O documento discute a proposta de exclusão de História, Geografia e Ciências do currículo das séries iniciais do ensino fundamental em São Paulo. A exclusão destas disciplinas limita a visão de mundo dos estudantes e contraria diretrizes curriculares nacionais. A educação não deve se limitar apenas à alfabetização e ao cálculo, mas promover a formação integral dos alunos por meio do acesso a diversos conhecimentos.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Curso de Especialização Saberes e Práticas na Educação Básica
Módulo: Práticas de Leitura e Escrita na Escola
Professoras: Renata Flores
1o
Semestre de 2013.
Aluna: Mônica Valéria Pinheiro
SOBRE A EXCLUSÃO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DAS SÉRIES
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
“Para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para
preparar os estudantes para as avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa e
etc.? A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar
curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações
para uso em testes de avaliação?” Com estas perguntas instigantes, o texto “Escolas
empobrecidas: sem História nem Geografia” nos convida a um passeio reflexivo sobre a
importância da integração de saberes e práticas, ao mesmo tempo em que tece forte crítica à
nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo que sugere a exclusão
os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental
e a manutenção de apenas 10% destas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico.
Subjacente a esta proposta está a idéia de que “para os estudantes de escola
pública o mínimo basta!” Diante da urgência e da necessidade de reduzir os índices do
analfabetismo que ainda assola nosso país, a mobilização pela apropriação da leitura e da
escrita, bem como do domínio das quatro operações matemáticas, parece legítima e, a bem
da verdade, a despeito de qualquer decreto, tem sido a opção de muitos professores destes
anos de escolaridade, em outras regiões do país.
Negar aos alunos o acesso a conhecimentos destas outras áreas sob o pretexto de
que sem o domínio de Língua Portuguesa e das quatro operações Matemática é uma volta
ao passado, já que este discurso é antigo em nossas terras, como se pode ler neste trecho da
lei de 6 de novembro de 1772 citado por Cardoso:
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2. [...] sendo impraticável que se formasse em toda uma Nação um
Plano, que fosse de igual comodidade a todos os Povos, e a todos
[...]; sendo igualmente certo que nem todos os indivíduos destes
reinos, e seus domínios, se hão de educar com destino dos Estudos
Maiores, porque deles se devem deduzir os que são necessariamente
empregados nos serviços rústicos, e nas artes fabris [...] bastará a
alguns, que se contenham nos exercícios de ler, escrever e contar. A
outros, que se reduzam à precisa instrução da língua latina [...]. (Lei
de 6 de novembro de 1772 apud Cardoso, 2002, p. 315)
Para além da volta ao passado, subjaz a ideia da manutenção das classes sociais.
Para as camadas mais humildes, bastam os conhecimentos elementares, capazes de fazê-las
funcionar no mercado de trabalho, especialmente nas funções de serviço.
A quem interessa esta educação? Certamente, não aos excluídos socialmente. A
estes, mais uma vez nega-se a educação de caráter emancipatório, como defendia Freire
(1985 e 2000). Ainda amparados por Freire, uma das condições para a cidadania é o ato de
ler o mundo, que precede o aprendizado mecânico das palavras.
Como restringir a visão de mundo, limitando a própria leitura no que tange ao
acesso aos diversos conhecimentos que nele estão postos e que nos constituem como
sujeitos que por meio deles dialogam socialmente?
Esta visão “simplista de aprendizagem” desconsidera os direitos da aprendizagem
assegurados no Artigo 32 da Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Conselho
Nacional de Educação, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Fundamental de 9 (nove) anos:
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 09 (nove)
anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 06 (seis) anos de
idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a
sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em
vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de
atitudes e valores;
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3. IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a
vida social.
Assim, o acesso aos conhecimentos tanto de História, quanto de Geografia e das
Ciências Naturais devem ser garantidos e entendidos como componentes curriculares
necessários à formação integral dos sujeitos.
Cabe, no entanto, ressaltar que não cabe no currículo, sobretudo das séries iniciais,
uma visão fragmentada de ensino, antes, mais que “disciplinas”, os conhecimentos destas
áreas precisam ser previstos e organizados no planejamento de forma interdisciplinar de
modo que dialoguem entre si e outras áreas, inclusive com a Língua Portuguesa e a
Matemática.
Referências Bibliográficas
CARDOSO, Maria Tereza Rolo Fachada Levy. A Reforma dos Estudos. In: ___. As luzes
da educação: fundamentos, raízes históricas e prática das aulas régias no Rio de Janeiro,
759-1834. Bragança Paulista: Ed. da Universidade de São Francisco, 2002. p. 112.
FRANCO, Maria Amélia Santoro; BELLETATI, Valéria. Escolas empobrecidas: sem História
nem Geografia. Redação Carta Capital — publicado 15/02/2013 12:52
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
_____. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora
UNESP, 2000.
_____. A Importância do Ato de Ler - em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez
Editora & Autores Associados, 1991. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, v 4)- 80
páginas.
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