A semeadura e a colheita: as consequências de nossos atos
1.
2. A respeito do uso que fazemos do livre-arbítrio que nos é próprio, fomos
buscar no livro “Estante da Vida”, ditado pelo Espírito Irmão X, um conto
intitulado Sementeira e colheita. (Momentos de Paz Maria da Luz).
Certo homem, enredado no vício da embriaguez, era frequentemente visitado
por generoso amigo espiritual que lhe amparava a existência.
- Arrepende-te e recorre à bondade divina! Rogava o benfeitor quando o
alcóolatra se desprendia parcialmente do campo físico, nas asas do sono.
- Vale-te do tempo e não adies a própria renovação! Um corpo terrestre é
ferramenta preciosa com que a alma deve servir na oficina do progresso.
Não menosprezes as próprias forças. O infeliz acordava, impressionado.
Rememorava as palavras ouvidas, tentava mentalizar a formosura do
enviado sublime e, intimamente, formulava o propósito de regenerar-se.
3. Todavia, sobrevindo a noite, sucumbia de novo à tentação. Embebedando-se,
arrojava-se a longo período de inconsciência, tornando ao relaxamento e à
preguiça. Borracho, empenhava-se tão-somente em afogar as melhores
oportunidades da vida em copinho sobre copinho. Entretanto, logo que surgia
alguma faixa de consciência naquela cabeça conturbada, o mensageiro
requisitava-o, solícito, recomendando:
- Atende! Não fujas à responsabilidade. A passagem pela Terra é valioso
recurso para a ascensão do espírito. O tempo é um crédito de que daremos
conta! Apela para a compaixão do Senhor! Modifica-te!
O mísero despertava na carne, lembrava a confortadora entrevista e dispunha-
se ao reajustamento preciso; no entanto, depois de algumas horas, engodado
pelos próprios desejos, caia novamente na zona escura.
4. Ébrio, demorava-se meses e meses na volúpia do auto-esquecimento. Contudo,
sempre aparecia um instante de lucidez em que o companheiro vigilante
interferia. Novo socorro do céu, novas promessas de transformação e nova
queda espetacular. Anos e anos foram desfiados no milagroso novelo do tempo,
quando o infortunado, de corpo gasto, se reconheceu enfermo e abatido. A
moléstia instalara-se, desapiedada, na fortaleza orgânica, inclinando-lhe os
passos para o desfiladeiro da morte. Incapaz de soerguer-se, o doente orou,
modificado. Queria viver no mundo e, para isso, faria tudo por recuperar-se.
Em breves segundos de afastamento do estragado veículo, encontrou o divino
mensageiro e, ajoelhando-se, comunicou:
5. - Anjo abnegado, transformei-me! Sou outro homem. Estou arrependido!
Reconheço meus erros e tudo farei para redimir-me. Recorro à piedade de
nosso Pai Todo-compassivo, de vez que pretendo alcançar o futuro na feição
do servidor desperto para as elevadas obrigações que a vida nos conferiu. O
protetor abraçou-o, comovidamente, e, enxugando-lhe as lágrimas, rejubilou-
se, exclamando:
- Bem-aventurado sejas! Doravante, estarás liberto da perniciosa influência
que até agora te obscureceu a visão. Abençoado porvir sorrirá ao teu destino.
Rendamos graças a Deus! O doente retomou o corpo, de coração aliviado,
com a luz da esperança a clarear-lhe a alma. Mas os padecimentos orgânicos
recrudesciam.
6. A assistência médica, aliada nos melhores recursos de enfermagem, revelava
insuficiência para subtrair-lhe o mal-estar. Findos vários dias de angustiosa
dor, entregou-se à prece com sentida compunção e, amparado pelo benfeitor
invisível, achou-se fora da carne, em ligeiro momento de alívio:
- Anjo amigo, implorou, acaso o Todo-Bondoso não se compadece de mim?
Estou renovado! Alterei meus rumos! Por que tamanhas provas? O guardião
afagou-o, benevolente, e esclareceu:
- Acalma-te! O sincero reconhecimento de nossas faltas é força de limitação
do mal em nós e fora de nós, qual medida que circunscreve o raio de um
incêndio para extingui-lo pouco a pouco, mas não opera reviravoltas na Lei. O
amor infinito de Deus nos descerra fulgurantes caminhos à própria elevação;
7. Todavia, a justiça dEle determina venhamos a receber, invariavelmente,
segundo as nossas obras. Vale-te do perdão divino que, por resposta do
Senhor às tuas rogativas, é agora em tua alma anseio de reajuste e dom
renovador, mas não olvides o dever de destruir os espinhos que ajuntaste. O
arrependimento não cura as afecções do fígado, assim como o remorso
edificante do homicida não remedeia a chaga aberta pelo golpe da lâmina
insensata! Aproveita a enfermidade que te purifica o sentimento e usa a
tolerância do Céu como novo compromisso de trabalho em favor de ti
mesmo! O doente desejou continuar ouvindo a palavra balsamizante do
amigo celeste. A carne enfermiça, porém, exigia-lhe a volta. Contudo,
recompondo-se mentalmente no corpo fatigado, embora gemesse sob a
flagelação regeneradora, chorava e ria, feliz.
8. Reflexão:
Nós fomos criados simples e ignorantes. Simples, porque nada possuíamos,
além da oportunidade de evolução, que a todos foi dada em igual intensidade.
Ignorantes, porque nada sabíamos em relação à Criação, cabendo-nos pensar,
desenvolver a inteligência e aprender, através da vivência de experiências
próprias, para conseguirmos a evolução prometida. Deus nos deu a liberdade de
escolher o caminho, a vontade própria, a capacidade de pensar e reagir, e a Lei
de amor, justiça e caridade, como orientação quanto o melhor caminho a ser
percorrido, gravando em nossa consciência os balizadores das nossas ações e
os indicadores do certo e do errado. Nosso destino, então, foi assim
determinado pelo Criador:
9. Deveis evoluir continuamente em espírito e verdade, cumprindo tudo o que
está prescrito na Lei. Amando a Deus sobre todas as coisas, com toda a tua
força, com todo o teu espírito e ao próximo como a ti mesmo. Este é o nosso
destino. A justiça de Deus se faz sentir na liberdade de escolha que nos
proporcionou e na medida que Ele faz da capacidade que pudermos adquirir, de
cumprir com os nossos próprios desígnios. Nos autoriza a agir, mas nos cobra a
resposta correta, isto é, nos responsabiliza pelo resultado daquilo que fazemos.
A cobrança é tanto maior quanto maior for o conhecimento e o discernimento
da verdade que já estiver desenvolvido em cada um. Assim, para os ignorantes,
para os que não conseguem ainda perceber a verdade, a justiça de Deus é a
misericórdia. Mas, para aqueles que já compreendem a Lei, a misericórdia de
Deus é a Sua justiça, e a cada um será dado conforme sua obra.
10. O uso que devemos fazer do livre-arbítrio que recebemos, é bem orientado pela
Lei de causa e efeito, responsável pela noção de justiça, a nos indicar que todos
somos lavradores de nossos destinos, cabendo-nos colher conforme tivermos
semeado. Não será possível colher-se uvas quando plantamos espinheiros. Mas,
se semearmos a boa semente, seremos capazes de colher os bons frutos do
trabalho, do correto plantio que fizemos. Assim, o homem deve evoluir do
estado de ignorância animal até a consciência total de si mesmo, na angelitude,
fazendo e refazendo suas experiências, entre mergulho na carne e retorno ao
mundo espiritual.
Os vícios, as paixões interiores, ligados aos instintos biológicos, são os maiores
entraves para a evolução do homem.
11. Deixando-se levar pela ignorância que ainda caracteriza a fraqueza de caráter, a
pobreza de luz espiritual e o desconhecimento de sua essência divina, o homem
se aprisiona em ilusões que o impedem de ver a verdade. Prefere usufruir os
prazeres da carne, movido pelas sensações provenientes de seus instintos. Usa
a inteligência e a vontade própria para justificar a satisfação de suas
necessidades primárias, ultrapassando os limites da normalidade,
desrespeitando os direitos e as necessidades de seus semelhantes. Mergulha
num mundo de ilusão que o aprisiona e deforma; desrespeita o santuário do
corpo, abusando da faculdade que lhe foi dada, embrenhando-se em vícios de
toda ordem; apega-se à vida pelos prazeres materiais, sem a capacidade de
perceber sua essência de espírito eterno.
12. Assim, comparece diante da morte do corpo físico, prisioneiro de sensações
ilusórias. Sua passagem para o plano espiritual será tanto ou mais dolorosa,
quanto mais ilusória for o quadro traçado durante a vida material. É sempre
escravo dos excessos que cometeu e se mantém ligado aos pensamentos
deformados que alimentou durante sua existência corpórea. Mas o Pai de
infinita bondade e misericórdia jamais abandona seu filho e permite que
mensageiros da boa vontade o oriente e o concite à renovação do pensamento e
aumento de percepção. O caminho de regeneração nos é sempre concedido.
Mas, agora, trazendo o fardo ampliado pelas consequências dos débitos
cometidos. Se prejudicamos o nosso corpo, teremos dificuldade para
reequilibrá-lo.
13. Se prejudicamos a outrem, seremos concitado a ampará-lo de alguma sorte,
diminuindo suas dores e compartilhando as luzes que já somos capazes de
perceber. Esta, a semeadura que cabe àquele que intimamente renova os
propósitos de regeneração. Compreendendo as consequências de seus deslizes
em novo nível de percepção ajuda, mas continua sofrendo na busca incessante
da paz, até que tudo que ele desalinhou, tenha realmente retomado o destino
correto. Esta é a lei de justiça. Esta é a colheita obrigatória daquele que se
candidata por influxo de Deus, ao destino da angelitude na espiritualidade
superior. A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória.
14. Muita Paz!
Meu Blog: http://espiritual-espiritual.blogspot.com.br
Com estudos comentados de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo
o Espiritismo.