto à produção total de força são cerca de 20% menores em mulheres que usam anticoncepcionais orais. 59
  • 60. Ainda se torna necessário muito estudo sobre o problema, mas algumas autoridades médicas acham que, considerando os efeitos metabólicos já conhecidos das pílulas anticoncepcionais, seria surpreendente não encontrar qualquer alteração no desempenho atlético. 3.5 - LESÕES DAS MAMAS E DOS ÓRGÃOS REPRODUTORES Na verdade, as lesões dos órgãos reprodutores são mais comuns nos homens do que nas mulheres. A lesão mais comum na mulher atinge as mamas. Como exemplo, podemos citar que golpes repetidos na mama podem resultar em contusões e hemorragias dentro do tecido adiposo frouxo, o que pode resultar em necrose gordurosa (morte do tecido adiposo). A mulher, em relação ao homem, encontra uma relativa desvantagem na prática desportiva, devido ao volume de suas mamas. Este fato é verdadeiro, sobretudo nas mulheres que têm forte compleição ou que sentem dores devidas à congestão pré- menstrual. Na Antiguidade, este desconforto era eliminado pelas amazonas de forma radical, mediante a amputação do seio direito para poderem atirar melhor com o arco e a flecha. Hoje em dia, esta solução extrema pode ser evitada, o que, sem dúvida, é ótimo para a estética das mulheres atletas desta modalidade. 60
  • 61. Apenas as hipertrofias mamárias de puberdade, às vezes enormes, justificam intervenções cirúrgicas e, deve-se reconhecer que a cirurgia corretiva dos seios apresenta resultados muitas vezes notáveis. A prática desportiva pode beneficiar muito a estética dos seios. Os exercícios do grande músculo peitoral promovem a formação de uma sólida base de sustentação para os seios. O desenvolvimento da caixa torácica permite que os seios repousem sobre uma base inclinada e não vertical, o que limita o risco de ptose mamária. Na mulher, os seios são glândulas ao mesmo tempo frágeis e expostas ao traumatismo. A sensibilidade das glândulas mamárias ao choques e traumatismos repetidos é bem conhecida, além de ser acompanhada por uma repercussão psicológica, com efeito, nefasto sobre a qualidade dos desempenhos posteriores. Convém que as mulheres utilizem protetores mamários na maioria dos esportes de contato físico. Nos esportes sem contato, é recomendável o uso de um bom sutiã protetor, a fim de minimizar os movimentos laterais e para cima e para baixo das mamas, que ocorrem durante os saltos e na corrida. Devido à sua posição e forma e ao fato de repousarem sobre uma parede rígida, as glândulas mamárias e os seios estão expostos aos choques, às lesões traumáticas e, mais raramente, pelas feridas. 61
  • 62. As contusões mamárias normalmente ocorrem após um choque frontal direto que esmaga a glândula contra o gradil costal e produz uma lesão no ponto de aplicação. Na maioria dos casos, as lesões são cutâneas ou subcutâneas e se resumem a uma equimose discreta e dor na região atingida. Às vezes, a glândula é atingida, causando um hematoma difuso ou localizado, que pode necessitar de uma drenagem cirúrgica. Raramente, porém, se observa um derrame sanguíneo localizado no espaço retromamário. Os traumatismos dos órgãos genitais femininos, em geral, ficam limitados a pequenas contusões e lacerações da genitália externa. Os órgãos internos, como os ovários, o útero e as trompas, estão bem protegidos em virtude de sua posição profunda dentro da pelve óssea. A única lesão séria conhecida desses órgãos foi a ruptura da parede vaginal, após uma queda numa competição de esqui aquático. Quanto a esse problema, foi recomendado o uso de roupas de borracha pelas mulheres que praticam essa modalidade. Nas demais modalidades, praticamente não existe o risco de lesões sérias ou permanentes das mamas ou dos órgãos reprodutores. Em geral, as mulheres atletas sofrem as mesmas lesões e em número relativamente igual aos homens, com uma freqüência ligeiramente maior de lesões relacionadas à rótula e às articulações nas mulheres. 62