Jesus encontra uma mulher samaritana no poço de Jacó e quebra paradigmas ao conversar com ela, uma mulher e de outra etnia, revelando detalhes sobre sua vida. Ele fala sobre a água viva da fé e a convence a contar aos outros sobre ele, possivelmente sendo o Messias.
2. Com base no Capítulo IV do Evangelho de João. Jesus e a mulher
samaritana
Quando nos dedicamos ao estudo das mensagens de Jesus, tal como
apresentadas nos textos evangélicos, temos a oportunidade de identificar
uma de Suas principais características, que é a quebra de paradigmas
(padrões ou normas que são utilizados para balizar comportamentos) além
de se configurar em uma fonte inesgotável de lições para cada um de nós,
e para todos nós, essas mensagens contém uma série de quebras de
paradigmas, que estavam bastante arraigados nos homens, desde há muito
tempo. Para corroborarmos esta afirmativa, seria suficiente citarmos o
exemplo do Sermão da Montanha, ocasião em que o Mestre apresentou
uma série de considerações importantes,
3. Utilizando-se da seguinte estrutura: “Ouviste o que foi dito aos antigos, eu,
porém vos digo”. Na primeira parte de suas exortações Jesus apresentava o
paradigma vigente entre os homens. Na segunda, nos oferecia a correção
desses conceitos, apresentando-nos o caminho correto a ser seguido.
Dentre as diversas advertências feitas pelo Mestre naquela oportunidade,
merece destaque a quebra de um dos mais antigos paradigmas da
humanidade, a chamada “Lei de Talião”. O Cristo vinha substituir a regra
do “Olho por olho, dente por dente”, por um novo conceito baseado na não
violência e no perdão. Contudo, uma das maiores referências dessa
característica especial da mensagem do Mestre encontra-se fora dos textos
do Sermão da Montanha, mais precisamente no Evangelho de João,
4. Onde encontramos a bela narrativa do encontro de Jesus com a mulher
samaritana. A paisagem em que se deu o encontro, era das mais lindas de
toda a Palestina. E nessa ocasião especial, o Mestre e seus discípulos
empreendiam uma longa jornada entre a Judéia e a Galiléia. O fator que
ocasionou o encontro está no versículo 4 (“E era-lhe necessário atravessar
a província de Samaria”). Vamos refletir: Por que era necessário que o
Rabi passasse por Samaria? Seria por causa das chuvas que transbordavam
o rio Jordão, dificultando o caminho costumeiramente seguido pelos
judeus que queriam ir até a Galiléia, como sugerem alguns? Acredito que
não. Será que Jesus apenas queria cortar caminho por Samaria para chegar
a Galiléia?
5. Muito menos, visto que não era normal um judeu passar por Samaria, seja
qual fosse a circunstância, para evitar ataques que lhe reservavam os
samaritanos, já que a rivalidade entre eles era muito grande. E o porquê
disso? Os judeus e os samaritanos estavam envolvidos em uma disputa
secular de ódio, preconceito e discriminação. Este conflito remonta do
episódio após a morte do rei Salomão, quando aconteceu a revolta das
tribos de Israel, conhecido como cisma. O Reino foi dividido em duas
partes. O Reino de Judá e o Reino de Israel. Daí, a separação odiosa. Os
samaritanos representavam uma ofensa tão grande que os judeus nem
queriam por os pés na Samaria, embora a rota mais curta atravessasse essa
província.
6. Mas Jesus necessitava ir por esse caminho, e chegar a uma cidade
samaritana, de nome Sicar ou Siquem, porque precisava atender a um
compromisso divino, junto ao poço de Jacó. Este é o ponto central, onde
ocorre o encontro de Jesus com a samaritana. o Mestre decidiu descansar
junto ao poço de Jacó, em virtude da íngreme ladeira que galgara, e
sentou-se sobre a borda do poço ou ao lado dele. João não deixou de
anotar a hora: era a hora “sexta”, ou seja, cerca de meio-dia. Bom lugar
para repouso, a essa hora escaldante. Enquanto o Rabi repousava, seus
discípulos seguem pouco além, à cidade, para buscar alimentos. Nesse
ínterim, aproxima-se uma mulher da região de Samaria, uma samaritana
que fora buscar água no poço.
7. É interessante constatar que, ao meio-dia não era horário normal de se
retirar água do poço de Jacó. Nessa região, o clima quente e seco, o sol no
esplendor de sua força, fazia com que as mulheres buscassem água em
outro horário. Fica subentendido que aquela mulher, por ter uma vida
moralmente duvidável, e ser mal vista pela comunidade, era evitada pelas
outras mulheres, era um mal exemplo. Assim, a samaritana ia buscar água
numa hora em que as outras mulheres estavam preparando o almoço,
cuidando da família, podendo, assim, evitá-las. Ela sofria preconceito,
discriminação, dentro da própria comunidade, por ser considerada
pecadora. Como de hábito, ninguém recusava um pouco d’água a um
peregrino sedento, e Jesus solicita esse obséquio da samaritana.
8. A surpresa foi inevitável, ao ouvir que o Cristo falava com ela, uma vez
que aquele pedido afrontava os costumes judaicos. Dirigir-se a uma
mulher em público era uma grande inconveniência para um judeu, posto
que esta era uma das muitas restrições impostas à mulher naqueles tempos.
Ademais, a mulher era samaritana. Embora sem recusar a água. faz-lhe
sentir sua estranheza: Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma
samaritana, água para beber? Mas Jesus não apenas pediu água; manteve,
também, longa conversação com ela, aproveitando a oportunidade para
apresentar preciosas lições, dentre as quais podemos destacar a frase: “Se
souberas o dom de Deus, e quem é aquele que te diz dá-me de beber, tu lhe
terias pedido, e ele te daria a água viva”.
9. E Jesus acrescenta: Quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá
sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará uma fonte de água a
jorrar para a vida eterna. Quando Jesus oferece da “agua viva”, Ele estava
falando do que é espiritual; entretanto, a mulher samaritana, ainda sem
compreender, pensava na materialidade das palavras. A “água viva” que a
samaritana conhecia era aquela que estava no mais profundo do poço. A
samaritana novamente pensa no material, pensa na sua comodidade. Era
cômodo não precisar mais voltar a retirar água do poço, quando ela solicita
que Jesus lhe dê dessa água. Mas o Mestre não estava anunciando um
evangelho de comodidades materiais e passageiras. O Rabi pregava o
verdadeiro evangelho, a fonte que jorra para vida eterna.
10. A samaritana, porém, não percebe o simbolismo, tal como ocorrera com
Nicodemos, e interpreta ao pé da letra. Jesus completa, então, com a
revelação da vida que a mulher samaritana levava. Disse: “Vá, chame o
seu marido e volte”. “Não tenho marido”, respondeu ela. Disse-lhe o
Mestre: “Você falou corretamente, dizendo que não tem marido. O fato é
que você já teve cinco; e o homem com quem agora vive não é seu marido.
O que você acabou de dizer é verdade”. Os seus discípulos voltaram e
ficaram surpresos ao encontrá-lo conversando com uma mulher. Então,
deixando seu cântaro, a mulher voltou à cidade e disse ao povo: Venham
ver um homem que me disse tudo o que tenho feito. Será que ele não é o
Cristo? Então saíram da cidade e foram para onde o Mestre estava.
11. Aí está Jesus mais uma vez surpreendendo, quebrando paradigma. Ele fez
a sua mais importante revelação, a da realização dos tempos messiânicos,
não a qualquer autoridade religiosa ou civil, mas a uma mulher, e, ainda
mais, uma mulher samaritana. Ao quebrar dois dos mais fortes paradigmas
da época, a questão religiosa entre judeus e samaritanos e a questão da
posição da mulher na sociedade judaica, ele demonstrava, de forma
inequívoca, que a sua mensagem de amor era para todos, sem exceção,
independentemente de raça, sexo ou condição social.
Todos os que bebem da água das exterioridades transitórias continuam
tendo sede; apenas aqueles que se unem a Jesus, que O “conhecem”, só
esses é que jamais terão sede, porque surgirá uma fonte perene de água
viva.
12. Jesus, que havia mudado o caminho por onde passaria, fez um grande
esforço andando muito, por amor de uma única alma e, através dessa alma
desprezada, ganhou uma cidade inteira.
Muita Paz!
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Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho
Segundo o Espiritismo.