Este documento fornece uma biografia e resumo das ideias e trabalho do teórico musical canadense Murray Schafer. A biografia detalha sua educação musical, trabalho com projetos sonoros e pedagógicos. Suas ideias principais incluem a noção de "paisagem sonora", a classificação de sons e a importância da educação musical criativa e experimental para crianças.
1. Nélson Ramalhoto – 27444
1º Ano do Mestrado em Educação Musical no Ensino Básico
Didática da música
DOCENTE: Professor António Pacheco
Abril de 2012
Raymond Murray Schaffer
3. Biografia de Murray Schaffer
• Nasce em 1933 em Sarnia, Ontário, Canadá
• Estuda no Conservatório Real de Toronto
• Destaca-se na década de 50 quando organiza no
Conservatório um concerto com novas composições
1955
▫ Deixa os seus estudos
▫ começa a trabalhar como autodidata
▫ Interessa-se por línguas, literatura e filosofia
4. Biografia de Murray Schaffer
1956
▫ deixa o Canada com intenção de estudar música na Academia de Viena
1958
▫ Depois de dois anos em Viena dirige-se para Londres
▫ trabalha informalmente com o compositorPeter Racine Fricker
▫ Ganha a vida como jornalista, chegou a trabalhar para a BBC
▫ realiza uma série de entrevistas a compositores britânicos publicadas
como British Composers in interview
1960
▫ Ainda em Inglaterra, casa com a sua 1ª esposa a mezzosoprano
canadiana Phyllis Mailing
5. Biografia de Murray Schaffer
1962
▫ regressa ao Canadá
▫ participa ativamente na fundação dos Ten Centuries Concerts
1963
▫ Torna-se em artista residente na Newfoundlands Memorial
University
A partir de 1965
▫ trabalha no Departamento de Estudos em Comunicação da
Universidade Simon Fraser onde criou o The World Soundscape
Project (WSP) - (Projeto Paisagem Sonora Mundial)
6. Biografia de Murray Schaffer
1972
▫ recebe da UNESCO e da Donner Foundation uma bolsa para investigar a ecologia
acústica de todo o mundo.
1975
▫ estabelece-se numa quinta nos arredores de Bancroft (Ontario), mas permanece
associado ao projeto
▫ Em setembro , casa com Jean Elliott, divorciando-se de seguida
1984
▫ deixa em a região de Maynooth para se estabelecer em Saint-Gall, Suiça
1987
▫ compra uma quinta numa aldeia perto de Peterborough (Ontario)
7. Biografia de Murray Schaffer
Dos anos 80 até hoje
▫ tenta uma espécie de integração total
(música, teatro, ecologia)
▫ desenvolve projetos rituais ecológicos
artísticos, ligados a aspetos simbólicos ancestrais
8. “Eis a nova orquestra, o universo sonoro”.
(Schaffer 1977, 20)
Teórico
9. Pensamento de Murray Schaffer
“Fomos ensinados a interferir nos sons naturais em toda a
nossa educação, a moldá-los, e a transformá-los em algo
melhor. Mas talvez deveríamos deixá-los como são e
escutá-los como são”
10. Pensamento de Murray Schaffer
“A melhor forma de entender o que quero dizer
com projeto acústico é considerar a paisagem
sonora mundial como uma imensa composição
musical”.
(Schaffer 1977, 161)
11. Projeto Paisagem Sonora Mundial
The World Soundscape Project (WSP)
1) Estudo interdisciplinar dos ambientes acústicos
(paisagem sonora) e seus efeitos sobre o homem;
2) Modificar e melhorar ambientes acústicos;
3) Educar estudantes, pesquisadores e público geral;
4) Publicar materiais que servissem de guia a estudos
futuros.
12. 1. Estudo interdisciplinar dos ambientes
acústicos (paisagem sonora) e seus efeitos
sobre o homem;
“Uso a palavra soundscape para referir-me ao ambiente
acústico. Parece-me absolutamente essencial que
comecemos a ouvir mais cuidadosamente e criticamente a
nova paisagem sonora do mundo moderno”.
(Schaffer 1977, 161)
13. “Todos os sons fazem parte de um campo
contínuo de possibilidades, que pertence ao
domínio compreensivo da música”.
(Schaffer 1977, 20)
14. CLASSIFICAÇÃO DOS SONS
Sons principais: constituem a nota principal de uma paisagem
sonora, ainda que a perceção possa não ser
consciente;
Sinais sonoros: são sons que de repente ganham um primeiro plano (o
alarme de um carro, o apito de um polícia, o toque
da campainha);
Marcas sonoras: trata-se de um som único dum determinado
ambiente geográfico, confere identidade ao lugar (o
mar, um campo de aviação, um porto).
15. CLASSIFICAÇÃO DOS SONS
alta fidelidade (hi-fi): ricos em informação acústica e capazes de
serem interpretados com mestria pelos
povoadores;
baixa fidelidade (low-fi): o resultado do predomínio de sons
mais fortes que o ambiente, que mascaram
toda a variedade acústica local.
16. CLASSIFICAÇÃO DOS SONS
O ambiente silencioso da paisagem sonora hi-fi permite o ouvinte
escutar mais longe (...). A cidade abrevia essa habilidade para a
audição (e visão).
17. Notação dos sons
• Tentativa de substituir factos auditivos por sinais visuais;
• Dilema da notação convencional – já não está à altura de enfrentar o
mundo da expressão musical e do ambiente acústico;
• Classificação dos objetos sonoros
Perceção dos sons
• Competência sonológica (descrição sonora de terramoto)
• Competências musicais (música árabe vs ocidental)
• Gesto e textura (ilusão auditiva)
18. • Em alguns aspetos desponta uma certa visão mística.
• Existe um desejo de restituir um instrumento e uma
sonoridade que seja ordenado pela mão divina.
• “É preciso reencontrar o segredo dessa afinação”
(Schafer 1977: 22).
• “Deus foi um engenheiro acústico de primeira classe”
(Schafer 1977: 290).
19. “Hoje o ruído reina supremo
sobre a sensibilidade humana”.
(Schaffer 1977, 161)
20. • É significativo todo o seu esforço em alertar-nos
para um facto que estarmos a perder, um modo
de escuta em estado de extinção.
• Reivindica o direito a um estado de silêncio, de
se isolar da máquina, do vizinho, do moozak, das
buzinas, dos motores.
21. “O professor (…) é um rinoceronte na
sala de aula.
(Sem) couraça blindada (…), precisa
permanecer uma
criança, sensível, vulnerável, aberto a
mudanças”
(Schaffer 1986, 282)
Pedagogo
22. Schaffer, Pedagogo
• Desenvolveu sua própria teoria pedagógico-
musical, a partir de experiências
• A sua proposta consiste numa investigação
experimental, que gerou princípios que ele
chamou de Educação Sonora.
23. Schaffer, Pedagogo
O seu enfoque inovador em educação musical constitui um dos aspetos mais
significativos da sua carreira.
O compositor na sala de aula - 1967
Quando as palavras cantam - 1970
O rinoceronte na sala de aula – 1975
A afinação do mundo - 1977
O ouvido pensante – 1986
A educação sonora: 100 exercícios de audição e produção sonora - 1992
Os seus exercícios ilustram as experiências com os seus estudantes e
enquadram-se nas primeiras tentativas de introduzir nas escolas os conceitos de
audição criativa e de consciência sensorial preconizadas por Cage.
24. Princípio básico: fomentar a
produção criativa das crianças
• Schafer não concebe o ensino da música enquanto
aprendizagem dos sistemas de notação, biografias de
autores ou peças clássicas
• “Só é possível estudar sons produzindo sons, só é
possível estudar música fazendo música”.
• Ainda que não se conte com os recursos necessários, é
possível produzir sons
25. Schaffer, Pedagogo
• Desde o início, muito antes de qualquer instrução formal
“tentei que a entusiasta descoberta da música preceda a
habilidade de tocar um instrumento ou de ler notas”.
• O momento indicado para produzir as habilidades
processuais é quando a criança pergunta por elas.
• Chama a atenção que esta maneira de proceder está no
limiar do risco, trata-se de um método eminentemente
experimental
26. Schaffer, Pedagogo
• Nas aulas de música está sempre presente o
lúdico, tantas vezes esquecido em aulas de música.
• Fazer a própria música - que os participantes se
expressem através do som, com liberdade e
imaginação
• Destaca a importância da liberdade de improvisar e
criar enquanto processo de descoberta.
27. Schaffer, Pedagogo
• A importância de ensinar música às crianças radica na
possibilidade de formar uma geração que recupere uma
capacidade inerente à sua natureza como é a de
reconhecer e desfrutar os diversos sons do seu
envolvimento.
• Mais do que isso, ser capaz de criar música com os sons
e intervir até no desenho de uma paisagem acústica.
28. Schaffer, Pedagogo
“Os ouvidos de uma pessoa verdadeiramente
sensível estão sempre abertos. Não existem
pálpebras nos ouvidos”.
(Schafer 1986: 288)
29. Schaffer, Pedagogo
Limpeza de ouvidos
• Limpeza, no sentido de abrir os ouvidos para perceber os sons
• Rever e analisar conceitos
• Fazer a própria música
Exercícios:
• Turista na paisagem sonora (anotação de sons)
• Passeios sonoros – partitura, treino auditivo da altura, produção de sons
• Composições com um só som
“As habilidades de improvisação e criatividades - atrofiadas por anos sem uso - são
redescobertas e os alunos aprendem de modo prático temas como dimensão e
formas musicais”.
30. Schaffer, Pedagogo
• Escola de audição
• Treinar a perceção auditiva e saber enfrentar o problema
de um meio ambiente conformado por sons e ruídos não
estruturados.
• O primeiro passo na aprendizagem da música consiste
em descobrir tudo o que pudermos sobre os sons – sua
física, sua psicologia, a emoção de o produzir ou
encontrar
31. Schaffer, Pedagogo
“A música eleva-nos porque nos transporta de um
estado vegetativo para uma vida vibrante”.
(Schafer 1986: 294)
32. Schaffer, Pedagogo
• Ponto de encontro de todas as artes
• Schafer não propõe o ensino da música como um caminho
especializado e separado de toda a experiência humana
• Compartimentar o ensino das artes é uma fragmentação da
experiência e pode converter-se numa experiência traumática.
• Educação artística integral e globalizante
• Genuína explosão criativa da sensorialidade (reviver os
senso-recetores que se estão a atrofiar)
33. Schaffer, Pedagogo
Música é algo que soa, se não há som, não há
música.
(Schafer 1986: 307)
• A notação musical é algo de complicado e para dominá-lo são
necessários anos de treino.
• No início, cada aluno faz a sua notação, seja aprendida rapidamente
• Uma tarefa essencial dos educadores musicais deveria ser de
inventar uma notação que possam ser dominadas rapidamente,
para não retirar o prazer da criação musical.
34. Schaffer, Pedagogo
O papel do professor
• “O professor, por ser mais velho, mais experiente, é um
rinoceronte na sala de aula.
• Precisa permanecer uma criança, sensível, vulnerável,
aberto a mudanças”
• Proporcionar uma dinâmica de descoberta.
• Estar preparado para ceder protagonismo às crianças.
• “Planear a sua própria extinção”
35. 10 máximas dos educadores
1. O primeiro passo prático, em qualquer reforma educacional, é dar
o primeiro passo prático.
2. Na educação, fracassos são mais importantes que sucessos. Nada
é mais triste que uma história de sucessos.
3. Ensinar no limite do risco.
4. Não há mais professores. Apenas uma comunidade de aprendizes.
5. Não planeies uma filosofia de educação para os outros. Planeia
uma para ti mesmo.
36. 10 máximas dos educadores
6. Para uma criança de cinco anos, arte é vida e vida é arte. Para uma de seis, arte é
arte e vida é vida. O primeiro ano escolar é um divisor de águas na história da
criança: um trauma.
7. A proposta antiga: o professor tem a informação; o aluno tem a cabeça vazia.
Objetivo do professor: empurrar a informação para dentro da cabeça vazia do
aluno.
8. Ao contrário, uma aula deve ser uma hora de mil descobertas. Para que isso
aconteça, professor e aluno devem em primeiro lugar descobrir-se um ao outro.
9. Por que são os professores os únicos que não se matriculam nos seus próprios
cursos?
10. Ensinar sempre provisoriamente: Deus sabe com certeza.
37. Schaffer, Pedagogo
Desafios político-educativos
• Proporcionar meios capazes de promover e sustentar esta
transição de uma escola repetitiva para uma criativa
• Apesar das conferências internacionais, da Comissão Delors e
da revolução cognitiva de Edgar Morin, a dimensão pessoal e
afetiva dos alunos entrou nos currículos, mas não entrou nas
salas de aulas
• O desenvolvimento do potencial criativo e do pensamento
divergente também entrou nos currículos, mas não
ultrapassou as paredes da escola.
38. Bibliografia
Obici, G. (2006). Condição da Escuta, mídias e territórios sonoras.
Mestrado em Comunicação e Semiótica. São Paulo:
PUC.
Schafer, R. M. (1977). A afinação do mundo. (M. T. Ponferrada, Trad.)
São Paulo: Unesp.
Schafer, R. M. (1992). A sound of education, 100 exercices in
Listening and Sound-Making. Indian River: Arcana
Editions.
Schafer, R. M. (1987 (1991)). O ouvido pensante. (M. T. Ponferrada,
M. G. Silva & M. L. Pascoal, Trads.) São Paulo: UNESP.