O documento discute três iniciativas brasileiras que apoiam inventores e inovações tecnológicas: 1) A empresa Cavenaghi, que desenvolve adaptações veiculares para pessoas com deficiência; 2) A Associação Nacional dos Inventores, que oferece apoio jurídico e assessoria para registro de patentes; 3) A Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, que estimula projetos investigativos de estudantes e já contemplou invenções para pessoas com deficiência.
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Por: Hevlyn Celso | Fotos: Thiago Henrique, Kica de Castro, Edson Satoshi e divulgação
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CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO SÃO MATÉRIAS-PRIMAS PARA NOVAS TECNOLOGIAS
Q
uando pensamos em um cientista, logo ima-
ginamos alguém que passa dias recluso em
seu laboratório, testando novos experimen-
tos. Na verdade, esse personagem existe mais no ima-
ginário coletivo, do que na vida real, pois um inventor
pode ser qualquer pessoa que tenha tempo, disposição
e criatividade para solucionar problemas. Ao pesqui-
sar na Internet, frequentemente nos deparamos com
sites e blogs voltados às pessoas com deficiência, que
mostram grandes inovações tecnológicas do exterior.
Mas e no Brasil, como está o mercado de invenções?
Criada há 44 anos, a Cavenaghi é
uma das maiores empresas de adap-
tação veicular no País. Foi fundada
pelo mecânico e imigrante italiano
Giulio Michelotti, que obteve mui-
to sucesso ao criar um sistema de
transmissão automática para um
amigo que havia perdido uma per-
na e não possuía habilitação. Com a
procura crescente, Giulio patenteou
o equipamento e passou a se dedicar
somente as adaptações.
Segundo a administradora Mô-
nica Cavenaghi, os equipamentos
mais inovadores estão na linha de
transporte, como o rebaixamen-
to de pisos, de forma que a pessoa
possa ser transportada sentada em
sua cadeira de rodas. “Criamos so-
luções que possibilitam mudança de
vida para as famílias de pessoas com
deficiência, pois muitas vezes, a mão
de obra para colocá-las no carro é
tão grande, que os passeios tornam-
-se cada vez mais raros ou inviáveis.
Por outro lado, nossos produtos pro-
porcionam conforto e segurança, en-
IDEIAS
QUE VALEM OURO
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tão a pessoa sabe que estará segura, e não dará trabalho
adicional aos seus cuidadores”.
Questionada sobre a importação de grandes inova-
ções, Mônica diz que no Brasil não existe regulamenta-
ção na aplicação de normas técnicas para grande parte
dos produtos, então, por questões de responsabilidade
e segurança, prefere primeiro testá-los; o que chega a
atrasar os lançamentos em cerca de dois a quatro anos.
Outro ponto é que, nos países de primeiro mundo, o es-
tado arca com a reabilitação das pessoas com deficiên-
cia, o que faz toda a diferença no mercado. “Nem todos
os produtos têm renúncia fiscal para importação, ao
contrário, a imensa maioria que nós trazemos são taxa-
dos, tributados, então isso obviamente os encarece”. A
empresa já foi procurada por diversos inventores, mas
até o momento não efetuou parcerias, pois, segundo ela,
embora as soluções fossem criativas, tinham baixa apli-
cabilidade, pois faltavam estudos relacionados à viabili-
dade econômica e aos investimentos em sua industria-
lização.
Como registrar seu invento
A Associação Nacional dos Inventores (ANI) foi fun-
dada em 1992 em São Paulo, por Carlos Mazzei, que tra-
balhava com marcas e patentes e percebeu que, na épo-
ca, não havia nenhum tipo de apoio ou segurança para
quem tinha uma ideia ou desenvolvia um novo produto.
Atualmente, além do registro de patentes, a ANI ofe-
rece assessoria jurídica e comercial aos inventores, na
procura de parcerias e investidores para tentar viabili-
zar as ideias. Para auxiliar na divulgação das criações, a
associação mantém o programa semanal de TV “Ideias
e Invenções”, no ar há mais de 10 anos e o Museu das
Invenções, o qual exibe cerca de 500 protótipos de pro-
dutos que já estão no mercado e várias curiosidades. A
ANI possui atualmente cerca de 1000 inventores asso-
ciados.
A gerente do museu, Daniela Mazzei, afirma que
para solicitar a aprovação de um registro de patente, o
produto deve ser inovador, ainda inexistente, ou o aper-
feiçoamento de um que já exista, desde que possa ser
feito em escala industrial. O valor do registro é variável,
mas custa, em média, de três a cinco mil reais. Segundo
ela, há três tipos de patentes. “A patente invenção, que
é algo totalmente novo, vale por 20 anos; a patente mo-
delo de utilidade, que é um aperfeiçoamento de algo já
existente, vale durante 15 anos; e o registro de desenho
industrial, que é a patente do design do produto, vale
até 25 anos; isso tudo aqui no Brasil. É possível fazer
um registro internacional, mas os valores variam caso
a caso.
Ela conta que o perfil
dosinventoresédiverso.
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“Aquele estereótipo de cientista “maluco” não existe, é
uma personalidade observadora que percebe uma ne-
cessidade e desenvolve um produto para suprí-la. Mui-
tas vezes o invento não é associado a sua atividade pro-
fissional”. Há vários inventos pensados para as pessoas
com deficiência, como uma muleta com amortecedor,
que torna o uso mais confortável, uma cadeira de rodas
que se transforma em andador e um painel de comu-
nicação visual, entre outros, que aguardam a parceria
de investidores. Embora industrializar um produto não
seja algo fácil, há casos de sucesso, como o “spaguetti”
de piscina (espécie de boia), que foi registrado na ANI e
hoje é utilizado em todo o mundo.
Celeiro de talentos
A Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace)
é uma ação de atividades conjuntas idealizada pela Es-
cola Politécnica da USP. Instituída há 10 anos, tem por
objetivo estimular o desenvolvimento de projetos inves-
tigativos de grande profundidade, feitos por alunos da
educação básica, particular e pública. É realizada anu-
almente nas dependências da Escola Politécnica e conta
com a participação de cerca de 750 alunos e 300 profes-
sores orientadores, responsáveis por aproximadamente
300 projetos (estandes) selecionados por todo o País.
Para participar, o aluno ou equipe devem escrever um
relatório que passará por uma banca de pré-avaliado-
res, avaliadores e, em seguida, por um comitê de sele-
ção. Os projetos selecionados recebem um convite para
participar da feira e, como itens obrigatórios, os alunos
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devem trazer para a mostra o diário de bordo, que é o
registro cronológico de todas as dúvidas, um relatório
detalhado de todas as etapas do processo, o aparato ex-
perimental (se houver) ou um registro da dinâmica feito
em fotos e vídeos, além de um pôster explicativo, o qual
será utilizado pelos alunos para explicar o projeto para
avaliadores e visitantes.
A engenheira elétrica e professora Roseli de Deus
Lopes, uma das idealizadoras da Febrace, afirma que
o objetivo principal não é somente ganhar prêmios, ou
participar de feiras internacionais como a Intel ISEF,
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A estilista Joventina Sousa
Cavenaghi
Tel.: (11) 3719-3739
www.cavenaghi.com.br
E-mail: monica@cavenaghi.com.br
Associação Nacional dos Inventores (ANI)
Tel.: (11) 3670-3411
www.inventores.com.br
www.tvinvento.com.br
www.museudasinvencoes.com.br
E-mail: inventores@inventores.com.br
R. Dr. Homem de Melo, 1109 - Perdizes - São Paulo
Feira Brasileira de Ciências e Engenharia
(FEBRACE)
www.febrace.org.br
E-mail: febrace@lsi.usp.br
mas levar este tipo de trabalho a todas as escolas bra-
sileiras. Segundo ela, a escolha dos finalistas não se dá
pelo produto final, mas pela análise da superação dos
desafios enfrentados pelo aluno. “Uma parte é olhar o
trabalho realizado, mas outra é verificar se o aluno tem
as características de um cientista, de um tecnologista,
alguém determinado, que não fica sentado esperando
que façam por ele, que sabe fazer boas perguntas, bo-
lar estratégias para a busca de respostas, porque um
aluno desses, se você dá uma bolsa de iniciação cien-
tífica, ou abre a porta de um centro de pesquisas, vai
longe”. Durante as edições da feira, vários projetos con-
templaram a pessoa com deficiência, como o Touching
Notes II que leva o ensino da música para pessoas com
deficiência auditiva por meio das vibrações, cadeira de
rodas movida pelo sopro, Smart Glove luva para tra-
dução de Libras, e óculos mouse para o controle de ca-
deiras de rodas, entre outros. “O cérebro é nossa fonte
inesgotável de energia; ao desenvolvermos tecnologias
que ampliem as possibilidades humanas, abrimos uma
janela para o mundo”, diz Roseli.