1) A Grécia antiga era constituída por diversas cidades-estados independentes chamadas pólis. Atenas destacou-se no século V a.C. como um modelo político e cultural.
2) Atenas estabeleceu a primeira democracia, onde todos os cidadãos tinham direito a participar na política e a votar, independentemente de sua riqueza. Isso fez de Atenas a "escola da Grécia".
3) Atenas tornou-se um importante centro político e cultural, identificando-se
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A Escola de Atenas
1. 1
A herança da Antiguidade Clássica
O modelo ateniense
Por Raul Silva
Embora unida pela mesma língua, pela mesma cultura e pela devoção aos mesmos deuses, a
Grécia nunca adquiriu coesão política. Ciosas da sua autonomia, muitas vezes rivais entre si,
as cidades gregas constituíram o núcleo de pequenos estados independentes, a que os Helenos
chamaram pólis.
É neste mundo fracionado que Atenas se destaca, tornando-se, no século V a. C., a "escola da
Grécia".
Escola, em primeiro lugar, no que diz respeito à política: em Atenas nasce a primeira
democracia, uma democracia direta, amplamente participada, que, apesar das suas
limitações, promove a igualdade e a justiça.
Escola também no que diz respeito à cultura: é na Atenas democrática que os arquitetos e os
escultores criam as mais belas obras de arte, que os dramaturgos encenam as primeiras peças
de teatro, que os filósofos e os oradores cultivam o pensamento e a palavra.
Centro político e cultural de primeira grandeza, Atenas identifica-se com o esplendor da
civilização grega e o seu legado ao mundo acidental.
CADERNODIÁRIO
EXTERNATO LUÍS DE
CAMÕES
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25deSetembrode2015
2. 2
CADERNODIÁRIO25deSetembrode2015
A Pólis
o espaço, os
cidadãos e as leis
Os antigos gregos, os helenos, sentiam-
se unidos por laços históricos e
culturais, mas, por outro lado, viviam
separados pela distribuição em pólis
(mais de duas mil).
O relevo montanhoso, o território
recortado e a ocupação da Grécia
Continental, Asiática e Insular por
sucessivos povos favoreceram a criação
da pólis ou cidade-estado.
O território de uma pólis era
constituído por uma zona rural, uma
zona urbana e uma zona de ligação ao
mar. Na zona urbana da pólis
distinguiam-se ainda dois espaços
cívicos importantes, a acrópole e a
ágora. A acrópole era um local de
defesa, elevado, muralhado, onde se
localizavam os principais templos, das
cidades-estado; tinha uma função
defensiva e religiosa. A ágora era uma
praça pública das cidades-estado gregas,
localizada na parte baixa da cidade,
onde se encontravam o mercado e
outros locais públicos (teatros, estádios,
etc.), as habitações populares, os órgãos
de governo e de administração; tinha
uma função económica, política e
administrativa. Na ágora também
existiam altares e templos.
Em redor da ágora, e já como expressão
do racionalismo grego, as construções
estavam organizadas geometricamente.
O requinte e a beleza dos templos e
edifícios públicos contrastavam com a
simplicidade das habitações
particulares.
A pólis é composta por corpo cívico, ou
seja, o conjunto dos cidadãos a quem
eram reconhecidos direitos civis e
políticos; em número reduzido, o corpo
cívico era essencial para a condução dos
negócios públicos, para a feitura das leis,
assim como para a organização das
cerimónias religiosas, Nele não se
incluíam as mulheres, os escravos nem
os estrangeiros ou metecos, isto é,
gregos oriundos de outras pólis.
A pólis necessita de um conjunto de leis,
para estabelecer a ordem e assegurar a
governação da cidade.
O ideal da pólis era a autarcia, princípio
segundo o qual uma pólis tinha de ser
autossuficiente, ou seja, bastar-se a si
própria; só assim a sua sobrevivência
enquanto comunidade autónoma
estaria assegurada; este ideal prendia-se
com o espírito orgulhoso e
independente dos gregos e com as
profundas rivalidades que dividiam as
várias cidades-estado, e com frequência
as lançavam em guerra.
A pólis, podendo significar
simultaneamente um Estado, um povo e
uma cidade, era mais pequena do que
os atuais países europeus, permitindo
uma governação desburocratizada e
uma efervescente atividade cultural.
Responder:
a) Explique a formação das pólis.
b) Descreva os espaços da cidade
grega.
c) Indique os elementos
indispensáveis à existência da
pólis grega.
A Pólis
e a dimensão ideal
Aristóteles, A Política
“Demasiado pequena, não pode
satisfazer as suas necessidades, o que
constitui uma condição essencial da
cidade; demasiado extensa, basta-se a si
mesma, não como cidade, mas como
nação, e nela quase se torna impossível
o governo. (…)
A justa proporção para o corpo político
consiste, por certo, na existência do
maior número de cidadãos possível, e
que sejam capazes de satisfazer as
necessidades da sua existência; mas não
tão numerosos que possam eximirem a
uma fácil inspecção ou vigilância. (...)
Vejamos quantos elementos são
indispensáveis à existência da cidade
(...): Em primeiro lugar, as subsistências;
depois, as artes, indispensáveis à vida
(...); em quarto lugar, certa abundância
de riquezas, tanto para atender às
necessidades interiores como para a
guerra; em quinto lugar, que
poderíamos ter posto no início, o culto
divino, ou, como costuma ser
designado, o sacerdócio; finalmente, e
este é o objeto mais importante, a
decisão dos assuntos de interesse geral e
os processos individuais. (...)
Se um dos elementos faltar, torna-se
impossível que a associação se baste a si
mesma.”
“Dever-se-ia instalar uma
praça (…) a quem
chamam Praça Livre.
Essa praça estaria livre,
com efeito, de qualquer
tipo de comércio (...). Um
lugar assim tornar-se-ia
deveras aprazível se nele
se erigissem ginásios
para adultos (…). A praça
do mercado, por seu
turno, deveria ser um
local distinto e separado
daquela, propício para a
acumulação de todos os
produtos, tanto os
transportados por mar
como por terra.”
Aristóteles, A Política
Atenas
Se a acrópole ateniense era o centro da vida
religiosa, cerimonial e patriótica, a ágora era o
centro da vida quotidiana,
3. 3
CADERNODIÁRIO25deSetembrode2015
A democracia
e o seu caráter
direto
Os Atenienses possuíam igualdade nos
direitos (isonomia), no falar (isegoria) e
no poder (isocracia).
A isonomia estabelecia que as leis eram
iguais para todos os cidadãos,
independentemente da riqueza ou do
prestígio destes, garantia que o cidadão
se destacava pelo mérito e não pelos
bens ou nascimento.
A isocracia era uma norma que
estabelecia que todos os cidadãos
tinham igual direito ao voto e a
desempenhar cargos políticos,
encorajava a participação na vida
política da cidade. Para que nenhum
cidadão, nem mesmo o mais pobre,
fosse afastado da vida cívica, os cargos
eram remunerados (mistoforias). No
entanto, esse pagamento era mais baixo
do que o de um pedreiro, de modo a
que os cargos políticos não fossem
procurados para enriquecimento de
quem os executava. Vários cargos,
como o de membro do Conselho da
Bulé, o de arconte (magistrados) e o de
membro do tribunal do Helieu eram
sorteados, para que todos pudessem
intervir. Na participação política
privilegiava-se a rotatividade das
funções, de modo a evitar que um
tirano se apoderasse do governo da
cidade.
Por último, a isegoria – igual direito de
todos os cidadãos ao uso da palavra –
favorecia o discurso político como
forma de participação cívica. A oratória
(dom da palavra) era altamente
valorizada. A palavra isegoria era
algumas vezes empregada pelos
escritores gregos como sinónimo de
democracia. Existiam mesmo escolas de
bem falar. Isócrates afirmava, por isso,
que a maneira de falar “é o sinal mais
seguro da educação de cada um de
nós”. No entanto, já nessa época se
alertava contra a prática da demagogia
(conquista da confiança do povo através
do discurso vazio ou de promessas
irrealizáveis).
Praticava-se, portanto uma democracia
direta, bem diferente da democracia
representiva dos nossos dias.
Responder:
a) Caraterize a democracia
ateniense evidenciando o seu
caráter direto.
A democracia
ateniense
e a sua superioridade
Tucídides, A Guerra do Peloponeso
“O nosso sistema político não inveja as
leis dos nossos vizinhos, pois temos mais
de paradigmas para os outros do que de
seus imitadores. O seu nome é
democracia, pelo facto da direção do
Estado não se limitar a poucos, mas se
estender à maioria; em relação às
questões particulares, há igualdade
perante a lei; quanto à consideração
social, à medida em que cada um é
conceituado, não se lhe dá preferência
nas honras públicas pela sua classe, mas
pelo seu mérito; nem tão pouco o
afastam pela sua pobreza, ou pela
obscuridade da sua categoria, se for
capaz de fazer algum bem à cidade. (…)
Além disso, pusemos à disposição do
espírito muitas possibilidades de nos
repousarmos das fadigas. Temos
competições e sacrifícios tradicionais
pelo ano fora; e usufruímos de belas
casas particulares (…). Devido à
grandeza da cidade, afluem aqui todos
os produtos (…) e acontece que
desfrutamos dos bens locais com não
menos abundância (…). Em resumo,
direi que esta cidade, no seu conjunto, é
a escola da Grécia.”
“Os cidadãos são os
preferidos para a gestão
dos negócios públicos,
atendendo mais ao seu
mérito do que à sua
classe social. A pobreza
não conta: se alguém
pode prestar serviços à
cidade não é a humildade
da sua condição que
disso o impede. É como
homens livres que nós
administramos o Estado.
(...)”
Tucídides, A Guerra do Peloponeso
Relógio de água (clepsidra)
Usado nas sessões do tribunal do Helieu.
Permitia assegurar, ao asusador e ao acusado,
o mesmo tempo de palavra.
4. 4
O cidadão é o que tem parte na decisão
e no comando. Esta participação
exerce-se através das assembleias, dos
conselhos e dos tribunais. Retomando o
caso de Atenas, temos em primeiro
lugar um órgão que abrangia a
totalidade dos cidadãos, Eclésia ou
assembleia. Composta por cidadãos do
sexo masculino com o serviço militar já
cumprido, inscritos nas demos
atenienses.
A Eclésia possuía funções legislativas e
deliberativas: propunha, discutia e
aprovava as leis e o ostracismo;
designava por eleição ou sorteio, os
magistrados e fiscalizava a sua atuação;
decidia sobre a guerra ou a paz;
negociava e ratifica tratados; controlava
as finanças e as obras públicas; julgava
crimes políticos. As suas decisões eram
tomadas por maioria de votação, e esta
fazia-se geralmente de braço no ar. Para
não afastar os cidadãos dos seus
afazeres, a Eclésia reunia três a quatro
vezes por mês, embora algumas sessões
durassem mais do que um dia.
Um outro órgão, a Bulé ou conselho,
preparava as leis e os projetos para
votação na Eclésia. Para este conselho,
qualquer cidadão podia ser nomeado,
mas não mais de duas vezes na vida, e
essas não seguidas, o que assegurava a
rotatividade de exercício de tais funções.
Para além dos buletas, o Governo
ateniense contava ainda com um corpo
de magistrados que executavam todo o
tipo de funções públicas e faziam
cumprir as leis. Eram designados por
eleição ou sorteio, consoante os cargos,
e possuíam mandatos anuais. O seu
desempenho era fiscalizado pela Bulé e
pela Eclésia, a quem tinham de
apresentar contas no final dos seus
mandatos, apresentando, inclusive,
relatório dos bens pessoais tidos no
início e no fim da função exercida. Os
arcontes organizavam as grandes
cerimónias religiosas e fúnebres e
presidiam aos tribunais. Os estrategos
ocupavam-se das questões militares, na
chefia da marinha e do exército e
regiam a política externa. Não eram
sorteados, mas eleitos, mediante listas
propostas pelas tribos, podendo cumprir
vários mandatos. Os escolhidos eram,
quase todos, descendentes das famílias
nobres.
A aplicação da justiça cabia a dois
tribunais. O Areópago era formado
pelos arcontes que haviam cessado
funções e que nele possuíam assento
vitalício; julgava os crimes religiosos, os
homicídios e os de incêndio. O Helieu
julgava todos os restantes delitos;
compunham-no 6000 juízes (600 por
cada tribo), sorteados anualmente, que
funcionavam divididos por secções; os
julgamentos constavam das alegações
do acusador e do acusado, posto o que
se seguia o veredito dos juízes que
decidiam coletivamente, por maioria,
através do voto secreto.
Responder:
a) Distinga, nas instituições da
Atenas democrática, os órgãos
do poder legislativo, do poder
executivo e do poder judicial.
“Eu votarei em conformidade
com as leis e com os decretos
do povo ateniense (...), e não
adrei o meu voto nem a um
tirano, nem à oligarquia. (...)
Não darei o direito de exercer a
magistratura para que tenha
sido designado a alguém que
não tenha prestado contas de
uma outra magistratura. (...)
Não aceitarei presentes
enquanto heliasta, nem por
mim próprio, nem por
intermédio de outro ou de
outra, através de qualquer
outro artifício ou maquinação.”
Aristóteles, Política
Os orgãos do poder da democracia
e a participação do cidadão
CADERNODIÁRIO25deSetembrode2015
Ficha de voto pelos
juízes
Feita de bronze e tem
a inscrição psephos
demosia (voto do
povo).
Depois de ouvidas as
alegações do
acusador e do
acusado, eram
distribuídas duas
fichas a cada juiz:
uma, tinha a haste
central e era usada
caso o juiz decidisse a
favor da acusação; a
outra, muito
semelhante, tinha
uma haste central
fechada e significava
absolvição. Os juízes
depositavam o seu
voto numa ânfora, a
fim de manterem
secreto o escrutínio.
A democracia
e o poder da maioria
Aristóteles, Política
“O fundamento da constituição democrática é a
liberdade. Costuma afirmar-se isso, sob alegação
de que apenas nesse regime se goza de liberdade;
esse é, segundo se diz, o objetivo que visa toda a
democracia. Uma das caraterísticas da liberdade
reside em ser governado e governar à vez.
A justiça democrática consiste na igualdade
segundo o número e não segundo o mérito. De
tal noção de justiça resulta que a soberania estará
necessariamente no povo e que a opinião da
maioria deverá ser o fim a conseguir e deverá ser
a justiça. (…) Como resultado disso, nas
democracias, os pobres são mais poderosos do
que os ricos: são em maior número e a
autoridade soberana está na maioria. Esse é, pois,
um sinal de liberdade que todos os democratas
colocam como marca do regime (…).”
5. 5
CADERNODIÁRIO25deSetembrode2015
A democracia
e as suas
limitações
O cidadão é o que tem parte na
decisão e no comando. Esta
participação exerce-se através das
assembleias, dos conselhos e dos
tribunais. Os detentores de tais direitos
eram os cidadãos. Porém, só eram
considerados cidadãos os indivíduos
livres (não-escravos) do sexo masculino,
filhos de pai e mãe ateniense, maiores
de dezoito anos e com serviço militar
(de dois anos) cumprido. Esses
representavam apenas um estrato da
população, de modo algum a
totalidade. Em 430 a.C., 30.000
cidadãos, 120.000 familiares, 50.000
metecos, 100.000 escravos, o que dá,
para cerca de 300.000 habitantes da
Ática, apenas cerca de 10% da
população. Os pequenos comerciantes,
marinheiros, lavradores, artesãos, é que
constituíam a maioria da população.
Assim, a democracia tornava-se o
governo da minoria, e não da maioria.
Em consequência desta contradição,
ficavam excluídos dos direitos políticos
as mulheres, os metecos (e suas famílias)
e os escravos.
As mulheres podiam cuidar dos filhos e
assistir às festas no templo de Hera. As
mulheres eram responsáveis pelos
trabalhos domésticos; deviam
obediência ao pai, marido e filho mais
velho; pautar a sua vida pela discrição e
sobriedade; sair raramente de casa,
proteger-se com um véu e fazer-se
acompanhar por escravas.
Os metecos podiam dedicar-se ao
comércio e ao artesanato; participar nas
festas da cidade-estado ou nos Jogos
Olímpicos, como espetadores; recorrer
ao tribunal. Por outro lado, tinham de
pagar impostos, prestar serviço militar e
só podiam casar com mulheres que não
fossem atenienses.
Os escravos não tinham qualquer
direito, eram propriedade dos seus
donos e tinham de trabalhar
gratuitamente nos serviços domésticos,
nos campos, nas oficinas e nas minas.
Era uma sociedade desigual e
esclavagista, o que contradiz os
princípios da noção atual de
democracia. Apesar disso, a
incorporação de tais pessoas na
comunidade política como membros de
pleno direito, novidade surpreendente
no seu tempo, raramente repetida
depois, salva, por assim dizer, parte do
sentido da democracia antiga.
Para além da segregação dos sexos e da
discriminação de certos estratos
populacionais, a democracia ateniense
foi contestada por outras questões,
nomeadamente a do ostracismo. A
Eclésia baniu da cidade de Atenas
figuras marcantes da política, apenas
porque discordavam da linha
dominante de pensamento. Além disso,
a condenação à morte de Sócrates,
acusado de corromper a juventude, ter-
se-á tratado de um caso de censura.
Responder:
a) Refira os limites da participação
democrática em Atenas.
A sociedade ateniense
e a condição humana
Aristóteles, Política
“A própria natureza assim o quis, dado
que fez os corpos dos homens livres
diferentes do dos escravos, dando a estes
o vigor necessário para as obras difíceis
da sociedade, dando a estes o vigor
necessário para as obras difíceis da
sociedade, e fazendo, contrariamente,
os primeiros incapazes de dobrar o seu
erecto corpo para dedicar-se a
trabalhos duros, e destinando-os
somente às funções da vida civil,
repartida entre as ocupações da guerra
e da paz. (…)
Seja como for, é evidente que os
primeiros são naturalmente livres e os
segundos naturalmente escravos; e que
para estes últimos é a servidão tão útil
como justa.”
“Muitas vezes olho a
condição das mulheres
desta forma: nós somos
ninguém. Quando
crianças, penso, vivemos
a mais doce das vidas em
casa do nosso pai. Mas
quando nós, uma vez
chegadas à idade da
razão e da puberdade,
somos vendidas e
empurradas para fora da
casa (...) algumas para
bons lares, outras para
maus (...) temos ainda
que dar graças e pensar
que tudo está bem.”
Sófocles, Tereus
Os metecos
Os Gregos nutriam uma enorme admiração
pelas coisas belas, mas depreciavam a sua
execução. Por isso, as atividades artesanais,
desconsideradas e mal pagas, recaíam sobre
os metecos.
6. 6
CADERNODIÁRIO25deSetembrode2015
A democracia
antiga
e a atual
O sistema democrático ateniense
rodeava-se de todas as cautelas para
prevenir a corrupção e os abusos de
poder, e fazer com que todos os
cidadãos participassem no governo da
cidade.
Os atenienses davam preferência ao
sorteio em relação à eleição, uma vez
que todos deviam ter assegurada a
possibilidade de participar nos cargos
políticos e não só os mais importantes
ou cultos; o sorteio assegurava
igualdade e rotatividade no acesso.
A remuneração pelo exercício de
cargos públicos (mistoforias) permitia a
atribuição de subsídios de modo a
obter uma maior disponibilidade das
pessoas. A participação política não
devia estar condicionada à fortuna de
cada um.
O caráter transitório e rotativo dos
cargos evitava a corrupção, formação de
clientelas e abuso do poder.
A prestação de contas pelos magistrados
no fim dos mandatos evitava o abuso do
poder e a corrupção.
A preocupação de contrabalançar os
perigos que eventualmente podiam
conduzir à degeneração do sistema deu
origem a duas medidas preventivas
famosas: o ostracismo e a acusação de
se ter feito uma proposta ilegal à
Assembleia. Pela primeira, um cidadão
demasiado influente era afastado da
cena política por um período que podia
ir até dez anos; pela segunda, podia ser
castigado que tivesse apresentado à
Assembleia uma proposta ilegal, ainda
que aprovada por aquela.
Comparando os princípios da
democracia ateniense com os preceitos
da democracia actual, encontramos
pontos de convergência e de
divergência. As duas formas de
democracia têm em comum:
• a vontade de satisfazer os desejos dos
cidadãos (ainda que nos nossos dias o
conceito de cidadão seja diferente);
• a divisão dos poderes – legislativo,
executivo, judicial – pelas diferentes
instituições;
• o uso da retórica como arma política;
• o tratamento igual de todos os
cidadãos perante a lei.
Eram caraterísticas da democracia
ateniense, nomeadamente:
• um corpo cívico reduzido em
comparação com o das democracias
actuais (porém, alargado, em
comparação com o dos regimes
políticos da Antiguidade);
• a aplicação do ostracismo;
• a existência legal da escravatura;
• a discriminação das mulheres e dos
estrangeiros;
• a valorização do sorteio como forma
de participação política;
• a democracia direta (impraticável nos
nossos dias, pelo grande volume de
população).
A democracia
e a participação
M. Findley, Democracia Antiga e Moderna
“Considerável proporção de cidadãos
do sexo masculino de Atenas tinha
alguma experiência direta no governo,
muito superior a qualquer uma de que
tenhamos conhecimento ou que até
mesmo possamos imaginar. Era
literalmente verdadeiro que um menino
ateniense, ao nascer, tinha maior
probabilidade do que a da mera sorte
de ser presidente da Assembleia, um
posto rotativo ocupado por um único
dia e, como sempre, preenchido por
alguém sorteado.”
Responder:
a) Indique os mecanismos de
proteção da democracia direta.
b) Compare a democracia
ateniense com a democracia
atual.
“Os discursos belos e
artísticos não são
apanágio das pessoas
inferiores, mas obra de
uma alma que pensa
bem; os sábios e os que
parecem ignorantes
diferem uns dos outros
sobretudo nisto. (...)
Os que foram criados
desde início como
homens livres (...)
distinguem-se pela
maneira de falar, e é este
o sinal mais seguro da
educação de cada um de
nós.”
Isócrates, Panegírico
Ostrakon
Todos os anos, a Eclésia decidia se se devia
ou não votar o ostracismo. Os cidadãos
depositavam o seu ostrakon numa caixa, com
o nome voltado para baixo, a fim de assegurar
o secretismo do voto.