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A sociedade industrial e urbana
uma sociedade oitocentista
Por Raul Silva
Na segunda metade do século XIX, o forte aumento populacional, consequência da melhoria das
condições de vida e de melhores cuidados de saúde, operou uma profunda transformação na sociedade.
Contribuiu para o desenvolvimento e expansão urbana, que se verificou nesta época, pelo que as cidades
dos países mais industrializados da Europa e dos Estados Unidos conheceram um importante
crescimento. Como tal, foram obrigados a repensar os modelos urbanísticos, com vista a solucionar os
problemas decorrentes do crescimento industrial, do desenvolvimento de novas indústrias e do
surgimento de novos meios de transporte.
A explosão populacional teve também consequências nas migrações internas, facilitadas pelo
desenvolvimento dos transportes, bem como no crescimento da emigração, não só entre diferentes países
europeus, mas também intercontinental, tendo os Estados Unidos da América assumido um papel
relevante.
O século XIX conheceu uma transformação social significativa. A burguesia assumiu especial
preponderância no mundo dos negócios e no desenvolvimento industrial. Aqueles que pertenciam à elite
burguesa detinham o capital e os meios de produção, enquanto a pequena e média burguesa
desempenhava funções, sobretudo, no setor terciário, vivendo do salário que recebiam. Em oposição à
alta burguesia estava o operariado que, com baixos salários e confrontado com difíceis condições de vida,
encontrou no associativismo e no sindicalismo um meio de defesa dos seus interesses. Foi neste contexto
que surgiram as propostas socialistas de transformação para uma sociedade mais justa e igualitária.
CADERNODIÁRIO
EXTERNATO LUÍS DE
CAMÕES
N.º 11
https://
www.facebook.com/
historia.externato
http://
externatohistoria.blog
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externatohistoria@gm
ail.com
2deFevereirode2015
2
CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015
Sociedade
oitocentista
unidade e
diversidade
As principais transformações sociais
ocorridas no século XIX foram
resultantes das revoluções liberais e da
proclamação da igualdade e da
liberdade como valores fundamentais,
sendo abolida a sociedade de ordens
baseada no privilégio e no nascimento.
No entanto, continuou a haver
desigualdades de natureza económica e
política, uma vez que o lugar de cada
indivíduo na sociedade era
diferenciado pela sua riqueza, pelo seu
papel económico e pela função, sendo
que os indivíduos pertenciam a classes
sociais diferenciadas. Deste modo,
generalizou-se um novo tipo de
sociedade: a sociedade de classes.
A sociedade de classes Oitocentista
assentava em diversos princípios:
• consagrava que todos os homens
eram livres e iguais perante a lei;
• era uma sociedade desigual,
complexa e dinâmica;
• a ascensão social fazia-se pelo mérito
e não pelo origem social ou pelo
nascimento.
A sociedade de classes Oitocentista foi
marcada pelo antagonismo e pela
diferenciação social:
• opunha a alta burguesia, detentora
dos meios e do capital, ao operariado,
cujas condições económicas e de vida
eram diametralmente opostas;
• tanto a classe burguesa como a classe
dos assalariados não eram grupos
homogéneos;
• em cada um deles havia diversos
estratos, consoante a riqueza, o
estatuto e o prestígio, associados à
função socioprofissional
desempenhada.
A burguesia era liberal num sentido
ideológico. Acreditava no capitalismo,
na empresa privada, na tecnologia, na
ciência e na razão. Acreditava no
progresso, e num governo
representativo até certo ponto, numa
proporção razoável de direitos e
liberdades, desde que estes fossem
compatíveis com a lei e de uma ordem
que mantivesse os pobres nos seus
lugares. Acreditava na cultura mais do
que na religião, substituindo em certos
casos a sua ida à igreja pela frequência
ritual da ópera, do teatro ou dos
concertos. Acreditava que os homens
empreendedores e talentosos tinham
uma carreira à sua frente. O burguês
não era apenas um homem
independente, a quem ninguém ( a não
ser Deus ou o Estado) podia dar ordens,
mas também o homem que dava
ordens. Dado que o êxito devia de ser
atribuído ao mérito pessoal, o fracasso
derivava obviamente desse mérito.
Responder:
a) Refira as características da
sociedade de classes
Oitocentista.
b) Explicite os motivos de
antagonismo e diferenciação
social.
Pesquisar:
Sociedade de classes, consciência de
classe
A burguesia
e a sua condição
Por Robert Gildea
“Nos meados do século XIX, os casos
de self-made man eram numerosos. A
burguesia comercial e industrial tinha
consolidado a sua posição. A chave para
o sucesso da burguesia era a empresa
familiar. Enquanto a nobreza recebia
recursos e competências por intermédio
de heranças ou do casamento, na
burguesia, tal alcançava-se através das
alianças. Os industriais viam o negócio
como um património, um bem que
permitia fundar e perpetuar a sua
dinastia.
(...) Os burgueses estavam também
atentos à competição, própria da
natureza do capitalismo, e que tinha de
ser balançada pela integração da
burguesia como classe, para fortalecer
a sua posição ao lidar tanto como os
governos como com as massas
urbanas.”
“Sabes que vivemos num
século em que os
homens são julgados por
aquilo que têm neles.
Todos os dias há um
patrão insuficiente
enérgico que é forçado a
descer do lugar na
sociedade que parecia
pertencer-lhe para
sempre, e um empregado
ousado inteligente e
ousado que ocupa esse
lugar.”
Motte-Bossut
Consciência de classe
Sentimento de pertença a uma classe social,
cujos indivíduos partilham o mesmo estatuto
socioeconómico, o qual permite a distinção
relativamente às outras, pelo que tendem a
unir-se na defesa de interesses comuns.
3
CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015
As classes médias
e a sua ascensão
Por Michael Rapport
“Enquanto a alta burguesia se cruzava
frequentemente, também havia divisões
nas classes médias. Abaixo das classes
médias altas havia um vasto conjunto
de pessoas cuja posição social dependia
diretamente dos salários e dos
rendimentos provenientes do seu
trabalho, em vez da riqueza herdada -
profissionais, funcionários públicos,
homens de negócios e proprietários
fundiários. Ao nível local, estas pessoas
gozavam de prestígio por que eram as
que possuíam maior educação e riqueza
na povoação, gozando de contactos
com o mundo exterior. Artesãos e
lojistas contribuíram para formar a
baixa classe média, cuja situação era
frequentemente precária - artesãos
lutando contra formas de produção
capitalista. (...) Apesar de não haver
uma burguesia homogénea, tal não
significa que não partilhassem de
interesses e de uma identidade
comum.”
Responder:
a) Caracterize a alta burguesia.
b) Explicite as condições que
contribuíram para o
aparecimento das classes
médias.
A condição
burguesa
e as classes
médias
O século XIX correspondeu à
afirmação da burguesia que não
constituía um grupo homogéneo. No
topo da hierarquia estava a alta
burguesia, abastada, na posse de
grandes fortunas, detentora do capital
e dos meios de produção (fábricas,
empresas, propriedades). Abaixo estava
a média e pequena burguesia, que não
possuía grande fortuna, viva do
trabalho, vivia do trabalho de
assalariado ou dos rendimentos de
pequenos negócios.
O desenvolvimento económico e
financeiro do século XIX
proporcionou à alta burguesia a
ocupação de um lugar de liderança na
política e na sociedade, lugar que havia
pertencido anteriormente à aristocracia:
• a alta burguesia era composta por
grandes industriais, banqueiros,
grandes proprietários e homens de
negócios; formava um grupo
poderoso e influente na alta
administração, na diplomacia e nas
magistraturas; tinha intervenção
política e social;
• distinguia-se pela fortuna, profissão,
cultura e nível de estudos e pelo
sentimento de pertença a um grupo
distinto na sociedade: era uma elite; a
alta burguesia desenvolveu uma
consciência de classe, na partilha dos
mesmos valores, comportamentos e
modelos de vida.
A burguesia perpetuou-se como classe
dominante, constituía “dinastias”
familiares que continuavam o sucesso
iniciado pelos seus antepassados,
assumindo que descendiam de um
homem que à custa do esforço e do
trabalho tinha alcançado o sucesso (self-
made man). A burguesia apoiou a cultura
e as artes, as atividades de lazer e a
moda, afirmou o gosto burguês.
Nesta altura, as classes médias e o setor
terciário proliferaram devido:
• à especialização dos serviços; a
divisão do trabalho, nas diversas áreas
económicas, nos serviços dos
escritórios das empresas industriais,
dos bancos e do comércio; a
complexificação e burocratização do
Estado levaram à criação de novas
profissões;
• ao desenvolvimento dos cuidados de
saúde e do ensino;
• o setor terciário exigiu a constituição
de um corpo de empregados, com
diversas funções e categorias que não
pertencia nem à alta burguesia nem
ao operariado.
Este grupo diversificado formava as
classes médias, onde se enquadravam os
elementos da média e pequena
burguesia, de profissões liberais ligadas
às áreas do comércio, da banca, dos
serviços e da administração.
Constituíam um grupo heterogéneo,
com uma fraca consciência de classe e
com interesses muito variados.
Até cerca de 1880, a maioria das classes
médias não tiveram um papel político
marcante; o alargamento do direito de
voto e do sufrágio universal masculino
permitiu-lhes um maior destaque.
“O primeiro passo para
os afastar da
extravagância foi
mantê-los ignorantes da
sua riqueza. Até serem
adultos, os filhos de
Rockefeller nunca
visitaram o seu escritório
ou as suas refinarias. (...)
Recebiam pequenas
quantias de dinheiro por
cantar, por afiar o lápis e
ensaiarem com os seus
instrumentos”
Ron Chernow
A família burguesa
A mãe revela dignidade e frieza. No lar
burguês assume-se como dona de casa
responsável pela vida privada da casa, a quem
cabe assegurar o bem-estar da família. Para o
burguês a casa é o refúgio onde descansa.
4
CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015
O self-made man
do sonho à realidade
Por Samuel Smiles
“Não é o talento que é necessário para
assegurar o sucesso em qualquer
objetivo, mas sim a determinação, não
meramente o poder de alcançar, mas a
vontade de trabalhar energicamente e
de forma perseverante.
Na vida nada é mais animador e belo
do que ver um homem combater, com
sofrimento e paciência, para triunfar na
sua integridade, e mesmo quando os
seus pés falham, continua a andar com
coragem. (...) Aquele que esmorece na
sua determinação, ou que foge ao
trabalho sob frívolos pretextos, está
seguramente no caminho do fracasso
(...). Nada que tenha valor pode ser
alcançado sem trabalho corajoso. E é
surpreendente verificar que
frequentemente resultados
aparentemente irrealizáveis se tornam
possíveis. A antecipação por si só
transforma a possibilidade em realidade
(...). Pelo contrário, o tímido e hesitante
acha tudo impossível, simplesmente
porque assim lhe parece.”
A burguesia
valores e
comportamento
A burguesia do século XIX pautava-se
por valores bem definidos, cultivados e
transmitidos no seio familiar:
• o valor do trabalho e do mérito; a
poupança e a virtude; a defesa da
propriedade individual e da livre
iniciativa, como forma de permitir
alcançar a riqueza;
• os valores da honestidade, da
respeitabilidade e da solidariedade; a
filantropia; o gosto pelo luxo e pela
ostentação contrastava com os
valores de poupança, da sobriedade
e simplicidade do espírito burguês;
• para a burguesia, a sua vida de
sucesso e de prosperidade era reflexo
da sua conduta moral e fruto dos
valores pelos quais se guiava; o seu
lugar na sociedade era prova do seu
mérito, da sua competência, do seu
trabalho e do seu espírito de
iniciativa;
• o êxito individual assentava na ideia
de que o homem se fazia a si próprio
(self-made man).
Na família burguesa, os papéis eram
rigidamente definidos:
• o homem era o chefe de família, o
marido e o pai, o garante da
independência económica; nele
residia a autoridade, sendo-lhe devida
obediência;
• a mulher era a dona de casa, a mãe e
a esposa, a quem cabia zelar pelo
bem-estar do marido e da educação
dos filhos; cuidava da gestão da casa;
possuía um estatuto legal de
dependência e de menoridade face ao
homem;
• os filhos eram educados segundo os
valores da poupança, da disciplina e
do valor do esforço.
Por sua vez, as classes médias eram
heterogéneas e sem clara consciência de
classe. Partilhavam um conjunto de
valores inspirados nos da alta burguesia:
• o conservadorismo e a austeridade
moral; o trabalho, o estudo e o
conhecimento; o respeito pelas
hierarquias e as convenções
socialmente estabelecidas;
• prezavam a ordem e a harmonia
social;
• no domínio público, as classes
atribuíam grande importância à
reputação e à opinião dos outros;
• demonstravam sobriedade e
respeitabilidade nos atos, no vestuário
e no comportamento em público;
• dispondo de rendimentos modestos,
limitavam a vida pública às
cerimónias em família, que eram
momentos de grande significado.
Responder:
a) Caracterize a família burguesa.
b) Identifique os valores e virtudes
do considerados essenciais para
o sucesso individual.
“Na vida não se
produzem frutos a não
ser através do trabalho,
da mente e do corpo.
Esforçar-se, continuar a
esforçar-se, é esta a
minha vida (...), mas
atrevo-me a dizer, com
orgulho, que nada
alguma vez abalou a
minha coragem.”
Ary Scheffer
Self-made man
Ideia de que o homem se fazia a si próprio
através do seu esforço. A ausência de
sucesso era, para a burguesia, consequência
das fraquezas morais, da falta de capacidade,
da falta de mérito e da ociosidade individual.

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Caderno diário A unidade e diversidade da sociedade oitocentista n.º11 1415

  • 1. 1 A sociedade industrial e urbana uma sociedade oitocentista Por Raul Silva Na segunda metade do século XIX, o forte aumento populacional, consequência da melhoria das condições de vida e de melhores cuidados de saúde, operou uma profunda transformação na sociedade. Contribuiu para o desenvolvimento e expansão urbana, que se verificou nesta época, pelo que as cidades dos países mais industrializados da Europa e dos Estados Unidos conheceram um importante crescimento. Como tal, foram obrigados a repensar os modelos urbanísticos, com vista a solucionar os problemas decorrentes do crescimento industrial, do desenvolvimento de novas indústrias e do surgimento de novos meios de transporte. A explosão populacional teve também consequências nas migrações internas, facilitadas pelo desenvolvimento dos transportes, bem como no crescimento da emigração, não só entre diferentes países europeus, mas também intercontinental, tendo os Estados Unidos da América assumido um papel relevante. O século XIX conheceu uma transformação social significativa. A burguesia assumiu especial preponderância no mundo dos negócios e no desenvolvimento industrial. Aqueles que pertenciam à elite burguesa detinham o capital e os meios de produção, enquanto a pequena e média burguesa desempenhava funções, sobretudo, no setor terciário, vivendo do salário que recebiam. Em oposição à alta burguesia estava o operariado que, com baixos salários e confrontado com difíceis condições de vida, encontrou no associativismo e no sindicalismo um meio de defesa dos seus interesses. Foi neste contexto que surgiram as propostas socialistas de transformação para uma sociedade mais justa e igualitária. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 11 https:// www.facebook.com/ historia.externato http:// externatohistoria.blog spot.pt externatohistoria@gm ail.com 2deFevereirode2015
  • 2. 2 CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015 Sociedade oitocentista unidade e diversidade As principais transformações sociais ocorridas no século XIX foram resultantes das revoluções liberais e da proclamação da igualdade e da liberdade como valores fundamentais, sendo abolida a sociedade de ordens baseada no privilégio e no nascimento. No entanto, continuou a haver desigualdades de natureza económica e política, uma vez que o lugar de cada indivíduo na sociedade era diferenciado pela sua riqueza, pelo seu papel económico e pela função, sendo que os indivíduos pertenciam a classes sociais diferenciadas. Deste modo, generalizou-se um novo tipo de sociedade: a sociedade de classes. A sociedade de classes Oitocentista assentava em diversos princípios: • consagrava que todos os homens eram livres e iguais perante a lei; • era uma sociedade desigual, complexa e dinâmica; • a ascensão social fazia-se pelo mérito e não pelo origem social ou pelo nascimento. A sociedade de classes Oitocentista foi marcada pelo antagonismo e pela diferenciação social: • opunha a alta burguesia, detentora dos meios e do capital, ao operariado, cujas condições económicas e de vida eram diametralmente opostas; • tanto a classe burguesa como a classe dos assalariados não eram grupos homogéneos; • em cada um deles havia diversos estratos, consoante a riqueza, o estatuto e o prestígio, associados à função socioprofissional desempenhada. A burguesia era liberal num sentido ideológico. Acreditava no capitalismo, na empresa privada, na tecnologia, na ciência e na razão. Acreditava no progresso, e num governo representativo até certo ponto, numa proporção razoável de direitos e liberdades, desde que estes fossem compatíveis com a lei e de uma ordem que mantivesse os pobres nos seus lugares. Acreditava na cultura mais do que na religião, substituindo em certos casos a sua ida à igreja pela frequência ritual da ópera, do teatro ou dos concertos. Acreditava que os homens empreendedores e talentosos tinham uma carreira à sua frente. O burguês não era apenas um homem independente, a quem ninguém ( a não ser Deus ou o Estado) podia dar ordens, mas também o homem que dava ordens. Dado que o êxito devia de ser atribuído ao mérito pessoal, o fracasso derivava obviamente desse mérito. Responder: a) Refira as características da sociedade de classes Oitocentista. b) Explicite os motivos de antagonismo e diferenciação social. Pesquisar: Sociedade de classes, consciência de classe A burguesia e a sua condição Por Robert Gildea “Nos meados do século XIX, os casos de self-made man eram numerosos. A burguesia comercial e industrial tinha consolidado a sua posição. A chave para o sucesso da burguesia era a empresa familiar. Enquanto a nobreza recebia recursos e competências por intermédio de heranças ou do casamento, na burguesia, tal alcançava-se através das alianças. Os industriais viam o negócio como um património, um bem que permitia fundar e perpetuar a sua dinastia. (...) Os burgueses estavam também atentos à competição, própria da natureza do capitalismo, e que tinha de ser balançada pela integração da burguesia como classe, para fortalecer a sua posição ao lidar tanto como os governos como com as massas urbanas.” “Sabes que vivemos num século em que os homens são julgados por aquilo que têm neles. Todos os dias há um patrão insuficiente enérgico que é forçado a descer do lugar na sociedade que parecia pertencer-lhe para sempre, e um empregado ousado inteligente e ousado que ocupa esse lugar.” Motte-Bossut Consciência de classe Sentimento de pertença a uma classe social, cujos indivíduos partilham o mesmo estatuto socioeconómico, o qual permite a distinção relativamente às outras, pelo que tendem a unir-se na defesa de interesses comuns.
  • 3. 3 CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015 As classes médias e a sua ascensão Por Michael Rapport “Enquanto a alta burguesia se cruzava frequentemente, também havia divisões nas classes médias. Abaixo das classes médias altas havia um vasto conjunto de pessoas cuja posição social dependia diretamente dos salários e dos rendimentos provenientes do seu trabalho, em vez da riqueza herdada - profissionais, funcionários públicos, homens de negócios e proprietários fundiários. Ao nível local, estas pessoas gozavam de prestígio por que eram as que possuíam maior educação e riqueza na povoação, gozando de contactos com o mundo exterior. Artesãos e lojistas contribuíram para formar a baixa classe média, cuja situação era frequentemente precária - artesãos lutando contra formas de produção capitalista. (...) Apesar de não haver uma burguesia homogénea, tal não significa que não partilhassem de interesses e de uma identidade comum.” Responder: a) Caracterize a alta burguesia. b) Explicite as condições que contribuíram para o aparecimento das classes médias. A condição burguesa e as classes médias O século XIX correspondeu à afirmação da burguesia que não constituía um grupo homogéneo. No topo da hierarquia estava a alta burguesia, abastada, na posse de grandes fortunas, detentora do capital e dos meios de produção (fábricas, empresas, propriedades). Abaixo estava a média e pequena burguesia, que não possuía grande fortuna, viva do trabalho, vivia do trabalho de assalariado ou dos rendimentos de pequenos negócios. O desenvolvimento económico e financeiro do século XIX proporcionou à alta burguesia a ocupação de um lugar de liderança na política e na sociedade, lugar que havia pertencido anteriormente à aristocracia: • a alta burguesia era composta por grandes industriais, banqueiros, grandes proprietários e homens de negócios; formava um grupo poderoso e influente na alta administração, na diplomacia e nas magistraturas; tinha intervenção política e social; • distinguia-se pela fortuna, profissão, cultura e nível de estudos e pelo sentimento de pertença a um grupo distinto na sociedade: era uma elite; a alta burguesia desenvolveu uma consciência de classe, na partilha dos mesmos valores, comportamentos e modelos de vida. A burguesia perpetuou-se como classe dominante, constituía “dinastias” familiares que continuavam o sucesso iniciado pelos seus antepassados, assumindo que descendiam de um homem que à custa do esforço e do trabalho tinha alcançado o sucesso (self- made man). A burguesia apoiou a cultura e as artes, as atividades de lazer e a moda, afirmou o gosto burguês. Nesta altura, as classes médias e o setor terciário proliferaram devido: • à especialização dos serviços; a divisão do trabalho, nas diversas áreas económicas, nos serviços dos escritórios das empresas industriais, dos bancos e do comércio; a complexificação e burocratização do Estado levaram à criação de novas profissões; • ao desenvolvimento dos cuidados de saúde e do ensino; • o setor terciário exigiu a constituição de um corpo de empregados, com diversas funções e categorias que não pertencia nem à alta burguesia nem ao operariado. Este grupo diversificado formava as classes médias, onde se enquadravam os elementos da média e pequena burguesia, de profissões liberais ligadas às áreas do comércio, da banca, dos serviços e da administração. Constituíam um grupo heterogéneo, com uma fraca consciência de classe e com interesses muito variados. Até cerca de 1880, a maioria das classes médias não tiveram um papel político marcante; o alargamento do direito de voto e do sufrágio universal masculino permitiu-lhes um maior destaque. “O primeiro passo para os afastar da extravagância foi mantê-los ignorantes da sua riqueza. Até serem adultos, os filhos de Rockefeller nunca visitaram o seu escritório ou as suas refinarias. (...) Recebiam pequenas quantias de dinheiro por cantar, por afiar o lápis e ensaiarem com os seus instrumentos” Ron Chernow A família burguesa A mãe revela dignidade e frieza. No lar burguês assume-se como dona de casa responsável pela vida privada da casa, a quem cabe assegurar o bem-estar da família. Para o burguês a casa é o refúgio onde descansa.
  • 4. 4 CADERNODIÁRIO2deFevereirode2015 O self-made man do sonho à realidade Por Samuel Smiles “Não é o talento que é necessário para assegurar o sucesso em qualquer objetivo, mas sim a determinação, não meramente o poder de alcançar, mas a vontade de trabalhar energicamente e de forma perseverante. Na vida nada é mais animador e belo do que ver um homem combater, com sofrimento e paciência, para triunfar na sua integridade, e mesmo quando os seus pés falham, continua a andar com coragem. (...) Aquele que esmorece na sua determinação, ou que foge ao trabalho sob frívolos pretextos, está seguramente no caminho do fracasso (...). Nada que tenha valor pode ser alcançado sem trabalho corajoso. E é surpreendente verificar que frequentemente resultados aparentemente irrealizáveis se tornam possíveis. A antecipação por si só transforma a possibilidade em realidade (...). Pelo contrário, o tímido e hesitante acha tudo impossível, simplesmente porque assim lhe parece.” A burguesia valores e comportamento A burguesia do século XIX pautava-se por valores bem definidos, cultivados e transmitidos no seio familiar: • o valor do trabalho e do mérito; a poupança e a virtude; a defesa da propriedade individual e da livre iniciativa, como forma de permitir alcançar a riqueza; • os valores da honestidade, da respeitabilidade e da solidariedade; a filantropia; o gosto pelo luxo e pela ostentação contrastava com os valores de poupança, da sobriedade e simplicidade do espírito burguês; • para a burguesia, a sua vida de sucesso e de prosperidade era reflexo da sua conduta moral e fruto dos valores pelos quais se guiava; o seu lugar na sociedade era prova do seu mérito, da sua competência, do seu trabalho e do seu espírito de iniciativa; • o êxito individual assentava na ideia de que o homem se fazia a si próprio (self-made man). Na família burguesa, os papéis eram rigidamente definidos: • o homem era o chefe de família, o marido e o pai, o garante da independência económica; nele residia a autoridade, sendo-lhe devida obediência; • a mulher era a dona de casa, a mãe e a esposa, a quem cabia zelar pelo bem-estar do marido e da educação dos filhos; cuidava da gestão da casa; possuía um estatuto legal de dependência e de menoridade face ao homem; • os filhos eram educados segundo os valores da poupança, da disciplina e do valor do esforço. Por sua vez, as classes médias eram heterogéneas e sem clara consciência de classe. Partilhavam um conjunto de valores inspirados nos da alta burguesia: • o conservadorismo e a austeridade moral; o trabalho, o estudo e o conhecimento; o respeito pelas hierarquias e as convenções socialmente estabelecidas; • prezavam a ordem e a harmonia social; • no domínio público, as classes atribuíam grande importância à reputação e à opinião dos outros; • demonstravam sobriedade e respeitabilidade nos atos, no vestuário e no comportamento em público; • dispondo de rendimentos modestos, limitavam a vida pública às cerimónias em família, que eram momentos de grande significado. Responder: a) Caracterize a família burguesa. b) Identifique os valores e virtudes do considerados essenciais para o sucesso individual. “Na vida não se produzem frutos a não ser através do trabalho, da mente e do corpo. Esforçar-se, continuar a esforçar-se, é esta a minha vida (...), mas atrevo-me a dizer, com orgulho, que nada alguma vez abalou a minha coragem.” Ary Scheffer Self-made man Ideia de que o homem se fazia a si próprio através do seu esforço. A ausência de sucesso era, para a burguesia, consequência das fraquezas morais, da falta de capacidade, da falta de mérito e da ociosidade individual.