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Teorias da Cultura e do Contemporâneo Roteiro da Aula5 O “glocal” 29 de março de 2011 Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro Faculdade de Comunicação - UFPA
Um fenômenodaglobalização, aparentementeparadoxal: a multiplicação dos sujeitosregionaiselocais.
Porqueparadoxal? Porque, afinal, a gobalizaçãonãoconteria, emsuaessência, umadinâmica de padronização? Então… comoexplicaressasrebeldiasaopadrão? Aoúnico, aoigual?
O fenômeno: 	De fato, a importânciaqueosespaçoslocaiseregionaistêmganhonasociedadecontemporâneapareciainimaginávelháduasdécadas, quandoodiscursosobre a globalizaçãoapresentava-a como um fenômeno de padronização, superação de diferençasculturaisedadiversidadee de convergencia radical de processoseconômicos.
Um exemplo no campo midiático: O padrão global/local no conteúdodaredes de TV Houveum momentoemque, emfunção das tecnologias de transmissãoedahegemonianorte-americana, se viu um fenômeno de nacionalizaçãonaprodução dos conteúdos. Hoje, háindícios de umareversãodessesfenômenos, com concessões a uma “vocação regional”.
No Brasil, verificou-se a forte centralização da produção no eixo Rio / São Paulo durante um período de cerca de 50 anos. Essa tendência, hoje, senão revertida, está sendo questionada. Bem menos na Amazônia dos que nas regiões Nordeste e Sul do país, mas, de qualquer forma, também na Amazônica, com suas peculiaridades.
A interpretação de Fadulet Rebouças: “As empresas locais, basicamente de constituição familiar (…) não querem ser tratadas como simples filiais ou representantes. Se comportam em relação aos grupos nacionais na busca de parcerias, não de dependência. O que buscam é uma margem de manobras suficiente que lhes permita dominar os mercados regionais, tendo como parceiros - mas não como matriz ou modelo - um ou mais dos grandes grupos de comunicações. Trata-se de uma negação subalterna” (2005).
Esses autores também falam do sentimento de orgulho herdado da tradição colonial-agrária, que teria se perpetado nos grupos familiares que controlam as empresas de mídia da região Nordeste – um fenômeno menos perceptível na Amazônia, provavelmente em função de que o espaço realmente tradicional da região, correspondente à zona de colonização antiga do estado do Pará, mantem-se, contemporaneamente, economica e politicamente, confrontado pelo imenso arco da fronteira colonizadora.
A questão da conexão e da negociação de sentidos entre o sistema-mundo e o sistema-local. 	Segundo Robertson (2000), o conceito de globalização tem como contrapartida fundamental a dimensão do local. É esse autor que propõe as noções de glocalização e de glocal – as quais dizem respeito às instâncias de negociação e mediação presentes na relação entre o mundo, o nacional e o regional/local.

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  • 1. Teorias da Cultura e do Contemporâneo Roteiro da Aula5 O “glocal” 29 de março de 2011 Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro Faculdade de Comunicação - UFPA
  • 2. Um fenômenodaglobalização, aparentementeparadoxal: a multiplicação dos sujeitosregionaiselocais.
  • 3. Porqueparadoxal? Porque, afinal, a gobalizaçãonãoconteria, emsuaessência, umadinâmica de padronização? Então… comoexplicaressasrebeldiasaopadrão? Aoúnico, aoigual?
  • 4. O fenômeno: De fato, a importânciaqueosespaçoslocaiseregionaistêmganhonasociedadecontemporâneapareciainimaginávelháduasdécadas, quandoodiscursosobre a globalizaçãoapresentava-a como um fenômeno de padronização, superação de diferençasculturaisedadiversidadee de convergencia radical de processoseconômicos.
  • 5. Um exemplo no campo midiático: O padrão global/local no conteúdodaredes de TV Houveum momentoemque, emfunção das tecnologias de transmissãoedahegemonianorte-americana, se viu um fenômeno de nacionalizaçãonaprodução dos conteúdos. Hoje, háindícios de umareversãodessesfenômenos, com concessões a uma “vocação regional”.
  • 6. No Brasil, verificou-se a forte centralização da produção no eixo Rio / São Paulo durante um período de cerca de 50 anos. Essa tendência, hoje, senão revertida, está sendo questionada. Bem menos na Amazônia dos que nas regiões Nordeste e Sul do país, mas, de qualquer forma, também na Amazônica, com suas peculiaridades.
  • 7. A interpretação de Fadulet Rebouças: “As empresas locais, basicamente de constituição familiar (…) não querem ser tratadas como simples filiais ou representantes. Se comportam em relação aos grupos nacionais na busca de parcerias, não de dependência. O que buscam é uma margem de manobras suficiente que lhes permita dominar os mercados regionais, tendo como parceiros - mas não como matriz ou modelo - um ou mais dos grandes grupos de comunicações. Trata-se de uma negação subalterna” (2005).
  • 8. Esses autores também falam do sentimento de orgulho herdado da tradição colonial-agrária, que teria se perpetado nos grupos familiares que controlam as empresas de mídia da região Nordeste – um fenômeno menos perceptível na Amazônia, provavelmente em função de que o espaço realmente tradicional da região, correspondente à zona de colonização antiga do estado do Pará, mantem-se, contemporaneamente, economica e politicamente, confrontado pelo imenso arco da fronteira colonizadora.
  • 9. A questão da conexão e da negociação de sentidos entre o sistema-mundo e o sistema-local. Segundo Robertson (2000), o conceito de globalização tem como contrapartida fundamental a dimensão do local. É esse autor que propõe as noções de glocalização e de glocal – as quais dizem respeito às instâncias de negociação e mediação presentes na relação entre o mundo, o nacional e o regional/local.